Síntese, caracterização e aplicação em fotocatálise de

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Universidade Federal de São João del-Rei
Coordenadoria do Curso de Química
Síntese, caracterização e aplicação em
fotocatálise de pontos quânticos de ZnS
Monique Gomes Teixeira
São João del-Rei – 2015
SÍNTESE, CARACTERIZAÇÃO E APLICAÇÃO EM
FOTOCATÁLISE DE PONTOS QUÂNTICOS DE ZnS
Monografia de Trabalho de Conclusão de Curso,
apresentado no 1° semestre do ano de 2015 ao Curso
de Química, Grau Acadêmico Bacharelado, da
Universidade Federal de São João del-Rei, como
requisito parcial para obtenção do título Bacharel em
Química.
Autor: Monique Gomes Teixeira
Docente Orientador: Marco Antônio SCHIAVON
Modalidade do Trabalho: Pesquisa
São João del-Rei – 2015
RESUMO:
Este trabalho descreve a síntese, caracterização e aplicação em fotocatálise de
nanomateriais ambientalmente amigáveis de ZnS. Duas rotas de síntese de ZnS foram
utilizadas, síntese coloidal e síntese por precipitação. Os materiais obtidos foram
caracterizados
por
espectroscopia
infravermelho,
sendo
observadas
as
bandas
características de grupos funcionais do ligante de superfície, no caso do ZnS Colóide. Na
caracterização por difração de raios X foi observada a fase cristalina cúbica de blenda de
zinco do ZnS. Os picos de difração foram mais intensos para o ZnS obtido por precipitação,
devido ao tamanho dos cristalitos. A partir da Equação de Scherrer foi possível determinar o
tamanho dos nanocristais obtidos por precipitação, sendo de 252 nm. Os espectros de
absorção óptica ultravioleta-visível dos materiais sintetizados indicaram comprimentos de
onda de absorção máxima de 302 nm para o ZnS sintetizado por método de precipitação e
296 nm para o ZnS Colóide. Foi realizada a espectroscopia de fotoluminescência do mesmo
e pode-se verificar uma banda em 395 nm para o ZnS Colóide. Os materiais sintetizados
foram aplicados como fotocatalisadores na degradação dos corantes Acid Red 114, Eosina
Y e Rodamina 6G, sendo que ambos os materiais apresentaram atividade fotocatalítica. A
fotodegradação dos corantes citados também foi realizada em presença do padrão TiO2 P25
Degussa e em ausência de fotocatalisador (fotólise), para fins de comparação. Observou-se
que o TiO2 possui maior capacidade de aumento da velocidade de degradação total dos
corantes, porém o ZnS Colóide apresenta maior capacidade de adsorção das moléculas de
corante, uma vez que proporciona maior descoloração das soluções nos primeiros minutos
de fotocatálise quando comparado ao ZnS obtido por precipitação e ao TiO2.
SUMÁRIO
1. Introdução
1
1.1. Corantes e suas consequências ambientais
1
1.2. Fotocatálise e nanomateriais
2
1.3. Pontos Quânticos de Semicondutores nanocristalinos
6
1.4. Sulfeto de Zinco (ZnS)
8
2. Procedimento Experimental
9
2.1. Síntese das nanopartículas de ZnS via síntese por precipitação
9
2.2. Síntese das nanopartículas de ZnS via síntese coloidal
9
2.3. Caracterização das nanopartículas
10
2.3.1. Espectroscopia Vibracional na Região do Infravermelho
10
2.3.2. Difração de Raios X
10
2.3.3. Espectroscopia de Absorção UV-Vis
10
2.3.4. Espectroscopia de Fotoluminescência
11
2.4. Fotocatálise de corantes orgânicos
11
3. Resultados e Discussão
12
3.1. Síntese das Nanopartículas de ZnS
12
3.2. Caracterização das Nanopartículas de ZnS
13
3.2.1. Espectroscopia Vibracional na Região do Infravermelho
13
3.2.2. Difração de Raios X
14
3.2.3. Espectroscopia de Absorção UV-Vis
15
3.2.4. Espectroscopia de Fotoluminescência
17
3.3. Fotocatálise de corantes orgânicos
19
4. Conclusões
22
5. Referências Bibliográficas
23
Monografia de TCC – Química – Bacharelado – UFSJ - 2015 1. Introdução
1.1 Os corantes e suas consequências ambientais Nos últimos anos, os problemas ambientais relacionados à contaminação de água
têm ganhado maior atenção, devido ao aumento indeterminado do uso de materiais
poluentes e à escassez de água. Entre os principais contaminantes, destacam-se os
corantes orgânicos devido à grande demanda na indústria,1 sendo utilizados no tingimento
de tecidos, papel, plástico, couro, cerâmica, cosméticos, tinta, e no processamento de
alimentos. A ineficiência dos processos de tratamento de efluentes contaminados gera a
liberação de 10 a 20% do corante utilizado nas indústrias,2 e a presença destes poluentes
nos cursos d’água desencadeiam problemas ambientais relacionados à alta toxicidade e
carcinogenicidade, além do comprometimento do aspecto estético e visual.3
Há muitas classes de corantes: azo, diretos, ácidos, básicos, reativos, dispersos e
neutros, sendo que os mais utilizados são os azocorantes (presença de ligações N=N). Isto
faz com que a remoção destes contaminantes dos cursos d’água seja motivo de discussão e
regulamentação no mundo todo.2 Dentre os corantes conhecidos, destaca-se o Acid Red
114 (azocorante), a Rodamina 6G (corante básico) e a Eosina Y (corante ácido),
representados na Figura 1.4
a)
b)
c)
Figura 1. Estruturas moleculares dos corantes a) Acid Red 114, b) Rodamina 6G e
c) Eosina Y. 1 Monografia de TCC – Química – Bacharelado – UFSJ - 2015 A classe a qual cada corante se enquadra é determinante na sua capacidade de ser
degradado. Azocorantes possuem em sua constituição, átomos de nitrogênio ligados por
ligações duplas. Logo, as ligações π, mais fracas e mais acessíveis que as ligações sigma
destas duplas, são facilmente quebradas em reações de adição com, por exemplo, radicais
hidroxila. Em contrapartida, grupos aromáticos conjugados são menos reativos e menos
suscetíveis a quebra. Se estes grupos aromáticos são os responsáveis pela cor, isto é, são
os grupos cromóforos da molécula, o corante é mais resistente à descoloração por
degradação molecular do que um azocorante, por exemplo.
