VI Seminário Latino Americano de Geografia Física II Seminário Ibero Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 Validação do Modelo Espectral de Estimativa de Evapotranspiração de Nagler et al. (2005) nos Domínios Morfoclimáticos da Caatinga e do Cerrado no Oeste Baiano Brasileiro. Daniela Mendonça Mota¹, Ludmilla Fernandes da Silva¹, Pedro Alves Duarte¹, Gustavo Macedo de Mello Baptista² e Perseu Fernando dos Santos¹ ¹Universidade Católica de Brasília; ² Universidade de Brasília [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected] RESUMO: O presente estudo visa avaliar a variação sazonal da evapotranspiração (ET) no Estado da Bahia, Brasil, por meio de dados de sensoriamento remoto. Para tal, buscouse validar o modelo proposto por Nagler et al. (2005) para estimativa da ET nos contextos do semi-árido e cerrado baiano em um ano hidrológico. Foram utilizadas imagens dos produtos MOD11A2 e MOD13A2, do tile H13V10, obtidas pelo sensor MODIS, adotando-se uma cena por mês para o período de janeiro a dezembro de 2007. Para validação do modelo calculou-se o balanço hídrico, pelo método de Thornthwaite e Matter (1955) para 10 estações meteorológicas do INMET – Instituto Nacional de Meteorologia visando determinar a evapotranspiração potencial e correlacioná-la com os valores de evapotranspiração obtidos por meio do modelo proposto por Nagler et al. (2005). Os resultados obtidos para a maioria das estações meteorológicas foram satisfatórios, sendo que em todas as estações observadas a correlação positiva foi verificada, apesar de ocorrer com diferentes valores de coeficientes de determinação. O valor médio obtido para o coeficiente de determinação - r² foi de 0,42, entretanto as estações de Bom Jesus da Lapa, de Correntina e de Barreiras, obtiveram valor de r² superiores a 0,5, sendo que nesta última o valor obtido foi de 0,74. Os gráficos de dispersão XY para a maioria das estações demonstram valores próximos entre a evapotranspiração calculada no balanço hídrico e a obtida pelo modelo sobre dados de sensoriamento remoto. Além disso, visando compreender se os dados são correlacionáveis, utilizou-se o teste t de Student para o coeficiente b da regressão linear e a semelhança entre as médias obtidas por esse teste de hipótese (H0 µ1=µ2) não se rejeitou H0, o que indica que os dados são estatisticamente semelhantes. Posteriormente, foi testada a semelhança entre as variâncias dos tratamentos pelo teste F de Snedecor (H0 1= 2), no qual H0 1 Tema 2- Expansão e democratização das novas tecnologias em Geografia Física: aplicações emergentes foi rejeitada, mostrando que as variâncias entre os parâmetros são diferentes. Assim, o presente estudo verificou que o modelo proposto por Nagler et al. (2005) pode ser utilizado para predição da evapotranspiração para os domínios morfoclimáticos do Cerrado e da Caatinga, porém, recomendam-se estudos mais aprofundados nos demais domínios climáticos brasileiros para verificar a amplitude de aplicação do modelo. Palavras-chave: Evapotranspiração; Balanço Hídrico; Modelagem Espectral; MODIS 1. INTRODUÇÃO As áreas inseridas nas zonas áridas, semi-áridas e sub-úmidas secas apresentam, devido à ocorrência de forte insolação e temperaturas elevadas, altos índices de evapotranspiração potencial e forte irregularidade na pluviosidade, onde, intensos volumes de precipitação intercalam-se aos prolongados períodos de seca. De acordo com Costa (2002), a evapotranspiração, indica o total da perda de água transferida da superfície do solo para a atmosfera na forma de vapor, ou seja, é a soma da água evaporada de superfícies livres, dos solos, da vegetação úmida e a