Evangelho segundo S. João 15,1-8. «Eu sou a videira verdadeira e o meu Pai é o agricultor. Ele corta todo o ramo que não dá fruto em mim e poda o que dá fruto, para que dê mais fruto ainda. Vós já estais purificados pela palavra que vos tenho anunciado. Permanecei em mim, que Eu permaneço em vós. Tal como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanece em mim e Eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer. Se alguém não permanece em mim, é lançado fora, como um ramo, e seca. Esses são apanhados e lançados ao fogo, e ardem. Se permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e assim vos acontecerá. Nisto se manifesta a glória do meu Pai: em que deis muito fruto e vos comporteis como meus discípulos.» Santa Teresa Benedita da Cruz [Edith Stein] (1891-1942), carmelita, mártir, co-padroeira da Europa A mulher e o seu destino, colectânea de seis conferências «Eu sou a videira; vós, os ramos» No que diz respeito à Igreja, a concepção mais acessível ao espírito humano é a de uma comunidade de crentes. Quem crê em Jesus Cristo e no Seu evangelho, e espera o cumprimento das Suas promessas, quem se encontra ligado a Ele por um sentimento de amor e obedece aos Seus mandamentos, deve estar unido a todos quantos partilham o mesmo espírito por uma profunda comunhão espiritual e uma ligação de amor. Aqueles que seguiram o Senhor durante a Sua passagem pela terra foram os primeiros sarmentos da comunidade cristã; foram eles que a difundiram e que transmitiram em herança, na sucessão dos tempos, até aos nossos dias, as riquezas da fé de onde retiravam a respectiva coesão. Mas até uma comunidade humana natural pode ser já muito mais do que uma simples associação de indivíduos distintos; pode ser uma estreita harmonia que vai a ponto de se tornar uma unidade orgânica; o mesmo se aplica ainda com maior verdade à comunidade sobrenatural que é a Igreja. A união da alma com Cristo é diferente da comunhão entre duas pessoas terrenas; esta união, iniciada no Baptismo e constantemente reforçada pelos outros sacramentos, é uma integração e um arremesso de seiva, como nos diz o símbolo da videira e dos ramos. Este acto de união com Cristo pressupõe uma aproximação membro a membro entre todos os cristãos. Assim, a Igreja toma a figura do Corpo Místico de Cristo. Esse corpo é um corpo vivo e o espírito que o anima é o Espírito de Cristo que, partindo da cabeça, se comunica a todos os membros (Ef 5, 23.30); o espírito que emana de Cristo é o Espírito Santo, e a Igreja é por isso templo do Espírito Santo (Ef 2, 21-22). Somos destinados a reproduzir a imagem de Jesus Cristo, recorda o pregador do Papa Comentário do padre Raniero Cantalamessa, ofmcap., ao Evangelho dominical ROMA, sexta-feira, 12 de maio de 2006 (ZENIT.org).- Publicamos o comentário ao Evangelho do próximo domingo, V de Páscoa, do padre Raniero Cantalamessa, ofmcap., pregador da Casa Pontifícia. *** V Domingo de Páscoa – B (Atos 9, 26-31; I João 3, 18-24; João 15, 1-8) Toda videira que dá fruto, poda-a «Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o vinhateiro. Toda videira que em mim não dá fruto, corta-a, e toda a que dá fruto, poda-a, para que dê mais fruto». Em seu ensinamento Jesus parte com freqüência de coisas familiares para todos que lhe escutam, coisas que estavam ante os olhos de todos. Desta vez nos fala com a imagem da videira. Jesus expõe dois casos. O primeiro, negativo: a videira está seca, não dá fruto, assim é cortada e deixada; o segundo, positivo: a videira está ainda viva e sã, então é podada. Já este contraste nos diz que a poda não é um ato hostil para com a videira. O vinhateiro espera ainda muito dele, sabe que pode dar frutos, tem confiança nele. O mesmo ocorre no plano espiritual. Quando Deus intervém em nossa vida com a cruz, não quer dizer que esteja irritado conosco. Justamente o contrário. Mas, por que o vinhateiro poda a videira e faz «chorar», como se