5. Geomorfologia Climática - Processos Geomorfológicos de Origem Externa – Mesoformas e Microformas da Paisagem Introdução Breve Histórico No começo do século XX (1900), surgiu a classificação dos climas da Terra, elaborada por Wladmir Koppen. Ao mesmo tempo Vasilu Dodokuchayev esboçou a primeira classificação genética dos solos da Rússia, evidenciando a importância do fator climático na individualização dos tipos de solos do país. Em 1913 o geógrafo Emanuel de Martonne publicou “Le climat, facteur du relief” com a descrição detalhada do relevo em determinadas zonas climáticas. Em 1950 surgem Das System der klimatischen Morphologie de Julius Budel e a classificação das nove regiões morfogenéticas (glacial, periglacial, boreal, maritima, selva, moderado, savana, semi árido e árido) desenvolvida por Peltier. Em 1955 e 1960 apareceram « Introduction á la Géomorphologie Climatique » de André Cayleux e Jean Tricart e « Le cycle d’ Érosion sous les Différents Climats, de P. Birot. Ambos trabalhos criticam o conceito de Ciclo normal de erosão introduzido por William Morris Davis no início do século XX. A partir da década de 40 do século XX, o geólogo da África do Sul, Lester C. King desenvolveu uma série de artigos que culminaram , em 1960, pela publicação do seu livro Morphology of the Earth, que pode ser considerado o primeiro ensaio da moderna Geomorfologia Global, onde o clima é analisado de forma geral e histórica, dentro da perspectiva de evolução do Continente Gondwana. Seguindo uma iluminada sugestão do geólogo americano Allan Wood (1942), King propõe a disseminação de Pediplanos pelo recuo paralelo de encostas, sob a ação de processos sub úmidos que, pelos registros geológicos, predominavam nos climas do Cretáceo Superior, Terciário Inferior Médio. King incorporou no seu modelo de desenvolvimento das paisagens o conceito de ciclo de erosão, a partir do recuo paralelo de escarpas, com a formação de pedimentos que, por coalescência originam pediplanos. Um novo soerguimento causa escarpas erosivas que recuam de novo paralelamente, formam novo pediplano que corresponde a novo ciclo de erosão. Deste modo, as paisagens podem ser concebidas como uma série de níveis erosivos antigos, separados por escarpas submetidas à rápida erosão. A partir da década de 70, a geomorfologia climática derivou para a geomorfologia quantitativa que atualmente estuda detalhadamente os processos atuais de elaboração do relevo. O que é a geomorfologia climática. Dentre os três fatores gerais de elaboração do relevo concebidos por Davis, estrutura processo, história, a Geomorfologia Climática aprofunda-se na linha dos processos naturais de atuação externa que modelam as paisagens. A geomorfologia climática estuda principalmente a influência dos climas do presente e do passado no modelado das paisagens. Os processos climáticos são responsáveis pela escultura da paisagem em mesoformas e microformas, a partir das mega formas , que foram individualizadas pela atuação da Tectônica de Placas nos diversos ciclos desta, bem como pela modelagem das macroformas, analisadas na Geomorfologia Estrutural, figura 5. 1. Fig. 5.1 – O ciclo hidrológico superficial e o ciclo das rochas ilustra as relações da Geomorfologia Climática com a Geomorfologia Estrutural e Geomorfologia Global. Altamente esquemático, modificado de (Huggett 2006). Os diversos aspectos da geomorfolgia climática foram desenvolvidos principalmente por geomorfólogos alemães e franceses. A fonte fundamental de energia para os movimentos da matéria na superfície terrestre é o Sol, principalmente sob a forma térmica. A força da gravidade inerente à Terra, junto com a atração exercida pela Lua e em menor proporção pelo sol, também contribuem para os movimentos dos agentes naturais gravidade > (ar, água, gelo e vida). No meio concreto natural, os processos geomorfológicos de origem externa estão interligados, não só entre si, mas também com os processos geológicos de origem interna, comandados pela energia gerada no interior da Terra. Formam uma gigantesca e complicada rede de eventos em sistema aberto. O entendimento parcial destes processos naturais é obtido a partir da abordagem sistemática e sistêmica de circulações específicas de matéria na parte superior da crosta, hidrosfera e atmosfera. Para ilustrar este tipo de abordagem, um exemplo didático é o da circulação geral da água na Natureza, atualmente a maior responsável pela escultura das paisagens, figura 5. 2. Fig. 5.2 – Sistema de circulação geral da água na natureza, esquemático. Os dois reservatórios que fornecem a umidade para os processos exógenos de elaboração do relevo são os oceanos e a atmosfera que é abastecida principalmente pela evaporação da água deste. Modificado de (Holmes 1970) O calor solar evapora a água dos oceanos, lagos, rios, transferindo- a para a atmosfera. Formam-se nuvens e após, precipitação de chuva ou neve, as quais se movimentam na superfície do solo. Ocorre infiltração em direção aos aqüíferos subterrâneos, escoamento nos rios e acumulação nos glaciais. Finalmente parte desta água retorna ao Oceano. Esta circulação, brevemente descrita é responsável por um importante grupo de processos geomorfológicos, que envolvem agentes como o vento que movimenta o vapor d’ água na atmosfera, chuva e rios, que representam a água em movimento, glaciais, onde ocorrem movimentos lentos do gelo, vento que move partículas finas em zonas desérticas e litorais onde ocorre areia e água subterrânea parcialmente estagnada nas rochas e regolitos, esta colaborando com os processos de intemperismo químico. Tais agentes são as “ferramentas” responsáveis pela escultura das paisagens naturais, tendo como matéria prima bruta as rochas da Crosta Terrestre. Nesta linha sistemática e sistêmica, serão abordados aspectos gerais do clima, os processos geomorfológicos de intemperismo, a formação do regolito e do solo, os movimentos de massa e os seus depósitos, a ação das águas subterrâneas, a ação das águas superficiais (rios, lagos, lagoas) e a ação dos processos costeiros, incluindo o vento na formação de ondas e dunas. A ação dos glaciais não será abordada, posto que, a sua faixa latitudinal climática e de altitude está fora das condições do Brasil em geral e do Rio Grande do Sul em particular, este principal foco da abordagem. Clima – Intemperismo - Regolito Clima O clima tem grande influência nas características que adquirem as paisagens em geral, bem como o regolito, o solo, a vegetação, os movimentos de massa, a distribuição das águas superficiais e subterrâneas. Clima é o conjunto de fenômenos que caracterizam o estado médio da atmosfera em um determinado lugar. Os parâmetros fundamentais do clima são a temperatura do ar da água, do solo e suas variações, as diferenças de pressão do ar e os ventos, a umidade do ar e as precipitações atmosféricas, figura 5.3. Fig.5. 3 – Precipitações e temperaturas médias anuais na Terra. No Rio Grande do Sul, a chuva média anual fica entre 1000 e 2000mm e a temperatura média anual é em torno de 200C. Estes dois parâmetros gerais determinam o clima atual do Estado do Rio Grande do Sul, como mesotermal úmido, segundo a classificação de Koepen. Modificado de Azevedo 1956. As variações de temperatura, pressão e umidade estão associadas a fatores geográficos tais como latitude, altitude, continentalidade, vegetação, correntes marítmas, etc, fatores estes que também devem ser levados em conta na análise e classificação dos climas da Terra. Uma das classificações climáticas gerais mais adotadas é a de Wladmir Koppen. Nesta, cinco são os grandes tipos climáticos do Planeta: A – Clima Tropical Chuvoso, B- Clima Seco, C- Clima Mesotermal Úmido, D – Clima Microtermal Úmido, E – Clima Glacial. Tipos secundários e variedades destes fundamentais são designados por outras letras, maiúsculas ou minúsculas. Uma terceira letra minúscula poderá ser acrescentada aos símbolos climáticos, designando modalidades térmicas ou pluviométricas, tais como a presença de nevoeiros, etc. Portanto, nesta sistemática, os grandes grupos climáticos podem ser fragmentados em sub grupos localizados., figura 5. 4. Fig. 5.4 - Climas das Américas segundo Vladmir Koppen. No Rio Grande do Sul predomina clima mesotérmico (C), sem estação seca, úmido (f), com verões quentes (a). Cfa. ( Modificado de Azevedo 1956). Clima do Rio Grande do Sul No Rio Grande do Sul predomina o clima tipo, Mesotermal Umido ou Temperado Quente, de acordo com a classificação de Koppen. Segundo esta classificação, a letra C indica a qualidade mesotermal e a letra f significa úmido. Este por sua vez pode ser dividido nos seguintes grupos: Sub – Tropical – Com verões quentes – (Cfa) (Cfak) – Com invernos frios (Cfah) – Com invernos moderados Sub – Temperado com verões brandos – (Cfb) (Cfbk) – Com invernos frios, onde: C – Temperatura média do mês mais frio entre 18 graus e 3 graus centígrados f - Sem estação seca b – Verões brandos a – Verões quentes h – Invernos brandos k – Invernos frios A figura 5.5 apresenta a distribuição geográfica dos dois principais tipos climáticos do RS, segundo a classificação de Koeppen. Fig. 5.5 – Os dois tipos climáticos gerais do Rio Grande do Sul, Cfa, clima mesotermal úmido com verões quentes, sub tropical e Cfb, clima mesotermal úmido com verões brandos, sub temperado. Modificado de Kuinchner e Buriol 2001). Em 1930 o meteorologista Ladislau Coussirat de Araújo subdividiu o Rio Grande do Sul em oito regiões fisiográficas com características microclimáticas distintas, segundo a classificação de Kopen, figura 5.6. Alto vale do Uruguai, Serra do Nordeste, Serra do Sudeste, Litoral Sul cfb, sub temperado com verões brandos; Depressão Central, Campanha, Baixo Uruguai, Litoral Norte cfah sub tropical, com verões quentes e invernos moderados, Missões e Planalto Médio cfak com verões quentes e invernos frios Fig. 5.6 – As oito regiões fisiográfico – climaticas do Rio Grande do Sul e suas variedades microclimáticas. Modificado de Araújo (1930). Os fatores que controlam a distribuição destes grupos no Estado são pricipalmente a altitude e secundariamente a latitude e continentalidade. Na maior parte do território gaúcho predomina o clima mesotermal úmido sub – tropical,(Cfa) cuja característica principal é a ocorrência de verões quentes, associados a baixas altitudes. Este tipo climático subdivide-se em dois grupos (Cfah), com invernos moderados e (Cfak) com invernos frios associado às maiores altitudes. O clima mesotermal úmido sub tropical com invernos moderados ocorre principalmente na Depressão Periférica, no Planalto de Uruguaiana e na Planície Costeira Norte até Rio Grande, nas áreas de mais baixa altitude. O clima mesotermal úmido subtropical com invernos frios ocorre principalmente no Planalto de Santo Ângelo e no Planalto Rebaixado Marginal Cangussú – Caçapava em maiores altitudes. O clima mesotermal úmido sub temperado com verões brandos e invernos frios (Cfb) está associado a relevos elevados ou superfícies de cimeira. Ocorre principalmente no Planalto dos Campos Gerais, no Planalto Residual Canguçu – Caçapava e na Planície Costeira em Santa Vitória do Palmar onde ali o fator determinante do tipo climático é a latitude e não a altitude, Esta região se diferencia climaticamente dos Planaltos de superfícies cimeira, pelas suas taxas anuais de precipitação muito mais baixas. Em termos de zoneamento de processos morfoclimáticos atuais no Rio Grande do Sul, os fatores mais importantes do Clima são a distribuição das precipitações, das temperaturas e da insolação, figura 5.7 . Fig. 5.7 – Distribuição das temperaturas precipitação e insolação médias no Rio Grande do Sul, modificado de (Kuinchner e Buriel 2006). A evapotranspiração é um parâmetro importante do clima, controlada a grosso modo pela temperatura e precipitações. Se relaciona com a altitude, de modo geral, é inversamente proporcional a esta, figura 5.8. Fig. 5.8 - Relação da altitude com a evaporação - transpiração média anual no Rio Grande do Sul. Modificado de Kuinchner e Buriol 2006). Há relação direta entre unidades climáticas e unidades morfoestruturais do relevo do Rio Grande do Sul A relação da variação climática com as unidades morfoestruturais do Rio Grande do Sul pode ser demonstrada com a comparação da figura 5.4 com a figura 2.14 (introdução), figura 5. 9. Fig. 5.9 – Comparação entre as regiões fisiográficas (microclimas) com as unidades morfoestruturais do Rio Grande do Sul. Na Unidade Morfotectônica Planalto, Unidades Morfoestruturais Planalto Pouco Dissecado em Riolito conhecido fisiograficamente como Planalto dos Campos Gerais, Planalto Ondulado em Basalto, conhecido como Planalto Médio, Planalto Ondulado Dissecado em Basalto conhecido como Alto Uruguai e Planalto Dissecado em Riolito e Basalto, conhecido como Planalto de Soledade, a pluviosidade é alta, entre 1700 mm e 2010mm ano em média e a temperatura média anual é relativamente baixa , entre 140 C e 160 C A insolação média anual está entre 2300 e 2500 horas. Estas condições conferem a este setor do estado clima mesotermal úmido sub temperado com verões brandos e invernos frios e chuvosos (Cfb) . São as áreas de menor défcit hídrico do Estado. Na Depressão Periférica e Planalto Pouco Dissecado em Basalto, conhecido fisiograficamente como Planalto de Uruguaiana, as 0 0 temperaturas médias anuais são relativamente altas, entre 19 C e 20 C anuais, as precipitações médias anuais relativamente baixas, entre 1100 e 1400 mm anuais e insolação alta entre 2600 e 2400 horas . Estas condições conferem a estes setores do Estado clima mesotermal úmido com verões quentes. São as áreas de maior défcit hídrico do Estado, (Cfah). Nas unidades Planície Costeira e Escudo, temperaturas médias anuais entre 160 C e 180 C, precipitações em torno de 1200 e 1500 mm e insolação de 2400 e 2500 horas determinam clima mesotermal úmido com verões brandos (Cfb). No Rio Grande do Sul pela sua localização latitudinal,, ao contrário das áreas inter tropicais do Brasil, os mais baixos índices de precipitação coincidem com as maiores taxas de evaporação – transpiração, as quais ocorrem no verão. Este fato é responsável por estiagens cíclicas que trazem sérios prejuízos à agro pecuária e ao abastecimento público de diversos municípios. Este fenômeno se agrava, principalmente na fronteira Oeste e no Alto Vale do Uruguai, onde a temperatura média do mês mais quente (janeiro) está entre 24o e 26o . Os municípios situados nesta faixa sofrem situações de escassez de água em determinados verões, mas não comparáveis ao que ocorre ao semi árido nordestino onde a seca é uma situação comum. Esta situação de escassez de água é incomum no restante do território brasileiro. Intemperismo e feições associadas - Regolito As rochas quando expostas, em contato com o ar, com a água superficial - subterrânea e com a vida, na sua maioria, formaram-se no interior da Crosta Terrestre em condições de temperatura e pressão bem maiores do que as que ocorrem nas condições normais da superfície da Terra. Os minerais das rochas geradas em profundidade são produto de reações endotérmicas, onde ocorre absorção de calor e desenvolvem-se estruturas cristalinas densas e compactas. Nas condições de superfície estes minerais tornam-se instáveis, reagem com o meio, através de reações químicas exotérmicas , com desprendimento de calor. A conseqüência é a produção de novos minerais com estrutura cristalina menos densa e compacta. Este fenômeno é acelerado pela desintegração física da rocha em fragmentos menores, condição esta que aumenta a superfície de ataque. O conjunto destes processos, acrescidos da ação de processos biológicos é denominado Intemperismo, figura 5. 10. Fig. 5. 10 - O sistema geomorfológico abrange os sistemas de intemperismo geoquímico e parte do sistema de intemperismo bioquímico, este englobado pelo sistema biótico. O sistema geomorfológico resulta da interação da Litosfera com a Hidrosfera e Atmosfera. O intemperismo pode ser de dois tipos: Geoquímico ou Inorgânico, em que os processos de vida não participam e tem como produto final o Regolito (antigo). Bioquímico ou Pedogenético, que tem como substrato fundamental o regolito, onde atuam processos biológicos , em íntima colaboração com a circulação da água , ar levando à formação do Solo (moderno). Para efeito explicativo os processos de intemperismo geoquímico ou inorgânico podem ser classificados em físicos e químicos. Intemperismo físico Vários fatores naturais contribuem para a fragmentação mecânica das rochas, contudo o efeito mais geral é causado por mudanças de temperatura que afetam os minerais e as rochas. Estas variações podem ocorrer no ar, na água ou diretamente pela ação dos raios solares. Os minerais e as rochas se expandem quando são aquecidos e contraem-se quando resfriados. Isoladamente estas expansões e contrações são negligenciáveis, mas quando são constantemente repetidas, em centenas e até milhares de anos, o seu efeito pode ser grande. Sob a influência destas expansões e contrações, a adesão entre os grãos minerais é paulatinamente enfraquecida. Quanto maiores são os tamanhos dos grãos dos minerais das rochas, maior é o efeito destas variações de temperatura na sua desagregação. A cor da rocha também é importante. Rochas e minerais escuros se aquecem rapidamente e mais do que rochas e minerais claros, logo se dilatam e contraem mais, desagregando-se eficientemente. Rochas com cores entremeadas como os granitos, formados por minerais pretos, brancos e avermelhados, se desagregam mais rapidamente que rochas com coloração uniforme. Isto se deve ao fato que grãos de diferentes cores e composições têm coeficientes de dilatação e contração diferentes, gerandose esforços suplementares que facilitam a desagregação da rocha. A água ao passar do estado líquido para o sólido aumenta de volume. Na forma líquida preenche fraturas na rocha. Quando a temperatura baixa até ao ponto de congelamento, a formação expansiva do gelo gera altas pressões que fragmentam a rocha que contém água em seus espaços vazios. As rochas ígneas, às vezes, ocorrem sob espessas coberturas de rochas sedimentares. Á medida que esta cobertura é erodida, há alívio de peso sobre o maciço ígneo enterrado que causa expansão da parte superior do corpo, e oportuniza a formação de amplas fraturas paralelas à superfície topográfica. Estas linhas de fraqueza são condutos preferenciais para a circulação da água que se infiltra e propicia o intemperismo químico da parte superior do maciço, através de camadas paralelas à superfície do terreno, originando formas do relevo denominadas domos de esfoliação, figura 5.11. Fig. 5.11 – Domo de esfoliação em granito, fraturas em “casca de cebola”, produzidas por alivio de pressão por remoção das rochas de cobertura. Terezópolis, R.J. Intemperismo Químico – A água é o principal agente de intemperismo químico. A chuva, em contato com o ar e o solo dissolve oxigênio ,gás carbônico e ácidos húmicos e além disto, a própria água tem naturalmente caráter levemente ácido. A solução aquosa, movendo-se lentamente na grande superfície de rocha previamente desintegrada, é capaz de produzir um imenso trabalho de transformação química. A água é o solvente e dissolvente universal. Intemperismo esferoidal Uma forma quase universal de intemperismo químico ocorre em rochas ígneas plutônicas, vulcânicas, gnaisses e, mesmo em rochas sedimentares, o qual resulta na produção de matacões de diversos tamanhos e seixos arredondados de rochas não intemperisadas, ao longo dos quais se desenvolvem camadas ou lâminas de material desintegrado. Não deve ser confundido com os domos de esfoliação que se ligam mais ao intemperismo físico. O intemperismo esferoidal associa-se principalmente a processos de intemperismo químico, característico da parte saprolítica do regolito As rochas associadas devem estar fragmentadas por diaclases. Largamente espaçadas, produzem grandes matacões, pouco espaçadas produzem pequenos matacões e “seixos”. O conjunto esparramado na superfície forma campos de matacões de diversas formas e tamanhos O processo e a forma em camadas concêntricas é atribuído à hidratação e oxidação de minerais primários, seguida de expansão, pois o material alterado é rico em minerais secundários de baixa densidade e grande volume, tais como caulinita, sericita, serpentina, montmorilonita e clorita, figura 5. 12. Fig. 5.12 – Acima regolito com intensa decomposição esferoidal (esquemático). No meio, granito com núcleos de intemperismo esferoidal e matacões de granito residuais. Abaixo, comparação do processo de intemperismo esferoidal em basalto, Planalto Médio à esquerda e granito Bloco Pelotas, à direita. Fotos do Autor. A esfera é a forma geométrica com menor quantidade de área superficial, relativa ao seu volume. A tendência de o intemperismo esferoidal produzir formas que se aproximam da esfera deve-se a que o intemperismo ataca os blocos fraturados de rochas, de todos os lados, sendo a decomposição mais rápida nos cantos ou vértices, onde a energia química é aplicada com maior intensidade relativa (3), (2) nas arestas e (1) nas faces. A velocidade do intemperismo esferoidal é acelerada pelo tamanho dos blocos, maior nos blocos menores, menor nos maiores, figura 5. 13 Fig. 5. 13 – Aumento da intensidade do intemperismo com a menor dimensão dos blocos (acima). Abaixo, maior ataque nos cantos dos blocos. Quando o bloco atinge a forma aproximadamente esférica o processo é de diminuição de volume, até o consumo total do bloco por intemperismo, o que nem sempre acontece. As rochas ígneas, formadas em altas condições de pressão e temperatura, são as mais sensíveis ao intemperismo químico. Serão usadas para ilustrar alguns aspectos dos processos que ocorrem e os produtos resultantes. Os principais minerais constituintes das rochas ígneas são o Quartzo, os Feldspatos, e os Silicatos Ferromagnesianos ( Micas, Anfibóleos, Piroxênios e Olivina), (ver quadro II). O quartzo é mineral muito resistente, óxido de silício, composto por silício e oxigênio (Si, O), onde os átomos estão forte e compactamente ligados, figura 5.14. Fig. 5.14 – Regolito resultante da alteração de granito. No detalhe observar grãos de quartzo que permanecem como resistatos no material alterado à base de minerais argilosos e óxidos de ferro. Massas de óxido de ferro e argilas englobam a parte menos intemperizada. Viamão, RS, foto do autor. Este mineral resiste muito bem aos processos químicos e mecânicos de intemperismo. Entretanto, o quartzo é lentamente dissolvido em condições de clima tropical. Devido à sua alta resistência, enquanto que os outros minerais das rochas ígneas são destruídos, os grãos de quartzo, em sua maioria, permanecem intactos. São transportados, depositados e formam diferentes depósitos de sedimentos à base de areia que após outras transformações, já no interior da crosta terrestre, originarão as rochas sedimentares denominadas arenitos conhecidos vulgarmente com ”pedra grês”, muito utilizada como material de construção, figura 5. 15. Fig. 5. 15 – Origem dos arenitos: Grãos de quartzo resistatos provenientes do intemperismo, transportados e depositados no tamanho areia, arenitos cimentados por processos de diagênese. Os minerais mais abundantes das rochas ígneas são os feldspatos, silicatos aluminosos, cálcicos e elementos do grupo dos metais alcalinos, sódio e potássio (Si, O, Al, Ca, Na, K). As suas estruturas cristalinas são menos compactas e resistentes do que a do quartzo. Os processos de intemperismo químico (solução, hidrólise, hidratação e carbonatação), destroem completamente a estrutura cristalina dos feldspatos. Neste processo o cálcio, sódio e potássio são extraídos do retículo cristalino e o silício, alumínio, oxigênio reagem com a hidroxila da água (OH). Formam agregados coloidais que cristalizam sob a forma de uma nova estrutura mineral, os filossilicatos, um grupo de minerais de argila, em que a mais comum a Caolinita, figura 5. 16, bem como, é o principal material original de formação de rochas argilosas, os argilitos. Fig. 5. 16 – Parte de perfil em regolito desenvolvido em granito. Os nódulos brancos indicam a transformação dos feldspatos em caolinita. Em alguns pontos percebe-se a forma original do cristal de feldspato. No canto inferior esquerdo da foto, matacão granítico resistente aos processos de intemperismo. Viamão RS. Foto do Autor. Os processos de intemperismo, físico e químico, são fundamentais na formação do regolito, também conhecido como manto de alteração As argilas são minerais altamente estáveis nas condições de pressão e temperatura que ocorrem na superfície dos continentes. A erosão, transporte e deposição destes minerais argilosos , criados pelos processos intemperismo das rochas ígneas, se depositam nas bacias sedimentares, formam sedimentos argilosos, que após outras transformações na crosta terrestre, originam as rochas sedimentares, denominadas argilitos, figura 5. 17. Fig. 5. 17 – Argilito em que o material de origem são principalmente feldspatos alterados a minerais argilosos que, posteriormente, sofrem processos de compactação. Os minerais origem densos foram totalmente transformados em minerais de alteração menos densos. Os silicatos ferromagnesianos, micas, anfibólios, piroxênios, olivina compostos por (Si, O, Al, Ca, Mg, Fe), são geralmente ainda menos resistentes ao intemperismo químico do que os feldspatos, igualmente são convertidos em argilas.Além disso, a abundante quantidade de ferro contido nestes minerais, pode ser fortemente oxidado e hidratado formando óxidos de ferro, hematita, limonita e outros que conferem as cores vermelhas e amareladas aos regolitos, tão características dos produtos de intemperismo das rochas ígneas. Os principais minerais formadores das rochas ígneas podem ser organizados na seguinte ordem decrescente de resistência, aos processos de imtemperismo químico (série de Goldisch): quartzo> muscovita> feldspato potássico> biotita> feldspato sódico> anfibóleos, >piroxênios> felspato cálcico> olivina. Regolito: Regolitos no Rio Grande do Sul O regolito é o material resultante da ação dos processos de intemperismo inorgânico, químico e físico, sobre as rochas da Crosta Terrestre. O termo abrange todos os materiais inconsolidados, residuais, transportados e depositados que jazem sobre o substrato rochoso. Crostas duras como lateritas e silcretes são classificadas como regolito. A parte do regolito que ainda preserva resíduos da textura e estrutura da rocha de origem é denominado saprólito, figura 5. 