transpiração dos vegetais. A avaliação da evapotranspiração pode ser amplamente aplicada, para o estudo da economia de água em reservatórios expostos, na secagem natural de produtos agrícolas e nos vários campos técnico-científicos que tratam de numerosos problemas do manejo de água. Além disso, é indispensável nas estimativas de seca e previsões de cheias (COSTA, 2002). Consiste ainda no parâmetro principal utilizado para o dimensionamento e manejo de sistemas de irrigação, por totalizar a quantidade de água utilizada nos processos de evaporação e transpiração pelas culturas durante um determinado período (FARIA et al., 2000). A existência desses ecossistemas frágeis, em função do déficit hídrico ocasionado nessas regiões, quando somado à intensa pressão exercida pelas atividades humanas, acarreta o processo de desertificação. As causas mais freqüentes desse processo, de acordo com Cavalcanti (2001), abrangem uso inadequado do solo e da água em atividades agropecuárias, na mineração, na irrigação mal planejada e no desmatamento indiscriminado, uma vez que estas atividades degradam o potencial produtivo dos solos que ainda possuem baixa capacidade de regeneração formando regiões com superfície ressequida, cobertura vegetal esparsa, presença de xerófilas e plantas temporárias. 2 VI Seminário Latino Americano de Geografia Física II Seminário Ibero Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 Essas regiões áridas, semi-áridas e sub-úmidas secas são também chamadas de terras secas, representam mais de 37% de toda superfície da Terra, tendo uma densidade populacional de mais de 1 bilhão de pessoas, ou seja, 1/6 da população mundial (CAVALCANTI, 2001). No Brasil, nove estados nordestinos e o norte de Minas Gerais são atingidos pela desertificação, representando pelo menos 10% da região semi-árida. Além do Nordeste brasileiro, outros estados como São Paulo, devido ao desgaste provocado pelo manejo inadequado nas práticas agrícolas, e Rio Grande do Sul, estado que possui diversas áreas de solos frágeis, também são propensos à arenização, processo de característica principalmente antrópica (SEMAR, 2008). Segundo a Resolução CONAMA n° 238 de 22 de dezembro de 1997, a definição de aridez para a aplicação no Plano de Ação de Combate à Desertificação, elaborado pelas Nações Unidas, foi elaborado com base na metodologia desenvolvida por Thornthwaite (1941), metodologia ajustada por Penman (1953), onde o índice de aridez (IA) de uma região é dependente da quantidade de água de precipitação (P) e da evapotranspiração potencial (ETP). As classes de variação para esse índice são apresentadas na tabela 1. Tabela 1 – Categorias de clima de acordo com o índice de aridez CLIMA P / ETP Hiper-Árido Árido Semi-Árido Sub-úmido seco Sub-úmido e úmido < 0,05 0,05 – 0,20 0,21 – 0,50 0,51 – 0,65 > 0,65 Fonte: Resolução Conama n° 238 de 22 de dezembro de 1997. A medida da variação sazonal da evapotranspiração, quando analisada juntamente com outros fenômenos climatológicos e com o impacto da ação antrópica sobre o solo, permite o diagnóstico do déficit hídrico de uma região, podendo indicar áreas em processos de degradação, como a desertificação, ou susceptíveis aos mesmos, fornecendo subsídios para um manejo adequado do uso do solo. A necessidade de dados mais precisos sobre os locais propensos ou em processo de desertificação no Brasil torna este estudo de suma importante devido à falta de 3 Tema 2- Expansão e democratização das novas tecnologias em Geografia Física: aplicações emergentes procedimentos de monitoramento que gerem dados concisos para estudos sobre desertificação. Com o uso do sensoriamento remoto no