Capítulo 8 Biomagnetismo Cap.8 – Biomagnetismo Introdução Força magnética sobre uma carga em movimento Força magnética sobre um loop de corrente Força magnética sobre um loop de corrente Campo magnético de uma carga em movimento ou corrente Campo magnético de uma carga em movimento ou corrente Campo magnético de uma carga em movimento ou corrente Campo magnético de uma carga em movimento ou corrente Campo magnético de uma carga em movimento ou corrente Campo magnético de uma carga em movimento ou corrente Campo magnético de uma carga em movimento ou corrente O campo magnético ao redor de um axônio • Para este caso, podemos usar a lei de Biot-Savart – Supomos o axônio estendido ao longo do eixo x – Do Cap. 7, lembremos que temos uma corrente ii ao longo do axoplasma, dio através da membrana (inclui a corrente de condução + deslocamento), e corrente no meio externo – Para calcular B, calculamos dB gerado por dio no meio externo devido a um elemento dx do axônio, e integramos ao longo do axônio – No entanto, no Cap. 7 vimos que a corrente no meio externo devida a um pequeno elemento dx flui uniformemente em todas as direções a partir de uma fonte pontual – E agora acabamos de ver que uma fonte pontual de corrente não gera campo magnético. Portanto, na aproximação de que o axônio é muito fino, podemos ignorar a corrente externa de cada elemento dx – Isso vale apenas para meio externo é infinito, homogêneo e isotrópico • Se o meio externo possuir estrutura ou limites, a simetria é quebrada e as correntes externas contribuem para B. O cálculo de B baseado nesta hipótese funciona bem perto do axônio. Distorções do campo devido à corrente externa dado que o axônio não é infinitamente fino são da ordem de 1% perto do axônio. A corrente através da parede da célula dá uma contribuição de ~0.0001% (1 parte em 106). Portanto, a maior contribuição vem de ii O campo magnético ao redor de um axônio • Consideremos (Fig. 8.11): – Ponto de observação: (x0, y0, 0); – Axônio no eixo x: • Portanto B tem a direção z e possui magnitude: dv – Da Eq. (7.3), ii a 2 i i , e ni é quase igual ao potencial n através da dx membrana – A expressão para Bz fica: O campo magnético ao redor de um axônio • Conhecendo ni, é possível calcular Bz numericamente – O campo para o potencial do axônio gigante do lagostim imerso em água do mar (Eq. 7.22) está mostrado na Fig. 8.13 para uma distância 2a do axônio. – Para grandes distâncias, podemos expandir o denominador de (8.12) de forma similar à feita para obter as Eqs. (7.26) e (7.27) – Se o ponto de observação no plano xy é (R, q), temos: R 2 x02 y02 ; x0 R cos q ; y0 R sin q ; r 2 ( x0 x) 2 y02 r 2 R 2 x 2 2 xx0 R 2 x 2 2 Rx cos q . – Portanto: 1 1 r 3 [( x0 x) 2 y02 ]3 / 2 1 x x2 3 R 1 2 cos q 2 R R 3/ 2 O campo magnético ao redor de um axônio • Continuando... considerando que: • Temos, para 1 f (0) 1; (1 bx x 2 ) 3 / 2 3 ( 2 x b) 3b f ' ( x) f ' (0) ; 2 5/ 2 2 (1 bx x ) 2 3b f ( x) 1 x; 2 f ( x) x x R e b 2 cos q 1 1 3x cos q 1 3 3 r R R – Substituindo este último resultado em (8.12): Bz 0 y0 a 2 i 4 [dvi ( x) / dx]dx A dvi ( x) 3 cos q dx r3 R 3 dx R x dvi ( x) dx dx A A 3 R 3 cos q vi ( x2 ) vi ( x1 ) R x2 x1 x dvi ( x) dx . dx u x du dx; – A integral restante pode ser feita por partes, com: dv – Dessa forma: x2 x1 dv ( x) x i dx xvi dx x2 x1 x2 x2 x1 x1 dvi dx v vi . dx vi ( x)dx x2 vi ( x2 ) x1vi ( x1 ) vi ( x)dx O campo magnético ao redor de um axônio • Assim, temos: Bz 0 y0 a 2 i 4R3 3 cos q vi ( x2 ) vi ( x1 ) R x2 x2 vi ( x2 ) x1vi ( x1 ) vi ( x)dx . x1 • Substituindo y0 R sin q temos 0 a 2 i 3 cos q Bz sin q vi ( x2 ) vi ( x1 ) 2 4 R R • x2 x2 vi ( x2 ) x1vi ( x1 ) vi ( x)dx x1 Ou 0 a 2 i 3 cos q Bz sin q v ( x ) v ( x ) i 1 i 2 4 R 2 R x2 x1vi ( x1 ) x2 vi ( x2 ) vi ( x)dx x1 O campo magnético ao redor de um axônio Da Eq.