18. Fig. 5. 18– Regolito desenvolvido em granito. Em primeiro plano matacões residuais envoltos no saprólito, indicando proximidade do contato com a superfície basal de intemperismo. Granito Viamão, Viamão RS. Foto do Autor O estudo do regolito é importante, principalmente em países de características tropicais, como o Brasil que apresenta muitas de suas paisagens esculpidas em rochas com espessas coberturas de mantos de alteração. O regolito assume importância econômica por ser portador de recursos minerais, entre outros, bauxita, caolim, ouro e águas subterrâneas. Por outro lado, é o principal substrato a partir do qual se estabelece a pedogênese ou formação do solo, o qual, junto com a água, é o bem fundamental para o desenvolvimento da vida no planeta. A maioria dos fósseis continentais dos períodos Terciário e Quaternário são localizados no regolito. Finalmente, muitas obras de engenharia, cidades, túneis, pontes, estradas, barragens, são parcialmente implantadas no regolito, material suscetível a se deslocar através dos movimentos de massa que podem bloquear estradas, destruir casas, veículos e ceifar muitas vidas humanas. Assim como se distinguem diversos horizontes em um perfil de solo, o regolito se diferencia em determinadas zonas de intemperismo. O contato entre a rocha sã e o saprólito, parte inferior do regolito geralmente é irregular e denomina-se frente de intemperismo ou superfície basal de intemperismo . A zona do saprólito, além de demonstrar a textura original da rocha, com blocos desta preservados, apresenta veios que cortam o saprólito em suas posições originais, indicando material “in situ” . No topo do regolito ocorre lixiviação de material por circulação de águas vadosas de infiltração. Nesta zona desaparecem indícios da textura da rocha, os veios que a cortam perdem a sua unidade, fragmentam-se e deslocam-se. Podem ocorrer ainda nesta zona, blocos de rocha arredondados dispersos. Este setor do perfil do regolito é denominado zona móvel, figura 5. 19. Fig. 5. 19 – Perfil ideal de intemperismo.Demonstra a zonação do Regolito. Modificado de (Ollier & Pain 1995) Águas subterrâneas e regolito A água é um fator de primeira ordem na formação do regolito. Em seus movimentos no regolito pode ser reativa ou solvente, na qual as reações químicas ocorrem, e a água funciona como agente de transporte para os produtos de intemperismo bem como é controladora das condições de oxidação e redução. A água pode ser subterrânea ou superficial, pode permanecer em contato com a rocha durante anos e a que se situa na base das águas subterrâneas pode permanecer estagnada durante centenas ou milhares de anos, figura 5. 20. Fig. 5. 20 – Zonas e camadas da água subterrânea. Os processos de intemperismo são diferentes em cada zona e do mesmo modo, o aspecto do regolito. Modificado de (Ollier & Pain 1995) Zonas e camadas da água subterrânea, figura 5.20. Zona superior ou de aeração 1. Camada de umidade do solo – A chuva que atinge o solo pode evaporar-se, escoar ou infiltrar. A camada de umidade do solo é um grande retentor de água e uma barreira para a recarga do lençol freático. 2. Camada intermediária – Zona de movimento para baixo da água, mas ocasionalmente, ela seca. A lixiviação é realçada e o intemperismo químico é intenso. A secagem leva à precipitação de óxidos de ferro. Ali o regolito apresenta cores em ladrilho, mosqueadas e bandadas. 3. A franja capilar – Em rochas muito porosas e permeáveis a forma do nível freático é tabular. Onde os poros são pequenos e a rocha é impermeável ocorre considerável movimento para cima pela tensão capilar e o limite entre a zona saturada e não saturada é difuso 4. A camada de flutuação – Dependendo do local e do clima sazonal na zona de flutuação há alternância de condições secas oxidantes e úmidas redutoras, por isto esta zona se apresenta frequentemente mosqueada ou bandada. Zona de saturação – Nesta zona atuam bactérias anaeróbicas. 5. Camada de descarga – Na parte superior da zona de saturação, a água subterrânea move-se em direção a sítios de descarga. O movimento é lento, sendo maior próximo à superfície freática e menor em profundidade. O fluxo transporta íons em solução liberados pelos processos de intemperismo. Estas soluções aquosas realçam processos de intemperismo no caminho de sua imigração. As reações químicas são lentas. 6. Camada estagnada – A água é praticamente imóvel e armazenada em compartimentos irregulares junto à superfície basal de intemperismo. O teor de sais, em geral, é grande. Os processos de intemperismo são lentos na camada estagnada e os produtos não são levados adiante, como na camada de descarga. O processo de intemperismo dominante é a hidrólise que atua lentamente, os íons são removidos por difusão iônica, através da camada estagnada. Esta difusão é rápida, se comparada com a lentidão dos processos de intemperismo nesta camada, o processo envolve a duração de milhões de anos. É difícil pensar em outro mecanismo que não seja a difusão iônica durante longos períodos para formar bolsões profundos de saprólito envolvido por barreiras impermeáveis.. A base da água subterrânea – É o nível determinado pela impenetrabilidade da água subterrânea. ´Em geral, é uma superfície irregular quando a água penetra por fraturas profundas ou outras linhas de fraqueza enquanto que o resto da rocha permanece seca. O contato entre a rocha saturada e seca é abrupto. A base da água subterrânea corresponde à superfície basal de intemperismo ou “front” de intemperismo. Em qualquer lugar que a água penetre em uma fenda de rocha, o processo de hidrólise é possível. Em rochas impermeáveis fraturadas, o contato entre a rocha seca e a parte fraturada é difuso e irregular. Em rochas porosas e permeáveis, este contato é nítido e regular (plano). Este limite é uma baliza do nível freático que é plano e regular em rochas porosas e permeáveis e irregular e difuso em rochas impereáveis fraturadas, figura 5. 21. Fig. 5. 21 – Relações do front de intemperismo com a base da água subterrânea em rochas impermeáveis fraturadas. Modificado de ( Ollier & Pain 1995) A figura 5.22 mostra a extrema irregularidade da superfície basal de intemperismo em rochas riodacíticas do Planalto dos Campos Gerais, RS Fig. 5.22 – Superfície basal de intemperismo em manto de alteração de riodacitos. Foto do autor. Climas e Regolito O clima é o fator mais importante no desenvolvimento de padrões de intemperismo. Ele determina o tipo e a taxa de intemperismo, bem como as características do regolito e das superfícies de rochas intemperisadas. O intemperismo químico intenso ocorre em regiões quentes e úmidas, onde se desenvolvem regolitos espessos. O intemperismo químico é mínimo em regiões polares e desérticas onde a espessura do regolito não é significativa. Os principais fatores do clima são a temperatura, as precipitações (umidade) e as variações sazonais destas. A temperatura influi tanto no intemperismo físico como químico. No primeiro, as variações de temperatura nas regiões sub polares causam ciclos de congelamento e descongelamento da água, onde a expansão do gelo forma cunhas que fragmentam as rochas. No segundo, o aumento da temperatura aumenta as taxas das reações químicas e da atividade biológica. Um aumento de 100C dobra as taxas de reações química. As taxas de precipitação influem na eficiência das reações químicas (hidrólise, oxidação, carbonatação) pois estas só ocorrem com a presença de água. Álém da quantidade de água, as características do regolito dependem da intensidade das chuvas, bem como das taxas de evaporação – transpiração. Outro fator relacionado à água é a sua acidez. Por exemplo, o ferro é 10 000 vezes mais solúvel em PH ácido do que em alcalino. A vegetação é importante. As áreas florestadas produzem ácidos orgânicos que aumentam a eficiência do intemperismo químico. Estima-se que sua eficiência é oito vezes maior do que nas regiões não florestadas. De modo geral, as taxas de intemperismo dependem, a) do clima, b) da susceptibilidade dos minerais ao intemperismo e c) do grau de exposição dos materiais aos agentes de intemperismo. A figura 5. 23 relaciona as latitudes climáticas com os tipos gerais de clima, vegetação, e estruturas dos minerais correspondentes a cada zona do regolito. Fig. 5. 23– A figura altamente generalizada, além de mostrar as relações clima, vegetação com a espessura do regolito, apresenta a variação composicional e estrutura dos minerais deste nos diferentes climas. No polar e desértico, os minerais de alteração são praticamente inexistentes, ocorre sobre a rocha piso apenas o horizonte saprolítico. No clima microtérmico, o regolito, de baixo para cima compõe-se de saprólito, zona da montmorilonita e hidromicas e discreta zona da caolinita. No clima mesotérmico, o perfil do regolito é, de baixo para cima, horizonte saprolítico, espessa zona da montmorilonita, zona da caolinita discreta e sinais de ocres – carapaças duras. No clima tropical todos os horizontes muito espessos, de baixo para cima: saprólito, zona da montmorilonita, zona da caolinita, ocres e carapaças. Modificado de ( Strakov 1965) Nas latitudes em torno de 900C predomina clima polar, com baixas temperatura, evaporação, precipitação e vegetação escassa (Tundra). O intemperismo químico é incipiente, predomina intemperismo físico que desenvolve regolito pouco espesso. Nas latitudes altas a médias predomina clima microtérmico, com moderadas temperatura, precipitação, evaporação e vegetação discreta (Taiga). Equilibram-se intemperismo físico – químico e a espessura do regolito é moderada. Nas regiões de clima desértico a evaporação média é alta, a temperatura é média, as precipitações são muito baixas a vegetação é escassa ou inexistente (Estepes). Predomina o intemperismo físico sobre o químico, o regolito é incipiente Nas latitudes sub tropicais o clima é mesotérmico (temperado a sub tropical), com moderadamente altas temperatura, precipitação e evaporação transpiração. Predomina vegetação de campo limpo com mata galeria (Savana). O intemperismo químico predomina discretamente sobre o intemperismo físico e a espessura do regolito é mediana. Nas latitudes francamente tropicais e equatorial, predomina clima tropical, com altas taxas médias de temperatura, precipitação, evaporação – transpiração, vegetação abundante (Floresta Tropical). Predomina francamente o intemperismo químico sobre o físico e o regolito desenvolve grande espessura 6. Regolito e bens minerais Depósitos de placer Os processos de intemperismo e erosão destroem os depósitos minerais primários que são separados em duas partes: os resistatos que permanecem e os hidrolisatos que são dissolvidos e transportados em solução pelos rios. A parte que permanece forma os depósitos minerais de placer, aluviais, eluviais, eólicos, praiais e glaciais.Estes depósitos são formados por minerais pesados difíceis de serem dissolvidos, ouro, platina, cassiterita, wolframita, magnetita, ilmenita e minerais não metálicos, diamante granada, berilo, zircão, terras raras. Nos placers, em relação aos minérios fonte ocorre enriquecimento mecânico e químico. Figura 5. 24. Fig. 5. 24 - Esquemas de depósitos de placer , residual, taluvial, coluvial e aluvial (terraço, planície de inundação e canal). Modificado de (Smirnov 1976) Placers laterais ou de praia Ocorrem em faixas estreitas ao longo da linha de praia. Os minerais pesados mais comuns são rutilo, ilmenita, e zircão. O teor de minerais pesados é bem maior do que nos placers aluviais. Podem estender por dezenas a centenas de km, com espessuras máximas de 1m. A secção transversal é lenticular com adelgaçamento para o continente e oceano. Associam-se a placers de duna, figuras 5. 25 . Fig. 5.25 – Depósitos minerais no litoral e faixa marítima brasileira. Destaque para a Jazida de placer de praia do Bojuru, RS. Modificado de Martins (2009). No Brasil ocorrem inúmeros depósitos de placer que vêm sendo estudados e explorados desde as entradas e bandeiras. Na figura 5. 26, pesquisa de minerais pesados com ênfase para diamante no vale do rio Jequitinhonha, litoral e plataforma continental da Bahia. Fig. 5. 26 – Distribuição dos teores de granada em % de concentrados de minerais pesados nas bacias dos rios Jequitinhonha , Pardo, e Plataforma Continental associada, Bahia. Modificado de Lima (2011). A granada é mineral satélite da ocorrência de placer diamantífero. . Depósitos residuais Em climas tropicais, sobre várias rochas, em velhas superfícies de erosão, concentramse minérios residuais que resistiram aos processos de intemperismo e erosão sob a forma de crostas lateríticas (concentração de ferro) bauxíticas (concentração de alumínio) e garnieriticas serpentiníticas (concentrações de cromo e níquel), figura 5. 27. Fig.5. 27 - Cortes esquemáticos de jazidas minerais de intemperismo areolar, linear em fraturas e contato geológico.. Modificado de (Smirnov 1976). No Brasil, as grandes concentrações de Al, Ni e Mn estão associadas a depósitos minerais de intemperismo areolar e linear, figura 5. 28. Fig.5. 28 – Crosta laterítica cortando estrutura dômica produzida por intrusão cretácea em rochas pré cambrianas, Chapadão do Ferro, MG. Ao lado, corte esquemático, concentração de níquel no perfil de intemperismo. Abaixo, à esquerda jazida de níquel da Vendinha, à direita, jazida de manganês Pedra Preta, Goiás, ambas posicionadas em superfícies de erosão cimeira. Modificado de Braun (1970). Regolitos no Rio Grande do Sul No Rio Grande do Sul ocorrem basicamente três variedades de regolitos residuais assinalados no mapa e perfil com as siglas (I, II, III) e três transportados assinalados indiscriminadamente com a letra (T), (transportados), figura 5.29, mapa e perfil. Dos três tipos residuais, o tipo I, Regolito Lateritico se apresenta concentrado na unidade morfoestrutural Planalto Médio, os outros dois, Regolito Argilitico tipo II e Regolito Saprolítico -Litólico, tipo III. Ocorrem espalhados em todas as outras unidades morfoestruturais, excluídas as planícies costeira, fluvial e algumas de suas encostas, onde ocorrem os regolitos transportados. Os regolitos transportados (T) são principalmente de três tipos: Dunas nas planícies marinha e lagunar, Terraços nas planícies fluviais e Tálus – Colúvio em algumas das encostas destas planícies. Fig 5. 29 – Classificação e distribuição dos regolitos no Rio Grande do Sul. Acima, à esquerda localização areal aproximada dos tipos de regolito, I, II e III são regolitos residuais, T indica as áreas de ocorrência dos regolitos transportados. À direita, localização nas unidades morfoestruturais. No centro, perfil generalizado do regolito, e situação ideal das tipologias no perfil. Abaixo, relações dos perfis de regolito com as superfícies de erosão e deposição do Rio Grande do Sul. Baseado em (UFRGS – EMATER 2005), (CPRM 2006), (Ab Saber 1969) Regolito Laterítico (I) – Característico da unidade morfoestrutural Planalto Médio, é o regolito mais espesso (até 40m) e com desenvolvimento mais completo do Rio Grande do Sul. Caracteriza-se por espessa zona móvel oxidada com caolinita, ausência de blocos e matacões residuais no seu seio, figura 5. 30. Fig. 5.30- Regolito laterítico, caracteriza-se por espessa zona móvel da caolinita- óxidos de ferro, Planalto Médio, RGS, rocha piso basalto. As rochas piso (“bed rock”), a partir das quais se desenvolveu o regolito lateritico no Rio Grande do Sul são, diversas variedades de basaltos. Do ponto de vista da paisagem, os perfis de regolito residual lateritico se associam principalmente a relevo planáltico ondulado com vertentes convexas. Na abordagem geomorfogenética este relevo corresponde à Superfície Cimeira de Vacaria degradada em cota média de 600m. Na área de ocorrência do regolito lateritico predomina clima mesotérmico, Subtropical , variedades Cfak no Planalto Médio, com invernos frios e Cfah no Planalto de Uruguaiana, com invernos moderados. Regolito argilitico (II) - Ocorre em todas as unidades morfoestruturais, e rochas piso do Estado, figura 5.31, excluído o Planalto Médio e as planícies fluviais e litorânea.É a unidade regolítica com a maior distribuição no Estado, reflete a qual reflete as condições climáticas atuais predominantes no território Rio Grandense. Fig. 5. 31 – Regolito residual argilítico composto da zona móvel montmorilonita – caolinita . Unidade morfoestrutural Depressão do Jacuí, limite com a unidade Bloco Pelotas. Rocha piso, arenito. Foto do autor. Do ponto de vista da paisagem, estes regolitos ocorrem principalmente em relevo maciço ondulado com vertentes convexas. Na abordagem geomorfogenética correpondem, principalmente, à superfície intermontana - interplanáltica da Campanha, em cotas médias de 250m. Se apresentam em todas as faixas de microclimas do Rio Grande do Sul. Sua espessura é variável, predomina em torno de 5 a 10m. Regolito saprolítico – litólico (III) Ocorre em todas as unidades morfoestruturais e rochas piso, fora Planalto Médio, Depressão Periférica , planícies Costeira e Fluvial, figura 5. 32. Fig. 5. 32 – Regolito saprolitico - litólico, unidade morfoestrutural Planalto dos Campos Gerais, rocha piso, riolito, fácies Caxias, Caxias do Sul. Foto do Autor. Do ponto de vista da paisagem os regolitos saproliticos – litólicos ocorrem em áreas planálticas fortemente erodidas , em cristas, escarpas e vales com vertentes retilíneas. Em geral, as rochas piso, “bed rock”, muito duras, têm alta resistência geomorfológica. Na abordagem geomorfogenética, correspondem principalmente nas superfícies cimeira Vacaria e Caçapava em altitudes que variam entre 400 e 1300m. A faixa de microclima correspondente a estes regolitos corresponde a clima mesotérmico úmido com invernos frios (Cfb). Regolito transportado(T). Ocorre principalmente nas planícies marinha, lagunar e aluviais, sob a forma de dunas na planície marinha, terraços nas planícies aluviais e tálus – colúvio nas encostas das planícies lagunar e fluvial, figura 5. 25. Fig. 25 – Regolitos transportados. Acima, à esquerda, campo de dunas na Planície Marinha. À direita leque coluvial em encosta da Planície lagunar. Abaixo terraço aluvial em Planície Fluvial. Foto do autor e coleção Google Earth. INTEMPERISMO BIOQUÍMICO – SOLOS DO RIO GRANDE DO SUL .Breve histórico da Pedologia Os primeiros estudos sistemáticos relativos à identificação e classificação dos solos se originam do campo da geologia, onde os solos são designados em função da formação geológica a que se associam, por exemplo, Solos do Arenito Botucatú, etc. O solo é ligado ao material de origem. Os dois grandes grupos de solos são solos residuais e transportados. Parte do geólogo russo Dokouchaiev (1846 – 1903), a iniciativa de classificar os solos, com orientação genético – morfológica, baseada nas características do próprio solo, ligadas a fatores genéticos, principalmente o clima. É o primeiro estudioso a visualizar a diferenciação dos perfis dos solos em horizontes característicos. Em seus estudos verifica que rochas idênticas podem originar solos diferentes, conforme a zona climática em que elas ocorrem. Marbut (1948), baseia-se principalmente nos estudos de Dokuchaiev, com atenção especial aos horizontes do perfil. Cria a simbologia para os horizontes do perfil (O, A, B, C, R) onde O é o horizonte superficial com matéria orgânica parcialmente decomposta, A o horizonte eluvial ou húmico lixiviado, B o horizonte iluvial de acumulação, C o saprólito ou rocha alterada e R a rocha matriz do solo A partir de Marbut os pedólogos americanos criam a classificação dos solos em 7a aproximação com a colaboração de pedólogos dos quatro cantos do Planeta. Para enquadrar o solo nesta classificação é necessária a acumulação de grande quantidade de dados morfológicos, descritivos, diversas análises químicas e físicas, de laboratório, além de interpretação genética. Os grandes defeitos desta classificação, do ponto de vista prático, são a sua excessiva complicação e a necessidade de determinadas pré suposições. No Brasil o precursor do estudo sistemático dos solos é o geólogo José Setzer que em 1941, elabora a primeira classificação dos solos do Brasil. Em 1947 cria-se a Comissão de Solos do Centro Nacional de Pesquisas Agronômicas do Ministério da Agricultura. Esta comissão é integrada por diversos pedólogos estrangeiros que elaboram a Classificação Pedológica dos Solos do Brasil. A classificação atual dos solos do Brasil é a proposta pela EMBRAPA (1974), que leva em conta a classificação americana de solos, o mapa mundial de solos da FAO e as condições locais e regionais de agrupamento dos solos brasileiros. Em 1980 pedólogos brasileiros encabeçados por pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias. EMBRAPA adaptam a classificação americana em 7a aproximação para as condições dos agrupamentos de solos brasileiros, baseados na 1a aproximação em que é levado em consideração, de início, o primeiro nome do solo. Em 2006 ocorre a última modificação desta classificação, a qual é utilizada atualmente pelos pedólogos brasileiros. Pedogênese A principal atividade do intemperismo bioquímico é a pedogênese ( pedon =solo, gênese = formação) e o seu principal resultado é o solo. Os processos de intemperismo biológico atuam fundamentalmente no regolito e subsidiariamente na rocha. O crescimento das raízes e caules das plantas em fraturas age fisicamente e exerce grandes pressões nas paredes das fendas das rochas alargando-as e expandindo-as. Vegetais de todos os tipos, incluindo fungos e liquens agem quimicamente, uma vez que eles retiram do regolito ou da rocha elementos químicos para a sua nutrição, liberando outros. Também, a água interagindo com bactérias, ataca os minerais das rochas e do regolito com muito mais vigor do que as outras águas naturais. Os remanescentes dos vegetais mortos,são atacados por fungos e bactérias, liberando gás carbônico, ácidos orgânicos, traços de amônia e ácido nítrico, que passam para a água aumentando enormemente o seu poder solvente e dissolvente. O principal produto orgânico de todas estas ações é um complexo residual de substâncias escuras, o húmus. O húmus é o constituinte orgânico mais importante do solo e o que o distingue do regolito. Animais como minhocas, cupins, roedores também são agentes de intemperismo biológico e contribuem para a gênese dos solos. As minhocas consomem grande quantidade de vegetais em decomposição e seus excrementos são um importante componente do húmus. O solo é composto pelas fases sólida, líquida e gasosa, figura 5. 33. Fig.5.33 – As três fases em proporções ideais no solo (ar+água+ minerais + matéria orgânica). A fase sólida é composta de matéria mineral proveniente do intemperismo das rochas e da decomposição dos vegetais (húmus). A fase líquida consiste de água submetida às forças higroscópica, capilar e gravitacional. O ar, 20 vezes mais rico em gás carbônico do que o atmosférico ocupa os vazios sobrantes. A água está carregada de íons dissolvidos principalmente da fase sólida mineral Perfil Ideal do solo Perfil do solo é uma secção vertical deste . Uma vez exposto em corte pode-se observar e descrever os distintos horizontes do solo, figura 5. 34. Cada horizonte se diferencia, do ponto de vista físico e químico. Fig.5. 34 –Perfil ideal completo de solo, destacando os horizontes principais. As setas brancas indicam o movimento da água que transloca matéria dos horizontes A e C para o B. Os horizontes maiores do solo são denominados, de cima para baixo O, A, B, C, R. O horizonte superficial O, apresenta restos de matéria orgânica não decomposta O horizonte A, chamado húmico ou eluvial, geralmente é rico em matéria orgânica decomposta, e diagnostico da fertilidade do solo. Apresenta cor escura na parte superior e clara, pálida na inferior. Sofre lixiviação de matéria fina, geralmente argilas e hidróxidos de ferro que são carregados pelas águas de infiltração em direção ao horizonte B. O horizonte B, iluvial, geralmente rico em argilas e hidróxidos de ferro translocados do horizonte A e C. A matéria que vai do horizonte C para o B, o faz através da água do lençól freático que sobe por capilaridade. Em geral, apresenta cores vivas, vermelho, amarelo, marrom. É o horizonte diagnóstico principal para a classificação do solo, seja pelo seu desenvolvimento peculiar, seja pela sua ausência no perfil. O horizonte C saprolítco apresenta material alterado com relíquias da textura e estrutura da rocha piso, bem como fragmentos desta pouco intemperisada. Pode se encontrar abaixo do nível freático O horizonte R, rocha matriz, indica a composição química – mineralógica do material de origem do solo, se este não é transportado. Formação generalizada do solo, fatores de formação, perfil do solo. Os fatores naturais de formação do solo são a rocha de origem, o clima, o relevo, tempo de duração do seu desenvolvimento e os organismos vivos. Atualmente a ação do homem, modifica drasticamente as condições de fertilidade dos solos naturais. A influência da rocha matriz é evidente nos aspectos texturais do solo. Um arenito composto principalmente por grãos de quartzo dará origem a solo de textura arenosa, um argilito, onde predominam minerais de argila formará um solo com textura argilosa e assim por diante, figura 5. 35. Fig. 5. 35 - Solo com textura arenosa, desenvolvido em área de arenização, material de origem, arenito Botucatú. Influência da natureza do solo pelo material de origem. Foto do autor. A ação do clima é realçada nas regiões tropicais onde ocorrem altas médias de temperatura e precipitação pluviométrica anuais. Independentemente do substrato rochoso, nessas regiões desenvolve-se principalmente um único tipo, o Latossolo, solo vermelho, marrom ou amarelado, espesso, pobre em nutrientes, onde predominam argilas do tipo caolinita, óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio insolúveis. Desaparece o limite entre horizontes, figura 5. 36. É, de longe o tipo de solo mais importante do território brasileiro. Fig. 5. 36 – Latossolo em relevo suave ondulado, a cor avermelhada indica riqueza de ferro no perfil, observa-se a pouca ou nenhuma diferenciação dos horizontes, influência direta do clima na formação do perfil. Cerrado, região Centro Oeste do Brasil, na faixa de clima tropical. Á direita, mapa dos latossolos vermelho amarelos do Brasil. Fotos (Manual Técnico de Pedologia IBGE 2007), figura (Ker sem data). O relevo influi na diferenciação qualitativa dos solos originando toposequências, mas a sua influência mais evidente é na espessura do perfil. As regiões planas, topos de planaltos, depressões periféricas, planícies tendem a apresentar solos espessos, bem desenvolvidos, devido a pouca remoção por erosão e movimentos de massa. Zonas de encosta, vertentes de vales costumam apresentar solos delgados, rasos, pois na medida em que o solo se forma, é removido por processos erosivos e movimentos de massa. As condições de drenagem influem não só na espessura, mas também qualificação dos horizontes, figura 5. 