apontando regiões nos estudos (i)migratórios

Propaganda
APONTANDO REGIÕES NOS ESTUDOS (I)MIGRATÓRIOS
Rodrigo dos Santos1
Marisangela Lins de Almeida2
Ancelmo Schörner3
INTRODUÇÃO
Esse texto tem sua origem na tentativa de pensar outras formas de abordar os estudos
(i) migratórios devido à complexidade desta temática. Consideram-se os deslocamentos um
“olhar” individual do pesquisador, por isso, buscam-se alternativas de contraposição à visão
numérica, serial ou quantitativa. Entretanto, não se tem a intenção de apresentar uma
metodologia inovadora, mas sim elementos para contribuir com a tentativa de analisar os
deslocamentos populacionais.
Diante disso, o trabalho propõe aliar a discussão de região e (i) migração, pautando-se
além de uma discussão conceitual. Pretendem-se apontamentos práticos, como a vinda em
1951 para Guarapuavado grupo (i)migratório denominado de “Suábios do Danúbio”. Este
grupo considerado refugiado de guerra criou uma região e expropriou os fazendeiros que
estavam naquele espaço que criaram outra região.
Ainda, é importante ressaltar que a região não deve ser tomada apenas pelos seus
limites geográficos ou políticos. Por isso, deve ser compreendida no seu plural “regiões”.
Porque não se cria apenas uma região geográfica, mas psicológica, identitária, de
1
Graduado em História (UNICENTRO), Especialista em Educação do Campo (ESAP), Mestrando do Programa
de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO). Bolsista da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes. E-mail: [email protected].
2
Graduada em História (UNICENTRO), Especialista em Didática e Metodologia do Ensino Superior (UCP),
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual do Centro-Oeste
(UNICENTRO). E-mail: [email protected].
3
Doutor em História, Professor do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em História da
UNICENTRO, campus de Irati/PR. Área de atuação: História do Brasil/ História e Regiões. E-mail:
[email protected].
pertencimento; conforme a posição dos agentes presentes dentro desse espaço. As regiões
também estão sujeitas as relações de poder que a criaram.
Portanto, estudar a (i)migração é ressaltar como os grupos criam sua pertença, seus
sentimentos e o que interfere na sua vontade ou condicionamento de deslocamento. A criação
de regiões na migração deve considerar principalmente características de pertencimento e
como estes sujeitos criam novas regiões.
Em um Programa de Pós-Graduação em História que propõe discutir em sua área de
concentração as “regiões” seria incoerente não apresentar contribuições sobre a temática
(i)migração. Pois, os debates com relação à temática, estão imersos em uma região geográfica.
Por outro lado, também formam regiões. O texto que se segue é fruto destes questionamentos.
DESENVOLVIMENTO
Em primeiro momento, deve-se pensar o que é (i)migração? Segundo Santos (1997, p.
6): “A migração pode ser definida como o movimento da população pelo espaço”. Entretanto,
seria ingenuidade tomar apenas um conceito como válido, principalmente pelas várias
significações desta terminologia, como adverte a mesma autora: “o seu significado
[significado da migração] e as suas motivações variam tanto no tempo como no espaço”.
Além disso, têm-se várias categorias de (i)migração como: “migrações nacionais,
internacionais, definitivas, de retorno, sazonais, temporárias, rurais-urbanas, que foram
formuladas, principalmente, nas décadas 1960 e 1970” (MENEZES, 2012, p. 23). Ou ainda
as recentemente elaboradas pela Organização Internacional da Migração (OIM) 4. A noção de
migrante também é lacunar: “No plano internacional não existe uma definição universalmente
aceita de migrante” (OIM, 2009, p. 43). Entretanto, “O termo migrante compreende,
geralmente, todos os casos em que a decisão de migrar é livremente tomada pelo indivíduo
4
Segue as definições de (i) migração da OIM: “migração assistida”, “migração circular”, “migração
clandestina”, “migração de retorno”, “migração em massa/colectiva”, “migração espontânea”, “migração
forçada”, “migração ilegal”, “migração individual”, “migração interna”, “migração internacional”, “migração
irregular”, “migração laboral”, “migração líquida”, migração ordenada”, “migração regular”, “migração
secundária”, “migração total/líquida”, “migrante ambiental”, “migrante com fins de instalação”, “migrante de
curta duração”, “migrante de longa duração”, “migrante documentado”, “migrante econômico”, “migrante em
situação irregular”, “migrante ilegal”, “migrante indocumentado”, “migrante irregular”, “migrante qualificado”,
“migrante rural”, “migrante rural-urbano”, “migrante urbano”, “migrante com laços ancestrais” (OIM, 2009, p.
