INSTITUTO FEDERAL DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SANTA CATARINA Departamento Acadêmico de Saúde e Serviços Curso Técnico de Meteorologia Módulo 1: Meteorologia Básica Climatologia CLI 01 Professor Michel Muza Semestre: Sigla: CLI INTRODUÇÃO A radiação é de grande importância para a vida na Terra. Os diferentes fluxos de radiação recebidos ou emitidos pela superfície terrestre intervêm diretamente no armazenamento térmico do planeta como um todo, não importando o lugar da superfície da Terra ou de sua atmosfera. Todo corpo com temperatura maior do que zero absoluto (0,0 Kelvin) emite radiação na forma de onda eletromagnética, devido à movimentação dos átomos, produzindocampos elétricos e magnéticos em conjunto. Tipos de Ondas As ondas são caracterizadas por sua amplitude (m), freqüência (f, em Hz) e comprimento da onda (λ, em metros), e. A equação 1 mostra que a freqüência e o comprimento da onda estão relacionados através da velocidade de propagação da onda (c, em ms-1). c = λ. f (1) A freqüência é o número de ondas que passa por um determinado ponto em uma unidade de tempo (geralmente em segundos), sendo esse intervalo de tempo denominado por período (T). Portanto o período é o inverso da freqüência, como apresentado na equação 2. T= 1 f (2) Se uma determinada onda é curta (isto é, possui menor comprimento de onda), uma quantidade maior de ondas passa num mesmo ponto dentro de um mesmo período. Ondas eletromagnéticas propagam-se com velocidade aproximada de 300.000 km/s, podendo concluir da equação 1 que as ondas curtas são ondas de alta freqüência. Analogamente, ondas longas (com maior comprimento de onda) são ondas de baixa freqüência. A amplitude da onda (A, em metros) é a distância do meio da onda até a crista ou do meio da onda até o cavado, enquando que a distância cavado-crista e chamada de altura da onda . Figura 1 – Comprimento de onda 1 Processos de contabilização Radiação solar Pode-se subdividir em várias categorias a medida dos fluxos de radiação solar que chegam até as camadas inferiores da atmosfera como é mostrado na Figura 2: Irradiância solar direta: medida sob uma incidência normal. Não interage com a atmosfera. Depende exclusivamente da latitude, época do ano e horário do dia. Fotoperíodo é período de tempo em que existe radiação solar direta em um dia (do nascer ao ocaso). Depende da latitude e época do ano (Figura 3). Figura 2 – Componente da radiação solar que penetram na atmosfera terrestre. Figura 3 – Medidas de fotoperíodo em várias latitudes. O instrumento de medição da radiação solar direta é o pireliômetro (Figura 4). Neste instrumento, o sensor e protegido da radiação difusa, sendo posicionado, em geral, na extremidade inferior de um tubo. Existem recursos técnicos que garantem não somente 2 um direcionamento preciso, mas também o deslocamento do aparelho em sincronia com o deslocamento aparente do Sol. Irradiância solar difusa. Também conhecida por radiação do céu. É a radiação que sofreu uma difusão ou uma reflexão ao atravessar a atmosfera. Proveniente do céu das seguintes formas: • • • Espalhamento. Radiação é apenas refletida (mantém o mesmo comprimento de onda e frequência) para várias direções, sendo espalhada; Reflexão. A radiação é simplesmente refletida predominantemente na direção contrária à qual se propagava; Absorção e emissão. O objeto absorve a radiação e irá emitir a radiação à sua temperatura, seguindo a Lei de Planck, podendo ser em outros comprimentos de onda. Uma característica da radiação difusa é que ela penetra mais eficientemente nos vegetais do que as outras formas de radiação. Para medir a radiação difusa, basta sombrear o piranômetro com um anel (Figura 8b), ajustado de tal forma que a radiação direta não incida sobre o sensor, o que pode ser obtido mediante o ajuste diário do sistema. Ao invés do anel, pode-se também utilizar um disco situado a uma distancia tal que sua sombra proteja o sensor contra a radiação direta. Em ambos os casos é feita, posteriormente, a correção de abóbada, que significa corrigir os dados em conseqüência da obstrução parcial da abóbada celeste pelos elementos sombreadores. Assim, mediante o uso de um piranômetro sombreado e outro livremente exposto, obter-se-ão a irradiância difusa e a global, respectivamente. A diferença entre a irradiância global (total) e a difusa é a irradiância solar direta. Com isso, substitui-se o pireliômetro mediante o uso combinado de dois piranômetros. Obviamente, dispondo-se de um pireliômetro e de um piranômetro, obter-se-á igualmente a irradiância solar difusa. Irradiância solar global é a radiação total que atinge a superfície da terra, recebida sobre uma superfície horizontal. Este tipo de radiação compreende a radiação que provêm diretamente do disco solar e a radiação que sofreu espalhamento e múltiplas reflexões ao atravessar a atmosfera (radiação direta mais a radiação difusa). Para medir a irradiância solar global sobre uma superfície plana horizontal, a diversificação de instrumentos é ainda maior. Os mais comuns são os PIRANÔMETROS e os ACTINÓGRAFOS, como mostrado nas figuras 4c e 4d. Os sensores, por sua vez, variam entre anéis metálicos concêntricos, alternando "cores" branca e preta; seqüência de placas de cobre, pintadas alternadamente de branco e preto; destilação líquida em conseqüência da absorção da energia incidente; termopilhas diferenciais com junções quentes e frias, acopladas a absorvedores preto e branco, que se orientam na forma estelar. Um piranômetro de ampla utilização é o PIRANÔMETRO EPPLEY, cujo sensor e constituído de termopilhas diferenciais, ou seja, uma seqüência de termopares dispostos em serie, em que a metade das junções se mantém a uma dada temperatura, enquanto a outra é aquecida. Obtêm-se, dessa forma, correntes relativamente intensas, que podem ser medidas em microamperímetros, para leituras instantâneas ou registros contínuos. 3 (b) (a) (d) (c) Figura 4 – Instrumentos de medida de radiação direta: pireliômetro (a); difusa: piranômetro com anel (b) e global para estação convencional: Actinógrafo (c) e automática: piranômetro (d). A relação entre radiação difusa e a radiação global varia de forma muito sensível e é igual a uma unidade quando o céu está muito coberto, e diminui abaixo de 0,1 quando o céu está extremamente claro. Após a absorção pelo oxigênio e pelo ozônio nas camadas superiores da atmosfera, o limite inferior da radiação solar de curtos comprimentos de onda recebido pela superfície terrestre é de aproximadamente de 290 milimicrons. Para a radiação de grandes comprimentos de onda, o limite inferior, definido de maneira a excluir menos de 1% da radiação solar, é 4 µ aproximadamente. As figuras 5 e 6 mostram exemplos da variação diária da radiação global e difusa para diferentes condições atmosféricas. 1200 1000 800 600 400 200 0 6 8 10 12 14 TEMPO(h) 16 18 1200 DENSIDADE DE FLUXO (W/m2) DENSIDADE DE FLUXO (W/m2) DENSIDADE DE FLUXO (W/m2) 1200 1000 800 600 400 200 0 6 8 10 12 14 TEMPO(h) 16 18 1000 800 600 400 200 0 6 8 10 12 14 16 18 TEMPO(h) (a) (b) (c) Figura 5 – Variação diária da irradiância solar global para dias de céu claro (a), parcialmente nublado (b) e nublado (c). 4 600 500 400 300 200 100 0 6 8 10 12 14 16 18 TEMPO(h) DENSIDADE DE FLUXO EXT.(W/m2) DENSIDADE DE FLUXO EXT. (W/m2) DENSIDADE DE FLUXO EXT. (W/m2) 700 700 700 600 500 400 300 200 100 0 6 8 10 12 14 TEMPO(h) 16 18 600 500 400 300 200 100 0 6 8 10 12 14 16 18 TEMPO(h) (a) (c) (b) Figura 6 – Variação diária da irradiância solar difusa para dias de céu claro (a), parcialmente nublado (b) e nublado (c). Brilho solar A duração do brilho solar diário pode ser obtida mediante o uso do HELIÓGRAFO, que e um aparelho de fácil manuseio e largamente utilizado em observações meteorológicas de rotina. Radiação terrestre Por radiação terrestre, entende-se a radiação térmica emitida pela terra e pela atmosfera. Do nível do solo até a altitude de 80 km ou mais, a temperatura varia geralmente entre –80 °C e +40 °C, e o domínio espec tral desta radiação (escolhido definido de maneira a excluir menos de 1% da radiação de um corpo negro em cada extremidade) é definido pelos limites extremos de 4 µ e 100 µ aproximadamente. Nenhum dos três gases atmosféricos (nitrogênio, oxigênio e argônio) absorve radiação nesta banda do espectro eletromagnético, mas o vapor d’água, o dióxido de carbono e o ozônio apresentam bandas de absorção importantes. O solo e as nuvens, que apresentam comportamento mais ou menos de corpo negro, emitem radiação nesta banda de comprimentos de onda. A radiação terrestre é um fluxo difuso e é habitualmente medida como a energia que atravessa uma superfície horizontal de área unitária por unidade de tempo. Radiação total Por radiação total, devemos entender a soma das radiações solar e terrestre. O fluxo de duas componentes de radiação passando por um plano horizontal é denominado de balanço de radiação. Terminologia e unidades A simbologia utilizada neste texto é baseada na terminologia das grandezas e instrumentos de radiação, adotada pela Comissão de Instrumentos e Métodos de Observação (CIMO) da Organização Meteorológica Mundial em colaboração com a Comissão de radiação da Associação Internacional de Meteorologia e de Física da Atmosfera. Para expressar o fluxo energético por unidade de superfície no Sistema Internacional (SI), é conveniente utilizar preferencialmente o watt por metro quadrado (W m-2) e para a quantidade de energia radiante por unidade de superfície, o joule por metro quadrado (J m-2) ou o watt-hora por metro quadrado (W-h m-2). 5 Em utilização em alguns certos países, uma caloria por centímetro quadrado é chamada de Langley, de tal modo que a unidade correspondente de fluxo energético é o Langley por minuto (ly min-1). SALDO OU BALANÇO DE RADIAÇÃO À SUPERFÍCIE DO SOLO É a contabilização líquida entre toda a energia radiante recebida e perdida pela superfície. A figura 7 representa a superfície do solo. À esquerda está representada o saldo de radiação de ondas curtas e a direita o de ondas longas. Figura 7 – Saldo de radiação de ondas curta (esquerda) e longas à superfície. Ondas Curtas Diferença entre a radiação global incidente (Rg) e a radiação refletiva (Rref) pela superfície. Indica, por exemplo, a utilização de energia por determinadas culturas ou outras aplicações em meteorologia. Expressa pela equação 5: SRoc = Rg – Rref (5) onde Rref pode ser expressa pela equação 6: Rref= αRg (6) SRoc = Rg(1-α) (7) Substituindo (6) em (5), temos: sendo α o albedo da superfície, o qual é a fração da radiação de ondas curtas que é refletida pela superfície. Conhecendo-se o albedo da superfície, o termo SRoc pode ser determinado a partir de estimativas (ou medições) da irradiância solar global à superfície do solo. O albedo do solo varia com inúmeros fatores: coloração do solo, teor de umidade, tipo de cobertura vegetal, entre outros. O albedo do solo sem vegetação é dependente do tipo de solo. Além disso, o solo seco pode apresentar uma variação de albedo entre 8% e 40% e o solo úmido, entre 4% e 20%. Esta diminuição com o teor de umidade pode ser explicada devido ao fato de que o albedo da água é significantemente menor do que o albedo do solo seco. Superfícies vegetadas exibem albedos diferentes, de acordo com 6 o desenvolvimento da cultura. A variação diária do albedo é afetada pela rugosidade da superfície, ângulo de elevação solar, razão entre radiação difusa e global, bem como pelas mudanças espectrais da radiação incidente. A tabela 1 mostra exemplos do valor do albedo para determinados tipos de solo. TABELA 1 – EXEMPLOS DE ALBEDO DE ALGUMAS SUPERFÍCIES Cobertura Albedo neve fresca 0,80 a 0,95 neve velha 0,42 a 0,70 solos arenosos secos 0,25 a 0,45 solos argilosos secos 0,20 a 0,35 solos turfosos 0,05 a 0,15 florestas coníferas 0,10 a 0,15 Ondas Longas Consiste na diferença entre a radiação infravermelha emitida pela Terra (Rol↑) e a que volta (Rol↓) da atmosfera (absorvida ou refletida por nuvens e vapor). Expressa pela equação 8: SRol = Rol↑ - Rol↓ (8) Ressalta-se que este saldo de radiação varia bastante com as condições da atmosfera. Total O saldo de radiação total é o somatório entre o saldo de radiação de ondas curtas (SRoc) e o saldo de radiação de ondas longas (SRol). Expresso pela equação 9: SRt = SRoc + SRol (9) O balanço de energia também pode ser obtido por meio de medições. Um dos equipamentos mais utilizados é o saldo-radiômetro. (“Net Exchane Radiometer” ). Sua resposta corresponde à diferença entre a irradiância total (ondas curtas mais longas) incidente na face superior do instrumento e a irradiância total incidente na face voltada para o solo. BALANÇO DE ENERGIA NO SISTEMA TERRA-ATMOSFERA Nem toda a energia solar interceptada pelo nosso Planeta é absorvida, sendo grande parte refletida de volta para o espaço. Essa fração refletida, que é cerca de 30% da radiação solar incidente, caracteriza o ALBEDO PLANETARIO. O sistema Terra-atmosfera, portanto, absorve cerca de 70% da energia solar interceptada. O sistema, por sua vez, re-irradia esta mesma quantidade de energia para o espaço, na forma de radiação de ondas longas, garantindo, assim, o equilíbrio térmico do Planeta. A Figura 8 mostra o balanço global médio de energia para todo o sistema Terraatmosfera. Nesta figura considerou-se a quantidade de energia solar incidente no sistema como 100%. Note-se que 19% são absorvidas na atmosfera, das quais 3% são absorvidas pelas nuvens. O albedo planetário, igual a 30%, compreende a reflexão pelas nuvens (20%), a reflexão pela superfície da Terra (4%) e o espalhamento pelas moléculas da atmosfera (6%). Observe-se que o solo absorve 51%, dessas 27% correspondem à radiação direta, e 24% correspondem à radiação difusa (radiação espalhada pelas nuvens e, principalmente, pelas moléculas da atmosfera). 