(8.13), podemos comparar com resultados do Cap. 7 Despolarização: desprezamos o 2º. termo, que cai com R3 e consideramos que vi vi ( x1 ) vi ( x2 ) . Assim: a 2 i Bz (R) 0 sin q vi 2 4R Pulso Completo: fazemos vi ( x) vdep ( x) vrest Portanto x2 x1 x1 vrest ( x1 x2 ) vi ( x)dx [vi ( x) vrest ]dx Substituindo em (8.13): 2 a 2 i 3 sin q cos q Bz (R) 0 4R 3 2 Despolarização: 1 a 2 i v(R ) cos q vi o 4R 2 Pulso Completo: vi ( x1 ) vi ( x2 ) vrest x2 Cap. 7: Potencial elétrico externo x2 x1 [vi ( x) vrest ] dx 1 2a 2 i 3 cos 2 q 1 2 v( R ) x [vi ( x) vrest ]dx o 4R 3 2 1 x O magnetocardiograma (MCG) • Para uma célula na origem em um meio condutor homogêneo, o potencial externo num ponto de observação a uma distância r é v(r) pr 4 o r 3 • onde p aponta ao longo da célula (axônio) no sentido do avanço da onda de despolarização e possui magnitude p vi i a 2 • A região de despolarização ocupa apenas da ordem de 1mm na célula. Para calcular o campo magnético produzido por esta num ponto distante (x0, y0, 0), podemos usar a Eq. (8.12) e tirar o denominador da integral, pois este parecerá constante visto de longe . Assim, teremos: 0 y0 a 2 i Bz 4 r 3 • dvi ( x) 0 y0 a 2 i y dx [vi ( x2 ) vi ( x1 )] 0 03 a 2 i vi 3 4 r dx 4 r vi Mas y0 r sin q , portanto py0 pr sin q | p r | , logo: B(r ) • 0 (p r ) 4 r 3 r ( x0 , y0 ,0) Comparando esta equação com a Eq. (7.13), vemos novamente a analogia entre as expressões para B e n. O magnetocardiograma (MCG) • Para modelar o que medimos com o MCG, fazemos primeiro a suposição de que as diferenças em 1/r2 são pequenas (ou seja, que o ponto de medida está distante comparado com a distância entre as células) – Nesse caso, podemos falar do dipolo de corrente total (devido a todas as células) – Considerando o sistema de eixos usado no MCG (figura abaixo) e assumindo que a condutividade do corpo é homogênea e isotrópica, temos para as três componentes de B ao longo da linha (x, 0, z = cte): – Portanto: O magnetocardiograma (MCG) • A Fig. 8.15 (slide anterior) mostra o campo magnético produzido por cada componente (nas direções x, y e z) de um dipolo de corrente situado na origem • É possível medir a componente Bz no plano xy (tórax) (pois ela é perpendicular a este plano) – Plotando no plano xy os contornos para o potencial e para o campo magnético Bz, e levando em conta um dipolo na direção y (p = py ŷ, Fig. 8.15b), temos a Fig. 8.16 – Os contornos de v=cte são proporcionais a pyy/r3, enquanto que os contornos de Bz=cte são proporcionais a –pyx/r3 – Qualquer um desses mapas de contornos pode ser usado para encontrar a localização e profundidade da fonte (p) – Para exemplificar esse ponto, vamos considerar no próximo slide os contornos de Bz O magnetocardiograma (MCG) • Vamos considerar os contornos de Bz: • Este campo muda de sinal sobre a fonte (raiz em x = 0) e possui máximo e mínimo em: • Ou seja, para x • A profundidade z da fonte está relacionada ao espaçamento x (que pode ser medido a partir de um gráfico como o da Fig. 8.16b) ao longo do eixo x entre o máximo e o mínimo de Bz: z , Bz é: 2 x z z 2z x z 2 2 2 2 O magnetocardiograma (MCG) • A fonte (p) está posicionada exatamente sob o ponto no eixo x, onde Bz = 0, e sua intensidade (py) está relacionada ao valor máximo de Bz por: • ou seja, py 6 3 z 2 Bz max 0 • Portanto, dado um gráfico de medidas de Bz como o da Fig. 8.16b, podemos medir a distância x entre o máximo e o mínimo, e o valor máximo Bzmax, e saberemos então que há um dipolo de corrente ao longo do eixo y em (0, 0, x/√2 ), de intensidade dada por py acima • Poderíamos ter chegado a um resultado similar usando as medidas de v como no gráfico da Fig. 8.16a O magnetocardiograma (MCG) • Na realidade, as formas de v e Bz diferem um pouco do modelo apresentado (a Fig. 8.17 mostra um exemplo real de B à esquerda e v à direita): – v na superfície é distorcido pela variação de condutividade ao longo do tórax; – B é afetado por correntes de retorno que fluem logo abaixo da superfície torácica; – B próximo ao coração é afetado pela anisotropia da condutividade do tecido. – Os exames de MCG apenas se tornaram factíveis com o desenvolvimento dos SQUIDs (ver Seção 8.9). O magnetoencefalograma (MEG) • Os sinais magnéticos de um potencial de ação em um nervo são mais fracos que os do coração por dois motivos: 1. O vetor dipolo de corrente da repolarização vem logo atrás do da despolarização e reduz o campo; 2. A seção transversal da frente de onda que avança é muito menor. • No entanto, potenciais de ação foram medidos em nervos, músculos e algas verdes (referências no livro) • As células nervosas possuem dendritos (entrada), soma (corpo) e axônio (saída). O sinal que se propaga através da sinapse pelos dendritos até o soma (potencial pós-sináptico) é bem menor (~10mV) e mais longo (~10ms) que o potencial de ação (ou potencial pré-sináptico) que se propaga no axônio (~110mV e ~1ms). • As células na superfície do córtex cerebral possuem dendritos perpendiculares a esta que são como o tronco de uma árvore, com galhos de várias direções chegando até o tronco. O sinal do “tronco” (dendritos) é a principal contribuição ao MEG e ao EEG. Ou seja, o campo magnético associado com o aumento do potencial pós-sináptico é mais bem observado fora do cérebro do que o potencial de ação (ou potencial pré-sináptico) O magnetoencefalograma (MEG) • As linhas de B ao redor de um dipolo de corrente p (em um meio condutor esfericamente simétrico) circundam o dipolo formando uma esfera ao redor deste, como mostrado na Fig. 8.19 – não há componentes de B radiais (ou perpendiculares à superfície da esfera). – Portanto o MEG é mais sensível para detectar atividade nas fissuras do córtex (sulcos/giros), onde o “tronco” dos dendritos pós-sinápticos é perpendicular à superfície da fissura (e portanto, paralelo à superfície do escalpo – isso resulta em componentes de B que atravessam o escalpo perpendicularmente, e são medidas mais facilmente que componentes paralelas ao escalpo). O magnetoencefalograma (MEG) • Como o crânio não é uma esfera perfeita, há um pouco de efeito de componentes radiais de p no MEG. O EEG é sensível tanto às componentes radiais quanto às tangenciais • Medidas de MEG geralmente se baseiam em respostas evocadas, nas quais um estímulo é apresentado repetidamente ao indivíduo, ou é pedido que este execute uma tarefa repetidamente. Os aparelhos de MEG também usam SQUIDs (veremos mais sobre isso à frente) Indução Eletromagnética • Em 1831, Faraday descobriu que um campo magnético que varia faz com que flua uma corrente num circuito envolvido por esse campo. A lei da indução de Faraday é dada por: • Isto é, a integral de linha de E num circuito fechado é igual ao negativo da variação de fluxo magnético F através de qualquer superfície delimitada pelo circuito. O sentido (sinal) de S é obtido a partir do circuito pela regra