estudo do clima, os produtos possuem uma variação espacial que complementa os dados pontuais fornecidos pelas estações meteorológicas, pois, em uma imagem de satélite, a espacialização da evapotranspiração fornece dados em uma precisão de pixel a pixel da área selecionada. De acordo com Santos (2001), o sensoriamento remoto tem sido uma ferramenta cada vez mais utilizada para o monitoramento de processos climáticos, sendo vantajoso em relação a estações de monitoramento climático por coletar dados de forma abrangente e não de forma pontual como as estações meteorológicas. No presente trabalho utilizaram-se imagens do sensor MODIS como instrumento para cálculo da evapotranspiração. O sensor MODIS (Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer) consiste em um dos cinco instrumentos a bordo do satélite TERRA (EOS AM-1), sendo este um dos Sistemas de Observação da Terra da NASA. O MODIS foi projetado para a realização de observações de toda a superfície terrestre adquirindo dados que contribuem para a compreensão da dinâmica global e dos processos que ocorrem na Terra, nos oceanos e na atmosfera. Os produtos deste sensor desempenham um papel vital no desenvolvimento de modelos de sistemas interativos capazes de predizer mudanças globais com precisão suficiente para ajudar na tomada de decisões relativas ao meio ambiente (MODIS LAND, 2008). Com o uso de imagens obtidas pelo sensor MODIS, neste estudo foi possível quantificar o fluxo evapotranspirativo por meio do cálculo do balanço de energia e técnicas de sensoriamento remoto de forma satisfatória e abrangente, dinamizando a obtenção de dados sobre a evapotranspiração. Segundo Nagler et al. (2005), para determinação da evapotranspiração, consideram-se dois produtos do sensor MODIS: o índice de vegetação – EVI e a temperatura de superfície – LST. Em suas análises, os autores monitoraram a evapotranspiração em quatro áreas ao longo do rio Grande na região do Novo México. A correlação dos resultados obtidos em campo com os resultados obtidos nas imagens do sensor MODIS resultou na Equação (1) para a predição da evapotranspiração: ET (mm / d ) 0 , 355 (1 exp ( 2 , 28 EVI *) ) x (MODIS LST 20 , 3 ) 0 , 70 (1) 4 VI Seminário Latino Americano de Geografia Física II Seminário Ibero Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 Onde ET é a evapotranspiração, EVI é o índice de vegetação melhorado e EVI* é o EVI reescalonado para valores positivos, e por fim, MODIS LST é o índice de temperatura de superfície em ºC. Dentro desse contexto, realizou-se o presente trabalho com o objetivo de validar o modelo proposto por Nagler et al., 2005 para o estado da Bahia sob uma perspectiva sazonal, compreender o comportamento da evapotranspiração no estado e gerar subsídios para uma futura discussão sobre desertificação. 2. MATERIAL E MÉTODOS O presente projeto foi desenvolvido em quatro fases. A primeira atribuída à escolha e descrição da área de estudo. A segunda dedicada à descrição dos produtos MOD11A2 e MOD13A2, e aos processamentos no software de sensoriamento remoto utilizando os produtos descritos, visando calcular a evapotranspiração de acordo com a Equação 1. A terceira consistiu no cálculo do balanço hídrico das estações meteorológicas localizadas na área de estudo. A quarta se concentrou nas análises e tratamentos estatísticos para comparar as evapotranspirações calculadas pelo modelo e pelo balanço hídrico, visando validar o modelo proposto por Nagler et al. (2005). 