comportamento das cultivares de feijão aporé, carioca e pérola em

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COMPORTAMENTO DAS CULTIVARES DE FEIJÃO APORÉ, CARIOCA
E PÉROLA EM DIFERENTES POPULAÇÕES DE PLANTAS E
ESPAÇAMENTOS ENTRE LINHAS1
CLÁUDIO ROBERTO VALÉRIO2
MESSIAS JOSÉ BASTOS DE ANDRADE3
DANIEL FURTADO FERREIRA4
RESUMO - Para investigar a existência de comportamento diferencial das novas cultivares Aporé e Pérola
em relação à tradicional cv. Carioca, no que diz respeito à melhor combinação de espaçamento entre linhas
e população de plantas, foram conduzidos três ensaios
no município de Lavras, Sul de Minas Gerais (safras
das águas 1996/97 e seca e inverno-primavera 1997).
Os ensaios foram instalados em blocos casualizados,
esquema de parcelas subdividas, com 3 repetições, estudando-se nas parcelas três espaçamentos entre linhas
(40, 50 e 60 cm), e nas subparcelas, um fatorial 3 x 4
envolvendo três cultivares (Aporé, Carioca e Pérola), e
quatro populações de plantas por hectare (180, 220,
260 e 300 mil). Em todos os ensaios, avaliaram-se o
rendimento de grãos e seus componentes primários
(peso de cem grãos, número de vagens por planta e
número de grãos por vagem), avaliando-se também, no
ensaio das águas, a severidade da antracnose, e no inverno-primavera, a altura da planta aos 35 dias após
a emergência, o tempo para o fechamento das entrelinhas, o percentual de acamamento e a infestação de
invasoras por ocasião da colheita. Nas três safras avaliadas, as novas cultivares Aporé e Pérola mostraram
comportamento bastante superior à tradicional cv. Carioca, que se revelou menos produtiva, suscetível à antracnose e mais vulnerável ao acamamento e à reinfestação de invasoras. Na cv. Carioca, que foi a que mais
acamou, o aumento do espaçamento entre linhas no intervalo de 40 a 60 cm reduziu o acamamento, mas aumentou a severidade da antracnose, principalmente na
presença das maiores populações utilizadas. No intervalo estudado, o incremento da população de feijoeiros
reduziu o número de vagens por planta e o número de
grãos por vagem, mas a produtividade manteve-se estável. Outros efeitos do aumento da população foram a
maior altura de plantas, maior acamamento dos feijoeiros, menor reinfestação por invasoras e antecipação da data de fechamento das entrelinhas da lavoura. Tomando-se por base o rendimento de grãos, entretanto, verificou-se que o desempenho dos espaçamentos de 40 a 60 cm entre linhas e das populações de
180 a 300 mil feijoeiros por hectare, foi equivalente
para as três cultivares que, dessa forma, podem utilizar
as atuais recomendações quanto ao espaçamento e densidade de semeadura, geralmente desenvolvidas para a
cv. Carioca.
TERMOS PARA INDEXAÇÃO: Phaseolus vulgaris L., cultivar, espaçamento, população.
BEHAVIOR OF APORÉ, CARIOCA AND PÉROLA COMMON
BEAN CULTIVARS IN DIFFERENT PLANT POPULATIONS
AND ROW SPACINGS
ABSTRACT - To investigate the existence of
differential behavior of the Aporé and Pérola news
cultivars relative to the traditional cv. Carioca, as far as
the best combination of row spacing and population of
plants are concerned, three trials were conducted in the
city of Lavras, south of Minas Gerais (1996/97 summer
and 1997 summer-fall and winter-spring seasons). The
trials were set up in randomized blocks, split-plot
scheme with 3 replications, being studied in the plots,
three row spacings (40, 50 and 60 cm) and in the sub
plots, a 3x4 factorial involving three cultivars (Aporé,
Carioca and Pérola) and four populations of plants/ha
(180, 220, 260 and 300 tlousand). In all the trials, the
grain yield and its primary components (one hundred
seeds weight, number of pods per plant and number
of seeds per pod), also being evaluated in the summer
1. Parte da dissertação apresentada pelo primeiro autor à UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS (UFLA) para
obtenção do título de Mestre em Agronomia, área de concentração Fitotecnia.
