AS TRANSFORMAÇÕES NA PAISAGEM A PARTIR DA IMPLANTAÇÃO DO LAGO DE FURNAS NO MUNICÍPIO DE FAMA-MG Tamiris Batista Diniz [email protected] Discente – Geografia – UNIFAL-MG Ana Rute do Vale [email protected] Professora do curso de Geografia – UNIFAL-MG RESUMO A Usina Hidrelétrica de Furnas, localizada no Estado de Minas Gerais, foi inaugurada em 1963 com o objetivo de sanar a crise energética que ameaçava os principais centros socioeconômicos do sudeste do Brasil. O lago formado a partir da implantação desta Usina foi um agente transformador da paisagem mineira e a vida dos habitantes de 34 municípios que se tornaram lindeiros ao lago. Dentre esses municípios, selecionamos para nosso estudo o de Fama (MG), que teve boa parte de sua área urbana inundada. Antes da implantação da UHE Furnas, a paisagem de Fama era composta pelo Rio Sapucaí, agricultura de várzea, ferrovia e outros elementos que foram alagados, ou seja, houve uma grande mudança no sistema de transporte, no setor agrícola, na cultura cultivada, na quantidade de água disponibilizada, de ordenamento do território e nas relações sociais, bem como o desenvolvimento de novas atividades como o turismo e a piscicultura. Partindo dessa dialética, entre as desvantagens de ter parte do município alagado e as vantagens deste lago representar uma nova oportunidade de desenvolvimento sustentável, esta pesquisa tem como objetivo analisar as transformações ocorridas na paisagem do município de Fama, após a implantação do Lago de Furnas, identificando as principais mudanças nas estruturas físicas, econômicas e sociais que se tinham antes da implantação da UHE Furnas e após a construção da barragem, considerando os aspectos de deplecionamento deste lago. Palavras-chave: Paisagem; Fama-MG; Lago de Furnas. INTRODUÇÃO A paisagem se transforma ao longo dos anos, neste conceito, os aspectos físicos, sociais, culturais e econômicos do ambiente são abordados, como forma de compreender essa relação e sua dinâmica. Nesta perspectiva o lago formado a partir da implantação da Usina ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 349 Hidrelétrica de Furnas foi um agente transformador da paisagem de Minas Gerais. Este foi implantado para suprir a crise energética que ameaçava o Brasil em meados da década de 1950, quando Juscelino Kubitschek optou em investir na geração de elétrica para atender os três principais centros socioeconômicos do país: São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Dessa forma, em 28 de fevereiro de 1957, através do Decreto Federal nº 41.066 assinado por JK, a empresa Central Elétrica de Furnas foi criada, com sede em Passos (MG). O objetivo dessa empresa era construir e operar no Rio Grande a primeira usina hidrelétrica de grande porte do Brasil, com capacidade de 1.216 MW. Assim, em janeiro de 1963, a usina começou a funcionar, modificando a paisagem e a vida dos habitantes locais. Antes da implantação da UHE Furnas, a paisagem de Fama era composta pelo Rio Sapucaí, pela agricultura de várzea, pela ferrovia, e outros elementos que foram alagados, ou seja, houve uma grande mudança no sistema de transporte, no setor agrícola, na cultura cultivada, na quantidade de água disponibilizada, de ordenamento do território e nas relações sociais. Alguns desses aspectos ainda se podem observar em épocas de estiagem. OBJETIVOS Analisar as transformações ocorridas na paisagem do município de Fama, após a implantação do Lago de Furnas. Mais especificamente, buscaremos: a) identificar as antigas estruturas econômicas do município de Fama, antes da implantação da UHE Furnas; b) caracterizar as atuais atividades econômicas do município de Fama; c) analisar as mudanças ocorridas nos aspectos físicos e sociais da paisagem de Fama pós implantação da UHE Furnas; d) entender as causas e as consequências do processo de deplecionamento sobre a paisagem de Fama; e) compreender a percepção dos atores sociais envolvidos na dinâmica da paisagem do município (população local, representantes das principais atividades econômicas dependentes do lago, representantes das principais organizações, associações e empresas que lidam com questões deste lago). FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A partir do lago formado pela Usina Hidrelétrica de Furnas, a vida da população mineira e a história dos municípios alagados foram transformadas. A paisagem dos municípios, principalmente o de Fama, foi modificada, entendendo este conceito, segundo Milton Santos (2002, ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 350 p. 66) como um “conjunto de formas que, num dado momento, exprimem as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre homem e natureza.” Cosgrove (1985, p. 223) explica a peculiaridade do conceito de paisagem: A paisagem sempre esteve intimamente ligada, na geografia humana, como a cultura, com a ideia de formas visíveis sobre a superfície da Terra e com sua composição. A paisagem, de fato, é uma "maneira de ver", uma maneira de compor e harmonizar o mundo externo em uma "cena", uma unidade visual. A palavra surgiu no Renascimento para indicar uma nova relação entre os seres humanos e seu ambiente. Colchete Filho (2013, p. 138) explica como foi esse processo de construção da UHE Furnas: Nesse processo dialético do homem com o lugar, resta pensar como construímos nosso habitat, nossas paisagens, sobretudo quando grandes intervenções urbanas são implantadas. [...] O projeto de uma hidrelétrica de grande porte, como Furnas, faz referência a uma era de grandes investimentos em