da mão direita. As unidades de F são T/m2 • A forma diferencial de (8.19) é • Temos tb a Lei de Ampère: Indução Eletromagnética • A forma integral (8.19) serve para determinar E somente se a simetria for tal que E é sempre paralelo a ds e possui a mesma magnitude ao longo do caminho – Ex.: Anel circular condutor no plano xy centrado na origem com raio a e normal apontando na direção ẑ, com campo B na mesma direção e que só depende do tempo: B(x, y, z, t) = B(t) (Fig. 8.21). – Pela simetria do problema, E deve possuir a mesma magnitude em qualquer lugar e ser tangente ao anel. Da Eq. (8.19): E 2 a – Se o material do anel obedece à lei de Ohm, aparecerá neste uma corrente j E – dB 2 a dB a E dt 2 dt a dB 2 dt Se o raio da seção reta do fio condutor for b, então ab 2 dB 2 i jb 2 dt Indução Eletromagnética • Se a variação de B for positiva, a corrente terá a direção mostrada na Fig. 8.21 • Essa corrente, por sua vez, gerará um campo magnético que se opõe à variação do B que a produziu. Este efeito é conhecido como lei de Lenz (se isto não ocorresse, a corrente induzida aumentaria infinitamente) Exemplos: • Eddy currents (correntes parasitárias) – são as correntes induzidas em • Campos magnéticos que variam rapidamente podem induzir correntes intensas o suficiente para desencadear impulsos nervosos (veremos mais adiante) condutores por campos magnéticos variantes; produzem perdas por aquecimento no condutor b Para finalizar, lembremos que E ds é o trabalho por unidade de carga a para mover uma carga de a até b, e que isso é chamado de força eletromotriz no caminho de a até b Estimulação magnética • É possível usar um campo magnético variante para estimular nervos ou células musculares sem o uso de eletrodos – No cérebro, a vantagem disto é que para uma dada corrente induzida a uma certa profundidade do cérebro, as correntes induzidas no escalpo são bem menores que as que seriam necessárias para uma estimulação elétrica. Isso é conhecido como TMS – transcranial magnetic stimulation – TMS tem sido usada para monitorar nervos motores, mapear a função cerebral e para tratar depressão e outras desordens de humor • Primeiras pesquisas: – Barker et al. (1985) usaram um solenóide no qual B variava de 2T em 110s para estimular diferentes pontos no braço e crânio de um indivíduo – O dedo do indivíduo se contraía após o tempo necessário para que o impulso nervoso chegasse ao músculo – A densidade de corrente induzida para uma região de raio a=10mm num material de condutividade 1S/m foi de 90A/m2 (isto para o material condutor dentro do solenóide, fora deste o campo cai e a corrente induzida é menor) – este valor de j é grande comparado a densidades de correntes em nervos Estimulação magnética - TMS Materiais magnéticos e sistemas biológicos • Do mesmo modo que o campo elétrico pode ser alterado pela polarização de um dielétrico, o campo magnético também pode ser alterado pela matéria: – Medidas biológicas podem basear-se na alteração de B devido a um órgão do corpo – Algumas células possuem magnetismo permanente (importante para medir direção em bactérias, pássaros e outros organismos) • Na presença de campos magnéticos, as substâncias, em geral, apresentam comportamentos que permitem sua classificação em diamagnéticas, paramagnéticas ou ferromagnéticas (ou também, ferrimagnéticas) – trataremos disso mais adiante Materiais magnéticos e sistemas biológicos • Consideremos o efeito de campos magnéticos em loops de corrente ou dipolos magnéticos, como na Fig. 8.22 – Nessa figura temos um loop de raio a pelo qual