A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO A IMIGRAÇÃO PARA O NORTE- FLUMINENSE, RIO DE JANEIRO, BRASIL: CONFIGURAÇÃO DOS FLUXOS MIGRATÓRIOS RECENTES (2000- 2010). ASSIS RANGEL LEANDRO1 GUSTAVO HENRIQUE NAVES GIVISIEZ2 Resumo: A região Norte Fluminense do estado do Rio de Janeiro se tornou destino de empreendimentos de grande magnitude, entre estes: a base da PETROBRAS em Macaé e as empresas do setor off- shore da bacia de Campos e o Complexo Logístico e Industrial do Porto do Açu, em São João da Barra. Discursos do governo municipal de São João da Barra e das empresas administradoras deste ultimo apontam um rápido crescimento populacional para o município. O objetivo deste trabalho é verificar a intensidade e origem dos fluxos migratórios para São João da Barra de modo a validar ou não as expectativas dos discursos oficiais. A metodologia empregada é a utilização de dados dos censos demográficos 2000 e 2010 analisando as perguntas sobre migração. Os resultados apontam que na década analisada São João da Barra não recebeu um expressivo quantitativo de imigrantes, e Macaé ainda é o destino de grande número de imigrantes para a região. Palavras- chave: PETROBRÁS, Porto do Açu, Imigrantes, Norte Fluminense, Grandes empreendimentos. Abstract: The Norte Fluminense region of the Rio de Janeiro became the target of great magnitude projects, among them: the base of PETROBRAS in Macaé and industry companies offshore in the bacia de Campos and the Industrial Logistics and Complex the Porto do Açu in São João da Barra. Speeches of the municipal government of São João da Barra and management companies of the port link rapid population growth to the municipality. The objective of this work is to verify the intensity and origin of migration flows to São João da Barra in order to validate or not the expectations of official speeches. The methodology is to use data from population censuses in 2000 and 2010 analyzing the questions on migration. The results show that in the decade analyzed São João da Barra did not receive a significant quantity of immigrants, and Macaé is still the large number of imigrants destination for the region. Key-words: PETROBRAS, Porto do Açu, imigrants, Norte Fluminense, great magnitude projects. 1- Introdução. A formação econômica da região Norte-Fluminense do estado do Rio de Janeiro é, até meados do século XX, historicamente caracterizada pelas atividades de produção sucroalcooleira e pecuária. Todavia, a partir da década de 1970 esta atividade entra em crescente decadência e novos investimentos, públicos e privados são destinados para o Norte Fluminense, configurando a região como sede de 1 Graduado em licenciatura em geografia pela UFF- PUCG, acadêmico do programa de pósgraduação em geografia pela UFF- PUCG. [email protected] 2 Docente do programa de pós- graduação em geografia pela UFF- PUCG, doutor em demografia pelo CEDEPLAR- UFMG. [email protected] 8256 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO grandes empreendimentos. Entre estes, destacam-se a instalação da base da Petrobrás em Macaé, a partir da década de 1980, e o Complexo Logístico e Industrial do Porto do Açu (CLIPA), em São João da Barra, a partir de 2009. Certamente, tais empreendimentos representam um atrativo para imigrantes, principalmente para os que buscam melhores condições de vida e trabalho. Discursos estatais e das empresas responsáveis pela construção do porto projetam um rápido crescimento populacional para São João da Barra e Campos dos Goytacazes, cidade de sua hinterlândia, em função da chegada de imigrantes. Contudo, o acompanhamento e análise dos dados censitários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2000 e 2010 demonstram duas questões importantes: o crescimento populacional de São João da Barra na década de instalação do CLIPA não foi significativo, e, Macaé ainda se destaca o principal destino de imigrantes para o Norte Fluminense. O objetivo geral do artigo é verificar a intensidade e a origem dos fluxos migratórios para São João da Barra no período de 2000 a 2010, de forma comparativa com