7 Figura 8 – Balanço de energia no sistema Terra-Atmosfera (Iribarne e Chou, 1980). As 51% de energia (radiação de ondas curtas) absorvidas a superfície da Terra são compensadas pela emissão de radiação de ondas longas, bem como por processos não-radiantes de troca de energia, como os fluxos de calor sensível e latente. Observe-se na Figura 8, que a superfície da Terra emite 21% de energia, das quais 15% são absorvidas pela atmosfera e os 6% restantes se perdem para o espaço, através da janela atmosférica. A atmosfera, por sua vez, absorve um total de 34% de (onda curta e longa), sendo que 64% de radiação de onda longa se perdem para o espaço (26% emitida por nuvens e 38% emitida por vapor d’agua, gás carbônico e outros gases) e 34% retornam para a superfície e são absorvidos pelo solo (contraradiação). Até aí, considerando o balanço de ondas curtas e ondas longas, a atmosfera tem um saldo negativo de 94% (emite mais do que recebe), e o solo um saldo positive de 64%. O equilíbrio solo-atmosfera é então estabelecido pelos fluxos de calor sensível (7%) e calor latente (23%). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS OMETTO, J.C. Estudo das relações entre: radiação solar global, radiação líquida, insolação. Piracicaba: ESALQ-USP, 1968. 64p. Dissertação (Doutorado em Agronomia). ESALQUSP, 1968. nnn VIANELLO, R.L., Alves, A.R. Meteorolognia Básica e Aplicações. Viçosa, UFV, Impr. Univ., 1991. WEBCIENCIA. Disponível em: http://www.webciencia.com/04_sol.htm. Acesso em: 07 de setembro de 2004. 8 CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE SANTA CATARINA Departamento Acadêmico de Saúde e Serviços Curso Técnico de Meteorologia Módulo 1: Meteorologia Básica Unidade Curricular: Climatologia Sigla: CLI CLI 02 Professor Michel Muza 9 CIRCULAÇÃO GERAL DA ATMOSFERA A Circulação Geral da Atmosfera representa o “escoamento médio do ar” ao redor do globo. Ela é criada pelo aquecimento desigual da superfície da terra. Uma vez que, em escala global, a terra está em equilíbrio radiativo, toda a energia que “entra” é igual a energia que “sai”. Portanto, a circulação geral é função do transporte de calor em direção aos pólos. Diferenças no balanço global de radiação geram diferenças de pressão atmosférica que mantém a atmosfera em contínuo movimento. Este movimento tende a eliminar as diferenças de pressão, removendo energia térmica das regiões de maior ganho, transportando-a e liberando-a em regiões de menor ganho. Nos seus deslocamentos, as massas de ar interagem entre si e com a superfície da terra, gerando alterações nas condições meteorológicas (no tempo). A maior ou menor freqüência de condições meteorológicas específicas determina o clima local. George Hadley em 1735 propôs um modelo clássico idealizado para entender melhor a circulação geral da atmosfera. Nesse modelo ele supôs que (a) a Terra é uniformemente coberta por água; (b) o Sol é dirigido sobre o Equador e (c) a Terra não possui movimento de rotação. MODELO DE CIRCULAÇÃO GERAL IDEALIZADO Nosso conhecimento dos ventos globais provém dos regimes observados de pressão e vento e de estudos teóricos de movimento dos fluídos. Hadley estava ciente de que a energia solar impulsiona os ventos. Ele propôs que o grande contraste de temperatura entre os pólos e o equador cria uma circulação térmica semelhante àquela da brisa marítima. O aquecimento desigual da Terra faria o ar se mover para equilibrar as desigualdades. Hadley sugeriu que sobre a Terra sem rotação o movimento do ar teria a forma de uma grande célula de convecção em cada hemisfério, conforme a figura 2.1. Fig. 2.1 - Circulação global numa Terra sem rotação (Hadley) O ar equatorial mais aquecido subiria e se deslocaria para os pólos. Eventualmente esta corrente em alto nível atingiria os pólos, onde ela desceria, se espalharia na superfície e retornaria ao equador. Quando o ar polar se aproximasse do equador, se aqueceria e subiria novamente. Portanto, a circulação proposta por Hadley para uma 10 Terra sem rotação tem ar superior indo para os pólos e ar na superfície indo para o equador. No entanto, esse padrão de célula única não é observado. Considerando apenas o efeito da rotação da Terra, surge uma força defletora chamada de força de Coriolis. DISTRIBUIÇÕES OBSERVADAS DE VENTO E PRESSÃO NA SUPERFÍCIE A distribuição dos sistemas de altas e baixas pressões influencia os padrões de ventos e precipitação. Uma grande diferença de pressão faz com que o ar se mova mais rapidamente, resultando em ventos fortes. Uma diferença menor causa ventos mais fracos. Nos locais onde houver linhas isobáricas mais apertadas entre si, os gradientes de pressão serão mais elevados e existirão ventos fortes. São diferenças no aquecimento e movimento da atmosfera que criam diferenças na pressão atmosférica. Onde há massas de ar frio descendente, geram-se regiões de altas pressões. Onde massas de ar quente ascendem, há regiões de baixas pressões. A água dos oceanos mantém uma temperatura mais consistente; resfria e aquece mais lentamente que a terra. No inverno, os continentes se resfriam mais rapidamente do que os oceanos e, isso cria regiões de altas pressões sobre eles. No verão, acontece o oposto; os continentes aquecem mais rapidamente e o ar quente ascendente sobre eles gera regiões de baixas pressões. O MODELO DE 3 CÉLULAS Na década de 1920 foi proposto um sistema mais realístico de três células de circulação em cada hemisfério. A figura 2.2 ilustra o modelo de três células e os ventos resultantes na superfície. Note que estes ventos têm componente zonal maior que o componente meridional. Neste modelo os ventos de superfície nesta nova Terra idealizada serão: • de nordeste entre cerca de 30º N e o equador, e de sudeste entre 30º S (esses “ventos” existem e são chamados de "ventos alísios"); • de sudoeste entre 30º N e 60º N, e de noroeste entre 30º S e 60º S (esses “ventos” existem e são chamados de "ventos de oeste”); • de nordeste entre 60º N e 90º N, e de sudeste entre 60º S e 90º S (esses “ventos” existem e são chamados de "ventos polares”). Analisando essa atmosfera num corte vertical (figura 2.2), observamos estabelecimento de três pares de Células de Circulação, na escala global: o • chamada Célula de Hadley (entre 0 e 30º); • Célula de Ferrel (entre 30º e 60º) e; • Célula Polar (entre 60º e 90º); 11 Na zona entre o equador e aproximadamente 30° de la titude a circulação se dirige para o equador na superfície e para os pólos em nível superior, formando a chamada célula de Hadley. Acredita-se que o ar quente ascendente no equador, que libera calor latente na formação de nuvens cumulus profundas (com grande desenvolvimento vertical), forneça a energia para alimentar esta célula. Estas nuvens também fornecem a precipitação que mantém as florestas tropicais. Quando a circulação em alto nível se dirige para os pólos, ela começa a subsidir (descer) numa zona entre 20° e 35° de latitude. Dois fatores são considerados na explicação dessa subsidência. Primeiro, quando a corrente de ar se afasta da região equatorial, onde a liberação de calor latente de condensação mantém o ar quente e em flutuação, o resfriamento radiativo produziria um aumento da densidade em alto nível. Segundo, como a força de Coriolis se torna mais forte para latitude crescente, os ventos são desviados para uma direção quase zonal quando atingem 25° de latitude. Isto causa uma convergência de ar em altitude, e consequentemente subsidência. O ar subsidente é relativamente seco, pois perdeu sua umidade próximo ao equador. Além disso, o aquecimento adiabático durante a descida reduz ainda mais a umidade relativa do ar. Conseqüentemente, esta zona de subsidência é a zona em que se situam os desertos tropicais. Os ventos são geralmente fracos e variáveis próximos das zonas de subsidência, que configuram zonas de alta pressão subtropicais, no Hemisfério Norte e no Hemisfério Sul. Do centro dessas zonas de alta pressão, a corrente na superfície se divide num ramo que segue em direção aos pólos e num ramo que segue para o equador. O vento para o equador é desviado pela força de Coriolis, adquirindo uma componente de leste, resultando na direção de sudeste, formando os ventos alísios. No HN, os alísios vêm de nordeste e no HS de sudeste. Eles se encontram próximo ao equador, numa região de fraco gradiente de pressão, que constitui a zona de baixa pressão equatorial, mais conhecida por zona de convergência intertropical (ZCIT). Fig. 2.2 - Circulação global idealizada no modelo de circulação de três células. No modelo de três células, a circulação entre 30° e 60° de latitude é chamada de Célula de Ferrel. Neste céluala, a corrente na superfície é para os pólos e, devido à 12 força de Coriolis, os ventos tem um forte componente de oeste, formando os ventos de oeste típicos das latitudes médias, que são mais variáveis que os ventos alísios. Examinando o modelo de três células na figura 2.2, podemos ver que a circulação em altitude em latitudes médias é dirigida para o equador, e portanto, a força de Coriolis produziria um vento de leste. Contudo, desde a 2ª Guerra Mundial, numerosas observações indicaram que há vento de oeste em altitude, assim como na superfície, em latitudes médias. Portanto, a célula central nesse modelo não se ajusta completamente às observações. Devido a esta complicação e à importância da circulação em latitudes médias em manter o balanço de calor na Terra, os ventos de oeste serão considerados com mais detalhe em uma seção posterior. A circulação em altas latitudes é denominada Célula Polar. Ela é pouco conhecida e acredita-se que a subsidência nas proximidades dos pólos produz uma corrente superficial em direção ao equador, que é desviada, formando os ventos polares de leste, em ambos os hemisférios. Quando estes frios ventos polares se movem para o equador, eles eventualmente encontram a corrente de oeste de latitudes médias, que é mais quente. A região na qual estas duas correntes se encontram é uma região de descontinuidade, chamada frente polar. PADRÕES DA CIRCULAÇÃO ATMOSFÉRICA A circulação planetária é acompanhada por uma distribuição compatível de pressão na superfície. Vamos agora considerar a relação entre os ventos médios na superfície e essa distribuição de pressão. Para simplificar a discussão, inicialmente examinaremos a distribuição idealizada de pressão que seria esperada se a superfície da Terra fosse uniforme. Teríamos então faixas zonais de alta e baixa pressão (Fig. 2.3a). Próximo ao equador, o ar convergente de ambos os hemisférios é associado com a baixa equatorial. A região de maior precipitação encontra-se aí, devido ao encontro dos alísios, e é denominada zona de convergência intertropical (ZCIT). Nas faixas em torno de 20° a 35° de latitude (norte e sul), onde se ori ginam os alísios e os ventos de oeste, estão localizadas as zonas de alta pressão subtropical. São regiões de subsidência e vento divergente. Na região em torno de 50° a 60° de latitude, na zona da frente polar, os ventos polares de leste e os ventos de oeste de latitudes médias se encontram para formar uma zona de convergência conhecida como baixa subpolar. Finalmente, junto dos pólos, estão as altas polares das quais se originam os ventos polares de leste. 