passa uma corrente i e que possui um momento magnético m. Esse loop está imerso em um campo B, que diminui com o aumento de z, por isso as linhas de B se separam. Teremos uma força no loop dada por: dF i ds B – As componentes de dF no plano xy se cancelam, mas sobrará uma componente na direção -z (que é a direção que aponta para B mais intenso) – No eixo do loop, temos B B zˆ . Fora do eixo, como as linhas de B se afastam, além da componente z, há uma componente radial (plano xy) para fora do loop, que (devido à simetria) terá magnitude constante Br(a) no loop. A componente z de B gera forças radiais que se cancelam. Já Br(a) resultará na força F i 2 a Br (a) zˆ Materiais magnéticos e sistemas biológicos • Para encontrar Br(a), consideramos a superfície fechada da Fig. 8.23. Nesse caso temos: B dS 0 Bz ( z dz ) Bz ( z ) a 2 2 a dz Br (a) 0 a Bz ( z dz ) Bz ( z ) a Bz B (a) . r • 2 dz 2 z Portanto a força no loop é: a Bz Fz i 2 a 2 z • Bz 2 Bz i a m z z z Ou seja, se temos um campo magnético que varia na direção z, aparecerá uma força em um dipolo magnético colocado nesse campo que é proporcional a essa variação e a ele mesmo: – Se m é paralelo a B, F é na direção de campo mais intenso; – Se m é antiparalelo a B, F é na direção de campo mais fraco. • Vamos usar este resultado para tentar entender o comportamento das substâncias em um campo magnético Materiais magnéticos e sistemas biológicos • Consideremos o momento magnético do átomo (desprezando o momento magnético do núcleo). Este pode ocorrer devido a: – Movimento dos elétrons ao redor do núcleo (momento magnético orbital); – Spin intrínseco dos elétrons (momento magnético de spin). • Na maioria dos átomos, o momento magnético orbital médio é nulo e os elétrons estão pareados de modo que o momento magnético de spin médio também é nulo – nesse caso, o átomo não possui momento magnético • A maioria das substâncias, quando colocadas em um campo magnético nãohomogêneo, experimentam uma força para longe da região de campo mais intenso (são repelidas pelo campo magnético), com intensidade aproximadamente proporcional a B2 – este efeito é o diamagnetismo • Ocorre pois se o átomo é colocado no campo magnético, o efeito da indução de Faraday distorce as órbitas dos elétrons para induzir um momento magnético proporcional ao campo, porém no sentido oposto (lei de Lenz). Portanto, pela Eq. (8.24), a força é proporcional a Fz mz Bz B Bz z Bz2 z z com direção no sentido de Bz mais fraco Materiais magnéticos e sistemas biológicos • Algumas poucas substâncias são atraídas para a região de campo magnético mais intenso, com F aproximadamente proporcional a B2 – este efeito é o paramagnetismo – Átomos dessas substâncias possuem um momento magnético permanente associado ao spin de um elétron desemparelhado. Esses momentos magnéticos ficam orientados randomicamente devido ao movimento térmico. Quando a substância é colocada num campo magnético, os momentos magnéticos dos átomos se alinham com este e a substância fica com um momento magnético induzido na direção de B (e atraída pelo campo magnético) – Algumas substâncias colocadas num campo magnético não-homogêneo experimentam uma atração muito mais forte que as substâncias paramagnéticas. Elas possuem alguns momentos magnéticos alinhados mesmo na ausência de um campo magnético externo. Estas substâncias são ímãs permanentes e são chamadas de ferromagnéticas. Quando colocadas num campo externo, pode ocorrer alinhamento de mais momentos magnéticos, sendo que o alinhamento completo geralmente ocorre para um campo