aos destinados a Macaé, no mesmo período. A relevância do tema consiste que grandes empreendimentos atraem imigrantes, logo, esperam-se mudanças na estrutura da população do Norte-Fluminense na medida em que pessoas se destinem a esta região. As questões a serem respondidas são: São João da Barra já recebe migrantes em função da construção do porto? Entre Macaé e São João da Barra quem está, relativamente, recebendo mais imigrante? Os discursos oficiais e empresariais que projetam um rápido crescimento populacional em São João da Barra estão se confirmando? Como metodologia utilizou-se microdados dos Censos 2000 e 2010, IBGE, fazendo uso de indicadores por meio de softwares estatísticos para elaboração de gráficos e tabelas. O artigo apresenta uma visão global dos grandes empreendimentos do Norte Fluminense, os Procedimentos metodológicos, análise dos resultados e Considerações finais. 8257 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 2- Norte fluminense do estado do rio de janeiro: sede de grandes empreendimentos A partir da década de 1960 o estado do Rio de Janeiro entrou em um processo de estagnação econômica. O crescimento econômico foi retomado a partir do fim da década de 1990 com grandes empreendimentos. A territorialidade destes investimentos se identifica em quatro eixos: o leste do estado, com o Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro – COMPERJ; o eixo Sepetiba, com investimentos do Porto de Sepetiba; o Sul Fluminense, com investimentos nos estaleiros de Angra dos Reis; e o Norte Fluminense, representado pelos investimentos no CLIPA e na indústria de Exploração e Produção de Petróleo e Gás de Macaé (SADENBERG e OLIVEIRA, 2010). Historicamente o Norte Fluminense foi caracterizado por atividades primárias como pecuária, produção de açúcar, que até meados do século XX foi a principal atividade econômica da região (CRUZ, 2006). A produção de açúcar teve início no século XVII. O sistema açucareiro atingiu o auge no século XIX em função da introdução de novas técnicas para produção do açúcar e vultosos capitais que permitiram uma modernização dos engenhos. Neste período, Campos assume a posição de maior produtor de açúcar do país (TERRA, OLIVEIRA e GIVISIEZ, 2012). Esse sistema entra em decadência econômica no meado do século XX, por motivos descritos a seguir: 1 redução dos preços de petróleo na década de 1980, que atingiu o álcool como bem substitutivo, revertendo as expectativas otimistas anteriores e prejudicando o pagamento de dívidas contraídas no início do Proálcool; 2 capacidade ociosa das usinas, uma vez que os investimentos realizados no parque industrial sucroalcooleiro para modernização e aumento da capacidade de moagem não foram acompanhados do crescimento proporcional da oferta de cana- deaçúcar; 3 administração dos preços do açúcar pelo Estado que, durante a década de 1980 e 1990, implementou medidas de controle inflacionário (TERRA, OLIVEIRA e GIVISIEZ, 2012, pp. 315- 316). Atualmente pode-se dizer que é uma região em transformação econômica e social, em função dos investimentos públicos e privados destinados para a região desde o fim do século XX. A figura apresenta a divisão política do Norte Fluminense. 8258 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO FIGURA 1: Mapa da localização e divisão política da região Norte Fluminense do Rio de Janeiro. Fonte: Adaptado pelo autor a partir IBGE, 2015. 3- PETROBRAS e CLIPA no norte fluminense. A base da Petrobrás foi instalada em Macaé em 1977. O município, até meados do século XIX, não apresentava atividades econômicas de forte dinamismo, tinha um baixo comércio e estava distante de ser considerado um polo econômico regional. Na década de 1950 apresentava uma população de aproximadamente 11.000 habitantes (BINSZTOK, 2012). As atividades petrolíferas provocaram transformações rápidas e profundas na organização do território, na estrutura da população, no emprego, na malha urbana, no quadro política e na cultura local. A resultante destas transformações rápidas e sem a correta observância do poder público acarretaram mazelas como: sobrecarga dos serviços públicos, de moradias, de segurança pública, entre outros (PIQUET, 2010). Macaé tem sua economia girando principalmente em torno das atividades ligadas a extração e produção de petróleo (E&P) e toda região norte e área ao redor são impactadas pelas atividades petrolíferas. De acordo com BINSZTOK (2012) a bacia de Campos apresenta uma importância elevada no setor petrolífero do país, tanto que dos onze municípios que mais recebem royalties de petróleo no país, sete 8259 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO são da bacia de Campos. A bacia de Campos concentra 84% da produção de petróleo e 45% do gás natural brasileiro, sendo Macaé o município mais impactado pelo setor por concentrar as empresas, principalmente do ramo off-shore. O Complexo Logístico e Industrial do Porto do Açu (CLIPA), cujas obras tiveram início em 2007, está localizado no distrito de Pipeiras, São João da Barra. O empreendimento recebe apoio do governo federal através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Em relação ao Governo Estadual, o apoio foi por meio de isenção fiscal e acompanhamento dos licenciamentos ambientais e das desapropriações fundiárias. Já o Governo Municipal é o grande enunciador na propaganda do empreendimento (OLIVEIRA, 2011). Segundo o website da PRUMO LOGÍSTICA GLOBAL, empresa administradora dos terminais do CLIPA e do condomínio industrial que lá se instala, o porto entrou em funcionamento em outubro de 2014, realizando o primeiro embarque de minério de ferro de ferro com a atracação do navio “Key Light”, que foi carregado com 80 mil toneladas de minério. A pretensão do projeto inicial era a criação de um porto-indústria com a instalação de empresas offshore, polo metalomecânico, base de estocagem para granéis líquidos, estaleiros, base para tratamento de petróleo, termoelétricas, pátio logístico, plantas de pelotização de minério de ferro. Segundo o Relatório de Impacto Ambiental do CLIPA ao todo 32 município serão impactados pelo empreendimento, por onde o mineroduto que transportará o minério de ferro extraído pela empresa MMX/Anglo Ferrous Mineração em Conceição de Mato Dentro/ MG para o CLIPA (LLX/ECOLOGUS/AGRAR, 2011). 8260 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Figura 2: extração, extensão e destino para processamento e exportação do minerotudo, 2007. Fonte: Adaptado pelo autor partir de RIMA-Relatório de Impacto Ambiental (LLX/ECOLOGUS/AGRAR, 2011) São João da Barra em 2010 contabilizou população de 32.747 habitantes, sendo 7.057 residentes em áreas rurais, tendo o distrito de Pipeiras como a principal área rural do município. Desta forma, esperam-se profundas transformações na vida da população desse distrito. Para que os efeitos negativos do empreendimento sejam minimizados é necessária à atuação de eficientes e significativas políticas públicas. Caso ocorra uma omissão dos responsáveis a população local será a mais afetada, principalmente se não for capacitada para ser inserida nas atividades diretas e indiretas vinculadas ao empreendimento. 4- Procedimentos metodológicos. A metodologia do trabalho foi baseada na utilização de dados secundários, obtidos por meio dos microdados dos Censos 2000 e 2010 disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Foram analisadas informações de Campos dos Goytacazes, Macaé, Rio das Ostras e São João da Barra, utilizando os dados sobre característica da população e migração. Os municípios de São João da Barra e Macaé se destacam nos estudos sobre a economia do Norte Fluminense por serem a sede dos empreendimentos. Rio das Ostras e Campos dos Goytacazes, 8261 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO por sua vez, são vizinhos aos dois primeiros e receberão parte dos impactos sociais e econômicos. O critério mais simples utilizado para determinar o imigrante é por meio do quesito censitário: “Vive neste município desde o nascimento?” As pessoas que respondem „sim’ não são imigrantes, os que responderam „não’ são os imigrantes. Contudo, assumir o local de nascimento como indicador de migração superestima a