13 Fig. 2.3 - Distribuição idealizada zonal de pressão (a) e "Quebra" desta distribuição zonal causada pela distribuição dos continentes (b). Contudo, a única distribuição zonal de pressão (isto é, que varia apenas com os meridianos, sempre na mesma latitude) que existe, na realidade está na baixa subpolar no Hemisfério Sul, onde o oceano é contínuo. Numa extensão menor, a baixa equatorial também é maior ou menos zonal. Em outras latitudes, particularmente no HN, onde há uma proporção maior de terra, esta distribuição zonal é substituída por células semipermanentes de alta e baixa pressão (Fig. 2.3b). Esta distribuição é ainda complicada por grandes variações sazonais de temperatura, que servem para fortalecer ou enfraquecer estas células de pressão. Como conseqüência, as configurações de pressão na Terra variam consideravelmente durante o curso de um ano. Uma aproximação melhor da distribuição global de pressão e ventos resultantes é mostrada na figura 2.4. Note que as configurações de pressão são cirulares ao invés de zonais (isto é, não são em faixas, como mostradas na figura 2.3a). As configurações mais relevantes são as altas subtropicais. Estes sistemas estão centrados entre 20° e 35° de latitude, sobre todos os maiores oceanos. Se compararmos as figuras 2.4a e 2.4b, vemos que algumas células de pressão são configurações praticamente permanentes, como as altas subtropicais, e podem ser vistas em janeiro e julho. Outras, contudo, são sazonais, como a baixa no sudoeste dos Estados Unidos em julho ou a baixa no Brasil Central em janeiro. A variação sazonal é mais evidente no HN. Relativamente pouca variação de pressão ocorre do inverno para o verão no HS, o que pode ser atribuído à dominância da água. As variações mais notáveis são os deslocamentos sazonais de 5° a 10° em latitude das altas subtropicais, que acompanham a incidência dos raios solares. As maiores variações observadas devemse às flutuações sazonais de temperatura sobre os continentes, especialmente aqueles em latitudes médias ou maiores. 14 Fig. 2.4 - Pressão e circulação na superfície em janeiro (a) e julho (b). No HN em janeiro (inverno) há uma forte alta sobre a Eurásia e uma alta mais fraca sobre a América do Norte. As altas subtropicais nos oceanos se enfraquecem, embora mantenham sua identidade. Aparecem duas células ciclônicas: as baixas das Aleutas e da Groelândia. Altas temperaturas na superfície dos continentes no verão geram baixas que substituem as altas do inverno. Uma delas se desenvolve no norte da Índia e outra no sudoeste dos Estados Unidos. Além disso, pode-se notar que durante o verão as altas subtropicais no HN são mais intensas que durante o inverno. No HS, no verão, ocorrem três centros de alta pressão subtropical localizados sobre o Atlântico, Pacífico e Índico. Estes centros quase se tocam, caracterizando quase uma faixa subtropical de altas pressões. Na região de baixas pressões do equador ocorrem três centros de baixa: na América do Sul, África do Sul e Indonésia. No inverno, a faixa subtropical de altas pressões apresenta o centro sobre o Atlântico, Pacífico e Índico mais intensos e um quarto centro sobre a Austrália. A zona de convergência intertropical - ZCIT A ZCIT é uma zona de convergência de ventos em baixos níveis (e divergência em altos níveis) na região de fronteira entre os hemisférios Norte e Sul. Assemelha-se a um cinturão com atividades convectivas, de 3 a 5 graus de largura, onde espalham-se nuvens Cumulusnimbus (Cb). Estas nuvens agrupam-se, também 15 em formações denominadas "aglomerados" que caracterizam-se pelo transporte de calor, massa e momento (energia de movimento) da superfície para a alta troposfera e, daí exportados para as latitudes médias. Um aspecto importante a ressaltar é a migração sazonal da ZCIT, que acompanha as estações do ano. Estes movimentos são maiores sobre os continentes que sobre os oceanos, devido à maior capacidade térmica dos oceanos. A Figura 2.5 mostra um monitoramento da posição média da ZCIT sobre o oceano Atlântico com médias de sua posição a cada cinco dias. Esse monitoramento é importante para acompanhar as chuvas no norte da Região NE do Brasil. Fig. 2.5 – Monitoramento pentadal da posição da ZCIT. A ZCIT tem o deslocamento para o Norte durante os meses de junho a setembro (verão no HN) e mais para o sul, aproximando-se da linha equatorial, nos meses de dezembro a fevereiro (verão no HS), sempre acompanhando o hemisfério que . VENTOS ALÍSIOS Os vento alísios são ventos persistentes de leste nas baixas latitudes que sopram desde os centros de alta pressão subtropical em direção ao equatorial, onde convergem e formam a zona de convergência intertropical (ZCIT). São ventos em baixos níveis de altitude, caracterizados por sua grande consistência em sua direção. No Hemisfério Sul os ventos alísios sopram de sudeste e no Hemisfério Norte sopram de nordeste (Fig. 2.5). 16 Fig. 2.6 – Localização e orientação dos ventos alísios e de oeste sobre a Terra. OS VENTOS DE OESTE Termo associado aos padrões de ventos persistentes em latitudes médias (entre, aproximadamente, 30º e 60º de latitude em ambos os hemisférios), com componente predominante de oeste (Fig. 2.6). Próximo à superfície da Terra, os ventos do oeste se estendem de aproximadamente 35 até 65 graus de latitude enquanto que em altos níveis, abrangem área ainda mais extensa. As observações na alta atmosfera indicam que na maior parte das latitudes, exceto próximo ao equador - onde a força de Coriolis é mais fraca - os ventos na troposfera média e superior são de oeste, até mesmo no ramo superior da célula de Ferrel, devido à diferença térmica Equador-Polo (Fig. 2.7). Fig. 2.7 – Corte meridional mostrando as três células de circulação do Pólo Sul (extrema esquerda do gráfico) ao Pólo Norte (extrema direita do gráfico). CORRENTES DE JATO Conforme subimos na atmosfera, a superfície da Terra tende a influenciar cada vez menos a circulação atmosférica com seus efeitos de atrito. Com isso, ventos mais rápidos podem ser observados em ar superior. No inverno, os contrastes de temperatura aumentam em latitudes médias, intensificando assim o gradiente (diferença) de pressão e intensificando ainda mais os ventos de oeste em altitudes elevadas. Acima de grandes contrastes de temperatura em superfície existem correntes muito fortes denominadas correntes de jato. 17 Grandes contrastes de temperatura ocorrem ao longo das frentes. Nas latitudes médias e altas, encontra-se um jato associado à frente polar, que está entre os ventos polares de leste e os ventos de oeste das latitudes médias, relativamente mais quentes, sendo esse jato conhecido como jato polar (Fig. 2.8). O jato polar tem um papel muito importante no tempo em latitudes médias, pois fornece energia às tempestades típicas dessa faixa latitudinal e também interfere em nas trajetórias destas tempestades. Consequentemente, o seu monitoramento é muito importante para a previsão de tempo. Fig. 2.8 – Carta sinótica gerada pelo CPTEC/INPE mostrando os jatos polar e subtropical e um anticiclone (sistema de alta pressão) sobre o oceano. Repare nos valores de latitude em laranja no lado esquerdo da figura, indicando o posicionamento dos sistemas meteorológicos. O jato polar apresenta velocidade média de 125 km h-1 no inverno e, aproximadamente, a metade desta velocidade no verão. Porém, sua velocidade pode chegar a 350 km h-1. A diferença sazonal é devida ao gradiente de temperatura mais intenso que ocorre nas latitudes médias durante o inverno. Durante o inverno, o jato polar pode desviar-se em direção ao equador e chegar até 30° de latitude. No verão, este jato fic a posicionado em torno de 50° de latitude. Como a frente polar, o jato polar não é uniformemente bem definido ao redor do globo. Onde a frente polar é bem definida, com gradientes de temperatura mais intensos, os ventos do jato polar são acelerados. O jato não tem uma trajetória retilínea leste-oeste, mas apresenta ondulações, podendo apresentar uma componente norte-sul em sua trajetória. 18 Outro jato observado além do jato polar é o jato subtropical, o qual ocorre próximo da tropopausa (limite da troposfera), em torno de 25° de latitude, no extremo da célula de Hadley e de Ferrel (Fig. 2.2). Ele está localizado a aproximadamente 13 km de altitude e é mais forte e menos variável em latitude que o jato polar. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Goler, R. Morning Glories and North Australian Squall Lines. Disponível em http://www.meteo.physik.uni-muenchen.de/~robert/Thesis/introduction.html. Acesso em 01 de abril de 2004. IAG-USP. Squall Lines. Disponível em http://www.master.iag.usp.br/historico/labsquall.html. Acesso em 01 de abril de 2004. Markham, A. Linhas de Instabilidade. Disponível em http://www.brasgreco.com/weather/trovoadas/t_squall.html. Acesso em 01 de abril de 2004. Newton, C.W. Meteorology of the Souther Hemisphere. Boston: American Meteorological Society, 1972, 263p. Pettersen, S. Introducción a la meteorología. Madri: Espasa-Calpe, 1968, 429p. Vianello, R.,L.; Alves, R.A. Meteorologia Básica e Aplicações. Universidade Federal de Viçosa, Impr. Univ. 1991 449p. Djuric, D. 1994. Weather Analysis - Chapter I, Prentice-Hall Inc. IAG-USP. Circulação Geral da Atmosfera. Disponível www.iag.usp.br/meteo/labmicro/Circ_geral_2.PDF. Acesso em: 15/10/03. IAG-USP. Aula de Meteorologia Sinótica. Disponível http://www.master.iag.usp.br/ensino/sinotica/aula001/AULA001.htm IAG-USP. Aula de Meteorologia Sinótica. Disponível http://www.master.iag.usp.br/ensino/sinotica/aula11/AULA11.htm em em em 19 CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE SANTA CATARINA Departamento Acadêmico de Saúde e Serviços Curso Técnico de Meteorologia Módulo 1: Meteorologia Básica Unidade Curricular: Climatologia Sigla: CLI MASSAS DE AR Professor: Michel Muza 20 MASSAS DE AR Embora as temperaturas do ar próximo ao solo sejam mais elevadas nas regiões equatoriais e mais baixas nas regiões polares, a temperatura do ar não diminui constantemente se nos deslocarmos do equador ao pólo. Ao invés disso, observa-se a existência de um amplo volume de ar quente ocupando as latitudes tropicais, no interior do qual as variações de temperatura são muito reduzidas. Analogamente, sobre as regiões polares encontram-se extensas porções de ar frio com gradientes térmicos também reduzidos. Essas grandes porções de ar com propriedades bastante uniformes são denominadas massas de ar. As massas de ar adquirem suas propriedades por permanecerem sobre determinada região da superfície da Terra por um período de tempo suficientemente longo para que as propriedades termodinâmicas — temperatura e umidade — alcancem praticamente um estado de equilíbrio, constituindo-se, assim, num volume praticamente homogêneo, com poucas variações dessas propriedades. Uma massa de ar pode ser definida como sendo uma grande porção de ar que apresenta homogeneidade horizontal de temperatura e umidade. Apresenta propriedades físicas quase uniformes a um mesmo nível de altitude, principalmente no que se refere à temperatura e umidade. As massas de ar se formam sobre grandes áreas uniformes de terra ou de água, sobre as quais a circulação do vento é fraca. Sob tais condições, o ar próximo à superfície vai, de modo gradual, adquirindo características uniformes que se aproximam daquelas da superfície, enquanto que o ar superior vai se ajustando às condições de temperatura e umidade da camada logo abaixo. Os principais processos que permitem esse ajustamento são a radiação, a convecção vertical, a turbulência e o movimento horizontal do ar (advecção). As massas de ar são, eventualmente, carregadas pela circulação geral da atmosfera para longe de suas regiões de origem. Dessa forma, o ar tropical, quente e úmido equatorial é na direção dos pólos, enquanto que ar polar, frio e seco, se desloca para o equador terrestre. À medida que as massas de ar se deslocam, tendem a reter usas propriedades, principalmente em altitude. As camadas da superfície modificam-se, em função das superfícies sobre as quais se deslocam. As propriedades da região-fonte, sobre a qual a massa se originou, irão refletir as suas características e, por conseguinte, a própria denominação que identificará a massa de ar. Assim, o sistema de classificação das massas de ar mais comumente usado baseia-se nas propriedades térmicas da superfície sobre a qual as massas se originam: massa equatorial (E), tropical (T), polar (P) Pode também ocorrer a formação de massas de ar em consequência do afundamento do ar troposférico superior, que acumula-se à superfície. Este fenômeno é denominado subsidência (S) e associa-se, em geral, à presença de uma alta pressão à superfície. Ao descer, o ar é comprimido adiabaticamente (isto é, sem realizar trocas de calor com o ambiente ao redor), resultando em uma massa de ar quente e seca. As características de umidade são representadas pêlos termos "continental" (c) e "marítima" (m), correspondendo ao ar seco e úmido, respectivamente. É comum também a utilização dos termos “Atlântico” (a) ou “Pacífico” (p), especificando o oceano de origem da massa de ar marítima. De acordo com esses critérios, uma