APRESENTAÇÃO DA CURADORIA DA INDÚSTRIA LÍTICA DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO RAGIL II1 Jokasta Aparecida Valezi [email protected] Aluna de graduação em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnlogia/Unesp, Presidente Prudente Bolsa PROEX BAE II Neide Barrocá Faccio [email protected] Profa. Dra. do Departamento de Planejamento e Urbanismo Faculdade de Ciências e Tecnologia/Unesp, Presidente Prudente Juliana Aparecida Rocha Luz [email protected] Pesquisadora do Laboratório de Arqueologia Guarani Faculdade de Ciências e Tecnologia/Unesp, Presidente Prudente. INTRODUÇÃO Neste trabalho, apresentamos o material proveniente do Sítio Arqueológico Ragil II, localizado na Fazenda Ragil, no Município de Iepê, Estado de São Paulo, nas proximidades da nascente do Córrego ou Água do Caracol, no Baixo curso do Rio Paranapanema. Essa pesquisa está inserida no Projeto Paranapanema (PROJPAR), criado e inicialmente coordenado pela Profa. Dra. Luciana Pallestrini. A partir de 1987, o projeto passou a ser coordenado pelo Prof. Dr. José Luis de Morais, diretor do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE/USP). O desenvolvimento do PROJPAR garantiu “um amplo leque de dados significativos à Arqueologia Brasileira, decorrente da multiplicidade dos seus enfoques, relacionados a uma linha de ação interdisciplinar”, conforme palavras de Morais (2007, p.20). Os objetos líticos estão associados à importância e ao conhecimento da cultura material das populações pré-históricas regionais, contextualizando o seu modo de vida com a organização social e a relação com o território que ocuparam. Conforme definido por Morais (2007) “o aproveitamento das rochas de um determinado ambiente por populações pré-históricas deixa, como vestígios, artefatos diversos representativos de suas indústrias líticas” (MORAIS, 2007, p. 45). A escolha e a aquisição da matéria-prima são etapas importantes dentro da cadeia operatória, como relata Hoeltz (2005): 1 Eixo Temático: Geografia Ambiental e da Saúde. 1 é muito mais abrangente do que possa parecer e dir-se-ia, até, uma das principais categorias dentre os estágios de uma cadeia operatória. Sendo a matéria-prima o objeto fundamental da produção, facilmente admite-se que inúmeras variáveis podem exercer influência nas „estratégias‟ adotadas por um grupo quando na sua obtenção (HOELTZ, 2005, p. 108). Hoeltz (2005) apresenta os estágios que integram o estudo de uma cadeia operatória, como: aquisição da matéria-prima, sequência de lascamento, gerenciamento ou uso, manutenção e descarte dos instrumentos. Para a realização de estudos sobre as indústrias líticas, segundo Garcia (2010), são apontados pelo menos dois métodos gerais, sendo o primeiro o método tipológico, mais tradicional, e o segundo o método tecnológico. Ainda de acordo com Garcia (2010), o método tecnológico “é o menos conhecido e que busca a operacionalização processual da Cadeia Operatória de confecções de instrumentos” (GARCIA, 2010, p. 37). Fogaça (2001) faz uma comparação entre o estudo tecnológico e tipológico, analisando que, na perspectiva tipológica, o objeto lítico terá sempre e: (...) necessariamente um caráter funcional(ista), redundado pela nomenclatura normalmente enquanto que estudos tecnológicos (entendidos como mais “minuciosos”, “detalhistas” ou “especializados”) assumiriam um papel posterior visando o detalhamento dos grandes painéis previamente construídos (FOGAÇA, 2001, p. 123-124). Assim, apresentamos os resultados da curadoria da indústria do lítico lascado do Sítio Arqueológico Ragil II e, na sequência da pesquisa, será realizada uma análise tecnológica numa perspectiva de reconstituição da cadeia operatória de produção dos objetos líticos. DESENVOLVIMENTO: ANÁLISE DA CURADORIA DA INDÚSTRIA LÍTICA DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO RAGIL II A curadoria correspondeu à numeração, organização e identificação de 205 peças líticas lascadas, de acordo com a sua distribuição na área do sítio. Dessa forma, os objetos líticos foram classificados segundo os critérios estabelecidos por Fogaça (2001) e Viana (2005): a análise dos