migração recente: residentes antigos no município (mais de 30 anos por exemplo) já não produzem grandes impactos na economia local quanto aqueles residentes mais recente (cinco anos ou menos, por exemplo). Por esse motivo, trabalhos mais recentes sobre migração têm utilizado o conceito de imigrante por meio o quesito da data fixa, que se refere à uma técnica direta de análise aplicada à migração. Segundo Golgher (2004), os Censos Demográficos brasileiros de 2000 e 2010 incluíram quesitos que investigavam o local de moradia do entrevistado cinco anos antes dos Censos3. Golgher, (2004) utiliza como exemplo os dados do censo 2000, analisando as respostas da população para essa pergunta, em um determinado local. O objetivo deste quesito é estimar a proporção de indivíduos que podem ser considerados migrantes e segue recomendações de instituições multilaterais, a exemplo das Nações Unidas (ONU) e a Divisão Estatística das Nações Unidas (UNStats). 5- Análise dos resultados. De acordo com Givisiez e Oliveira (2012), as projeções populacionais elaboradas pelos relatórios de licenciamento ambientais direcionados ao porto do Açu apontam que Campos do Goytacazes e São João da Barra, os municípios mais diretamente impactados pelos empreendimentos, receberão juntos, em um horizonte de 15 anos, 750 mil novos moradores. Entretanto, essas projeções podem ser questionadas e consideradas como superestimadas, visto que, Macaé, em função dos investimentos na cadeia produtiva de E&P na camada pré-sal, ainda é o destino da maioria dos imigrantes para o Norte Fluminense. Projeções populacionais, que se 3 Por exemplo, o quesito 6.26 do questionário da Amostra do Censo de 2010 perguntava aos entrevistados: “Em que unidade da federação (estado) e município ou país estrangeiro morava em 31 de julho de 2005?” 8262 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO utiliza de métodos demográficos clássicos4 apontam para esse mesmo horizonte temporal, uma população de 35 mil habitantes em São João da Barra e 489 mil em Campos dos Goytacazes (GIVISIEZ e OLIVEIRA, 2012). É possível observar na tabela 1, que na década de instalação do CLIPA, (2000- 2010) os municípios de Rio das Ostras e Macaé tiveram um crescimento populacional maior que São João da Barra e Campos dos Goytacazes. Tabela 1 População absoluta e crescimento populacional médio observado entre 2000 e 2010. Municípios selecionados e estado do Rio de Janeiro, 2000 e 2010 UNIDADE TERRITORIAL CENSO 2000 CENSO 2010 Campos dos Goytacazes São João da Barra Macaé Rio das Ostras Estado do Rio de Janeiro 406.989 27.682 132.461 36.419 14.391.282 463.731 32.747 206.728 106.676 15.989.929 CRESCIMENTO MÉDIO ANUAL 1,3 1,7 4,5 10,7 1,1 Fonte: Elaborado pelo autor a partir do IBGE 2000, 2010. Em que pese o fato de todos os quatro municípios representados na tabela 1 terem apresentado crescimento acima da média estadual, Macaé e Rio das Ostras tiveram o maior crescimento populacional, 4,5% e 10,7%, e demonstra que na década entre 2000 e 2010 a região próxima a Macaé ainda exercia forte atração de imigrantes. Já os outros dois municípios em tela, Campos dos Goytacazes e São João da Barra, tiveram crescimento populacional de 1,3% e 1,7%, próximos à média estadual. Essas constatações indicam que na década analisada, os investimentos no Porto do Açu ainda não exerceram atratividade significativa de imigrantes. Tabela 2: Proporção de indivíduos que moram no município de referência desde o nascimento, por municípios selecionados do estado do Rio de Janeiro, 2000 e 2010. SEMPRE MOROU NO MUNICÍPIO Macaé Rio das Ostras São João da Barra Campos dos Goytacazes CENSO 2000 (%) CENSO 2010 (%) 53 35 49 17 75 86 68 85 Fonte: Elaborado pelo autor a partir de IBGE 2000 e 2010 Pelo critério de identificação do migrante pelo quesito “Mora neste município desde que nasceu?” percebe-se que a maioria da população de Macaé e Rio das Ostras era composto, em 2010, por imigrantes, uma vez que, 51% do total de residentes em Macaé não moraram desde o nascimento e esse valor foi 4 A exemplo do AiBi e método de crescimento de coortes, citados