massa de ar que se forma na região tropical, sobre o Oceano Atlântico, é identificada por Ta; originando-se na região polar continental, será representada por Pc. Enquanto a massa tropical do Pacífico, Tp, é quente e úmida, a continental polar, Pc. é seca e fria. Quando uma massa de ar se desloca de sua região de origem, ela vai progressivamente perdendo as características originais em conseqüência das trocas 21 diabáticas com a superfície sobre a qual escoa e também em virtude dos movimentos verticais que vão ocorrendo. Ao se deslocar, caso a massa de ar seja mais "quente" do que a superfície, passa a ser identificada acrescentando-se-lhe a letra w. Caso contrário, acrescenta-se-lhe a letra k. Por exemplo, uma massa Ta, ao deslocar-se sobre o continente mais "frio", é identificada como Taw. Analogamente, uma massa Pc, ao deslocar-se sobre um oceano "quente", passa a Pck. Considerando os critérios de estabilidade e instabilidade da atmosfera, é fácil concluir que a massa Pck tende a ser instável, pois o ar frio polar, ao escoar sobre uma superfície quente, irá apresentar um decréscimo da temperatura com a altitude (isto é, um gradiente vertical de temperatura negativo) e convecção. Por outro lado, uma massa do tipo Tcw tende a ser estável, uma vez que a camada de ar junto ao solo, estando mais fria em relação às camadas mais baixas, criará uma situação em que o ar mais frio e denso se encontra abaixo de um ar mais quente e menos denso, inibindo os movimentos verticais. Nestas circunstâncias, partículas poluentes em suspensão serão impedidas de subir, concentrando-se próximo à superfície e prejudicando a visibilidade. Sobre a América do Sul, as massas de ar predominantes são as seguintes: a) Massa Equatorial Continental, Ec: forma-se basicamente sobre a Região Amazônica, área dominada por baixas pressões. Nela predominam os movimentos convectivos, intensificados pela convergência dos ventos alísios de nordeste e de sudeste. Sua atuação estende-se bastante ao sul no verão, retraindo-se ao máximo no inverno. b) Massa Equatorial Marítima, Em: ocorre sobre os oceanos Atlântico e Pacífico, resultante da convergência dos alísios (ZCIT — zona de convergência intertropical). Como tal, desloca-se latitudinalmente ao longo do ano, atingindo latitudes de até 8°S no verão; no inverno retorna ao Hemisfério Norte, aluando, inclusive, sobre o extremo norte do continente sul-americano. c) Massa Tropical Continental, Tc: está associada à baixa pressão predominante sobre a Região do Chaco, em consequência do grande aquecimento da superfície, especialmente no verão. Este superaquecimento continental dá origem a uma massa quente e seca, instável, apresentando intensa atividade convectiva, que se estende até 3.000 m. Apesar disso, as precipitações associadas são fracas, predominando céu pouco nublado, o que favorece ainda mais o aquecimento diurno e o resfriamento noturno. d) Massa Tropical Marítima, Tm: forma-se sobre os oceanos Atlântico e Pacífico, associada aos Anticiclones do Atlântico Sul e do Pacífico Sul. Os anticiclones, à superfície, induzem a subsidência do ar superior, como descrito anteriormente. Este ar subsidente, quente e seco, sobrepondo-se ao ar úmido e menos aquecido que repousa sobre a superfície oceânica, dá origem a uma camada de inversão situada entre 500 e 1.500 m de altitude. Assim, a Tm é formada por duas camadas: uma inferior, fria e úmida, e outra superior, quente e seca. A umidade que se acumula na parte inferior da Tm dá origem à formação de nuvens do tipo cumulus de pequena extensão vertical; por isso provocam poucas chuvas, geralmente no litoral ou associadas à orografia, quando a massa desloca-se sobre o continente. No inverno, com o deslocamento do Anticiclone do Atlântico Sul para o continente, a Tm passa a ser uma massa puramente subsidente continental, Sc, incapaz de provocar sequer a formação de nuvens, predominando céu claro e ausência de chuvas, o que irá caracterizar a estação seca. A Tm do Pacífico exerce importante papel no tempo e no clima do Brasil, na estação do verão, por meio de um mecanismo que a associa com a Tc. Nessa estação a Tm do Pacífico transborda sobre a Cordilheira dos Andes, indo alimentar a depressão do 22 Chaco sob a forma de brisa de montanha. Excetuando esse fenômeno, a Cordilheira dos Andes atua como um divisor entre as massas continentais a leste e as massas marítimas a oeste. e) Massa Polar Marítima, Pm: acha-se associada aos anticiclones migratórios que se localizam na região subantártica. Em virtude dos mecanismos de subsidência associados, a Pm é originalmente muito estável, mas, à medida que se desloca para o norte ou para o nordeste, a inversão desaparece e a massa passa a ser instável. Embora existam em todas as estações, são mais imensas no inverno e por isso desempenham maior destaque sobre o continente nessa estação, quando suas incursões atingem as baixas latitudes. f) Massa Antártica Continental, Ac: origina-se na mesma região durante todo o ano, isto é, sobre o Continente Antártico e áreas adjacentes permanentemente cobertas de gelo. Uma visão global das regiões-fonte, das configurações das massas de ar e do escoamento geral predominante sobre o Hemisfério Sul, ao verão e no inverno, é mostrada nas Figuras 8.1 (a) e 8.1 (b). Sobre o Brasil, a atuação das massas de ar é bastante variável ao longo do ano. A Figura 8.2 mostra o domínio geográfico médio das diversas massas nas quatro estações do ano. Em tal figura, "Ec" é o mesmo que "Ec"; "Em" o mesmo que "Em" etc. Por outro lado, CIT significa o mesmo que ZCIT (zona de convergência intertropical), sendo, portanto, a região de encontro entre os ventos alísios de norte e sul; a sigla ZD, ao contrário, significa a zona de divergência dos alísios do Hemisfério Sul, causada pela atuação do Anticiclone do Atlântico Sul, que promove os ventos dominantes de norte e nordeste, em especial quando aquele anticiclone aproxima-se ou situa-se sobre o continente brasileiro. (a) (b) Fig. 8.1 – Região de cofigurações gerais do escoamento médio das massas de ar no HS, no inverno (a) e verão (b). Fonte: NEWTON, C.W., 1972 – Modificado. 23 Fig. 8.2 – Domínio médio das massas de ar nas quatro estções do ano no Brasil (TUBELIS, A., NASCIMENTO, F.J.L., 1980. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Goler, R. Morning Glories and North Australian Squall Lines. Disponível em http://www.meteo.physik.uni-muenchen.de/~robert/Thesis/introduction.html. Acesso em 01 de abril de 2004. IAG-USP. Squall Lines. Disponível em http://www.master.iag.usp.br/historico/labsquall.html. Acesso em 01 de abril de 2004. Markham, A. Linhas de Instabilidade. Disponível em http://www.brasgreco.com/weather/trovoadas/t_squall.html. Acesso em 01 de abril de 2004. Newton, C.W. Meteorology of the Souther Hemisphere. Boston: American Meteorological Society, 1972, 263p. Pettersen, S. Introducción a la meteorología. Madri: Espasa-Calpe, 1968, 429p. Vianello, R.,L.; Alves, R.A. Meteorologia Básica e Aplicações. Universidade Federal de Viçosa, Impr. Univ. 1991 449p. Djuric, D. 1994. Weather Analysis - Chapter I, Prentice-Hall Inc. IAG-USP. Circulação Geral da Atmosfera. Disponível www.iag.usp.br/meteo/labmicro/Circ_geral_2.PDF. Acesso em: 15/10/03. IAG-USP. Aula de Meteorologia Sinótica. Disponível http://www.master.iag.usp.br/ensino/sinotica/aula001/AULA001.htm IAG-USP. Aula de Meteorologia Sinótica. Disponível http://www.master.iag.usp.br/ensino/sinotica/aula11/AULA11.htm em em em 24 CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE SANTA CATARINA Gerencia Educacional de Formação Geral e Serviços Curso Técnico de Meteorologia Módulo 1: Meteorologia Básica Sigla: CLI Unidade Curricular: Climatologia CLI 04, 05 e 06 Professor: Michel Muza 25 CLI 04 - Correntes Oceânicas Os oceanos e a atmosfera são ambos fluídos e estão em mútuo contato físico. Assim, além de terem comportamentos semelhantes, ocorre grande interação entre eles. Os raios solares aquecem o solo e os oceanos uma e meia a duas vezes mais por unidade de área nas regiões equatoriais do que nas polares (Fig. 1). Embora isso ocorra, o equador não se aquece cada vez mais e nem os pólos se resfriem. Há um balanço energético que transfere o calor (ou a energia) recebido pelo equador para os pólos, através da atmosfera e dos oceanos. Este equilíbrio térmico é fator muito importante na geração dos principais cinturões de vento e das grandes correntes oceânicas no planeta. Figura 1: Calor recebido do Sol r reirradiado pela Terra em função da latitude. Note que as regiões equatoriais e tropicais recebem mais calor do que reirradiam e nos pólos ocorre o inverso (Weyl, 1970. Oceanography. An Introduction to the Marine Evironment. John Wiley & Sons, Inc., New York. 535p.). A atmosfera é a principal via para o transporte de energia das zonas equatoriais para as polares. Nas regiões de baixas latitudes, a evaporação da água dos oceanos é o mecanismo principal para a remoção do calor na superfície terrestre. Esse transporte de calor tão eficiente ocorre graças à propriedade denominada calor latente de vaporização. A água ao evaporar, retira do ambiente grande quantidade de energia, que acaba sendo transportada junto com o vapor de água para regiões mais frias do planeta. Nestas regiões mais frias, se condensa, liberando a energia que consumiu de regiões mais quentes. Através das correntes marinhas, os oceanos também levam energia do equador para os pólos, contribuindo com 10% a 20% da distribuição de calor no planeta como um todo. 26 DISTRIBUIÇÃO DE PROPRIEDADES NOS OCEANOS Salinidade é a medida da quantidade de sais existentes em massas de água naturais um oceano, um lago, um estuário ou um aquífero. Sua medição é feita através da condutividade de uma amostra de água, em comparação com uma medida padrão, considera-se que a salinidade não tem unidades. A condutividade da água do mar depende do número de íons dissolvidos por unidade de volume (i.e., salinidade) e da mobilidade dos íons (i.e., temperatura e pressão). A condutividade aumenta igualmente pela adição de salinidade a 0.01, um aumento de temperatura de 0.01°C, e um aumento de profundidade (i.e., pressão). Para as maiorias das aplicações práticas em oceanografia, as mudanças de condutividade são dominadas por mudanças de temperatura. A água dos oceanos da Terra tem alta salinidade. A água que apresenta menor salinidade nas regiões costeiras ou rios com saída par ao mar denomina-se água salobra. A "água doce" tem uma salinidade muito baixa e seus compostos químicos são muito diferentes da água do mar. A salinidade, além de ter um papel importante nos movimentos e na mistura das massas de água, devido ao seu efeito na densidade, os sais dissolvidos condicionam a fisiologia dos organismos que vivem nesse ambiente, devido ao efeito da osmose que determina que quando duas soluções separadas por uma membrana têm concentrações diferentes de compostos químicos, o solvente - a água - tende a passar do meio menos concentrado para o mais concentrado (“osmorregulação”). A importância da salinidade é relacionado com o termo halino, uma vez que a maior parte do sal (na água do mar) é o cloreto de sódio, portanto, um sal derivado de um halogênio. Assim, surgiram estudos sobre halófitas (plantas que vivem em água salgada) e "estrutura termohalina" (relativa à distribuição da temperatura e salinidade numa determinada região do oceano). Além do cloreto de sódio, outros contribuintes para a salinidade da água são os íons de sódio, potássio, cálcio, magnésio, cloro, sulfato e bicarbonato. A salinidade pode ser medida ou estimada com salinômetro indutivo, eletrôdos e refratômetros. A proporção entre os íons na água do mar apresenta uma razão constante, independente da salinidade. Com isto, a salinidade pode ser avaliada também por métodos químicos, através dos cloretos, que são os íons de maior concentração. Temperatura e a salinidade apresentam variações relativamente uniformes na maior parte das águas oceânicas (Fig. 2). Quando a temperatura é bem baixa, o afundamento das massas de água provocada pelo resfriamento pode alcançar profundidades maiores, e isso é o que ocorre nas regiões polares. Aqui, as águas resfriadas na superfície descendem até o fundo do oceano. As regiões com essas características so são o Mar de Weddell e o Mar de Ross localizados no oceano Antártico, e também no ártico no Mar da Groenlândia e no Mar do Labrador. A temperatura média da camada oceânica é 3,8°C; até no equador a temperatura médias é baixa com cerca de 4,9°C. A subcamada onde a temperatura muda 27 drasticamente com a profundidade é conhecida como termoclina. Essa fica localizada entre 150-400 metros nos trópicos e entre 400-1000 metros nas regiões subtropicais. O monitoramento da termoclina no Oceano Pacifico equatorial auxilia no prognóstico de eventos El Nino ou La Nina (Fig. 2d). Nos oceanos, o efeito da diminuição da temperatura é muito mais forte do que o aumento da salinidade, embora a variação de ambos determine a densidade (Fig. 2). Em grandes profundidades, a salinidade aumenta porque a água próximo ao fundo se origina em regiões polares onde ela descende durante o inverno o congelamento durante esse processo aumenta a sua salinidade. A temperatura é medida por meio de termômetros digitais, de mercúrio, eletrôdos. 