2.1 LOCALIZAÇÃO E DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO A área de estudo está inserida no tile MODIS H13V10, correspondendo à região centro-oeste da Bahia, em destaque na figura 1: Área de estudo Figura 1 - tiles MODIS no Brasil e a área de estudo no estado da Bahia 5 Tema 2- Expansão e democratização das novas tecnologias em Geografia Física: aplicações emergentes Essa área foi selecionada por apresentar os domínios morfoclimáticos do cerrado e da caatinga, podendo assim, compreender a evapotranspiração em regiões com características sazonais climáticas distintas. No oeste do estado da Bahia ocorre uma dinâmica de variação climática da parte oriental (Rio São Francisco) ao extremo ocidente (Serra Geral de Goiás e Tocantins). Essa dinâmica é apresentada por uma extensão de clima semi-árido, seguida por uma faixa de clima sub-úmido seco e por uma pequena faixa de clima úmido, respectivamente (SEIA, 2008). O clima do bioma Cerrado é do tipo tropical estacional, com média de chuva anual de 1.500mm. Mais de 90% da precipitação concentra-se nos meses de outubro a março, caracterizando duas estações climáticas distintas para o bioma: a estação chuvosa e a estação seca. No Cerrado, aproximadamente 86% da região recebem entre 1.000mm e 2.000mm de chuva anualmente, posicionando o Cerrado como intermediário em termos pluviométricos entre a Floresta Amazônica e a Caatinga (SEIA, 2008). Nessa região predomina o clima semi-árido, no qual os processos de perda de água por evapotranspiração superam a recarga de água no solo por precipitação pluviométrica, as temperaturas são elevadas, com médias anuais variando de 20° a 28°C, e seu índice de precipitação normalmente baixo, entre 300 a 2000 mm (DIAS, 2006). A região do semi-árido brasileiro abrange uma área de 969.589,4 km2 e é constituída por 1.133 municípios (MI, 2005). Em 2005 foi estabelecida uma redelimitação para a região semi-árida, por meio de um estudo realizado pelo Grupo de Trabalho Interministerial (GTI), coordenado pelo Ministério da Integração Nacional (MI). Foram adotados três critérios pelo Grupo de Trabalho Interministerial como base para o estudo: precipitação média menor do que 800 milímetros (mm); Índice de aridez de até 0,5 calculado por meio do balanço hídrico entre os anos de 1961 e 1990 e; risco de seca superior a 60%, analisando os anos compreendidos entre 1970 e 1990. O estudo acrescentou 102 municípios aos 1.031 anteriormente contabilizados na região semi-árida, utilizando como principal critério natural, a delimitação da área nuclear das caatingas e das faixas de transição deste para outros domínios geobotânicos. Dos 1.133 atuais municípios do semi-árido, 265 estão localizados no estado da Bahia, ocupando uma área de 393.056,1 km2, sendo oito o número de municípios incluídos neste último estudo (MI, 2005). O semi-árido baiano apresenta uma densidade populacional de aproximadamente 6.729.100 pessoas, distribuídas aleatoriamente pela região (IBGE, 2007a) onde existem 6 VI Seminário Latino Americano de Geografia Física II Seminário Ibero Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 espaços praticamente inabitados e outros com grande concentração populacional. Mais da metade da população que vive na região – 53% - localiza-se em aglomerados urbanos que constituem os pólos de desenvolvimento do semi-árido, como as cidades Feira de Santana, Vitória da Conquista, Juazeiro, Guanambi e Irecê. Os 47% restantes, localizados no meio rural, se distribuem de forma dispersa em pequenas comunidades (BRITTO e SANTOS, 2006). 