37. Fig. 5. 37 – Toposequências de solos, o mesmo material de origem (argilito) em diferentes situações topográficas produz solos diferentes. (Modificado de Clamt et al 2008) O tempo de formação de um solo tem boa relação com os elementos do relevo. Solos profundos, bem desenvolvidos que ocorrem no topo dos planaltos têm sua existência preservada por longos espaços de tempo. Nesta situação geomorfológica ocorrem altas condições de infiltração e drenagem. Na situação geomorfológica de baixadas, ocorrem altas condições de infiltração e baixas de drenagem, o perfil de solos é pouco desenvolvido. Na situação geomorfológica de encostas, as condições de infiltração e drenagem são baixas, o perfil de solo é muito pouco desenvolvido e novo, ou mesmo, o perfil é constantemente removido, figura 5. 38. Não são levadas em conta situações de movimentos de massa. Fig. 5. 38 – Em A infiltração e drenagem altas, solos velhos altamente desenvolvidos, em B alta infiltração baixa drenagem solos medianamente desenvolvidos, em C baixas drenagem e infiltração, solos novos muito pouco desenvolvidos ou ausentes. Foi comprovada a relação dos teores de argila no solo com a antiguidade deste. Idealmente, de modo simplificado, a formação de um solo maduro muito desenvolvido, começa com o ataque da rocha por fungos, musgos e líquens, auxiliados por diversos agentes geológicos de origem externa, principalmente a água. O resultado é a formação de regolito saprolítico. As gramíneas se fixam neste saprólito, desenvolvem os horizontes B e C, também auxiliadas pelos agentes geológicos de origem externa. A região de campo é tomada por árvores de grande porte (matas) com raízes profundas que contribuem para o desenvolvimento de perfil completo de solo, maduro e antigo, figura 5. 39. Fig. 5. 39 – Esquema generalizado da influência do tempo no perfil de solo. No tempo I principalmente líquens, musgos atacam a rocha sã, no tempo II, a rocha alterada é povoada por gramíneas, formando-se litossolo que evolui para argissolo em um tempo III. Fotos do Autor. A contribuição mais visível da influência de um organismo vivo na formação dos solos é a ação física de raízes e troncos de árvores que se desenvolvem nas fendas das rocha e que, ao crescerem, exercem fortes pressões no maciço rochoso, que causam a sua fragmentação em blocos menores Os organismos são os principais responsáveis pela fertilidade dos solos, uma vez que a formação do húmus está diretamente relacionada com a presença e atividade vital destes, os quais participam ativamente dos ciclos do carbono e nitrogênio, principais elementos formadores dos vegetais, e presentes no humus, figura 5. 40. Fig. 5. 40 – Ataque de rocha por organismos, raízes, líquens e herbáceas. Abaixo papel dos ciclos do carbono e nitrogênio na formação do solo. No ciclo do nitrogênio, o N atmosférico é principalmente assimilado pelas bactérias nirtrificantes que ocorrem em nódulos nas raízes das leguminosas. Estas fixam o nitrogênio como amônia. Os restos de excrementos de animais e partes das plantas mortos são decompostos por bactérias, fungos e também produzem amônia. As bactérias nitrificantes transformam a amônia em nitratos e nitritos, assimilados pelas plantas para o seu desenvolvimento, mas parte é consumido por bactérias desnitrificantes que retornam nitrogênio para a atmosfera. No ciclo do carbono, o gás carbônico da atmosfera, por fotossíntes é assimilado pelo vegetal e em combinação com a água forma carbohidratos. Os animais se alimentam das plantas, a sua respiração retorna gás carbônico para a atmosfera. A respiração dos vegetais também o faz. Os animais morrem os vegetais também e são disponibilizados para a atividade bacteriana que libera nutrientes para as raízes das plantas e formam humus. O humus se decompõe e libera gás carbônico para a atmosfera. 5. Classificação Textural dos solos. A textura dos solos é condicionada principalmente pelo material de origem. A primeira observação das propriedades dos solos se refere à sua textura que é determinada pelo tamanho e arranjo das partículas minerais e orgânicas que o formam. O primeiro nível de classificação dos solos é o textural. Os solos são divididos em Classes texturais de Solos As texturas dos solos, de um modo simplificado, variam de um extremo argiloso, síltico a arenoso,. Os solos argilosos são mal drenados, acumulam muita água o que dificulta o seu manejo, quando saturados. Os solos arenosos são bem drenados e de mais fácil manejo. A classificação textural dos solos é importante para o seu uso e manejo, principalmente no que se refere a aspectos de drenagem. Esta classificação refere-se ao tamanho predominante de partícula mineral que forma o solo. Os diâmetros das partículas fundamentais que compõem o solo são: areia (Ar) = 1mm – 0,05mm; silte (Si) = 0,05mm – 0,002mm; argila (Ag) = abaixo de 0,002mm.Conforme os tamanhos de grão os solos podem ser classificados em 9 tipos básicos, figura 5. 41. Figura 5. 41 – As nove classes fundamentais de solos, segundo a textura. A textura do solo é responsável pela retenção da água. Como a água se move e é presa no solo, a quantidade de umidade que ele contém, e a quantidade aproveitável pelas plantas depende do tamanho e distribuição dos vazios, e da atração que as partículas sólidas exercem na água. Tanto a matéria mineral como a orgânica atraem a água. Através do processo denominado adesão, a água forma filmes em torno das partículas. A atração entre moléculas de água denomina-se coesão. De modo geral, quanto menor a partícula sólida, maior é a adesão – coesão da água. A saturação do solo facilita a remoção da água por gravidade, em direção ao lençol freático. Alguns coeficientes de adesão – coesão de tipos texturais de solo, quadro I Quadro I Solo coeficiente de adesão Arenoso 0,36 Areno - síltico 0,70 Siltico 1,2 Argiloso 1,4 Orgânico 1,5 A retenção de água no solo depende de sua textura. Os horizontes de humo e turfa retém várias vezes o seu peso seco em água, o solo arenoso 10%, horizonte A, com matéria orgânica 30 a 35%. A adição de matéria orgânica aumenta a quantidade de água avaliável para o solo principalmente em relação aos solos com textura arenosaA composição do ar nos vazios dos solos é diferente do ar atmosférico, quadro II. Quadro II Elemento Nitrogênio Oxigênio Gás carbônico Ar Ar do Solo 78,60% 20,00 0,50 0,90 Ar atmosférico 78,03% 21,00 0,03 0,94 6. Estrutura do solo. O quadro III resume esquematicamente as principais estruturas que podem ocorrer nos solos. O tamanho destas unidades estruturais é variável, para descrições de campo, podem ser classificadas em pequena, média, grande, muito grande. Quanto à coesão, podem ser sem agregação (areia), solo não estruturado, com agregação e sem estrutura (argiloso maciço), com agregação e com estrutura, agregação forte, média, fraca. Os principais agregantes são óxidos de ferro – alumínio, argilas. O tipo de estrutura, suas dimensões, o grau de coesão afetam a penetração e distribuição das raízes no perfil de solo. Solo não estruturado e muito coeso bloqueia água, óxigênio e nutrientes necessários para o crescimento da planta. A estrutura do solo pode determinar o tipo de cultura apropriada para uma determinada estruturação do solo. 7. Classificação Agronômica dos solos O elemento básico de classificação do solo é o perfil do solo, onde devem ser observados e descritos o número e espessura dos horizontes, cor, textura dos horizontes, composição mineralógica, quantidade de matéria orgânica, características de drenagem, bem como outros aspectos complementares observados. A tendência de classificar é um instinto do ser humano. O objetivo primeiro da classificação dos solos é o identificar e lhe dar um nome . A 4000 anos, na China, os solos eram classificados por sua produtividade. O pai da classificação genética dos solos é o geólogo russo Dokoutchaiev que em 1888 estabelece os fatores formadores dos solos (rocha matriz, clima, geomorfologia , organismos e tempo), distingue os horizontes dos solos, cria uma sistemática de mapeamento dos solos e estabelece a necessidade de os solos serem estudados em laboratório. Esclarece que o solo não é uma formação geológica, mas sim, um corpo natural independente e deve ser considerado como um reino da natureza, figura 5. 42. Fig. 5. 42 - Os quatro reinos da Natureza, segundo Dokouchaiev. Afirma que uma classificação genética dos solos sem o seu mapeamento no campo, não faz sentido. Portanto, a classificação dos solos existe para os solos serem mapeados. A classificação genética é feita a partir das propriedades intríncecas de cada perfil de solo. Os solos, do ponto de vista agronômico, são classificados de diferentes maneiras e praticamente cada país tem o seu próprio sistema de classificação, é assunto para especialistas, cientistas dos solos. No Brasil, a classificação mais adotada é a da EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias). O quadro III apresenta a classificação genética dos solos adaptada para os solos do Brasil SBCS) sistema brasileiro de classificação dos solos, publicado pela EMBRAPA, (2006). O nível categórico de classificação é o 10, ordens de solos. Nível categórico de um sistema de classificação de solos é um conjunto de solos, definidos segundo atributos diagnósticos em um mesmo nível de generalização. Para a classificação, leva-se em conta a presença ou ausência de certos atributos, horizontes diagnósticos ou propriedades que podem ser identificadas no campo. A diferenciação neste10 nível categórico deve-se ao efeito particular que os processos de formação do solo (rocha matriz, clima, geomorfologia, organismo, tempo) imprimiram ao perfil do solo. Quadro III 8. Descrição sucinta das ordens de solos 1. Neossolos – Neo = novo. Solos pouco evoluídos, constituídos por matéria mineral e, ou matéria orgânica com menos de 20cm de espessura, falta o horizonte B diagnóstico. a. Neossolos litólicos. O horizonte A assenta diretamente sobre a rocha matriz ou sobre saprólito pouco desenvolvido, o contato é lítico nítido b. Neossolos flúvicos, sobre depósitos aluviais, (areia, cascalho). c. Neossolos regolíticos, Solos em contato lítico a uma profundidade maio do que 1,5m, falta o horizonte B diagnóstico. No perfil deve haver sinais claros da rocha matriz, com indícios de minerais primários alteráveis (+ de 4%). d. Neossolo quartzarênicos – Horizonte A, areia quartzífera, falta o horizonte B diagnóstico. 2. Cambissolos – Cambi = em mudança. Solos pouco desenvolvidos com horizonte A inscipiente. A pedogênese é pouco avançada, mas o materiad de origem apresenta alto grau de intemperização. Presença de argila de atividade baixa. Cores variadas. 3. Luvissolos – Luvi = iluvial, B com argila de atividade alta. Evolui por processos de bissialitização e formação de óxidos de ferro e mobilização da argila da parte mais superficial, com acumulação no horizonte B. 4. Argissolos – Argilla = argila, B textural bem desenvolvido, com argila de atividade baixa, caráter alítico. Bem desenvolvida com processo de ferralitização incompleto, presença de caulinita, óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio, acumulaçao de argila e ferro no horizonte B. 5. Nitossolos, Nitus = nítido. Horizonte B nítido, argilas com atividade baixa, álico. Evolução pedogenética avançada por ferralitização, hidrólise intensa, composição caolinítica com hidróxido de alumínio entre camadas de argila. Horizonte diagnóstico B nítico, gradiente de textura baixo, estrutura em blocos sub angulares, angulares ou prismáticos, com expressiva cerosidade nas unidades estruturais. 6. Latossolos, Lato = material muito alterado. Horizonte B latossólico. Evolução pedogenética muito avançada, atuação pronunciada do processo de ferralitização – laterização, minerais primários totalmente intemperizados e mesmo os secundários menos resistentes, concentração relativa de argilo minerais de baixa atividade, óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio. Homogenização do perfil. 7. Plintossolos. Plinthus = Tijolo. Presença de plintita ou petroplintita. Segregação localizada de ferro, sob a forma de cimento, pode formar concreções ferruginosas (petroplintita). Horizonte diagnóstico sub superficial plíntico, conccrecional ou lito plíntico. 8. Planossolos, Planus = horizonte B plano. Horizonte B abaixo de qualquer horizonte A. Lixiviação vigorosa de argilas do horizonte A para o B. Nitida diferença do horizonte A para o B, transição abrupta, mostra mudança textural abrupta. Impermeável em sub superfície, que interfere na infiltração, evidência de processos redutores pelas cores cinza e escuras. 9. Gleissolos, Glei = Hidro. Solos hidromórficos, redução dos compostos de ferro em presença de matéria orgânica, com ou sem alternância de oxidação, por efeitos de flutuação do nível freático, condições de inudação periódica ou permanente. Solos de banhado. 10. Organossolos, Organo = Orgânico. Predominância de matéria orgânica no solo (turfa). A matéria orgânica predomina sobre a matéria mineral, saturação por água permanente ou periódica, zonas de afloramento do lençol freático, banhados. 11. Vertissolos, Verti = Vertere, inverter. Solos com horizonte vértico. Caracteriza-se por fenômenos de expansão e contração com formação de largos prismas de ressecamento, e presença de slikensides. Alto teor de argilas expansivas do grupo da montmorilonita 2:1. Necessita de presença periódica de água, posteriormente evaporada 12. Chernossolos, Cherno = Preto. Horizonte A húmíco com argilas de atividade alta, medianamente evoluídos, sede de processos de bissialitização, reação neutra. O horizonte diagnóstico é o A, o B pode ser textural ou modesto. Enriquecimento de cálcio no perfil. . 13. Spodssolo. Spodus = Cinza vegetal. Horizonte B diagnóstico, predominam processos de podsolização, horizonte B iluvial, precipitação de compostos de alumínio, com ou sem ferro, matéria orgânica ácida, dissolve o alumínio e ferro do horizonte A eluvial e precipita no B iluvial. Horizonte A, álbico ou não. A figura 5. 43 é um mapa demonstrativo da ocorrência das principais ordens de solos do Rio Grande do Sul. Observa –se a grande distribuição em área das ordens Latossolos, e Neossolos . Ordens de expressão mediana são Cambissolos, Argissolos, Planossolos e Luviossolos e Chernossolos. Ocorrências modestas referem-se a Nitossolos Vertissolos, Gleissolos e Organossolos e Plintossolos. Fig. 5. 43- Mapa esquemático das principais ordens de solos do Rio Grande do Sul. Fig. 5.44 – Mapa de Solos ASSOCIAÇÕES DE SOLOS DO RIO GRANDE DO SUL, ORDENADAS SEGUNDO O MATERIAL DE ORIGEM E RELEVO. I. Objetivo Leva-se em conta a influência do tipo de rocha e relevo na formação do solo. Situa-se as associações de solos em 16 unidades morfoestruturais ((paisagens condicionadas por distintas associações de rochas) diferenciadas no Rio Grande do Sul. Cada unidade morfoestrutural e suas associações relevo – rocha –solo são descritos brevemente, no espaço de uma página, com o propósito didático de servir de guia prático para o reconhecimento, delimitação, classificação preliminar das ordens de solos do Rio Grande do Sul por fotointerpretação de estereomodelos no meio digital em anaglifos georeferenciados no software Quantum Gis. O objetivo é a produção de mapa preliminar de solos, base para futuros trabalhos detalhados de campo e laboratório. II. Associações de rochas, altimetria, solos e unidades morfoestruturais do Rio grande do Sul. A confrontação da distribuição geográfica das diferentes ordens de solos do Rio Grande do Sul com 16 unidades morfoestruturais caracterizadas por determinadas associações de rochas e relevos, denota a influência do material de origem e do relevo na gênese dos perfis de solos, figura 5.45. Fig. 5.45 – Em (I) rochas e unidades morfoestruturais do Rio Grande do Sul,, em (II) Relevo e unidades morfoestruturais , em (III), solos e unidades morfoestruturais. Com base nesta concepção localiza-se e descreve-se as associações de solos em cada uma das unidades morfoestruturais, salientando a influência da rocha (material de origem) e do relevo (catena) na formação dos solos do Estado. III. Solos da Planície Costeira, sedimentos e rochas sedimentares friáveis. A unidade Morfotectônica Planície Costeira ocupa área de aproximadamente 25.000 km 2, em torno de 7% da superfície do Rio Grande do Sul, é desdobrada em duas unidades morfoestruturais: Planície Marinha ou externa, delimitada a leste pelo Oceano Atlântico e a oeste pela margem externa das grandes lagoas litorâneas. Planície Lagunar ou interna, delimitada a leste pelas margens internas das grandes lagoas litorâneas e a oeste pelo Escudo e Planalto, figura 5. 46. Predominam planícies nos terraços marinhos, lagunares , fluviais, e coxilhas esparsas de baixa altitude que não passam de 50m, modeladas em depósitos eólicos e de leques colúvio - aluviais. O substrato é de sedimentos principalmente de textura arenosa. Aproximadamente no mesmo nível da planície lagunar ocorrem, terraços aluviais principalmente nos rios maiores, baixo Uruguai, Ibicuí, Jacuí, Camaquã, com características físicas semelhantes aos terraços lagunares e solos com a mesma vocação agrícola. São quatro os principais tipos de solos que ocorrem na Planície Costeira, neossolos quartzoarênicos (dunas), planossolos, argissolos e chernossolos. Os planossolos são ocupados pela orizicultura, os chernossolos para a produção de cebola. Nos argissolos ocorrem principalmente campos naturais e cultivados com forragens consumidas para a criação de gado leiteiro. Fig.5.46– Os três principais tipos de solos da Planície Costeira. Dominam planossolos com ocorrências esparsas de argissolos e chernossolos, estes principalmente no extremo sul. À direita, destaque para áreas de ocorrência de solos de várzea nas planícies o Rio Grande do Sul. 1. Solos da Planície Costeira Externa – Planície Marinha. Nesta unidade morfoestrutural de relevo plano, com inúmeras lagoas cordiformes e sedimentos arenosos à base de quartzo, eólicos, (dunas) ou de praia (várzeas). Nas dunas em fase de pedogênese ocorrem neossolos quartzo arênicos , figura 5.47. Nas várzeas ocorrem planossolos, neossolos quartzo arênicos, argissolos e chernossolos, estes no extremo sul da Planície Marinha, em Santa Vitória do Palmar. Nos solos de várzea predomina a orizicultiura, nos solos em dunas fixadas pela vegetação, culturas de abacaxi e cebola. Fig. 5. 47– Neossolo quartzo arênico, duna fixada pela vegetação, em processo inicial de pedogênese. Nas dunas ocorrem neossolos quartzo arênicos, nas inter dunas e terraços marinho – lagunares, solos de várzea, em geral, planossolos. Imagem aérea, Google Earth. A seta preta na imagem indica a direção do vento. Abaixo, à esquerda perfil de neossolo quartzo – arênico. 2. Solos da Planície Costeira Interna: Planície Lagunar e Leques, sedimentos, colúvios, rochas sedimentares friáveis. Na planície lagunar predominam sedimentos de composição variada, de leques aluviais, e paleodunas com relevo suave – ondulado. Terraços lagunares - marinhos antigos planos, quase no nível do mar. Excluídos os solos em leques aluviais e em depósitos eólicos, predominam solos de várzea nos terraços lagunares. Nos leques , no limite da planície lagunar com o Escudo e nos depósitos eólicos, paleo dunas, predomina a ordem dos argissolos. Nas várzeas ocorre principalmente a ordem dos planossolos, figura48, com pequenas manchas de chernossolos nos extremos norte e sul da Planície Lagunar. Em leques coluviais, no limite da Planície Lagunar – Fluvial com o Planalto, onde afloram basaltos, ocorrem chernossolos pedregosos., Fig. 48– Planossolo com cultura de milho. Observar o limite abrupto, aproximadamente plano, entre os horizontes A e B. Na imagem Google Earth, Orizicultura. Abaixo vista de campo, no detalhe, canal de irrigação. Leques colúvio aluvionares, mantos de alteração de basaltos e granitos. No limite da Planície Lagunar, por um lado, com o Escudo e, por outro, com o Planalto, ocorre relevo linear, modelado em leques colúvio -aluviais originados respectivamente de granito e basalto. Nos leques de material granítico, formam-se argissolos, nos de material basáltico, chernossolos. Nos chernossolos, principalmente da encosta leste do planalto, predominam minifúndios com intenso cultivo de hortaliças e flores ornamentais, figura 5. 49. Fig.5. 49– Na planta-imagem leques coluviais, chernossolos no médio vale do Rio Três Forquilhas, RS. Imagem Google Earth. Intenso uso do solo, horticultura, fruticultura e floricultura. No perfilterreno solos em leques coluviais sobre basalto. Abaixo, localização. 3. Solos das Planícies Fluviais, sedimentos. Nos vales dos grandes rios, Uruguai, Ibicuí, Jacuí, Camaquã e seus afluentes maiores ocorrem terraços aluviais em altitudes inferiores a 100m, onde dominam amplamente planossolos com textura areno – síltica geralmente bem drenados. Relevo extremamente plano modelado principalmente em sedimentos inconsolidados a pouco consolidados, figura 5. 50. Sua distribuição espacial é marcadamente linear, pela associação direta com canais de drenagem. Fig. 50– Em A terraço fluvial, formam-se principalmente planossolos aproveitados para orizicultura. Em B, relevo levemente ondulado, modelado em rochas sedimentares silticas, predominância de argissolos. Imagem Google Earth. Ao lado, perfil de planossolo desenvolvido em planície aluvial. IV. Solos da Depressão Periférica O nome Depressão Periférica significa paisagem rebaixada, modelada em rochas sedimentares que circundam os relevos altos do Escudo. Predominam rochas sedimentares com médio a baixo grau de litificação, modeladas em coxilhas suaves com vertentes convexas e altitudes entre 100 e 200m. Esta unidade morfotectônica ocupa uma superfície de aproximadamente 16000km2 que corresponde a 6% do território gaúcho. Delimita-se a norte e oeste com o Planalto, onde desaparece sob a sequência de rochas ígneas vulcânicas. A sul e leste encobre as rochas ígneas plutônicas do Escudo, figura 5. 51. Levando em conta a sua distribuição em área é a unidade que mostra maior diversidade de solos: Argissolos, latossolos, planossolos, vertissolos, luviossolos e chernossolos. O uso dos solos forma um mosaico de campos com criação de gado de corte e diversas culturas, fumo arroz, soja, milho, as mais comuns. Fig.5. 51– Ordens de solos da Depressão Periférica. No leste, Depressão do Jacuí e oeste norte, Depressão do Ibicuí predominam amplamente argissolos. A sul, Depressão do Negro, dominam vertissolos e chernossolos. 1. Solos na Depressão do Rio Jacuí, rochas sedimentares, siltitos, argilitos, arenitos. Nesta unidade morfoestrutural ocorrem rochas sedimentares da Bacia do Paraná, com predominância de pelitos, siltitos, argilitos e arenitos subordinados. A paisagem é formada por coxilhas com vertentes convexas, suave onduladas em baixas altitudes, não superiores a 200m As condições de rocha e relevo favorecem amplamente a formação de argissolos com textura siltico argilosa e baixas condições de infiltração - drenagem É comum o afloramento do lençol freático, sob a forma de banhados, onde se desenvolvem gleissolos, figura 5.52. Fig. 5. 52– Relevo em coxilhas suaves com vertentes convexas modeladas em siltitos e argilitos. Desenvolvimento de argissolos, com textura síltico argilosa. Os tons escuros, como em a, indicam afloramentos do lençol freático e formação de gleissolos. Imagem Google Earth. À direita argissolo com B textural desenvolvido em arenito. Neste caso, as condições de infiltração – drenagem são melhores. 2. Solos da Depressão do Rio Ibicuí, rochas sedimentares, siltitos e argilitos Nesta unidade morfoestrutural, figura 5. 53, ocorre relevo fraco ondulado, coxilhas com vertentes convexas, modeladas em rochas sedimentares da Bacia do Paraná, siltitos, argilitos, em altitudes entre 100 e 200m. Nos siltitos, desenvolvem-se perfis de argissolos com textura siltica, infiltração e drenagem de média a baixa. Nos argilitos desenvolvem-se perfis de chernossolos, com textura argilosa, baixa taxa de infiltração e drenagem muito pobre. Fig. 5. 53– Relevo suave – onduado na Depressão do Rio Ibicuí, onde ocorrem principalmente perfis de chernossolos, com taxa de infiltração muito baixa e condições pobres de drenagem. A ausência de culturas denota a ocupação do solo principalmente para pecuária. Imagem Google Earth. Ao lado, argilito, matriz da formação de chernossolos 3. Solos da Depressão do Rio Negro, rochas sedimentares, siltitos, argilitos. Nesta unidade morfoestrutural o relevo é suave ondulado, as altitudes estão entre 100 e 200m, vertentes convexas, esculpido em rochas sedimentares, siltitos e argilitos, estes com argilas expansivas. Nestas condições de relevo e rochas desenvolvem-se perfis de chernossolos nos siltitos e vertissolos nos argilitos. Nestes, observa-se estruturas em prismas fendilhados e “slikensides”. Más condições de infiltração e solos mal drenados, figura 5.54. Fig. 5. 54 – Em A, relevo suave ondulado modelado em siltitos com perfis de chernossolos. Notar o intenso uso dos solos. Em B, vertissolos em várzea. Imagem Google Earth. Ao lado perfil de vertissolo, notar a estrutura prismática que adentra no horizonte B V. Solos do Planalto. Nesta unidade Morfotectônica, a maior do Estado com aproximadamente 230 000 km2 num total de 65% da superfície do Rio Grande do Sul, o relevo regional em Planalto, com altitudes entre 500 e 1200m, se diferencia em seis unidades morfoestruturais com associações de solos distintas, figura 5. 