28 Figura 2: Típicas variações de (a) temperaturas, (b) salinidade e (c) densidade dos oceanos. Diminuição da temperatura e aumento na salinidade contribui para intensificar a densidade. (d) Perfil vertical da temperatura média mensal na região do Oceano Pacifico equatorial. Oxigênio nos oceanos é afetado por reações químicas ou processos biológicos e são não conservativas, diferentemente da temperatura e da salinidade, que somente podem ser alteradas por mistura ou advecção. A maior ou menor concentração de oxigênio varia de acordo com a renovação da água profunda e circulação do oceano. Em bacias, a evaporação aumenta a salinidade nas águas de superfície, aumentando sua densidade e produzindo afundamento. A renovação da água profunda como um processo quase contínuo, faz as águas de bacias serem bem ventiladas, ou seja, têm concentração de oxigênio relativamente alta em todas as profundidades. Se as bacias são grandes e se a troca de água com o oceano aberto é restrita, os níveis de oxigênio podem chegar a zero, não permitindo a existência de formas de vida marinha maiores. Esses condições são ocasionalmente observadas no Mar Báltico. O Mar Negro, que tem mais de 1500 m de profundidade, é desprovido de oxigênio abaixo dos 150 m. No oceano aberto, há um leve decréscimo da concentração de oxigênio com a profundidade. Na superfície, a concentração de oxigênio é maior nas regiões polares do que nos trópicos. A retirada de oxigênio pela vida marinha tem importância muito pequena. Circulação oceânica Uma corrente oceânica é caracterizada por um fluxo de água no oceano. A importância de uma corrente é avaliada pelo seu transporte (tanto de volume como de calor) e pela variabilidade dos mesmos. As correntes oceânicas tem uma contribuição extremamente relevante no transporte de calor para os pólos (principalmente em latitudes médias). O estudo da circulação oceânica pode ocorrer através de observações in situ (navios, bóias, instrumentos fundeados, satélites, derivadores), modelos analíticos e modelos numéricos. As correntes oceânicas são geradas por dois mecanismos: Circulação gerada pela vento (0-1000 m): - associada ao padrões de distribuição de ventos globais que formam os giros oceânicos em escalas de bacias processos desde variação sazonal até escalas climáticas escala de bacias Circulação termo-halina (todo o oceano): - processos relacionados as trocas de calor (aquecimento, resfriamento) e/ou água doce (evaporação, precipitação) processos em escalas climáticas escala global 29 Circulação gerada por ventos O sistema de ventos dominantes é a maior força motriz para as correntes oceânicas. Os ventos sobre mar aberto os ventos são aproximadamente zonais (quer dizer, sopram na direção leste-oeste). Os Ventos Alíseos são ventos de leste nas regiões tropicais (entre 15°N e 15°S). Essas são regiões em que as condições de ventos são extremamente uniformes, e onde o vento sopra de uma mesma direção com intensidade moderada durante quase todo o ano. No inverno, a intensidade aumenta um pouco. Entre 30° e 65° estão os predominantes de oeste (Westerlies). Eles são mais fortes no inverno que no verão e são regiões onde tempestades ocorrem freqüentemente. Próximo aos continentes ocorrem desvios dessa direção zonal dos ventos. Isso é particularmente notado nas costas lestes dos oceanos nos trópicos e regiões subtropicais, aonde o vento sopra paralelo à costa em direção ao equador. A configuração atual da distribuição entre terra e água determina a resposta dos oceanos aos ventos. Ela define as principais subdivisões do oceano global, os oceanos Pacífico, Indico e Atlântico. A figura 3 mostra um mapa das correntes superficiais. A ação combinada dos ventos alíseos e dos ventos de oeste produzem grandes giros, que circulam em sentido horário no hemisfério norte, e sentido anti-horário no hemisfério sul, que são conhecidos como altas subtropicais. Além disso, no hemisfério norte há uma circulação ciclônica, que corresponde as correntes de Oyashio, do Pacífico Norte e do Alasca. Uma indicação de um giro subpolar é também observado no oceano Atlântico Norte (uma rotação em sentido anti-horário que consiste nas Correntes do Atlântico Norte, do Leste da Groenlândia e do Labrador). Nas latitudes altas do hemisfério sul, domina a corrente circumpolar Antártica. 30 Figura 3: Sistema de corrente oceânica global. Linhas sólidas (tracejadas) são correntes quentes (frias). Mapa referente a condições médias para meses de verão austral. As maiores diferenças para o inverno austral são em regiões afetadas por circulação de monções. Circulação termo-halina Além das correntes superficiais, existem correntes marinhas profundas causadas por diferenças de densidade da água do mar. Estas correntes, chamadas de termohalinas (Figura 4), referem-se aos movimentos de água produzidos quanto a densidade se altera por variações de temperatura ou salinidade em alguma região oceânica superficial. O aumento de densidade pode ocorrer devido ao resfriamento da água, ao excesso de evaporação sobre a precipitação pluvial ou ainda à formação de gelo e assim aumento de salinidade das águas circunvizinhas. O aumento da densidade na superfície faz com que estas águas afundem e desloquem águas profundas; assim, a origem da circulação termoalina é um fluxo vertical de água superficial, mergulhando a uma profundidade intermediária ou próxima ao fundo, dependendo da densidade dessa água. O prosseguimento é um fluxo horizontal, com as águas recém-afundadas deslocando as antigas residentes no local. Como o processo de formação de águas densas está principalmente ligado à redução de temperatura ou aumento de salinidade devido à formação de gelo, geralmente as correntes termohalinas originam-se em altas latitudes. Estas águas frias e densas afundam e lentamente fluem em direção ao equador. A circulação termohalina é, desse modo, importantíssima no estabelecimento das características dos oceanos profundos. O conteúdo relativamente alto de oxigênio das águas profundas com relação às águas mais rasas reflete sua origem polar. Sem a fonte superficial desse gás, as águas profundas dos oceanos poderiam se esgotar do oxigênio pela oxidação do material orgânico que contêm. A velocidade das correntes termohalinas é muito lenta. Usando-se o conceito de tempo de residência, que é o tempo médio que dada uma substância (água profunda, no caso) permanece no oceano antes de ser reciclada, cerca de 500 a 1000 anos podem ser necessários para repor toda a água profunda do Oceano Atlântico. 31 Figura 4: A circulação termohalina dos oceanos. O aquecimento global pode provocar um derretimento assustador dos gelos do Ártico, levando a que uma maior quantidade de água doce se junte à água do mar. A diminuição da salinidade no Mar do Norte pode ter um efeito devastador, na medida em que uma menor salinidade significa menor afundamento da massa de ar vinda do Atlântico tropical. O aquecimento global pode provocar um derretimento assustador dos gelos do Ártico, levando a que uma maior quantidade de água doce se junte à água do mar. A diminuição da salinidade no Mar do Norte pode ter um efeito devastador, na medida em que uma menor salinidade significa menor densidade. A Corrente do Golfo deixa de afundar tão a norte e passará a fazê-lo em latitudes mais meridionais, tornando-a instável e eventualmente levando-a a parar por completo. Isto traria consequências drásticas: em poucos anos, até talvez em menos de uma década, a temperatura média da Europa Ocidental desceria 5ºC, o que significaria a chegada abrupta de uma brutal glaciação. Poderíamos encontrar o clima de Oslo em Lisboa. Parece paradoxal que o aquecimento global possa acelerar um fenômeno local que é, aliás, inevitável a nível global. A sequência de Idades do Gelo de 90000 anos de duração, seguidas de épocas inter-glaciais de 10000 anos é conhecida e catalogada. Como qualquer corrente oceânica, a Corrente do Golfo é gerada por padrões de vento à superfície, e diferenças na densidade da água. O fato da corrente do Golfo ser dita impulsionar a circulação termohalina pode estar relacionado a maior salinidade na 32 região da alta subtropical do Atlântico Norte (Fig. 5). A água superficial, quente e menos salgada, por isso menos densa, parte do golfo do México em direção a nordeste, e à medida que a latitude vai aumentando a libertação de calor para a atmosfera faz com que diminua de temperatura. No ártico, os ventos frios e o contato com o gelo arrefece-a (estria-se) ainda mais, aumentando a densidade até que a própria corrente afunda. A água, agora mais fria, inverte o seu sentido de deslocamento, e acaba por se dirigir para sudoeste, a grandes profundidades, indo repôr a massa de água quente em deslocamento para nordeste. Imaginemos este mecanismo como uma enorme corrente de transmissão, movendo-se a uma velocidade de cerca de 4 km por hora e deslocando 74 milhões de metros cúbicos de água por segundo. A Corrente do Golfo faz com que, por exemplo, a Grã-Bretanha tenha uma temperatura média superior em cerca de 9 graus em relação à outras regiões na mesma latitude. A Noruega sem corrente do golfo seria tão inóspita quanto a Groelândia. Os oceanos desempenham um papel vital no clima de milhares de anos. Afinal, a atmosfera está realmente em contato com a água, e não com a terra, em mais de 72%. A circulação da atmosfera é empurrada pelo calor, mas a quantidade de energia térmica armazenada numa coluna de ar que se estende desde a superfície até o seu topo é apenas equivalente à quantidade de energia térmica numa coluna semelhante de água que se estende da superfície do mar até uma profundidade de poucos metros. É o oceano, muito mais que a terra, o armazém inicial da energia solar, libertada posteriormente para a base da atmosfera. Os climas temperados são moderados pela influência do mar a oeste, e o clima de toda a Terra é protegido pela ação moderadora do fornecimento de calor oceânico. O sistema de circulação de grandes correntes é fundamental para o estabelecimento do padrão climático existente, pois a movimentação de águas quentes à superfície atua diretamente sobre a temperatura atmosférica. Uma dessas grandes correntes é a chamada Corrente do Golfo, que transporta água quente para norte, desde o golfo do México até à Escandinávia. 33 a sob a sua influência. Figura 5: Salinidade média anual na superfície. Ressurgência O Cabo Frio - RJ é um exemplo de baixas temperaturas das águas do mar neste ponto do litoral. Essas águas frias são resultado de um fenômeno natural conhecido como RESSURGÊNCIA, que ocorre em raros pontos dos oceanos da terra. Em Arraial do Cabo, a ressurgência ocorre como resultado da ação dos ventos do quadrante leste/nordeste aliado ao movimento de rotação da terra, que Provoca o afastamento das águas quentes da Corrente do Brasil que descem pela costa do nordeste em direção ao sul. Quando essas águas afastam-se da costa, há uma subida das águas frias da Corrente das Malvinas que correm em sentido contrário as águas do corrente do Brasil, ou seja, se deslocam do sul em direção ao nordeste. Este fenômeno arrasta os nutrientes que repousam no fundo até as camadas iluminadas do mar. No fundo, na ausência de luz, esses nutrientes são inertes. No entanto, quando atingem as camadas iluminadas, são utilizados pelas algas microscópicas, através da fotossíntese, e provocam uma " explosão " das microalgas ( o fitoplancton ) que são o início da cadeia alimentar marinha. Essas microalgas abundantes se constituem em alimento dos pequenos animais marinhos ( zooplancton ) que crescem mais rapidamente servindo de alimento para peixes pequenos que vão alimentar os peixes maiores e assim sucessivamente, até os peixes grandes, de valor comercias. Por este motivo Arraial do Cabo é rico em pescado. A ressurgência portanto, fertiliza o mar. As condições que indicam a presença do Fenômeno El Niño são o enfraquecimento dos ventos alísios e o aumento da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) no Oceano Pacífico Equatorial Leste. Como conseqüência, ocorre uma diminuição das águas mais frias que afloram próximo à costa oeste da América do Sul. Em condições neutras, observam-se águas superficiais relativamente mais frias no Pacífico Equatorial Leste, junto à costa oeste da América do Sul, e relativamente mais aquecidas no Pacífico Equatorial Oeste, próximo à costa australiana e região da Indonésia. Os ventos alísios sopram de leste para oeste favorecendo a ressurgência próximo à costa oeste da América do Sul. As condições que indicam a presença do Fenômeno La Niña estão associadas à intensificação dos ventos alísios e ao declínio da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) no Pacífico Equatorial Leste. As águas adjacentes à costa oeste da América do Sul tornam-se ainda mais frias devido à intensificação do movimento de ressurgência. 