2. Doutorando no Departamento de Agricultura/UFLA, Caixa Postal 37 – 37.200-000 – Lavras - MG.
3. Professor Adjunto do Departamento de Agricultura/UFLA.
4. Professor Adjunto do Departamento de Ciências Exatas/UFLA.
516
trial, the severety of anthracnose; in winter-spring, the
height of the plants at 35 days after emergence, time for
closing rows, percent of lodging and weed infestation at
harvest. In the three seasons evaluated, the Aporé and
Pérola new cultivars showed behavior quite superior to
the traditional Carioca cultivar, which revealed
themselves less productive, susceptible to anthracnose
and more vulnerable to lodging and weeds reinfestation. In the Carioca cultivar, the one which
lodged the most, the increase of the row spacings in the
range of 40 to 60 cm between rows reduced lodging but
it increased the severity of anthracnose, chiefly in the
presence of the largest populations utilized. In the
range studied, the rise of the bean plant population
reduced the number of pods per plant and number of
grains per pod but the yield kept stable. Others effects
of the increase of the population were the increased
height of the plants, increased lodging of the bean
plants, smaller re-infestation by weeds and
anticipation of the date of closing of the crop
interrow. By taking as a basis, the grain yield,
however it was found that the performances of the
spacings of 40 to 60 cm between rows and of the
populations of 180 to 300 thousand plants per
hectare were equivalent for the three cultivars that,
thus they can use the present recommendations as to
both spacing and sowing density, generally developed
for the Carioca cultivar.
INDEX TERMS: Phaseolus vulgaris L., cultivar, row spacing, plant population.
INTRODUÇÃO
Para obtenção de maiores respostas a tecnologias
que resultem em maiores rendimentos de grãos na cultura do feijão, o emprego de população adequada de
plantas é fator fundamental. A manipulação adequada
do arranjamento espacial das plantas na lavoura pode
apresentar, entre outras vantagens, maior eficiência na
interceptação da radiação solar (Thomé, 1985), uso
mais efetivo da umidade e dos nutrientes do solo ou das
adubações e menor competição radicular (Wooley e Davis, 1991), além de representar método importante, e de
baixo custo, no controle de invasoras e de diversas enfermidades do feijoeiro (Kranz, 1989).
Embora muitas vezes a seleção do arranjo das
plantas leve em consideração outros fatores, tais como a
disponibilidade de máquinas (Buss, 1970; Rogers,
1972) ou a facilidade dos tratos culturais (Vieira, 1983),
a densidade apropriada de feijoeiros em uma lavoura é
dependente das condições edafoclimáticas, sendo determinada, em última análise, pela fertilidade do solo e
pela disponibilidade de água, além da cultivar (Cárdenas, 1961).
Em função da grande preferência comercial e
conseqüente predominância da cv. Carioca entre os
agricultores nas últimas duas décadas, os trabalhos de
pesquisa sobre espaçamento e densidade do feijoeiro
nesse período sempre envolveram aquela cultivar e, em
várias situações, o seu comportamento diferiu do de
outras cultivares, principalmente quando elas apresentavam diferentes hábitos de crescimento, ciclos ou padrões de ramificação (Almeida et al, 1975; Silva, 1978;
Lemos, Fornasieri Filho e Pedroso, 1993; Almeida e
Sangoi, 1994; Faria e Kranz, 1982; Kranz, 1982).
Face à gradual substituição da tradicional ‘Carioca’ por novas cultivares com o mesmo tipo comercial
de grão, necessária se torna, para elas, a validação (ou
não) das tecnologias atualmente recomendadas para a
cultura, inclusive no que diz respeito ao arranjamento
espacial de plantas que conduz à maximização da produtividade.
O objetivo do presente trabalho foi verificar se,
comparativamente à cv. Carioca, as novas cultivares
Aporé e Pérola apresentam comportamento diferencial
com relação à melhor combinação de espaçamento entre linhas e população de plantas, nas três épocas de
semeadura da região de Lavras, Sul de Minas Gerais
(águas, seca e inverno-primavera).