55. No Planalto dos Campos gerais onde predominam rochas vulcânicas ácidas, ocorrem cambissolos, litossolos e latossolos, estes associados a rochas vulcânicas básicas. No Planalto de Soledade onde predominam rochas vulcânicas ácidas e básicas, ocorrem litossolos associados aos vulcanitos ácidos e chernossolos pedregosos às básicas. No Planalto Médio, ocorrem rochas vulcânicas básicas com delgadas coberturas de arenito com matriz argilosa, predominam amplamente os latossolos. No alto Uruguai, onde afloram rochas vulcânicas básicas, predominam chernossolos pedregosos. No Médio Uruguai onde afloram rochas vulcânicas ácidas e básicas, rocas sedimentares, arenitos - siltitos ocorre mosaico de solos das ordens dos litossolos, nitossolos, luviossolos. No Planalto de Uruguaiana afloram rochas vulcânicas ácidas e intermediárias, arenitos silisificados onde ocorrem amplamente neossolos litólicos pedregosos e, restrito à confluência dos rios Uruguai e Quaraí, sobre terraços aluviais, se desnvolvem perfis de chernossolo. Na Serra Geral ocorrem principalmente colúvios, cobertos principalmente por chernossolos O Planalto e de longe, a área mais importante do Estado, do ponto de vista agro pecuário, O Planalto de Uruguaiana e Médio Uruguai e seus litossolos, se destacam pela pecuária, o Planalto Médio com seus latossolos, , através de lavouras mecanizadas, é o centro de produção de grãos (trigo e soja), do Rio Grande do Sul. No Alto Uruguai e Planalto de Soledade e Serra Geral, em seus chernossolos destacam-se minifúndios com policulturas. No Planalto dos Campos Gerais, seus cambissolos são ocupados pela pecuária e fruticultura. Fig. 5. 55 – Solos do Planalto. Os latossolos, litossolos, chernossolos e cambissolos são os mais importantes do Planalto, em área de ocorrência. 1. Solos do Planalto dos Campos Gerais – Rochas Vulcânicas ácidas Nesta unidade morfoestrutural, o relevo é plano – ondulado com vertentes retilíneas, baixa altitude relativa dos talvegues dos vales altitude absoluta entre 900 – 1200m, modelado em rochas vulcânicas ácidas, figura 5. 56. Predominam neossolos litólicos (A) e cambissolos (B). Na imagem, os neossolos litólicos apresentam tom claro que denota alta refletividade de afloramentos de rocha e os cambissolos tom escuro que indica perfil de solo mais espesso. Pequenas áreas com tom escuro (c) que ocorrem na área dos cambissolos, correpondem a banhados onde aflora o nível freático. Nestes setores de inundação temporária desenvolvem -se gleissolos e organossolos. Ocorre infiltração ao longo das fraturas, assinaladas por trechos retos da drenagem. As condições de drenagem são más. Nas nascentes, onde ocorre mata nativa, denotada por tom preto, podem ocorrer chernossolos. Fig. 5.56 – Na imagem Google Earth, em A ocorre neossolo litólico denotado pelo tom claro indicador de muita rocha aflorante. Em B, ocorre cambissolo, tom médio, indica discretos afloramentos de rocha. Em c, tom cinza escuro, indica exudações freáticas e solos saturados de água, gleissolos e organossolos. Em d, nascente com mata nativa onde podem se desenvolver perfis de chernossolo. Ao lado, corte de estrada, mostra perfil de cambissolo. 2. Solos do Planalto de Soledade – Rochas vulcânicas ácidas e básicas Nesta unidade morfoestrutural ocorre relevo em planalto dissecado, profundidade relativa dos talvegues dos vales, altitudes absolutas entre 600 e 500m, modelado em rochas ácidas na zona de topo e em rochas básicas nos talvegues dos vales, figura 57 . Na zona de topo com tom cinza médio na imagem (A) onde ocorrem rochas ácidas, predominam neossolos litólicos, na zona de talvegues dos vales com tom cinza escuro(B), onde ocorrem basaltos, predominam chernossolos pedregosos. É a maior área de ocorrência de chernossolos do Estado. Fig. 57– Em A, zona de topo do Planalto de Soledade onde afloram rochas vulcânicas ácidas, ocorrem principalmente neossolos litólicos. Em B, zona de talvegues de vales, onde afloram rochas vulcânicas basálticas, ocorrem chernossolos pedregosos, imagem Google Earth. Ao lado perfil de chernossolo. Solos do Planalto Médio – rochas vulcânicas básicas, arenito com matriz argilosa Nesta unidade morfoestrutural, o relevo é médio ondulado com vertentes convexas, profundidade relativa dos talvegues dos vales baixa, altitudes absolutas entre 500 e 700m, esculpido em rochas vulcânicas básicas, eventuais coberturas de arenito com matriz argilosa que não ultrapassam 20m. Não ocorre rocha aflorante, a drenagem superficial apresenta densidade baixa a média o que indica boas condições de infiltração e drenagem (A), domínio dos latossolos figura 5.58. Em (B), área de ocorrência do Planalto de Soledade, relevo forte ondulado, predominam vertentes retilíneas, densidade da drenagem média a alta, esculpido em rochas vulcânicas ácidas, capacidade de infiltração baixa, solos mal drenados, domínio dos neossolos litólicos pedregosos e cambissolos. Fig.58– Em A Planalto médio, relevo médio ondulado, vertentes convexas, textura da drenagem média, à direita perfil de latossolo vermelho, característico desta unidade morfoestrutural, uso intenso do solo. Em B, Planalto de Soledade, imagem Google Earth. 1. Solos do Alto Uruguai – rochas vulcânicas básicas Nesta unidade morfoestrutural ocorre relevo forte ondulado com vertentes retilíneas a convexas, alta profundidade relativa dos talvegues dos vales, altitude absoluta entre 700 e 900m. O relevo é modelado em rochas vulcânicas básicas. Nestas condições desenvolvem-se principalmente chernossolos pedregosos, principalmente sobre colúvios resultantes de movimentos de massa nas encostas. Desenvolvem-se minifúndios com policulturas, figura 5. 59 . Fig. 5. 59 – Em A unidade morfoestrutural Alto Uruguai, relevo forte ondulado alta declividade das encostas, desenvolvem-se policulturas em minifúndios. Em B unidade morfoestrutural Planalto Médio. Ao lado, corte de estrada expõe colúvio, onde se desenvolvem principalmente chernossolos. 2. Solos do Medio Uruguai – rochas vulcânicas ácidas, básicas, arenito silicificado Nesta unidade morfoestrutural afloram rochas vulcânicas básicas que determinam dois tipos de modelados do relevo, A, suave ondulado com vertentes convexas , onde ocorrem latossolos e B médio ondulado com vertentes retilíneas onde ocorrem litossolos, figura 60. As altitudes absolutas variam de 400-200m, as profundidades relativas dos talvegues dos vales são baixas. Podese inferir, na área de ocorrência dos latossolos, uso intenso destes pela presença de parcelas geométricas, inclusive áreas circulares que denotam a irrigação por pivô central Fig. 60– Em A área de latossolos com relevo suave ondulado e intenso uso do solo. Em B litossolos, relevo médio ondulado, vertentes retilíneas, discreto uso do solo. Ao lado, perfil de litossolo desenvolvido em rochas vulcânicas ácidas. 3. Solos do Planalto de Uruguaiana – Rochas vulcânicas ácidas, intermediárias, arenito silisificado. Nesta unidade morfoestrutural afloram rochas vulcânicas intermediárias a ácidas com intercalações esparsas de arenito silicificado. Estas condições de substrato originaram paisagem planáltica baixa, altitudes absolutas entre 100 e 300m, baixa profundidade relativa dos talvegues dos vales com vertentes retilíneas, figura 61. Predominam amplamente neossolos litólicos pedregosos. Em A, o pouco uso do solo denota a presença de litossolos, em B intenso uso do solo associa-se a depósitos aluviais dos rios Quaraí e Uruguai onde ocorrem perfis de chernossolos. Fig. 61– Em A relevo plano, com vertentes retilíneas modelado em rochas vulcânicas intermediárias e ácidas onde se desenvolvem perfis de neossolos litólicos em campos limpos e pedregosos com uso do solo para pecuária. À direita, perfil característico de neossolo litólico, no Planalto de Uruguaiana. Em B planície aluvial dos rios Uruguai e Quarai, considerável uso agrícola do solo, onde se desenvolvem chernossolos. Imagem Google Earth. VI. Solos do Escudo O Escudo limita-se e oeste com a Depressão Periférica, a leste com a Planície Costeira e a sudoeste, adentra no Uruguai. Esta unidade morfotectônica abrange área aproximada de 80 000 km2 que corresponde a 22% do território do Rio Grande do Sul. É a segunda unidade importante em termos de área, menor apenas do que o Planalto, figura 5. 63. Apresenta grande variação geomorfológica e litológica. O relevo, em geral, é forte ondulado com vertentes retilíneas e, às vezes com escarpas. As altitudes absolutas oscilam entre 600 e 200m. Ocorrem rochas ígneas plutônicas e vulcânicas de composição variada, rochas metamórficas e sedimentares, estas com alto grau de litificação. Distingue-se três unidades morfoestruturais: Bloco São Gabriel, com grande diversidade de rochas, predominam argissolos, luviossolos e subordinado neossolos litólicos. Bloco Santana, predominam rochas metamórficas e sedimentares com alto grau de litificação onde se desenvolvem principalmente neossolos litólicos. Bloco Pelotas, predominam rochas ígneas plutônicas, onde se desenvolvem luviossolos na parte sul do Bloco, litossolos e argissolos na parte norte. Do ponto de vista do uso do solo, no Escudo, em setores com argissolos e luviossolos, desenvolve-se a pecuária, fruticultura, pêssego na parte sul do Bloco Pelotas, vinicultura nos blocos São Gabriel e Santana. Nas áreas onde ocorrem litossolos, em todos os blocos desenvolve-se o florestamento com o plantio de árvores exóticas (pinus, eucalipto, acácia) para a exploração de madeira com diversas finalidades de uso. O florestamento é particularmente desenvolvido no Bloco Santana. Fig. 5. 63– Unidade morfotectônica Escudo, unidades morfoestruturais Bloco São Gabriel, Bloco Santana, Bloco Pelotas, associações diversas de argissolos, luviossolos e neossolos litólicos. 14. Solos do Bloco São Gabriel, rochas ígneas plutônicas ácidas e intermediárias, rochas vulcânicas ácidas e intermediárias, rochas metamórficas e sedimentares, estas muito litificadas. O relevo é principalmente maciço, forte ondulado, com altitudes entre 400 e 200m, ocorrem rochas ígneas plutônicas, principalmente granitos e granodioritos, rochas ígneas vulcânicas ácidas, riolitos, intermediárias, andesitos, rochas metamórficas variadas e rochas sedimentares, principalmente arenitos e conglomerados muito litificados. Predominam luviossolos, argissolos e em áreas esparsas irregulares neossolos litólicos. A figura 5. 64, imagem google Earth, ilustra a delimitação de área com ocorrência de perfis de argissolos, A relevo aplainado campos limpos com pequenas lagunas na parte planáltica, mata parque e galeria nas encostas. Ainda na imagem, em B área com relevo forte ondulado, tons claros espalhados aponta resposta radiométrica de muitos afloramentos de rocha, indicadora de domínio de neossolos litólicos. Na foto ao lado, em corte, perfil de argissolo desenvolvido em rocha ígnea plutônica com boa distinção dos horizontes A e B. Fig. 5. 64 - Limite entre área com argissolos (A) e área com neossolos litólicos (B), na unidade morfoestrutural Bloco São Gabriel. Ao lado a fotografia ilustra corte em argissolo desenvolvido em rocha ígnea plutônica. 15. Solos do Bloco Santana, rochas plutônicas metamórficas e rochas sedimentares muito litificadas. O relevo é tabular (mesa, cuesta) em rochas sedimentares muito litificadas e de tabular (cristas isoclinais) a maciço em rochas metamórficas, as altitudes variam entre 400 e 200m, predominam neossolos litólicos desenvolvidos em rochas sedimentares e metamórficas e subordinados, argissolos desenvolvidos em rochas metamórficas. Em A área com neossolos litólicos desenvolvidos em rochas sedimentares litificadas, relevo em mesa, em B área com neossolos litólicos e argissolos desenvolvidos em rochas metamórficas. Em a florestamento, em b muita rocha aflorante, figura 5. 65, imagem Google Earth. Ao lado, fotografia ilustra perfil de neossolo litólico desenvolvido em rocha metamórfica, quartzito. Fig. 5.65– Neossolos litólicos desenvolvidos em rochas sedimentares arenitos e conglomerados litificados (A) , separados de neossolos litólicos e argissolos desenvolvidos em rocha metamórfica, quartzito (B) 16. Solos do Bloco Pelotas, rochas ígneas Plutônicas. Nesta unidade morfoestrutural, o relevo predominante é maciço forte ondulado, com vertentes retilíneas a convexas, altitudes entre 600 e 200m, modelado principalmente em rochas ígneas plutônicas, granitos e granodioritos. Em A, figura 5. 66, imagem Google Earth, relevo maciço forte ondulado, mata galeria densa, área de ocorrência de perfis de argissolos.Em B relevo maciço forte ondulado , mata galeria discreta, tons claros indicam a ocorrência de muita rocha aflorante, área onde se desenvolvem perfis de neossolos litólicos. Em C relevo maciço, médio ondulado, considerável uso agrícola do solo , área onde se desenvolvem perfis de luviossolos. Material de origem, rochas ígneas plutônicas de composição variada. Em a, mata galeria natural, em b, florestamento, em c, rocha aflorante. Fig. 5. 66 – A, área de neossolos litólicos, B área de argissolos, C, área de luviossolos. Em a mata nativa natural, b, florestamento com árvores exóticas, c rocha aflorante. Ao lado, perfil de luviossolo. 5.6 AS ENCOSTAS, ELEMENTOS FUNDAMENTAIS DAS PAISAGENS 1. VALES E SUAS ENCOSTAS O alargamento de um vale tal como é mostrado na figura 5. 67, depende em parte, dos movimentos de massa sob a ação da gravidade os quais carreiam grande quantidade de material para o leito do canal fluvial, muito mais do que o material erodido pelo próprio rio na abertura do seu leito (1). O rio, limitado apenas pela sua erosão vertical, produz canal com paredes verticais em forma de garganta (2). Isto só ocorre nas altas montanhas e planaltos onde afloram rochas duras, muito resistentes ao intemperismo e à erosão. À medida em que o vale se alarga pelos movimentos de massa das encostas, o canal do rio se alarga pela erosão lateral do seu fundo, que aumenta da margem convexa para a barranca côncava (“slip of slope”), (3). Fig. 5. 67 - Aspectos do desenvolvimento de vales e encostas, esquemas generalizados. Modificado de (Holmes 1970.) Garrels (1951). Deve-se considerar a grande variedade de processos envolvidos na formação de superfícies de erosão secundárias, de modo que os esquemas da figura 1 são generalizações da pluralidade de situações concretas. O alargamento que acompanha a escavação do piso do vale do rio implica em recessão das encostas (recuar para trás). Escarpas de costas marinhas, igualmente retrocedem pela erosão marinha. O princípios envolvido em todos estes casos é essencialmente o mesmo, ou seja, as paisagens são consumidas por suas beiradas, a partir do vale principal, avançando até aos tributários mais miúdos. Cada área soerguida é dissecada pedaço por pedaço, resultando paisagens em lenta mudança. A descrição acima sugere uma sequência ordenada de formas da paisagem ao longo do tempo, (ciclo de erosão), desde que o desenvolvimento normal não seja interrompido por novo soerguimento ou recuo do nível do mar, fatos estes que são antes a regra do que a exceção. O conceito determinístico ideal de evolução da paisagem foi concebido por Willian Davis (1899), o ciclo de erosão, figura 5. 68. Fig.5. 68 – Estágios ideais do ciclo de erosão, juventude maturidade, velhice, e relações com o nível de base. Modificado de (Holmes 1970) O ciclo de erosão refere-se à sequência de estágios, que por analogia com a vida humana foram denominados juventude, maturidade, velhice. Davis considerou que, na medida em que os vales são alargados, as encostas destes tendem a suavizar os seus ângulos de declividade que acompanham à sua recessão. No estágio de juventude a superfície original do relevo predomina. No estágio de maturidade, a superfície primitiva apresenta-se quase toda consumida. Finalmente durante a velhice o relevo é reduzido a uma área mais ou menos plana, com alguns morros ilha esparsos, denominada peneplano. Os processos de rebaixamento progressivo do relevo e de suavização dos ângulos das encostas, envolvidos no ciclo de erosão, são unidos no nome genérico peneplanação e caracterizam paisagens onde predominam vertentes convexas, passando a côncavas no nível do peneplano. Esta síntese do desenvolvimento das formas está longe de representar a grande variabilidade da evolução das encostas ao longo da superfície terrestre, mas é um bom ponto de partida para orientar o estudo concreto de paisagens em geral. Walter Penck (1924), criticando o modelo de Davis contrapôs que a maioria dos ângulos de encostas, não se suavizam na medida em que são consumidos e isto ocorre quando elas atingem um ângulo que é estável para o tipo de rocha ou regolito em processo de recessão. Como o ângulo de declividade permanece constante a recessão se dá paralelamente ao ângulo de declividade correspondente à estabilidade natural do material, figura 5. 69, abaixo. Fig. 5. 69 – Modelo de desenvolvimento do relevo, acima segundo Davis (consumo vertical com suavização dos ângulos de declive da encosta, abaixo segundo Penck (consumo lateral sem variação do ângulo da encosta. Modificado de (Holmes 1970) Posteriormente Lester King (1950) , precursor da Geomorfologia Global, retoma o modelo do recuo paralelo das vertentes e aplica-o ao desenvolvimento das escarpas de margens passivas dos continentes resultantes da fragmentação do megacontinente Gondwana (África, Brasil, Antártida, Índia e Austrália). Estabelece a geomorfogênese das paisagens a partir de ciclos de erosão por sucessivos recuos paralelos de escarpas, marcados por superfícies de erosão, mais jovens junto à costa e mais antigas no interior dos continentes. As formas fundamentais do relevo nestas condições são o pedimento formado por vales ao pé das escarpas e o pediplano, resultante da coalescência de muitos pedimentos. Diversos autores usam modificações do modelo conceitual original do desenvolvimento das encostas concebido por Penck, e posteriormente por King, seguidos de nomenclatura explicativa dos elementos da encosta, figura 5. 70. Fig. 5.70 – Diversas denominações dos elementos ideais de uma encosta os quais foram propostos por Wood (1940, apud King 1950). A nomenclatura proposta por Rhue (1960) refere-se à forma do segmento da encosta e a de Darlympe (1968) refere-se aos processos predominantes em cada segmento. Deste modo, na cimeira predomina infiltração de água e processos de intemperismo químico, na ombreira processos de rastejo, na face livre queda e tombamento de blocos de rocha, abaixo, onde ocorre tálus, transporte de material por diversos escorregamentos e fluxos de matéria, no pé da encosta predominam processos de rastejo em material coluvial, nos dedos transporte por água dos canais fluviais de material aluvial. 2. ESTABILIDADE DAS ENCOSTAS Os movimentos de massa ocorrem principalmente nas encostas, sob a ação da gravidade. Podem causar desastres naturais pois barram rios, bloqueiam estradas, destroem casas, veículos e são responsáveis por muitas mortes anualmente. Nos EUA estima-se perdas anuais de 1,5 bilhões de dólares e 25 a 50 mortes por ano. 2.1 - Gravidade contra atrito A gravidade é a força constante que tende a deslocar a matéria para baixo. A força de gravidade se distribui em duas componentes opostas no terreno, o atrito o qual tende a reter a matéria e o empuxe que tende a movimentá-la para baixo, figura 1. Quanto maior for o ângulo de declividade da encosta, maior será a força de empuxe a qual tende a deslocar a matéria, figura 5. 71. Fig. 5. 72 – Estabilidade de encostas, relações da gravidade com o atrito em uma encosta. Fatores que controlam o grau de estabilidade de uma encosta (tipo de material, conteúdo de água, vegetação e eventos gatilho). Além da declividade da encosta influi o tipo de material (tamanho e angularidade das partículas, o conteúdo de água, a cobertura vegetal e eventos gatilho que podem desencadear o movimento de massa. 4- Tamanho, forma das partículas e declividade das encostas. De modo geral, quanto menores e mais arredondadas as partículas, menor é o ângulo de repouso da sua acumulação no terreno, figura 5. 73.. , Fig. 5. 73 – Ângulo de repouso da areia de uma duna e de depósito grosseiro em leque aluvial. Conteúdo de água Os graus de umidade de materiais granulares também influem na estabilidade das encostas. Areia úmida, na qual parte dos vazios do material estão saturados , tal condição gera tensão superficial da água junto aos grãos que torna-os bastante coesos, figura 5. 74. Fig 5. 74. Influência do conteúdo de água na coesão de materiais granulares inconsolidados. Modificado de (Prees e Siever 1997). Na areia seca com os vazios preenchidos por ar, o material acomoda-se de acordo com o ângulo de repouso dos grãos o qual depende do tamanho, seleção e grau de arredondamento destes. Na areia saturada de água, esta exerce poro pressão sobre os grãos a qual tende a separálos, tornando-se a coesão praticamente nula. 2.3 - Influência da vegetação. A vegetação funciona como tapete protetor das encostas, quanto mais fechada, mais estável se torna a encosta, figura 5. 75. Fig. 5. 75 – À esquerda escassa cobertura vegetal propicia movimentos de massa e a ocorrência de depósitos de tálus na juzante do terreno. À direita, densa cobertura de gramíneas e mata galeria freiam os movimentos de massa. Fotos do autor. 2.4 - Mecanismos gatilho Os movimentos de massa são desencadeados por eventos naturais de curta duração e forte intensidade denominados gatilhos ou desencadeadores destes. Dentre estes destacam-se terremotos, erupções vulcânicas e chuvas intensas, como fatores naturais, e diversas ações antrópicas como fatores humanos. 3. CLASSIFICAÇÃO DOS MOVIMENTOS DE MASSA Três variáveis caracterizam os movimentos de massa: (1) A natureza do movimento, (2) a natureza do material e (3) a velocidade do movimento. (1) Natureza do movimento. O material pode cair, tombar, escorregar e fluir nos diversos segmentos das encostas. (2) Natureza do material. Quanto à granulometria, esta pode variar de tamanho argila a grandes blocos de rocha. Quanto à composição e estrutura do material,este pode-se constituir de diversos tipos de regolito, rochas ígneas, sedimentares, metamórficas todas com diversas texturas e estruturas. (3) Velocidades do movimento. Variam desde lento rastejo até movimentos quase instantâneos, quedas, rolamento, tombamento, fluxos de detritos, lama, etc. Foram elaboradas várias classificações dos movimentos de massa baseadas em 1, 2 ou 3 destes parâmetros fundamentais. Abaixo segue quadro IV com classificação simplificada dos movimentos de massa baseado no tipo de movimento e na qualidade do material movimentado. Quadro IV 3.1 - Quedas Ocorrem quando o material rompe em encostas verticais ou quase verticais e cai, rola ou tomba nas encostas com menor declividade. O material rompido pode ser regolito, detritos e blocos de rocha. É um movimento muito rápido, quase instantâneo. Em geral ocorre associado a rochas duras, resistentes, figura 5. 76. Fig. 5. 76 – Queda, rolamento e tombamento de rochas e detritos de rocha. Condições potenciais para quedas de rocha existem quando esta é muito fraturada ou enfraquecida ao longo do tempo por muitos fatores destacando-se os processos de intemperismo. O solapamento das partes baixas das encostas torna as partes altas instáveis. 3.2 - Escorregamentos São rompimentos ao longo de uma superfície de separação em que uma parte do material escorrega encosta abaixo. Escorregamentos planares translacionais indicam movimentos de massa sobre uma superfície que separa dois tipos de materiais bem diferentes tal como regolito sobre rocha sã, figura 5. 77. Fig. 5. 77 – Escorregamento translacional de regolito sobre rocha sã. Estes escorregamentos ocorrem em uma gama de materiais que apresentam qualidades favoráveis ao escorregamento, tais como acamadamento, xistosidade mergulhantes no mesmo sentido da encosta. Escorregamentos Rotacionais. Tendem a ocorrer em materiais homogêneos espessos, tais como camadas de argilito, mantos de regolito. São movimentos de massa comuns nos trópicos úmidos. O material é deformado como uma massa acima do plano de ruptura que é curvo. O material é rotacionado para baixo originando um corpo com planos de ruptura mergulhantes, figura 5. 78. Fig. 5. 78 – Elementos de escorregamento rotacional. Os escorregamentos rotacionais ocorrem principalmente durante ou logo após chuvas torrenciais ou pela ação erosiva dos rios em suas barrancas côncavas, formadas por material pelítico. 3.3 - Fluxos Nos fluxos a massa que se move é toda ela deformada internamente e se comporta como um fluído viscoso. Os fluxos se caracterizam pelo alto teor de água e pela presença de materiais finos na massa que se desloca. Os fluxos são característicos das zonas tropicais montanhosas com altos índices de pluviosidade. Fluxos de detritos consistem de movimentos de alta velocidade, de materiais de granulometria variada, desde o tamanho argila, até grandes blocos. Os fluxos de detritos podem assumir forma linear ou areal, figura 5. 79. Fig. 5. 79– Fuxos de detritos de abrangência areal e linear. Um fluxo de detritos geralmente começa como escorregamento ou queda de detritos, nas cabeçeiras de vales de áreas montanhosas. O aumento de água transforma o escorregamento, mais lento em fluxo de detritos de alta velocidade. Na sua trajetória, os fluxos de detritos englobam árvores, casas, etc. Os seus depósitos terminais podem barrar provisoriamente canais de drenagem. Quando o material transportado é fino a denominação é fluxo de terra, lama, regolito, etc. 3.4 - Rastejo Os rastejo é um movimento lento descendente lento e contínuo do solo em encostas com declividade baixa a média, figura 5. 80. Fig 5. 80 - Movimento lento e contínuo, rastejo do solo denunciado por deformação de troncos, construções, postes, cercas, etc. Afetam os horizontes superficiais dos solos, saprólitos e mesmo rocha alterada. Podem causar danos em obras civis (casas, estradas, pilares de pontes, viadutos, etc.). Em certos casos graduam para escorregamentos e servem como indicadores de encostas instáveis. 4. ESCOAMENTO SUPERFICIAL DE ÁGUA NAS ENCOSTAS O escoamento superficial de água é um efetivo agente erosivo. A água se acumula e desloca-se na superfície das encostas quando a taxa de precipitação é maior do que a taxa de infiltração, figura 5. 81. Fig. 5. 