costuma dizer, à vinha? Por um motivo muito simples: se não é podada, a força da vinha se desperdiça, dará talvez mais frutos que o devido, com a conseqüência que nem todos amadureçam e de que descenda a graduação do vinho. Se permanece muito tempo sem ser podada, a vinha até se assilvestra e produz só uvas silvestres. O mesmo ocorre em nossa vida. Viver é eleger, e eleger e renunciar. A pessoa que na vida quer fazer demasiadas coisas, ou cultiva uma infinidade de interesses e de afeições, se dispersa; não sobressairá em nada. Deve-se ter o valor de fazer eleições, de deixar à parte alguns interesses secundários para concentrar-se em outros primários. Podar! Isto é ainda mais verdadeiro na vida espiritual. A santidade se parece com a escultura. Leonardo da Vinci definiu a escultura como «a arte de tirar». As outras artes consistem em colocar algo: cor na tela na pintura, pedra sobre pedra na arquitetura, nota após nota na música. Só a escultura consiste em tirar: tirar os pedaços de mármore que estão demais para que surja a figura que se tem na mente. Também a perfeição cristã se obtém assim, tirando, fazendo cair os pedaços inúteis, isto é, ambições, projetos e tendências carnais que nos dispersam por todas as partes e não nos deixam acabar nada. Um dia, Miguelangelo, passando por um jardim de Florença, viu, em uma esquina, um bloco de mármore que surgia desde debaixo da terra, meio coberto de mato e barro. Parou, como se tivesse visto alguém, e dirigindo-se aos amigos que estavam com ele exclamou: «Nesse bloco de mármore está encerrado um anjo; devo tira-lo para fora». E armado de cinzel começou a trabalhar aquele bloco até que surgiu a figura de um belo anjo. Também Deus nos olha e nos vê assim: como blocos de pedra ainda disformes, e diz para si: «Aí dentro está escondida uma criatura nova e bela que espera sair à luz, mais ainda, está escondida a imagem de meu próprio Filho Jesus Cristo [nós estamos destinados a «reproduzir a imagem de seu Filho» (Rm 8, 29. Ndt)]; quero tira-la para fora!». Então o que faz? Toma o cinzel, que é a cruz, e começa a trabalhar-nos; toma as tesouras de podar e começa a fazê-lo. Não devemos pensar em quem sabe que cruzes terríveis! Normalmente Ele não acrescenta nada ao que a vida, por si só, apresenta de sofrimento, fadiga, tribulações; só faz que todas estas coisas sirvam para nossa purificação. Nos ajuda a não desperdiça-las. [Tradução realizada por Zenit] ZP06051201 „Eu sou a videira e vós os ramos“ – Jo 15,5 1. És videira vicejante, somos nós os ramos teus, * pela graça nos enxertas, ó Jesus, no corpo teu. 2. Da videira separado, logo, o ramo vai morrer; * sempre a Ti, Jesus, unidos, não podemos perecer. 3. Fique em nós a tua graça, que nos traz a salvação; * viveremos nossa graça traduzida em ação. J. A. Santana – Cantos e orações, 127a São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e doutor da Igreja Sermão 58 sobre o Cântico dos Cânticos Dar fruto em abundância Tenho de advertir cada um de vós a respeito da sua vinha; com efeito, quem cortou já em si mesmo tudo o que é supérfluo, a ponto de poder pensar que nada mais tem a cortar? Crede no que vos digo, aquilo que é cortado renasce, os vícios combatidos regressam, e vemos despertar as tendências adormecidas. Não basta, pois, aparar a vinha uma vez, temos de regressar muitas vezes à mesma tarefa, se possível constantemente. Porque, se formos sinceros, encontramos constantemente em nós coisas a cortar. […] A virtude não consegue crescer entre os vícios; para que ela possa desenvolver-se, temos de os impedir de aumentar. Suprime, pois, o supérfluo, e o necessário poderá então surgir. Para nós, irmãos, continua a ser época de cortar, uma época que se impõe permanentemente. Com efeito, estou certo de que já saímos do Inverno, desse temor sem amor que a todos nos introduz na sabedoria, mas que a ninguém faz desabrochar na perfeição. Quando surge, o amor expulsa