A fim de amenizar o impacto destes corantes no meio ambiente, várias técnicas
estão sendo desenvolvidas para a remoção destes poluentes. Técnicas tradicionais como
coagulação, floculação, absorção e adsorção dos compostos não são completamente
eficazes no tratamento de efluentes contaminados por corantes, uma vez que apenas
transferem o contaminante da fase líquida dispersa para uma fase sólida. Logo, processos
onde há degradação total dos contaminantes, como na degradação oxidativa, estão
recebendo maior atenção do mundo acadêmico. Como usualmente os tratamentos de
efluentes são constituídos por processos caros e dispendiosos e geralmente não realizam a
degradação total dos corantes, estes processos estão sendo estudados e aperfeiçoados de
modo que as vantagens dos mesmos superem as desvantagens.1
Dentre os processos de degradação de poluentes orgânicos, a fotocatálise
heterogênea vem sendo considerado um processo significativamente promissor, uma vez
que o uso de materiais alternativos e o desenvolvimento da técnica vêm fazendo com que
esta se torne mais efetiva, simples e barata, progressivamente. 1.2. Fotocatálise e Nanomateriais Entre várias técnicas físicas, químicas e biológicas, a fotocatálise tem se mostrado
uma técnica alternativa e superior para a descontaminação de água, devido às suas
vantagens quando comparada às técnicas tradicionais. Além de realizar oxidação rápida de
alta eficiência dos contaminantes, por exemplo, nos processos de oxidação fotocatalítica
não há formação de subprodutos de oxidação, uma vez que estes processos podem levar à
degradação total dos compostos. Estes subprodutos podem ser formados em outros
processos de descontaminação utilizando técnicas tradicionais e podem apresentar
toxicidade igual ou até mesmo superior em relação ao substrato de partida.3
O processo de fotocatálise consiste basicamente da geração de radicais hidroxila,
altamente oxidantes, por nanomateriais semicondutores fotocatalisadores, irradiados por
radiação ultravioleta.
2 Monografia de TCC – Química – Bacharelado – UFSJ - 2015 Nanomateriais semicondutores possuem duas bandas energéticas distintas, a banda
de valência (BV) e a banda de condução (BC). A banda de valência é a última banda
preenchida por elétrons no estado fundamental, enquanto que a banda de condução é a
primeira banda não preenchida, sendo mais energética que a primeira. Em materiais
condutores, estas bandas possuem uma separação estreita, logo os elétrons da BV podem
ser facilmente excitados e passarem para a BC. A distância entre a BV e a BC é conhecido
como banda de zona proibida (band gap) e possui valores de energia definidos para cada
material. Já nos materiais isolantes, a distância entre as bandas é suficiente para impedir a
transferência de elétrons entre as mesmas. Porém, a separação entre as bandas pode ter
uma energia intermediária, sendo que, sob excitação eletrônica (incidência de fótons, hν), o
elétron consegue absorver energia suficiente para vencer a barreira energética do band gap
e passar da BV para a BC. A estes materiais dá-se o nome de semicondutores (Figura 2). 5
Figura 2. Diagrama esquemático dos níveis energéticos para materiais condutores,
semicondutores e isolantes (não condutores).5
A transferência do elétron da BV para a BC leva à formação de portadores de carga,
chamados de par elétron-buraco, sendo que o elétron (eBC-) se encontrará na BC e será
formado uma vacância (hBV+) na BV, conforme apresentado na Equação 01.
Fotocatalisador→ hBV+ + eBC- (Equação 01)
A vacância se comporta como carga positiva e pode desencadear reações de
oxidação com a água e íons hidroxila, formando radicais hidroxila, altamente reativos,
conforme apresentado nas Equações 02 e 03. 3 Monografia de TCC – Química – Bacharelado – UFSJ - 2015 H2O + hBV+ → •OH + H+ (Equação 02) OH- + hBV+→ •OH
(Equação 03) Por outro lado, o elétron gerado na BC pode realizar reações de redução com o O2,
formando o íon radical superóxido O2•-, como mostrado na Equação 04. Este radical O2•reage com íons H+, produzindo o radical H2O• como pode ser visto na Equação 05.
O2 + eBC- → O2•-
(Equação 04) O2•- + H+ → H2O• (Equação 05)
•
A reação entre radicais H2O leva à formação de peróxido de hidrogênio H2O2 e gás
oxigênio O2 (Equação 06). O radical O2•- reage também com radicais H2O•, resultando na
formação de íon HO2-, conforme apresentado na Equação 07.
H2O• + H2O• → H2O2 + O2 (Equação 06) O2•- + H2O• → HO2- + O2 (Equação 07) Segundo a Equação 08, o íon HO2- reage com o íon H+ levando à formação de H2O2.
HO2- + H+→ H2O2 (Equação 08)
O peróxido de hidrogênio formado durante as etapas representadas pelas Equações
06 e 08, reage então, com o elétron da BC e com o radical O2•-, formando íons e radicais
hidroxila e gás oxigênio, conforme as Equações 09 e 10. 5,7
H2O2 + eBC- → •OH + OH-
(Equação 09) H2O2 + O2•- → •OH + OH- + O2 (Equação 10) Os radicais hidroxila, gerados durante todo o processo, são responsáveis pela
degradação do componente orgânico. Esta degradação pode ocorrer por meio de abstração
de hidrogênio, sendo que radicais orgânicos são gerados e desencadeiam uma série de
reações entre si, além de incorporação do radical •OH na molécula, gerando instabilidade na
mesma até a sua quebra. O resultado é a degradação total do substrato em CO2 e água.6
A Figura 3 apresenta o mecanismo simplificado da foto ativação de um catalisador
semicondutor.