34 CLI 05 – Balanço Hídrico IMPORTÂNCIA DA ÁGUA A água na Terra é, a um só tempo, vulgar e vital, rara e ubíqua, útil e destrutiva. Suas propriedades químicas e físicas conferem-lhe características importantes como: material básico para as células vivas, agente de limpeza e de nutrição, solvente universal, mobilidade excepcional, meio de transporte, reguladora das trocas de energia na biosfera, moderadora do clima, e agente erosivo e destruidor. A história do desenvolvimento da civilização poderia ser escrita em termos da reocupação épica do homem para com a água. Os problemas relativos à água sempre mereceram a atenção e imaginação criativa do homem para a sua solução, como atestam várias obras de engenharia, projetos de recursos hídricos, poços, aquedutos e 35 barragens construídas no passado (Lima, 2007 e referências citadas). A mais antiga represa do mundo foi construída no Egito, há mais de 5.000 anos. O poço de Jacó (Velho Testamento) foi escavado atravessando uma camada de rocha de cerca de 30 metros, e se encontra em uso até hoje. Também os costumes e as formas de organização social do homem foram influenciados mais pela associação com a água do que com a terra de onde conseguiram o sustento, associação esta refletida em costumes, crenças, regulamentos e leis e na religião: “Uma boa terra, terra com ribeiros de água, com nascentes que emanam de vales e montanha . . .” (Deuteronômio, 8:7). Da mesma forma como o ar, a água intimamente associada à evolução do homem em inúmeras maneiras. Uma das condições básicas para a xistência de vida na terra é a presença de água na forma líquida. Cada processo orgânico só pode ocorrer em meio aquoso. A água é o constituinte fundamental do protoplasma e o seu papel no metabolismo, no processo regulatório da temperatura do corpo e na nutrição dos tecidos é vital. A água, além disto, é o lar dos organismos vivos. Cerca de 90% de todos os organismos da Terra estão imersos em água, e o restante, que permanece num “oceano” de vapor d’água, utiliza a água líquida. O consumo médio anual para uma pessoa adulta é de 5 a 10 vezes o peso do corpo, o que dá uma média de cerca de 450 litros/ano (300 - 600 l/ano). Em clima temperado, uma pessoa normal consegue sobreviver com 2,5 litros de água por dia em condições de atividade física moderada. Cerca de 1 litro deste total é ingerido na forma de alimentos e também pela produção no próprio organismo, através da combustão de açúcares e gorduras. O restante é ingerido na forma líquida. Ao todo, são necessários de 2,5 a 2,8 litros de água para reposição daquela perdida por transpiração e excreção. O consumo de água em quantidades inferiores conduz a estado patológico caracterizado por perda de apetite e, eventualmente, a uma subnutrição. Uma pessoa pode agüentar sem água durante poucos dias no deserto, se permanecer em repouso. Com alguma atividade, talvez não consiga sobreviver nem 1 dia, pois as perdas podem chegar até 5 litros por hora. A civilização moderna é caracterizada por alta demanda de água. A quantidade de água necessária para o sustento da vida, apenas, é relativamente pouca. Mas mesmo nas sociedades mais simples as pessoas precisam de uma quantidade adicional de água para se lavar, preparar alimentos, etc. Nos tempos passados, o consumo “per capita” diário, considerando todos os usos, inclusive a água de beber, era de cerca de 12 - 20 litros. Atualmente, o consumo doméstico “per capita” é de aproximadamente 300 litros por dia. Computados todos os fatores de produção (uso doméstico, irrigação, industrial, na agricultura, etc.) o consumo gira ao redor de 15.000 litros por pessoa por dia. A demanda de água aumenta com o aumento de população e com a melhoria do padrão de vida. Na cidade de São Paulo o consumo “per capita” no final do século passado era de aproximadamente 60 litros. Atualmente o consumo médio gira ao redor de 330 litros por pessoa, o que considerando a população atual, representa uma demanda média de cerca de 1,374 x 109 m3 de água por ano (DAEE, 1972). Isto implica em esforços gigantescos para manter o suprimento adequado de água. Los Angeles, por exemplo, capta água não apenas das proximidades (Serra Madre), como também de fontes situadas a 389, 560 e 720 km de distância. Uma floresta, por outro lado, consome cerca de 200 a 1.000 kg/ano por m2 de superfície, para a produção de cerca de 1 a 2 kg de matéria seca/ano.m2. Portanto, a relação transpiração/biomassa seca varia de 100 a 1.000, dependendo do clima, do tipo florestal e da disponibilidade de água. 36 Em virtude de seu calor latente e seu calor específico, a água funciona como regulador térmico para as trocas de energia da Terra, armazenando excesso e aliviando as deficiências térmicas. As flutuações de temperatura são maiores sobre a superfície de terra (continentes) do que sobre água, e os climas marítimos são moderados. Além disto, por sua constante movimentação, a água funciona como moderadora de temperatura na biosfera. As correntes oceânicas transferem energia dos trópicos para os pólos, enquanto que a circulação da atmosfera é sempre na direção de áreas de alta evaporação para áreas de baixa evaporação, o que resulta em efeitos mais acentuados nos climas continentais. As mesmas propriedades que fazem da água um elemento vital e conveniente para a vida na Terra freqüentemente manifestam-se como inconvenientes e destruidoras, demonstrando a ambivalência e imparcialidade dos fenômenos naturais, bem como a insuficiência da condição humana para fazer frente à ocorrência destes fenômenos naturais. Elementos do balanço hídrico: Os conceitos de balanço hídrico foram introduzidos por Thornthwaite (1948) e contribuíram para estudos de classificação climática de uma região, assim como da interação biosfera-atmosfera (solo-planta-atmosfera). Mais tarde, Thornthwaite e Mather (1955) fizeram novos progressos, bem como outros pesquisadores (p. ex., Penman (1956). Evapotranspiração (ET) - combinação da transpiração (T) e evaporação (E); ET = T + E. Exemplo de instrumento de medida é o Lisímetro. Lisímetro é um recipiente representativo do meio ambiente e utilizado para fins de monitoramento em estudos sobre as interações planta-água-solo -Evapotranspiração Potencial (ETr) é a quantidade de água evapotranspirada na unidade de tempo por uma cultura, não submetida a quaisquer restrições de água (ou recursos minerais) e em plenas condições de desenvolvimento (isto é, sem ataque de doenças, pragas). Evapotranspiração real (ETc) - é a evapotranspiração de qualquer cultura em qualquer estádio fenológico, podendo estar sofrendo ou não limitação hídrica ou outro fator que impeça a sua taxa potencial. Diz-se que a ETc é máxima ou potencial quando a cultura não sofre limitações tanto hídrica quanto de outros fatores (ataque de doenças, pragas, restrição mineral etc.). Ponto de murcha permanente (PMP) – ocorre quando o conteúdo de água retido no solo (~tensão de água no solo) é tão baixo, tal que a maioria das plantas não consegue extrair água do solo e entra em murcha permanente. Capacidade de campo (CC) - é a quantidade de água retida pelo solo após a drenagem ter ocorrido ou cessado em um solo previamente saturado por chuva ou irrigação; é a quantidade de água retida pelo solo quando a condutividade hidráulica não saturada se torna tão pequena que o fluxo de água pode ser considerado como sendo zero. 37 Água total disponível (ATD) - é a água compreendida entre a capacidade de campo (CC - limite superior) e o ponto de murcha permanente (PMP - limite inferior) do solo (ATD = CC - PMP). Potencial da água no solo (Y) - representa o estado de energia da água no solo e governa todos os processos de transporte de água no sistema solo - planta atmosfera; Esse potencial é o somatório dos potenciais de pressão, de soluto ou osmótico, tensão e gravitacional. Para efeito de irrigação, a tensão torna-se o componente mais importante, que expressa a parte do potencial de água devido à interação com a matriz do solo. Curva de retenção - é uma propriedade ou característica físico-hídrica do solo que relaciona o conteúdo volumétrico de água (q) e o componente tensão potencial de água no solo (Y) Figura 1: Balanço hídrico de acordo com Thornthwaite e Mather (1955). Linha sólida corresponde a precipitação e tracejada a evaporação potencial e real sobre um (a) solo com profundidade de 50 cm e (b) com 150 cm. 38 O CICLO HIDROLÓGICO O ciclo, obviamente, não tem começo nem fim. A água é evaporada dos oceanos e da superfície continental e se torna parte da atmosfera. A umidade atmosférica precipitase tanto nos oceanos como nos continentes. Nestes a água precipitada pode ser interceptada pela vegetação, pode escoar pela superfície dos terrenos, ou pode infiltrar-se no solo, de onde pode ser transpirada pelas plantas. Assim, o ciclo da água envolve vários e complicados processos hidrológicos: evaporação, precipitação, interceptação, transpiração, infiltração, percolação, escoamento superficial, etc. O total de água existente no planeta, presa ao ciclo hidrológico, é estimado em 1,4 x 1018 m3 . Este total, na fase líquida, seria suficiente para cobrir a superfície da esfera terrestre com uma camada de 2,7 km de água. Deste total, 97 % encontra-se nos oceanos. Ainda, 98 % constitui água na forma líquida, dos quais cerca de 2,6 % é água doce, 15 % da qual encontra-se na bacia amazônica. A água doce corresponde, portanto, a um volume de 3,6 x 1016 m3 . Deste volume, 77,2 % encontra-se na forma sólida, nas calotas polares, 22,4 % constitui a água subterrânea, e cerca de 0,4 % compreende a água dos rios, lagos e o vapor atmosférico (Figura 1). Figura 1. Balanço hídrico global. Armazenamentos relativos são mostrados proporcionalmente nas figuras geométricas, assim como as setas representam proporcionalmente os fluxos anuais. BALANÇO HIDROLÍGICO GLOBAL 39 A Hidrologia pode ser entendida como o estudo científico do ciclo hidrológico. O ciclo hidrológico, mais do que uma simples seqüência de processos, constitui-se de um conjunto de fases, as quais representam os diferentes caminhos através dos quais a água circula na natureza. Esta circulação ocorre em três partes do sistema terra: a atmosfera, a hidrosfera e a litosfera, numa profundidade aproximada de 1 km na litosfera, até cerca de 15 km na atmosfera. A água da atmosfera (vapor) constitui a água precipitável. Se o total de vapor atmosférico se precipitasse, a chuva correspondente seria de cerca de 25,5 mm uniformemente distribuída sobre toda a superfície da esfera terrestre. Este reservatório (vapor atmosférico) é reposto continuamente pela evaporação e é descarregado pela precipitação, sendo esta a única fonte renovável de água doce para a superfície. A precipitação média no planeta é de aproximadamente 940 mm por ano. Cerca de 70 % da precipitação retorna à atmosfera pela evaporação. Numa dada área, a quantidade de água envolvida em cada fase do ciclo hidrológico pode ser avaliada através da chamada equação do balanço hídrico, que é a própria lei da conservação da massa: I - O = DS onde: I = fluxos positivos (entrada de água) O = fluxos negativos (saída de água) DS = variação no armazenamento A água no ciclo hidrológico movimenta-se continuamente: nuvens, chuva, cursos d.