40-45). São várias as denominações que envolvem a (i) migração.
em questão” (OIM, 2009, p. 43). Portanto, as definições, mesmo sendo múltiplas não são
capazes de abarcar todas as situações da migração, sendo necessário rever e criar novos
conceitos conforme as especificidades.
Outro fator importante é consenso dos pesquisadores desta temática com relação à
complexidade dos estudos (i) migratórios e a dificuldade de uma teoria que abarque estes
estudos5. Portanto, o ato de migrar deve compreender muitas esferas de pensamentos em
várias áreas de atuação, especialmente a Geografia, a História e a Demografia.
Segundo Brumes (2003, p. 29) os estudos migratórios podem ser concebidos pelas
sistematizações de dois autores: Salim e Ferreira6. Na dificuldade de abarcar todos os estudos
o primeiro pesquisador propõe o conceito de troncos teóricos, sendo eles divididos em
neoclássicos contemporâneos, perspectiva histórico-estrutural e modalidade da força de
trabalho. Enquanto o segundo pesquisador divide a migração em duas teorias, psicologizantes
e estruturais. O que as teorias entre os autores têm em comum é que apontam para fatores de
uma única causa para a migração, geralmente a superação de desigualdades econômicas. A
mudança em cada conjunto de autores torna-se o enfoque dado para a migração.
No ramo da História os novos estudos sobre a migração geralmente estão atrelados à
metodologia de História Oral7. Entretanto, apesar de trabalhos com grande qualidade
pautando-se neste método, principalmente por “dar voz” aos sujeitos, a metodologia não deve
ser utilizada sozinha. Conforme aponta Thomson (2002), os historiadores em alguns
momentos esquecem-se de buscar outros documentos e pautam-se apenas na história de vida
dos sujeitos para contar os seus deslocamentos. A tarefa do pesquisador é discutir dados,
confrontar discursos: “se a oportunidade prontamente apresentada pela história oral [...] não
5
Entre os pesquisadores da temática que compartilham desta perspectiva encontram-se: na Demografia,
Nogueira (1991, p. 38): “A migração, ao contrário dos outros componentes da dinâmica demográfica [...]
dependendo, igualmente, das funções „tempo‟ e „distância‟; ambas susceptíveis de interpretação de cada
pesquisador”, na Geografia Brumes (2003, p. 22): “A partir da dificuldade de conceitualização a respeito do que
vem a ser a migração e como esta se manifesta no espaço, várias teorias surgiram, com o intuito de esclarecer o
conceito” e na História Schörner (2009, p. 45): Na literatura demográfica há uma razoável unanimidade sobre o
caráter inacabado de uma teoria capaz de abarcar na totalidade a complexidade da migração”.
6
A pesquisadora aponta um organograma com as duas tentativas de sistematizações, sendo a de Salim
publicada em 1992 e a de Ferreira em 1986 (BRUMES, 2003, p. 29).
7
A História Oral pode ser entendida como “uma metodologia histórica que trabalha com depoimentos
orais, realizando entrevistas a partir das quais o historiador constrói suas análises” (SILVA; SILVA, 2009, p.
186)
substituiu os esforços dos historiadores para descobrir outras formas de testemunho pessoal”
(THOMSON, 2002, p. 344). Por isso, deve-se aliar a História Oral com o cruzamento de
outras fontes históricas.
As discussões de Menezes (2012, p. 37) sobre a temática migração também são
importantes. A autora aponta na necessidade de rever o conceito de migração e uma
possibilidade de substituí-lo ao de mobilidade, principalmente na temporária pela migração
também ser pautada na vida individual e familiar, não representando apenas grandes
contingentes. A pesquisadora ainda enfatiza a necessidade de um esforço grandioso das
disciplinas: Demografia, Economia, História, Geografia, Sociologia, Antropologia, Ciência
Política, entre outras; para responderem esta questão sobre migração ou mobilidade na
contemporaneidade.
Outro pesquisador que apontou contribuições os novos estudos sobre migração é
Sayad. Este pesquisador propõe analisar a migração a partir das angústias, desejos e sonhos
do migrante: “O retorno é naturalmente o desejo e o sonho de todos os imigrantes, é como
recuperar a visão, a luz que falta ao cego, mas, como cego, eles sabem que esta é uma
operação impossível” (SAYAD apud MENEZES, 2012, p, 28). Sayad aponta para o
sentimento de ausência, e a necessidade de voltar, em que o migrante se encontra. A
lembrança de sua terra de origem que se torna impossível alcançar.
Como o objetivo deste trabalho é apontar a necessidade de discutir a migração com os estudos
sobre região destaca-se na sequência a segunda temática. Portanto, seguem-se algumas discussões
sobre região nos estudos geográficos. Segundo Corrêa (2000, p. 7), o termo região faz parte tanto da
linguagem do homem como da ciência geográfica. Entretanto, esse termo não é utilizado da mesma
maneira pelos pesquisadores da ciência, várias vertentes estudam o conceito de região. Estas vertentes
relacionam-se com as correntes do pensamento geográfico, correntes teóricas da percepção da
Geografia.
Entre uma das interpretações possíveis sobre os estudos geográficos de região, encontra-se a
análise teórica de Lencioni (2002) e a de Gomes (1995). Os pesquisadores demonstram como o
conceito de região foi concebido pela Geografia e discutido pelas pesquisas que a tiveram como
problemática de estudo.
De acordo com Lencioni (2002, p. 200) existem basicamente dois marcos de apropriação do
termo região na Geografia. Na primeira análise, a região existe por si mesma, cabendo ao pesquisador
a reconhecer por meio de suas análises, ela é dada e não construída. Na segunda perspectiva, a região
não existe por ela mesma, é um objeto de estudo, sendo construída pelo recorte espacial de critérios
definidos no processo de análise.
Gomes (1995, p. 55) ao contrário de Lencioni não propõe teorias, mas uma trajetória do
conceito de região na Geografia. Para Gomes o primeiro a pensar a região nos estudos geográficos foi
Vidal de La Blache, em 1903, e posteriormente seu discípulo L. Gallois, em 1908; inspirado na divisão
regional. Para ele, a alternativa que se seguiu a La Blache nos estudos geográficos foi a de adjetivar a
noção de região como forma de diferenciar do senso comum8. Durante a obra o autor apresenta as
tentativas de conceituar a noção de região em Região Natural9, Região Geográfica ou RegiãoPaisagem10.
Outras informações de Gomes (1995, p. 63-64) apresentam outras perspectivas de região.
Entre elas, a percepção de Regiões Homogêneas e Funcionais. A primeira concepção parte da ideia de
entender as variáveis que estruturam o espaço, os intervalos das variáveis que definem em mais ou
menos homogêneo uma Região. A segunda apresenta o “olhar” ao espaço com base nas múltiplas
relações que lhe formam.
Outra perspectiva de região tem-se conhecimento a partir dos anos setenta, conhecida como
Geografia Radical (com pressupostos marxistas11), argumentava que o espaço deveria ser repartido
com base na divisão do trabalho e pelo processo de acumulação capitalista. Portanto, a região deveria
se ater ao processo de produção do trabalho e qualquer outra forma de divisão do espaço esconderia as
contradições. Nesta perspectiva os instrumentos do materialismo histórico-dialético12 não auxiliaram
o conceito de região deixando-o com pouca operacionalidade (GOMES, 1995, p. 65-66).
8
O pesquisador aponta que o senso comum quando se referia a Região utilizava o termo o sentido de
localização ou extensão, “a Região mais pobre, a Região montanhosa, a Região da cidade X” (GOMES, 1995, p.
53-54).
9
Segundo Gomes (1995, p. 55): “O conceito de Região natural nasce, pois, desta idéia (sic) de que o
ambiente tem um certo domínio sobre a orientação do desenvolvimento da sociedade”.
10
Definição: “Nasce daí a noção de Região geográfica, ou Região-Paisagem na bibliografia alemã e
anglo-saxônica, unidade superior que sintetiza a ação transformadora do homem sobre um determinado
ambiente” (GOMES, 1995, p. 56).