externo relativamente fraco. – Também existem as substâncias ferrimagnéticas, que são cristais com propriedades similares aos ferromagnetos, mas que contêm dois tipos de íons com diferentes momentos magnéticos Materiais magnéticos e sistemas biológicos • Para uma amostra macroscópica, falamos em magnetização (M), que é o momento magnético médio por unidade de volume, dada por onde m mi (soma de todos os momentos magnéticos dos átomos no volume V) • O campo externo B se relaciona com a M através de B = 0 (M + H), ou em que H é o vetor intensidade de campo magnético, medido em A/m. Este campo depende apenas das correntes livres • (Parênteses: Temos dois tipos de correntes, as livres e as ligadas (bound), que são aquelas que associamos aos momentos magnéticos intrínsecos devidos aos spins. Estas também devem ser incluídas na lei de Ampère: onde jtotal j free jbound ). Materiais magnéticos e sistemas biológicos • Como H depende apenas das correntes livres, temos que • H simplifica os cálculos, já que as correntes livres podem ser controladas no laboratório. • No vácuo, • Em um meio, teremos em que é a permeabilidade magnética do meio. • Portanto, devido à Eq. (8.26), teremos onde cm é a suscetibilidade magnética – Para materiais diamagnéticos: cm < 0 e < 0 (valores típicos de cm são –10-5) – Para materiais paramagnéticos: cm > 0 e > 0 (valores típicos de cm são +10-4) Materiais magnéticos e sistemas biológicos • Para materiais ferromagnéticos, a relação entre B e H é não linear, caracterizada pela curva BH da Fig. 8.24 – A não-coincidência das curvas para aumento e decréscimo de H é o fenômeno chamado de histerese – Após os pontos Y e W, ocorre saturação de M, e B = 0 (Msat + H) – Para H = 0 há um campo magnético remanescente (pontos X e Z) – Se a temperatura for aumentada acima de um dado valor (temperatura de Curie), o magnetismo é destruído Medidas de propriedades magnéticas em pessoas • Magnetopneumografia – medida de partículas de pó ferrimagnéticas (magnetita, Fe3O4) inaladas por mineradores e trabalhadores industriais. Coloca-se o tórax num campo magnético por alguns segundos, em seguida este é desligado e mede-se o campo remanescente • Medidas do volume do coração – o sangue e o miocárdio possuem suscetibilidade magnética diferente do tecido pulmonar e adjacente. A aplicação de um campo magnético externo induz um campo que varia à medida que o volume do coração varia • Estimativas de armazenagem de ferro no corpo – podem ser feitas com medidas de suscetibilidade magnética (cm ), que varia linearmente com a quantidade de ferro depositada. O corpo geralmente contém 3 a 4 gramas de ferro, das quais ¼ fica no fígado. Esta quantidade pode aumentar devido a um grande número de transfusões sanguíneas ou devido a doenças como hemocromatose e hemossiderose Orientação magnética • Vários tipos de animais possuem partículas magnéticas, ou magnetossomos: – Bactérias (Fig. 8.25) – possuem cadeias de até ~20 partículas magnéticas de aproximadamente 50nm de comprimento envolvidas por uma membrana – No hemisfério norte, essas bactérias buscam o norte; no hemisfério sul, buscam o sul – devido à inclinação do eixo magnético, em ambos os casos isso faz com que se enterrem mais profundamente no ambiente em que vivem. – Num laboratório, elas se alinham com o campo magnético local. – As partículas são magnetita (Fe3O4) ou, em ambientes pobres de oxigênio, greigita (Fe3S4) Orientação magnética • Algumas algas – possuem da ordem de 3000 partículas magnéticas de 40 x 40 x 140nm cada • Abelhas, pombos, peixes – nestes