Entidade sugere meia hora/dia de exercícios

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Campinas, 24 a 30 de agosto de 2015
Em busca de um novo alvo
para o combate do diabetes
Fotos: Antonio Scarpinetti
Pesquisa do IB
investiga efeitos
do exercício físico
na remoção da
insulina presente
no sangue
MANUEL ALVES FILHO
[email protected]
esquisa desenvolvida em modelo animal para a dissertação
de mestrado da biomédica Mirian Ayumi Kurauti, defendida
no Instituto de Biologia (IB) da
Unicamp, constatou que a realização de
exercícios físicos contribui para reduzir os
níveis do hormônio insulina no sangue de
camundongos obesos. Segundo o estudo,
as atividades físicas concorrem tanto para a
redução da secreção do hormônio pelo pâncreas quanto para o aumento da remoção
da insulina presente no plasma, processo
denominado clearance. O trabalho, executado no Laboratório de Pâncreas Endócrino
e Metabolismo do IB, teve a orientação do
professor Antonio Carlos Boschero.
A alta concentração de insulina no sangue, classificada como hiperinsulinemia, é
um dos fatores associados à obesidade e ao
diabetes do tipo 2. De acordo com a autora
da dissertação de mestrado, este excesso de
insulina no sangue pode induzir resistência
do organismo ao hormônio, prejudicando
a sua ação. A principal função da insulina
no organismo é reduzir a concentração de
açúcar no sangue. Portanto, uma deficiência
da produção e/ou ação desse hormônio aumenta os níveis de açúcar no sangue, o que
caracteriza o diabetes. “Nosso objetivo foi
buscar evidências que possam vir a contribuir para a formulação de um possível tratamento para o combate a doenças relacionadas à hiperinsulinemia, como a obesidade e
o diabetes tipo 2”, explica.
Nesse sentido, prossegue Mirian, ela decidiu investigar o mecanismo por meio do
qual o exercício físico ajuda a combater a
hiperinsulinemia em camundongos obesos,
prevenindo consequentemente a resistência
do organismo à insulina. “A atividade física
é indicada por médicos e educadores físicos
para pacientes obesos e diabéticos. A ciência
tem bem registrados os benefícios que isso
traz para as pessoas, inclusive em relação à
prevenção de doenças cardiovasculares. Já
é sabido, por exemplo, que o exercício reduz a secreção do hormônio pelo pâncreas.
Entretanto, não havia qualquer estudo que
associasse a atividade física com o aumento
da remoção da insulina no plasma em obesos”, afirma.
O clearance de insulina, esclarece a biomédica, ocorre principalmente no fígado,
mas também pode ocorrer em outros tecidos responsivos à insulina, como o músculo. O processo acontece da seguinte forma. O hormônio é inicialmente captado
pelas células do órgão. Em seguida, uma
enzima denominada IDE [Insulin Degrading
Enzyme, em inglês], promove a sua degradação. “No estudo, nós avaliamos a função
do exercício físico sobre a modulação do
clearance de insulina e da expressão dessa
enzima, que é fundamental nesse processo”, reforça Mirian.
Publicação
Tese: “O exercício físico agudo reduz
a insulinemia através da redução da
secreção e aumento do clearance de
insulina em camundongos obesos”
Autora: Mirian Kurauti
Orientador: Antonio Carlos Boschero
Unidade: Instituto de Biologia (IB)
Segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, a prática de atividades físicas
orientadas, de intensidade moderada, durante meia hora por dia, é suficiente para que a pessoa deixe de ser sedentária
Entidade sugere meia
hora/dia de exercícios
Na pesquisa que desenvolveu para a sua
dissertação de mestrado, a biomédica Mirian
Ayumi Kurauti constatou que os exercícios físicos contribuem para reduzir os níveis de insulina no sangue, ao submeter camundongos a
uma única sessão de exercício físico. A autora
do trabalho alerta, porém, que essa prática
não é recomendada para seres humanos. “Na
minha pesquisa, o que eu fiz foi uma prova de
conceito. No caso da prática de exercícios físicos por parte das pessoas, o recomendável é
que eles sejam de intensidade moderada, distribuídos ao longo da semana”, adverte.
A indicação de Mirian encontra amparo nas
orientações da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). De acordo
com a entidade, a prática de atividades físicas
orientadas, de intensidade moderada, durante
meia hora por dia, é suficiente para que a pessoa deixe de ser sedentária. Os 30 minutos,
conforme a SBEM, podem ser contínuos ou divididos em três períodos de 10 minutos cada.