81 – Escoamento superficial e escoamento superficial saturado. Acumula-se delgada camada de água na superfície que compõe o escoamento superficial. Quando todos os espaços vazios dos solos encontram-se preenchidos por água, esta não tem condições de se infiltrar e forma o escoamento superficial saturado que se localiza nas partes baixas das encostas (banhados). A erosão, ou seja, a remoção de material das encostas pela água de escoamento superficial necessita de uma velocidade mínima que depende da espessura da lâmina d’ água. A erosão por uma delgada lâmina de água que se desloca nas encostas é dita laminar. Quando o fluxo é concentrado em linhas preferenciais, ocorre erosão turbulenta, por sulcos que dá origem a ravinas. A erosão laminar é substituída pela erosão por sulcos encosta abaixo, que podem alargar-se em ravinas e evoluir para bossorocas (rasgo na terra, em tupi-guarani). Um depósito de material em forma de leque pode ocorrer na parte terminal das bossorocas, geralmente próximo a um canal de rio. Movimentos de massa no Rio grande do Sul Águas superficiais: Geomorfologia Fluvial Introdução O desenvolvimento dos rios está condicionado principalmente a um adequado suprimento de água e à criação de uma declividade, para a água fluir sob a ação da gravidade. As precipitações atmosféricas (chuva, neve) fornecem o suprimento de água, para que os rios fluam permanentemente. Existe também uma ligação dos rios com as águas subterrâneas armazenadas nas rochas e no regolito, estas também abastecidas indiretamente pelas precipitações atmosféricas. A formação das encostas iniciais dos grandes sistemas de drenagem atuais estão associadas à Tectônica de Placas, capítulo 2. A maioria dos rios drenam suas águas diretamente para os oceanos, mares, lagos, lagunas, etc. As características gerais do desenvolvimento do vale de um rio dependem da declividade original que condiciona o gradiente do relevo, do clima que determina o padrão das precipitações atmosféricas que alimentam o rio, do substrato rochoso que o rio corta, o qual condiciona as peculiaridades da erosão processada e da sua idade inicial. Um rio principal com seus afluentes constitui um Sistema de Drenagem e a área total abrangida por eles é a sua Bacia Hidrográfica, fig.5. 82. Fig.5. 82 – Esquema de um Sistema de Drenagem - Bacia Hidrográfica e sua divisão em sub bac O regolito e fragmentos de rocha são levados pela ação da gravidade para o leito dos afluentes que transporta-os para o rio principal. Mais material é posto em movimento nos canais pela erosão dos próprios leitos. Desta maneira os vales dos rios se alargam e se desenvolvem ao longo do tempo, figura 5. 83 Fig. 5. 83 - No baixo curso o vale apresenta estágio maduro de desenvolvimento evidenciando grande consumo do relevo. No alto curso, os processos erosivos estão em fase inicial. Estas condições salientam o desenvolvimento da bacia por erosão regressiva das cabeceiras. No médio curso predomina o transporte e na foz deposição dos sedimentos. A carga de sedimentos adquirida pelo rio principal é transportada para fora da bacia hidrográfica e depositada na foz deste. Depósitos aluviais são formados ao longo dos canais, mas são temporários, registrando apenas estações de parada do material, cujo destino final é um oceano, mar ou lago, na desembocadura do rio principal. Os rios são responsáveis pela formação dos seus vales que se desenvolvem geralmente em zonas de fraqueza da Crosta Terrestre, através de seu potencial de erosão, mas principalmente pelo seu enorme poder de transporte. O gradiente do rio corresponde à declividade do leito entre as cabeceiras e a foz, a capacidade deste é a caga de sedimentos transportada, maior na foz do que nas cabeceiras e a competência refere-se ao tamanho das partículas transportadas, que são maiores nas cabeceiras e menores na foz, fig.5.84. Fig. 5. 84 - Relações qualitativas entre Carga total, Gradiente, Volume, Capacidade e Competência de um rio. Características gerais do fluxo dos Rios Em primeira instância o fluxo é regulado pela declividade do terreno. A força que move uma partícula de água em um rio é a componente da gravidade na direção do fluxo. Esta componente é tanto maior quanto maior é a declividade ou o gradiente do rio. Agindo em oposição a esta força, atua o atrito da água com as paredes laterais e o fundo do leito do rio, fato que determina uma velocidade de fluxo maior no centro do canal e menor nas bordas deste, bem como, menor no fundo e maior perto do topo do canal, figura 5. 85. Fig. 5. 85 – Distribuição das velocidades da água em um perfil transversal do canal Rios com grande profundidade do leito e baixa velocidade apresentam fluxo laminar com baixa capacidade erosiva. Rios com baixa profundidade do leito e alta velocidade desenvolvem fluxo turbulento com alta capacidade erosiva. Portanto, de maneira geral, a energia de um rio aumenta com o aumento da sua declividade e com o volume de água e decresce com a resistência ao atrito da água com o leito. Considerando um mesmo volume de água, a profundidade do canal, controla a energia e o atrito, ocorrendo o fluxo mais turbulento e erosivo na zona profunda do canal, figura 5. 85. A velocidade do fluxo também é maior na parte côncava , e menor na parte convexa do leito , onde tende a ocorrer deposição. Erosão nos sistemas de drenagem De modo geral, um sistema de drenagem apresenta três zonas, cabeceiras onde predominam os processos erosivos, curso médio onde predomina o transporte de material erodido e foz onde ocorre principalmente deposição, figura 5.83. Cada setor apresenta morfologia característica. Os processos erosivos predominantes nas cabeceiras, costumam ocorrer a partir do regolito intemperisado, através da força hidráulica da água sobre ele. A água do canal também atua na rocha sã, principalmente quando carregada de detritos de diversos tamanhos (silte, areia, cascalho e blocos de rocha), que funcionam como abrasivo. É um processo de erosão vertical do leito e denomina-se corrasão. O poder erosivo da corrasão depende das dimensões das partículas, da velocidade da água, do tipo de substrato rochoso do leito que é bastante variável ao longo do canal. Ocorre principalmente nas grandes enchentes. Apesar de predominar nas cabeceiras dos sistemas de drenagem, a erosão atua praticamente em todos os setores, tendo por limite, o nível de base, geralmente coincidindo com o nível do mar. Vales dos rios Os processos de corrasão aprofundam os vales no sentido vertical, os processos de intemperismo e os movimentos de massa alargam o vale, resultando vales em forma de V, figura 5. 67. A erosão lateral produzida pelo próprio rio, ajuda no alargamento do vale. As peculiaridades de cada setor do vale de um rio são controladas pela natureza do substrato rochoso. Vales abertos e largos se formam em rochas de baixa resistência ao intemperismo e erosão, vales fechados, em garganta, se desenvolvem em rochas de alta resistência ao intemperismo e erosão. Quando rochas de diferentes resistências à erosão são se alternam no leito, formam-se rápidos e quedas d’água (cascatas e cachoeiras). “Canyons” de imponete beleza são formados sob certas condições, tais como estabilidade das paredes do vale, rochas de alta resistência, rápido soerguimento e alta capacidade energética da água. Tipos de Canais A classificação geral dos tipos de canais é apresentada no quadro V. Quadro V Canais escavados em rocha Os canais escavados em rocha são também chamados canais incisos. Geralmente, mas nem sempre, estes canais se desenvolvem principalmente nas cabeceiras das bacias hidrográficas onde ocorrem rochas duras, o gradiente do canal é forte e o material transportado é grosso, figura 5. 86. Fig.5. 86 – Meandro encaixado, cortando rochas vulcânicas na unidade morfoestrutural Planalto Dissecado em riolito e basalto. Rio das Antas, RS. Ao lado, vista aérea geral. Imagem Google Earth. Esta situação favorece o desenvolvimento de processos erosivos nos canais. O perfil longitudinal é bastante irregular e o perfil transversal é fortemente influenciado por erosão diferencial, condicionada por zonas de fraqueza no leito rochoso, associadas a descontinuidades tais como rochas de diferentes resistências, fraturas, falhas, estratificação, etc. As formas erosivas mais comuns são as marmitas ou panelas de dimensões variadas, fig. 5. 87 Fig. 5. 87 – Panelas e marmitas, feições erosivas características de leitos de rios escavados em rocha dura. Panalto Dissecado em riolito, Rio da Prata, Nova Prata, RS. Foto do autor. . Estas depressões, quando ao pé de cascatas, cachoeiras, quedas de água recebem o nome de panelões, figura 5. 88 .Fig. 5. 88 - Cascata em rio inciso e a forma erosiva Panelão abaixo, na Unidade Morfoestrutural Planalto Dissecado em riolito e basalto. Bacia do Rio Caí, RS. Foto do autor Canais Aluviais Os canais aluviais caracterizam-se por escavar os seus próprios depósitos e por apresentarem mudanças de formas sucessivas por erodirem principalmente materiais inconsolidados ou fracamente consolidados. Existem basicamente três tipos de canais aluviais: Meândicos, entrelaçados e anastomosados. A principal característica do canal meândrico é a sua alta sinuosidade, figura 5. 89 Fig.5. 89 – Canal meândrico com alta sinuosidade, imagem Google Earth. Ao lado, detalhe mostra que os canais meândricos recortam seus próprios depósitos. Rio Camaquã, Camaquã, Rs Os canais entrelaçados apresentam os seus leitos divididos por barras de sedimento que podem ser eventualmente vegetados e formar ilhas, que nesta situação adquirem certa permanência no canal. Predominam processos erosivos sobre os deposicionais, figura 5. 90. Fig.5. 90 - Planície Fluvial, canais localmente entrelaçados. Formam-se ilhas entre os canais, predominam processos erosivos, imagem google earth. Rio do Boi, Santa Catarina, SC. Na fotografia detalhe de canal e ilha. Os canais anastomosados podem ser separados por rocha ou por material aluvial. A conformação anastomosada multi canais é indicadora da predominância de processos deposicionais no leito, enquanto que na disposição entrelaçada predominam processos erosivos, figura 5. 91. Fig.5. 91 - Planície Fluvial, canais localmente anastomosados, predomina deposição sobre a erosão, baixo rio Jacuí, Porto Alegre, RS. Ao lado, imagem Google Earth, ao lado, detalhe mostra canal anastomosado e ilha permanente. Transporte pelos rios Os rios são os agentes naturais mais efetivos de transporte de matéria dos continentes para os oceanos. O material transportado pelos rios é denominado carga e pode ser transportado em suspensão ou em solução. A carga em solução provem principalmente de contribuições da interação com as águas subterrâneas e pela dissolução de elementos das paredes das rochas do vale, bem como do regolito. As principais substâncias postas em solução são sílica coloidal, hidróxidos de ferro,, carbonatos, sulfatos, cloretos de Ca, Na, Mg, K. Esta carga em solução é carreada para os oceanos e é a principal responsável pela salinidade destes. A carga mecânica é transportada em suspensão, saltação e rolamento estas no fundo do leito, denominadas no conjunto de carga de fundo ou de tração. A capacidade de um rio é a carga total de material que ele transporta e depende do volume de água do mesmo. A competência de um rio refere-se ao maior diâmetro de partícula que ele tem condições de transportar e depende principalmente da velocidade da corrente. A descarga média anual pode ser avaliada na foz do sistema de drenagem, ver figura 5. 84. As variações de velocidade ao longo do leito seleciona os diferentes tamanhos de partículas da carga transportada, principalmente em três categorias de depósitos temporários de canal. Depósitos grosseiros de cascalho sub arredondado a arredondado de fragmentos de rochas resistentes, figura 5. 92. Fig. 5. 92 - Depósito de cascalho em barra de pontal, rio Camaquã, Camaquã RS. Ao lado, imagem aérea Google Earth. Depósitos de areia grossa, fina ou média, formadas principalmente por grãos arredondados ou sub- arredondados de quartzo, figura 5. 93. Fig.5. 93 – Depósito de areia em barra de pontal, rio Ibicuí, Rosário do Sul, RS. Na outra margem, terraço fluvial. Ao lado, vista aérea, imagem Google Earth. Depósitos lamiticos constituídos por grãos de silte e argila neoformados durante o intemperismo da rocha com a formação do regolito. Nos grãos transportados atuam dois processos, abrasão e seleção. A abrasão consiste no atrito entre os grãos durante o transporte, reduz o tamanho, arredonda-os e atua principalmente nas partículas maiores. Em linhas gerais, o tamanho de grão decresce das cabeçeiras para a foz dos sistemas de drenagem, aumentando o seu grau de esfericidade e arredondamento. O decréscimo do tamanho de grão em direção à foz deve-se mais à seleção do que á abrasão. A seleção do material transportado depende do tamanho, forma e densidade dos grãos. Grãos grandes, de formas irregulares e densos depositam primeiro, grãos pequenos, arredondados e leves depositam depois. O efeito da forma é demonstrado pelas grandes distâncias de transporte dos minerais independentemente de sua densidade. Depósitos de canal e de planície de inundação A energia de um rio depende do seu gradiente, do volume de água e das forças de atrito que se opõem ao movimento da água. A deposição da carga em suspensão, em rolamennto e saltação no leito ocorre quando diminui o gradiente e concomitante a velocidade da água, bem como aumentam as forças de atrito no leito. A deposição ocorre no próprio canal ou na planície de inundação por transbordamento, figura 5. 94. Fig. 5. 94 – Esquema ideal de um rio aluvial em secção transversal Os depósitos de canal são temporários, irregulares e lenticulares, constituindo-se de cascalhos, areia, silte e argila, formando barras em diversos pontos do canal, de preferência na parte convexa do meandro (barras de pontal), ou no centro do canal (barras de meio de canal) , figura 5. 95. Fig. 5. 95- Depósitos de canal e planície de inundação. Rio Ibicuí, São Francisco de Assis. Imagem Google Earth. Na foto, depósito de canal e planície de inundação. Quando o rio transborda, a água transpõe as bordas do canal, a velocidade diminui e a carga em suspensão é depositada na planície de inundação. O material mais grosseiro deposita próximo da borda formando diques marginais de forma linear paralelos às bordas do canal. Para além, os finos se depositam por toda a planície de inundação, a partir de uma água quase parada que forma pântanos temporários. O conjunto destes depósitos forma os depósitos aluviais que, por sucessivas enchentes podem assumir espessuras consideráveis. Por diversas causas as planícies de inundação antigas elevam-se em relação ao leito atual do rio formando terraços aluviais , .sendo o mais elevado, o mais antigo, ver figura 5. 93. Meandros As curvas dos rios aumentam a sua amplitude pela deposição em sua parte convexa e erosão na sua parte côncava, comandadas pelo padrão característico de energia da água do rio, formando meandros, que são tanto maiores, quanto maior é o rio, O cinturão meândrico chega a atingir uma largura vinte vezes maior do que a largura do rio, divagando por toda a planície de inundação, alargando paulatinamente a largura do vale. Cada meandro tende a mover-se lentamente rio abaixo, uma vez que a curva imediatamente à juzante sofre uma erosão mais severa do que a da montante. Na medida em que a curva do meandro se alarga, forma um pescoço em determinado momento pode ser seccionado, isolando o meandro do canal do rio, formando um braço morto, meandro abandonado ou lago em ferradura, figura 5. 96. Fig. 5. 96 – Esquema de formação de um meandro abandonado. Modificado de (Holmes 1970) Deltas O destino da carga dos rios, tanto do material erodido mecanicamente como do dissolvido, é um oceano, mar, lago ou laguna, onde a velocidade da corrente é bruscamente diminuída ocorrendo a deposição e a formação de sedimentos deltaicos, cuja área de deposição assume forma geralmente triangular (letra delta grega), com um vértice voltado para a embocadura do rio, figura 5. 97. O delta vai sendo gradualmente construído da foz para o interior do corpo de água, pela sucessiva deposição do material transportado pelo rio. A parte sub aérea do delta é uma continuidade da planície de inundação do rio. h Fig. 5. 97 – Delta do Rio Camaquã. Abaixo diagrama ideal dos depósitos de um delta Quando um rio entra em um corpo de água, o material mais grosseiro que se move por rolamento ou saltação, deposita, desenvolvendo uma plataforma com a face voltada para o corpo de água com uma pendente forte controlada pelo ângulo de repouso do material depositado. O material mais fino é carregado além, em suspensão, deposita e mergulha suavemente conforme a inclinação do substrato, com o material mais grosseiro na parte proximal e o mais fino na parte distal. Os depósitos da planície de inundação formam as camadas de topo do delta, a plataforma de grosseiros com pendente forte corresponde às camadas intermediárias , o material mais fino depositado nas partes distais do corpo de água forma as camadas de fundo do depósito deltaico.. Os deltas atuais apresentam uma enorme variedade de forma, tamanho, estrutura, composição e modo de formação. Os principais fatores que influem no modo de formação de um delta são a sula situação em relação a tectônica de placas atual, o substrato geológico da bacia hidrográfica, o clima, o gradiente – regime do sistema de drenagem, características do corpo de água onde ocorre a deposição. Rios do Rio Grande do Sul Os rios mais importantes do Rio Grande do Sul são o Uruguai, Camaquã, o Antas- Taquari e o Ibicuí o Jacuí, o Rio Uruguai O rio Uruguai, Rio dos Caracóis em tupi – guarani, é o mais importante do Estado do Rio Grande do Sul com um comprimento total de 1770 km, sendo no Rio Grande do Sul, 1262 km. Suas nascentes ocorrem na altitude de 1800 m e desemboca quase ao nível do mar no Estuário do Prata. No seu alto curso, figura 5. 98 pode ser classificado como um rio de meandros incisos assimétricos . O material transportado é grosso , predominam seixos e blocos, o canal é escavado em rochas vulcânicas muito duras. Devido às características hidrodinâmicas turbulentas com fluxo de alta velocidade e alta declividade, em torno de 0,5m/km, este setor é explorado para produzir energia elétrica. As principais barragens do Alto Uruguai são as de Itá e Machadinho. O progressivo desenvolvimento de culturas próximas ao canal levou a importante grau de degradação com a remoção considerável de mata galeria que acompanha as margens do rio. O plantio próximo às margens produz erosão do solo e assoreamento do rio no seu curso médio. Fig.5. 98 - Acima imagem Google Earth que ilustra as características do alto Uruguai como um rio de meandros incisos assimétricos. Ao lado detalhe do canal com fluxo turbulento e rocha vulcânica aflorando no canal. O médio Uruguai se apresenta com um rio de canais aluviais meandrantes, figura 5. 99. A declividade decai para 9 cm por km, cortando rochas vulcânicas, basalto, arenito e seus próprios depósitos. Favorece a navegação de embarcações de pequeno a médio porte. A baixa declividade também favorece o transporte de sedimentos finos, com predominância de areia. Apresenta amplos terraços que favorecem principalmente a cultura do arroz Fig. 5. 99 – Médio rio Uruguai já apresenta canal com padrão meândrico em planície aluvial. Imagem Google Earth. Rio das Antas O alto rio das Antas, figura 5. 100 possui comprimento de 390 km, inicia com declividade 4,8m por km, a mais alta dos rios do Estado em um trecho de 183 km. A partir da foz do seu afluente, rio Guaporé a declividade cai para 1,6m por km em um trecho de 207 km. É classificado como um rio de meandros incisos, assimétricos cortando rochas vulcânicas, riolito e basalto, figura 5. 100 com fluxo torrencial carregando seixos e nas enchentes blocos . O fato de cortar rochas vulcânicas sem quartzo, leva à falta de depósitos de areia, inexistente em uma grande área da sua bacia hidrográfica. É sede para a construção de barragens para a exploração de energia elétrica. Fig. 5. 100 – Alto rio das Antas canal meândriico inciso assimétrico, corta rochas vulcânicas. Acima imagem Google Earth, abaixo foto de campo. O baixo rio das Antas ou rio Taquari, Rio das Taquaras em tupi - guarani, figura 5. 101, considerado ,a partir da foz do seu afluente Guaporé, até sua desembocadura no rio Jacuí, toma o nome de Taquari. Possui comprimento 140 km, com declividade de 0,2m por km, fig. 202 É classificado como um rio aluvial meândrico, o seu leito é escavado em arenitos ou em seus próprios depósitos. Possui planície de inundação e amplos terraços, onde ocorrem diversas culturas. Apresenta depósitos arenosos, barras de pontal e de meio de canal. Fig. 5. 101 – Baixo Antas – Taquari. Acima imagem Google Earth, abaixo, foto de campo. Rio Ibicuí Ibicuí significa Rio da Areia em Tupi – Guarani. Tem 290 km de comprimento, é o maior afluente do rio Uruguai. O alto rio Ibicuí é classificado como rio meândrico, corta rochas areniticas e apresenta amplos depósitos de areia sob a forma de barras de pontal e barras de meio de canal, figura 5. 102. Fig.5. 102 – Alto rio Ibicui, canal meândrico com amplos depósitos de areia. Acima foto de campo, abaixo imagem Google Earth. O baixo rio Ibicuí, além do caráter meândrico de seus canais com grandes depósitos de areia em barras, apresenta, amplas planícies de inundação e terraços, intensamente cultivados, figura 5. 103. Fig. 5. 102 – Baixo rio Ibicuí, caracterizado por amplas planícies de inundação e terraços. Imagem Google Earth e foto de campo Rio Camaquã – O rio Camaquã, Rio das Águas Turbulentas em tupi-guarani tem suas nascentes a 400 m de altura nos municípios de Lavras do Sul , Don Pedrito e Bagé. Seu comprimento até a foz na Laguna dos Patos é de 430 Km e sua Bacia Hidrográfica abrange uma área de 21518 KM2 . O alto rio Camaquã figura 5. 103 tem canais incisos, corta rochas duras ígneas e metamórficas. Fig. 205 – Alto rio Camaquã, corta rochas ígneas e metamórficas e apresenta canal de meandros incisos assimétricos O baixo rio Camaquã apresenta canais meândricos, ampla planície de inundação embutida em terraços aluviais, fig. 5. 103.. Fig. 5. 103 – Baixo rio Camaquã, apresenta canal aluvial meândrico com ampla planície de inundação e terraços aluviais. Rio Jacuí Depois do rio Uruguai o rio Jacui ou Rio das Aracuãs em tupi - guarani é o mais importante do Estado, com comprimento de 710 km e nascentes na altitude de 730m. Divide-se em: Alto Jacuí nas nascentes, onde escava o su leito em rochas vulcânicas riolitos e basaltos de norte para sul,. Nete trecho é um rio de meandros incisos, figura 5. 104 Suas características torrenciais e de alta declividade torna propício a construção de barragens, por isto neste trecho é conhecido como rio das barragens. Estas barragens têm a finalidade de produzir energia elétrica, destacando-se Dona Fransisca, Salto do Jacui e Passo Real Fig. 5. 104 – Acima imagem Google Earth ilustra a características de rio com meandros incisos no alto Jacuí. Abaixo, foto panorâmica da barragem. Salto do Jacuí. Baixo Rio Jacuí a partir de Cachoeira do Sul o rio Jacuí escoa de oeste para leste, desemboca no lago Guaíba, escava rochas sedimentares, arenitos siltitos e argilitos. Neste setor é classificado como um rio aluvial meândrico, fig.5. 105. Sua configuração básica apresenta canais meândricos com amplas planícies de inundação e terraços aluviais. Em longos trechos, corta seus próprios depósitos, fig.... O baixo rio Jacuí é navegável e importante como principal fonte de areias para construção civil no Estado. Seus terraços aluviais, são aproveitados para a plantação de arroz. Fig. 5. 105 – Baixo rio Jacuí com características de rio meandrante em planície aluvial. Imagem Google Earth. Investigação da Bacia do Rio Taquari – Antas: Considerações sobre o seu desenvolvimento. A bacia hidrográfica do sistema fluvial Taquari – Antas foi escolhida como exemplo para ilustrar concretamente as variáveis que controlam a dinâmica das águas correntes, os rios e estabelecer os estágios de desenvolvimento por que passam os rios. A observação tem como referência inicial o “canyon” do alto rio das Antas em um trecho de aproximadamente 50 km de meandros encaixados em rochas vulcânicas ácidas e básicas. Olhado de cima, no terreno, observa-se a água fluindo em um canal a aproximadamente 400 metros do topo do relevo, figura 5. 106. Pode-se afirmar que este estreito e profundo canal é o resultado do trabalho do rio em um tempo da ordem de milhões de anos levando em conta o princípio do atualismo, embora não se disponha da prova documental. Como se pode provar esta origem? Parte-se da premissa que o profundo “canyon” é o resultado da aplicação da energia, na forma de chuva, em toda a área da bacia hidrográfica do alto rio das Antas. Na média esta energia pode ser considerada constante através do tempo. O “canyon” é o resultado da concentração da energia da água em movimento e da gravidade que atua nas encostas dos vales, em uma área relativamente pequena, de modo que as águas correntes possam cortar nas rochas vulcânicas, erodi-las, transportar os detritos e deixar como registro de sua milenar passagem o profundo “canyon” atual. Para explicar a dinâmica dos rios a longo prazo, é considerada uma superfície da paisagem teórica submetida ao efeito de uma quantidade de chuva para cada unidade de tempo. Se o resultado é um vale semelhante ao vale do alto rio das Antas, pode-se concluir que dispomos de uma explicação coerente com as observações feitas. f Fig. 5. 106 – Canal do alto rio das Antas em planta, imagem Google Earth, abaixo secção transversal e declividade média do canal no trecho considerado. Esta explicação é satisfatória se forem entendidas as relações básicas da energia com o trabalho dos rios. A energia da água corrente. Com o objetivo de determinar o efeito da energia da água corrente em uma superfície teórica da paisagem deve-se estudar as relações da energia da água e observar o que acontece com esta energia quando aplicada a materiais da superfície terrestre. Sabe-se que a água flui dos pontos altos para os baixos e que a taxa de fluxo é tanto maior quanto maior for a declividade do terreno. Mas as águas de um rio fluem sempre com a mesma taxa de fluxo? Podem dois rios com profundidades desiguais fluir na mesma taxa em uma mesma declividade? Quanta energia é gasta pelo fluxo na erosão do material? A resposta a estas perguntas permite prever o efeito da água corrente nos materiais da superfície terrestre. Forças que tendem a mover a água rio abaixo. O modo prático de ter noções da complexidade do movimento dos rios é considerar as forças que atuam em uma gota de água hipotética em uma corrente que flui encosta abaixo. Assim, o efeito total do rio pode ser estimado pela soma das forças que atuam em todas as partículas do fluxo. A força básica que causa o movimento da partícula de água é a gravidade que atua diretamente para baixo, mas a partícula não pode mover-se para baixo devido às outras que a circundam, as quais também são suportadas pelo material de fundo do rio. Por isto, a partícula move-se paralela à direção do fluxo sob uma força componente da gravidade nesta direção. O valor desta componente depende do grau de declividade do canal. Em declividade vertical a partícula se move sob a ação de toda a força da gravidade. Se a declividade é horizontal, a partícula não se move. O problema do movimento da partícula nas declividades entre 00 e 900 pode ser resolvido graficamente por um paralelogramo de forças, figura 5. 