“Matei um cachorro” Eu havia casado há pouco tempo. Não tinha um centavo no bolso. Nossa casa não era exatamente nossa. Minha sogra, dona de um coração gigante, havia gentilmente emprestado seu sobrado até que nos acertássemos financeiramente. Eu tentava juntar alguma grana fazendo meus projetos gráficos e websites, mas a vida não era fácil. Sem carro, usava um Uninho emprestado do meu falecido tio e congregava na esquina de casa, mas apesar de tudo isso, éramos extremamente felizes. Não tenho vergonha desse tempo – eu precisava daquilo. Deus estava me tratando. Foi o tempo em que mais preguei em minha vida. Aprendi que quando somos extremamente provados, o único lugar em que as coisas fazem sentido é no lugar em que fomos chamados. Assim, cada vez que eu subia em um púlpito para ministrar, todos os problemas sumiam e minha vida passava a ter significado. Esse também foi um tempo em que conheci o cuidado de Deus. Não foram poucas as vezes em que estava simplesmente sentado na igreja adorando e algum anônimo me entregava um envelope com uma oferta. Sim, Deus ainda usa seus anônimos! Mas nada supera a visita do Elias. Era um dia como qualquer outro quando tocou a campainha. Era o Elias. Elias era amigo da família. Vez ou outra estava por lá tomando um café ou consertando algum vazamento. Pedreiro de mão cheia, havia sido, inclusive, meu padrin- ho de casamento. – Rogério, tudo bem? Olha, eu não queria que você me levasse a mal, não, mas eu queria deixar umas comprinhas aqui pra você. Tudo bem? – Elias do Céu! ‘magina! Não precisa! Tá tudo bem por aqui, a gente tá se virando bem. – Rogério, foi Deus quem mandou! … – Elias, pode entupir essa geladeira, então, porque Deus é fiel para lhe retribuir muito mais! O Elias e mais um amigo não paravam de trazer sacolas do mercado. Estávamos em choque. Depois que eles terminaram de encher nossa dispensa, completamente sem graça, perguntei ao Elias se havia alguma coisa que eu pudesse fazer para retribuir aquele gesto. “Que é isso, Rogério! Fica em paz. Foi o Senhor quem me mandou aqui.” – disse ele já saindo de nossa casa. Quando estava quase no portão, o Elias volta e me diz: “Rogério, na verdade, existe algo que você pode fazer por mim. Eu estou namorando uma moça há algum tempo e tem algo que está me incomodando demais. Ela tem um cachorro muito velho e fedido que dorme na cama dela e empesteia a casa toda. Eu chego lá, tá aquele cheiro horrível na casa… eu não suporto isso. Você poderia orar por essa situação?” Sinceramente, eu não sabia o que fazer. Mas, diante de tanta generosidade, como não retribuir com um gesto tão simples e que não me custaria absolutamente nada? Pus o Elias para dentro, mandei que ele se ajoelhasse na sala e fiz a oração mais fervorosa que pude. Ele agradeceu e foi embora. Passado alguns poucos dias, toca a campainha novamente. Mas dessa vez tocava insistentemente! Quando corri para a janela, era o Elias, radiante e gritando: “Rogério, o cachorro morreu!!! O cachorro morreu!!!” Olha… eu não sabia se ria ou se chorava. Meu Deus, será que minha oração tinha realmente fulminado o pulguento? rs Quando nos deparamos com o mundo espiritual, tudo é muito subjetivo. As pessoas acabam trocando a verdade da Palavra por suas experiências espirituais e fazem delas verdades absolutas, que não podem sequer ser contestadas. Por outro lado, há o extremismo daqueles que defendem um Deus que nos deixou à mercê da sorte e, para tudo o que acontece, têm a mesma resposta: “Deus não tem nada a ver com isso”. E entre os extremos da achologia e do teísmo aberto, temos a sagrada coerência que diz: “Preste atenção, pode ser Deus falando!” Sinceramente, eu não sei se minha oração teve qualquer influência na morte do cachorro porque, confesso, já fui daqueles moderados que defendem a cautela antes de espiritualizar algo. Mas hoje, sou categórico: não há nada em minha vida que não esteja sob o controle das mãos de Deus. Não há acaso. Não há coincidências. Mesmo que eu não enxergue o quadro por completo, a cena