esse temor como o Verão expulsa o Inverno. […] Cessem, pois, as chuvas do Inverno, quer dizer, as lágrimas de angústia suscitadas pela recordação dos vossos pecados e pelo temor do julgamento. […] Se “o Inverno passou”, se “a chuva cessou” (Ct 2, 11) […], a doçura primaveril da graça espiritual indica-nos que chegou o momento de podarmos a nossa vinha. Que nos resta fazer, senão empenharmo-nos por completo nessa tarefa? Bem-aventurado Charles de Foucauld (1858-1916), eremita e missionário no Saará Meditações sobre os Salmos, Sl 1 Dar o fruto na estação própria “Feliz do homem que... medita na Lei dia e noite. Será como uma árvore plantada à beira das torrentes, que dá o seu fruto na época própria” (Sl 1, 1-3). Meu Deus, vós me dizeis que eu serei feliz, feliz de uma verdadeira felicidade, feliz no último dia..., que por mais miserável que eu seja, sou uma palmeira plantada à beira das águas vivas da vontade divina, do amor divino, da graça..., e que darei o meu fruto na época própria. Dignai-vos consolar-me; sintome sem fruto, sinto-me sem boas obras, digo a mim mesmo: converti-me depois de onze anos, que fiz? Quais foram as obras dos santos e quais as minhas? Vejo-me de mãos vazias de bem. Dignai-vos consolar-me: “Darás fruto na época própria” me dizeis vós... Qual é essa época? É a hora do julgamento: prometei-me que se eu persistir na boa vontade e no combate, por mais pobre que me veja, terei frutos nessa altura. São Siluane (1866-1938), monge ortodoxo Escritos “Sem Mim, nada podeis fazer” Os apóstolos viram o Senhor na sua glória quando Ele se transfigurou no Monte Tabor; mais tarde, porém, no momento da Paixão, fugiram cheios de medo. Tal é a fragilidade do homem. Não há dúvida de que somos deste mundo; mais ainda: desta terra pecadora. Foi por isso que o Senhor disse: “Sem Mim, nada podeis fazer”. E assim é de facto. Quando a graça está em nós, somos verdadeiramente humildes; então, a nossa inteligência torna-se mais viva, somos obedientes, amáveis, agradáveis a Deus e aos homens. Mas, quando perdemos a graça, secamos como o sarmento cortado à videira. Se alguém não ama seu irmão, por quem o Senhor morreu no meio de grandes sofrimentos, é porque está separado da Videira. Mas aquele que luta contra o pecado será sustentado pelo Senhor, como a vara sustenta o sarmento. Issac d’Étoile (?- c. 1171), abade cisterciense Sermão 16 A parábola da vinha Guardo, sem qualquer dúvida, todo o meu respeito pela explicação fiel que vê na vinha da parábola a igreja universal – entendendo a videira como sendo Cristo; os ramos os cristãos; o agricultor e pai de família, o Pai celeste; o dia, toda a duração ou a vida do homem; as horas, as idades do mundo ou da pessoa humana; a praça, a actividade do próprio mundo. Pessoalmente, no entanto, de considerar a minha alma e também o meu corpo, isto é, toda a minha pessoa como uma vinha. Não devo negligenciá-la, mas cavá-la e trabalhá-la para que não venha a ser invadida por outros abrolhos ou raízes estranhas, nem prejudicada pelo excesso dos seus rebentos naturais. Tenho de podá-la para que os tronco não engrossem em demasia, apará-la para que dê mais frutos. Tenho de cercá-la completamente por uma sebe para que não fique à mercê da pilhagem dos transeuntes e, sobretudo, para que o javali da floresta não a destrua (Sl 79 [80], 14). Tenho de cultivá-la com o maior cuidado para que a autên tica vide escolhida não degenere nem se converta numa vide estrangeira, incapaz de dar alegria a Deus e aos homens, ou até venha a ser susceptível de contristá-los. Tenho de protegê-la com a maior vigilância a fim de que o fruto que custou tanto trabalho e foi tão longamente esperado não seja roubado furtivamente por aqueles que, em segredo, devoram o pobre, e para que não desapareça repentinamente num acidente imprevisto. Também o primeiro homem recebeu, em relação ao Paraíso, que era a sua vinha, a ordem de trabalhá-la e de guardá-la. João