107. Fig. 5. 107 – Forças atuando em uma partícula do fluxo em um canal e relações da declividade do canal e força paralela ao leito. A força perpendicular à declividade não influi no movimento da partícula, logo, o comprimento do segmento da força paralela ao canal, relacionada com a grandeza da força da gravidade fornece a fração da força da gravidade que move a partícula. Na figura, 5. 107, para 300 de declividade, a força que move a partícula é a metade do peso da partícula, e assim por diante. A força que move uma partícula rio abaixo é a mesma para todas as outras partículas em uma secção vertical do rio. Se a componente da gravidade fosse a única a atuar nas partículas de água, a velocidade da água ao longo da secção vertical do rio seria uniforme e a velocidade ao longo de uma secção vertical do fluxo seria constante. No entanto, medidas de campo da velocidade do fluxo de um rio mostram que ela varia da base para o topo da corrente, figura 5. 108. Fig. 5. 108 – Mudança da velocidade da água da base para o topo em corrente com fluxo laminar. Ao lado, fluxo laminar no rio Jacui, foto Marcelo Beskow, fonte: Google Earth.. Portanto forças distintas da componente da gravidade atuam nas partículas do fluxo de um rio, que se opõem ao movimento das partículas rio abaixo, denominadas forças de atrito. Este atrito ocorre entre as partículas e entre as partículas e o material de fundo do rio. A medida que a velocidade do fluxo aumenta aumentam as forças de fricção e existe uma velocidade limite do fluxo, independente da declividade do canal. Como o atrito atua contra a gravidade, a velocidade é mínima no fundo do rio e cresce para cima. Idealmente as partículas em contato com o fundo têm velocidade zero. A forma da curva da velocidade do fluxo medida no campo remete à conceituação de tipos de fluxos dos rios: a) Fluxo laminar, em que a água flui lentamente e o movimento das partículas é em trajetórias paralelas. A velocidade do fluxo aumenta da base para o topo, como mostra a figura nove. b) Fluxo turbulento, ocorre em quase todos os rios da natureza onde o fluxo é rápido e rompe o fluxo laminar em redemoinhos. Embora o fluxo geral das partículas ocorra rio abaixo, no fluxo turbulento elas se movem em todas as direções. Se caracteriza pela distribuição das variações das forças de fricção que se reflete em uma mudança de velocidade devida à declividade. Colocando a velocidade contra a altura em relação ao fundo, obtêm-se uma curva onde as velocidades junto ao fundo aumentam muito mais rápido da que ocorre com o fluxo laminar, enquanto que no corpo do fluxo as variações são muito menores, figura 5.109. Fig. 5. 109 – Variação da velocidade da água do topo para o fundo em um rio onde predomina o fluxo turbulento. Ao lado leito do rio Camaquã com fluxo turbulento, foto Daniel Hamm, fonte: Google Earth. Esta situação faz com que o fluxo do rio se mova de modo mais uniforme do topo para a base que no fluxo laminar. A superfície da água forma um obstáculo que causa a diminuição da velocidade em sua direção. O ponto de máxima velocidade é de aproximadamente um terço da profundidade abaixo da superfície. Energia por unidade de volume em um rio. Considera-se agora os controles maiores da energia total de uma dada porção do rio. A energia de um corpo em movimento pode ser expressa por: Energia~ mv2, em que energia é a energia cinética, m a massa ou peso do corpo e v é a sua velocidade. Para um sólido em movimento é fácil determinar a sua energia com apenas uma medida. Para uma dada porção de um rio, as diferentes partículas movem-se em taxas diferentes, logo a energia cinética total é a soma da energia das partículas individuais do fluxo. A maneira mais fácil de se aproximar desta soma é considerar a corrente como se fosse um sólido que se movesse com velocidade igual à média das partículas individuais. Este valor médio pode ser determinado graficamente, a partir da variação da velocidade no canal, figura 5. 110 . Fig.5. 110 – Gráfico da variação da velocidade no topo do fluxo de um canal. Para o rio como um todo E ~ mv2 Não é possível obter quantitativamente a energia total de um rio, mas podemos analisar alguns dos principais fatores que forneçam um panorama do tipo de trabalho que um rio executa. A velocidade média depende da soma dos componentes da gravidade que atua em cada partícula de água rio abaixo e aumenta a medida em que o componente paralelo da gravidade aumenta. Este componente aumenta com o aumento da declividade do canal V ~ declividade. Esta velocidade média é também função das forças de fricção, na seguinte relação: V ~1/ foças de fricção. Colocando estas grandezas na equação para a energia do fluxo, Energia ~ mv2, logo: Energia ~ declividade x peso da água na porção selecionada do rio/ forças de atrito. Esta relação de proporcionalidade não é exata, pois ela não expressa o efeito relativo de cada canal , mas as relações de proporcionalidade se mantem sempre. Por exemplo, secções de dois rios com o mesmo volume de água e igual declividade, mas se um tem secção transversal semi circular e o outro tem a forma de amplo e chato canal, figura 5. 111. Fig. 5. 111 – Diferença da distribuição das velocidades em secção transversal de dois rios com igual área de secção transversal, mas com diferentes formas. O canal de forma retangular apresenta relativamente maior força de resistência por atrito do que a forma triangular por apresentar maior perímetro. Os números se referem a zonas de igual velocidade média O rio com secção retangular apresenta velocidade média do fluxo menor do que a velocidade média do fluxo do rio com secção triangular, portanto menor energia cinética. A causa é a maior resistência por atrito com o fundo chato do rio com secção transversal retangular. A secção transversal triangular causa o aumento do volume de água que passa pela secção em dado tempo, devido ao aumento da velocidade média do fluxo em virtude do menor efeito das forças de resistência por atrito. O dobro do volume de água que passa por uma secção transversal de um rio aumenta a energia cinética em muito. O transporte de detritos pelos rios. A energia que um rio utiliza para produzir trabalho depende também do modo como ela é aplicada e dos materiais em que ela atua. Um pequeno arroio fluindo entre matacões de granito exerce desprezível efeito erosivo, mas se ele sulca areias finas pode usar muito de sua energia para transportar grãos de areia. A predição dos resultados do trabalho de um rio depende do conhecimento da energia disponível, do modo como ela é distribuída no fluxo, e da disponibilidade e tipo de material disponível para a dissipação da energia. Classificação do tamanho das partículas O quadro abaixo sumariza os limites dos tamanhos de grãos das partículas carreadas por um rio. Argila Silte Areia Seixo CASCALHO Pedra Matacão Menos de 1/256 mm 1/16 a 1/ 256 mm 2 a 1/16 mm 64 a 2 mm 256 a 64 mm + de 256 mmm Uma delgada camada de areia no fundo de um rio começa a ser movida quando a velocidade média da corrente é de 1m/segundo Se o fundo é coberto de argila, a velocidade necessária para mover as partículas deve ser maior do que 1m/segundo. Esta relação se mostra surpreendente, mas o fato é explicado pela posição das partículas em relação ao movimento da água. A força necessária para mover uma partícula de argila é menor do que a para mover uma partícula de areia, mas o tamanho da partícula de argila é tão pequeno que ela entra em contato apenas com as mais baixas partículas de água, justamente a parte da corrente que tem menor velocidade, daí a dificuldade de move-las em relação às partículas de areia. A habilidade de um rio para transportar partículas resultantes da erosão, depende mais da velocidade média do que da velocidade da água no contato com a camada de fundo do rio. Os materiais podem ser transportados por rolamento e salto no fundo do rio, em suspensão na parte média e em solução na parte superior. A figura 5. 112 ilustra as relações entre a velocidade média da água necessária para erodir partículas e as velocidades pelas quais elas são transportadas e depositadas. Observe que a areia (0,5mm) é mais facilmente erodida do que partículas do tamanho argila. Fig. 5. 112 – Relações do tamanho das partícula contra velocidade média da corrente e erosão, transporte, deposição. Modificado de (Garrels 1951) Distribuição da energia em uma superfície do terreno hipotética Se uma superfície hipotética do terreno homogênea e com declividade constante é submetida a uma primeira chuva, a tendência de parte da água da chuva de escoar para as partes baixas. Como é assumido que a superfície é perfeitamente uniforme, todo o escoamento superficial tende a mover-se terreno abaixo, e a quantidade de água aumenta em direção à parte inferior da encosta. A energia desta água escoada superficialmente se concentra na parte baixa da encosta e, pelo fato que o material é homogêneo, o poder erosivo da água aumenta em direção ao fim da encosta. Como esta encosta não se estende indefinidamente, assume-se que ela termina em um oceano, mar, lagoa, etc. Quando a água de escoamento superficial atinge o oceano, ela é freada e sua energia é dissipada. Por isto, o oceano é o nível de base, que determina o fim do processo erosivo e a consequente deposição do material erodido. Durante a primeira chuva, a erosão mais significativa ocorre na borda do oceano, onde o volume e a velocidade da água são maiores, figura 5. 113. Fig. 5.113 – Escoamento superficial em uma superfície do terreno comm declividade constante, em material homogêneo, modificado de (Garrels 1951). Quando ocorre a segunda chuva, a encosta superior já apresenta declividade maior do que a encosta inferior, então erodida e rebaixada pela primeira chuva. A parte alta do terreno começa a ser erodida mais rapidamentedo do que quando da primeira chuva. Na área da encosta junto ao oceano, a erosão vertical cessa já que esta parte se aproximou do nível de base. A longo prazo pode-se ilustrar este processo por uma série de perfis , figura 5. 114. Fig. 5. 114 – Estágios ideais do desenvolvimento de uma superfície submetida à erosão pela água da chuva. Modificado de (Garrels 1951) O primeiro estágio mostra a superfície original e o seu término no oceano. O segundo estágio ilustra o processo erosivo mais acentuado próximo ao oceano e tem como resultado uma uma forma amplamente côncava. A medida que a parte inferior é cada vez mais rebaixada ao nível de base ocorre um terceiro estágio com acentuação da concavidade do perfil. Finalmente, no quarto estágio, com todo o perfil próximo ao nível de base, desenvolve-se uma superfícicie quase plana com altitude próxima ao nível de base. A medida que o vale principal se alarga por movimentos de massa nas suas encostas, tende a se desenvolver vales secundários que desembocam no vale do rio principal, figura 5. 1115. Fig. 5. 115 – Esquemas ideais do desenvolvimento de canais tributários do rio principal. O ângulo em que estes vales secundários encontram o vale principal pode ser controlado pela declividade original do terreno. Quanto maior a declividade do terreno mais agudo é o ângulo de junção com o rio principal. Os vales secundários crescem por erosão regressiva nas suas cabeceiras (A, B, C, D, ) na figura 5. 115. O rio principal funciona como nível de base para o desenvolvimento dos canais afluentes. De modo geral, o perfil longitudinal dos afluentes tem desenvolvimento semelhante ao do rio principal, mostrado na figura 5. 114, salientando-se que este nível de base está constantemente sendo rebaixado, ao contrário do nível de base do oceano que pode ser considerado mais ou menos constante para um tempo geológico curto. À medida em que o setor à jusante do vale do rio principal está próximo do nível de base, a taxa de erosão vertical diminui e a energia da corrente é aplicada no alargamento do vale principal, figura 5. 116. 5. 116 - Modelo ideal do alargamento lateral do vale de um rio principal próximo ao nível de base. A energia erosiva da corrente é aplicada principalmente na parte côncava da curva do rio que por isto torna-se cada vez mais aberta. Na parte convexa, onde a energia da corrente é menor ocorre deposição da carga formando-se barras de areia e cascalho. A continuidade do processo, em certo estágio, leva ao corte da curva do rio e a formação de um meandro abandonado ou lago em ferradura, como mostra a figura 5. 96. Sumário das feições desenvolvidas por erosão em uma superfície hipotética do terreno. De acordo com o que foi descrito, os principais episódios que ocorrem idealmente no desenvolvimento de uma superfície do terreno por erosão fluvial são: (Figura 5. 117 ). Fig. 5. 117 – Modelo ideal do desenvolvimento de um sistema fluvial ideal. 1. A superfície do terreno deverá ser reduzida como um todo por erosão hídrica e movimentos de massa nas encostas dos vales. 2. Os vales principais deverão se desenvolver em um padrão comandado pela declividade do terreno. 3. A partir dos vales principais desenvolvem-se canais tributários em vales menores do que o vale principal, com perfil longitudinal semelhante ao do rio principal. 4. Os ângulos entre os tributários e o rio principal, e entre eles mesmos, é tanto menor quanto maior a declividade do terreno. 5. O perfil longitudinal é uma curva suave, quase plana próximo ao nível de base e acentuada próximo às suas cabeceiras. A curva longitudinal dos canais tributários é semelhante à do rio principal. 6. As irregularidades no perfil longitudinal são maiores nas cabeçeiras. 7. A largura dos vales dos tributários e do rio principal aumenta rio abaixo. Prova da origem do Rio das Antas. Todos os critérios enumerados acima são encontrados na bacia do Rio das Antas, se considerarmos este rio como um todo. Por exemplo, a parte baixa do rio é larga , o canal apresenta curvas amplas. As irregularidades do perfil longitudinal são mais numerosas nas cabeçeiras e curso médio, a junção dos tributários nas cabeçeiras tendem a ângulos agudos, no baixo curso tendem para ângulos retos. . Portanto, com base nas oito características teóricas do desenvolvimento de uma bacia hidrográfica, que também foram detectadas na Bacia do Rio das Antas, podemos concluir que o sistema de drenagem do Rio das Antas resultou da aplicação da energia uniforme do fluxo da corrente hídrica e da ação da gravidade no material das encostas ao longo do tempo. A figura 5. 118 ilustra o perfil longitudinal composto do rio Taquari – Antas, onde pode-se observar algumas feições características que se identificam com aquelas do desenvolvimento de um rio em condições ideais ilustradas na figura 5. 116. Fig. 5. 118 – Perfil longitudinal composto do rio Antas – Taquari obtido a partir da imagem de sensoriamento remoto Google Earth. Águas Subterrâneas Importância e breve histórico Pelo fato de as águas subterrâneas serem invisíveis, sendo observadas apenas pela sua descarga eventual por meio de fontes (nascentes) , as pessoas leigas pensam que os rios, barragens e lagos são as principais fontes de água para o consumo humano, em suas atividades. No entanto, 93% da água doce líquida potável, disponível atualmente é subterrânea, restando 7% de águas superficiais. Segundo estimativas da UNESCO (1992) entre 1970 e 1995, foram perfurados no Planeta, em torno de 300 milhões de poços, fornecendo água para o abastecimento geral de 50% da população mundial. No Brasil, dados do IBGE (1991) indicam que, pelo menos 60% da população faz uso da água subterrânea. No Rio Grande do Sul existem dezenas de milhares de poços perfurados, que de alguma maneira ocorrem em todas as cidades do Estado e, principalmente na zona rural, onde o abastecimento público não existe. No Egito e na Pérsia, em torno de 800 anos AC, a água subterrânea já era utilizada através de sua captação por túneis e poços. Aristóteles, a mais de 300 anos AC. concebeu o ciclo hidrológico. Reconheceu o caráter cíclico do caminho da água entre a terra e o ar, a evaporação, condensação e sua importância na formação da chuva, as relações da chuva com a formação dos rios, a penetração de parte da água no subsolo e a sua surgência na superfície sob a forma de fontes. A ciência da Hidrogeologia se originou na França, no século XVI através de um estudo pioneiro de Pierre Perrault. O estudo foi feito no rio Sena, em uma bacia hidrográfica com 122 km2 . Mediu as precipitações em um intervalo de três anos e obteve o valor médio de 520 mm/ano, que transformada em volume anual, resultou em 63 milhões de m3/ano. Mediu a vazão média anual do rio Sena, no mesmo período e chegou ao valor de 10 milhões de m3/ano, mais ou menos 16% da chuva. Demonstrou que a chuva garante não só o fluxo das águas dos rios, fornecimento de água para as plantas, animais bem como, fornece água para infiltração fora do alcance das raízes, que se acumula nos mananciais subterrâneos. Em meados do século dezessete Haley, medindo a evaporação da água dos oceanos , chegou à conclusão que esta água era suficiente para formar todas as nascentes e fluxos de água dos rios de todos os continentes. No século XVIII, os geólogos estabeleceram os fundamentos da ocorrência e movimentos da água subterrânea.no solo e nas rochas. No século XIX, o engenheiro Henry Darcy estabeleceu a lei do movimento da água subterrânea, através de colunas de areia e verificou que a velocidade do fluxo e a descarga são condicionados pelo gradiente hidráulico e pela natureza do material percolado, figura 5. 119. Fig. 5. 119 – O gradiente hidráulico G é igual à diferença de nível ente dois pontos do fluxo subterrâneo na zona saturada, dividido pela distância horizontal entre estes pontos L. G = H/L. Darcy, observou também que a velocidade V do fluxo e a descarga Q ainda dependem do arranjo, forma e dimensões das partículas do meio por onde a água subterrânea percola. Estabeleceu a noção de permeabilidade dos solos e rochas (facilidade com que a água subterrânea se movimenta em um meio poroso). Em função disto, incluiu em sua fórmula um coeficiente de permeabilidade K, dependente das condições de permeabilidade, controladas pela natureza do material poroso (arranjo, forma e dimensões das partículas sólidas). V = KG ou V= K H/L , fórmula fundamental da hidrologia subterrânea em rochas e solos com vazios por porosidade onde o fluxo é laminar. Este ponto de partida desencadeou a física da água subterrânea, ramo da engenharia hidráulica ligada aos meios porosos, onde o fluxo da água subterrânea é laminar. Nos dias atuais, culmina com modelos matemáticos gerais de recarga, armazenamento, fluxo e descarga da água subterrâneas em meios porosos. Paralelamente se desenvolveu a hidrogeologia, estudo concreto de aqüíferos, que se apoia em modelos conceituais hidrogeológicos dos aqüíferos baseados em estudos diretos de campo, das condições hidrogeológicas, bem como, das leis da hidráulica dos meios porosos. A recarga, armazenamento, fluxo e descarga de água subterrânea em rochas fraturadas e solúveis (calcários e mármores) ocorre por fluxo turbulento. Estes aqüíferos não se enquadram nas leis da hidráulica dos meios porosos e correspondentes modelos matemáticos. O ciclo hidrológico Os três principais mega reservatórios de água do planeta são os oceanos, atmosfera e as massas continentais. A água movimenta-se dos oceanos para os continentes através da atmosfera. O movimento cíclico da água dos oceanos, por evaporação, para os continentes, onde ocorrem precipitações atmosféricas, escoamento superficial, infiltração, escoamento subterrâneo e retorno para as bacias oceânicas é chamado ciclo hidrológico. A fonte principal de água para abastecer os reservatórios situados nos continentes é o excesso de água evaporado das massas oceânicas, em relação às ali precipitadas. Ciclo Hidrológico: Estimativas de fases e percentagem de água nos diversos reservatórios Levando em conta precipitação média anual na Terra de 1000mm, 88% se origina por evaporação dos oceanos. 79% reprecipitam no oceano (ciclo hidrológico curto) e 9% deslocam-se como nuvens para os continentes; 12% formam nuvens originadas da evapotranspiração nos continentes. Estas duas partes (21% precipitam nos continentes, sendo 12% novamente evapotranspirados e os restantes 9% escoam para os oceanos, (ciclo hidrológico longo) figura 5. 120 (A). Em 5. 120 (B) percentuais de água nos diferentes reservatórios. Fig. 5. 120 – O ciclo hidrológico e valores em percentual das fases do ciclo e dos diferentes reservatórios. Valores ideais. Modificado de Summerfield (1991). A figura 5. 121 ilustra graficamente a passagem da água pelas diversas fases do ciclo hidrológico Fig. 5. 121 – Fases do movimento da água no ciclo hidrológico. Descrição do ciclo hidrológico: A água dos oceanos é evaporada para atmosfera, em determinada altitude, com a queda da temperatura, condensa e forma nuvens. Parte desta água precipita como chuva nos oceanos. Esta fase forma o ciclo hidrológico curto. Os movimentos de massa de ar úmido transportam parte da água evaporada nos mares para os continentes, ali forma nuvens e pode precipitar como neve que se transforma em gelo nas áreas polares e nas altas montanhas onde fica estacionária, formando os glaciais. Outras nuvens fornecem água para a precipitação sob a forma de chuvas, distribuídas irregularmente nas áreas continentais. Parte desta água penetra no solo (infiltração), e percola na zona não saturada, onde fica disponível para as plantas que retira a água do solo e parte dela é evaporada - transpirada para a atmosfera. Uma fração penetra na zona de saturação e forma o reservatório das águas subterrâneas abaixo do nível freático. Este nível freático pode aflorar na superfície em lagos, banhados, vales de rios e nascentes. O fluxo geral da água subterrânea tende a se deslocar em direção aos oceanos, onde forma uma interface com a água salgada que é mais densa, fechando parte do ciclo hidrológico longo. Uma fração da água da chuva precipitada nos continentes escoa superficialmente, forma rios e lagos. Os lagos formam reservatórios temporários nos continentes, parte de sua água é evaporada para a atmosfera e outra fração se desloca para os oceanos, fechando a parte superficial do ciclo hidrológico longo. Aqüíferos Regolitos e rochas que têm a capacidade de armazenar e transmitir água com facilidade são chamados de aqüíferos. Rochas duras cristalinas onde não ocorre penetração de água denominam- se aquifugos, regolitos e rochas em que a água penetra, mas não circula, são chamados aquicludes , aquitardos, onde ocorre circulação lenta. Do ponto de vista quantitativo, os aqüíferos subterrâneos assumem grande importância como reservas de água doce do planeta consistindo 22% do total destas, incluindo-se os glaciais, figura 2 A penetração da água nas rochas ocorre de diversas maneiras, através de interstícios diminutos (poros) nas rochas inconsolidadas e semiconsolidadas, através de fraturas irregulares nas rochas duras e em cavidades largas nas rochas solúveis. Estes três tipos de aberturas permitem classificar as águas subterrâneas em águas de porosidade onde ocorre fluxo laminar, águas de fraturas e águas de cavernas onde ocorre fluxo turbulento, fig 5. 122. Fig. 5. 122 - Classificação dos aqüíferos: A, B, C, D, diferentes aqüíferoscom porosidade inter granular , E aqüífero em cavernas por solubilidade, F aqüífero fraturado em todos os tipos de rochas sólidas. Modificado de Bollenbach (1947). A relação entre as aberturas e o volume total de um regolito ou rocha denomina-se porosidade. Sendo Vt=volume total e Vv=volume das aberturas: e P= porosidade, P=VT/Vv. Multiplicando o valor por 100, obtem-se o valor da porosidade em %. A propriedade que um regolito ou rocha tem, de permitir que a água circule nas suas aberturas denomina-se permeabilidade ou condutividade hidráulica. A permeabilidade varia aproximadamente com o quadrado do diâmetro dos grãos, influindo também o grau de classificação dos grãos, sendo maior nos materiais bem classificados. Os materiais aquifugos são impermeáveis, por não apresentarem poros, contudo a presença de descontinuidades como planos de estratificação, juntas de resfriamento, fraturas de origem tectônica criam uma rede de vazios intercomunicados que tornam o material permeável em grande escala. Nível superior, zonação e movimento das águas subterrâneas Abaixo de um determinado nível do sub solo, todos os poros e fissuras estão saturados de água. A superfície superior desta zona saturada é denominada nível superior das águas subterrâneas, nível freático ou “water table”. Este nível acompanha grosseiramente a superfície topográfica, com pendentes um pouco mais suaves. Geralmente são reconhecidas três zonas, figura 5. 123. Fig.5. 123 – Zonação das águas subterrâneas. Conforme a locação do poço em relação a estas zonas ele pode ser produtivo todo o ano, ou improdutivo na estação seca. Modificado de Holmes (1970) 1. Zona insaturada ou de aeração onde os vazios são preenchidos por água e ar em que ocorre infiltração e percolação da água da chuva, com movimento para baixo, sob a ação da gravidade. Certa quantidade de água é retida no solo, que é em parte absorvida pelas raízes das plantas. 2. Zona intermediária ou de saturação intermitente, que se estende do mais alto nível atingido pelas águas subterrâneas depois de um prolongado período de chuvas, até o mais baixo nível após um prolongado período de estiagem. 3. Zona de saturação permanente, que se estende para baixo do limite inferior da zona de saturação intermitente, até uma região do subsolo em que a água subterrânea não é mais encontrada. Este limite é variável de lugar para lugar. As zonas de saturação podem ser cortadas pela superfície topográfica, originando-se nestes pontos pântanos, lagos, nascentes de rios, fontes e vertentes. A figura 5. 124 apresenta uma divisão mais detalhada das zonação das águas subterrâneas. Fig. 5. 