A luta contra a rebelião e a desagregação na igreja

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Presidente: Pastor João Adair Ferreira
Dirigente e Consultor Doutrinário: Pastor Argileu Martins da Silva
Superintendente: Presbítero Jorge Luiz Rodrigues Barbosa
Lição 07
A luta contra a rebelião e a desagregação na
igreja
Texto Áureo
"A rebelião é como o pecado de feitiçaria, e a obstinação é como a idolatria e culto a ídolos
do lar. Visto que rejeitaste a palavra do Senhor, ele também te rejeitou a ti". 1 Sm 15.23
Verdade Aplicada
Os princípios de autoridade e submissão ao Todo-Poderoso e aos superiores humanos são
os alicerces mais importantes da edificação cristã.
Objetivos da Lição
►
Mostrar que os rebeldes não obedecem aos superiores, agem contra a vontade de
Deus.
►
Deixar claro que a rebelião é uma prática contagiosa.
►
Conscientizar de que a rebelião é abominação diante do Senhor e leva o rebelde à
perdição eterna.
Textos de Referência
Nm 16.1
Corá, filho de Isar, filho de Coate, filho de Levi, tomou consigo a Datã e a
Abirão, filhos de Eliabe, e a Om, filho de Pelete, filhos de Rúben,
Nm 16.2
Levantaram-se perante Moisés com duzentos e cinquenta homens dos filhos
de Israel, príncipes da congregação, eleitos por ela, varões de renome,
Nm 16.3
E se ajuntaram contra Moisés e contra Arão e lhes disseram: Basta! Pois que
toda a congregação é santa, cada um deles é santo, e o Senhor está no meio deles; por
que, pois, vos exaltais sobre a congregação do Senhor?
Nm 16.30 Mas, se o Senhor criar alguma coisa inaudita, e a terra abrir a sua boca e os
tragar com tudo o que é seu, e vivos descerem ao abismo, então, conhecereis que estes
homens desprezaram o Senhor.
Nm 16.31 E aconteceu que, acabando ele de falar todas estas palavras, a terra debaixo
deles se fendeu.
Caim, Balaão e Corá
A lição 07 é um alerta para não seguirmos o caminho de Caim, que sentiu ódio contra seu
irmão (Gn 4.3-8), nem o exemplo de Balaão, que agiu com ganância, avareza e
imoralidade (Nm 22.1-35), nem a rebeldia de Corá, que se insurgiu contra a autoridade de
Moisés como seu líder e pastor (Nm 16.1-35). O orgulho (que fez Caim rejeitar a soberania
e os planos de Deus), a ganância (que levou ao profeta Balaão se tornar um mercenário), e
a rebelião (que levou Corá se tornar um inimigo de Moisés) podem, ainda hoje, destruir
muitas pessoas que não se arrependem de males que causam ao reino de Deus.
Caim
O ódio faz o homicida, e nenhum homicida tem parte no Reino de Deus.
"Porque esta é a mensagem que ouvistes desde o princípio: que nos amemos uns aos
outros. Não como Caim, que era do maligno e matou a seu irmão. E por que causa o
matou? Porque as suas obras eram más, e as de seu irmão, justas" (1Jo 3.11,12).
Qual a origem da violência no mundo? Que personagem bíblica cometeu o primeiro
assassinato da história da humanidade? O que teria motivado tal homicídio? Por mais
estranho que pareça, este lastimável episódio foi determinado pelo ódio religioso.
Este fato revela o primeiro conflito entre fé e incredulidade. A raça humana a partir daí
dividiu-se, e está dividida até hoje.
Caim não se saíra bem em sua vida espiritual: sua oferta não fora aceita pelo Criador. Ele
pouco ou nenhum valor atribuía a forma correta de sacrificar e adorar ao Senhor. O
primogênito de Adão não sabia que Deus não se importava tanto com as formalidades e
nem com o tipo de oferta, mas considerava principalmente as intenções do coração.
Dominado por súbita explosão de cólera, a despeito das oportunidades que teve de
redimir-se e aceitar o caminho da verdadeira adoração, Caim lançou-se covardemente
sobre seu próprio irmão e o matou.
Não tem sido essa a atitude do homem decaído em relação a seus semelhantes quando
entorpecido de inveja e ódio? Poderiam esses maléficos sentimentos invadir o coração dos
membros da família de Deus? "Ai deles !", é a expressão que o apóstolo Judas usou para
evidenciar a seriedade do juízo divino contra os que derramam sangue inocente.
O que é mais importante para Deus: as ofertas em si ou as intenções do coração dos
ofertantes?
Não são poucos os homens, mulheres, adolescentes e até crianças que, deixando-se
contaminar pela inveja e pelo ódio, estão a trilhar o caminho de Caim. Mas, a advertência
do apóstolo Judas, não deixa esperar: "Ai deles! Porque entraram pelo caminho de Caim".
O QUE É O CAMINHO DE CAIM
Com o nascimento de seu primogênito, ofereceu Eva um sacrifício de louvor e gratidão a
Deus: "Alcancei do Senhor um varão" (Gn 4.1). Ela recebia a criança como prova de que a
sua iniqüidade fora perdoada. Talvez até tivesse conjecturado estar ali, em seus braços,
aquEle que viria a esmagar a cabeça da serpente.
Como nossa bondosa mãe estava enganada! Aquele bebezinho, cujo nome significava
adquirido ou esperado, viria a esmagar não a cabeça da serpente, mas a do próprio irmão.
Tudo começou quando ambos resolveram apresentar as primícias de seu trabalho ao
Senhor.
1. A oferta de Caim. Pensam alguns comentaristas que o Senhor rejeitou a oferta de Caim
por ter sido esta uma oferenda vegetal e não cruenta como a de Abel. O Senhor, porém,
jamais olhou para a espécie de oferta, mas sempre atenta para a qualidade do ofertante
(Sl 51.16,17). Além disso, na Festa das Primícias(Celebração israelita, quando eram
oferecidos ao Senhor os primeiros grãos colhidos. Reconhecimento público da provisão
divina. Comemorada a 16 de nisã (março-abril), mais tarde, passou a ser chamada
Pentecostes.), requeria Jeová, dos filhos de Israel, os frutos da terra e não os primogênitos
dos animais (Ex 34.22).
Eis o que o Senhor diz a Caim ao ver-lhe descaído o semblante: "Se bem fizeres, não
haverá aceitação para ti? E, se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e para ti será o seu
desejo, e sobre ele dominarás" (Gn 4.7). Tivesse Caim subjugado o seu ódio, não somente
seria aceita a sua oferta como ele próprio tornar-se-ia aceitável diante de Deus. Mas,
agora, ainda que viesse ele a oferecer sacrifícios de sangue, far-se-ia abominável diante do
Eterno (Is 66.3).
2. O primeiro homicídio. Já tomado pela inveja e por um ódio incontrolável, Caim matou
traiçoeiramente a Abel: "E falou Caim com o seu irmão Abel; e sucedeu que, estando eles
no campo, se levantou Caim contra o seu irmão Abel e o matou" (Gn 4.8).
O primeiro assassinato teve como cenário o campo que, desde aquela época, vem sendo
marcado por violentas e inexplicáveis lutas. Todavia, o motivo para tantas mortes não é
propriamente a posse da terra, e sim o ódio que Caim ainda não conseguiu controlar.
Infelizmente, até mesmo por um campo ministerial há obreiros dispostos a matar a seu
irmão. Esquecem-se de que a Seara é do Senhor e não deles. Muito cuidado! O sangue de
Abel está a clamar aos ouvidos de Deus.
Você odeia a seu irmão? Já não lhe consegue falar benignamente? Dobre os joelhos agora
mesmo, a fim de que o Senhor Jesus, através de seu sangue, limpe-lhe o coração de toda
a ira. Caso contrário: será marcado para sempre com o estigma do assassino.
3. O caminho de Caim. O caminho de Caim, por conseguinte, é a alternativa gerada pelo
desamor, pela incompreensão e pela intolerância. É a inveja que leva ao ódio; é o ódio que
induz ao homicídio.
A MARCA DE CAIM
Segundo alguns etimologistas, a palavra assassino provém do vocábulo haxixe. Esta era a
erva que os matadores profissionais da antiga China usavam para executar a sua missão.
Entorpecidos já pelo estupefaciente, tiravam a vida de seus semelhantes sem ligarem
importância alguma aos seus atos.
Assim agiu Caim. Embriagado pelo ódio e tendo por entorpecente a inveja, matou ele a
Abel, seu irmão. E, inquirido por Deus, saiu-se com uma evasiva que, ainda hoje, acha-se
até mesmos nos lábios de muitos que se dizem servos de Deus.
1. A desculpa de Caim. Foi esta a resposta que Caim deu ao Senhor, quando o Justo Juiz
lhe inquiriu acerca de Abel: "Não sei; sou eu guardador do meu irmão?" (Gn 4.9). Em
hebraico, a expressão traduzida por guardador - shamer - é bastante significativa; evoca,
entre outras coisas, os seguintes substantivos: guarda, protetor, mantenedor e
reverenciador. Tudo isso deveria ser Caim em relação a Abel. Mas deste não passava
agora de um desalmado algoz.
Você tem protegido a seu irmão? Tem-no ajudado em seus apertos e tribulações? Ou temno matado, pouco a pouco, com o seu ódio, inveja e incompreensões? Não se esqueça:
você é o guardador de seu irmão. Tal incumbência é pessoal e intransferível.
2. A marca de Caim. De repente, percebe o assassino quão vulnerável tornara-se ao matar
a seu irmão. Daquele momento em diante, qualquer pessoa achar-se-ia no direito de
vingar o sangue de Abel. A fim de evitar que isso viesse a acontecer, pois a lei do dente por
dente e olho por olho não havia sido ainda decretada, o Senhor faz um sinal em Caim
para que a sua vida fosse poupada.
Que sinal era este? Não o sabemos. A Bíblia limita-se a descrever: "E pôs o SENHOR um
sinal em Caim, para que não o ferisse qualquer que o achasse" (Gn 4.15). Em hebraico, a
palavra usada para sinal é oth que, entre outras coisas, denota: marca, indício,
estandarte e até milagre. Ali estava a marca do homicida; o indício de que um crime fora
praticado; o estandarte do sangue inocente e a mensagem dramática de um Deus que,
conquanto vingue os justos, tudo faz por levar o culpado ao arrependimento.
3. O primeiro código penal da história. O sinal que o Senhor Deus imprimiu em Caim
funcionou como um admirável e sintético código penal. Todos os que para ele olhassem,
conscientizar-se-iam de que nenhum crime haverá de ficar impune diante de Deus.
A CIVILIZAÇÃO DE CAIM
Fugindo da presença do Senhor, imigrou Caim para a região de Node, onde fundou uma
cidade a qual deu o nome de seu filho, Enoque. Tinha começo ali, bem ao oriente do Éden,
uma civilização que, embora brilhante, seria marcada pela violência e por um
materialismo extremado (Gn 4.16-26).
1. Avanço tecnológico. Tubalcaim fez-se notório por dominar a técnica metalúrgica (Gn
4.22). Sem dúvida alguma, foi ele também o primeiro armeiro da história. Logo a seguir,
temos o cântico da espada que seria entoado por seu pai, Lameque.
2. O cântico da espada. Certo dia, o bígamo Lameque conclama suas esposas, e recitalhes um poema que ficaria conhecido como o cântico da espada: "Ada e Zilá, ouvi a minha
voz; vós, mulheres de Lameque, escutai o meu dito: porque eu matei um varão, por me
ferir, e um jovem, por me pisar. Porque sete vezes Caim será vingado; mas Lameque,
setenta vezes sete" (Gn 4.23,24).
Desde Caim o mundo continua o mesmo. A cada assassinato, entoa-se o cântico de
Lameque. Haja vista as músicas de rock e funk que incitam os jovens às drogas e à
violência. O mandamento divino, porém, é: "Amai-vos uns aos outros".
Só há um caminho para se fugir ao caminho de Caim: Amar ao próximo como a si mesmo.
Esta é a Lei e os Profetas. Quem não ama ao semelhante jamais poderá viver como
discípulo de Nosso Senhor.
Você ama a seu irmão? Ou está pronto a executá-lo como o fez Caim? Não se deixe levar
pela inveja nem pelo ódio. Curve-se diante de Deus, e considere a todos como superiores a
si. E você verá como o amor de Deus será derramado em seu coração.
Balaão
"Os quais, deixando o caminho direito, erraram seguindo o caminho de Balaão, filho de
Beor, que amou o prêmio da injustiça" (2Pe 2.15).
Quem se põe a comercializar as coisas de Deus só terá um prêmio a receber: a maldição
eterna no lago de fogo.
Em que consistiu a "iniqüidade de Balaão"? Não era ele um professo adorador de Jeová?
Que prêmio seria suficientemente tentador para desviá-lo do Todo-Poderoso e motivá-lo a
amaldiçoar os escolhidos de Deus?
Por não poder amaldiçoar a Israel, Balaão tentou corrompê-lo, levando os hebreus a
adotarem idéias pagãs, envolverem-se com mulheres moabitas e mergulharem na idolatria
e em seus vícios.
Judas em sua epístola advertiu aos crentes a que não caíssem no engodo dos falsos
obreiros que, seguindo a doutrina de Balaão, intentavam unir a Igreja de Cristo ao
paganismo, conduzindo-a à imoralidade e desonra.
Balaão, o "profeta do erro", legou à posteridade um péssimo exemplo de apostasia,
corrupção e mercenarismo. Abdicando da verdade, santidade e justiça, prerrogativas que
bem caracterizam os profetas de Deus, cedeu à tentação do sucesso e do lucro material,
fazendo Israel envolver-se no culto idólatra dos moabitas e em suas práticas imorais.
Desde então, Balaão passou a ser símbolo dos falsos mestres, que fazem de tudo para
desencaminhar e corromper espiritual e moralmente o povo de Deus.
Quem é o apóstata? É aquele que, embora convencido da veracidade das Sagradas
Escrituras, não hesita em torcê-la, desde que isso lhe traga ganhos e notoriedade. E como
já vendeu a própria alma ao Diabo, não tem nenhum escrúpulo em comerciar com as
almas dos santos.
Veremos que prêmio recebeu esse obreiro mercenário, que Judas escolheu para tipificar
todos os que desprezam as coisas divinas, e porfiam em buscar as terrenas e perecíveis.
QUEM FOI BALAÃO
Apesar de estrangeiro, possuía Balaão um conhecimento privilegiado de Deus. Era tido
inclusive como profeta. Todos lhe procuravam o conselho, pois dominava, e bem, a arte de
amaldiçoar (Nm 23.11). Não sabemos se ele sabia abençoar, pois a maldição era a sua
ciência predileta. Segundo consta, era originário da Mesopotâmia (Dt 23.4).
Tivera ele buscado a justiça e a piedade, estaria no rol daqueles gentios destacados no
Sagrado Livro. Refiro-me a Melquisedeque, a Jó, ao mancebo Eliú e a Jetro. Infelizmente,
preferiu ele o prêmio da impiedade. Hoje é lembrado não como profeta de Deus, mas como
um mero e cobiçoso adivinho (Js 13.22).
A DOUTRINA DE BALAÃO
O pastor John H. Sailhamer afirmou que Balaão foi à procura de ganhos pessoais não se
importando com a destruição da Obra de Deus. Era ele um negociante que não conhecia
escrúpulos; não ligava importância quer à ética pessoal, quer à postura ministerial. Era
um obreiro que gostava de levar vantagem em tudo.
1. Ele sabia que não se pode amaldiçoar o povo de Deus. Como amaldiçoar a Israel, se
Israel era o objeto de todas as bênçãos de Deus? Balaão o sabia muito bem (Nm 24.10).
Todavia, preferiu namorar o prêmio de Balaque .
Se tu, obreiro, não queres te corromper como Balaão, foge dos homens corruptos. Se com
os corruptos ficares, corrompido tornar-te-ás (2Tm 3.5).
2. Ele sabia que Israel era povo de Deus. Haja vista as profecias que enunciou ao
presenciar o arraial hebreu. Leia com atenção o capitulo 24 de Números.
Não são poucos os obreiros e teólogos que, apesar de terem uma clara visão da Igreja
como povo de Deus, induzem-na ao mundanismo e à frialdade espiritual, pois somente
assim poderão conquistar o prêmio de Balaão. Sabem eles muito bem que jamais poderão
corromper uma igreja avivada, por isso lutam por tirar da igreja todo o avivamento. Mas o
que eles não sabem é que o Senhor Jesus zela por sua amada, e por sua amada há de
batalhar até às últimas consequências.
3. Ele sabia usar a teologia para corromper. Nunca se criou tantas teologias e modismos
para se corromper o povo de Deus. É a teologia da prosperidade. É a confissão positiva. É
a profissionalização do ministério. É a adoção dos costumes mundanos. É a glorificação
da injustiça. E o que mais direi? Sofismando os mais caros enunciados bíblicos e
teológicos, os tais obreiros lançam tropeços diante dos filhos de Deus.
Assim agiu Balaão. Como não pudesse amaldiçoar a Israel, tornou Israel objeto da
maldição de Deus. O que fez ele? O próprio Cristo discorre sobre as proezas teológicas do
profeta mercenário, corrupto e corruptor: "Mas umas poucas coisas tenho contra ti,
porque tens lá os que seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a lançar
tropeços diante dos filhos de Israel para que comessem dos sacrifícios da idolatria e se
prostituíssem" (Ap 2.14).
Devidamente instruído por ele, Balaque introduziu mulheres pagãs e desavergonhadas no
arraial dos israelitas, induzindo-os a comerem comidas sacrificadas aos ídolos e a se
prostituírem.
Assim agem os obreiros fraudulentos. Corrompem sutilmente os santos, a fim de lhes
roubar os haveres e de lhes arrebatar as almas. O que mais almejam é o prêmio de
Balaão.
O PRÊMIO DE BALAÃO
O prêmio de Balaão pode ser definido como o galardão daqueles obreiros que, além de se
corromperem, fazem de tudo por corromper a Palavra de Deus e a Igreja de Cristo. Os que
assim agem, afirma o comentarista inglês Mattew Henry, em nada diferem dos três mais
notáveis criminosos do Antigo Testamento: Caim, Coré e o próprio Balaão.
Acerca destes, brada o apóstolo Judas: "Ai deles! Porque... foram levados pelo engano do
prêmio de Balaão" (Jd 11). A expressão engano, no original grego, denota um indivíduo
errante e desviado, que jamais conseguirá achar-se. E o substantivo prêmio - misthós refere-se a uma recompensa, salário ou pagamento. A palavra é usada para descrever o
mercenário que, em busca de seu prêmio, torce a Palavra de Deus e deixa-se corromper
no ministério cristão.
É claro que o obreiro é digno de seu salário (Lc 10.7, 2Tm 2.15). Todavia não podemos
fazer comércio do povo de Deus (2Pe 2.3), nem agir por torpe ganância (1Tm 3.3). Eis o
que recomenda Paulo: "Em tudo, te dá por exemplo de boas obras; na doutrina, mostra
incorrupção, gravidade, sinceridade" (Tt 2.7).
A sedução do obreiro começa quando, premido pelas circunstâncias, já não fala o que a
igreja precisa ouvir, mas o que determinados grupos querem escutar. Ele já não zela pela
sã doutrina; está mais interessado em agradar aos poderosos do que ao Todo-Poderoso.
O obreiro se deixa seduzir quando vende a consciência para angariar os bens que aqui
terminam e aqui se acabam. Lembra-te, porém, querido obreiro: não foste chamado para
seres um homem do povo, mas um provado e legitimado homem de Deus. Não te deixes
corromper pelo ouro de Balaque. Jamais coloques tropeço diante dos santos; os maus
obreiros não ficarão impunes. O Deus que agiu no Antigo Testamento continua ativo e
vigilante. Ele não tosqueneja.
Como está a nossa consciência? Tentados pelos prêmios deste mundo, respondamos como
Daniel diante do oferecimento do corrompido Belsazar: "As tuas dádivas fiquem contigo, e
dá os teus presentes a outro" (Dn 4.17).
"Os israelitas, na fase final de sua viagem à Terra Prometida, circundando Moabe,
acamparam-se no vale do Jordão, defronte a Jericó. Desse lugar, movimentaram-se rumo
ao norte, e conquistaram Seom, rei dos amorreus, em Gileade; e Ogue, rei de Basã. O rei
Balaque, de Moabe, ao assistir toda essa movimentação, teve o bom senso para perceber
que Israel obtinha suas vitórias não por causa de seus exércitos, mas porque Deus os
abençoava, conduzindo-os de triunfo em triunfo. Balaque temia que Moabe fosse a
próxima conquista de Israel. Mas os seus temores eram infundados, porque Deus havia
instruído a Israel que o deixasse em paz (Dt 2.9). Como Balaque não sabia disso, resolveu
lutar contra Israel. Todavia, como vencer o povo de Deus ? Havia somente um jeito.
Encontrar alguém que pudesse desviar os favores divinos de Israel. Assim, ordenou que
trouxessem do Eufrates a Balaão. Em seguida, exigiu que o profeta amaldiçoasse o arraial
hebreu. Através da jumenta, porém, o Senhor advertiu a Balaão que o não fizesse (Nm
22.35).
Embora dissesse ser Yahweh o seu Deus (Nm 22.18), ele demonstrou ser ainda levado por
atitudes pagãs. Pois instruiu a Balaque a oferecer vários sacrifícios, em lugares
predeterminados, como o faziam os idólatras. O que ele buscava, desde o início, era de
fato forçar a Deus a amaldiçoar a Israel. Mas, ao invés de amaldiçoar os israelitas, o
Senhor os abençoou ainda mais.
Corá
"Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniquidade e idolatria"
(1Sm 15.23).
De que maneira vocês gostariam de ser lembrados em relação a obra de Deus? Como
obreiros diligentes e abençoados ou como tropeços e causadores de dissidências?
Corá, que era levita, não é lembrado por seus préstimos à liturgia do tabernáculo ou ao
ensino da lei do Senhor, mas por sua rebeldia contra Moisés e o próprio Deus. Invejoso
por Moisés ter sido escolhido por Deus para liderar o povo, Corá pôs-se a criticá-lo e
levantou um grupo para apoiar sua revolta, dificultando a liderança do servo de Deus.
Ainda hoje há obreiros que se enveredam pelo caminho de Corá. Eles se esquecem de que
Deus não aceita o trabalho de quem é insubmisso aos seus reais representantes.
Corá foi punido por sua rebeldia, e com ele todos os seus seguidores.
O inspirado comentarista norte-americano, Warren Wiersbe, assim discorre acerca da
rebelião de Corá, Datã e Abirão: "Os que imitam a Corá estão a desafiar a Palavra de Deus
e aos ministros por ele constituído".
Infelizmente, o pecado de Corá não pereceu com Corá. Muitos têm sido os imitadores do
rebelado obreiro. Lembra-se de Abimeleque? Do jovem Absalão? E de Alexandre, o
latoeiro? Eles todos imitaram a Corá, que era, por seu turno, um perfeito imitador do
Diabo.
Vejamos como o apóstolo Judas usa a imagem de Corá a fim de retratar os que se rebelam
contra Deus e contra os seus ministros.
QUEM ERA CORÁ
Corá era um obreiro que tinha tudo para dar certo. Pertencia a tribo de Levi; possuía uma
subsistência vitalícia e, por todos os seus irmãos, era ele honrado. Além disso, achava-se
entre a nobreza de Israel.
Só havia um problema com Corá; não tinha a cabeça no lugar. Assemelhava-se a muitos
obreiros que, de ministério em ministério e de convenção em convenção, vivem a causar
divisões e cismas na Obra de Deus.
Tivesse ele mais paciência e humildade, receberia certamente uma elevada honra na Casa
de Levi. Infelizmente, Corá era um obreiro mui pretensioso; achava que o mundo girava
em torno de si.
A CONTRADIÇÃO DE CORÁ
O capitulo 16 de Números revela-nos ter sido Corá um obreiro que era a mesma
pretensão. Vejamos até onde chegavam o orgulho, a vaidade e as demandas desse obreiro.
1. Seu orgulho espiritual. Corá era do tipo de obreiro que se orgulhava de ser humilde. Eis
o que disse a Moisés: "Demais é já; pois que toda a congregação é santa, todos eles são
santos, e o SENHOR está no meio deles; por que, pois, vos elevais sobre a congregação do
SENHOR?" (Nm 16.3).
Atrás de todo esse vocabulário piedoso, havia um irreprimível espírito de rebeldia. Nas
entrelinhas, estava Corá a dizer que, já que toda a congregação era santa, por que
precisaria de um pastor?
Lembra-se daqueles crentes de Corinto que, batendo no peito, afirmavam ser apenas de
Jesus? São os piores. Pelo menos os que se diziam de Paulo, a Paulo obedeciam; os que
diziam ser de Cefas, a Cefas se curvavam. Mas os que afirmavam pertencer apenas a
Jesus, implicitamente declaravam que, para eles, não havia pastor, nem presbítero, nem
diácono. Não aceitavam nenhum líder. Eles parecem espirituais e até santos, mas os seus
frutos mostram que, na verdade, são soberbos, desobediente e rebeldes.