casos é mais difícil demonstrar a função destas partículas nestes organismos, pois eles possuem vários outros tipos de informações sensoriais – Geralmente as partículas são de magnetita. – Pombos possuem estas partículas no crânio – conseguem se orientar em dias ensolarados, porém não em dias nublados – Abelhas se orientam em um campo magnético – possuem um momento magnético orientado transversalmente ao corpo – Atum – possui da ordem de 8,5x107 partículas cúbicas de 50nm de cada lado Orientação magnética • Atualmente, existe evidência de que os pássaros podem possuir três bússolas – Como os pólos magnético e geográfico estão deslocados, pássaros migratórios devem corrigir suas bússolas magnéticas à medida que voam. – O pardal da Savannah possui uma bússola magnética e uma estelar, e adquire pistas visuais do céu ao pôr-do-sol – Foi mostrado que pássaros desse tipo, quando colocados em um campo magnético apontado numa direção diferente do campo magnético terrestre, inicialmente seguiam a bússola magnética, mas com o passar do tempo iam recalibrando a mesma com a bússola estelar • O tamanho de 50nm das partículas aparentemente se deve a que: – Partículas menores que 35nm poderiam ter o alinhamento destruído por efeitos térmicos – Maiores que 76nm poderiam ter formação de domínios múltiplos, diminuindo o momento magnético Detecção de campos magnéticos fracos • Comparemos algumas intensidades de campos magnéticos: – Partículas nos pulmões: ~10-9 T – Coração: ~10-10 T – Cérebro: ~10-12 T para atividade espontânea e ~10-13 T para respostas evocadas – Terra: ~10-4 T – Ruído devido a variações espontâneas no campo da Terra: ~10-7 T – Ruído devido a linhas de força, máquinas etc.: ~10-5 a 10-4 T • – Ou seja, a medida dos sinais magnéticos do corpo requer alta sensibilidade e geralmente técnicas especiais para a redução do ruído – Detectores sensíveis são construídos com materiais supercondutores (que, quando esfriados abaixo de uma certa temperatura, possuem resistência nula). Uma corrente num loop de material supercondutor persiste enquanto o material for mantido no estado supercondutor dF E ds 0 0 F cte Num anel supercondutor, temos dt • Ou seja, se tentarmos alterar o fluxo magnético com alguma fonte externa, a corrente no circuito supercondutor se altera de modo que o fluxo permaneça o mesmo Detecção de campos magnéticos fracos • O detector supercondutor é chamado de SQUID = superconducting quantum interference device – Há SQUIDs DCs e ACS. Descreveremos aqui o DC – O SQUID DC requer um circuito supercondutor com dois ramos, cada um contendo uma junção finíssima de material não-supercondutor, chamadas junções de Josephson (Fig. 8.27) – Quando o campo magnético varia, essas junções permitem que o fluxo no loop varie – A fase das funções de onda dos elétrons nos dois ramos do circuito difere por uma quantidade que depende do fluxo magnético através do mesmo F I F 1 I 2 I 0 cos arccos F F 2 I 0 0 0 Detecção de campos magnéticos fracos • Um magnetômetro típico usado em pesquisa é o transportador de fluxo: consiste de dois loops supercondutores conectados por fios (também supercondutores) que possuem área desprezível entre eles (Fig. 8.28) • Um dos loops é grande (~1cm de raio), usado como detector (d), e o outro é menor, usado como saída (o, output) • O fluxo total no transportador de fluxo é • Quando o fluxo em d varia, obriga uma variação oposta e de mesma intensidade no loop o • O loop o é acoplado (colocado bem próximo) a um SQUID, que mede a variação do fluxo Detecção de campos magnéticos fracos