toda, Deus está ali! E se o mundo tenta me convencer do contrário, eu mesmo digo a minha alma: “Não duvide, é Deus! Ele continua controlando sua vida. Ele é real. Não tenha medo, vai passar… vai passar…” No amor de Cristo, Roger PS: Ah, sabe porque lembrei dessa história? Eu estava dormindo ontem à tarde e o cachorro da vizinha começou a latir. De repente, me deu uma vontade de orar… rs “E eu... sirvo pra quê?” Se há algo que literalmente grita em nossa fé é que a salvação é pela graça. Sim, é isso que nos diferencia de todas as outras religiões do mundo. Nada do que façamos pode fazer com que Deus nos ame mais, e nada do que fizermos fará com que Ele nos ame menos. Evidente que muitos usam desse princípio para pecar, mas a Bíblia, que é perfeita e mais que abrangente, já previu isso e fechou a questão: “Que diremos então? Continuaremos pecando para que a graça aumente? De maneira nenhuma! Nós, os que morremos para o pecado, como podemos continuar vivendo nele?” 1 Mesmo assim, como somos peritos em burlar leis e nos enganar com as coisas de Deus, acreditamos que tudo o que o Eterno espera de nós é um coração sincero. Mas como diria meu eterno professor de Escola Dominical, Francisco Júnior, nós podemos estar sinceramente errados. Parece até nobre e coerente dizer que eu não preciso ir à uma igreja para ser salvo. Aliás, quem pensa assim cerca-se de todos os argumentos humanamente possíveis para justificar seus posicionamentos: “Ah, se for pra ser que nem Fulano, eu prefiro nem ir”, “Amigão, esses pastores de hoje só querem meu dízimo”, “Eu… ir pra igreja onde só tem gente hipócrita!? Prefiro ajudar os pobres”. Sinceramente? Eu não discuto mais com gente assim, porque eu sei que no fundo, no fundo, eles sabem que estão a caminho do inferno. E o livro de Hebreus também já bateu o martelo: “Não deixemos de reunir-nos como igreja” 2 Porém, entre os que se entregam a Deus de coração e os que preferem contentar-se com suas justificativas, está um grupo igualmente iludido: os que vão à igreja bater o ponto! Sim, falamos tão mal da religiosidade católica e fazemos igual ou pior. Vamos à igreja apenas no domingo, dedicamos duas horinhas de nossa semana cantando e ouvindo a Palavra, damos uma oferta generosa e saímos do culto com a nítida sensação de dever cumprido. Veja, eu entendo que cantar em um grupo de louvor em sua igreja faz parte da obra de Deus, mas entenda que a Bíblia diz que somos “embaixadores de Cris3 to” , e não me parece razoável que um embaixador tenha sido convocado apenas para fazer o que qualquer ave faz todos os dias de graça, “não têm vocês muito mais valor do que elas?”4, disse Jesus. A verdade é que existem dois pilares da fé cristã que estão atrelados à salvação: adoração e serviço. Nenhum deles é obrigatório, nenhum deles nos salva, mas todos os salvos expressam sua gratidão de forma genuína através desses dois pilares! Quando o Diabo veio tentar Jesus e tocou a tecla da adoração, Jesus fez questão de lhe apresentar estes dois pilares juntos: “Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás.” 5 Infelizmente, muitos cristãos ainda acreditam que apenas alguns poucos “escolhidos e iluminados” receberam dons e têm obrigação de exercer um ministério. Acreditam que ministério é exclusivamente cantar e pregar. Eles não poderiam estar mais errados. A Bíblia diz: “Cada um exerça o dom que recebeu para servir aos outros, administrando 6 fielmente a graça de Deus em suas múltiplas formas. ” A Bíblia não poderia ter sido mais explícita. TODOS receberam um dom por causa da MULTIFORME GRAÇA de Deus! E se você não está, literalmente, suando a camisa (sim, ministério também é feito de suor e lágrimas), pode haver algo de muito errado com a sua fé, e Jesus pode, hoje mesmo, ver as suas folhas e procurar os frutos debaixo delas. Cuidado, isso é muito sério! Por isso, com muito temor diante do Senhor, deixo a você a exortação de Paulo a Arquipo, porém, peço que você substitua o nome de Arquipo pelo seu: Digam a ________________, “cuide em cumprir