4 Monografia de TCC – Química – Bacharelado – UFSJ - 2015 Figura 3. Mecanismo simplificado para a foto ativação de um semicondutor.5
Nanomateriais são utilizados como fotocatalisadores em reações degradativas, pois
possuem uma relação área/volume maior, e, consequentemente, maior área superficial,
melhorando a absorção dos fótons responsáveis pela excitação eletrônica. Outra vantagem
do uso de nanomateriais em fotocatálise é a drástica diminuição da probabilidade de
recombinação do par elétron-buraco (transferência do elétron excitado para seu estado
fundamental) quando se tem a diminuição da partícula fotocatalisadora, devido ao aumento
da energia de band gap.1 O fotocatalisador mais investigado até os dias de hoje é o dióxido de titânio (TiO2),
considerado o material mais eficaz para a realização da fotocatálise, possuindo um band
gap de 3,2 eV. A fase típica anatase apresenta maior capacidade fotocatalítica do que a
fase rutila, sendo que materiais com composição maior da fase anatase são mais utilizados
para a realização de fotocatálise.8 É assim considerado devido à sua inocuidade e alta
atividade fotocatalítica, porém possui a desvantagem de absorver somente na região do
ultravioleta, aproveitando apenas uma pequena parte da luz solar.8,9 Logo, há necessidade
de busca por materiais alternativos que possam suprir as desvantagens do uso do TiO2
como fotocatalisador. Um tipo de material que têm se mostrado promissor como
fotocatalisador em processos de degradação de substratos orgânicos são os Pontos
Quânticos de semicondutores nanocristalinos. 5 Monografia de TCC – Química – Bacharelado – UFSJ - 2015 1.3. Pontos Quânticos de Semicondutores Nanocristalinos
Os pontos quânticos (PQs) de semicondutores nanocristalino são compostos
geralmente por grupos de elementos no sistema III-V ou II-VI, que exibem propriedades de
eletroluminescência,
podem
emitir
luz
quando
excitados
por
campo
elétrico,
fotoluminescência, emitem quando há incidência de luz de menor comprimento de onda.
e
2,10
Os PQs possuem dimensões de 1 a 10 nm, que definem um comportamento intermediário
entre cristais e átomos isolados. São pontuais, de dimensão zero, sendo considerados
exemplos clássicos do modelo de partícula na caixa, pois a energia da partícula é
fortemente dependente de seu tamanho.11 O tamanho reduzido dos PQs gera o efeito de
confinamento quântico, isto é, gera o aumento do band gap do material devido à limitação
física do éxciton (par elétron-buraco), que não fica livre para se mover, expondo sua
natureza quântica ao tamanho do cristal, conforme representado na Figura 4.
Consequentemente, quanto menor o PQ, maior o efeito de confinamento quântico e o
material tem sua emissão deslocada para o azul do espectro eletromagnético.10,12,13
Figura 4. Representação do Confinamento Quântico, inexistente em a) e presente em b)
devido à limitação imposta pelo tamanho do cristal.13 Devido às suas propriedades singulares, os PQs estão se tornando cada vez mais
importantes, uma vez que podem ter uma ampla gama de aplicações em física, química
analítica,
processos
fotocatalíticos,
células
solares,
optoeletrônicos, agricultura, biomedicina, entre outros.
2,3,14
dispositivos
fotovoltaicos,
Dentre estas propriedades, pode-
se destacar o elevado band gap destes materiais (Figura 5), que diminui a probabilidade de
haver recombinação do par elétron-buraco,8 e a possibilidade de mudanças nas
propriedades destes materiais com a variação do tamanho dos mesmos.
6 Monografia de TCC – Química – Bacharelado – UFSJ - 2015 a)
b)
Figura 5. a) Níveis eletrônicos energéticos de alguns semicondutores II-VI e III-V, indicando
a banda de valência (BV), o band gap (BG) e a banda de condução (BC). b) Variação da
energia do band gap com o tamanho.13
Os PQs mais relatados na literatura são basicamente constituídos de metais
pesados, bioacumuladores e tóxicos como Cd, Pb e Hg, impedindo a aplicação em sistemas
biológicos. Outro problema é o meio em que os PQs são sintetizados, usualmente solventes
orgânicos, além dos precursores utilizados, reagentes organometálicos ambientalmente
perigosos. Sabe-se que os PQs poderiam interferir em vários sistemas biológicos e conduzir
a deficiências de diversas maneiras, não só devido à presença dos metais pesados e o uso
destes solventes, mas como também devido ao tamanho dos PQs, que, quanto menores, se
tornam mais tóxicos. Logo, os PQs são mais propensos à dissolução devido à proporção
área/volume e o consequente aumento da solubilidade.10,15 Várias estratégias de
recobrimento dos PQs têm sido desenvolvidas para diminuir a citotoxicidade dos mesmos,
porém ela nunca é removida completamente e as estratégias geralmente envolvem
processos trabalhosos. Por considerações de ordem ambiental, é interessante procurar vias
de síntese em meio aquoso, que fazem o uso de precursores “verdes” e que tenham como
produto PQs fotoestáveis com redução de defeitos de superfície e distribuição estreita de
tamanhos. 16,17
Um material alternativo ao uso dos PQs convencionais constituídos de metais
pesados é o ZnS, que não possui citotoxicidade e pode ser sintetizado em uma só fase em
meio aquoso. 7 Monografia de TCC – Química – Bacharelado – UFSJ - 2015 1.4. Sulfeto de Zinco (ZnS)
Os PQs de ZnS representam nanocristais semicondutores de até 10 nm do tipo II-VI
de band gap largo, de aproximadamente 3,6 eV.7,13 Mesmo sendo livre do uso de metais
pesados, a síntese de PQs de Sulfeto de Zinco (ZnS) era realizada, primeiramente, em
meios orgânicos ambientalmente perigosos. Como o corpo humano adulto pode ingerir de
10-15 mg de zinco por dia, como nutriente, e destes, absorver 5 mg, o zinco não é
considerado perigoso, o que torna o ZnS uma ótima alternativa aos PQs convencionais.15,16 Com o objetivo de tornar a síntese mais ambientalmente amigável, vários estudos
foram realizados a fim de substituir os solventes orgânicos utilizados por água. Até que H.