suportes transformados, análise dos núcleos, e análise das lascas e dos detritos de lascamento (resíduos-subprodutos da fabricação de instrumentos). Para a descrição das peças 2 foram utilizadas, de acordo com o citado por Fogaça (2001), as rotinas analítico-descritivas para cada categoria tecnológica analisada, as quais se diferenciam nos seguintes aspectos: O valor informativo da categoria: privilegiará o investimento no exame detalhista, na descrição e na interpretação dos atributos tecnológicos dessa categoria (...) o estado de conservação do material de cada categoria: tanto os núcleos quanto os instrumentos elaborados, sofreram alterações térmicas menos intensas, e pode reconhecer o mesmo conjunto de atributos em cada objeto individualmente analisado. Enquanto que os resíduos de lascas apresentam um percentual considerável de fragmentos diversos e de peças ilegíveis, completamente deformadas pela ação térmica e que permitem uma leitura apenas parcial de atributos (...) a quantidade de peças em cada categoria: o total de peças em cada categoria é significativamente variável e impõe a aplicação de técnicas estatísticas distintas e a necessidade de se analisar coleções completas ou amostragem, estas reúnem exclusivamente peças não totalmente destruídas pelo fogo (FOGAÇA, 2001, p. 168). Cada peça foi identificada quanto à classe, matéria-prima e acidentes, e corresponderam a uma sequência de 205 líticos lascados. Foram classificados nas seguintes classes: bloco fragmentado (5,85%); fragmento de bloco (8,29%); fragmento de lasca (0,49%); fragmento de percutor (0,49%); fragmento de seixo (8,29%); lasca (1,46%); lasca siret (0,49%); núcleo (3,41%); percutor (0,98%); percutor fragmentado (0,98%); resíduo (47,80%); seixo (3,41%); seixo fragmentado (17,56%) e chopper (0,49%). CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir dos dados obtidos pela análise lítica do material encontrado, constatamos que o Sítio Arqueológico Ragil II foi habitado no período pré-colonial por grupos ceramistas da cultura Guarani. Foram produzidas peças simples. Os sinais de queima são uma característica importante na indústria lítica, pois 88% das peças tinham marcas da ação do fogo. Segundo Luz (2006), “os líticos de grupos ceramistas, a princípio, podem parecer irrelevantes, instrumentos de um povo que não dominava a técnica de lascamento” (LUZ, 2006, p. 4). Porém, de acordo com a autora, os líticos lascados podem ser considerados os melhores para as necessidades a que eles serviram. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 3 FOGAÇA, E. Mãos para o pensamento: A variabilidade tecnológica de indústrias líticas de caçadores-coletores holocênicos a partir de um estudo de caso: as camadas VIII e VII da Lapa do Boquete (Minas Gerais, Brasil – 12.000/10.5000 B.P) 2001. 452 f. Tese Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. GARCIA, A. M. As cadeias operatórias de uma indústria tecnológica lítica: Sítio Arqueológico PT-02 (Cerrito da Sotéia), Pelotas-RS. Universidade Federal de Pelotas, Universidade Federal de Pelotas Instituto de Ciências Humanas Departamento de Geografia Licenciatura em Geografia – Pelotas, 2010. GRACE, R. O enfoque “Chaîne opératoire” para análises líticas. 1996. HOELTZ, S. E. Tecnologia Lítica: Uma proposta de leitura para a compreensão das indústrias do Rio Grande do Sul, Brasil, em tempos remotos. Tese de Doutorado – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005. LUZ, J. A. R.; FACCIO, N.B. A pedra lascada dos índios Guarani, pré-históricos, a partir de uma análise tecnológica. Anais do V Encontro do Núcleo Regional Sul da Sociedade de Arqueologia Brasileira-SAB/Sul. Rio Grande do Sul, 2006. MORAIS, J. L. de. Tecnotipologia lítica: a utilização dos afloramentos litológicos pelo homem pré-histórico brasileiro: análise do tratamento da matéria-prima. Erechim, RS: Habilis, 2007. VIANA, S. A. Variabilidade Tecnológica do Sistema de Debitagem e de Confecção dos Instrumentos Líticos Lascados de Sítios Lito-Cerâmicos da Região do Rio Manso/MT. 2005, 348 f., vol. 1 (Tese em Arqueologia) – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. 4