água, ondas e correntes oceânicas, etc. Em escala global, esta movimentação representa as trocas que ocorrem entre a terra, o oceano e a atmosfera. Quantitativamente, estas trocas equivalem aos seguintes valores médios anuais (Tabela 1): Tabela 1: Balanço hídrico médio anual para a Terra (Baumgartner & Reichel, 1975, citados por LEE, 1980). Considerando arbitrariamente P com sinal positivo, E com sinal negativo e Q positivo para o oceano e negativo para o continente, pode-se escrever a equação do balanço hídrico para condições estáticas (isto é, considerando o armazenamento constante) de acordo com o seguinte: P-E±Q=0 40 Examinando a tabela 1 pode-se verificar que tanto a precipitação (P), quanto a evaporação (E) giram ao redor de 5 x 103 km3 , o que equivale a uma cobertura uniforme da superfície da esfera terrestre de 973 mm. Considerando apenas o processo de destilação atmosférica, isto equivale a dizer que seriam necessários 28 séculos para a ciclagem completa de todo o volume de água existente no ciclo. Verifica-se, ainda, que a precipitação média nos oceanos é cerca de 3,5 vezes à dos continentes, e que a evaporação dos oceanos é cerca de 6 vezes a média dos continentes. Latitudinalmente essa relação é mostrada na Figura 2. Sobre os continentes P excede E em cerca de 4 x 104 km3/ano, equivalente à descarga anual dos rios, que por sua vez deve ser equivalente ao fluxo anual de vapor dos oceanos para os continentes. Figura 2: Variação latitudinal da precipitação subtraída da evaporação. Balanço Hidrológico nos Continentes Em escala menor, a Tabela 2 permite verificar o balanço hídrico médio anual para os vários continentes. A América do Sul, conforme mostra a tabela 2, é o continente mais rico em recursos hídricos, em termos de disponibilidade de água superficial (deflúvio). A Austrália, por outro lado, é o continente mais pobre nesse sentido. Para o Brasil, considerando dados de 289 postos meteorológicos, cada um com uma média de aproximadamente 20 anos de observações, conforme publicado em C.W. THORNTHWAITE ASSOCIATES (1965), os números da equação do balanço hídrico são conforme o esquema mostrado na Figura 3. 41 Tabela2. Balanço hídrico médio dos continentes (TODD, 1970). Figura 3. Balanço hídrico médio anual para o Brasil. Balanço Hidrológico na superfície (ou em Bacias Hidrográficas) Em escala menor, o balanço hídrico se completa na bacia hidrográfica (unidade geomorfológica). Qualquer ponto da superfície faz parte de uma bacia hidrográfica. Desde os menores vales até a grande bacia amazônica, sempre existe uma discreta área de terreno que capta a água da chuva, perde água por evaporação, e produz o restante como deflúvio ou escoamento superficial. Esquematicamente, os processos 42 envolvidos no balanço hídrico de uma bacia hidrográfica podem ser observados na Figura 4. Figura 4. Representação esquemática dos processos hidrológicos envolvidos no balanço hídrico de uma bacia hidrográfica. A modelagem dos vários processos envolvidos no balanço hidrológico de uma bacia, de acordo com a figura 4. onde: P = precipitação T = transpiração Ic = interceptação pelas copas Ip = interceptação pelo piso Eo = evaporação do solo e de superfícies líquidas Et = evapotranspiração (total de perdas por evaporação) Q = deflúvio Ds = variação do armazenamento da água do solo L = vazamento freático Pp = percolação profunda (vazamento por falhas na rocha) Rs = escoamento superficial (em canais ou para superfície) 43 Rss = escoamento sub-superficial Rb = escoamento básico (água subterrânea) f = infiltração Pc = precipitação direta nos canais U = vazamento (água que flui por fora do leito) Desta forma, para um dado período de tempo a equação do balanço hidrológico será: P = (T + Ic + Ip + Eo) + Q + Ds ± L + U Considerando uma bacia hidrográfica ideal, isto é, onde todos os fluxos positivos e negativos possam estar sob controle experimental, e onde não ocorram vazamentos (L ou U), e nem perdas por percolação profunda (PP), para um dado período a equação completa acima pode ser simplificada de acordo com o seguinte modelo: D S = P – Et – Q Estas condições ideais são essenciais para que se possa utilizar uma bacia qualquer como área experimental para estudos de hidrologia florestal. Balanço hidrológico na Atmosfera D V = E + DP – P + CM sendo: D V = variação da quantidade de vapor armazenado; E = quantidade de água que entra proveniente da evaporação P = quantidade de água que sai por precipitação CM = quantidade de água que entra por convergência de massa (advecção) Água Precipitável (precipitação potencial) É a expressão que define a quantidade total de vapor d.água existente na atmosfera, ou seja, é a quantidade de chuva, que resultaria se todo o vapor de água presente numa coluna atmosférica fosse precipitado: onde: DP (lado esquerdo da eq.) = água precipitável (mm), UE = umidade específica, P1 e P = pressão atmosférica (mb). De acordo com a equação anterior, água precipitável, portanto, define a quantidade de chuva que existe em potencial numa coluna de ar entre as pressões atmosféricas p1 e p (DP (lado direito da eq. é igual a p p1). Acima de 8 km de altura a água precipitável é desprezível (LINSLEY et al, 1975). 44 CLI 06 – Climatologia Sinótica dos principais sistemas que atuam na América do Sul A zona de convergência intertropical - ZCIT é um dos mais importantes sistemas meteorológicos atuando nos trópicos. Sua influência sobre a precipitação na América do Sul é decisiva para a chuva no norte do nordeste brasileiro. A ZCIT está inserida numa região onde ocorre a interação de características marcantes atmosféricas e oceânicas: i) zona de confluência dos Alíseos; ii) zona do cavado equatorial; iii) zona de máxima temperatura da superfície do mar; iv) zona de máxima convergência de massa; e v) zona da banda de máxima cobertura de nuvens convectivas, todas interagindo próximas à faixa equatorial. Apesar dessa interação as características não se apresentam, necessariamente, ao mesmo tempo, sobre a mesma latitude. Durante os meses de verão no Hemisfério Norte (JJA), a zona de confluência dos alíseos aparece sobre o cavado equatorial e as regiões de máxima cobertura de nuvens, precipitação e convergência de massa são quase coincidentes, localizando-se, aproximadamente, a três graus ao sul da zona de confluência dos Alíseos. Nos meses de DJF, a zona de máxima cobertura de nuvens, precipitação e convergência de massa localiza-se ao norte da zona de confluência dos Alíseos. O conjunto de características associadas à ZCIT possui um deslocamento norte-sul ao longo do ano. A marcha anual da ZCIT tem, aproximadamente, o período de um ano, alcançando sua posição mais ao norte (8 N) durante o verão do Hemisfério Norte, e a sua posição mais ao sul (1 N) durante o mês de abril. Além dessa oscilação anual, a ZCIT apresenta oscilações com maiores freqüências, com o período variando de semanas a dias. A zona do cavado equatorial aproxima-se mais do litoral nordestino brasileiro nos meses de fevereiro a março. Diferentes estudos já apontaram a importância da ZCIT no regime de chuvas das regiões norte e nordeste do Brasil. Além da influência da ZCIT no tempo e no clima das áreas tropicais, ela também está envolvida na manutenção do balanço térmico global. Na escala planetária, a ZCIT está localizada no ramo ascendente da célula de Hadley, atuando no sentido de transferir calor e umidade dos niveis inferiores da atmosfera das regiões tropicais para os níveis superiores da troposfera e para as médias e altas latitudes. As Alta Subtropicais nos Oceanos Pacifico Sul e Atlântico Sul são sistemas de pressão quentes, intensos e são observados de baixos até altos níveis (FEDOROVA, 2001). Nesse último, muitas vezes através de cristas. Nestes anticiclones observa-se divergência do vento, a qual é caracterizada por calmaria e céu claro. São encontrados durante todo o ano em cada oceano. Os anticiclones são observados, aproximadamente por uma semana e depois é observada nova incursão do ar polar e a 45 regeneração do anticiclone. Durante o deslocamento de um anticiclone transitório, este se aquece, intensifica-se e transforma-se quase estacionário. Estes alimentam e reforçam as altas subtropicais. Esse processo ocorre depois da incursão de um ar polar na retaguarda de uma frente fria. Durante o verão (inverno) austral as altas subtropicais estão mais próximas do pólo (equador). Além disso, no período sazonal seco das Regiões brasileiras Sudeste e Centro-oeste e Sul da Amazônia, a retaguarda da alta subtropical se coloca sobre o continente. Corrente de Jato Subtropical e Polar Em altos níveis da atmosfera, próximo à tropopausa, existe uma região onde a componente do vento zonal, de oeste, atinge valores máximos. Esta componente aumenta com a altura devido à existência de gradientes meridionais de temperatura. O escoamento caracterizado por valores máximos é denominado de Corrente de Jato ou simplesmente Jato. Existem duas Correntes de Jato distintas: ato Subtropical, está associada à circulação da Célula de Hadley e geralmente fica localizada no limite polar dessa célula, entre as latitudes de 20S a 35S; a outra é a Corrente de Jato Polar a qual não é muito regular e está associada ao forte gradiente horizontal de temperatura que ocorre nas estreitas zonas frontais, localizando-se no lado equatorial destas e encontra-se geralmente entre as latitudes de 35S a 70S. A corrente de jato subtropical tem sua posição média próximo ao equador no período de inverno e em próxima ao pólo sul no verão. A importância da Corrente de Jato é associa a casos de extremos de precipitação. Por exemplo, o papel do Jato Subtropical nas intensas precipitações sobre a Região Sul durante episódios El Nino. Jato de Baixos Níveis O jato de baixos níveis a leste da Cordilheira dos Andes é um forte fluxo da componente meridional do vento variando seu eixo para a Região Sudeste ou Sul do Brasil. Intensos jatos de baixos níveis estão relacionados a eventos de chuva intensa no Sul do Brasil em conjunto com o desenvolvimento de Complexos Convectivos de Mesoescala. Sua importância é devido ao transporte de ar quente e umidade, provenientes da Região Amazônica, para a região do Paraguai e norte da Argentina. Sistemas Frontais atuam durante o ano todo sobre o Brasil com freqüências maiores nas latitudes mais altas e menores nas latitudes mais baixas e, são um dos maiores causadores de distúrbios meteorológicos sobre o país. A interação entre a convecção tropical e sistemas frontais ocorre mais freqüentemente quando os sistemas frontais se encontram entre 20oS e 35oS. O deslocamento desses sistemas está associado ao escoamento ondulatório de grande escala. A intensificação ou dissipação dos mesmos está relacionada com as características atmosféricas sobre o continente. Algumas regiões do Brasil, tais como as Regiões Sul e áreas adjacentes são regiões frontogéneticas, ou seja, as frentes podem se intensificar ou podem se formar. Complexos convectivos de mesoescala - CCM referia-se aos aglomerados convectivos com forma aproximadamente circular, que se formam sobre as proximidades do Paraguai e com tempo de vida relativamente mais curto em torno de 6 horas. CCM estão frequentemente associados a eventos de precipitações intensas, fortes rajadas de vento e até tornados, motivando seu estudo com base nas aplicações 46 em previsão do tempo. O ciclo de vida do CCM é tal que o horário de máxima extensão ocorre de madrugada, na grande maioria dos casos observados. O hábito noturno é uma das características mais marcantes do CCM. As primeiras células convectivas que ainda precedem a definição do início do CCM podem ocorrer tanto no início da tarde como no início da noite. Essas características são semelhantes as observadas nos sistemas convectivos da zona equatorial. Bloqueios na atmosfera caracterizam-se por um persistente sistema de alta pressão em superfície que impede a propagação de sistemas transientes. Nos altos níveis, são caracterizados por um centro de alta pressão conjugado a um centro de baixa pressão na região onde os ventos são de oeste. Na região do bloqueio, o céu é sem nebulosidade e as temperaturas são muito altas. Bifurcação do jato subtropical é indicação da presença de bloqueio. Este sistema faz com que haja um desvio das perturbações, de modo que exista uma espécie de "zona de sombra". No outono há um máximo de dias com atuação de bloqueio, enquanto que no inverno e na primavera ocorre um mínimo. A posição do sistema de bloqueio é fundamental: se estiver muito próximo à América do Sul a região Sul passa por um período mais seco e a região Sudeste sofre grande precipitação; se estiver mais para oeste, o inverso acontece. Figura 1. Representação esquemática de um bloqueio. A Temperatura da Superfície do Mar (TSM), mais precisamente do Atlântico Tropical, está relacionada a precipitação no Nordeste brasileiros. Águas mais quentes (frias) no Atlântico Sul Tropical e mais frias (quentes) no Atlântico Norte Tropical estão associadas com anos chuvosos (secos). Esta influencia do padrão de Dipolo da TSM no Atlântico Tropical também é valida muitas vezes para a Amazônia. Entretanto, a Amazônia e o Nordeste são mais fortemente afetados pelo padrão de anomalias oceânicas e atmosféricas sobre o Pacifico equatorial devido aos episódios El Nino/Oscilação Sul. Assim, como a precipitação no Sul do Brasil. A influencia da TSM subtropical, por exemplo, próxima a costa da Região Sul é questionável. A monção é um regime das correntes de ar de grande escala com predominância do vento durante um período sazonal com mudança na direção