“Quando se fala em exercícios, o mais importante é que você pratique alguma atividade
que se adapte ao seu estilo de vida e que seja
do seu agrado. Caso contrário, são muitas as
chances de interrupções. Pequenas modificações no hábito diário – como subir escadas,
saltar do ônibus um ponto antes, passear com
cachorro, varrer, cuidar do jardim, lavar o carro
etc. – podem ajudá-lo a se movimentar mais e
servir como um estímulo para o início de uma
atividade física diária”, destaca a entidade em
sua página eletrônica.
Os efeitos benéficos da atividade física,
continua a SBEM, ocorrem para as pessoas
que se exercitam com regularidade. Aqueles
com IMC entre 25 e 30 (sobrepeso), nestas
condições, podem ter um risco menor de desenvolver diabetes e outras doenças metabólicas do que os sedentários. De acordo com o
United States Departament of Health and Human Services, é importante que os adultos pratiquem duas horas de atividades anaeróbicas
(musculação localizada) por semana, além dos
30 minutos de caminhada intensa por dia. Nos
casos de pessoas com diabetes, hipertensão,
obesidade e com problemas no metabolismo
ósseo, por exemplo, é preciso ter um cuidado
especial na escolha dos exercícios a praticar.
Nestes casos, é imprescindível o acompanhamento de um profissional.
Os testes foram feitos em camundongos.
A biomédica utilizou três grupos de animais: controle, obesos sedentários e obesos
exercitados. Os dois últimos tiveram a obesidade induzida através de uma alimentação
hiperlipídica, ou seja, rica em gordura. “Nós
avaliamos diversos parâmetros e verificamos a redução da concentração de açúcar no
sangue e a melhora da sensibilidade à insulina nos camundongos obesos submetidos a
uma única sessão de exercício físico, durante três horas, em esteira. Também constatamos a redução da secreção da insulina pelo
pâncreas”, relaciona.
Parte dos resultados, observa a autora da
dissertação de mestrado, era esperada, em
razão dos registros presentes na literatura.
“No entanto, a constatação mais importante da pesquisa, e que ainda não havia sido
investigada, é que a atividade física também
contribui para aumentar a remoção da insulina no sangue, provavelmente através do aumento dos níveis da enzima IDE no fígado e
no músculo de camundongos obesos. Agora,
precisamos avançar em relação a essa questão. Nosso desafio é descobrir quais mecanismos moleculares estão envolvidos na geração
desse efeito”, adianta a biomédica.
O que está no horizonte da pesquisa, conforme Mirian, é definir um eventual novo
alvo terapêutico. “Se nós identificarmos qual
molécula é modulada pelo exercício físico,
poderemos, por hipótese, desenvolver um
fármaco que module igualmente a expressão
dessa molécula. Isso seria especialmente positivo para obesos e diabéticos que precisam
realizar atividades físicas, mas que não podem fazê-lo por causa de algum tipo de impedimento”, pormenoriza a biomédica.
Essa busca já está sendo cumprida pela
pesquisadora, que iniciou o doutorado no
IB. Paralelamente ao estudo que sustenta a
tese, Mirian desenvolve uma pesquisa que
objetiva justamente identificar que molécula é modulada pelo exercício físico e que
leva ao aumento da principal enzima que
degrada a insulina, a IDE. “Encontrei uma
forte candidata, que é uma molécula secretada pelo músculo quando este entra em
contração. Trata-se da Interleucina 6, que é
uma citocina. Eu avaliei o comportamento
da molécula durante o exercício físico em
camundongos magros, divididos em três
grupos: sedentários, exercitados e exercitados com inibição da Interleucina 6. Quando
inibimos a molécula, percebemos que a IDE
não aumenta nos camundongos exercitados”, pormenoriza a biomédica.
Em outras palavras, quando inibida, a
molécula não reduz os níveis de insulina
no organismo. “Uma vez identificada essa
candidata, abrimos caminho para investigar
que mecanismos essa molécula utiliza para
aumentar a expressão da enzima que degrada o hormônio. Vale reafirmar que essa
abordagem é nova na ciência. A maioria dos
tratamentos foca ou na secreção da insulina
pelo pâncreas ou na ampliação da sensibilidade do organismo ao hormônio”, completa
a biomédica, que contou com bolsa concedida pela Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo (Fapesp).
A biomédica Mirian Kurauti,
autora da dissertação
de mestrado: “A constatação
mais importante da pesquisa,
e que ainda não havia sido
investigada, é que a atividade
física contribui para aumentar a
remoção da insulina no sangue”
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