2.2 CÁLCULO DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO NO SOFTWARE ENVI Foram utilizadas imagens adquiridas pelo sensor TERRA\MODIS, referentes aos produtos MOD11A2 E MOD13A2. O produto MOD11A2 representa a temperatura de superfície, possuindo uma resolução temporal de 8 dias e uma resolução espacial de 1 km; já o produto MOD13A2 corresponde aos índices de vegetação EVI e NDVI, possuindo resolução temporal de 16 dias e mesma resolução espacial que o produto MOD11A2. A tabela 2 apresenta os dias imageados pelos produtos MODIS no ano de 2007 na tabela 2: Tabela 2 - Datas das cenas MODIS usadas MOD11A2 MOD13A2 17/01 – 24/01 10/02 – 17/02 26/02 – 05/03 30/03 – 06/04 01/05 – 08/05 02/06 – 09/06 04/07 – 11/07 05/08 – 12/08 06/09 – 13/09 16/10 – 23/10 17/11 – 24/11 11/12 – 18/12 17/01 – 01/02 02/02 – 17/02 18/02 – 05/03 22/03 – 06/04 23/04 – 08/05 25/05 – 09/06 26/06 – 11/07 28/07 – 12/08 29/08 – 13/09 16/10 – 31/10 17/11 – 02/12 03/12 – 18/12 Para aplicação do modelo proposto por Nagler et al. (2005) utilizou-se o mesmo período temporal para os dois produtos MODIS, de janeiro a dezembro de 2007, visando obter um ano hidrológico para avaliar a sazonalidade da evapotranspiração. No processamento das imagens utilizou-se a versão 4.3 do software ENVI Environment for Visualizing Images. Os produtos MOD11A2 e MOD13A2, os quais correspondem respectivamente a temperatura de superfície e índice de vegetação 7 Tema 2- Expansão e democratização das novas tecnologias em Geografia Física: aplicações emergentes melhorado, foram processados usando a ferramenta band math do ENVI, que faz operações matemáticas alterando os valores digitais dos pixels da imagem. Os produtos MODD11A2 vieram em imagens de 16 bits, e foram convertidos, primeiramente em temperaturas expressas Kelvin, e posteriormente para valores de temperaturas em graus Celsius (°C), por meio das seguintes equações: (2) T (K ) MOD 11 A 2 x 0 , 02 T( C) T (K ) 273 ,15 (3) O EVI (índice de vegetação melhorado) também vem em imagens de 16 bits e foi convertido em escala de -1 a 1, dividindo-se a imagem por 10.000. Posteriormente o EVI foi transformado em EVI* (EVI reescalonado) de acordo com as seguintes equações: EVI MOD 13 A 2 10 . 000 EVI * EVI 1 2 (4) (5) Uma vez tendo os valores de temperatura em graus Celsius e o EVI* calculou-se, no band math, a evapotranspiração utilizando-se a já citada Equação 1. 2.3 CÁLCULO DO BALANÇO HÍDRICO Foram coletados dados de temperaturas e precipitações médias diárias para os mesmos dias captados pelo sensor MODIS, na obtenção do produto MOD13A2 no ano de 2007, para 10 estações meteorológicas de observação da superfície do INMET – Instituto Nacional de Meteorologia (2008) localizadas na área de estudo. Os dados foram adquiridos no website do INMET (2008) na forma de gráficos. Os valores foram extraídos dos gráficos por meio de interpolação e, quando as imagens dos gráficos apresentavam deformações, extraíram-se os dados por análise visual. Com os valores de temperatura e precipitação, calculou-se o balanço hídrico pelo método Thornthwaite e Matter (1955) para cada estação. As estações meteorológicas de observação da superfície convencional do INMET e que estão inseridas no tile H13V10 são listadas na tabela 3: 8 VI Seminário Latino Americano de Geografia Física II Seminário Ibero Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 Tabela 3 – Estações meteorológicas do INMET (2008) que estão inseridas no tile H13V10. Código INMET 83236 83288 83339 83408 83286 83182 83292 83242 83184 83076 Cidade Latitude Longitude Barreiras Bom Jesus da Lapa Caetité Carinhanha Correntina Irecê Ituaçu Lençóis Morro do Chapéu Santa Rita de Cássia -12.15º -13.27º -14.07º -14.28º -13.33º -11.3º -13.82º -12.57º -11.22º -11.02º -45º -43.42º -42.48º -43.77º -44.62º -41.87º -41.3º -41.38º -41.22º -44.52º A Figura 2 detalha a localização das 10 estações meteorológicas no estado da Bahia: dentro da área delimitada pelo tile MODIS H13V10 Figura 2 - Localização das estações meteorológicas do INMET (2008) do tile H13V10, destacados em tons de cinza, do MODIS no estado da Bahia. 