11
O marxismo segundo Silva e Silva (2009, p. 267-270) está ancorado na história do século XX. Pode ser
definido como um sistema de interpretação da realidade, originado no século XIX, com grandes adeptos no
século XX. Seu início teve como principais expoentes Karl Marx e Friedrich Engel. Tem como finitude as causas
econômicas. Sob a denominação marxista muitos trabalhos foram produzidos, alguns com imensa qualidade,
outros com qualidade duvidosa.
12
No pensamento marxista se consolidou com os termos materialismo dialético e materialismo histórico
(SILVA; SILVA, 2009, p. 267)
No meio da década de 1970 emergiu uma nova corrente que apreciava outros aspectos
geográficos, denominada de Humanismo 13na Geografia. Estes autores buscaram no passado o resgate
de alguns conceitos, entre eles o de região. A região passa a ser vista como um produto real,
construída pela solidariedade territorial, e sua compreensão condicionada no viver a região (GOMES,
1995, p. 65-66).
Retornando a Lencioni (2002), ainda esta chama a atenção que o termo regional na Geografia
está fora de moda por quatro fatores principais. Sendo eles: o primeiro por causa da realidade parecer
mais homogênea e os pesquisadores tentarem diluir as especificidades e não perceberem as
heterogeneidades, dentro das homogeneidades. O segundo pela noção de região na Geografia estar
muitas vezes, atrelada ao planejamento e pela desmontagem dos planos de desenvolvimento regional.
Por isso, o conceito de região entrou em descrédito. O terceiro, pela multiplicidade de estudos
regionais, que tornam os estudos sobre regiões uma monotonia pela reprodução enfadonha. E o último
pela noção de região colocar a unicidade da disciplina geográfica, juntando a dicotomia entre
Geografia Física e Humana.
Com isso, a noção de região começou a ser enfraquecida e substituída pela noção de território
que também é uma conceituação dos estudos geográficos. Entretanto, Lencioni (2002, p. 201-203)
acredita ser pertinente a noção de região, apesar desses empecilhos, por auxiliar na compreensão do
recorte espacial.
Percebe-se que a região no aspecto geográfico, inicialmente estava atrelada, a noção de
domínio, território, espaço, governo:
[...] se a Região é um conceito que funda uma reflexão política de base territorial, se
ela coloca em jogo comunidades de interesse identificadas a uma certa área e,
finalmente, se ela é sempre uma discussão entre os limites de autonomia face a um
poder central, parece que estes elementos devem fazer parte desta nova definição em
lugar de assumirmos de imediato uma solidariedade total com o senso comum que,
neste caso da Região, pode obscurecer um dado essencial: o fundamento político, de
controle e gestão de um território (LENCIONI, 2002, p. 73).
Com base nestes estudos geográficos, percebe-se a região na Geografia como delimitação,
num sentido de finitude, essencialmente político-administrativo. A região construída pela pesquisa
tem-se limites bem definidos, fazendo parte do recorte espacial. A Região Geográfica é tomada como
sinônimo de área delimitada com contornos definidos. Limita-se a conceituação de região aos estudos
de Geografia Regional, para definir uma área.
13
A terminologia humanismo tem sua origem no século XVI para apontar a posição privilegiada do homem na
terr. Entretanto, esta corrente não foi homogênea, em comum, compartilhou do retorno aos clássicos gregos e
latinos (SILVA; SILVA, 2009, p. 193).
Contudo, pela dinâmica da ciência, não se pode definir o pensamento regional na Geografia
apenas por esta perspectiva: “Evitemos de imediato a sedutora tentação de procurar responder
definitivamente à questão – o que é a Região – [...] como se a ciência fosse um tribunal onde se
julgasse o direito de vida e de morte das noções” (GOMES, 1995, p. 49).
A discussão de região fica evidente na região de Guarapuava nas décadas de 40, 50 e 60 do
século XX, pela documentação que compõe esta pesquisa14, observou que pode se ter “várias
guarapuavas”, várias Regiões de Guarapuava. Os documentos apontam que a Região administrativopolítica de Guarapuava pode ter sua extensão aumentada e diminuída de acordo com as relações de
poder que motivaram as emancipações e a criação de novas cidades no seu entorno15. Além das
regiões construídas pelos aspectos simbólicos.