Li.15 desenvolveu uma síntese coloidal aquosa, utilizando o Ácido 3-Mercaptopropiônico
(MPA) como ligante, a qual produz ZnS coloidal com rendimento quântico considerável e
pequena distribuição de tamanhos, com luminescência na região azul do espectro
ultravioleta-visível. Uma das desvantagens desta rota de síntese é a pequena quantidade
produzida e a perda de fotoluminescência após alguns dias, quando a suspensão é deixada
à temperatura ambiente. Logo, o produto da síntese deve ser armazenado em temperaturas
baixas, 4°C, para a inibição da perda de fotoluminescência.10,16 Uma rota de síntese para
nanocristais de ZnS foi descrita por J. Li.1 usando um método de precipitação. Este método,
embora mais facilmente reprodutível e com formação de maior massa de ZnS, sintetiza
nanomateriais
cristalinos
com
tamanhos
menos
homogêneos
e
maiores,
não
fotoluminescentes, fato este que restringe sua aplicação. Os PQs de ZnS se mostram foco
em estudos de fotocatálise devido à rápida geração do par elétron-buraco por fotoexcitação
e potenciais de redução altamente negativos dos elétrons, o que leva a estes materiais
possuírem propriedades fotocatalíticas eficazmente superiores.18 Uma desvantagem
relevante do material em fotocatálise é que por possuir band gap largo, os PQs de ZnS
trabalham somente sob irradiação de luz ultravioleta, assim como o TiO2.19 Outra
desvantagem é a aglomeração e crescimento rápido das partículas após a atividade
fotocatalítica, fazendo com que o material perca a maior parte de seus sítios fotocatalíticos.
Logo, são necessárias mais pesquisas sobre estes materiais para uso em escala industrial
quando comparados ao TiO2. 20
O mecanismo de fotocatálise utilizando ponto quântico de ZnS como fotocatalisador
é semelhante aos demais utilizando o corpo massivo de nanomateriais semicondutores,
independente do ligante utilizado, uma vez que este afeta especialmente o tamanho dos
PQs e a estabilidade dos mesmos em água. Entretanto, a diferença entre as relações
área/volume dos dois tipos de materiais é que define a eficiência do mecanismo.21
8 Monografia de TCC – Química – Bacharelado – UFSJ - 2015 2. Procedimento Experimental
2.1. Síntese de nanopartículas de ZnS via síntese por precipitação.
As nanopartículas de ZnS via precipitação foram sintetizadas em meio aquoso sob
agitação constante, temperatura ambiente e ausência de atmosfera inerte, de acordo com o
procedimento sugerido na literatura.1 Foram adicionados em um béquer de 150 mL, 50 mL
de água destilada e 1,55 g de EDTA (ácido etilenodiamino tetra-acético, Vetec), até
completa dissolução. Logo em seguida, 1,095 g de Zn(Ac)2 dihidratado, Sigma-Aldrich,
foram adicionados lentamente com posterior ajuste do pH para 7 utilizando solução NH4OH
(28-30%, Sigma-Aldrich). Então, 50 mL de solução 0,1 molL-1 de Na2S.9H2O (Sigma-Aldrich)
foram adicionados e o sistema foi mantido por 10 min sob agitação e por aproximadamente
60 min em descanso, para a formação das nanopartículas. O precipitado branco formado,
constituído de nanocristais de ZnS, foi lavado várias vezes com água destilada e seco a
110°C por 24 h e armazenado a temperatura ambiente.
2.2. Síntese das nanopartículas de ZnS via síntese coloidal.
As nanopartículas coloidais de ZnS foram sintetizadas em meio aquoso e a
temperatura ambiente em balão de fundo redondo de 50 mL, sob constante agitação e
atmosfera de argônio.15 As soluções dos precursores foram feitas de modo a se obter
solução 0,16 molL-1 de Zn(NO3)2 partindo do reagente padrão analítico da Sigma-Aldrich
hexahidratado e solução 0,02 molL-1 de Na2S padrão analítico Sigma-Aldrich nonahidratado.
Primeiramente, 40 mL de água destilada foram adicionados ao balão juntamente com 30 µL
do ligante MPA (ácido mercaptopropiônico, Sigma-Aldrich), com agitação. Após 5 min foram
adicionados 2,0 mL da solução de Zn(NO3)2 lentamente e o pH foi ajustado para 12
utilizando solução de NaOH 2,0 molL-1. Logo em seguida, o sistema foi ajustado a fim de
fornecer atmosfera de argônio sob constante agitação. Após 10 min, 4,0 mL da solução de
Na2S foram adicionados rapidamente pelo septo de borracha com auxílio de uma seringa
descartável, e, então, mais 6,0 mL de solução de Zn(NO3)2 foram adicionados lentamente,
também pelo septo de borracha. A agitação foi desligada, porém a atmosfera de argônio foi
mantida por 30 min para a formação dos nanocristais.
Para a obtenção do pó do ponto quântico sintetizado, centrifugou-se a amostra e
retirou-se o sobrenadante. O PQ de ZnS depositado no fundo do tubo de centrifugação foi
então levado à estufa por 12 horas a 50º C. Depois de seco, o material foi macerado e
armazenado para posterior análise.
9 Monografia de TCC – Química – Bacharelado – UFSJ - 2015 2.3. Caracterização das nanopartículas.
As nanopartículas foram caracterizadas por um conjunto de técnicas físicas descritas a
seguir.