Tauler (1300-1361), dominicano Sermão 7 Podados para produzir fruto O vinhateiro irá cortar na sua vinha os rebentos maus. Se não o fizesse e se os deixasse no ramo bom, a vinha só daria um vinho azedo e de má qualidade. Assim deve fazer o homem nobre: deve podar-se a si próprio de tudo o que está desordenado, cortar pela raiz todos os seus modos de ser e as suas inclinações, quer se trate de alegria ou de dor, quer dizer, cortar os defeitos, e isso não importuna nem a cabeça, nem o braço, nem a perna. Mas retém a faca até teres visto o que deves cortar. Se o vinhateiro não conhece a arte da poda, cortará tudo, tanto o ramo bom que deve em breve dar a uva como a ramo mau, e ele arruinará o vinhedo. Assim fazem certas pessoas. Não conhecem o ofício. Deixam os vícios, as más inclinações no fundo da natureza, podando e cortando rente a pobre da natureza em si mesma. A natureza em si mesma é boa e nobre: que queres tu cortar aí? No tempo da vinda dos frutos, quer dizer, da vida divina, tu terás apenas uma natureza arruinada. João Paulo II Discurso no Conselho da Europa de 8/5/1988 “Tornai sempre mais viva e generosa a alma da Europa” Se a Europa quer ser fiel a si própria, é preciso que saiba reunir as forças vivas deste continente, respeitando o carácter original de cada região, mas reconhecendo nas suas raízes um espírito comum. Os países membros do vosso Concelho têm consciência de não serem toda a Europa; ao exprimir o voto ardente de ver intensificar-se a cooperação, já esboçada, com as outras nações, particularmente do Centro e do Este, tenho o sentimento de reunir o desejo de milhões de homens e mulheres que se sabem ligados numa história comum e que esperam um destino de unidade e solidariedade à medida deste continente. Ao longo dos séculos, a Europa teve uma participação considerável nas outras partes do mundo. Devemos admitir que nem sempre pôs o melhor de si própria no seu encontro com as outras civilizações, mas ninguém pode contestar que felizmente fez repartir muitos dos valores que tinha longamente amadurecido. Os seus filhos tiveram uma participação essencial na difusão da mensagem cristã. Se a Europa deseja ter hoje a sua participação, deve, na unidade, fundar claramente a sua acção sobre o que há de mais humano e generoso na sua herança. Ao vir hoje perante esta Assembleia parlamentar internacional constituída no mundo, tenho consciência de me dirigir aos representantes qualificados dos povos que, na sua fidelidade às suas fontes vivas, quiseram reunir-se para afirmarem a sua unidade e para se abrirem às outras nações de todos os continentes, no respeito pela verdade do homem. Posso testemunhar a disponibilidade dos crentes para tomarem uma Evangelho segundo S. João 15,9-17. «Assim como o Pai me tem amor, assim Eu vos amo a vós. Permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como Eu, que tenho guardado os mandamentos do meu Pai, também permaneço no seu amor. Manifestei-vos estas coisas, para que esteja em vós a minha alegria, e a vossa alegria seja completa. É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei. Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos. Vós sois meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando. Já não vos chamo servos, visto que um servo não está ao corrente do que faz o seu senhor; mas a vós chamei- -vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi ao meu Pai. Não fostes vós que me escolhes-tes; fui Eu que vos escolhi a vós e vos destinei a ir e a dar fruto, e fruto que permaneça; e assim, tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome Ele vo-lo concederá. É isto o que vos mando: que vos ameis uns aos outros.» São Clemente de Roma, papa, 90 a 100 aproximadamente Primeira epístola aos Coríntios, 49 «É este o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como Eu vos amei» Quem possui o amor de Cristo cumpre os mandamentos de Cristo. Quem pode descrever o «vínculo da caridade divina» (Col 3,14) ou narrá-lo? Quem pode exprimir a magnificência da sua beleza ? A altura a que nos leva a caridade é inexprimível. A caridade une-nos a Deus; a caridade «cobre a multidão dos pecados» (1Pe 4,8); a caridade tudo aceita, tudo suporta com paciência (1Co 13,7). Nada há de indigno na caridade, nada de soberbo nela. A caridade não admite divisões, não promove discórdias, tudo realiza em perfeita harmonia. Na caridade encontram a perfeição todos os eleitos de Deus e, sem ela, nada é agradável a Deus. Pela caridade o Mestre atraiu-nos a Si. Pela sua caridade para connosco, Jesus Cristo nosso Senhor, segundo a vontade divina, derramou o Seu Sangue por nós, imolou a Sua Carne para redimir a nossa carne, deu a Sua Vida para salvar a nossa vida. Santo Anselmo (1033-1109), monge, bispo, doutor da Igreja Prosologion, 26 "Disse-vos isto para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa" Eu te peço, meu Deus: faz com que te conheça, que te ame, para que a minha alegria esteja em ti. E, se isso não for plenamente possível nesta vida, faz ao menos que eu progrida todos os dias, até atingir a plenitude. Que nesta vida o teu conhecimento cresça em mim e que ele esteja completo no último dia; que o teu amor cresça em mim e que ele seja perfeito na vida futura, para que a minha alegria, já grande em esperança cá na terra, seja então acabada na realidade. Senhor Deus, através do teu Filho deste-nos a ordem, ou melhor, aconselhaste-nos a pedir; e prometeste que seríamos atendidos, para que a nossa alegria seja perfeita (Jo 16,24). Faço-te, Senhor, a oração que nos segeres pela boca daquele que é o nosso "Conselheiro Admirável" (Is 9,5). Que eu possa receber o que prometeste pela boca daquele que é a Verdade, para que a minha alegria seja perfeita. Deus verdadeiro, faço-te esta oração; atende-me para que a minha alegria seja perfeita. Que doravante seja esta a meditação do meu espírito e a palavra dos meus lábios. Seja este o amor do meu coração e o discurso da minha boca, seja a fome da minha alma, a sede da minha carne e o desejo de todo o meu ser, até ao dia em que eu entre na alegria do Senhor (Mt 25,21), Deus único em três Pessoas, bendito pelos séculos. Amen. Pregador do Papa: «Dever» de amar, «o mandamento mais belo e libertador do mundo» Comentário do padre Raniero Cantalamessa, ofmcap., ao Evangelho dominical ROMA, sexta-feira, 19 de maio de 2006 (ZENIT.org).- Publicamos o comentário ao Evangelho do próximo domingo, VI de Páscoa, do padre Raniero Cantalamessa, ofmcap., pregador da Casa Pontifícia. *** VI Domingo de Páscoa – B (Atos 10, 25-27. 34-35.44-48; I João 4, 7-10; João 15, 9-17) O «dever» de amar «Este é o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei... O que vos mando é que vos ameis uns aos outros». O amor, um mandamento? Pode-se fazer do amor um mandamento sem destruí-lo? Que relação pode haver entre amor e dever, dado que um representa a espontaneidade e o outro a obrigação? Deve-se saber que existem dois tipos de mandamentos. Existe um mandamento ou uma obrigação que vem do exterior, de uma vontade diferente à minha, e um mandamento ou obrigação que vem de dentro e que nasce da mesma coisa. A pedra que se lança ao ar, ou a maçã que cai da árvore, está «obrigada» a cair, não pode fazer outra coisa; não porque alguém o imponha, mas porque nela há uma força interior de gravidade que a atrai para o centro da terra. De igual forma, há dois grandes modos segundo os quais o homem pode ser induzido a fazer ou não determinada coisa: por constrição ou por atração. A lei e os mandamentos ordinários o induzem do primeiro modo: por constrição, com a ameaça do castigo; o amor o induz do segundo modo: por atração, por um impulso interior. Cada um, com efeito, é atraído pelo que ama, sem que sofra constrição alguma desde o exterior. Mostre a uma criança um brinquedo e a verás lançar-se para agarrá-lo. O que a impulsiona? