Poluição visual

Propaganda
De encher
o cérebro
A poluição visual é um problema recorrente das grandes cidades.
Entenda como ela pode prejudicar até em proporções menores
TEXTO E ENTREVISTAS GIOVANE ROCHA/COLABORADOR DESIGN GUILHERME LAURENTE/COLABORADOR
O
utdoors, anúncios em traseiras de ônibus, sinais luminosos, “santinhos” em época
de eleições... É certo que,
principalmente nas grandes
cidades, há poluição visual espalhada por todos
os lados e nem precisa de muita concentração
para reparar — aliás, essa habilidade cognitiva
é uma das mais prejudicadas nisso tudo.
Como afeta o cérebro?
Não é nenhuma surpresa que, com tantas
informações geradas pela poluição visual, como
propagandas, o cérebro humano seja impactado
de alguma forma.
A neurologista Julianne Tannous explica que,
com os vários elementos que poluem visualmente,
o funcionamento cerebral é afetado, uma já que a
concentração se divide entre diversos estímulos.
“Assim sendo, quando a atenção é prejudicada,
há o consequente prejuízo na memória e no
aprendizado, uma vez que estes dependem
diretamente da atenção para que tenham seu
processo iniciado”, conta a especialista.
18 | Segredos da Mente
Em menor escala
A poluição visual não é um problema exclusivo de quem vive em cidades.
Diminuindo as proporções, podemos encontrar situações com elementos
que também causam distrações e ocupam a mente com informações desnecessárias, como um ambiente de trabalho desorganizado. Nesses casos,
é possível ter um controle maior sobre o cenário, basta colocar o cérebro
e a bagunça em ordem.
Segundo a consultora em organização Yolanda Hollaender, “algumas
pessoas têm a falsa ideia de que ter à vista tudo o que precisam pode ajudá-las na hora de fazer um relatório ou elaborar um projeto”. E isso, gradualmente, pode causar um estresse sem propósito, uma vez que fica difícil
achar qualquer item em meio a tantos outros, afetando toda a produtividade.
Cidades que não dormem
Além de anúncios publicitários por todo canto que se olha, existe outro
fator que em excesso também pode impactar o funcionamento do cérebro:
a luminosidade constante.
As funções cognitivas são prejudicadas a partir do instante que o ciclo
sono-vigília é afetado. Isso porque, como explica Julianne, o órgão regula
a produção de melatonina (hormônio responsável pelo controle do nosso
“relógio biológico”) baseado na exposição à luz. “Dessa forma, com os
adventos da vida moderna, aumentamos muito a quantidade de luz à qual
somos expostos, diminuindo a produção de melatonina e alterando o ciclo
natural do sono”, finaliza a neurologista.
Dentro da lei
A rotina frenética de um centro urbano já é
um desafio por si só, uma vez que se tem cada vez
menos tempo para cumprir com suas obrigações.
E quando se soma a isso a poluição visual, parece
que o dia fica mais “pesado”. Então, como escapar disso tudo? O meio legal é uma alternativa.
Além de leis que visam a melhoria, proteção
e recuperação do meio ambiente, por exemplo, a
lei federal número 6.938, existem outras focadas
na eliminação da poluição visual, prezando por
um ambiente urbano com melhor qualidade de
vida, como a lei Cidade Limpa (nº 14.223), que
vigora no município de São Paulo desde 2007.
Saiba lidar
Porém, mesmo com a existência de leis que
vigoram a favor do controle da poluição visual,
sabe-se que a realidade está longe de ser a ideal.
Por esse motivo, para que você não seja tão afetado,
é importante tomar medidas preventivas contra
os efeitos negativos desse tipo de contaminação.
Para tanto, a psicóloga clínica Deborah Passos
sugere realizar ações que minimizem os impactos. “Por exemplo, se não podemos controlar a
poluição visual que presenciamos na cidade, é
possível optar por ter em casa um ambiente com
menos estímulos, que favoreça a tranquilidade”.
Outra recomendação é a prática de meditação, uma vez que a técnica é capaz de esvaziar a
mente, limpando todo o excesso de estimulação
visual. “Para algumas pessoas, focar inteiramente
em uma só atividade, como um quebra-cabeça,
é a forma de diminuir o desgaste do excesso de
estímulos”, conclui a profissional.
Questão ambiental
Além de prejudicar a qualidade de vida do ser humano, a
poluição visual, mais especificamente a luminosa, afeta e
muito o ecossistema. Isso, segundo a psiquiatra Julieta Guevara
influencia “desde em insetos que perdem o caminho, a tartarugas
que se desorientam, saem da praia na direção errada e acabam
mortas pelos carros. Também há registros de aves migratórias
que são desencaminhadas pelas luzes da cidade e esbarram nos
vidros espelhados de edifícios”.
Esse fator apenas ressalta a importância da necessidade do
cumprimento de leis que visam proteger o meio ambiente contra
elementos poluentes, por empresas, indústrias e toda a sociedade.
“Com os adventos da vida
moderna, aumentamos muito a
quantidade de luz à qual somos
expostos, diminuindo a produção
de melatonina e alterando o ciclo
natural do sono”
Julianne Tannous, neurologista
CONSULTORIAS Deborah Williamson Passos, psicóloga clínica e idealizadora do Ateliê
Terapêutico Cuidar, em São Paulo (SP); Julianne Tannous, neurologista; Julieta Guevara,
psiquiatra e diretora da Neurohealth — Centro de Métodos Biológicos em Psiquiatria,
no Rido de Janeiro (RJ); Yolanda Hollaender, consultora em organização de ambientes
residenciais e corporativos, com certificação pela empresa OZ! Organize sua Vida (www.
organizesuavida.com.br); sócia-fundadora da Associação Nacional de Profissionais
de Organização e Produtividade (ANPOP) e coordenadora da Oficina de Suporte aos
Problemas de Desorganização.
Segredos da Mente | 19
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