Na busca de responder como abordar a região nos estudos migratórios encontraram-se na
ciência histórica as preposições de Silva e Linhares, “A Região não se impunha previamente como um
recorte que delimitasse e definisse o campo de ação da pesquisa” (SILVA; LINHARES, 1995, p. 21).
Os autores afirmam que a problemática de região tem que fazer parte da construção da pesquisa,
aumentando e diminuindo conforme sua necessidade para compreender o objeto.
Entende-se a região como um espaço de discussões, e como uma das problematizações do
estudo, pois: “A Região não se impunha previamente como um recorte que delimitasse e definisse o
campo de ação da pesquisa” (SILVA; LINHARES, 1995, p. 21). Delimitar a região a apenas um
espaço político ou administrativo é uma redução do seu campo de ação e um descrédito ao estudo
historiográfico.
Além disso, a pesquisa sobre região deve apropriar-se dos discursos daqueles que foram
expropriados ou reincorporados para uma nova região, ou seja, deve considerar os migrantes que se
deslocaram ou foram deslocados: “Falar em Região é referir àqueles que foram derrotados em seus
processos de implantação, àqueles que foram excluídos de seus limites territoriais e simbólicos,
àqueles que não fazem parte dos projetos que deram origem a dado recorte regional” (SILVA;
LINHARES, 1995, p.28). Com isso, percebe-se a importância de tratar (i) migração com os embates
14
As reflexões desenvolvidas neste texto também foram pautadas a partir da observação do Jornal Folha
do Oeste e das Mensagens dos Governadores a Assembleia Legislativa do Paraná. Parte do projeto de mestrado
do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO) “As
relações de poder nos processos migratórios na Região de Guarapuava (1946-1960)”.
15
Estudos realizados pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicada (IPEA), apontam o crescimento
populacional na Região de Guarapuava no período de 1946-1960. Guarapuava em 1940 possuía área de
53.917,00 Km² com uma população de 96.235 habitantes. No ano de 1950 tem-se um retrocesso populacional e
uma perda territorial, oriundo de desmembramentos de municípios, sendo 8.994,00 Km² e 67.436 habitantes. No
ano de 1960, crescimento territorial para 11.672,00 Km² e população de 96.361 habitantes.
referidos a região, especialmente, quando se busca enfatizar o sair de um espaço geográfico delimitado
e ir para outro.
Portanto, a região neste estudo não é dada com limites definidos, em função da localidade não
ser a mesma, em cada temporalidade, em termos territoriais e populacionais na década de 1940 ou de
1960. Portanto, “O pesquisador não deveria prender-se a limites fisiogeográficos ou administrativos,
procedendo sempre que necessário, a redução e/ou ampliações do raio de ação” (SILVA; LINHARES,
1995, p. 25) O recorte da região deve ser construído através de mecanismos econômicos, políticos e
sociais; juntamente com a pesquisa.
O pensamento das relações de poder para o campo da migração dentro da região considera que
os migrantes não foram deslocados apenas por fatores econômicos, mas por fatores políticos, sociais,
educacionais. Pode-se pensar a migração com a região, a partir das relações de poder que formaram a
região ou as várias regiões. Nesta perspectiva, ampara-se em Foucault (2012) abrangendo as
multiplicidades das formas de poder e suas relações além da forma política. Estes poderes que criam,
formam ou delimitam regiões e constroem novas regiões.
A região será construída pelas discussões ou pelas suas relações de poder. Os processos que
influenciaram no ir e vir destes habitantes. Para apontar para uma discussão prática, pode-se
exemplificar com a chegada do contingente (i) migrante denominado de “Suábios do Danúbio”, este
que vieram em 1951. Os Suábios foram um contingente composto por 500 famílias, instalados no
Distrito de Entre Rios no município de Guarapuava (MARTINS, 1992, p. 68-78).
Entretanto, esta região era habitada por fazendeiros que tiveram suas terras declaradas de
utilidade pública pelo decreto n° 1229, de 18 de maio de 1951, devendo entregá-las para os novos
habitantes. Os fazendeiros a princípio resistiram para não sair da sua região, a área era tinha 10.000
alqueires (MARTINS, 1992, p.71). Torna-se importante esta resistência, pois os fazendeiros tinham
criado laços de afeto, pertencimento, provavelmente as terras pertenciam a seus ancestrais.