124 – Zonação das águas subterrâneas em detalhe; 1 água de percolação, 2 partícula do solo, 3 água higroscópica, 4 película de água, 5 ar e vapor de água, 6 água capilar aberta, 7 água capilar fechada, 8 nível freático, 9 água subterrânea. Zona da água subterrânea 10, zona da água capilar 11, 12 zona de aeração. O movimento das águas subterrâneas que ocorre em aqüíferos com porosidade inter granular é lento e laminar, pode ser descrito em termos dos conceitos hidráulicos do fluxo laminar. Não ocorre o mesmo nos aqüíferos fissurados e em cavernas, onde o fluxo é turbulento e rápido. Descreve-se aqui algumas características fundamentais do fluxo laminar em aqüíferos porosos À semelhança dos rios, o movimento da água em um aqüífero é desencadeado principalmente pela existência de um gradiente hidráulico. O valor deste gradiente depende da declividade do nível superior das águas subterrâneas ou “water table” . Este gradiente é medido pela diferença de altura do nível superior das águas subterrâneas, pela distância horizontal entre os dois pontos, figura 5. 125. Fig. 5. 125 – O gradiante hidráulico G depende da altura do nível freático e da distância horizontal entre dois pontos considerados. Modificado de Bollembach (1947) O engenheiro francês Henri Darcy em 1856 estabeleceu pela primeira vez a equação que exprime a velocidade do fluxo em um aqüífero poroso perfeitamente homogêneo. V=K(h2-h1):L, onde K é o coeficiente de permeabilidade ou condutividade hidráulica, que depende das características do aqüífero, h2 é o ponto mais alto, h1 é o ponto mais baixo, l é a distância horizontal entre os dois pontos e V é a velocidade do fluxo da água no intervalo considerado do aqüífero. Nos aqüíferos porosos arenosos mais comuns esta velocidade é estimada no intervalo de 1,5m por dia a 1,5m por ano. Em geral, nas condições naturais o fluxo ocorre da superfície do aqüífero para a drenagem superficial, figura 5. 126. Fig. 5. 126– Esquema idealizado das linhas de fluxo no meio poroso em corte transversal. Modificado de Garrels (1951) As linhas pontilhadas representam a trajetória das partículas de água no aqüífero. O caminho percorrido é a resultante da força da gravidade (constante) Fg que movimenta a partícula para baixo e a força de sucção em direção ao rio Fs perpendicular a Fg que aumenta em direção ao canal. A linha de fluxo é a diagonal do paralelogramo de forças construído. Na zona não saturada atua apenas a força da gravidade. Artesianismo Surge a condição de artesianismo quando o aquífero é confinado por pacotes aquifugos, aquicludes. Quando o confinamento se dá por camadas aquitardes é denominado artesianismo com recarga drenante., A condição estrutural de pacotes inclinados gera uma situação de pressão hidrostática figura, 5. 127. Quando a pressão hidrostática é suficientemente forte e as condições topográficas são favoráveis pode ocorrer artesianismo surgente. Fig. 5. 127 – Situação esquemática ideal que retrata as condições de artesianismo surgente. Modificado de Holmes (1970) Sistemas Aquíferos Os aqüíferos, junto com as camadas confinantes, aquifugos, aquicludes e aquitardos formam os sistemas aqüíferos ou sistemas de águas subterrâneas, figura 5. 128. Do ponto de vista hidráulico, as funções principais dos sistemas aqüíferos são armazenar a água e transferi-la das áreas de recarga para as áreas de descarga, sob a ação do gradiente hidráulico A velocidade do movimento da água subterrânea nos sistemas aqüíferos, das áreas de recarga para as áreas de descarga, depende da permeabilidade das rochas, e das características das camadas confinantes. O tempo deste percurso varia desde poucos dias em áreas adjacentes às áreas de descarga, até milhares de anos para as águas subterrâneas que se movem das partes centrais de algumas áreas de recarga através das partes mais profundas, percorrendo centenas de quilômetros antes de atingir as áreas de descarga. Fig. 5. 128 – Sistemas aquíferos: Relações recarga – fluxo – descarga. Modificado de Chapman Jr (2012). As características químicas das águas sofrem grande influência do seu tempo de residência no sistema aqüífero antes de atingir áreas de descarga natural ou em poços. Fluxo Turbulento nos Meios Fraturado e Solúvel, (E, F, figura 5. 85) Os meios naturais de rochas fraturadas ou solúveis caracterizam-se pela anisotropia, ou seja, não apresentam parâmetros hidrodinâmicos constantes, como ocorre no meio de rochas com porosidade inter granular, caracterizado pelo fluxo laminar, onde as propriedades do fluxo podem ser tratadas razoavelmente, adotandose a equação fundamental de Darcy. Nos meios anisotrópicos o fluxo é turbulento, os níveis da água subterrânea são descontínuos e as relações dos níveis dos poços com os níveis de água das fraturas e das aberturas produzidas por dissolução obedece o princípio dos vasos comunicantes, figura 5. 129. Fig.5. 129 – Ilustra o princípio dos vasos comunicantes na relação das fraturas saturadas çde água com a entrada de água no poço. O movimento da água nas fraturas é turbulento. ÁGUAS SUBTERRÂNEAS EM ROCHAS ÍGNEAS E METAMÓRFICAS INTRODUÇÃO Poucas tarefas em hidrogeologia são mais difíceis do que escolher sítios para perfurar poços em rochas ígneas e metamórficas. Variações extremas de rochas e estruturas associadas a certos locais com grande acumulação de água tornam as explorações geológicas e geofísicas difíceis. O solo e a vegetação comumente recobrem os afloramentos e dificultam o mapeamento geológico nas condições de clima do Rio Grande do Sul. Ainda mais, pequenas fraturas que podem fornecer água aos poços não são detectadas por técnicas aerofotogeológicas e geofísicas. Não deve ser surpresa a grande percentagem de poços mal sucedidos mesmo quando locados por geólogos As rochas ígneas e metamórficas correspondem a mais de 20 % da superfície dos continentes, porém , em termos de volume significam 98% da Crosta, figura 5. 130. Fig. 5. 130 - Ocorrência das rochas na Crosta Terrestre. No Rio Grande do Sul, excluídos os sedimentos das planícies costeira, fluvial e colúvios associados, as demais rochas aquíferas podem ser consideradas dentro da hidrogeologia dos meios fraturados, ou seja, aproximadamente 80% do território Gaúcho. A pesquisa por novos suprimentos de água por agências governamentais, particularmente na Índia, Austrália, África do Sul e Brasil, levaram a perfurar muitos poços nas áreas de rochas cristalinas consideradas desfavoráveis. ROCHAS METAMÓRFICAS, ÍGNEAS PLUTÔNICAS - VULCÂNICAS ANTIGAS. Rochas metamórficas comuns tais como filitos, ardósias, xisto, as rochas ígneas plutônicas mais comuns, granito, diorito e granodiorito, e vulcânicas antigas, basalto, riolito, podem ser classificadas por estudo petrográfico. Propriedades hidrogeológicas podem ser inferidas através de sutis variações petrográficas. Como um exemplo, uma unidade metamórfica em Maryland produz duas vezes mais água subterrânea em um fácies rico em albita do que um fácies rico em oligoclásio. Também a locação de poços próximos a falhas cobertas por solo espesso que devem ser mapeadas, produzem mais água. Limitações de tempo, dinheiro e pessoal infelizmente restringe os estudos petrográficos correlacionáveis a estudos hidrogeológicos. É costumeiramente necessário que as identificações das rochas no campo sejam acuradas e rápidas. As informações podem vir de interpretação preliminar de fotografias aéreas e de mapas geológicos já existentes, culminando com trabalho de campo de detalhe no sítio sugerido para perfurar através destes meios preliminares. POROSIDADE E PERMEABILIDADE Rochas ígneas e metamórficas apresentam porosidade menor do que 3% e o valor mais comum é 1%. Além do mais, os poros não são interconectados. Podes-se então em geral estabelecer que a porosidade primária é 0%. Porosidades secundárias por fraturas e ou intemperismo podem ser apreciáveis. Por exemplo, determinações de laboratório de pemeabilidade de rochas metassedimentares não fraturadas do norte de Michigan deram valores em torno de 0,01 milidarcys. Testes de aqüífero, entretanto, demonstraram que a mesma rocha no conjunto, é mais de 100 vezes mais permeável que o dado de laboratório. Os testes de aqüífero indicaram também que as permeabilidades paralelas à direção das camadas são duas a três vezes maior que a permeabilidade média da formação. As fraturas que não são associadas a falhas aumentam muito pouco a porosidade das rochas, pois representam um pequeno volume da rocha total. Pequenas fraturas também apresentam-se preenchidas por minerais. Vazões de poços sugerem que permeabilidades produzidas por fraturamento de rochas não intemperisadas a profundidades de 100m variam de 0,001 a 10,0 darcys. Nas rochas ígneas plutônicas, vulcânicas antigas e metamórficas, a permeabilidade é fortemente anisotrópica. Efeitos do intemperismo podem se estender até a 100m nas zonas climáticas de de intenso intemperismo. A profundidade do intemperismo entre 1m e 15m são as mais comuns. Minerais hidratados em rochas atingidas pelo intemperismo, formam agregados com porosidade acima de 35%., figura 5. 131. Fig. 5. 131 – Estoque total de água armazenada em saprólitos de rochas ígneas e valor disponível para poços. Clima úmido. Modificado de Davis e De Wiest (1966). A porosidade decresce com a profundidade onde os minerais formadores das rochas estão parcialmente alterados, em que a porosidade varia entre 2 e 10%. Em geral, a maior permeabilidade é encontrada na rocha parcialmente decomposta abaixo da zona de acumulação de minerais argilosos, horizonte C do solo (saprólito). PERMEABILIDADE EM FUNÇÃO DA PROFUNDIDADE DOS POÇOS A permeabilidade media das rochas ígneas plutônicas, vulcânicas antigas metamórficas decresce rapidamente com a profundidade, figura 5. 132. e Fig. 5. 132 – O rendimento médio dos poços no meio fraturado diminui com a profundidade. Modificado de Davis e De Wiest (1966). Este decréscimo é um efeito combinado do peso das rochas de cobertura e da tendência de efeitos de intemperismo atingirem pequenas profundidades. Juntas, falhas e outras fraturas tendem a serem mais fechadas em profundidade pelo efeito do peso do material Algumas aberturas que são de interesse para os hidrogeólogos, podem existir em todas as profundidades. As águas fluem em algumas minas ou túneis a centenas de metros de profundidade, mostrando que em certos casos a profundidades grandes os poços podem ser supridos de água. Efeitos de superfície que produzem permeabilidade nas rochas incluem escorregamentos, quedas de rochas, erosão , intemperismo químico, ação de expansão do gelo e de raízes de árvores e várias atividades humanas. Escorregamentos e quedas de rochas afetam a rocha aflorante por produzirem depósitos locais de detritos de rochas que criam importantes áreas de recarga e podem ser bons aqüíferos. A erosão de material sobreposto ao maciço rochoso causa alívio de carga que produz fraturas paralelas à superfície do (esfoleação dômica ) que podem tornar-se bons aqüíferos. A distância entre as fraturas aumenta rapidamente com a profundidade, sendo raras ou ausentes a grandes profundidades. O intemperismo químico atua até 100 m de profundidade. Os efeitos de dilatação do gelo e raízes de árvores é muito local VAZÃO DOS POÇOS Em geral a vazão dos poços em rochas ígneas plutônicas e metamórficas é baixa. A média de várias localidades fica entre 2400 l/h e 6000 l/h. Rochas com intemperismo profundo, com recarga local substancial, associado a falhas distensivas, apresentam médias com mais de 12 000 l/h. As variações de vazão em uma mesma área são grandes, mas a tendência é a maioria dos poços com baixas vazões e poucos com vazões maiores. De 2 a 10% dos poços poderão ter vazões maiores do que 6000 l/h. Por outro lado, mais de 50 % dos poços apresentam vazões muito baixas e uma percentagem entre 5 e 20% cai no campo de poços praticamente secos. Diferenças de vazão tendem a refletir diferenças no grau de intemperismo ou fraturamento da rocha, antes que relações diretas com a mineralogia e petrografia da rocha. Méier e Petersen citam um exemplo na Suécia, onde 3 poços locados em uma falha produziram vazões entre 15000 e 25000 l/h, enquanto que a vazão média para a região era de apenas 3000 l/h. Dados de várias regiões falham em mostrar grandes diferenças em vazões médias relacionadas especificamente com o tipo de rocha. As vazões médias menores associam-se aos xistos, nas quais as aberturas de juntas e falhas fecham rapidamente com a profundidade. As vazões maiores estão associadas a rochas carbonatadas devido a vazios abertos por dissolução. Embora tipos de rochas, por si não exerçam um efeito importante nas vazões, a história tectônica e o subseqüente intemperismo de cada rocha pode ser fator levado em conta. Então, em uma área a vazão média em um muscovita xisto pode ser duas vezes maior do que um anfibóleo xisto, enquanto em outra área, o oposto pode acontecer. A mesma rocha pode apresentar distintas vazões em áreas adjacentes como é o caso de uma rocha milonitizada ao lado da mesma que não sofreu o processo tectônico. Altas vazões poderão ser obtidas em climas úmidos em relação aos secos, sendo outros fatores iguais. Isto deve-se ao fato de que a água penetra menos nos climas úmidos e por isto ela satura as rochas mais permeáveis perto da superfície. Também, a grande quantidade de água em circulação poderá aumentar a permeabilidade por acelerar o intemperismo em superfície e aumentar a dissolução dos minerais nas fraturas. A geomorfologia é um importante indicador para a vazão dos poços em certas regiões, figura 5. 133. Poços em terras altas planas e em vales tendem a produzir vazões maiores do que poços nas encostas dos vales e em topos de relevos escarpados. Nas zonas de encostas e topos escarpados, a erosão remove o material intemperisado, oque facilita o escoamento superficial e dificulta a recarga. Os níveis de água também estão menos próximos da superfície pela drenagem da água subterrânea que recarrega as áreas baixas dos vales. Dados limitados sugerem que altas vazões de poços podem ocorrer próximos a grandes ravinamentos, que podem estar associadas a zonas de falha, muito permeáveis. Fig. 5. 133 – Relações da geomorfologia com a produtividade dos poços. Modificado de Davis e De Wiest (1966) Apesar da existência das relações até aqui discutidas, todas as vazões referidas são afetadas pelos métodos de teste e pelo tipo de construção de poços. Isto é particularmente importante considerar, ao compararmos áreas cujos dados são provenientes de poços domésticos perfurados a uma profundidade destinada a produzir poucos galões por minuto com áreas onde ocorrem poços municipais e industriais perfurados a profundidades muito maiores com o objetivo de conseguir um máximo de quantidade de água. Valores de vazões médias devem ser consideradas baixas quando a profundidade, o diâmetro e outros detalhes construtivos são levados em conta. Por outro lado, testes de vazão são comumente terminados prematuramente de modo que as vazões referidas possam ser muito maiores do que os valores atuais. LOCAÇÃO DE POÇOS , EXPECTATIVAS DE VAZÃO. O fato de que poucos poços em quase todas as regiões ultrapassem o valor de 10 000 l/h indica que zonas altamente permeáveis existem e que métodos geológicos e geofísicos podem ser usados para detectar estas zonas de maior permeabilidade. Existem poucos dados para provar a eficiência de métodos geológicos e geofísicos para locar poços produtivos Ward documentou vários casos no sul da Austrália em que geólogos locaram com eficiência água em rochas metamórficas onde locações por leigos falharam. Enslin reportou que 5 poços de 6 locados por eletro resistividade deram positivos em uma região da África do Sul onde apenas 10% dos poços locados por outros métodos deram positivos Se ocorrem boas exposições de rocha, na área de interesse, o mapeamento geológico detalhado pode ser altamente usado para determinar a extensão das juntas e a locação de falhas, diques e contatos geológicos. Em geral, as zonas mais produtoras são em mármores e dolomitos, onde além das fraturas há o processo de dissolução. A próxima situação em importância são extensas zonas de fraturas associadas com falhas. Muitas zonas de falha podem apresentar cimentação , sendo então negativas para água. Rochas com considerável deformação tendem a desenvolver fraturas produtoras de água nas zonas de deformação rúptil. Em muitas regiões as falhas e fraturas são quase verticais. Estudos geomorfológicos detalhados podem indicar áreas com mantos de alteração espessos, presença de depósitos de tálus ou aluviões. Fotografias aéreas comumente realçam variações tonais dos solos, vegetação, textura da drenagem e alinhamentos vários. Estas variações podem ser indicadoras de água subterrânea. O advento de imagens orbitais de sensoriamento remoto à partir da década de 70 do século XX, incrementou em muito a pesquisa preliminar de água subterrânea através destas imagens. De longe, a maior quantidade de artigos científicos relacionados com a pesquisa de água subterrânea em imagens aéreas se refere ao estudo de lineamentos. Estudos geofísicos podem indicar várias feições geológicas, através de métodos magnéticos, sísmicos e elétricos. Testes de aqüíferos em rochas ígneas plutônicas e metamórficas comumente não são interpretados. Algumas possibilidades são mostradas na figura 5. 134. Fig. 5. 134 – Situações hipotéticas de locação de sítio para poços e respostas de vazão no meio fraturado e solúvel. Modificado de Davis e De Wiest (1966) Uma feição comum em poços que recebem água de fraturas é uma vazão inicial alta ou moderada que decresce rapidamente com o tempo. Usualmente a causa é o armazenamento insuficiente de água próxima do poço. Contudo se as fraturas são abastecidas por extensas zonas de intemperismo este comportamento não acontece. A fotointerpretação de detalhe para a escolha preliminar de sítios para perfurar poços no meio fraturado é o modo mais econômico e imediato dispo nível para o hidrogeólogo. Abaixo, figura 5. 135, apresenta-se situações geológicas hipotéticas e poços perfurados. A interpretação hidrogeológica é apresentada no quadro I. Fig 5. 135. Situações geológicas hipotéticas para a locação de poços tubulares no meio fraturado. Modificado de Davis e De Wiest (1966). Quadro V – Fontes de água no meio fraturado (situações geológicas hipotéticas) referente à figura 5. 135 SISTEMAS AQUÍFEROS, ÁREAS AQUÍFERAS E AQUÍFEROS DO RIO GRANDE DO SUL. Sistemas Aquíferos e sistemas de fluxo. Os aqüíferos, junto com as camadas confinantes, aquifugos, aquicludes e aquitardos formam os sistemas aqüíferos ou sistemas de águas subterrâneas (Meinzer (1959), figura 5.136. Do ponto de vista hidráulico, as funções principais dos sistemas aqüíferos são armazenar a água e transferi-la das áreas de recarga para as áreas de descarga, sob a ação do gradiente hidráulico. Para classificar e denominar os sistemas aquíferos usa-se os sistemas de rochas estabelecidos pela Estratigrafia. Os grandes sistemas aquíferos são separados por discordâncias regionais A velocidade do movimento da água subterrânea nos sistemas aqüíferos, das áreas de recarga para as áreas de descarga, depende da permeabilidade das rochas e das características das camadas confinantes. O tempo deste percurso varia desde poucos dias em áreas adjacentes às áreas de descarga, até milhares de anos para as águas subterrâneas que se movem das partes centrais de algumas áreas de recarga através das partes mais profundas dos sistemas aqüíferos, percorrendo centenas de quilômetros antes de atingir as áreas de descarga. Fig. 5. 136 –Esquema generalizado da relação entre sistemas aquíferos e sistemas de fluxo. Os sistemas de fluxo são representados pelas setas pretas. Uma falha é representada por linha preta reta. Em determinadas situações é vantajoso compartimentar os Sistemas aquíferos em áreas aquíferas, figura 5. 137. Fig. 5. 137 – Áreas aquíferas nos sistemas aquíferos do Rio Grande do Sul. Aqüíferos Regolitos e rochas que têm a capacidade de armazenar e transmitir água com facilidade são chamados de aqüíferos. Rochas duras cristalinas onde não ocorre penetração de água denominam- se aquifugos, regolitos e rochas em que a água penetra, mas não circula, são chamados aquicludes , aquitardos, onde ocorre circulação lenta. Do ponto de vista quantitativo, os aqüíferos subterrâneos assumem grande importância como reservas de água doce do planeta consistindo 22% do total destas, incluindo-se os glaciais e 94% destas, excluídos os glaciais. A penetração da água nas rochas ocorre de diversas maneiras, através de interstícios diminutos (poros) nas rochas inconsolidadas e semiconsolidadas, através de fraturas irregulares nas rochas duras e em cavidades largas nas rochas solúveis. Estes três tipos de aberturas permitem classificar as águas subterrâneas em águas de porosidade onde ocorre fluxo laminar, águas de fraturas e águas de cavernas onde ocorre fluxo turbulento, figura 5. 138. Fig.5. 138 – Tipos de aqüíferos segundo a natureza dos vazios. Aqüíferos porosos, pequenos vazios, porosidade primária, fluxo laminar. Fraturados e solúveis grandes vazios porosidade secundária, fluxo turbulento. Aqüíferos mistos, pequenos vazios + grandes vazios, fluxo turbulento. Classificação geral dos aquíferos O quadro VI apresenta os seis tipos básicos fundamentais de aquíferos. Quadro VI Sistemas aquíferos e áreas aquíferas do Rio Grande do Sul. Nos sistemas aquíferos do Rio Grande do Sul ocorrem todos os seis tipos fundamentais de aquíferos apresentados no quadro I. O quadro II discrimina os sistemas aquíferos que ocorrem no Rio Grande do Sul , bem como, indicação da diminuição geral da porosidade – permeabilidade das rochas com a profundidade deformação. A figura 2 classifica as principais áreas aquíferas do Estado. Em alguns casos, os sistemas aquíferos se compartimentam em mais de uma área aquífera. Quando isto ocorre, o sistema aquífero é descrito para cada uma das áreas aquíferas. Quadro II – Sistemas Aquíferos do Rio Grande do Sul Sistemas Aquíferos do Quaternário (SAQ) Regolitos residuais Planície marinha Planície lagunar Planícies fluviais Leques. 1. Sistema Aquífero Regolitos Residuais. (Sarr) Corresponde a todas as coberturas regoliticas residuais, não transportadas. É conhecido popularmente como “lençól freático” ou nível da água. Explorado em todo o Estado por poços cacimba, para abastecimento doméstico, principalmente nas zonas rurais onde não ocorre abastecimento público convencional. É bastante sensível à poluição e fonte de muitas doenças endêmicas no meio rural, figura 5. 139 Fig. 5. 139 – O corte de estrada, mostra regolito residual formado a partir do intemperismo de vulcanito ácido, Bom Jesus (RS). Á direita, poço cacimba corretamente construído para explorar o aquífero freático em regolito residual. Este sistema aquífero se sobrepõe à grande maioria dos demais. Na exploração dos sistemas aquíferos mais profundos por poços tubulares, o sistema aquífero regolitos residuais (freático) deve ser isolado do poço tubular através de eficiente proteção sanitária devido á grande probabilidade de ser poluído pelo aquífero frático superior. 2. Sistema Aquífero Planície Marinha. (Sapm) Corresponde à faixa costeira do Rio Grande do Sul, uma das mais extensas e largas do Planeta. Este sistema aquífero apresenta grandes reservas de água subterrânea de fácil extração, através de poços ponteira perfurados por impacto ou jato d’água, figura 5. 140. Fig. 5. 140 – Sistema Aquífero Planície marinha formado por sistema praial com dunas e inter dunas pertencentes aos sistemas laguna – barreira III e IV), imagem Google Earth. As áreas com tom escuro correspondem a afloramentos do nível d’água. Á direita,esquema de poço ponteira, perfurado por cravação ou jato de areia, a obra de captação tradicional, neste sistema aquífero. Devido à grande ocupação da orla marítima por cidades – veraneio, este importante sistema aquífero apresenta grandes trechos comprometidos por intensa poluição. Aquíferos mais profundos e não poluídos, pertencentes às camadas superiores da Bacia de Pelotas são explorados pela CORSAN para abastecer as cidades balneárias. 3. Sistema Aquífero Planície Lagunar. (Sapl) Corresponde às faixas de terra que bordejam as lagoas que se desenvolvem entre os sistemas laguna – barreira. A área aquífera mais importante deste sistema aquífero é a que tem como superfície de recarga a Coxilha das Lombas ou Barreira I, figura 5. 141. Fig. 5. 141 – Área aquífera mais importante do Sistema Aquífero Planície Lagunar, a área Lombas- Barreira I tem como superfície de recarga a Coxilha das Lombas, correpondente à Barreira I e como áreas de confinamento drenante, os setores da planície lagunar Banhado Xico Lumão à noroeste e Lagoa dos Patos à sudeste. Imagem Google Earth, Viamão, RS. Esta área aquífera é intensamente explorada por poços de diversos tipos (cacimba, ponteira, tubulares). O distrito de Itapuã, município de Viamão é abastecido por poços tubulares perfurados na área de confinamento, planície da Lagoa dos Patos, por poços artesianos não surgentes. Os distritos de Águas Claras e Morro Grande são abastecidos por poços de diferentes tipos, tubulares, cacimba, ponteira, perfurados na superfície de recarga da área aquífera Lombas – Barreira I. A AMBEV, American Beverage Company, possui poços tubulares na superfície de recarga que exploram intensamente esta parte do Sistema Aquífero Lagunar ,para a fabricação de cerveja e refrigerantes. O Balneário da Varzinha na costa da Lagoa dos Patos, através de centenas de poços ponteira com artesianismo surgente explora a área de confinamento sudeste na margem da Lagoa dos Patos. Arrozeiros extraem água das nascentes da Coxilha das Lombas, correspondentes a afluentes do Rio Gravataí, para a irrigação de arroz. Jazidas de exploração de areia , Quartzolit e São José criam imensos lagos artificiais que sangram a água dos poços cacimba e ponteira, diminuindo-lhes a vazão e mesmo secando –os. 4. Sistema Aquífero Planícies Fluviais. (Sapf) Terraços aluviais sub atuais com camadas lenticulares de areia grossa e cascalho, associados aos rios de maior porte, Jacuí, Ibicuí, Camaquã configuram um sistema aquífero de pequena espessura e limitada extensão lateral, figura 5. 142. Apresentam altas poro permeabilidades e grande capacidade específica. São explorados por poços tubulares com pequena profundidade e grande diâmetro. Fig. 5. 142 – Terraço fluvial no alto rio Jacuí. Camadas lenticulares de areia e cascalho fracamente consolidados. Áquíferos de pequena espessura e continuidade lateral limitada, imagem Google Earth. Poços tubulares rasos com grande diâmetro produzem vazões altas. 5. Sistema Aquífero Leques. (SAL) De modo geral, os leques colúviais- aluviais ocorrem em uma faixa de transição entre a borda interna da Planície Lagunar e a ocorrência de rochas antigas, granitóides, a sul de Viamão e rochas sedimentares da Bacia do Paraná , a norte de Viamão. A figura 5. 