por Givisiez e Oliveira (2012) 8263 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO incrementado em quatro pontos percentuais entre 2000 e 2010. Em Rio das Ostras, por sua vez, 83% da população declarou não morar no município desde o nascimento, valor incrementado em 18 pontos percentuais entre 2000 e 2010. O expressivo crescimento populacional é consequência da atração exercida pela cadeia de E&P da bacia de Campos. O salto populacional que Macaé, de 11 mil habitantes, em 1970, para aproximadamente 200 mil habitantes, em 2010, é caracterizado também pela notória omissão na adoção de políticas públicas que planejassem o município para mitigar os impactos negativos. O município apresenta problemas sociais graves a exemplo de favelização, elevadas taxas de violência, degradação da área urbana com o antigo e pequeno centro que não comporta a gama de serviços existentes, além de problemas com a mobilidade urbana e a poluição dos corpos hídricos (PIQUET, 2010). São João da Barra apresentou maioria de sua população como não migrante em 2010. No ano de 2000, 25% da população de São João da Barra era imigrante. Pelos dados do Censo de 2010 o valor observado foi de 32% da população. Sendo observado um incremento de sete pontos percentuais no total da população de imigrantes. Campos dos Goytacazes apresentou uma expressiva parcela da sua população como não imigrante, 85% em 2000 e 86% em 2010. Tabela 3 Proporção de pessoas que moravam em outro município cinco anos antes dos censos 2000 e 2010. Municípios Selecionados MUNICÍPIO Em 31 de Julho de 1995 Macaé 30 Rio das Ostras 42 São João da Barra 35 Campos dos Goytacazes 21 Fonte: Elaborado pelo autor a partir de IBGE 2000 e 2010 Em 31 de julho de 2005 38 50 39 27 Pelo critério de data fixa, considera-se que imigrante é o indivíduo que morava em outro município cinco anos antes da data dos censos. Na tabela 3 é apresentado a proporção de pessoas que residiam em outro município em 31 de julho de 1995 e 31 de julho de 2005. Em Macaé, no censo de 2000, 30% das pessoas residentes podem ser consideradas imigrantes, segundo esse critério, sendo observado um incremento e 8 pontos percentuais entre 2000 e 2010. Em Rio das Ostras, no Censo 2000, 42% eram imigrantes segundo o critério de data fixa, incrementado para 50% em 2010. 8264 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Nos municípios diretamente relacionados ao CLIPA, São João da Barra apresentou como imigrantes 35% em 2000 e 39% em 2010. Contudo, dos municípios em tela, foi o menor incremento de imigrantes observado na década. Campos dos Goytacazes apresentou, em 2000 21%, de imigrantes aumentando para 27% em 2010. Tabela 4: Origem dos imigrantes no município de referência baseado no quesito “Qual o município residia em 31 de julho de 1995?”. São João da Barra, 2000. Município onde morava (31/07/1995) Porcentagem (%) Campos dos Goytacazes 57 Rio de Janeiro 16 São Francisco do Itabapoana 4 São Fidélis 2 São Gonçalo 2 Niterói 2 Duque de Caxias 2 Marataízes 2 Macaé 1 Outros Municípios do Brasil 13 TOTAL 100 Fonte: Elaborado pelo autor a partir do Censo 2000. Tabela 5: Origem dos imigrantes no município de referência baseado no quesito “Mora neste município desde que nasceu?”. São João da Barra, 2010. Município que nasceu Porcentagem (%) Campos dos Goytacazes 64 Rio de Janeiro 10 São Francisco do Itabapoana 2 Niterói 2 Cabo Frio 1 São Pedro da Aldeia 1 Conselheiro Lafaiete 1 Timóteo 1 São Paulo 1 Município brasileiro não identificado 3 Outros municípios do Brasil 14 TOTAL 100 Fonte: Elaborado pelo autor a partir do CENSO 2010. Nas tabelas 4 e 5 é possível observar a origem dos 35% de imigrantes para São João da Barra em 2000 e dos 39% em 2010. De acordo com os resultados apresentados a maioria dos imigrantes de São João da Barra morava em Campos dos Goytacazes (64% em 2010 e 57% em 2000), município vizinho. Dessa forma, o grande maioria dos imigrantes serem originários de Campos dos Goytacazes não deve ser associado aos empregos no porto. Entende-se desta forma que a migração 8265 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO para São João da Barra é regional, em sua maior parte. Entretanto, nota-se que o padrão da migração foi alterada, em especial em relação à origem dos imigrantes, fato que pode indicar algum impacto do CLIPA em relação à abertura de novos postos de trabalho. 