2.3.1. Espectroscopia Vibracional na Região do Infravermelho
Os espectros na região Infravermelho foram obtidos após aplicação da transformada de
Fourier (IVTF) de interferogramas em um espectrômetro Perkin Elmer, modelo GXI,
operando na região entre 4000 e 400 cm-1. Para registro dos espectros de IVTF, utilizou-se o
método de transmissão convencional com pastilhas de KBr contendo as amostras em teores
não maior que 1% em massa com auxílio de uma prensa hidráulica usando-se 10 torr de
pressão de compactação.
2.3.2. Difração de Raios X
Os difratogramas de raios X (DRX) foram obtidos em um difratômetro Schimadzu,
modelo XRD-6000. Durante as medidas, o equipamento operou com radiação CuKα (λ=
1,541838 Å), gerada a 30 kV e corrente de 30 mA, com passos de 0,02° durante 3h, na faixa
de varredura 2θ entre 10° e 70°.
A Equação de Scherrer (Equação 11) foi utilizada para calcular o tamanho de
diâmetro dos nanocristais de ZnS sintetizados pelo método de precipitação:
(Equação 11)
sendo que D é o diâmetro dos nanocristais, λ é o comprimento de onda da radiação CuKα,
é a largura a meia altura e θ é o ângulo de reflexão utilizado (radianos).
2.3.3. Espectroscopia de absorção UV-Vis
Os espectros de absorção na região UV-Visível foram feitos em um UV-2550 adquirido
da Schimadzu, de duplo feixe, equipado com lâmpadas de deutério e iodeto de tungstênio.
As medidas foram realizadas na região de 200 a 900 nm, utilizando-se água destilada como
solvente e células de quartzo de 1 cm de caminho óptico.
10 Monografia de TCC – Química – Bacharelado – UFSJ - 2015 2.3.4. Espectroscopia de Fotoluminescência
Os
espectros
de
fotoluminescência
(PL)
foram
registrados
usando
um
espectrofluorímetro Shimadzu, modelo RF-5301PC. Este equipamento é equipado com uma
lâmpada de xenônio de 150 W e a amostra de ZnS Colóide foi excitada em um comprimento
de onda de 310 nm, na região de 330 nm a 700 nm. Para as análises, células de quartzo de
1 cm de caminho óptico (Hellma) foram utilizadas.
2.4. Fotocatálise de corantes orgânicos
Soluções dos corantes Acid Red 114, Rodamina 6G e Eosina Y, na concentração de
10 mgL-1 foram preparadas e 75 mL das mesmas foram utilizados em cada estudo de
fotocatálise. Três fotocatalisadores foram utilizados: TiO2 P25 Degussa (comercial), ZnS
sintetizado por via coloidal e ZnS sintetizado via precipitação. A massa de fotocatalisador
utilizada na fotocatálise variou dependendo da necessidade e do tipo de nanopartícula,
sendo que foram utilizados 5 mg de TiO2 e de ZnS Precipitado, enquanto que o ZnS Colóide
foi utilizado em suspensão aquosa: 20 mL de solução 3,2 mmolL-1 do material . Em um
reator de 100 mL com sistema de refrigeração a água, as soluções dos corantes foram
adicionadas com o fotocatalisador. O sistema foi deixado sob constante agitação e luz
ultravioleta, fornecida por uma lâmpada de mercúrio de 125 W, com uma distância de 25 cm
da lâmpada à base do reator. Alíquotas da solução foram retiradas antes da exposição à luz
(0 min) e após a exposição em 10 min, 30 min, 1 h e a cada hora até que ocorresse total
descoloração da amostra (absorbância zero no comprimento máximo de absorção). As
alíquotas foram centrifugadas, para separação do fotocatalisador, e analisadas em
espectrofotômetro UV-Vis Shimadzu UV-2550, no comprimento de onda de máxima
absorção de cada corante, previamente determinado.
O decréscimo na absorbância das soluções de corante refletem as porcentagens de
descoloração das amostras (% Descoloração), calculadas por meio da Equação 12.11
% Descoloração =
(Equação 12)
11 Monografia de TCC – Química – Bacharelado – UFSJ - 2015 3. Resultados e Discussão
3.1. Síntese das nanopartículas de ZnS
Na síntese dos nanocristais de ZnS por método de precipitação, o EDTA foi o
responsável por conferir homogeneidade de tamanhos e evitar a aglomeração dos
nanocristais, sendo que, de acordo com J. Li.1, em ausência de EDTA, é formado o corpo
massivo (bulk) hidrofóbico do ZnS. Quando o sulfeto de sódio é inserido no sistema, os íons
sulfeto iniciam uma competição com o EDTA complexado ao Zinco. Como o ZnS é mais
estável em solução aquosa que o complexo Zn-EDTA, o ligante é substituído pelo S2-. O
EDTA é então adsorvido na superfície do ZnS Precipitado, conferindo a ele hidrofilicidade
devido ao grupo presente –COOH. Como o EDTA age somente como complexante, o pó
branco de ZnS obtido é lavado a fim de remover o EDTA remanescente e passa por
tratamento térmico a 100 °C, fato determinante à formação dos cristalitos do material.
Na síntese dos PQs de ZnS, por método coloidal, foi utilizado o ligante MPA na
proporção 4:4:1 (MPA : Zn(NO3)2.6 H2O : Na2S.9 H2O) a fim de conferir solubilidade em
água aos nanocristais e evitar a aglomeração dos mesmos. A proporção escolhida já foi
reportada por H. Li.15 como eficiente na obtenção de pontos quânticos de tamanhos
homogêneos e boa luminescência. A síntese descrita resulta em uma suspensão coloidal
altamente estável com partículas de tamanhos homogêneos, altamente solúveis. A
aplicação do material sintetizado da forma em que foi descrito por H. Li.15 resultaria em
sistema de fotodegradação catalítica homogênea.
De forma a tornar o ZnS Colóide mais aplicável ao processo de fotocatálise,
parâmetros de síntese foram modificados a fim de que fosse possível separar a suspensão
coloidal de ZnS do sistema por meio de centrifugação, sem interferir nas soluções dos
corantes, uma vez que as mesmas foram analisadas por espectroscopia ultravioleta-visível
para acompanhamento da degradação. Observou-se que a velocidade de adição do
precursor de zinco e de excesso do mesmo nas partes finais da síntese eram parâmetros
essenciais na definição da estabilidade da suspensão coloidal. Após o aumento da
velocidade de adição do precursor de zinco e o acréscimo de 6 mL de excesso do mesmo,
foi obtida uma suspensão com partículas de tamanho homogêneo, solúvel, levemente turva
e que possibilitava sua separação utilizando apenas a centrífuga por 15 min em rotação
máxima. Quando o material pode ser aplicado, percebeu-se que a separação era suficiente
para não haver interferência nas análises de espectroscopia uv-vis das soluções de corante
utilizadas na fotocatálise.
12 Monografia de TCC – Química – Bacharelado – UFSJ - 2015 3.2. Caracterização das nanopartículas de ZnS
3.2.1. Espectroscopia Vibracional na Região Infravermelho
A Figura 6 apresenta os espectros de infravermelho dos PQs de ZnS sintetizados via
coloidal e dos nanocristais de ZnS sintetizados por precipitação. Como pode ser observado,
os espectros são caracterizados principalmente pelas bandas dos grupos carboxilato do
ligante MPA e do complexante EDTA, uma vez que as sínteses ocorrem em pH alcalino
(coloidal) e neutro (precipitação). No espectro de infravermelho do PQ de ZnS Colóide há o
aparecimento de duas bandas relativas aos grupos carboxilato, sendo que a banda formada
em 1565 cm-1 relativa ao estiramento assimétrico de ânions carboxilato, enquanto a banda
em 1385 cm-1 é relativa ao estiramento simétrico. No espectro de infravermelho dos
nanocristais de ZnS sintetizados por método de precipitação, há o aparecimento de apenas
uma banda discreta, característica de ácido carboxílico em 1620 cm-1, devido à pequena
quantidade remanescente de complexante, o que justifica a menor solubilidade do material
em água quando comparado ao ZnS Colóide. Outro fato a ser observado é a ausência de
banda em 2555 cm-1, relativa ao estiramento S-H no espectro do ZnS Colóide, o que indica
que o ligante pode estar ligado à superfície dos nanocristais pelo enxofre.
1620
Transmitância ( %)
ZnS Precipitado
ZnS Colóide
O -­‐H
1565
1385
4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000
500
-1
Número de onda ( cm )
Figura 6. Espectros infravermelho dos PQs de ZnS sintetizados via coloidal e dos
nanocristais de ZnS sintetizados por precipitação.
13 Monografia de TCC – Química – Bacharelado – UFSJ - 2015 3.2.2. Difração de raios X
A Figura 7 apresenta os difratogramas de raios X do ZnS obtido por precipitação,
bem como do ZnS Colóide. É possível observar que o ZnS obtido por precipitação apresenta
picos de difração nos planos (111), (220) e (311), típicos de estrutura cúbica de blenda de
zinco (JCPDS 05-0566). Além disso, o ZnS sintetizado por precipitação se mostrou muito
mais cristalino que o ZnS Colóide. A principal razão deste fato é que o ZnS sendo formado
por partículas coloidais apresenta poucos planos cristalinos para difração, tornando o sinal
pouco intenso e alargado. O tamanho das nanopartículas de ZnS sintetizadas por método
de precipitação foram estimados utilizando a Equação de Scherrer, sendo que as variáveis
foram obtidas por meio do difratograma de raios X, representado na Figura 7. O diâmetro
encontrado foi 252 nm para o ZnS Precipitado.
ZnS Colóide
ZnS Precipitado
10
Inte ns ida de
(ua )
(1 1 1 )
(2 2 0 )
(3 1 1 )
20
30
40
50
60
70
2 θ (°)
Figura 7. Padrões de difração de raios X do ZnS obtido via síntese coloidal e do ZnS obtido
por precipitação.
O padrão de difração de raios X do ZnS obtido por precipitação se assemelha ao
padrão de difração do material obtido descrito no artigo original de Li et al.1, representado na
Figura 8, o qual está com a posição dos planos (311) e (111) trocados em relação à
atribuição da ficha JCPDS 05-0566.
14 Monografia de TCC – Química – Bacharelado – UFSJ - 2015 Figura 8. Padrão de difração de raios X do ZnS obtido por precipitação do artigo original
desenvolvido por Li et al.1
3.2.3. Espectroscopia de absorção UV-Vis
A Figura 9 apresenta os espectros de absorção óptica no ultravioleta-visível dos dois
materiais sintetizados.
b)
ZnS Colóide
( logo após a síntese)
ZnS Colóide
( 24 h após a síntese)
ZnS Precipitado
1 ,5
1 ,2
3 0 2 nm
0 ,9
A bs orbâ nc ia
a)
0 ,6
c)
3 0 2 nm
0 ,3
0 ,0
2 9 6 nm
250
300
350
400
450
C om prim e nto de onda (nm )
Figura 9. a) Espectros de absorção óptica (UV-Vis) do ZnS obtido por precipitação e do ZnS
obtido via coloidal em dois tempos distintos, logo após e 24 h após sua síntese; b) esquema
do ZnS Colóide com o ligante de superfície MPA; e c) esquema da estrutura cristalina do
ZnS Precipitado (método de precipitação).
15 Monografia de TCC – Química – Bacharelado – UFSJ - 2015 Como pode ser observado na Figura 9, duas análises de absorção óptica foram
realizadas para o ZnS Colóide: a primeira (curva em verde no gráfico da Figura 9) foi
realizada logo após a síntese, enquanto que a segunda (curva em azul do mesmo gráfico)
foi realizada 24 h após a síntese. O espectro do material logo após a síntese não apresenta
ombros (inflexões) ou bandas característicos, sugerindo assim que logo após a síntese não
há ainda total formação das nanopartículas.