o ministério que você recebeu no Senhor” 7 No temor do Pai, Roger Referências: 1 (Rm 6.1-2); 2 (Hb. 10.25); 3 (2 Cor. 5.20); 4 (Mateus 6.26); 5 (Mateus 4.10);6 (1 Pedro 4.10) e 7 (Colossenses 4.17) “Por que você ainda duvida?” João era primo de Jesus. Os dois cresceram num ambiente cheio de profecias, revelações, milagres, teofanias e tudo mais. A história de infância deles era tão mística, que Lucas diz que não apenas todos os vizinhos, mas toda a região montanhosa da Judeia falava sobre ela. Fico imaginando, então, como eram os almoços em família desses dois. Ah, quanta história eles deviam ouvir… E se você cresceu numa família nordestina como eu, então, deve saber bem como é isso — nossos pais são cheios de histórias. Imagine Zacarias contando como emudeceu, literalmente, logo após um anjo dizer a ele que seria pai depois de velhinho! Deve ter sido hilário ouvir sua esposa Isabel contando como o marido teve que escrever numa tabuinha o nome do filho porque não podia falar. Imagine, então, Maria, mãe de Jesus, contando sobre a vez em que foi visitar sua prima, e mal chegou à casa, João pulou dentro da barriga da Isa! Ao que a prima Isa completa: “Verdade! Eu entrei no mistério na hora e comecei a profetizar!” O mais interessante é que essas histórias não se restringiram à infância dos meninos, mas os seguiram por toda a vida. Talvez, por isso, João tenha se tornado um profeta tão ousado. Sua mensagem era dura e não se intimidava nem mesmo perante as autoridades. “Raça de víboras!” era provavelmente um dos adjetivos mais sutis que o profeta usava. Seu ministério não apenas anunciava a vinda do Senhor Jesus, mas também pregava a justiça e o arrependimento. O auge de sua vida ministerial se dá, quando seu primo vem a ele para ser batizado. Mais uma vez, os dois testemunham um sinal divino, o próprio Espírito Santo desce sobre Jesus em forma de pomba. E para eliminar qualquer sombra de dúvida que porventura houvesse a respeito da divindade de Jesus, uma voz do Céu ecoa: “Tu és o meu Filho amado; em ti me agrado”. Puxa, é impossível duvidar das coisas de Deus crescendo em um ambiente assim, não é!? Não, não é! E por uma simples razão: talvez Jesus tenha frustrado as expectativas de João. Creio que a Bíblia ainda é o livro mais lido do mundo, dentre tantas razões, por não esconder a fragilidade de seus heróis. Sim, João foi um grande herói. Jesus chega ao ponto de dizer que ninguém era maior do que João — um pedaço simples de cana, mas que não se quebrava com a força do vento. Mas como todo grande herói, João agora estava preso, sozinho, vendo a morte bater à sua porta… tão angustiado que manda perguntar ao primo: “Você é mesmo o Messias?” Talvez, João esperasse que Jesus não apenas o libertasse, mas libertasse a todo Israel como um grande Rei e General, como havia sido profetizado. Talvez, e só talvez, João não esperasse um Jesus tão “misturado”, comendo e bebendo com pecadores — “Feliz é aquele que não se escandaliza por minha causa”, conclui Jesus enviando Seu recado ao primo na prisão. O Espírito de Deus colocou essa mensagem em meu coração para lhe perguntar: “Por que você está tão triste e abatido? Não era isso que você esperava, não é? Não era dessa forma que você queria, eu sei… Mas ouça o que o Espírito lhe diz hoje: tire o foco do problema! Olhe ao seu redor, muitos cegos estão vendo o que estou fazendo em sua vida, muitos deficientes estão se levantando por sua causa, muitos estão abandonando o pecado que lhes corroía como lepra através do seu testemunho… Até mesmo alguns que já estavam mortos estão voltando-se para Deus!” (Lc. 7.22) Acredite, eu lhe entendo! Se somos separados e nos santificamos, “lá vai o santarrão”. Se nos misturamos e somos divertidos, “mas você não é crente???”. Como disse Jesus, eles são como crianças chatas na praça que não sabem brincar! (Lc. 7.32). Por isso, ouça-me mais uma vez: levante-se, respire fundo e limpe essa poeira dos pés — a jornada ainda é longa. É tudo que eu posso lhe dizer por ora. No amor do Pai, Roger