143 é uma faixa de leques colúvio aluviais entre o granito Viamão e a borda da Planície Lagunar. Do ponto de vista hidrogeológico, os leques funcionam como aquitarde, que por drenança, alimentam as rochas sotopostas, as quais podem ser granitóides, vulcanitos básicos e arenitos da Bacia do Paraná, que são os verdadeiros aquíferos. As reservas de água armazenadas nos leques são modestas, exploradas principalmente por poços cacimba para uso doméstico. Fig. 5. 143 – Faixa de sistema de leques aluvio – coluviais , encobre parcialmenteo granito Viamão, rocha aquífera da região, imagem Google Earth. Sumário: Os sistemas aquíferos do Quaternário formam manto regional de regolitos residuais e transportados que se sobrepõem e encobrem sistemas aquíferos de rochas antigas sotopostas. Nas planícies Lagunar e Marinha encobrem rochas do Sistema AquíferoTerciário SAT , da Bacia de Pelotas. Nas demais regiões do Estado se sobrepõem a todos os outros sistemas aquíferos mais antigos. Sua pequena espessura e modesta extensão areal, excluídos os sistemas aquíferos Planície Lagunar, área aquífera Coxilha das Lombas e sistema aquífero Planície Marinha, apontam para reservas de água subterrânea discretas, se comparadas com os demais sistemas aquíferos. Se caracterizam, em geral, por considerável suceptibilidade à poluição, excluída a área de confinamento do sistema aquífero Lagunar, área aquífera Coxilha das Lombas. Sistemas Aquíferos do Terciário (SAT) Sistema Aquífero Santa Tecla (Sast) Sistema Aquífero Tupaciretã (Sat) Sistema Aquífero Bacia de Pelotas (Sabp) 6. Sistema aquífero Santa Tecla (Sast) Ocorre no extremo Oeste do Estado, na Unidade Morfotectônica Escudo, no limite entre as áreas aquíferas Bloco Taquarembó e Depressão do Ibicuí-Negro. O Sast, apresenta espessura modesta, no máximo 15m, mas grande distribuição areal, principalmente no município de Bagé, onde ocorre rotineiramente deficiência de água nos meses de verão, figura 85. 144 Fig. 5. 144 – À esquerda, distribuição areal de parte do Sast. A sua estratigrafia característica, pacote de arenito silisificado sobre arenito friável, em planta, desenvolve paisagem planáltica onde ocorrem centenas de pequenos lagos naturais denominados sugestivamente olhos d’água pelos habitantes da região, imagem Google Earth. À direita a Formação em perfil. O aquifero é o arenito friável. O Sast é a principal fonte de água para os pecuaristas da região onde ele ocorre. Os olhos d’água fornecem água aos rebanhos bovino- ovinos. A água também é retirada do Sistema Aquífero, através de inúmeros poços Cacimba, para abastecimento doméstico. Em grandes estiagens que assolam a cidade de Bagé, os estancieiros com campos no Sast, transportam água retirada deste sistema aquífero, que somada à dos poços tubulares existentes na cidade, perfurados no Sistema Aquífero Granitóides e Mármores, mais a água vertente em pedreiras de mármore abandonadas, são as fontes principais de abastecimento da população, nos dias de extrema escassez de água.. 7. Sistema aquífero Tupaciretã – Sat. O Sat ocorre na Unidade Morfotectônica Planalto, na área aquífera Planalto Médio, como delgada cobertura sobre vulcanitos da Formação Serra Geral, Sasg, figura 5. 145 Fig. 5. 145 – Sistema aquífero Tupaciretã, Sat, forma coberturas delgadas e descontínuas sobre o Sistema aquífero Serra geral, Sasg, imagem Google Earth. Ao lado esquema de poço tubular em basalto fraturado, com isolamento do Sat (geralmente poluído) , por revestimento e proteção sanitária. No aquífero fraturado o poço não é revestido. O sistema aquífero Tupaciretã, formado principalmente por arenito friável com muita matriz argilosa, funciona como aquitarde drenante para o aquífero fraturado do Sasg, que é efetivamente explorado por poços tubulares na área aquífera Planalto Médio. O Sat é isolado por revestimento e proteção sanitária, do aquífero fraturado, nos poços tubulares perfurados na região. 8. Sistema aquífero Bacia de Pelotas, Sabp. Este sistema aquífero ocorre na unidade morfotectônica Planície Costeira, encoberto pelos sistemas aquíferos Planície Marinha – Sapm – e Planície Lagunar – Sapl. São espessas camadas aquíferas lenticulares de areia e arenito friável sobrepostas e sotopostas a camadas aquicludes e aquitardes de pelitos, siltitos e argilitos que configuram o caráter semi confinado a confinado do Sabp, figura 5. 146. Fig. 5. 146 – Esquema de poço tubular perfurado no Sabp, aproveitando diversas camadas lenticulares de areia. Observar o isolamento da primeira camada de areia que corresponde ao lençol freático. À direita secção estratigráfica esquemática e relações da unidades do Quaternário, Terciário, Mesozóico- Paleozóico e pré Cambrianas na Planície Costeira do Rio Grande do Sul. As camadas miocenas da Bacia de Pelotas são exploradas por poços tubulares. O Sistema aquífero Bacia de Pelotas, Sabp é intensamente utilizado na Planície Marinha pela CORSAN, para abastecer as cidades balneário com água doce potável. Sumário: O sistema aquífero mais importante que ocorre em rochas de idade terciária é o Sistema aquífero Bacia de Pelotas (Sabp) que fornece água para as cidades balneárias do Litoral, em que, no verão, se concentra grande parte da população do Rio Grande do Sul. O Sistema aquífero Tupaciretã (Sat) funciona como aquitarde drenante de água para as fraturas do Sistema aquífero Serra Geral (Sasg), sotoposto. O Sistema aquífero Santa Tecla (Sast) assume importância no abastecimento de água potável para a população de Bagé em tempos de estio no município. Sistemas aquíferos do Mesozóico – SAM Sistema aquífero Serra Geral, Sasg. Sistema aquífero Guarani, Sag.9. Sistema aquífero Serra geral, Sasg. Lisboa (1996) propõe a diferenciação de cinco áreas aquíferas no SASG, Rio Grande do Sul, baseado em variações do microclima, geomorfologia, solos, litologias - estruturas . A figura 5. 147 ilustra as unidades discriminadas, aqui denominados, em função da região fisiográficageomorfológica em que ocorrem, tendo como referência, com modificações, o trabalho de Justus et al. (1986). Fig. 5. 147 – Áreas aquíferas do Sistema Aquífero Serra Geral, Sasg, no Rio grande do Sul. 1. Área aquífera Planalto dos Campos Gerais – Relevo alto, rochas ácidas aplainadas , topo do SASG. 2. Área aquífera Planalto de Uruguaiana, – Relevo baixo, rochas básicas aplainadas, base do SASG. 3. Área aquífera Planalto Médio – Relevo médio, rochas básicas médio onduladas, parte média do SASG 4. Área aquífera Alto Uruguai. Relevo alto a médio, rochas básicas forte onduladas, parte média do SASG. 5. Área aquífera Planalto de Soledade. Relevo médio, rochas ácidas dissecadas, topo do SASG. Área aquífera Planalto dos Campos Gerais – Ácidas aplainadas. Pelas condições das taxas de precipitação e evapotranspiração médias anuais, , Kuirchnere Buriol (2006), verifica-se que fica disponível para o escoamento superficial e infiltração uma média 1070 mm/ano nesta área aquífera, , que representa excelentes condições de recarga para as fraturas reservatório. Predominam fraturas distensivas pouco dissecadas com mais de 10 Km de comprimento (lineamentos de médio porte nas imagens), com boa capacidade de armazenamento e orientação predominante nordeste. A profundidade relativa dos talvegues dos vales da drenagem é muito baixa na superfície do Planalto, portanto a descarga nestes vales é baixa. Predominam cambissolos ,com perfil pouco desenvolvido, que favorecem o escoamento superficial. Com estas características, na área aquífera Planalto dos Campos Gerais, os pontos de locação de poço tubular nas linhas de fratura com grande comprimento na direção preferencial nordeste (lineamentos de médio porte na imagem), oferecem perspectivas de boa produtividade, figura, figura 5. 158). Fora das fraturas os poços são praticamente improdutivos. Predominam águas bicarbonatadas cálcicas com baixo teor de sólidos totais, potáveis. A figura 5. 158 apresenta exemplo da locação de poços tubulares nesta área aquífera, em intersecções de lineamentos com duas direções nordeste . Embora os lineamentos nordeste sejam mais numerosos e geralmente de médio porte, sempre que possível, aproveitar os lineamentos noroeste geralmente mais abertos do que os de direção nordeste. Fig. 5. 158 – Ilustra o perfil esquemático de fluxo ácido completo, a baixa profundidade dos talvegues dos vales no Sasg, área aquífera Planalto dos Campos Gerais. A imagem MNT da EMBRAPA mostra a locação de poços tubulares em intersecção de lineamentos. Área aquífera Planalto de Uruguaiana, Sasg. Na área aquífera Cuesta de Uruguaiana, onde se situa, dentre outros, o município de São Borja, restam em média, 300 mm anuais de água para escoar e infiltrar no terreno. Estas condições geram déficit de abastecimento do aqüífero nos meses de verão, quando se registram as vazões mínimas indicadoras da condição adequada para o regime de bombeamento dos poços. Nesta situação, a evapotranspiração é maior do que as precipitações, o que resulta no abastecimento precário das fraturas reservatório. As fraturas distensivas apresentam comprimentos variáveis, algumas ultrapassam 10 Km, na direção predominante noroeste. A profundidade relativa dos talvegues dos vales é muito baixa proporcionando descargas negligenciáveis em seus flancos. Predominam neossolos litólicos. A área aquífera Planalto de Uruguaiana, devido ao défcit de precipitações em relação à evapotranspiração no verão, e aos neossolos litólicos que desfavorecem a infiltração, pode ser considerada de baixa produtividade, mesmo nas fraturas maiores. A água, em geral, com alto teor de sólidos totais bicarbonatadas calco magnesianas (duras), estagnadas nas fraturas, são de baixa qualidade para o uso humano. Fora das fraturas, os poços são praticamente improdutivos. Locar, sempre que possível, na intersecção de lineamentos, figura 5 . 159. Fig. 5. 159 – Área aquífera Planalto de Uruguaiana, perfil esquemático de fluxo vulcânico, da região, baixa profundidade relativa dos talvegues dos vales, solos litólicos, baixa taxa de escoamento e infiltração. Imagem MNT-EMBRAPA. Área aquífera Planalto Médio, Sasg. Na área aquífera Planalto Médio ocorre a disponibilidade média de 970 mm/ano para escoamento superficial e infiltração, quantidade que garante muito boa taxa de recarga para o aquífero. São mais numerosas fraturas de comprimento inferior a 10 km ( lineamentos de pequeno porte) , largas, nas direções nordeste e noroeste, com freqüentes intersecções. A profundidade relativa dos talvegues dos vales é baixa, sendo baixa a descarga nos flancos das encostas. Predominam latossolos areno argilosos e arenosos com boa espessura que favorecem a infiltração e a recarga das fraturas. Estas condições conferem à área aquífera Planalto Médio um potencial muito bom para as fraturas reservatório. Os poços devem ser locados na intersecção de fraturas, figura 1. 160. Fig. 5. 160 - Perfil ideal de um fluxo básico, notar a riqueza de disjunções de origem primária. Condições geomorfológicas de baixa profundidade relativa dos talvegues dos vales, na imagem MNT – EMBRAPA, exemplos de locação. As águas são principalmente bicarbonatadas cálcicas de boa qualidade com baixo teor de sólidos totais. Esta área aquífera é a mais explorada do Sasg, há muitos anos, devido ao seu alto potencial na agricultura extensiva e alta densidade populacional relativa, com referência às outras áreas estudadas. Estima-se a quantidade de poços em regime de exploração atual, na ordem superior ao milhar. É a região mais carente de monitoramento das variações de nível do SASG, devido à extração de água pelos inúmeros poços, bem como de variações da qualidade das águas. O Planalto Médio é a área aquífera com a maior quantidade de poços tubulares por unidade de área do Rio Grande do Sul fato que torna o Sasg, o mais importante do Estado no que se refere ao aproveitamento atual. Área aquífera Alto Uruguai, Sasg. Na área aquífera Alto Uruguai, ocorre taxa média anual de escoamento superficial e infiltração de 850 mm que proporciona muito boas condições de recarga para o aqüífero. Predominam xernossolos e neossolos litólicos, estes nas vertentes mais íngremes desfavoráveis para taxas de infiltração altas. As fraturas são de pequeno comprimento (lineamentos de pequeno porte nas imagens), em geral, menores do que 2km devido a vales profundos que fragmentam as fraturas e falhas maiores em superfície. As direções nordeste e noroeste se equilibram. As obras de captação devem ser locadas na intersecção de fraturas, figura 5. 161. Na impossibilidade, locar a obra de captação em lineamento de direção noroeste. Embora as condições de recarga pelas chuvas sejam muito favoráveis, os outros fatores de armazenamento e descarga são negativos. Em termos de produtividade a área aquífera Alto Uruguai é de baixo potencial. A água, em geral é de boa qualidade, bicarbonatada cálcica com baixos teores de sólidos totais, embora em muitos poços haja recarga indireta pela subida de águas bicarbonatadas sulfatadas sódicas com Ph alcalino, vindas do SAG subjacente, que se misturam com as águas das fraturas reservatório do SASG, nesta área aquífera. Fig. 5. 161 – Área aquífera Alto Uruguai, lineamentos de pequeno porte, as direções NW e NE se equilibram, altas profundidades relativas dos talvegues dos vales, fluxos básicos com riqueza de disjunções primárias. Imagem MNT – EMBRAPA. Área aquífera Planalto de Soledade, Sasg. Na área aquífera Planalto de Soledade ocorre taxa média anual de escoamento superficial e infiltração de 860 mm, o que representa uma boa condição de recarga do aqüífero. As fraturas distensivas são curtas, apresentam comprimentos de no máximo 5 km, predomina a orientação NE. O pequeno comprimento dos lineamentos tectônicos deve-se à fragmentação dos maiores em superfície pela grande profundidade relativa dos talvegues dos vales. Esta grande amplitude da profundidade dos vales também favorece a descarga da água das fraturas reservatório, através de fontes e outros exutórios. Predominam litossolos, que favorecem o escoamento superficial, também acelerado por declividades fortes. A água é de boa qualidade, bicarbonatada cálcica, em geral com baixo teor de sólidos totais dissolvidos. Pode haver recarga indireta pela mistura com águas do SAG, nos vales mais profundos. As obras de captação devem ser locadas, sempre que possível, em intersecção de fraturas, nas partes mais planas, nos lineamentos de maior comprimento, figura 5. 162. Os fatores geomorfologia e solos influem negativamente na acumulação de água nas fraturas reservatório o que torna a área aquífera Planalto de Soledade com potencial aquífero relativamente baixo. Fig. 5. 162 – Área aquífera Planalto de Soledade, lineamentos de pequeno porte, predominam direções NE, fluxos ácidos com pobreza de disjunções primárias, profundidade relativa dos talvegues dos vales alta. Imagem MNT – EMBRAPA. Sistema aquífero Guarani, (Sag). O sistema aquífero Guarani no Rio Grande do Sul ocorre sob a forma livre ou confinada, sendo que as duas situações juntas, ocupam bem mais do que a metade da área do Estado. É o sistema aquífero com maior potencial aquífero do Rio Grande do Sul. 9. Sistema aquífero Guarani livre (Sagl). O sistema aquífero Guarani aflora em uma faixa central do Estado, desde o estremo leste ao oeste, alargando-se neste sentido. Ocorre na unidade morfotectônica Depressão Periférica, unidades morfoestruturais Depressão do Rio Jacuí e Depressão do Rio Ibicuí. Na Depressão do Rio Ibicuí ocorre a maior área aflorante dos pacotes aquíferos do Sistema em toda a Bacia do Paraná, com aproximadamente 16 200 km2, figura5. 163. Fig. 1. 163 - Área de afloramento das camadas aquíferas do Sag, aproximadamente 16 200 km2 , a maior de toda a borda da Bacia do Paraná. Imagem Google Earth. Á esquerda, piezometria e linhas de fluxo (setas brancas), indicam recarga do Sistema aquífero Guarani confinado (Sagc) em direção às calhas dos rios Uruguai e Quaraí. Os pontos pretos são poços de controle. As linhas pretas retas são lineamentos e as sinuosas linhas iso piezométricas. Em verde Sagc, em azul Sagl. Abaixo, afloramento de arenito fluvial pertencente à Formação Guará. Como principal área de recarga do Sagc na fronteira oeste, a área aflorante deve ser monitorada no que se refere à poluição e contaminação das camadas aquíferas. O Sagl é explorado para abastecimento público pela Corsan, parra irrigação por produtores de arroz, para diversas atividades industriais e para abastecimento doméstico de Estâncias dedicadas à pecuária. 10. Sistema aquífero Guarani confinado, Sagc. O Sistema aquífero Guarani confinado está compartimentado em quarto grandes blocos, delimitados pelos sistemas de falha Torres – Posadas (N700W), Ibaré (N400W) e Dorsal de Canguçú (N400E) que o compartimentam em quatro Blocos, Oeste, Leste, Cental e Norte, figura 5. 164. As linhas isopiezométricas e a s direções de fluxo estão condicionadas por esta compartimentação estrutural do Sagc. Fig. 5. 164 – Acima os quatro blocos do Sagc, imagem Google Earth. Abaixo, relaçõs dos blocos estruturais com as linhas isopiezométricas linhas sinuosas pretas e o direcionamento do fluxo do Sagc setas brancas. Em verde, Sagc, em azul, Sagl. Hidroestratigrafia e Geologia Estrutural do Sistema Aquífero Guarani Confinado (SAgc O Sagc está compartimentado em pelo menos quatro blocos, Leste, Oeste, Central e Norte, individualisados por definidas condições estruturais, colunas estratigáficas correspondentes e profundidade do topo do Sagc., figura 5. 165. No bloco Leste, predominam deslocamentos associados ao sistema de falhas Dorsal de Canguçu, (SFDC) N450E. O topo do Sagc é deslocado para baixo, em direção ao oceano (E) até cota de -200m. De Sul para Norte, sobe de +100m para +680m. Neste bloco estão presentes os aquíferos Pirambóia e Botucatu (eólico úmido e eólico seco). No Bloco Oeste, os deslocamentos se dão principalmente ao longo de linhas de falha paralelas ao sistema de falhas Ibaré (SFI) N500W. Os pacotes do Sagc são homogêneos e mergulham regionalmente para W (NW e SW. O topo do Sagc acompanha este mergulho com cotas menores para W e espessuras maiores de basalto. Os aquíferos presentes são Botucatu, Guará, Sanga do Cabral e Pirambóia. Nos blocos Central e Norte, ha espessamento progressivo do Sasg de Sul para Norte. No Bloco Central estão presentes todas as unidades hidroestratigáficas, excluída a Formação Guará. No Bloco Norte apenas o aquífero Botucatú. Fig. 5. 165. Os quatro blocos estruturais do Sagc no Rio Grande do Sul e as unidades hidroestratigáficas correspondentes. Sumário: Os sistemas aquíferos do Mesozóico são os de maior importância no RGS. O Sasg é atualmente o mais importante do Estado do ponto de vista da intensidade do aproveitamento e do número de poços tubulares já perfurados. A locação dos poços através da identificação de lineamentos em imagens de sensoriamento remoto e posterior levantamento de campo é obrigatória para o sucesso do poço como produtor. No Sag, ocorrem as maiores reservas de água subterrânea do Rio Grande do Sul. Excluído o Bloco Oeste do Sagc, as reservas de água dos demais, apenas agora começam a ser exploradas Sistemas aquíferos do Paleozóico, SAP Sistema aquífero Rio Bonito, Sarb. Ocorre na Unidade Morfotectônica Depressão Periférica, unidades morfoestruturais Depressão do Rio Jacuí e Depessão do rio Ibicuí, do extremo Leste do Estado ao extremo Oeste onde a parte aflorante se alarga. É periférico à Unidade Morfotectônica Escudo. 11. Sistema aquífero Rio Bonito livre Sarbl. A parte aflorante do Sarb é periférica ao Escudo, se caracteriza por relevo em Cuesta com front geralmente voltado para sul (SE, SW) e reverso suavemente inclinado para Norte (NE, NW), figura 5. 166. O aquífero consiste de arenitos fluviais – praiais. As áreas de recarga abastecem o sistema aquífero Rio Bonito confinado, à norte destas áreas, encoberto por aquitardos do Grupo Passa Dois e pela Formação Palermo. As águas podem ser de má qualidade, quando da proximidade de camadas de carvão com pirita. Fig. 5. 166 – Sistema aquífero Rio Bonito livre, parcialmente encoberto pelo sistema aquífero Planíce Aluvial, encobrindo o sistema aquífero Granitóides. Os pacotes de arenito mergulham suavemente para o Norte, indicado pelas flechas brancas. O fluxo regional é de sul para norte, onde ocorre o sistema aquífero Rio Bonito confinado. 12. Sistema aquífero Rio Bonito confinado , Sarbc. Na Depressão do Rio Jacuí, a parte confinada do sistema aquífero Rio Bonito se situa à norte da área aflorante de recarga, na Depressão do rio Ibicuí, as áreas de recarga se encontram a leste, parte confinada a oeste e na Depressão do Rio Negro as áreas de recarga estão a norte e o setor confinado a sul. Esta disposição configura a disposição em mega domo das camadas gondwânicas no Rio Grande do Sul, tendo como núcleo o Escudo Sul-riograndense, figura 5. 167 a. Fig. 5. 167 - Em a, disposição dômica dos pacotes gondwânicos, tendo como núcleo o Escudo Sul – riograndense. As setas indicam o sentido do mergulho regional das camadas. Em b, deslocamento considerável do topo do aquífero Rio Bonito confinado por falhas. O topo da parte confinada do Sarb apresenta-se consideravelmente deslocada por falhas, podendo variar bruscamente o seu nível altimétrico, figura 5. 167 b. 13. Sistema aquífero Bacia do Camaquã, Sabc. Ocorre na Unidade Morfotectônica Escudo, unidades morfoestruturais Bloco São Gabriel e Bloco Santana, composto por arenitos, conglomerados muito litificados intercalados com fluxos vulcânicos ácidos e intermediários. Do ponto de vista hidrogeológico, são aquifugos, entretanto, em zonas de falha, em blocos morfológicos abatidos , arenitos de médio grau de cimentação podem ser aquíferos, figura 5. 168. Fig. 5. 168 – À esquerda conglomerado fortemente cimentado da Bacia do Camaquã. À direita blocoabatido entre duas linhas de falha onde afloram arenitos com médio grau de cimentação que funcionam como aquíferos livres. Imagem Google Earth. Sumário: Nas rochas paleozóicas, o sistema aquífero mais importante é o Sistema Aquífero Rio Bonito (Sarb). Pode apresentar água de má qualidade quando ocorrem camadas de carvão e folhelho carbonoso com pirita. O Sistema Aquífero Bacia do Camaquã (Sabc) não é importante, na maioria dos casos as suas sequências de rochas funcionam como aquifugos. Sistemas Aquíferos do Pré Cambriano SAPC Sistema aquífero Granitóides (Sag) Sistema aquífero mármores (Sam) 14. Sistema aquífero Granitóides (Sag) O sistema aquífero granitóides ocorre espalhado na Unidade Morfotectônica Escudo, nas suas três unidades morfoestruturais. Pode ser subdividido em duas áreas aquíferas: Área aquífera Granitos, corresponde aos batólitos graníticos Lavras, Caçapava, Encruzilhada, Pelotas, Herval e outros stocks menores disseminados pelo Escudo. São granitos senso estrito, resistentes ao intemperismo e erosão formam planaltos erosivos, nivelados aproximadamente na cota 400m. Sua posição topográfica colocam esta área aquífera como área de recarga para a área aquífera Granitos de anatexia, migmatitos, gnaisses topograficamente mais baixas. Todas as rochas são aquifugos, com falhas e fraturas multidirecionais, predominam transcorrências, que se manifestam sob a forma de cristas isoclinais, silisificadas – milonitizadas, verdadeiras barreiras para a água subterrânea, figura 235. 169. Fig. 5. 169 – Sistema aquífero do Pré Cambriano, áreas aquíferas granito e granitóide. Acima bloco diagrama mostra a riqueza de fraturas em rochas plut6ônicas, contudo, a maioria fechadas. Abaixo as áreas aquíferas Granito e Granitóide, as flechas brancas indicam lineamentos abertos, os pontos brancos assinalam locação de poço tubular. 15. Sistema aquífero Mármores (Sam) Ocorre na Unidade Morfotectônica Escudo, principalmente nas unidades morfoestruturais Bloco São Gabriel, Bloco Santana e Bloco Taquarembó. Aparece sob a forma de lentes nas sequências parametamórficas, em resíduos de cinturões orogênicos espalhados pelo Escudo. As rochas aquíferas são principalmente mármores dolomíticos, muito fraturados. Estes mármores são minerados para a fabricação de corretivo da acidez dos solos. O potencial deste sistema aquífero pode ser avaliado quando as atividades mineiras são suspensas e se interrompe o bombeamento da água que verte das fraturas, formando grandes reservatórios de água no “pit” da mina, figura 5. 170. Fig 5. 170. – À direita, em branco, diversos “pits” de mineração à céu aberto, de grande lente de mármore dolomítico intrudida por granito à Oeste e encoberta por rochas vulcânicas - sedimentares à Leste. À direita, “pit” de mina abandonado, verte água subterrânea. Imagem Google Earth. Exemplo da utilização deste recurso hídrico subterrâneo ocorre na cidade de Bagé, quando de grandes estiagens. A água subterrânea que verte de pedreiras de mármore dolomítico abandonadas é a fonte principal de água para o abastecimento urbano, nestes tempos de escassez. A água do ponto de vista químico é discretamente dura. Resumo Geral: Conforme orientação de Meinzer (1959), as águas subterrâneas devem ser estudadas pela sua indidualização em sistemas aquíferos, áreas aquíferas e aquíferos. No Rio Grande do Sul, individualiza-se quatro grandes sistemas de água subterrânea, respectivamente do Quaternário, Terciário, Mesozóico, Paleozóico e Pré Cambriano, separados por discordâncias regionais. Os Sistemas aquíferos mais importantes do Estado são: Sistema Aquífero Guarani (Sag), Sistema Aquífero Serra Geral (Sasg), do Mesozóico, e Sistema Aquífero Bacia de Pelotas (Sabp) do Terciário. De modo geral, a porosidade – permeabilidade dos aquíferos diminui com a idade das rochas aquiferas. Excluídos os aquíferos em rochas vulcânicas, plutônicas, e os que ocorrem como regolito, os do tipo misto (porosidade primária + porosidade secundária) predominam amplamente no Rio Grande do Sul. Devido ao seu intenso uso atual, com implantação da Lei da Outorga, é urgente que se inicie o monitoramento sistemático quantitativo e qualitativo de todos os sistemas aquíferos, em especial dos sistemas aquíferos Serra Geral, Guarani e Coxilha das Lombas. Para o aproveitamento racional e sustentável das reservas de água subterrânea do Rio Grande do Sul, é necessário que profissionais habilitados, geólogos e engenheiros de minas, acompanhem o processo desde a locação, perfuração, aproveitamento e monitoramento dos mananciais hídricos subterrâneos.