9 Tema 2- Expansão e democratização das novas tecnologias em Geografia Física: aplicações emergentes 2.4 ANÁLISE E TRATAMENTO ESTATÍSTICO DOS DADOS Foram feitas análises de correlação entre a evapotranspiração potencial calculada no balanço hídrico pelo método Thornthwaite e Matter (1955) (ET balanço hídrico, como variável independente) e a evapotranspiração calculada de acordo com o modelo proposto por Nagler et al. (2005) (ET MODIS, como variável dependente) para obter o coeficiente de determinação r2 e de regressão linear, com sua respectiva função. Além disso, verificou-se inicialmente se existia correlação entre os dois parâmentros ou tratamentos (ET balanço hídrico e ET MODIS), por meio do teste t (Student) do coeficente b da equação linear obtida. Testou-se como hipótese inicial H0 (b=0), ou seja, como o coeficiente b informa a inclinação da reta, b=0 significa correlação nula entre os parâmetros, pois enquanto um varia o outro se mantém constante. Depois foi testada a semelhança entre as variâncias dos tratamentos pelo teste F (Snedecor) (H0 1= 2) e a semelhança entre as médias pelo teste t (Student) (H0 µ1=µ2). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados obtidos pelo balanço hídrico - método Thornthwaite e Matter (1955) – estão listados na tabela 4 e os obitidos pelo modelo de Nagler et al. (2005) são representados na tabela 5: Tabela 4 – Resultados da evapotranspiração (mm/dia) obtidos pelo balanço hídrico método Thornthwaite e Matter (1955), para as dez estações INMET no ano de 2007. Estação Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Barreiras Bom Jesus da Lapa Caetité Carinhanha Correntina Irecê Ituaçu Lençóis Morro do Chapéu Santa Rita de Cássia 4,65 5,25 4,16 5,16 4,48 4,51 4,90 4,90 4,05 4,81 4,15 4,27 3,64 4,24 3,84 3,94 4,26 4,19 3,65 4,38 3,65 3,96 3,13 3,37 3,56 3,33 3,08 2,99 2,79 4,21 3,28 3,51 2,67 3,19 2,95 2,87 2,85 2,75 2,46 3,54 3,62 3,47 2,83 3,43 3,05 2,96 3,00 2,76 2,51 3,63 4,16 4,19 3,04 3,95 3,73 3,15 3,41 3,23 2,59 4,20 5,49 5,89 4,35 5,49 5,11 4,55 4,63 4,29 3,49 5,76 4,08 4,15 3,45 4,23 3,42 3,61 3,92 3,80 3,41 4,19 4,10 4,58 3,67 4,48 3,92 3,80 4,08 4,02 3,38 4,55 4,11 4,35 3,30 4,17 3,77 3,63 3,63 3,46 3,06 4,38 4,86 4,96 3,84 4,67 4,52 4,14 4,44 4,25 3,59 4,86 4,80 4,66 3,97 4,61 4,30 4,29 4,46 4,34 3,84 4,74 10 VI Seminário Latino Americano de Geografia Física II Seminário Ibero Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 Tabela 5 – Resultados da evapotranspiração (mm/dia) obtidos pelo modelo de Nagler et al. (2005), para as dez estações INMET no ano de 2007. Estação Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Barreiras Bom Jesus da Lapa Caetité Carinhanha Correntina Irecê Ituaçu Lençóis Morro do Chapéu Santa Rita de Cássia 4,61 5,77 5,50 3,90 3,40 4,60 4,96 3,13 4,51 3,59 4,12 2,64 4,11 3,81 2,85 3,55 5,21 2,28 3,95 2,76 3,04 3,45 2,87 2,64 2,58 3,02 1,93 1,20 2,83 2,37 3,59 4,16 4,15 3,92 3,30 5,82 4,25 2,69 4,29 4,09 3,73 4,10 4,39 3,03 2,67 4,61 3,88 0,86 3,53 3,49 3,44 4,41 4,48 3,31 2,19 4,79 3,49 2,11 4,06 3,48 3,24 3,88 3,92 3,14 2,59 4,45 3,73 1,12 2,65 3,42 3,57 4,23 3,87 3,46 2,78 4,32 4,07 2,98 2,88 4,02 4,41 5,28 5,28 4,42 3,59 4,35 3,95 2,83 3,45 4,35 5,88 7,29 6,81 6,53 5,09 7,28 6,86 4,24 5,20 5,76 6,08 7,05 6,83 6,66 5,35 8,14 7,44 4,94 4,19 6,10 4,53 4,80 4,18 4,34 4,63 3,78 4,94 3,59 4,08 4,22 Os gráficos de correlação entre a evapotranspiração potencial calculada pelo balanço hídrico e a evapotranspiração calculada pela equação