Observa-se que o ZnS Precipitado apresenta um espectro com uma banda bem
definida com absorção máxima em 302 nm, enquanto que o espectro relativo ao ZnS
Colóide (analisado 24 h após a síntese) apresenta um ombro, característico de pontos
quânticos coloidais. Para a confirmação do comprimento de onda de máximo absorção do
ZnS Colóide foi realizado tratamento dos dados por meio de ajuste à função distribuição de
Cauchy-Lorentz, conforme a Equação 13:
(Equação 13)
sendo que y0 é um termo de ajuste da equação (foi utilizado y0=0), w é a raiz quadrada da
largura a meia altura, xc é o valor de comprimento de onda para a absorção máxima (centro
da Lorentziana), A é a área do pico e x e y são as variáveis da equação.
A parte do espectro na qual o “ombro” é formado é definida como tendo três picos,
isto é, três Lorentzianas, e o comprimento de onda de máximo de absorção encontrado foi
296 nm. O ajuste do pico de interesse está representado na Figura 10, sendo que a curva
em azul é relativa ao espectro do ZnS Colóide, a curva em vermelho representa o ajuste, a
curva em verde é a Lorentziana relativa ao ombro obtido no espectro e as curvas cinzas
representam as demais Lorentzianas. O alto coeficiente de correlação (R2=0,99961) justifica
a sobreposição da curva do ajuste à do espectro. De acordo com Kumar et al.22, o
deslocamento do máximo de absorção para maiores comprimentos de onda pode ser
justificado pelo aumento do tamanho do cristal quando o ZnS é sintetizado com proporções
menores de ligante, como na síntese do ZnS pelo método de precipitação, fato já
comprovado pelo espectro infravermelho (Figura 6).
16 Monografia de TCC – Química – Bacharelado – UFSJ - 2015 Z nS
C oloidal
C O D (R ^2)
0,99961
R educedC hi 1,28632E -­‐5
0,6
296 nm
0,4
Absorbância
0,8
0,2
0,0
250
300
350
400
Comprimento de onda ( nm)
Figura 10. Espectro Uv-Vis do ZnS Colóide com ajuste de Cauchy-Lorentz, destacando a
curva verde referente ao ajuste e a curva vermelha referente ao espectro ajustado.
De acordo com Wang et al.23, a absorção do TiO2 na região uv-vis ocorre em 350400 nm, em comprimento de onda maior que absorção dos materiais sintetizados. Logo,
supõe-se que a atividade fotocatalítica do ZnS Colóide e do ZnS Precipitado é reduzida sob
radiação solar, uma vez que a absorção do TiO2 na região de maior comprimento de onda,
está mais alinhada com a maior intensidade de luz solar nesta região, quando comparada
com a absorção observada para o ZnS. Assim, a comparação direta de resultados
fotocatalíticos obtidos com TiO2 ou ZnS devem ser analisadas levando-se em consideração
as regiões de absorção dos materiais.
3.2.4. Espectroscopia de Fotoluminescência
O espectro de fotoluminescência do ZnS Colóide está apresentado na Figura 11.
Pode ser observada a banda de emissão em 395 nm, correspondente à faixa do violeta-azul
do espectro eletromagnético. A fotoluminescência não é característica dos nanocristais de
ZnS sintetizados por método de precipitação, devido ao seu maior tamanho.
17 Monografia de TCC – Química – Bacharelado – UFSJ - 2015 395 nm
400
300
ZnS Colóide
200
F otolum ine s c ê nc ia (ua )
500
100
470 nm
0
400
480
560
640
C om prim e nto de onda (nm )
Figura 11. Espectro de Fotoluminescência do PQ ZnS Colóide, quando excitado em 310
nm, descontando o espectro de espalhamento Raman da água quando excitada nesse
mesmo comprimento de onda.
Sugere-se que a emissão em 395 nm do ZnS Colóide, quando excitado em 310 nm,
é relativa a transições eletrônicas da banda de condução à banda de valência ocorridas
devido ao zinco intersticial, que se acomoda entre os sítios ocupados dos cristais, e à
deficiência de enxofre. Este fato pode ser justificado pelo excesso do precursor de zinco
adicionado na síntese. A inflexão discreta apresentada no espectro em 470 nm ocorre
devido a defeitos de superfície do material. Uma vez que o íon do enxofre é muito maior
quando comparado ao zinco, íons de enxofre intersticiais gerariam defeitos de superfície em
maior proporção, o que justifica a adição do excesso do precursor de zinco. 24
Uma série de fatores (como o tipo de ligante utilizado na síntese e a cristalinidade do
material) deve ser considerada a fim de se obter uma relação entre a capacidade
fotocatalítica e a fotoluminescência do semicondutor nanocristalino, não sendo possível
então, ser obtida uma correlação um-para-um entre ambas.25 Porém, supõe-se que a
fotoluminescência seja resultado de uma série de recombinações eletrônicas, podendo
então diminuir a capacidade do material em produzir o par elétron-buraco, responsável pela
ativação do fotocatalisador. Entretanto, não se sabe do comportamento destes fótons na
superfície do catalisador quando em presença de compostos orgânicos disponíveis para
degradação.
18 Monografia de TCC – Química – Bacharelado – UFSJ - 2015 3.3. Fotocatálise de corantes orgânicos
Os nanomateriais sintetizados foram aplicados na fotocatálise de corantes orgânicos
a modo de verificar a atividade fotocatalítica e a capacidade de adsorção de cada material.
Para o acompanhamento da degradação dos corantes em função do tempo, foram feitos
espectros independentes de absorção Uv-vis dos corantes utilizados, Rodamina 6G, Eosina
Y e Acid Red 114, a fim de definir o comprimento de onda de máxima absorção dos
mesmos. Os espectros estão representados na Figura 12.
2 ,4
5 1 8 nm
0 ,1 6
0 ,0 8
0 ,0 0
200
400
600
800
C om prim e nto de onda (nm )
b)
5 2 7 nm
1 ,6
0 ,8
A bs orbâ nc ia
Absorbância
0 ,2 4 a )
0 ,0
200
400
600
800
C om prim e nto de onda ( nm )
c)
5 1 7 nm
0 ,6
A bs orbâ nc ia
0 ,9
0 ,3
0 ,0
200
400
600
800
C om prim e nto de onda (nm )
Figura 12. Espectros de absorção dos corantes a) Acid Red 114 b) Rodamina 6G c) Eosina
Y, destacando-se o comprimento de onda de máxima absorção de cada um deles.