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho constou de três ensaios de campo
conduzidos no ano agrícola 1996/97, nas safras das
águas, seca e inverno-primavera, no município de Lavras-MG. Os dois primeiros foram conduzidos na Fazenda Baunília, e o terceiro, no Campo Experimental
do Departamento de Agricultura da UFLA, todos em
Lavras-MG, em solos classificados originalmente como
Latossolo Roxo distrófico de textura argilosa fase cerrado (Tabela 1). Lavras situa-se na região Sul de Minas
Gerais, a 21o14’ de latitude Sul e 45o de longitude
Oeste, numa altitude média de 910 m sobre o nível do
mar. A precipitação e a temperatura média anual são,
respectivamente, 1411 mm e 19,3o C, enquanto a umidade relativa do ar alcança a média anual de 77,7%
(Brasil, 1969 e FAO, 1985).
O delineamento experimental empregado foi o
de blocos casualizados, em esquema de parcelas subdivididas, com 3 repetições. Nas parcelas, foram estudados três espaçamentos entre linhas (40, 50 e 60 cm), e
nas subparcelas, um fatorial 3x4 envolvendo três cultivares de feijão do tipo comercial carioca (Carioca, Aporé e Pérola) e quatro populações de plantas (180, 220,
260 e 300 mil plantas por hectare).
Ciênc. agrotec., Lavras, v.23, n.3, p.515-528, jul./set., 1999
517
TABELA 1 - Resultados de análises químicas de amostras dos solos utilizados nos experimentos. UFLA, LavrasMG, 1996/97.1
Valores/Interpretação
Características
Fazenda Baunília 2
UFLA3
pH em água
6,0 AcF
5,5 AcM
P (mg/dm3)
34 A
6 B
K (mg/dm3)
72 A
31 M
Ca (mmolc/dm3)
38 A
26 M
Mg (mmolc/dm3)
15 A
12 A
Al (mmolc/dm3)
0 B
0 B
H + Al (mmolc/dm3)
23 B
43 M
S (mmolc/dm3)
55 A
39 M
t (mmolc/dm3)
55 M
39 M
T (mmolc/dm3)
78 M
84 M
V (%)
70 A
46 B
1
Análises realizadas nos laboratórios do Departamento de Ciência do Solo da UFLA e interpretação de acordo com a Comissão... ( 1989 ). AcF = acidez fraca, AcM = acidez média, A: teor alto, M = teor médio, B: teor baixo, S: soma de bases, t: CTC efetiva, T: CTC a pH 7,0 e V: percentagem de saturação de bases da CTC
a pH 7,0.
2
Amostragem realizada por ocasião do preparo inicial do solo para o ensaio das águas.
3
Amostragem realizada por ocasião do preparo inicial do solo para o ensaio de inverno-primavera.
A cultivar Aporé (linhagem LR 720982, obtida
no Centro Nacional de Pesquisa Arroz, Feijão - CNPAF
da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária EMBRAPA) possui grão do tipo carioca, ou seja, bege
com estrias marrons, mas apresenta halo amarelo; o hábito de crescimento é do tipo III (indeterminado postrado), o ciclo é normal e apresenta resistência à antracnose, ferrugem, mancha-angular e mosaico-comum. A
tradicional cultivar Carioca foi selecionada em lavoura
comercial no Estado de São Paulo e, posteriormente,
recomendada pelo Instituto Agronômico de Campinas
(IAC); permanece na lista de recomendação desde
1980, sendo considerada padrão de comercialização
para o tipo de grão carioca; também possui hábito III
(indeterminado prostrado), ciclo normal e resistência ao
mosaico-comum. A ‘Pérola’, também de grãos carioca,
foi obtida no CNPAF/EMBRAPA (linhagem LR 720982
CPL 53) e recomendada a partir de 1994; possui hábito
II / III (semi-ereto a prostrado), ciclo normal e resistência à ferrugem e mosaico-comum (EMBRAPA, 1997).
Para a obtenção das quatro populações, estimouse a quantidade ideal de plantas por metro linear a
ser utilizada em cada espaçamento, e na semeadura
utilizaram-se 25% de sementes a mais, realizando-se
o desbaste aos 15 DAE (dias após a emergência). As
parcelas foram compostas de 12 subparcelas com 4
fileiras de 5 metros de comprimento, obtendo-se,
portanto, subparcelas com 8, 10 e 12 m2 de área total, respectivamente, nos espaçamentos de 40, 50 e
60 cm (áreas úteis de 4, 5 e 6 m2 por subparcela,
respectivamente).