que descreve o modelo estão representados na Figura 3: 11 Tema 2- Expansão e democratização das novas tecnologias em Geografia Física: aplicações emergentes 12 VI Seminário Latino Americano de Geografia Física II Seminário Ibero Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 Figura 4 - Gráficos de correlação e regressão linear entre a evapotranspiração potencial calculada no baçanço hídrico e a evapotranspiração calculada pela Equação 1 para as 10 estações meteorológicas do INMET (2008) no ano de 2007. Em todas as estações trabalhadas percebeu-se tendência de correlação positiva entre a evapotranspiração determinada por meio do balanço hídrico e a evapotranspiração determinada pelo modelo proposto por Nagler et al. (2005). O valor médio de r² foi de 0,42, porém foi acima de 0,5 para as estações Bom Jesus da Lapa, Correntina e Barreiras, sendo que nesta última foi de 0,74. Os gráficos de dispersão para a maioria das estações demonstram valores próximos entre a evapotranspiração calculada no balanço hídrico e a calculada pelo modelo. A justificativa para as variações dos valores reside em três fatos: primeiro pelo fato dos produtos MODIS utilizados possuírem resolução espacial de 1km, ou seja, os pixels das imagens possuem áreas de 1km² de dimensão, enquanto os dados das estações são pontuais, portanto entre as duas situações ocorrem condições ambientais diferentes, principalmente em relação à temperatura de superfície e cobertura vegetal, que influenciam diretamente nos valores da evapotranspiração; segundo, a forma de extração dos dados das estações do INMET (2008), também pode justificar as variações dos resultados obtidos, pois os gráficos de temperatura apresentaram distorções nas imagens impossibilitando a interpolação dos mesmos, tendo que partir para uma análise visual, a qual decorre em um certo erro; terceiro, o índice de vegetação – EVI e a temperatura de superfície – LST obtidos pelo sensor MODIS consideram os melhores pedaços de cena obtidos em 16 dias e então é apresentado um mosaico, e não o valor médio. Já o critério utilizado para o cálculo do balanço hídrico, valor médio de temperatura e o valor médio de precipitação para os 16 dias. Este fato pode ser outra justificativa para as variações entre os valores determinados 13 Tema 2- Expansão e democratização das novas tecnologias em Geografia Física: aplicações emergentes por meio do balanço hídrico e os valores da evapotranspiração determinados pelo modelo proposto por Nagler et al. (2005). Os meses que mais diferiram entre os valores de evapotranspiração calculada pela Equação 1 e a calculada pelo balanço hídrico foram os meses de fevereiro, março, outubro e novembro, meses chuvosos, sendo que nos dois primeiros meses os valores do balanço hídrico em algumas estações chegaram a dobrar os valores do modelo e, nos dois últimos meses os valores do modelo chegaram a dobrar os valores do balanço hídrico. Esses meses foram os responsáveis pela redução dos valores dos coeficientes de determinação. Para os outros meses do ano obtiveram-se valores muito próximos entre as duas evapotranspirações calculadas, demonstrando, pela análise visual dos gráficos, correlações muito próximas. No modelo utilizado a evapotranspiração tem uma relação linear com a temperatura de superfície, porém a relação entre evapotranspiração e índice de vegetação é exponencial, podendo justificar o fato dos valores alterados nos meses chuvosos onde o uso de um índice de vegetação reamostrado, como é proposto pelo modelo, pode estar mascarando os dados, devido à dinâmica da vegetação nos citados períodos. O rápido crescimento da vegetação na estação chuvosa pode provocar um incremento exponencial nos valores de evapotranspiração. Para verificar se existe correlação entre a ET calculada por meio do balanço hídrico das estações e pelo MODIS, realizou-se o teste t para o coeficiente b da regressão linear, apresentada na figura 4, para a hipótese nula (b=0). Verificou que o t calculado (2,31) é maior que o t tabelado (1,98), rejeitando-se H0 (b=0) e, portanto, a evapotranspiração calculada pelo balanço hídrico e a evapotranspiração calculada pelo modelo se correlacionam. 