2. O inconformismo de Corá. Corá era do tipo de obreiro que jamais se conformou com o
cargo que lhe confiara o Senhor. Não lhe bastava o sacerdócio; queria o lugar de Aarão.
Aliás, já exigia o posto de Moisés.
Infelizmente, não são poucos os obreiros que vem imitando a Corá. Se diáconos, não se
preocupam em servir; cobiçam o presbiterado. Já presbíteros, almejam a cadeira do
pastor. Todavia, não servem, nem consolam nem pastoreiam. Buscam uma glória que,
definitivamente, de nada lhes aproveita.
Ao pretensioso e inconformado Corá, exorta Moisés: "Porventura, pouco para vós é que o
Deus de Israel vos separou da congregação de Israel para vos fazer chegar a si, a
administrar o ministério do tabernáculo do SENHOR e estar perante a congregação para
ministrar-lhe?" (Nm 16.9).
Do Senhor, querido obreiro, tens recebido as maiores honras e deferências. Por isso, não
te deixes levar pelas revoltas. Agradece a Deus pelo ministério que Ele te confiou.
3. A desobediência de Corá. Além de orgulhoso e inconformado, o bando de Corá era
desobediente. Quando Moisés convocou a Datã e a Abirão para uma reunião de prestação
de contas, responderam eles: "Não subiremos" (Nm 16.13).
Como é difícil lidar com o desobediente! Ele não obedece a ninguém. Prestar contas? Nem
pensar. Todavia, o obreiro que tem o hábito de prestar contas à sua convenção, ao seu
pastor-presidente, ao seu ministério, à sua igreja e à sua família, jamais cairá em certas
contradições e pecados.
4. A contradição de Corá. Diz Judas que Corá pereceu em sua própria contradição. Em
grego, antilogía. O vocábulo não significa apenas contradição, mas também controvérsia.
Isto significa que Corá vivia para criar controvérsia entre o povo de Deus. E as suas
controvérsias acabaram por criar toda uma congregação de rebeldes.
A CONGREGAÇÃO DOS REBELDES
Diz o texto sagrado que Corá e o seu bando congregaram-se contra Moisés (Nm 16.3). Em
tudo pareciam uma igreja bem constituída. Achavam-se organizados, possuíam um guia,
faziam uso de um vocabulário místico e ostensivamente professavam o nome de Deus.
Todavia, não passavam de uma congregação de rebeldes.
Temos de estar bem atentos aos que se congregam para se rebelarem contra a Obra de
Deus.
1. O rancho dos profetas. Não são poucos os profetas que se reúnem para jogar a igreja
contra o seu pastor e o pastor contra o ministério. Brincando com o nome de Deus e
abusando dos dons espirituais, destroem lares e reputações. Parecem ovelhas, mas não
passam de lobos; dilapidam o patrimônio dos santos e o tesouro da igreja.
Se você tem algum problema, não saia por aí à cata de profecias. Fale com o seu pastor.
Se Deus lhe tem alguma palavra profética, esta certamente virá. Consulte a Bíblia - a
inspirada, inerrante e infalível Palavra de Deus.
Quanto aos que detém o dom profético, que se conscientizem: 1) O dom não lhes pertence,
é uma dádiva divina; 2) A direção da igreja não foi confiada aos que receberam os dons
espirituais, mas aos que o Senhor confiou os dons ministeriais (Ef 4.8-11); 3) Insurgir-se
contra o pastor da igreja e seu ministério significa rebeldia; é um pecado tão grave quanto
o de feitiçaria (1Sm 15.23).
Bibliografia Pr A. Gilberto - Em http://www.ebdareiabranca.com/Judas/Judas12.htm
OS MURMURADORES E SUAS CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS
Inveja
Quando a grama parece mais verde do outro lado de sua cerca, é bem possível que ela
seja mais bem cuidada.
A inveja é muito semelhante ao vento; açoita os cumes mais altos. José Ingenieros
afirmou que "A inveja é um atestado de inferioridade a serviço da superioridade do
invejado; estigma psicológico de humilhante inferioridade, sentida, reconhecida".
A inveja é uma confissão de inferioridade. Uma das coisas mais tristes da inveja e a sua
pequenez: o estrito espaço dentro do qual ela se move. Ser invejoso é girar, eternamente,
como um rato preso numa gaiola, dentro do alto-raio da maldade. A inveja nasce na
incapacidade própria.
O motivo deste sentimento se confunde com o da admiração, sendo ambos dois aspectos
de um mesmo fenômeno: a admiração nasce no forte, e a inveja no subalterno. Todo
invejoso é tirano e verdugo; sofre por que os outros são venturosos. Vejamos dois
exemplos bíblicos:
1- Os filisteus invejavam a prosperidade de Isaque que, em pouco tempo, por fidelidade a
Deus, tornou-se muito rico.
Gn 26. 14-15 “possuía ovelhas e bois e grande número de servos, de maneira que os
filisteus lhe tinham inveja. E, por isso, lhe entulharam todos os poços que os servos de
seu pai haviam cavado, nos dias de Abraão, enchendo-os de terra”.
2- Em Tessalônica, os judeus desobedientes queriam matar Paulo, o apóstolo e Silas, pois
muitos creram na Palavra. Uma verdadeira multidão de gregos religiosos "E não poucas
mulheres distintas". O verso seguinte afirma que queriam matá-los:
At 17. 4-5 “Alguns deles foram persuadidos e unidos a Paulo e Silas, bem como numerosa
multidão de gregos piedosos e muitas distintas mulheres. Os judeus, porém, movidos de
inveja, trazendo consigo alguns homens maus dentre a malandragem, ajuntando a turba,
alvoroçaram a cidade e, assaltando a casa de Jasom, procuravam trazê-los para o meio do
povo. ”
O estímulo é a paixão das almas nobres; a inveja, um suplício das almas vis. A inveja é
vilania, é fuga, na destruição. Estímulo é coragem, é esforço, é ideal. A inveja provoca
mais desgraças do que a miséria.
Essa doença terrível e maligna tomou conta dos sacerdotes e dos anciãos que, vendo o
sucesso de Jesus, abriram as suas "Matracas" para prejudicá-lo e denegrir a sua imagem:
Mt 27. 17-18 “Estando, pois, o povo reunido, perguntou-lhes Pilatos: A quem quereis que
eu vos solte, a Barrabás ou a Jesus, chamado Cristo? Porque sabia que, por inveja, o
tinham entregado”.
Assim como a ferrugem consume o ferro, a inveja com somente o invejoso. O autor dos
provérbios declara que:
Pv 14.30 “O ânimo sereno é a vida do corpo, mas a inveja é a podridão dos ossos”.
Os médicos afirmam que os invejosos, com facilidade adquirem doenças malignas. É uma
espécie de cárie dos ossos; é uma paixão abjeta e servil.
A inveja não está isenta de uma espécie de cobiça e, muitas vezes essas duas paixões se
confundem. "A inveja é o tributo que a mediocridade paga ao mérito", disse alguém.
Tg 3.14 “Se, pelo contrário, tendes em vosso coração inveja amargurada e sentimento
faccioso, nem vos glorieis disso, nem mintais contra a verdade”.
A amarga inveja é o vício que impele a pessoa a cuidar somente dos seus próprios
interesses. A inveja ou ambição egoísta na igreja é um câncer.
Quando a inveja toma conta de pessoas desavisadas e mal orientadas, como a Arão e
Miriã, irmãos de Moisés, as suas línguas se soltam e, pela insatisfação, surgem as
murmurações.
Maldade
A maldade sempre está no mesmo pacote da inveja e do ciúme. Quem pratica mal
conscientemente, desconsidera por completo a mensagem da Cruz.
Todo serviço cristão, por mais sua do que seja, pode perder completamente o seu valor, se
houver maldade naquilo que é feito. O profeta Isaías falando ao povo de Judá faz uma
advertência:
Is 1.16 “Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos;
cessai de fazer o mal. ”
Toda maldade ofende o coração santo de Deus. Tão certo como Deus é Amor, é
inadmissível a aceitar a tese de que existe um mal necessário. Normalmente, as pessoas
maldosas estão envolvidas por sérios problemas, pois a seta do mal é como um de
bumerangue: sempre volta para o ponto de partida.
Voltaire disse uma coisa certa: "O mal tem asas, mas o bem anda com passos de
tartaruga". Às vezes me parece que todo custo e dissimulação de coisas ruins fizeram
curso de pós-graduação. Acho incrível como algumas pessoas possuem o dom de serem
tão maldosas!
Sou da opinião de que, por coisa nenhuma deste mundo, nem por amor de quem quer
que seja, se deve praticar o mal. O mal é sempre despótico e escravizador. É de suma
importância conservar a livre do mal as grandes janelas da nossa alma. O apóstolo Paulo
aconselhou os crentes da Galácia:
Gl 6.9 “E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não
desfalecermos. ”
Quando plantamos o bem, colhemos benefícios; quando semeamos a maldade, colhemos
encrenca da pior espécie.
Calúnia
Contar o defeito de alguém é murmurar, quando não é caluniar.
Os caluniadores são filhotes de demônios que vieram à luz com uma missão maléfica e,
como funcionários das trevas, não medem esforços para difamar pessoas, denegrir
imagens e engendrar mentiras. Se, em algum ambiente, não há problemas, eles inventam;
são inimigos da paz; questionam decisões; não respeitam autoridades disseminam o mal.
Os Caluniadores são cegos e, ao mesmo tempo, veem demais. Não enxergam as virtudes,
mas ficam sabendo de todos os defeitos de todas as pessoas.
Caluniar é fácil. Não exige nenhum preparo especial. Quem se a lista nesta profissão,
basta colocar a língua à disposição de dos malfeitores. A inspiração, sem dúvida, virá das
trevas. No Velho Testamento era muito comum a terra engolir os caluniadores. Na nova
dispensação, eles deitam e rolam, pois a graça de Deus é paciente, e o amor Ágape tudo
espera. Mas a calúnia está na lista das terríveis abominações que aparece nas Escrituras.
O caluniador é um assassino moral. Na hora oportuna, no tempo de Deus, todos os que
estiverem arrolados neste serviço diabólico terão a sua paga. Nenhum pecado de calúnia
ficará impune, pois o próprio Maligno é um patrão que nunca deixa os seus funcionários
sem receber o seu pagamento.
Hipocrisia
Hipocrisia é ocultar com arte dissimulação um vício sob a aparência de virtude.
Hipocrisia é o ato da pessoa fingir ser aquilo que não é. Por exemplo, fingir em público ser
crente piedoso e fiel, enquanto na realidade, acalenta pecados ocultos de imoralidade,
cobiça, concupiscência e outros mais.
Em Lucas Jesus afirma que o fermento dos fariseus é a hipocrisia, e acrescenta:
Lc 12.1-3 “Posto que miríades de pessoas se aglomeraram, a ponto de uns aos outros se
atropelarem, passou Jesus a dizer, antes de tudo, aos seus discípulos: Acautelai-vos do
fermento dos fariseus, que é a hipocrisia. Nada há encoberto que não venha a ser
revelado; e oculto que não venha a ser conhecido. Porque tudo o que dissestes às escuras
será ouvido em plena luz; e o que dissestes aos ouvidos no interior da casa será
proclamado dos eirados”.
O hipócrita é um enganador, em se tratando da retidão prática. Uma vez que a hipocrisia
envolve viver a mentira, isto faz do hipócrita um cooperador e aliado de Satanás, o pai da
mentira.
Jo 8.44 “Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi
homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade.
Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da
mentira.”
No texto acima, Jesus adverte seus discípulos, dizendo-lhe que toda hipocrisia e pecado
oculto serão descobertos, se não nesta vida, certamente o será no dia do juízo.
Rm 2.16 “no dia em que Deus, por meio de Cristo Jesus, julgar os segredos dos homens,
de conformidade com o meu evangelho”.
1Co 3.13 “manifesta se tornará a obra de cada um; pois o Dia a demonstrará, porque está
sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará”.
Ap 20.12 “Vi também os mortos, os grandes e os pequenos, postos em pé diante do trono.
Então, se abriram livros. Ainda outro livro, o Livro da Vida, foi aberto. E os mortos foram
julgados, segundo as suas obras, conforme o que se achava escrito nos livros”.
A hipocrisia é um sinal de que a pessoa não teme a Deus, nem possui o Espírito Santo
com sua graça regeneradora.