Ciênc. agrotec., Lavras, v.23, n.3, p.515-528, jul./set., 1999
518
Nos três ensaios o preparo do solo constituiu-se
de uma aração e duas gradagens. A adubação de semeadura nos ensaios das águas e da seca foi realizada com
350 kg/ha do fertilizante formulado 04 - 30 - 16; no ensaio de inverno-primavera, além da calagem dois meses
antes, empregaram-se, na semeadura, 600 kg/ha da
fórmula 04 - 14 - 08 e 15 kg/ha do inseticida sistêmico
granulado Granutox (forate), como preventivo de pragas iniciais do feijoeiro. Aos 20 DAE, nos três ensaios,
foi realizada uma adubação nitrogenada em cobertura,
na base de 40 kg de N/ha, utilizando-se a uréia como
fonte.
Optou-se por não efetuar o controle de doenças,
mas nos ensaios das águas e seca ocorreram infestações
por cigarrinha-verde (Empoasca kraemeri Ross & Moore) e vaquinha (Diabrotica speciosa Germar), controladas aos 15 DAE com uma aplicação (pulverizador
costal com bico tipo leque) do produto comercial Decis
25 CE, na dose de 300 ml/ha. O controle de plantas daninhas foi realizado manualmente (duas capinas no ensaio das águas e apenas uma nos demais). Utilizou-se
irrigação complementar no ensaio da seca, enquanto no
inverno-primavera o ensaio foi conduzido sob irrigação,
com turno de rega médio de 5 dias e lâminas brutas de
aproximadamente 20 mm.
Avaliou-se, em cada ensaio, o rendimento de
grãos e os seus componentes primários (peso médio de
cem grãos, número de grãos por vagem e número de
vagens por planta). No ensaio das águas, aos 55 dias
após a emergência, avaliou-se a reação à antracnose
(Colletotrichum lindemuthianum (Sacc. & Magn.)
Sccrib.), utilizando uma escala arbitrária de 1 a 4, em
que 1 significava ausência de sintomas, 2 ataque leve, 3
ataque médio e 4 ataque severo da doença. No invernoprimavera, avaliaram-se, ainda, o tempo para fechamento das linhas da cultura e a altura da planta (do nível do solo até a inserção da última folha, em cm) na
pré-floração, bem como o acamamento dos feijoeiros e
a infestação de plantas daninhas no final do ciclo, antes
da colheita.
Os dados obtidos nos três ensaios foram submetidos à análise de variância conjunta. Nos casos de
efeito significativo de cultivares ou de épocas de semeadura, as médias foram comparadas através do teste
Tukey ao nível de 5% de probabilidade. Os efeitos dos
espaçamentos e/ou populações foram estudados através
de análises de regressão (Pimentel Gomes, 1990) e,
quando coube, através de superfícies de resposta (Alvarez V., 1985).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise conjunta dos dados relativos às variáveis comuns aos três ensaios detectou efeito significati-
vo das safras (S) e das cultivares (C) sobre o rendimento de grãos e seus componentes, e todos mostraram-se influenciados também pela interação S x C, exceto o número de grãos por vagem. As populações (P)
afetaram significativamente a produtividade, o número
de grãos por vagem e o número de vagens por planta,
mas não foram detectados quaisquer efeitos significativos dos espaçamentos (E). Foram ainda significativos
os efeitos das interações triplas S x C x E, S x E x P e C
x P x E sobre o peso médio de cem grãos. Deve ser
mencionado ainda que a precisão experimental, avaliada pelos valores do coeficiente de variação (C.V. %), foi
baixa nas parcelas, para estimativa do rendimento de
grãos e do número de vagens por planta (Tabela 2),
mostrando, todavia, nas demais situações, compatibilidade com a precisão normalmente obtida na região em
experimentos com o feijoeiro (Abreu et al., 1994). Segundo Pimentel Gomes(1990), a menor precisão na
avaliação dos tratamentos estudados na parcela é comum e constitui uma das desvantagens do esquema experimental de parcelas subdividas, o qual, no presente
estudo, foi de fundamental importância para facilitar a
instalação dos ensaios no campo.
Conforme já mencionado, os únicos efeitos
significativos dos espaçamentos entre as linhas fizeramse notar sobre o peso médio de cem grãos em alguns
dos desdobramentos das interações C x P x E, S x C x E
e S x E x P, mas esses efeitos foram pouco consistentes
e de pequena magnitude. Os valores médios do peso de
cem grãos (Tabela 2) mostraram a pequena variação
observada.