entre verão e inverno. A palavra monção é designada para ventos periódicos. Na América do Sul, não há mudança no vento observado, isto é, os alísios, o que por muito tempo deixo questionável o regime de monções na América do Sul. Entretanto, nos últimos anos vários estudos mostraram a reversão não do vento, mas das anomalias do vento, quando se remove a media anual. A monção existe devido a dois principais fatores: migração da ZCIT durante o ano e a variação sazonal da diferença de temperatura 47 entre mares e continentes. As monções na América do Sul estão relacionada à presença de vários sistemas característicos no período de verão austral. A Alta da Bolívia é um anticiclone intenso e quase-estacionário se estendendo sobre grande parte da América do Sul tropical na alta troposfera, durante o verão. O mecanismo fundamental de estabelecimento e manutenção da Alta é a liberação de calor sobre o continente. Além disso, há também calor sensível sobre o Altiplano Boliviano. Um fluxo para leste em torno de 10°S e u m forte fluxo cruzando o equador para norte-nordeste entre 055° e 080°W também estão associados á presença da Alta da Bolívia. Figura 2. Representação esquemática da Alta da Bolívia O padrão de circulação de verão indica que, corrente abaixo da Alta da Bolívia, formase uma circulação ciclônica em altitude (Fig. 2), que também varia de posição e intensidade ao longo do verão, e cujo efeito mais marcante é a subsidência induzida em baixos níveis sobre a região Nordeste brasileiro (Vórtice ciclônico de Altos Níveis – VCAN). Zona de Convergência do Atlântico Sul - ZCAS é uma persistente faixa de nebulosidade orientada no sentido noroeste-sudeste associada a uma zona de convergência na baixa troposfera durante o verão austral e estende-se desde o sul da 48 Amazônia até o Atlântico Sul-Central. Essa zona de convergência é relacionada ao fluxo de umidade vindo da região amazônica. Períodos de enchentes na região sudeste e ausência de chuvas região sul estão associados a ZCAS. Esta associada a liberação de calor latente na América do Sul e assim com a Alta da Bolívia. O aquecimento localizado sobre o continente apresenta papel fundamental para a existência dessas zonas de convergência. A formação de um cavado estacionário na baixa troposfera com orientação NW-SE e de um anticiclone em ar superior, está associada à resposta estacionária da atmosfera a uma forçante localizada de calor. Além disso, há o efeito remoto de intensificação ou enfraquecimento devido à propagação de oscilações atmosféricas. Outras zonas com características semelhantes ocorrem no Indico Sul e Pacifico Sul. Esta última tem relação com a ZCAS via as oscilações atmosféricas. Até mesmo a presença da Cordilheira do Andes tem o seu papel no posicionamento da ZCAS. Além de ser decisiva no confinamento do campo de baixa pressão na superfície em resposta à liberação de calor latente no Brasil central e assim, formação da Baixa do Chaco na região do Paraguai. Vórtices Ciclônicos são sistemas que se desenvolvem no Sul e Sudeste do Brasil, em geral provocando chuvas, associado a padrões em altos níveis que chegam pela costa oeste da América do Sul vindos do Pacífico, penetrando no continente e provocando instabilidade no seu setor leste e nordeste. Seu mecanismo de formação se baseia na amplificação de uma crista no escoamento em altos níveis. Quando se desloca para leste, atinge o Sul e Sudeste do Brasil, em geral provocando chuvas. Possuem características físicas semelhantes aos vórtices do Nordeste, mas com algumas diferenças, principalmente no deslocamento, já que o VCAN é praticamente estacionário. Formam-se o ano inteiro (mas são mais numerosas durante o verão) primeiramente nos altos níveis e depois se propagam para altitudes menores, às vezes estando associado a um ciclone de superfície ou mesmo propiciando ou mesmo provocando formação de ciclones (ciclogênese). A convergência de vapor e a liberação de calor sensível são os efeitos mais ativos na formação destes vórtices. TEMPESTADES LOCAIS SEVERAS referem-se a chuvaradas locais de grande intensidade, acompanhadas, em geral, de trovões, descargas elétricas, granizos, ventos fortes, súbitas variações de temperaturas e, ocasionalmente, tomados. A nuvem característica é o cumulonimbus, uma nuvem em forma de torre, que se expande lateralmente no topo, assumindo a configuração de uma bigorna. A base de um cumulonimbus pode situar-se entre 300 e 3.000 m, dependendo da umidade relativa do ar próximo ao solo. O topo usualmente atinge de 9.000 a 18.000m; os mais altos localizam-se nos trópicos, ou então nas latitudes médias durante o verão. Ao evoluírem, podem fazê-lo localmente, ou deslocando-se a velocidades que chegam a superar 100 km/h. O grande desenvolvimento dos cumulonimbus e, conseqüentemente, das tempestades locais, acha-se associado à presença de ar quente, úmido e instável. Com tais características, podem localizar-se no interior de uma massa de ar, ao longo de uma frente ou em uma linha de instabilidade. Em regiões montanhosas, formações isoladas não são raras, especialmente no verão. 49 O desenvolvimento local está sempre condicionado a um forte gradiente térmico vertical instável, como resultado de um aquecimento diurno intenso, que atinge maiores proporções à tarde. Quando associadas às formações frontais, as tempestades não possuem horários preferenciais e, embora sejam locais, seguem o sentido do deslocamento das frentes. Para o desenvolvimento de uma nuvem cumulonimbus, como já mencionado, o decréscimo vertical da temperatura deve ser suficientemente grande para que o perfil de temperatura do ar seja condicionalmente instável, com ar úmido nos baixos níveis. Em tal camada atmosférica, uma parcela de ar em ascensão torna-se saturada e resfria-se menos rapidamente que o faria se não se saturasse, porque a liberação de calor latente de condensação compensa parcialmente o resfriamento por expansão "adiabática". Então, a parcela atinge níveis em relação aos quais está mais aquecida e, por conseguinte, mais leve que o meio que a circunda. Assim, as forças de flutuação aceleram a parcela cada vez mais para cima. Este mecanismo de convecção pode ser iniciado pelo aquecimento superficial, pelo desvio do escoamento ao incidi r sobre uma irregularidade do terreno, ou ainda ao longo de uma frente, em que o ar frio penetra por baixo e força o ar quente a iniciar a subida. Ao nível superior da atmosfera, onde o gradiente térmico toma-se estável, o movimento vertical da parcela é desacelerado. A vida de uma nuvem tempestuosa é curtíssima, posto que o ciclo completo pode durar entre uma e duas horas. Na etapa de desenvolvimento, a nuvem está mais quente que o ar em seu redor. Correntes ascendentes são observadas no interior da nuvem, com velocidades máximas no topo central. Com o crescimento vertical da nuvem, o topo alcança níveis em que a temperatura acha-se abaixo da temperatura de congelamento; apesar disso, ainda coexistem gotículas d'água e cristais de gelo. A quantidade d'água pode acumular-se tanto que gotículas e cristais de gelo mais pesados deixam de ser suportados pelas correntes ascendentes e começam a cair no interior da nuvem. Inicia-se uma nova fase da evolução da nuvem: o aparecimento das correntes descendentes, e com elas a nuvem atinge a maturidade. Associados com as precipitações ocorrem ventos fortes e rajadas. O total precipitado pode atingir 500 mm em apenas uma hora. Nos centros urbanos, esses totais pluviométricos podem causar inundações catastróficas. Por isso, essas inundações são erroneamente denominadas de trombas d’água. Estes últimos, embora se relcionem com Cbs, têm características distintas e ocorrem associados a superfícies líquidas à superfície. LINHAS DE INSTABILIDADE são conjunto de células convectivas com forte atividade, possuindo mais de 100 km ao longo de seu eixo principal. Em superfície é caracterizada pela presença de nuvens em forma cilíndrica 50 acompanhadas por ventos com velocidades médias de 12 a 25 m/s, onde pode frequentemente ocorrer chuvas de 30mm em meia hora. Muitos estudos apontam que a forçante de um sistema convectivo de mesoescala é a convergência associada a ZCIT, nota-se comumente convergência de larga escala muitas horas antes da formação das Linhas de Instabilidade. Esta convergência de larga escala causa intensificação ou organização da umidade em níveis médios, a qual permite a convecção subsistir a influência da secagem provocada pelo entranhamento. É bom observarmos que a convergência de larga escala não se limita a ZCIT nos trópicos. Ainda nos trópicos podemos citar as ondas de Leste como um importante mecanismo de forçante de um sistema convectivo de mesoescala, porém com uma menor importância do que a convergência de larga escala. As ondas de Leste funcionam como um mecanismo de acionamento para estes sistemas, nesta região. Formadas por Cbs de diversos tamanhos que se agrupam em linhas ou curvas, que se desenvolvem associados à circulação de mesoescala como: circulação vale-montanha, circulação pré-frontal (ao longo de uma frente fria devido ao intenso contraste térmico que ocorre nesta região) e circulação de brisa. Essas formações podem persistir por vários dias e se propagarem por milhares de quilômetros. Podemos dividir as linhas de instabilidade em duas categorias distintas: Linhas de Instabilidade Tropicais e Linhas de Instabilidade de Latitudes Médias. (a) (b) Fig. 3 – Foto aérea de uma linha de instabilidade (LI) (a) e um diagrama de formação da LI (b). FAMÍLIA DE CICLONES verifica-se na atmosfera que raras vezes um ciclone extratropical aparece isolado. Quase sempre observa-se uma série de três ou quatro, ligados entre si, formando uma família de ciclones, como se visualiza na Figura 4. O primeiro ciclone — o membro condutor da família — seria um ciclone ocluído; o seguinte estaria parcialmente ocluído, e os demais membros sucessivos seriam ciclones incipientes (Figura 4d). Enquanto os mais velhos se encontram Já em 51 frontólise, os mais jovens ainda se formam (frontogênese). Em geral, nem todos os membros possuem a mesma vitalidade. O último da família é, via de regra, o mais ativo, atingindo distâncias maiores em relação a sua origem. Fig. 4 – Estilo das ondas frontais no HS: a) Estilo borboleta; b) Estilo de frentes sucessivas; c) Famílias de ciclones associados a frentes polares e frentes antárticas; d) em uma frente polar. Fonte: Newton, C.W., 1972. ONDAS NA ATMOSFERA SUPERIOR A presença de famílias de ciclones na baixa troposfera associa-se fortemente a distribuição da pressão na média e alta troposfera. Conclui-se que a sucessão de ciclones em baixos níveis está diretamente relacionada com o escoamento ondulatório nas camadas superiores. Em sucessão as altas e baixas pressões à superfície, temos cavados e cristas em altos níveis. A figura 8.5 mostra quatro ondas longas na atmosfera superior, associadas com quatro famílias de ciclones à superfície. Os ondas longas na atmosfera superior são conhecidas como Ondas de Rosby, pesquisador que investigou suas propriedades. A velocidade de propagação dessas ondas pode ser determinada pelo comprimento da onda e a velocidade do escoamento (de oeste para leste). 52 Fig. 8.5 – Mapa esquemático mostrando quatro famílias de ciclones ao nível do mar, associado com quatro ondas longas na atmosfera superior. Fonte: Pettersen, S., 1968. ONDAS DE LESTE São ondas que se formam no campo da pressão atmosférica, ao longo dos alísios, na faixa tropical do globo, deslocando-se de leste para oeste. Essas ondas, embora de difícil localização em cartas sinóticas, são capazes de produzir precipitações acentuadas ao longo de suas trajetórias. Na América do Sul, as ondas de leste ocorrem na faixa tropical do Atlântico e deslocam-se para oeste até atingir o litoral e a Zona da Mata do Nordeste, principalmente no inverno. Como essa região é dominada pela massa tropical marítima e pelo Anticiclone do Atlântico Sul, que provoca subsidência e a consequente inversão dos alísios, essas ondas se desenvolvem e se deslocam sob tais condições. Entretanto, à proporção que a baixa avança, promove-se a subida da inversão dos alísios. O ar tímido é injetado pela circulação anticiclônica e a zona de convergência, associada ao cavado, provoca a ascensão desse ar, favorecendo a formação de nuvens de grande extensão vertical. Imediatamente após a passagem da onda, o nível de inversão dos alísios volta a abaixar. As regiões de ocorrências das ondas de leste, mais frequentes, são mostradas na Figura 6. Fig. 6 – Regiões em que os ondas de leste são mais freqüentes Fonte: Pettersen, 1968. 53 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BROOKS, F.A., 1959. 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