infraestrutura, quando muito pouco se falava sobre impacto ambiental, projeto participativo ou memória social. O Lago de Furnas consiste em uma sub-bacia do Rio Grande, possui 1.442 km² de área alagada, sendo a maior extensão de água do estado de Minas Gerais. Abrange 52 municípios, sendo 34 lindeiros ao lago, que passaram a ter parte de suas áreas inundadas, modificando a estrutura física, fazendo com que uma paisagem onde se tinham Igrejas, cemitérios, trilhos, etc., se transformassem em um dos maiores e um dos maiores lagos artificiais do mundo, sendo assim denominado como o “Mar de Minas”. As relações socioculturais também sofreram com essa nova dinâmica, forçando o deslocamento da população local e exigindo novas demandas ao para utilização do lago como alternativa econômica. A região do Lago de Furnas – Sudoeste do Estado de Minas Gerais - tem a água como uma das bases que sustentam sua economia, seja pela Compensação Financeira dos Recursos Hídricos (CFRH) recebida pelos municípios, em função da geração de energia elétrica, seja pelas atividades ligadas à agricultura e ao turismo. Entretanto, fatores como o esgoto produzido pelas áreas urbanas e lançado no lago, assim como o deplecionamento do reservatório a níveis extremos tem, muitas vezes, comprometido às atividades na região (ALAGO, 2006, p. 11). O Lago de Furnas representa a base da economia local, no entanto alguns fatores prejudicam esse setor, segundo a ALAGO (2012, p. 45) “são muitas as fontes de contaminação, ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 351 destacando-se o uso inadequado do solo e a falta de tratamento de efluentes domésticos e industriais.” Essa questão ainda se agrava quando ocorre o deplecionamento, ou seja, a redução do nível da água, como consequência das oscilações do regime hídrico ao longo do ano, pois os dejetos ficam mais concentrados. Este fenômeno de baixa da quantidade de água compromete também as atividades econômicas da região, uma vez que, segunda a ALAGO (2012, p. 45) “a grande dependência dos municípios do entorno em relação ao Lago de Furnas gera um conflito entre a geração de energia e os demais usos, devido ao rebaixamento do reservatório em período de escassez prolongada.” METODOLOGIA O trabalho proposto se desenvolverá a partir dos seguintes procedimentos: a) levantamento e revisão bibliográfica sobre o conceito de paisagem, a história e a dinâmica atual do município de Fama, as causas e as consequências do processo de deplecionamento do lago de Furnas e imagens aéreas da região; b) coleta de dados primários através de entrevistas com a população local, com os representantes de associações e o prefeito municipal; c) coleta de dados secundários junto à Associação dos Municípios do Lago de Furnas, ao Comitê da Bacia Hidrográfica do Entorno do Lago de Furnas, à Prefeitura Municipal de Fama (MG), à Biblioteca da Universidade Federal de Alfenas, ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, à Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais e sites da internet.; d) análise de dados coletados e elaboração do relatório final das conclusões obtidas. RESULTADOS Cabe esclarecer que esta pesquisa se encontra em estágio inicial, por tratar-se de uma pesquisa de Trabalho de Conclusão de Curso em andamento. Porém, já pudemos verificar que os impactos sociais e físicos causados pelo Lago de Furnas em Fama (MG) na década de 1960 foram imensuráveis, e que essas transformações refletem na sociedade até hoje. O deplecionamento deste lago que ocorre quando há redução do nível da água, como consequência das oscilações do regime hídrico ao longo do ano é um agente transformador da paisagem, este fenômeno torna a economia do município instável, por esta ter se tornado tão dependente deste recurso hídrico. A origem dessa baixa é a falta de precipitação, a ausência de mata ciliar e problemas de gestão do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). A ausência de políticas públicas para tornar este ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 352 lago um elo navegável de fluxo de produtos para o consumo no Brasil, faz com que o ONS seja rigoroso em utilizar todo o potencial da UHE Furnas para a geração de energia, sem considerar os impactos com setor do turismo, da agricultura, da pecuária, da navegação, da piscicultura, da aquicultura, do imobiliário, dos esportes náuticos e da pesca esportiva em Fama (MG). REFERÊNCIAS COLCHETE FILHO, A. F. ; MUNIZ, E. C. ; CARDOSO, C. F. . Fama: reservatório e paisagem modificada. Oculum Ensaios (PUCCAMP), v. 1, p. 137-147, 2013. BOLETIM DA ALAGO: Associação dos Municípios do Lago de Furnas. Alfenas: Alago, v. 1, n. 1. ag o. 2006. COSGROVE, D. E. (1984): Social formation and symbolic landscape. London: Croom Helm. __________ .(1998): A geografia está em toda parte: cultura e simbolismo nas paisagens humanas. In: CORR A, R.L., ROSENDAHL, Z. (orgs.) Paisagem, tempo e cultura. Rio de Janeiro: EdUERJ, p. 92-123. SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo – razão e emoção. São Paulo: Edusp, 2002. ALAGO. Associação dos Municípios do Lago de Furnas; FUPAI. Fundação de Pesquisa e Assessoramento a Indústria; IGAM. Instituto Mineiro de Gestão das Águas: Resumo Executivo do Plano Diretor de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Entorno do Lago de Furnas. Belo Horizonte Ano I Nº. 1 Outubro/2012. Disponível em: <http://www.alago.org.br/imagens/image/PDRH%20GD3%20-%20Resumo%20Executivo.pdf> Acessado em: 20 de abril de 2014. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 353