Observa-se (Tabela 2) que houve apenas ligeira
tendência de redução do número de vagens por planta e
do rendimento de grãos do feijoeiro, com o aumento da
distância entre fileiras. A não detecção de diferenças significativas entre os espaçamentos pode estar relacionada, entre outros fatores, com o reduzido número de
repetições e pequeno número de graus de liberdade que resultaram na já mencionada baixa precisão experimental nas parcelas (Gomes, 1990), com a semelhança dos hábitos de crescimento das cultivares empregadas (EMBRAPA, 1997), ou mesmo com a estreita faixa
de variação dos espaçamentos (40 a 60 cm). Outros
autores, trabalhando nos mesmos espaçamentos, também não encontraram efeitos significativos sobre o rendimento de grãos do feijoeiro (Vieira, 1968 e Almeida
et al., 1975).
O aumento da população reduziu linearmente
o número de vagens por planta (Figura 1) e o número
de grãos por vagem (Figura 2), provavelmente devido à
crescente competição intraespecífica. Aparentemente,
contudo, dentro do intervalo estudado (180 a 300 mil
plantas/ha), o aumento do número de feijoeiros compensou aquelas reduções, não influenciando significati-
Ciênc. agrotec., Lavras, v.23, n.3, p.515-528, jul./set., 1999
519
vamente o rendimento de grãos (Tabela 2). Esses resultados são coerentes com os obtidos por outros pesquisadores (Vieira, 1968; Faria e Kranz, 1982; Lemos,
Fornasieri Filho e Pedroso, 1993) e confirmam a existência de uma razoável capacidade de compensação
entre os componentes do rendimento (Fernandes,
1987).
Tomando-se por base o rendimento de grãos,
portanto, verifica-se que o desempenho dos espaçamentos de 40 a 60 cm entre fileiras e das populações de
180 a 300 mil feijoeiros por hectare (Tabela 2), foi
equivalente para as três cultivares, o que vale dizer
que, dentro daqueles intervalos, não se justificam recomendações específicas para esta ou aquela cultivar, podendo as atuais recomendações, geralmente desenvolvidas para a cv. Carioca, serem estendidas às novas
cultivares Aporé e Pérola.
As cultivares mostraram rendimentos de grãos
diferenciados nas três safras avaliadas, conforme pode
ser verificado na Tabela 3. A cv. Aporé foi a de melhor
comportamento, superando a ‘Pérola’ nas águas, mas
não diferindo desta última nas safras da seca e inverno-primavera. Em todas as épocas de semeadura, a
tradicional cv. Carioca foi superada pelas novas cultivares Aporé e Pérola, o que, de certa forma, confirma o
acerto da sua recomendação em substituição à primeira,
apesar da restrição quanto ao halo amarelo presente no
grão da cv. Aporé (EMBRAPA, 1997).
Pode-se verificar ainda, na Tabela 3, que os rendimentos de grãos em cada safra aparentemente refletiram o desempenho do número de vagens por planta e
do peso de cem sementes alcançado por cada cultivar,
da forma sugerida por Bennett, Adams e Burga (1977).
O rendimento médio de grãos observado no inverno-primavera foi o menor dentre todas as safras (Tabela 3), contrariando a expectativa de produtividade superior a 1700 kg/ha, comum nas semeaduras de inverno
(Moura, Paiva e Resende, 1994), em que prevalecem
temperaturas amenas e bom suprimento de água, devido à irrigação. Neste ensaio, entretanto, durante duas
semanas na etapa R8 (enchimento de grãos), o manejo
da irrigação foi deficiente por causa de defeito na rede
elétrica utilizada, o que certamente contribuiu para reduzir o rendimento de grãos. Como conseqüência desse
fato, o melhor ambiente foi proporcionado pela safra da
seca (Tabela 3).
TABELA 2 - Valores médios do rendimento de grãos e componentes do rendimento do feijoeiro submetido a diferentes espaçamentos entre linhas e populações de plantas. UFLA, Lavras-MG, 1996/97.