14 VI Seminário Latino Americano de Geografia Física II Seminário Ibero Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 Figura 4 – Gráfico de regressão linear para o Teste t demonstrando que as evapotranspirações se correlacionam. Por meio do teste F, verificou-se que o F calculado (3,541) é maior que o F tabelado (1,39), portanto rejeitou-se a hipótese nula ( 1= 2), concluindo-se que a variância da evapotranspiração calculada pelo balanço hídrico e a evapotranspiração calculada pelo modelo proposto por Nagler et al. são estatisticamente diferentes. Já com a aplicação do teste t, verificou-se que o t calculado (-1,1696) é menor que o t tabelado (1,98), portanto rejeitou-se a hipótese nula (µ1=µ2), concluindo-se que as médias da evapotranspiração calculada pelo balanço hídrico e a evapotranspiração calculada pelo modelo são estatisticamente semelhantes. 4. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES Por meio do presente estudo foi possível verificar se o modelo proposto por Nagler et al. (2005) pode ser utilizado para a predição da evapotranspiração, já que os gráficos de dispersão XY, a regressão linear e o teste t do coeficiente b da regressão, mostraram existir correlação entre a evapotranspiração calculada no balanço hídrico e a evapotranspiração calculada por meio dos dados MODIS. O teste F mostrou que a variância da evapotranspiração obtida por meio do balanço e pelo MODIS é diferente, porém o teste t mostrou que as médias entre os tratamentos são estatisticamente semelhantes, demonstrando a eficiência do modelo para predição da evapotranspiração nos domínios morfoclimáticos do Cerrado e da Caatinga para o ano de 2007 com resolução espacial de 1km. 15 Tema 2- Expansão e democratização das novas tecnologias em Geografia Física: aplicações emergentes Os dados coletados e todo o processo adotado para a geração dos resultados permitiu uma compreensão da evapotranspiração no estado da Bahia, sob uma perspectiva sazonal, gerando subsídios para futuros estudos relacionados à região semi-árida nordestina e para futuros estudos sobre desertificação. A análise sazonal demonstrou que o uso do índice de vegetação proposto no modelo pode estar mascarando os dados, principalmente na estação chuvosa, sugerindo-se o uso de um índice de vegetação diferente para o modelo, o qual possua uma relação linear com a evapotranspiração resultante. Recomenda-se, no entanto, que para futuros estudos utilizando o modelo proposto por Nagler et al. (2005) e dados de campo para a elaboração do balanço hídrico, sejam coletados dados de campo mais concisos. Recomenda-se também, o uso de dados brutos ao invés de dados interpolados dos gráficos do INMET (2008) visando eliminar possíveis erros de predição. Além disso, testar outros índices de vegetação visando um melhor ajuste na predição. 5. REFERÊNCIAS BRITTO, E.A. de, SANTOS, N.M. da S., 2006. O semi-árido baiano sob o olhar do desenvolvimento sustentável, Conjuntura e Planejamento, n. 150 (Nov), pp. 23-29. CAVALCANTI, E. Para Compreender a Desertificação: Uma abordagem didática e integrada. 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