Além deles, quando a Cooperativa organizada pelos Suábios adquiriu as fazendas, outras 40
famílias também foram desabrigadas, descendentes de ex-escravos, que viviam sob a proteção dos
proprietários das fazendas (MARTINS, 1992, p. 72). Estas famílias de descendentes também tinham
formado uma região, especialmente pelas relações estabelecidas nesta localidade. Infere-se que a
localidade não tinha limites definidos, vivendo no espaço dois grupos, duas regiões distintas.
Com a chegada dos Suábios estes criaram uma nova região dentro daquele espaço que tinha
outras regiões. Os expropriados daquela localidade forma obrigados a buscarem novas localidades
para criar novas regiões, alguns podem não terem ido para uma mesma localidade, criando assim,
ainda outras regiões. Por isso, torna-se importante aliar os estudos de (i) migração com as discussões
de regiões.
A região deve ser discutida com os que habitaram ou foram excluídos dela, principalmente
porque ela cria novas regiões, discussões complexas e abrangentes incluindo as emancipações ou
reincorporações da região política-administrativa. A região não deve ser pensada apenas como
localidade por limites definidos, ela deve ser concebida enquanto analise das relações de poder, pelos
seus pertencimentos, angústias, sonhos, desejos dos que habitam ou habitaram ela.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os estudos relacionados à temática (i) migração são complexos, principalmente pelas
multiplicidades de conceitos, como demonstrado neste. Entretanto, apesar desta grande
variedade, as migrações, especialmente as contemporâneas necessitam de revisões e de novos
conceitos.
Outro fator importante sobre os estudos (i) migratórios é que estes devem responder a
migração não apenas como um fator de uma única causa, mas de várias. Não são apenas as
desigualdades econômicas que fazem as pessoas se deslocarem de uma região. Diante disso,
foi apontando as discussões de Menezes (2012) pela possibilidade de substituição do termo
migração pelo de mobilidade. Mas, ainda faltam estudos sobre isso.
Além disso, mesmo que não explicitado no decorrer do texto, a (i) migração necessita
de uma abordagem interdisciplinar, para conceber as necessidades deste campo de estudo.
Não é apenas a História que dará conta destes estudos, mas Geografia, Demografia,
Sociologia, entre outras ciências. Apesar disso, como estes pesquisadores da (i) migração
vinculam-se a área de história.
Na História os estudos migratórios vinculam em sua maioria a História Oral, não que
isso seja preocupante, pois é benéfico. Por outro lado, devem-se apontar as contribuições de
Thomson (2002) em que, a História necessita confrontar materiais e não ficar restrito apenas a
entrevistas. O historiador tem a função de utilizar das diversas formas de documentos para
responder a ciência histórica.
Como outra categoria de análise neste trabalho, tem-se a região. A região que no
trabalho foi concebida no plural, enquanto regiões. Mas, para tentar apontar uma nova forma
de criar a região, foi necessário apontar como a região foi significada nos estudos clássicos,
especialmente da Geografia. Inicialmente tem-se a região com aspectos políticosadministrativos com limites bem definidos. Na impossibilidade de apontar uma nova
significação para a noção de região, a Geografia preferiu em alguns casos substituir por
território como foi apontado por Lencioni (2002).
Além disso, as proposições de Gomes (1995), também apontaram contribuições
importantes da noção de região. Merece destaque nas colocações do autor que a noção de
região está habitualmente incorporada na perspectiva de qualquer pessoa, vinculando-se
especialmente a localidade ou extensão.
No campo da história a região também teve suas discussões, neste foi apontada por
Silva e Linhares (1995). A partir dos autores, percebeu-se que a região deve ser criada e
recriada em qualquer estudo com base nos seus habitantes, sendo ampliada e diminuída
conforme forem surgindo novos dados. Apontando os que foram excluídos não apenas dos
seus limites administrativos, mas simbólicos.
E por fim, este estudo buscou um exemplo prático para uma forma didática de explicar
uma perspectiva de estudar a (i) migração com as regiões. Neste exemplo prático, utilizaramse as informações sobre a vinda de um grupo migratório no espaço administrativo de
Guarapuava, especialmente por este possuir uma fragmentação nas décadas de 40, 50 e 60 do
século XX.