Rendimento de
Vagens por planta
Grãos por
Peso
grãos (kg/ha)
(nº)
vagem (nº)
cem grãos (g)
40
1848
8,1
5,8
21,2
50
1625
7,8
5,9
20,8
60
1469
7,6
5,8
20,8
180 mil
1652
9,3
5,9
21,1
220 mil
1573
8,0
5,9
21,0
260 mil
1708
7,3
5,8
20,8
300 mil
1660
6,7
5,7
20,7
Médias
1648
7,8
5,8
20,9
C.V. (a) %
65,02
51,18
11,00
6,14
C.V. (b) %
15,38
23,96
7,83
4,95
Tratamentos
Espaçamentos (cm)
Populações (ha)
Ciênc. agrotec., Lavras, v.23, n.3, p.515-528, jul./set., 1999
520
^
10,0
Y 2= 12,92 - 0,0000212X
R = 96,48 %
Número de vagens/planta
9,0
8,0
7,0
6,0
0,0
0
180
200
220
240
260
280
300
População (mil plantas/ha)
FIGURA 1 - Equação de regressão entre o número de vagens por planta e a população de feijoeiros. UFLA,
Lavras-MG, 1996/97.
Número de grãos/vagem
6,0
^
Y
= 6,31 - 0,0000021X
2
R = 98,83 %
5,9
5,8
5,7
0,0
0
180
200
220
240
260
280
300
População (mil plantas/ha)
FIGURA 2 - Equação de regressão entre o número de grãos por vagem e a população de feijoeiros. UFLA, LavrasMG, 1996/97.
Ciênc. agrotec., Lavras, v.23, n.3, p.515-528, jul./set., 1999
521
TABELA 3 - Valores médios do rendimento de grãos e seus componentes, em função de épocas de semeadura e
cultivares de feijoeiro. UFLA, Lavras-MG, 1996/97.1
Safra
Cultivar
Águas
Seca
Inverno-Primavera
Médias
Rendimento (kg/ha):
Carioca
1302 c AB
1732 b A
1230 b B
1424 c
Aporé
1938 a AB
2078 a A
1536 a B
1851 a
Pérola
1514 b B
2037 a A
1464 a B
1672 b
Média
1585 AB
1949 A
1410 B
1648
Nº Grãos/Vagem:
Carioca
5,67
6,24
5,68
5,86
Aporé
5,72
6,37
5,59
5,89
Pérola
5,64
6,00
5,49
5,71
Média
5,68 B
6,20 A
5,59 B
5,82
Carioca
7,70 b B
9,60 a A
5,91 a C
7,74 b
Aporé
9,42 a A
9,96 a A
5,65 a B
8,34 a
Pérola
7,81 b AB
8,05 b A
6,22 a B
7,36 b
Média
8,31 A
9,20 A
5,93 B
7,81
Carioca
17,76 c B
20,09 c A
18,58 c B
18,81 c
Aporé
18,67 b C
22,49 b A
21,51 b B
20,89 b
Pérola
20,56 a C
25,13 a A
23,48 a B
23,06 a
Média
19,00 C
22,57 A
21,19 B
20,92
Nº Vagens/Planta:
Peso 100 grãos (g):
1
Dentro de cada variável, médias seguidas da mesma letra minúscula nas colunas ou maiúscula nas linhas,
não diferem significativamete pelo teste Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
Nas águas, o rendimento de grãos (1585 kg/ha),
apesar de superior à média mineira nessa época (616
kg/ha, de acordo com Moura, Paiva e Resende, 1994),
foi certamente influenciado pela ocorrência de antracnose sobre a cv. Carioca, que se mostrou agravada
tanto com o aumento da população, quanto com espaçamento entre linhas (Figura 3 e Tabela 4). Maiores espaçamentos podem favorecer a disseminação local do
inóculo pelo vento (Araya Fernandes, Dhingra e
Kushalapa, 1986), principalmente durante chuvas ou
irrigação, causando epidemia (Schwartz, 1991), enquanto maiores densidades de plantas nas linhas de
plantio podem levar à formação de microclima favorável à proliferação da antracnose e de outras doenças
(Faria, 1980).