Rm 8.5-14 “Porque os que se inclinam para a carne cogitam das coisas da carne; mas os
que se inclinam para o Espírito, das coisas do Espírito. Porque o pendor da carne dá para
a morte, mas o do Espírito, para a vida e paz. Por isso, o pendor da carne é inimizade
contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar. Portanto, os que
estão na carne não podem agradar a Deus. Vós, porém, não estais na carne, mas no
Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós. E, se alguém não tem o Espírito de
Cristo, esse tal não é dele. Se, porém, Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto
por causa do pecado, mas o espírito é vida, por causa da justiça. Se habita em vós o
Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo que ressuscitou a
Cristo Jesus dentre os mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por meio do seu
Espírito, que em vós habita. Assim, pois, irmãos, somos devedores, não à carne como se
constrangidos a viver segundo a carne. Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais
para a morte; mas, se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, certamente, vivereis.
Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus”.
1Co 6.9-10 “Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos
enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas,
nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o
reino de Deus.”
Quem permanecer nesta condição não poderá escapar da condenação do inferno.
Mt 23.13 “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque fechais o reino dos céus diante
dos homens; pois vós não entrais, nem deixais entrar os que estão entrando!”.
A hipocrisia é um mal que ronda os corações daqueles que se dizem povo de Deus. A
advertência bíblica geralmente é voltada para os religiosos ou para aqueles que estão
cultuando a Deus. Paulo está escrevendo a crentes quando diz:
Rm 12.9 “O amor seja sem hipocrisia. Detestai o mal, apegando-vos ao bem”.
Escrevendo ao jovem o obreiro Timóteo, lembra:
1 Tm 1.5 “Ora, o intuito da presente admoestação visa ao amor que procede de coração
puro, e de consciência boa, e de fé sem hipocrisia”.
O povo de Deus deve se vestir com vestimentas de verdade.
Ef 4.25 “Por isso, deixando a mentira, fale cada um a verdade com o seu próximo, porque
somos membros uns dos outros”.
A hipocrisia é a homenagem que a verdade presta à falsidade. O hipócrita é um santo
pintado: tem as mãos postas, mas não ora: o livro nas mãos, mas não lê: os olhos no
chão, mas não se desestima. Um hipócrita é como um punhal: Uma lâmina assassina
engastada numa cruz. O padre Antônio Vieira escreveu: "Este mundo está cheio de
hipócritas, e quase todos são Cireneus que, levando a Cruz, não morrem nela".
Vingança
A vingança mesquinha é exercida sempre por aqueles que, sendo irremediavelmente
pequenos, não aceitam que alguns sejam grandes.
Os murmuradores, quando veem os seus intentos fracassarem, muitas vezes se tornam
vingativas, procurando prejudicar a pessoa que era alvo dos seus atos maléficos. A
vingança é sempre um falaz prazer de uma mente estreita, rude e obtusa. Francis Bacou
disse que "Aquele que só pensa na vingança impede que os seus próprios ferimentos
cicatrizem". No livro Deuteronômio Deus foi taxativo:
Dt 32.35 “A mim me pertence a vingança, a retribuição, a seu tempo, quando resvalar o
seu pé; porque o dia da sua calamidade está próximo, e o seu destino se apressa em
chegar”.
Esta palavra é repetida no Novo Testamento:
Rm 12.19 “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está
escrito: A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor. ”
Hb 10:30 “Ora, nós conhecemos aquele que disse: A mim pertence a vingança; Eu
retribuirei. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo. ”
Usar da vingança com o mais forte é loucura; com o igual é perigo; e com o inferior é
vileza. De qualquer forma, a vingança é fruto de um coração amargurado. O desejo de
vingança pode se transformar uma doença crônica que, paulatinamente, vai matando o
vingador. Deus sempre foi muito claro com seu povo.
Lv 19.18 “Não te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o
teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o SENHOR”.
Os filhos de Deus devem fugir da vingança, como o diabo foge da cruz, porque a vingança
é uma ambrósia: quem come sempre deseja mais; é como água de sal, quanto mais se
bebe mais sede se tem.
Os murmuradores transportam em suas aljavas muitas flechas inflamadas e a vingança é
que mata mais rápido.
Incredulidade
A descrença não é um problema do intelecto, mas da vontade.
A incredulidade é a raiz da qual se originam todos os demais pecados. Foi depois que Eva
permitiu a incredulidade penetrar no seu coração que ela respondeu favoravelmente ao
tríplice apelo da tentação. A incredulidade é a irmã da ignorância e filha da vaidade e
acompanha sempre os murmuradores. Ora, todo murmurador possui também este traço
negativo, dureza do coração:
Mc 16.14 “Finalmente apareceu Jesus aos onze, quando estavam à mesa, e censurou-lhes
a incredulidade e dureza de coração, porque não deram crédito aos que o tinham visto já
ressuscitado”.
Em todo o escopo das escrituras é a incredulidade que afasta o povo do seu Deus. Daí a
recomendação tão incisiva do autor de Hebreus:
Hb 3.12 “Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso
coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo”;
Uma geração incrédula se torna perversa; Um povo incrédulo sintoniza os ídolos; um
indivíduo incrédulo geralmente é um murmurador.
Mt 17.17 “Jesus exclamou: Ó geração incrédula e perversa! Até quando estarei convosco?
Até quando vos sofrerei? Trazei-me aqui o menino”.
A incredulidade sufoca a fé; ata as mãos da onipotência divina. Onde há incredulidade
não há mover de Deus, não há manifestação da graça divina. Em contrapartida, o dom de
"Línguas compridas" prolifera à vontade.
Ingratidão
Toda a natureza responde a Deus pelos benefícios que recebe, e o homem?
A ingratidão é uma forma de fraqueza. Jamais conheci alguém de valor que fosse ingrato.
A gratidão é a memória do coração, mas a ingratidão é a falta de memória. A ingratidão
sofre de miopia. Timothy Dexter afirmou que "O homem de coração ingrato é semelhante a
um porco que se refalseia com as bolotas do carvalho, mas nunca olha para cima a fim de
verificar a sua procedência".
Quando Jesus aparece extremamente decepcionado? Imediatamente após a cura de dez
leprosos.
Lc 17.11-19 “De caminho para Jerusalém, passava Jesus pelo meio de Samaria e da
Galiléia. Ao entrar numa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez leprosos, que ficaram de
longe e lhe gritaram, dizendo: Jesus, Mestre, compadece-te de nós! Ao vê-los, disse-lhes
Jesus: Ide e mostrai-vos aos sacerdotes. Aconteceu que, indo eles, foram purificados. Um
dos dez, vendo que fora curado voltou, dando glória a Deus em alta voz, e prostrou-se com
o rosto em terra aos pés de Jesus, agradecendo-lhe; e este era samaritano. Então, Jesus
lhe perguntou: Não eram dez os que foram curados? Onde estão os nove? Não houve,
porventura, quem voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro? E disse-lhe:
Levanta-te e vai; a tua fé te salvou.”
Até hoje Jesus está esperando pelos nove leprosos curados. Isto não é incrível? A lepra era
e é uma doença terrível, mas a ingratidão pode ser considerada como a lepra do coração.
Alguns teólogos, inclusive, acham que a ingratidão é o mais horrendo de todos os
pecados. Não é de se admirar, pois, que os murmuradores possuam fortemente esta
característica em suas vidas.
Alguns comportamentos da nossa sociedade são profundamente deprimentes, mas nunca
vi nada mais dolorido do que a rebelião de um filho contra seus pais. Shakespeare chegou
a dizer: "Mais cortante que o dente da serpente é ter um filho ingrato".
Toda a natureza responde a Deus pelos benefícios que recebe. A terra, agradecida pela
chuva, respondo enfeitando-se de verde produzindo flores e frutos. Os pássaros, um
gorjeando, saltitam de galho em galho, louvando a Deus. O homem é o ser mais ingrato da
face da terra. Mas Deus espera que o seu povo, no mínimo reconheça que todas as coisas
emanam dos céus. Esta revelação evita a murmuração.
Talvez o ditado popular mais conhecido seja este: "Ninguém cuspa no prato que comeu".
Quando alguém precisa justificar a sua postura ingrata, acaba por cometer o pecado da
injúria e, quanto mais tenta se explicar, mais tendente fica a murmurar.
Ingratidão tira afeição.
Orgulho
É duro aturar uma pessoa orgulhosa. Ela cospe para todos os lados, considera-se
superior e jamais será capaz de dizer como Anaxarco: "Só sei que nada sei". (pensamento
de Sócrates)
Jesus fala de um fariseu orgulhoso:
Lc 181-14 “Disse-lhes Jesus uma parábola sobre o dever de orar sempre e nunca
esmorecer: Havia em certa cidade um juiz que não temia a Deus, nem respeitava homem
algum. Havia também, naquela mesma cidade, uma viúva que vinha ter com ele, dizendo:
Julga a minha causa contra o meu adversário. Ele, por algum tempo, não a quis atender;
mas, depois, disse consigo: Bem que eu não temo a Deus, nem respeito a homem algum;
todavia, como esta viúva me importuna, julgarei a sua causa, para não suceder que, por
fim, venha a molestar-me. Então, disse o Senhor: Considerai no que diz este juiz iníquo.
Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora pareça
demorado em defendê-los? Digo-vos que, depressa, lhes fará justiça. Contudo, quando
vier o Filho do Homem, achará, porventura, fé na terra? Propôs também esta parábola a
alguns que confiavam em si mesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os
outros: Dois homens subiram ao templo com o propósito de orar: um, fariseu, e o outro,
publicano. O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus,
graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros,
nem ainda como este publicano; jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo
quanto ganho. O publicano, estando em pé, longe, não ousava nem ainda levantar os
olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador! Digo-vos
que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que se exalta será
humilhado; mas o que se humilha será exaltado. ”
E já inicia sua oração desconsiderando um pobre publicano que também estava orando
no templo. O fariseu orava de si para si mesmo, desta forma:
Lc 18.11 “O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças
te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem
ainda como este publicano”;
O fariseu era um religioso perfeito, mas presunçoso; e a presunção é a companheira mais
íntima da ignorância do que do conhecimento.
Aquele que se orgulha do que faz e se engrandece pelo que sabe não passa de ignorante.
Nós ascendemos em glória quando abatemos o nosso orgulho; onde haja jactância
termina, começa a dignidade. É por isso que Jesus disse a respeito do publicando: "Ele foi
justificada para casa". Ora o publicano orava assim: "Ó Deus, sê propício a mim pecador!"
e batia no peito, humildemente, reconhecendo a sua dependência absoluta de Deus.
Uma das maiores provas de mediocridade é não reconhecer a superioridade dos outros. O
orgulho xinga, mente, exagera, julga, despreza e aí por diante. O orgulho é uma flor que
cresce no jardim de Satanás. "Foi um orgulho que transformou anjos em demônios", disse
um pregador.
Isaac de Stella disse que "Mais cedo ou mais tarde os olhares orgulhosos dos homens
serão abatidos e a soberba dos mortais será humilhada". O homem orgulhoso raramente é
um homem grato por que ele nunca considera que conseguiu tudo que merece.
Não é por acaso que os murmuradores são todos orgulhosos. Falar mal dos outros e
diminuir as pessoas são características dos orgulhosos. Eles olham as pessoas de cima
para baixo, levantam a cabeça e abrem as asas. Parece-me que todos os orgulhosos têm
complexo de pavão. A bíblia diz:
Pv 21.4 “Olhar altivo e coração orgulhoso, a lâmpada dos perversos, são pecado”.
Paulo o apóstolo, diz nos como deve ser o relacionamento entre irmãos:
Rm 12.16 “Tende o mesmo sentimento uns para com os outros; em lugar de serdes
orgulhosos, condescendei com o que é humilde; não sejais sábios aos vossos próprios
olhos”.
Bibliografia Sinomar Fernandes
A VERDADEIRA LIBERDADE
Uma das melhores maneiras de compartilhar o evangelho com os homens e as mulheres
de hoje é apresentá-lo em termos de liberdade. Existem pelo menos três argumentos que
podem ser usados nessa abordagem.
Primeiro, a liberdade é um assunto extremamente atraente. A revolta mundial contra a
autoridade, iniciada na década de sessenta, é vista como sinônimo de uma busca mundial
por liberdade. Muita gente é obcecada com a liberdade e passa a vida inteira a perseguila. Para alguns, é uma questão de libertação nacional, emancipação de um jugo colonial
ou neocolonial. Para outros, trata-se de direitos civis, e assim protestam contra
discriminação racial, religiosa ou étnica e exigem a proteção de opiniões das minorias. E
ainda há outros cuja preocupação é a busca por liberdade económica, libertação da fome,
da pobreza e do desemprego. Ao mesmo tempo, todos nós nos preocupamos com a nossa
liberdade pessoal. Até aqueles que lutam mais ardentemente pelos outros tipos de
liberdade aqui mencionadas (nacional, civil e económica) geralmente sabem que eles
mesmos não são livres. Eles nem sempre conseguem dar um nome às tiranias que os
oprimem. Todavia, sentem-se frustrados, não-realizados e sem liberdade.
Numa entrevista com o consagradíssimo novelista John Fowles, publicada sob o título
"Uma Espécie de Exílio em Lyme Regis", Daniel Halpern perguntou-lhe: "Existe algum
retrato específico do mundo que você gostaria de desenvolver em sua obra? Alguma coisa
que continua sendo importante para você?" "Sim", respondeu John Fowles. "Liberdade.
Como alcançar a liberdade. Isto me obceca. Todos os meus livros falam sobre isso."
Segundo, liberdade é uma tremenda palavra cristã. Jesus Cristo é retratado no Novo
Testamento como o supremo libertador do mundo. "O Espírito do Senhor está sobre mim",
declarou ele, aplicando a si mesmo uma profecia do Antigo Testamento, "pelo que me
ungiu para evangelizar aos pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e
restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano
aceitável do Senhor (Jo 4.18-19, citando Is 61.1-2)." Quer Jesus estivesse se referindo aos pobres,
cativos, cegos e oprimidos no sentido material ou espiritual, quer nos dois sentidos (esta
questão continua se constituindo em veemente debate), as boas novas por ele
proclamadas foram certamente de "liberdade" ou "libertação". Mais tarde, em seu
ministério público, ele acrescentou a promessa: "Se, pois, o Filho vos libertar,
verdadeiramente sereis livres (Jo 8.36)". E daí o apóstolo Paulo tornou-se o defensor da
liberdade cristã e escreveu: "Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois,
firmes e não vos submetais de novo a jugo de escravidão (Gl 5.1)". Para aqueles que
consideram "salvação" um jargão religioso e desprovido de sentido, ou mesmo algo
embaraçoso, "liberdade" é um excelente substituto. Ser salvo por Jesus Cristo é ser
libertado.
Terceiro, liberdade é uma palavra muito mal interpretada. Mesmo aqueles que falam mais
alto e há mais tempo acerca da liberdade nem sempre param antes para definir de que é
que estão falando. Um bom exemplo é o do orador marxista que, plantado numa esquina,
discursava com eloquência sobre a liberdade que todos haveríamos de desfrutar depois da
revolução. "Quando nós conseguirmos a liberdade", exclamava ele, "todos vocês poderão
fumar cigarros como aquele ali", disse, apontando para um opulento cidadão que ia
passando.
"Eu prefiro meu cigarro de palha", gritou um gozador. "Quando formos libertados",
continuou o marxista, ignorando a interrupção e
esquentando mais o assunto, "todos
vocês poderão andar num carro daqueles", e apontou para um suntuoso Mercedes que ia
passando. "Eu prefiro minha bicicleta", gritou o perturbador. E assim o diálogo continuou,
até que o marxista, não suportando mais as gozações, voltou-se para o homem e disse:
"Quando formos livres, você só fará aquilo que lhe mandarem!"
O aspecto negativo: libertação de
Mas, então, o que é liberdade? Uma verdadeira definição tem que começar com o lado
negativo. Temos que identificar as forças que nos tiranizam e que, portanto, inibem a
nossa liberdade. Somente então conseguiremos compreender como é que Cristo pode nos
libertar.
Primeiro, Jesus Cristo nos oferece libertação da culpa. Nós deveríamos ser gratos pela
reação generalizada contra a insistência de Freud de que os sentimentos de culpa são
sintomas patológicos de doença mental. Alguns deles com certeza o são, especialmente em
certos tipos de enfermidade depressiva; mas nem toda culpa é falsa. Pelo contrário, cresce
cada vez mais o número de psicólogos e psicoterapeutas contemporâneos que, mesmo não
professando a fé cristã, nos dizem que precisamos levar a sério as nossas
responsabilidades. O falecido Dr. Hobart Mowrer, da Universidade de Illinois, por
exemplo, entendia a vida humana em termos contratuais e via o "pecado" como uma
quebra de contrato que deve receber uma reparação. A Bíblia certamente sempre
enfatizou, tanto as nossas obrigações como seres humanos, como a nossa falha ao deixarmos de cumpri-las. Nós, em particular, temos buscado afirmação colocando-nos
contra o amor e a autoridade de Deus e contra o bem-estar do nosso próximo. Usando
uma linguagem cristã bem direta, nós, além de pecadores, somos também pecadores
culpados, e a nossa consciência nos diz isso. Conforme uma das piadas de Mark Twain, "o
homem é o único animal que fica envergonhado - ou que precisa fazê-lo".
Agora, ninguém que não tenha sido perdoado é livre. Se eu não tivesse certeza da
misericórdia e do perdão de Deus, não conseguiria olhar ninguém nos olhos, e muito
menos a Deus (o que é mais importante). Eu iria querer fugir e esconder-me, como fizeram
Adão e Eva no Jardim do Éden. Afinal, foi no Éden, e não em Watergate, que inventaram
pela primeira vez o estratagema chamado "esconder". Eu com certeza não seria livre. Um
pouco antes de morrer, em 1988, em um momento de surpreendente sinceridade na
televisão, Marghanita Laski, uma das mais conhecidas humanistas e novelistas seculares,
declarou: "O que eu mais invejo em vocês, cristãos, é o perdão que vocês têm. Eu não
tenho ninguém para me perdoar."
"Mas", como os cristãos bem que gostariam de gritar de cima dos telhados, fazendo eco ao
salmista penitente, "em Deus está o perdão (Cf Sl 130.4)", pois ele, em seu amor por
pecadores como nós, veio participar do nosso mundo na pessoa de seu Filho. Tendo vivido
uma vida de perfeita retidão, ele, na sua morte, identificou-se com os injustos. Levou o
nosso pecado, a nossa culpa, a nossa morte em nosso lugar, a fim de que fôssemos
perdoados.
A liberdade, portanto, começa com o perdão. Lembro-me de um estudante de uma
universidade no norte da Inglaterra, que havia sido criado no espiritismo mas fora levado
por um colega a uma reunião cristã, onde ouviu o evangelho. No fim-de-semana seguinte
começou uma intensa batalha pela sua alma, até que (como ele escreveria mais tarde) ele
gritou em desespero para que Jesus Cristo o salvasse. Então, continuou ele, "Jesus
realmente veio a mim. Eu senti um amor verdadeiro, real - nem dá para descrever. Era
pura beleza e serenidade. E apesar do fato de que eu nada sabia acerca de salvação e
pecado, e nem mesmo sabia o que significava isso, eu simplesmente soube que estava
perdoado... Eu estava incrivelmente feliz!"
Segundo, Jesus Cristo nos oferece libertação do nosso ego. Certa vez, conversando com
uns crentes judeus, Jesus lhes disse: "Se vós permanecerdes nas minhas palavras, sois
verdadeiramente meus discípulos. E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará."
Na mesma hora eles ficaram indignados. Como é que ele ousava dizer que eles precisavam
de algum tipo de libertação? "Somos descendência de Abraão", eles retrucaram, "e jamais
fomos escravos de alguém; como dizes tu: Sereis livres?"
Jesus replicou: "Em verdade, em verdade vos digo: Todo o que comete pecado é escravo do
pecado (Jo 8.31-34)."
Portanto, se a culpa é o primeiro tipo de escravidão do qual precisamos ser libertados, o
segundo é o pecado. E o que significa isto? Assim como "salvação", "pecado" é uma
palavra que pertence ao vocabulário tradicional cristão. "Eu não sou pecador", diz a
maioria das pessoas, pois elas parecem associar pecado com crimes específicos e
sensacionais, como matar, adulterar ou roubar. Mas "pecado" tem uma conotação muito
mais ampla do que isso. Eu mesmo me recordo de quão revelador foi para mim descobrir,
especialmente através dos ensinamentos de William Temple, que o que a Bíblia quer dizer
com "pecado" é, antes de tudo, egocentrismo. Afinal, os dois grandes mandamentos de
Deus são, primeiro, que o amemos com todo o nosso ser; e, segundo, que amemos o nosso
próximo como a nós mesmos. Pecado é, portanto, inverter essa ordem. É colocar a nós
mesmos em primeiro lugar, virtualmente proclamando nossa própria autonomia, depois o
nosso próximo, segundo a nossa conveniência, e depois, então, Deus, em algum
lugarzinho lá nos bastidores.
O egocentrismo é um fenômeno presente em toda a experiência humana. Isto se evidencia
na rica variedade de palavras da nossa língua que incluem o componente "ego" ou "auto".
Quantas delas carregam em si um sentido pejorativo ou negativo? Egoísmo, egolatria,
autoafirmação,
autoacusação,
autoagressão,
auto
piedade,
autocomiseração,
autodestruição, autoindulgência, autopromoção, autopunição, autossuficiência...
Além do mais, nosso egocentrismo é de uma tirania terrível. Malcolm Muggeridge
costumava falar e escrever a respeito do "calabouçozinho escuro que é o meu próprio eu".
E que escuridão tem esse calabouço! Deixar-se absorver nos próprios interesses e
ambições egoístas, sem qualquer consideração pela glória de Deus ou pelo bem-estar dos
outros, é estar confinado na mais intrincada e insalubre das prisões.
Mas Jesus Cristo, que ressurgiu dentre os mortos e está vivo, pode nos libertar. Nós
podemos conhecer "o poder da sua ressurreição (Fp 3.10)". Ou, colocando a mesma verdade
em outras palavras, o Jesus que vive pode, através do seu Espírito, impregnar a nossa
personalidade e virar-nos do avesso. Não que nós sejamos perfeitos, é claro; só que, pelo
poder do seu Espírito que habita em nós, pelo menos já começamos a experimentar uma
transformação do eu para o não-eu. Nossa personalidade, antes fechada em si mesma,
começa a abrir-se para Cristo, assim como uma flor se abre para o sol nascente.
Em terceiro lugar, Jesus Cristo nos oferece libertação do medo. O velho mundo para o
qual ele veio vivia atemorizado pelos poderes que, conforme se acreditava, habitavam as
estrelas. Ainda hoje a religião tradicional de povos tribais primitivos é assombrada por
espíritos malignos que precisam ser aplacados. A vida de homens e mulheres de hoje é
igualmente atormentada pelo medo, desde os medos comuns que sempre afligiram os
seres humanos — medo da doença, do luto, da velhice e da morte — até o medo do
desconhecido, do oculto e da extinção nuclear. A maioria de nós também já sofreu
algumas vezes de medos irracionais, e é impressionante ver quanta gente educada
alimenta medos supersticiosos. Batem três vezes na madeira, cruzam os dedos, carregam
amuletos e recusam-se a sentar na poltrona de número 13 porque dá azar... É por isso
que em muitos hotéis nos Estados Unidos não existe o décimo-terceiro andar. Ao subir no
elevador, se você observar o painel iluminado, verá que os números pulam de 10, 11, 12
para 14. As pessoas são tão supersticiosas para dormir no andar número 13 que não se
dão conta de que aquele continua sendo o décimo-terceiro andar, mesmo que o tenham
denominado de décimo-quarto! Já na Inglaterra, de acordo com uma recente pesquisa de
opiniões, embora nove décimos da população ainda acredite em algum tipo de Deus, o
número de adultos que leem o seu horóscopo toda semana é o dobro dos que leem a
Bíblia.
Todo medo traz consigo uma dose de paralisia. Ninguém que tenha medo é livre. Além do
mais, o medo é como o fungo: cresce mais rapidamente no escuro. É essencial, portanto,
trazer à luz os nossos medos e olhar para eles, especialmente à luz da vitória e
supremacia de Jesus Cristo. Afinal de contas, aquele que morreu e ressuscitou foi
também exaltado à mão direita de Deus Pai, e tudo foi posto "debaixo de seus pés (Ef 1.22)".
Portanto, onde estão as coisas que antes temíamos? Elas estão debaixo dos pés de Cristo,
o Cristo triunfante! Quando nós as enxergamos ali, então o poder que elas tinham de nos
aterrorizar é destruído.
Medo e liberdade são mutuamente incompatíveis. Para mim, isso foi bem ilustrado certa
vez por um jovem palestrante africano. Tínhamos andado discutindo sobre a necessidade
de os cristãos se interessarem mais pela História Natural como sendo criação de Deus.
"Antes de me tornar um cristão", disse ele, "eu tinha medo de muitas coisas —
principalmente de cobra. Mas agora acho difícil matar uma cobra, pois gosto de ficar
olhando para elas. Graças a Deus, agora sou livre de verdade."
O aspecto positivo: liberdade para
Até aqui nós estabelecemos uma relação entre as tiranias que impedem a nossa libertação
e os três principais eventos da experiência de Jesus Cristo: sua morte, ressurreição e
exaltação. Há libertação da culpa porque ele morreu por nós; libertação do ego porque
podemos viver na força da sua ressurreição; e libertação do medo porque ele reina, com
todas as coisas debaixo de seus pés.
É, no entanto, um equívoco muito sério definir liberdade em termos inteiramente
negativos, embora o dicionário cometa este engano. Segundo o dicionário, liberdade é
"supressão ou ausência de toda a opressão considerada anormal, ilegítima, amoral",
enquanto que livre é aquele "que pode dispor de sua pessoa; que não está sujeito a algum
senhor (por oposição a servil, escravo). Que não está privado de sua liberdade física; que
não está prisioneiro; solto" (Em Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa). Mas tudo que é
negativo tem o seu lado positivo. O verdadeiro grito de liberdade clama não somente por
resgate de alguma tirania, mas também por liberdade para viver uma vida plena e
significativa. Quando um país é libertado de um regime colonialista, torna-se livre para
descobrir e desenvolver sua própria identidade nacional. Quando a imprensa é libertada
do controle e da censura do governo, torna-se livre para publicar a verdade. E uma
minoria racial, quando é libertada da discriminação, fica livre para desfrutar de respeito e
dignidade própria. Afinal de contas, quando um país não é livre, o que lhe é negado é o
direito de ser nação; quando não há liberdade de imprensa, o que se lhe nega é a verdade;
e quando uma minoria não é livre, o que lhe é negado é o respeito próprio.
Qual é, então, a liberdade positiva dos seres humanos? Em 1970 Michael Ramsey pregou
na Universidade de Cambridge uma série de quatro sermões, que foram posteriormente
publicados sob o título A Liberdade, a Fé e o Futuro. No primeiro ele apresentou a questão:
"Nós sabemos de que queremos libertar os homens. Será que sabemos para que queremos
libertá-los?" E passou a responder a sua própria pergunta. Nossa luta por aquelas
liberdades "que mais sensivelmente agitam nossos sentimentos" (por exemplo, ser libertos
da perseguição, da prisão arbitrária, da fome e da pobreza destruidoras) deveria sempre
se situar "no contexto da questão mais radical e revolucionária, isto é, que o homem seja
liberto do seu ego e para a glória de Deus."
A questão que precisamos perseguir é esta: para que é que Cristo nos liberta? Eis aqui o
princípio: a verdadeira liberdade é a liberdade para sermos nós mesmos, tal como Deus
nos criou e como ele tencionava que nós fôssemos. E como se pode aplicar este princípio?
Vamos começar com o próprio Deus. Você já pensou no fato de que Deus é o único ser
que goza de perfeita liberdade? Até se poderia argumentar que Deus não é livre. Afinal, o
certo é que a liberdade dele não é absoluta, no sentido de poder fazer absolutamente
qualquer coisa. A Escritura nos diz que ele não pode mentir, tentar ou ser tentado, nem
pode tolerar o mal (Hb6.18,Tg 1.13; Hb 1.13). Não obstante, a liberdade de Deus é perfeita, no
sentido de que ele é livre para fazer absolutamente qualquer coisa que ele queira. A
liberdade de Deus é liberdade para ser sempre inteiramente ele mesmo. Deus nada tem de
arbitrário, taciturno, inconstante ou imprevisível. Ele é constante, estável, imutável. De
fato, a coisa principal que a Escritura nos diz que ele "não pode" fazer (não pode porque
nunca o fará) é contradizer-se. "Ele não pode negar-se a si mesmo. (2Tm 2.13)" Fazê-lo seria,
não liberdade, mas autodestruição. A liberdade de Deus reside no fato de ser ele mesmo,
assim como ele é.
E o que acontece com Deus, o Criador, também acontece com todas as coisas e seres
criados. Liberdade absoluta, liberdade ilimitada, é pura ilusão. Se isso é impossível para
Deus (como de fato o é), mais impossível ainda é para a criação de Deus. A liberdade de
Deus é liberdade para ser ele mesmo; nossa liberdade é liberdade para sermos nós
mesmos. A liberdade de toda criatura é limitada pela natureza que Deus lhe deu.
O peixe, por exemplo. Deus criou os peixes para viverem e se desenvolverem na água.
Suas guelras são adaptadas para absorver o oxigênio da água. A água é o único elemento
em que o peixe pode ser peixe, encontrar sua identidade de peixe, sua realização, sua
liberdade. Uma liberdade que se limita à água, é verdade; dentro dessa limitação, porém,
ela é liberdade. Suponhamos que você tenha em casa um peixe tropical. Ele vive, não
num desses tanques retangulares arejados e modernos, mas num daqueles velhos
aquários redondos e antiquados. E lá está o seu peixinho, nadando de um lado para outro
no seu bendito aquário, até que, quando a sua frustração se torna insuportável, ele decide
apostar na liberdade e salta para fora do seu confinamento. Se por acaso ele conseguir
pular dentro de uma poça no seu jardim, aumentará sua liberdade. Continua sendo água,
só que ali tem ainda mais água para ele nadar. Agora, se ele aterrissar no carpete ou no
cimento, aí a sua tentativa de escapar acabará dando, não em liberdade, mas em morte.
E os seres humanos? Se os peixes foram feitos para a água, os seres humanos foram
feitos para quê? Eu acho que a nossa resposta é a seguinte: se a água é o elemento em
que os peixes se encontram como peixes, então o elemento em que os humanos se
encontram como humanos é o amor, as relações de amor. Morris West dá-nos um
exemplo impressionante disto em seu livro Filhos do Sol, que conta a história dos
scugnizzi, os meninos de rua abandonados de Nápoles, e do amor de Frei Mário Borelli por
eles. "Existe em nós (os napolitanos) uma coisa que nunca muda", disse Mário para
Morris. "Nós necessitamos tanto de amor quanto um peixe necessita de água, ou uma ave
de ar." E então explicou que cada um dos scugnizzi que ele conhecia "tinha saído de casa
porque não havia mais amor para ele".
Mas não são apenas as crianças de rua do mundo que necessitam amar e ser amadas, e
que descobrem que vida significa amor. Todos nós somos assim. É no amor que nos
encontramos e nos realizamos. Além do mais, não é preciso ir muito longe para buscar a
razão para isso. É porque Deus é amor em sua essência, de tal forma que, quando ele nos
criou à sua própria imagem, deu-nos a capacidade de amar assim como ele ama. Não é à
toa, portanto, que os dois grandes mandamentos de Deus são amá-lo e amar uns aos
outros, pois é esse o nosso destino. Uma existência verdadeiramente humana é impossível
sem amor. Viver é amar, e sem amor nós murchamos e morremos. Como expressou
Robert Southwell, poeta católico romano do século XVI: "Não quando eu respiro, mas sim
quando eu amo, aí é que eu vivo." Ele provavelmente estava fazendo eco à observação de
Agostinho, de que a alma vive onde ela ama, não onde ela existe.
O verdadeiro amor, no entanto, impõe restrições ao amante, pois o amor é essencialmente
auto doador. E isto nos leva a um surpreendente paradoxo cristão. A verdadeira liberdade
é a liberdade para ser eu mesmo, assim como Deus me fez e como ele pretendia que eu
fosse. E Deus me fez para amar. Mas amar é dar, é autodoação. Portanto, para ser eu
mesmo, eu tenho que negar-me a mim mesmo e doar-me. Para ser livre eu tenho que
servir. Para viver, eu tenho que morrer para o meu próprio egocentrismo. E, para
encontrar-me, tenho que esbanjar-me em dar amor.
A verdadeira liberdade é, pois, exatamente o oposto do que muita gente pensa. Não é ser
livre de toda a responsabilidade que tenho para com Deus e os outros, a fim de viver para
mim mesmo. Isto é ser escravo do meu próprio egocentrismo. Pelo contrário, a verdadeira
liberdade é a libertação do meu tolo e diminuto ego, a fim de viver responsavelmente em
amor a Deus e aos outros.
Mas a mente secular não consegue captar este paradoxo cristão da liberdade através do
amor. Por exemplo, a novelista francesa Françoise Sagan deu uma entrevista pouco antes
de completar cinquenta anos, em 1985. Ela disse que estava perfeitamente satisfeita com
sua vida e que nada tinha a lamentar.
"Você teve a liberdade que queria?"
"Sim", disse ela, esclarecendo sua declaração: "Naturalmente, eu sempre era menos livre
quando estava apaixonada por alguém... Mas não se vive apaixonada o tempo todo. A não
ser por esse tempo... Sou livre, sim."
A implicação é clara: o amor inibe a liberdade. Quanto mais se ama, menos livre se é, e
vice-versa. Presume-se, portanto, que para ser completamente livre é preciso evitar as
complicações do amor, ou seja, o jeito é desistir completamente de amar.
Mas Jesus ensinou exatamente o contrário em um de seus epigramas favoritos, que ele
parece ter citado em diferentes formas e contextos. "Quem quiser, pois, salvar a sua vida,
perdê-la-á", disse ele; "e quem perder a vida por causa de mim e do evangelho, salvá-la-á.
(Mc 8.35)" Eu achava que Jesus estivesse se referindo a mártires que dão a vida por ele. E o
princípio que ele estava enunciando certamente inclui a estes. Mas a "vida" de que ele
está falando, que tanto pode ser salva como perdida, não é a nossa existência física (zoe),
mas a nossa alma ou ego (psyche) usada não poucas vezes em lugar do reflexivo referente
à primeira pessoa ("me/mim"). Poderíamos então parafrasear o epigrama de Jesus nos
seguintes termos: "Se você insiste em apegar-se a si mesmo e em viver para si mesmo, recusando-se a desligar-se do seu eu, você está perdido. Mas se estiver disposto a doar-se
em amor, então, no momento do completo abandono, quando você pensar que tudo está
perdido, acontecerá o milagre e você encontrará a si e à sua liberdade." Só o serviço
sacrificial, o dar-se a si mesmo em amor a Deus e aos outros, é que é a perfeita liberdade.
A verdadeira liberdade, portanto, combina o negativo (libertação de) com o positivo
(liberdade para). Ou, dito de uma outra forma, ela concilia a libertação da tirania com a
liberdade submetida à autoridade. Jesus ilustra isto num dos seus mais conhecidos
convites:
Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai
sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e
achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve
(Mt 11.28-30).
Existem aqui, na verdade, dois convites, ligados a uma única promessa. A promessa é
"descanso", que parece abranger a ideia de libertação. "Eu vos aliviarei", diz Jesus
(versículo 28). E acrescenta: "Achareis descanso para as vossas almas" (versículo 29). Mas
a quem ele promete descanso? Primeiro, àqueles que vêm a ele "cansados e
sobrecarregados", pois ele tira os seus fardos e os liberta. Depois, ele dá descanso àqueles
que tomam sobre si o seu jugo e aprendem dele. Assim, o verdadeiro descanso se
encontra em Jesus Cristo, nosso Salvador, que nos liberta da tirania da culpa, do ego e do
medo, e em Jesus Cristo, nosso Senhor, quando nos submetemos a sua autoridade e
ensino. Afinal, o seu jugo é suave, o seu fardo é leve e ele mesmo é "manso e humilde de
coração".
Bibliografia J. R. W. Stott
Uma Análise da Rebelião
As nossas disposições internas, como moral, ética, equidade, sentimentos e etc., devem
ser regidas por um absoluto, que é Deus e nada mais pode influencias nossas decisões.
Quando Deus criou a Satanás, Ele o fez um querubim (Anjo da primeira hierarquia)
perfeito, com todas as honras e qualidades para ministrar música e viver em meio a toda
a sorte de coisa lindíssimas. Um certo tempo achou-se iniquidade em Satanás (Is
14:13,14) “Você, que dizia no seu coração: “Subirei aos céus; erguerei o meu trono acima
das estrelas de Deus; eu me assentarei no monte da assembleia, no ponto mais elevado do
monte santo. Subirei mais alto que as mais altas nuvens; serei como o Altíssimo.” (NVI).
‘Ele estava fazendo comércio entre os anjos’ a fim de criar um novo reino para si. É por
isso que o Senhor Jesus odeia o comércio em Sua casa.
Quando o mal originou-se dentro de Satanás, houve nos céus uma grande batalha de
dimensões gigantescas. No capitulo 1º, versículo 1, a Bíblia relata em sua veracidade, que
no princípio Deus criou os céus e a terra... Entre o versículo 1 e o versículo 2, há um
intervalo que muitos especulam, haver milhões de anos. (Gn 1:1,2a) “No princípio Deus
criou os céus e a terra. Era a terra sem forma e vazia; trevas cobriam a face do abismo...”
(NVI). Podemos então ver o resultado desta catástrofe relativo àquela rebelião seguida da
batalha nos céus.
Olhemos e analisemos como: pode haver tanta imensidão e tantos planetas estéreis. Não
digo de forma alguma que os próprios poderiam estar habitados, mas os planetas em si
encontram-se em estado de um pós-guerra. Observem sua topografia, sua aparência em
geral. Aquela luta resultou em uma catástrofe e transformou tudo caos e morte. Após
estes acontecimentos, o diabo e seus anjos, relativamente um terço dos anjos que vivem
no céu, alguns foram precipitados no abismo por Deus, outros lançados aqui na terra.
Deus em Sua vontade e sabedoria infinita, pegou um destes planetas que estavam
estéreis, no caso, aqui a terra, e começou a transformar o caos, a desarmonia nos
elementos e etc., e a fez um lugar habitável. Não podemos saber o porque de Deus Ter
colocado o diabo e seus anjos no mesmo lugar onde começou a recriar novas coisas. O
homem foi uma destas criações. O criou a Sua imagem e semelhança. Talvez, quem sabe
precisar, Deus o criou, além do propósito de louvá-lo para a Sua glória, também para
preencher os lugares vazios deixados pelos anjos no alto monte da habitação, para
seguirem ao diabo em sua rebelião e orgulho.
Como já disse, o homem foi criado à semelhança de Deus e este Deus o pôs no jardim do
Éden. Deus os fez homem e mulher.
Certo dia, Satanás apareceu para a mulher e a fez pecar juntamente com seu marido,
Adão. Após a consumação daquele ato de desobediência e falta de fé no amor que Deus
tinha para os preservar, estava declarada mais uma atuação destrutiva e maléfica de
Satanás contra a criação de Deus e contra Ele, a quem o diabo tanto desafiava e ofendia.
O diabo não se conforma por Deus tê-lo desprezado e criado o homem para servi-lo em
adoração, obediência, respeito, temor, amor - tudo aquilo que o adversário não fez.
A diferença entre Satanás e o homem em relação a iniquidade e o pecado, é que a
iniquidade e o pecado brotou dentro de Satanás e já no homem, originou-se de fora para
dentro. Depois disso, passou o homem a ter as mesmas disposições internas dentro de
seu coração corrompido pelo pecado para exterioriza-lo através do corpo como
instrumento de injustiça. (Rm 6:13) “Não ofereçam os membros do corpo de vocês ao
pecado, como instrumentos de injustiça; antes ofereçam-se a Deus como quem voltou da
morte para a vida; e ofereçam os membros do corpo de vocês a ele, como instrumentos de
justiça.” (NVI). O pecado é a própria personificação de Satanás. O homem foi totalmente
culpado pelo seu ato e não adianta querer passar a culpa a outrem. Deus quando o criou,
o criou sabedor de seus direitos e deveres, mas, por sua curiosidade, acabou sendo
conhecedor do bem e do mal. Quando o diabo conversou com Eva e lhe disse “...Deus
sabe que, no dia em que dele comerem, seus olhos se abrirão, e vocês, como Deus, serão
conhecedores do bem e do mal.” (NVI), colocou a mesma ideia que ele teve antes de sua
expulsão do céu nela, ele usou do mesmo subterfúgio, e infelizmente, o homem foi fisgado.
O homem por causa do pecado, sentiu a necessidade de se cobrir (referência a
necessidade da expiação por Cristo) por causa da vergonha. Então colocou pele de animal
sacrificado para cobri-lo. Podemos observar ali que já havia a necessidade de
derramamento de sangue inocente, o sangue representa vida, naquele caso, foi um
animal, o cobrimento e a substituição pelas suas vidas separadas de Deus pelo pecado.
Jesus é a propiciação (favorável, sacrifico perfeito aceito por Deus); a expiação (cobrir e
remover a culpa) pelos pecados do mundo todo através da morte na cruz. (Hb 9:28)
“Assim também Cristo foi oferecido em sacrifício uma única vez, para tirar os pecados de
muitos; e aparecerá segunda vez, não para tirar o pecado, mas para trazer salvação aos
que o aguardam.” (NVI).
Voltando em Adão e Eva, Deus havia dado aquele reino a eles para administrar, terem
domínio sobre toda aquela criação, trabalharem, enfim, cuidar para Deus de tudo e não
esquecendo, de lhe prestarem adoração. Quando voltaram as costas para Deus através do
seu erro para darem ouvidos ao mal, automaticamente entregaram aquele reino ao diabo,
tornando Satanás, o príncipe deste mundo alheio as coisas de Deus. Um exemplo do
direito que lhe foi outorgado, podemos assim dizer: (Mt 4:8,9) “Depois, o Diabo o levou a
um monte muito alto e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e o seu esplendor. E lhe
disse: “Tudo isto te darei, se te prostrares e me adorares.” (NVI).
Mas Deus é soberano e nada está fora do Seu controle. O Senhor através de Seu filho,
Jesus, destronou a Satanás e pegou as chaves da morte e do inferno (Ap 1:18) “Sou
Aquele que Vive. Estive morto mas agora estou vivo para todo o sempre! E tenho as
chaves da morte e do Hades.” (NVI) e o colocou como vergonha e espetáculo público - (Cl
2:15) “E, tendo despojado os poderes e as autoridades, fez deles um espetáculo público,
triunfando sobre eles na cruz.” (NVI). E a todos aqueles que são de Cristo (Rm 10:9) “Se
você confessar com a sua boca que Jesus é Senhor e crer em seu coração que Deus o
ressuscitou dentre os mortos, será salvo.” (NVI) não mais escravo do pecado e não é mais
filho da desobediência e do diabo, mas filho de Deus acima de todo principado e
potestade. (Gl 2:20; Ef 2:1-6) “Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive,
mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus,
que me amou e se entregou por mim... Vocês estavam mortos em suas transgressões e
pecados, nos quais costumavam viver, quando seguiam a presente ordem deste mundo e
o príncipe do poder do ar, o espírito que agora está atuando nos que vivem na
desobediência. Anteriormente, todos nós também vivíamos entre eles, satisfazendo as
vontades da nossa carne, seguindo os seus desejos e pensamentos. Como os outros,
éramos por natureza merecedores da ira. Todavia, Deus, que é rico em misericórdia, pelo
grande amor com que nos amou, deu-nos vida com Cristo, quando ainda estávamos
mortos em transgressões pela graça vocês são salvos. Deus nos ressuscitou com Cristo e
com ele nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus.” (NVI).
Enfim, o inimigo atua no mundo com seus anjos caídos, tentando, matando e etc., mas o
homem tem uma tendência muito grande em querer transferir suas responsabilidades que
são natas, inseridas por Deus na consciência, a outro homem ou circunstância. (Rm
2:15,12) “Pois mostram que as exigências da Lei estão gravadas em seu coração. Disso
dão testemunho também a sua consciência e os pensamentos deles, ora acusando-os, ora
defendendo-os...Todo aquele que pecar sem a Lei, sem a Lei também perecerá, e todo
aquele que pecar sob a Lei, pela Lei será julgado.”(NVI). Colocar o culpa no diabo em tudo
é muito fácil, mas leia estes versículos muito importantes e reflita: “Se você fizer o bem,
não será aceito? Mas se não o fizer, saiba que o pecado o ameaça à porta; ele deseja
conquistá-lo, mas você deve dominá-lo.” (Gn 4:7) (NVI) e (1 Pe 5:8) “Estejam alertas e
vigiem. O Diabo, o inimigo de vocês, anda ao redor como leão, rugindo e procurando a
quem possa devorar.” (NVI). A participação do homem nos seus empreendimentos
pessoais em todas as áreas da vida, tanto espiritual como material é estabelecido pela sua
fé, consciência e vontade. Até os não salvos tem consciência do certo e do errado, “Disso
dão testemunho também a sua consciência e os pensamentos deles, ora acusando-os, ora
defendendo-os..." (NVI), por isso, existe a lei natural da semeadura e colheita (Gl 6:7b)
“Pois o que o homem semear, isso também colherá.” (NVI). Se atribuir toda a
responsabilidade de seu pecado e erro ao diabo, ninguém iria para o inferno.
O homem deve estabelecer os princípios da fé, consciência da presença de Deus
constantemente no dia – dia com justiça que é tudo o que Ele exige e aprova, e resistência
a todas as coisas que não convém, porque tudo é licito, mas não se deixem dominar por
nenhuma delas. As nossas disposições internas, como moral, ética, equidade, sentimentos
e etc., devem ser regidas por um absoluto, que é Deus e nada mais pode influencias
nossas decisões.
Fonte: Mauro C. Graner
O ESPÍRITO DE REBELIÃO
“Porque pela graça que me é dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que
convém; antes, pense com moderação, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um.”
A palavra “medida” que aparece neste texto é a palavra grega “métron”, de onde vem a
nossa palavra metro. Deus repartiu a cada um uma medida de fé diferente. O perigo que
corremos, diz Paulo, é pensar que somos maiores do que na realidade somos. Em Mt
25:15 Jesus diz que os servos receberam um talento, dois talentos, e cinco talentos “a
cada um segundo a sua capacidade.” Em Mt 13:23 um semeador produz cem, outro
sessenta, e outro trinta. Em Ef 4:7 diz que “a graça foi dada a cada um de nós segundo a
medida (métron) do dom de Cristo.” A medida da fé é a medida do dom, como está escrito
em I Co 14:5b “porque o que profetiza é maior do que o que fala em línguas, a não ser que
também interprete para que a igreja receba edificação.” O sentimento de importância pode
levar a rebelião, como aconteceu com Israel, no Antigo Testamento.
PRIMEIRO NÍVEL DE REBELIÃO – Nm 12:1-15.
Aconteceu no seio da família, pois Arão e Miriam era irmãos de Moisés. Além de irmãos,
eram irmãos mais velhos, sendo Moisés o caçula. Em Mt 10:36 Jesus diz “E assim os
inimigos do homem serão os seus familiares.” No caso em questão, Miriam era profetisa, e
Arão era o sumo-sacerdote, e porta-voz de Moisés. Eles tinham consciência da sua
importância. E disseram “Porventura falou o Senhor somente por Moisés? Não falou
também por nós?” A desculpa que eles deram para falar mal de Moisés, foi o seu
casamento com uma mulher cushita. Falar mal do líder certamente é uma tentação que
todos enfrentaremos. E os motivos são aparentemente justos. Afinal casar com uma
mulher estrangeira era algo proibido para um judeu. Esaú não caíra exatamente nesse
pecado? Só que no reino de Deus antiguidade não é posto, como na vida militar. Apesar
de ser o mais novo, Moisés era o escolhido de Deus, e se rebelar contra ele era desafiar a
autoridade de Deus. Sim, porque falar do líder configura rebelião. E teve consequências.
Deus castigou Miriam que ficou leprosa por sete dias, sendo curada somente pela
intercessão de Moisés, seu irmão.
SEGUNDO NÍVEL DE REBELIÃO – Nm 16:1-35.
Novamente o sentimento de importância foi usado pelo diabo para levar pessoas a
rebelião. Coré, Datã e Abirão não eram irmãos de Moisés, mas tinham seus predicados,
pois o primeiro era da tribo de Levi, que fora separada das demais tribos para o serviço do
tabernáculo, e os outros dois eram da tribo de Rúben, o primogênito de Jacó. Estes
levantaram mais duzentos e cinquenta “príncipes da congregação, homens de posição”,
contra Moisés e Arão. Era a rebelião da liderança. Moisés falou a eles o seguinte: “Ouvi
agora, filhos de Levi: porventura pouco para vós é que o Deus de Israel vos tenha
separado da congregação de Israel, para vos fazer chegar a si, e administrar o ministério
do tabernáculo do Senhor e estar perante a congregação para ministrar-lhe; E te fez
chegar, e todos os teus irmãos, os filhos de Levi, contigo? Ainda também procurais o
sacerdócio?” (Nm 16:8-10). Estes levitas pensavam de si mais do que deveriam pensar,
queriam ser mais do eram. Eles eram importantes, mas não tanto. Quando o diabo não
consegue te anular, fazendo você pensar que não é nada, leva você a pensar que é mais
importante do que na verdade é. A rebelião desses líderes teve consequências. A terra se
fendeu e engoliu Coré, Datã e Abirão, com suas respectivas famílias. E os duzentos e
cinquenta líderes que tinham se associado com os rebeldes, foram mortos pelo fogo que
saiu da presença do Senhor. Mesmo que você seja líder, fique na sua. Não queira ser
palmatória do mundo e consertar tudo o que você acha que está errado na igreja. Há
pessoas acima de você na hierarquia da igreja. Deixe que eles resolvam o problema.
Procure saber qual é o seu lugar no corpo de Cristo. Se você é o dedo mínimo do pé, não
queira se comportar como se fosse o olho.
TERCEIRO NÍVEL DE REBELIÃO – Nm 16:41-50.
Neste caso “toda a congregação dos filhos de Israel murmurou contra Moisés e contra
Arão, dizendo: Vós matastes o povo do Senhor.” Não foi a família de Moisés, nem os
líderes, mas todo o povo que se rebelou. A justificativa da rebelião é sempre uma falha ou
suposta falha do líder. No caso de Arão e Miriam, a justificativa foi o casamento de Moisés
com uma mulher estrangeira; no caso de Coré, Datã e Abirão, foi que Moisés tinha se
colocado acima de todos eles; e neste caso, foi que Moisés e Arão tinham matado o povo
do Senhor. Ora, quem matou os líderes foi Deus. A rebelião de todo o povo é uma rebelião
generalizada. O espírito de rebelião foi migrando dos líderes para o povo, contaminando
toda a congregação. Se Moisés não tivesse tal intimidade com Deus, tudo estaria perdido.
Mas Deus interveio, enviando uma praga, que matou catorze mil e setecentas pessoas do
povo de Israel. O sentimento de importância está revelado nas palavras dos líderes: “toda
a congregação é santa, todos são santos, e o Senhor está no meio deles.” (Nm 16:3).
Apesar de ser o povo de Deus, um povo especial, Deus exige ordem e decência. (I Co
14:40). Deus não tolera rebeldia, pois Ele se lembra de Satanás, que foi o primeiro
rebelde. Falar mal do líder, murmurar contra o líder, é rebeldia. Não deixe esse espírito
contaminar você.
Por Pr. Valdi Pedro
Caim, Balaão e Core
Jd 11 Ai deles? porque foram pelo caminho de Caim, e por amor do lucro se
atiraram ao erro de Balaão, e pereceram na rebelião de Core.
«...Ai deles!...» Essa expressão é uma imprecação. O autor sagrado invoca o castigo divino.
(Comparar com I Co 9:16). Isso mostra quão profundos eram seus sentimentos acerca da
heresia que vinha prejudicando à igreja e ao evangelho dos apóstolos. (Isso pode ser
comparado com a denúncia do Senhor Jesus contra os líderes religiosos de seus dias, em
Mt 23:13 ess.: «Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas!... Ai de vós, guias cegos!...
Insensatos e cegos!... Cegos!... Guias cegos!... Fariseu cego!... por dentro estais cheios de
hipocrisia e de iniquidade... Serpentes, raça de víboras! como escapareis da condenação
do inferno?»
«...caminho de Caim...» Os mestres gnósticos usavam o nome de Caim para ilustrarem os
«hílicos», isto é, aqueles que estão imersos na matéria (a qual matéria seria o princípio
mesmo do mal), os quais formariam a maioria dos homens, e que, devido à sua total
identificação com o que é terreno, jamais poderiam esperar ser remidos. O trecho de I Tm
2:1-6 foi escrito, pelo menos em parte, a fim de refutar a essa crença. Todos os homens
podem ser remidos, e Cristo é o nosso redentor. O autor sagrado chama agora aos
gnósticos, os supostos homens «pneumáticos» ou «espirituais», de filhos espirituais de
Caim. Portanto, eles é que seriam os verdadeiros «hílicos» ou terrenos.
Caim simboliza a traição, a concupiscência, a avareza e a auto-indulgência, conforme se vê
pelo que diz dele a literatura judaica, como em Sabedoria de Salomão 10:3; Jubileus 4:15; Apocalipse de Moisés 3:2; Testamento dos Doze Patriarcas, Benjamim, 7:3-5; Filo em
Sobre os Querubins, XX, Sacrifício de Abel e Caim X,xiv; e Posteridade e Exílio de Caim xv.
As descrições de Irineu sobre os gnósticos nos dão algum entendimento sobre quão
grande era a depravação deles. Disse ele: «Eles também afirmam, como Carpócrates, que
os homens não podem ser salvos enquanto não passam por toda a forma de experiência.
Segundo afirmam, um anjo os acompanha em todas as suas ações pecaminosas e
abomináveis, impulsionando-os a se aventurarem em audácia e incorrerem em poluições.
Qualquer que seja a natureza de sua ação, afirmam que o praticam em nome do anjo... E
afirmam ser isso um 'conhecimento perfeito', não se furtando nem mesmo em praticar
aquelas ações cujo simples nomear é ilegítimo». (Contra as Heresias 1.7.5). Há algo similar
a isso em Eusébio. História Eclesiástica III.29. E Clemente de Alexandria, falando sobre
essa mesma gente, diz: «...usam palavras ímpias continuamente... e assim nem entram no
reino dos céus e nem permitem que aqueles que têm iludido cheguem à verdade». Os que
assim fazem, ao invés de se mostrarem leais para com a autêntica tradição cristã, como
fazem seus membros legítimos, «arrombam suas paredes» como fazem os ladrões comuns,
os quais em épocas passadas eram chamados «escavadores de lama», porque entravam
nas casas escavando as paredes. (Ver Misc. VII. 17). Tanto Irineu como Clemente
chamaram tais homens de «cainitas». (Ver I Jo 3:12 acerca do exemplo negativo de Caim, e
onde os gnósticos também são assim descritos.).
O Targum judaico, em Gn 4:7, apresenta Caim como o primeiro cético e sofista. Não tinha
ele respeito pelo mundo eterno, e nem sabia exercer controle sobre si mesmo. Era um
assassino, pelo que perdeu o respeito pela humanidade, por igual modo. Devido à raiva e
ao orgulho, «caiu da sabedoria», conforme diz Sabedoria da Salomão x.3. passagem que
talvez estivesse na mente do autor sagrado, ao escrever o sétimo versículo desta epístola.
Os antigos intérpretes afirmam que Caim, por ter sido assassino de seu próprio irmão,
tipificava os falsos mestres, que assassinavam as almas dos homens.
Na heresia dos gnósticos ofitas, os quais tinham os heróis do A.T. como vilões, ao passo
que seus vilões seriam os verdadeiros heróis espirituais, Caim e Core eram objetos de
reverência especial. Para eles, a serpente simbolizava a sabedoria e a bondade verdadeira,
e Caim e seus sucessores seriam os autênticos campeões.
«...erro de Balaão...» Este versículo quase certamente dá a entender que Balaão é símbolo
da cobiça. A fim de ganhar um prêmio em dinheiro, da parte de Balaque, ele perverteu aos
jovens do povo de Israel, agindo contra a própria consciência. (Ver Nm 22 - 24; 31:16; Ne
13:2; Josefo, Antiq. IV.6.5-9). No judaísmo posterior, Balaão se tornou símbolo dos falsos
mestres, os quais desencaminham ou pervertem à juventude. Por isso é que se lê em Pirke
Aboth (5:21,22): «Todo aquele que a muitos torna virtuosos, o pecado não vem por seu
intermédio; e todo aquele que leva muitos a pecarem, não lhe dão oportunidade de
arrepender-se. Todo aquele que tem três coisas é um dos discípulos de Abraão, nosso pai.
E todo aquele que tem três outras coisas é um dos discípulos de Balaão, o ímpio. Se
alguém tem olho bom, alma humilde e espírito manso, então é discípulo de Abraão, nosso
pai. Mas se alguém tem um olho mau, uma alma jactanciosa e um espírito altivo, é dos
discípulos de Balaão, ó ímpio... Qual é a diferença entre os discípulos de Abraão... e os
discípulos de Balaão? Os discípulos de Balaão herdam a geena e descem ao abismo da
destruição... Mas os discípulos de Abraão... herdarão o mundo por vir».
Nosso texto, portanto, ensina-nos que o erro de Balaão consiste da disposição e
sofreguidão em corromper espiritual e moralmente aos homens, visando vantagens
financeiras. (Ver II Pe 2:15 acerca do «caminho de Balaão»; e ver Ap 2:14 acerca da
«doutrina de Balaão»). O «caminho de Balaão» é próprio de um pastor alugado ou
mercenário. Ele procura ganhar dinheiro com seus dons e habilidades; seu coração não se
firma em sua profissão religiosa, pois esta última, em sua concepção, é apenas uma
maneira de ganhar a vida. Tendo tal forma de atitude, cai no «erro de Balaão», inclinandose por corromper a outros, devido à sua ganância. E a «doutrina de Balaão» consiste da
ideia que o povo em pacto com Deus pode contaminar-se e separar-se do Senhor,
abandonando seu caráter de peregrinos no mundo. Tal doutrina macula a igreja e o
mundo. A cobiça é uma idolatria espiritual. Balaão fazia do dinheiro o seu deus, e o
resultado é que ele arruinou a missão que, de outra maneira, poderia ter tido, no exercício
de seus dons espirituais.
O trecho de I Tm 6:5 mostra que essa atitude de cobiça, em que um indivíduo usa seu
ministério a fim de ganhar dinheiro, ao invés de usá-lo para servir a outros, é uma atitude
característica dos mestres gnósticos. Esses supõem que a piedade é um «lucro», ou que a
piedade é um meio de ganhar dinheiro.
«...se precipitaram...» Literalmente, «foram derramados», embora com a significação de
«correram ansiosamente após», «abandonar-se a». Os gnósticos não se envergonhavam de
sua ganância pelo dinheiro e nem de seu tipo pervertido de conhecimento. Desde o tempo
dos sofistas os homens vinham vendendo conhecimentos e tirando grande lucro de seus
discípulos. Os gnósticos trouxeram essa prática à igreja. Ao assim fazerem, tornaram-se
os filhos espirituais de Balaão, porquanto eram não somente cobiçosos, mas corrompiam
a mensagem que anunciavam.
«...pereceram na revolta de Core...»(Ver a narrativa em Nm 16:3 e ss.). Core foi o líder da
revolta contra Moisés, reunindo um grupo de malcontentes. Mostraram-se orgulhosos e
arrogantes, presumindo arrancar o poder das mãos de Moisés. Core, pelo menos durante
algum tempo, conseguiu grande número de adeptos, e não fora a verdadeira chamada e
autoridade de Moisés, e teria ele destruído a estrutura inteira de poder e de lei que Deus
estabelecera. Lemos que o resultado final ocorreu quando a terra se abriu e engoliu a
companhia inteira de rebeldes. A terra, debaixo de suas tendas, «...abriu sua boca e os
engoliu... e todos os homens que seguiam a Core... e assim desceram vivos ao inferno... e
pereceram da comunidade (Nm 16:1-34)». (Josefo, Antiq. IV.2.1-4.2).
Os gnósticos estavam efetuando uma revolta similar contra a igreja cristã apostólica,
enganando a uma massa de malcontentes e algumas poucas pessoas inocentes, que eram
enganadas e encantadas por sua doutrina. A segunda epístola de João menciona um
certo Diótrefes, que foi um dos líderes dessa revolta (ver II Jo 9, 10). Os gnósticos se
revoltaram contra a doutrina apostólica, criando um novo «evangelho»; revoltaram-se
contra a moralidade apostólica e contra a tradição apostólica inteira na igreja. Se
porventura tivessem ganho a batalha, o cristianismo ter-se-ia tornado apenas outra
religião misteriosa greco-romana.
Core representa o cisma, a usurpação da autoridade legítima e a revolta, heresias essas
que causam divisões eclesiásticas, contendas que dividem os irmãos na fé. Todos quanto
se ocupam dessas coisas são os filhos espirituais de Core. Consideremos o caso de
Diótrefes (III Jo 9 e ss.), de Alexandre, o latoeiro (ver II Tm 4:14), de Himeneu (ver I Tm
1:20) e de Janes e Jambres (II Tm 3:8).
O julgamento divino paira sobre todos os tais, incluindo a condenação do hades: «A
condenação daqueles que se levantam contra a verdadeira fé e excitam outros contra a
Igreja de Deus, consiste de serem engolidos pela terra, permanecendo no abismo embaixo,
juntamente com Core, Data e Abirã». (Irineu, IV.43).
Notemos os tripletes, no oitavo versículo e no presente: ali os gnósticos aparecem como
pecadores, de três maneiras diferentes; e neste ponto os gnósticos aparecem como quem
segue três maus exemplos.
Fonte: http://www.ebdareiabranca.com/Judas/Judas12.htm
Fonte: http://www.ebdareiabranca.com/2011/3trimestre/sumario.htm
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