Como foi apontado por Martins (1992) o grupo denominado de Suábios do Danúbio
chegou em 1951 sendo alocados, a partir de um decreto de utilidade pública, na localidade
denominada de Entre Rios. Provavelmente quando estes chegaram à localidade criaram uma
nova região, com seus costumes, seu sentimento de pertencimento, entre outros elementos.
Entretanto, esta localidade tinha habitantes inicialmente, os fazendeiros que não queriam sair
da sua região, por também terem laços, relações, pertencimento.
Outro grupo que foi atingido pela chegada dos Suábios foi os ex-escravos que
habitavam junto com os fazendeiros aquela localidade, criando outra região. Também tinham
laços, reminiscências de seus ancestrais, entre outras relações.
As relações de poder
motivaram a saída destes grupos que foram obrigados a buscar novas localidades e construir
outras regiões. Além disso, nem todos seguiram para o mesmo local, fazendo migrações
individuais.
Diante disso, percebeu-se um campo fecundo de estudos, aliando-se (i) migração e
região. Com estas discussões, nesta perspectiva, perceberá outras formas de conceber a
migração que serão além de teorias que apontavam como um único fator a necessidade de
migração. Atrelando (i) migração e as regiões se perceberá os aspectos, políticos, históricos,
sociais, entre outros.
REFERÊNCIAS
BRUMES, Karla Rosário. Movimentos migratórios em cidades médias: o caso de
Uberlândia-MG (1970-2000). 175 f. Dissertação (Mestrado). Curso de Geografia,
Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, 2003.
CORRÊA, Roberto Lobato. Região e Organização Espacial. São Paulo: Ática, 2000.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. São Paulo: Graal, 2012.
GOMES, Paulo César da Costa. O conceito de Região e sua discussão. In: CASTRO, Iná
Elias de Castro; GOMES, Paulo César da Costa; CORRÊA, Roberto Lobato. Geografia:
conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995.
INSTITUTO DE PESQUISAS ECONÔMICAS APLICADA- IPEA. População residente
Total. Disponível em: < http://www.ipeadata.gov.br/>. Acesso 04 jul. 2014.
LENCIONI, Sandra. Região e Geografia. A noção de Região no pensamento geográfico. In:
CARLOS, Ana Fani Alessandri (org). Novos caminhos da geografia. São Paulo: Contexto,
2002.
MARTINS, Sebastião Meira. Pioneiros do Vale do Entre Rios (1818-1951). Guarapuava:
edição do autor, 1992.
MENEZES, Marilda Aparecida de. Migrações e Mobilidades: repensando teorias, tipologias e
conceitos. In: TEIXEIRA, Paulo Eduardo; BRAGA, Antonio Mendes da Costa; Baeninger,
Rosana (org). Migrações: implicações passadas, presentes e futuras. Marília/São Paulo:
Oficina Universitária/Cultura Acadêmica, 2012.
NOGUEIRA, Olioto José Oliveira. Migrações Internas: tentativas de buscar uma teoria.
Análise e Conjuntura. Belo Horizonte, v. 6, n.1, p. 38-47, jan/abr, 1991, p, 38.
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL PARA AS MIGRAÇÕES – OIM. Direito
internacional da migração: Glossário sobre migração. Genebra: OIM, 2009. Disponível em
<http://www.acidi.gov.pt/_cf/102363> Acesso 17 fev. 2014.
SANTOS, Regina Bega. Migração no Brasil. São Paulo: Scipione, 1997.
SCHÖRNER, Ancelmo. Paranaenses em movimento: trajetórias e travessias migratórias
(1980-2000). Guarapuava: UNICENTRO, 2009
SILVA, Francisco Carlos Teixeira da; LINHARES, Maria Yedda L.. Região e História
Agrária. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 8, n. 15, p.17-26, 1995.
SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos.
São Paulo: Contexto, 2009.
THOMSON, Alistair. Histórias (co) movedoras: História oral e estudos de migração. Revista
Brasileira de História. 2002, vol.22, n.44, pp. 341-364. Disponível em
<http://dx.doi.org/10.1590/S0102-01882002000200005> Acesso 17 fev. 2014.
Download