A análise de variância dos dados relativos às
demais características avaliadas, além de demonstrar
efeito significativo de todas as fontes de variação sobre
a severidade da antracnose na safra das águas, detectou,
na safra de inverno-primavera, significância do espaçamento entre linhas em relação ao acamamento das
plantas, e das populações e das cultivares em relação à
altura de plantas, dias para o fechamento das linhas, e
índices de acamamento dos feijoeiros e de reinfestação
Ciênc. agrotec., Lavras, v.23, n.3, p.515-528, jul./set., 1999
522
por invasoras. Foram ainda significativas algumas das
interações, tais como E x C (sobre o acamamento
e reinfestação), E x P e C x P (dias para o fechamento das
linhas). Foi boa a precisão experimental, exceto para os
dados (não transformados) relativos às porcentagens de
acamamento e de reinfestação por invasoras (Tabela 4),
cujos valores do CV são normalmente elevados.
O aumento da população elevou linearmente a
altura dos feijoeiros (Figura 4), o que pode estar relacionado à menor fotodegradação de auxinas em comunidades vegetais mais adensadas (Taiz e Zeiger, 1991). Em
conseqüência da maior altura, o incremento da população
resultou também em maior acamamento das plantas (Figura 5), conforme salientou Kranz (1989), e menor reinfestação de invasoras por ocasião da colheita (Figura 6).
As cultivares Aporé e Pérola apresentaram
plantas ligeiramente mais altas que as da tradicional cv.
‘Carioca’ (Tabela 4) e, aparentemente, essa diferença
influenciou, pelo menos em parte, o efeito das populações de plantas sobre o fechamento das linhas
(DPF) e dos espaçamentos entre linhas sobre a percentagem de acamamento (ACA). Em todas as cultivares, o aumento de população resultou em contínua
antecipação da data de fechamento das linhas, mas
na cv. Carioca essa antecipação foi maior que nas
demais (Figura 7). Ademais, essa cultivar foi a única a ter
a percentagem de acamamento reduzida quando se ampliou o espaçamento (Figura 8), provavelmente devido ao
fato de ter apresentado os maiores índices de acamamento (Tabela 4).
Como era de se esperar, o citado efeito do incremento da população em antecipar a data de fechamento das entrelinhas foi também dependente do espaçamento, ou seja, fechamento mais precoce foi conseguido nos menores espaçamentos entre as linhas (Figura 9).
Y= -21,67+0,4999E-0,003332E2+0,073332P-0,000086P2-0,0004166EP
R2 = 74,32 %
Incidência de antracnose
3,5
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
0,5
300
60
260
Es
pa
çam
50
en
to
220
(cm
)
40
180
Po
la
pu
çã
o
i
(m
lp
la
as
nt
/ha
)
FIGURA 3 - Efeito do espaçamento entre linhas e populações de plantas sobre a severidade de antracnose na cv.
Carioca. UFLA, Lavras-MG, 1996/97.
Ciênc. agrotec., Lavras, v.23, n.3, p.515-528, jul./set., 1999
523
TABELA 4 - Valores médios da severidade de antracnose (safra das águas) e da altura de plantas aos 35 DAEALT, dias para fechamento das linhas - DPF, acamamento de plantas - ACA e reinfestação por invasoras - INV
(safra do inverno-primavera). UFLA, Lavras-MG, 1996/97.
Tratamentos
Espaçamentos (cm)
40
50
60
Cultivares
Carioca
Aporé
Pérola
Populações (plantas/ha)
180 mil
220 mil
260 mil
300 mil
Médias
C.V. (a)
C.V. (b)
Severidade
Antracnose1
ALT
(cm)
1,17
1,47
1,61
36
36
36
2,19 b
1,00 a
1,05 a
1,11
1,44
1,48
1,63
1,42
16,64
20,78
DPF
(dias)
ACA
(%)
INV
(%)
50
51
53
38
33
32
32
39
45
34 b
37 a
37 a
53 c
50 a
52 b
51 c
32 b
20 a
48 b
32 a
36 a
34
35
37
38
36
3,87
2,08
56
53
49
47
51
3,42
2,05
31
29
34
44
34
17,53
43,34
45
39
34
35
39
190,09
33,02
1
Escala de 1 a 4, em que 1 significa ausência de sintomas, e 4, ataque severo da doença.
Dentro de cada fator, médias seguidas por letras diferentes, na coluna, diferem significativamente pelo teste
Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
^
40
Y = 26,92 + 0,03876X
R2 = 93,95 %
Altura de planta (cm)
39
38
37
36
35
34
33
0
0
180
200
220
240
260
280
300
População (mil plantas/ha)
FIGURA 4 - Equação de regressão entre a altura (cm) dos feijoeiros aos 35 DAE e população de plantas. UFLA,
Lavras-MG, 1997.