5- Considerações finais As análises apresentadas neste trabalho demonstram que no período entre 2000 e 2010, São João da Barra não apresentou grande atratividade para os imigrantes. O número de pessoas nascidas em Campos e São João da Barra ainda são significativamente maiores do que o total de pessoas nascidas em Macaé e Rio das Ostras, onde mais da metade da população não nasceu nesses municípios. A comparação com Macaé e Rio das Ostras sugere que as atividades de E&P da Bacia de Campos ainda exercem a atratividade de imigrantes para o Norte Fluminense. Os dados apresentados divergem das estimativas apresentadas pelos governos locais, que vislumbravam um rápido crescimento populacional para Campos dos Goytacazes e São João da Barra. Em Macaé se observa que a maior parte dos moradores que não nasceram no município já não pode ser considerada imigrante, uma vez que ali residem há muito tempo. Em Rio das Ostras, metade das pessoas que se deslocaram, nos últimos cinco anos, são consideradas imigrantes. A migração para São João da Barra ainda é regional, sendo pouco expressivo o número de pessoas vindas de fora do Rio de Janeiro. Contudo, observa-se uma modificação no padrão da migração. Enquanto no censo 2000 só aparece como origem municípios do estado do Rio de Janeiro, em 2010 já se observa pessoas com origem em municípios de Minas Gerais. É provável que após 2014, quando o porto entrou em funcionamento, o número de imigrantes para São João da Barra aumente paulatinamente, visto que, serão criados diversos postos de trabalho. 8266 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 6- Referências bibliográficas. BINSZTOK, Jacob. Exploração de petróleo e modificações socioespaciais em Macaé: dilemas e perspectivas. In: Geografia e geopolítica do petróleo. ORG: MONIÉ, Frédéric, BINSZTOK, Jacob. Ed. Mauad X. PP 277 a 292, RJ, 2012. CRUZ, José Luiz Viana. Origem, natureza e persistência das desigualdades sociais no Norte Fluminense. IN: CARVALHO, Ailton Mota de; TOTTI, Eugenia Ferreira (ORG.), formação histórica e econômica do Norte Fluminense. 1º edição. ED. Garamond, Rio de Janeiro, RJ, 2006. FREITAS, Barbara Vieira, Oliveira, Elzira Lúcia, Impactos socioeconômicos da construção do complexo portuário-industrial do açu sobre a população e o território de São João da Barra. Revista de Geografi a - PPGEO - v. 2, nº 1 (online). UFJF, Juiz de Fora, MG, 2012. GOLGHER, André. Fundamentos da migração. UFMG, Belo Horizonte, MG, 2004. OLIVEIRA, Elzira Lúcia de, SARDENBERG, Kamila. Mercado de trabalho no Rio de Janeiro: Acompanhamento e Análise. UFF, Ano 1, Edição 1, 2010, Campos dos Goytacazes, RJ. OLIVEIRA, Elzira Lúcia, GIVISIEZ, Gustavo Henrique Naves. Mercado de trabalho formal no Norte do Rio de Janeiro: Impacto da implantação do Complexo Portuário do Açu. In: Petróleo, Royalties & Região (online), Campos dos Goytacazes/RJ - Ano VIII, nº 30 – dezembro 2010. OLIVEIRA, Elzira Lúcia, GIVISIEZ, Gustavo Henrique Naves. Norte Fluminense: uma região em transformação. In: Petróleo, Royalties & Região (online). Campos dos Goytacazes/RJ - Ano IX, nº 35 – Março 2012. OLIVEIRA, Cláudia de, O público e o privado na exploração petrolífera brasileira: o caso da OGX. In: Petróleo, Royalties & Região (online). Campos dos Goytacazes/RJ - Ano IX, nº 34 – dezembro 2011. PIQUET, Rosélia. Mudança econômica e novo recorte regional no norte fluminense. IN: X Encontro Nacional da ANPUR, Belo Horizonte, MG, 2003. PIQUET, Rosélia. Impactos sociais, ambientais e urbanos das atividades petrolíferas: o caso de Macaé. UFF- Niterói, RJ, 2010. TERRA, Denise Cunha, OLIVEIRA, Elzira Lúcia, GIVISIEZ, Gustavo Henrique Naves. A reestruturação econômica e territorial do Norte Fluminense. In: Geografia e geopolítica do petróleo. ORG FRÉDÉRIC, Monié. BINSZTOK, Jacob. ED. Mauad X, PP 311 a 334, RJ, 2012. 8267