Após definir-se os comprimentos de onda de máxima absorção como 518 nm, 527
nm e 517 nm para Acid Red 114, Rodamina 6G e Eosina Y, respectivamente, a degradação
dos corantes foi realizada por meio de fotocatálise, sob radiação ultravioleta, utilizando TiO2
(Degussa) e os nanocristais de ZnS sintetizados pelas duas rotas, como fotocatalisadores.
As Figuras 13, 14 e 15 apresentam os gráficos da degradação dos corantes em função do
tempo de fotocatálise.
19 Monografia de TCC – Química – Bacharelado – UFSJ - 2015 80
60
Fotólise
Fotocatálise TiO2
40
% Descoloração
100
Fotocatálise ZnS Colóide
Fotocatálise ZnS Precipitado
0
0
30
60
90
120
250
T e m po (m in)
Figura 13. Gráfico da degradação do corante Acid Red 114.
80
60
40
Fotólise
Fotocatálise TiO2
20
Fotocatálise ZnS Colóide
Fotocatálise ZnS Precipitado
% Descoloração
100
0
0
200
400
600
800
T e m po (m in)
Figura 14. Gráfico da degradação do corante Rodamina 6G.
20 Monografia de TCC – Química – Bacharelado – UFSJ - 2015 80
60
40
Fotólise
Fotocatálise TiO2
20
Fotocatálise ZnS Colóide
Fotocatálise ZnS Precipitado
% Descoloração
100
0
0
70
140
210
280
350
T e m po (m in)
Figura 15. Gráfico da degradação do corante Eosina Y.
Observa-se que a descoloração total das soluções possuem tempos bem distintos
para cada um dos corantes. A degradação do Acid Red 114 é mais rápida que a da Eosina
Y que por sua vez acontece mais rapidamente que a da Rodamina 6G. Esta diferença é
justificada por vários aspectos característicos de cada molécula de corante, principalmente
pela ligação responsável pela transição a qual define a coloração do corante. Supõe-se,
portanto, que os grupos cromóforos (responsáveis pela coloração) do Acid Red 114 sejam
menos estáveis sob radiação ultravioleta que dos demais corantes, sendo que os grupos
cromóforos da Rodamina 6G são os menos afetados pela radiação.
Pode-se constatar que o fotocatalisador padrão TiO2 Degussa continua sendo o
fotocatalisador com maior capacidade de aumento da velocidade de degradação total de
todos os corantes utilizados, uma vez que na presença deste fotocatalisador, há
descoloração total das soluções de corante em menos tempo do que quando são utilizados
os demais materiais. A maior capacidade fotocatalítica do TiO2 pode ser justificada pelo fato
da radiação ser melhor aproveitada por este material quando comparado aos materiais
sintetizados, uma vez que possui absorção na região uv-vis em maiores comprimentos de
onda.23 Porém, pode ser observado que a adsorção dos corantes no ZnS Colóide é mais
rápida e efetiva do que nos demais fotocatalisadores. Este fato pode ser justificado pela
maior área superficial, característica de pontos quânticos, que é fator determinante e
proporcional à capacidade do fotocatalisador de adsorver os contaminantes. Outro fator
relevante seria a solubilidade do ZnS Colóide em água, que se mostra superior à do ZnS
Precipitado sintetizado por precipitação.
21 Monografia de TCC – Química – Bacharelado – UFSJ - 2015 A fim de comprovar que ocorria, de fato, a fotocatálise, foram feitos ensaios de
fotólise, nos quais não há a presença do fotocatalisador. Os tempos de fotólise foram
maiores do que os tempos de fotocatálise para todos os corantes fazendo-se uso dos
fotocatalisadores em estudo, exceto na degradação da Rodamina utilizando ZnS Colóide
como fotocatalisador. Este fato pode ser justificado pela instabilidade e possível agregação
das nanopartículas de ZnS Colóide sob radiação ultravioleta, após um longo período de
tempo, como é no caso da degradação da Rodamina. A presença de partículas maiores de
ZnS sem atividade fotocatalítica no sistema diminuiu a incidência de fótons no mesmo e
impediu a ocorrência de reações de fotólise, que possivelmente levariam à descoloração
total da solução de Rodamina.
4. Conclusões
Neste trabalho foram obtidos satisfatoriamente dois materiais: nanopartículas de ZnS
por síntese coloidal e nanocristais de ZnS por método de precipitação. A caracterização dos
nanomateriais apresentou resultados característicos, já reportados na literatura. O ZnS
Colóide apresenta absorção máxima em comprimento de onda de 296 nm, alta
fotoluminescência na região violeta-azul do espectro eletromagnético, boa solubilidade em
água (devido ao ligante MPA), alta área superficial e considerável atividade fotocatalítica. Já
o ZnS obtido por método de precipitação, é um material com alta cristalinidade do tipo
cúbica blenda de zinco, com absorção máxima em 302 nm, não-fotoluminescente, com
solubilidade em água intermediária (proporção pobre entre as nanopartículas e a quantidade
de ligante utilizado) e atividade fotocatalítica razoável. Afirma-se existir atividade
fotocatalítica nos materiais devido à diminuição do tempo total de descoloração das
soluções quando comparado ao processo de fotólise. Dentre os corantes analisados, a
Rodamina 6G apresentou maior resistência ao processo fotocatalítico enquanto que o Acid
Red 114 foi mais facilmente degradado. Com isso pode-se verificar que foram desenvolvidos
nanomateriais ambientalmente amigáveis capazes de realizar remediação de efluentes
contaminados por corantes orgânicos.
22 Monografia de TCC – Química – Bacharelado – UFSJ - 2015 5. Referências Bibliográficas
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