Ciênc. agrotec., Lavras, v.23, n.3, p.515-528, jul./set., 1999
524
^
44
Y = 7,63 + 0,11152X
R 2 = 74,33 %
42
40
38
36
34
32
30
28
26
0
0
180
200
220
240
260
280
300
População (mil plantas/ha)
FIGURA 5 - Equação de regressão entre o percentual de acamamento do feijoeiro por ocasião da colheita e populações de plantas. UFLA, Lavras-MG, 1997.
^
48
Y2= 56,25 - 0,07314X
R = 66,32 %
Infestação de mato (%)
46
44
42
40
38
36
34
0
0
180
200
220
240
260
280
300
População (mil plantas/ha)
FIGURA 6 - Equação de regressão entre a reinfestação de plantas daninhas (%) por ocasião da colheita e populações de plantas. UFLA, Lavras-MG, 1997.
Ciênc. agrotec., Lavras, v.23, n.3, p.515-528, jul./set., 1999
525
64
^
Carioca: Y2 = 74,68 - 0,09222X
R = 97,95 %
^
Aporé: Y2= 67,71 - 0,07333X
R = 98,44 %
^
Pérola: Y2= 65,45 - 0,05638X
R = 99,22 %
62
60
58
56
DPF
54
52
50
48
46
0
0
180
200
220
240
260
280
300
População (mil plantas/ha)
FIGURA 7 - Equação de regressão entre a época de fechamento das entrelinhas (DPF), em dias após a emergência,
e populações de plantas em diferentes cultivares de feijoeiro. UFLA, Lavras-MG, 1997.
^
90
Carioca: Y = 127,01 - 1,52083X
2
_R = 99,69 %
Aporé: Y_ = 32,50
Pérola: Y = 19,72
80
Acamamento (%)
70
60
50
40
30
20
10
0
0
40
50
60
Espaçamento (cm)
FIGURA 8 - Equações de regressão entre o percentual de acamamento e populações de plantas em diferentes espaçamentos. UFLA, Lavras-MG, 1997.
Ciênc. agrotec., Lavras, v.23, n.3, p.515-528, jul./set., 1999
526
^ = 67,82 - 0,07416X
40cm: Y
R2 = 97,85 %
^
50cm: Y = 66,82 - 0,06416X
R2 = 99,45 %
^
60cm: Y = 73,20 - 0,08361X
R2 = 96,82 %
64
62
60
58
DPF
56
54
52
50
48
46
0
0
180
200
220
240
260
280
300
População (mil plantas/ha)
FIGURA 9 - Equações de regressão entre a etapa de fechamento das entrelinhas (DPF), em dias após a emergência, e populações de plantas em diferentes espaçamentos. UFLA, Lavras-MG, 1997.
CONCLUSÕES
Nas três safras avaliadas, as novas cultivares
Aporé e Pérola mostraram comportamento bastante superior ao da tradicional cv. Carioca, que se revelou menos produtiva, suscetível à antracnose, e mais vulnerável ao acamamento e à reinfestação de invasoras.
Na cv. Carioca, que foi a que mais acamou, o
aumento do espaçamento entre linhas no intervalo de
40 a 60 cm reduziu o acamamento, mas aumentou a severidade da antracnose, principalmente na presença das
maiores populações utilizadas.
No intervalo estudado, o incremento da população de feijoeiro reduziu o número de vagens por planta
e o número de grãos por vagem, mas a produtividade
manteve-se estável. Outros efeitos do aumento da população foram a maior altura de plantas, o maior acamamento dos feijoeiros, a menor reinfestação por invasoras e a antecipação da data de fechamento das entrelinhas da lavoura.
Tomando-se por base o rendimento de grãos,
entretanto, verificou-se que o desempenho dos espaça
mentos de 40 a 60 cm entre linhas e das populações de
180 a 300 mil feijoeiros por hectare, foi equivalente
para as três cultivares que, dessa forma, podem utilizar
as atuais recomendações quanto ao espaçamento e densidade de semeadura, geralmente desenvolvidas para a
cv. Carioca.
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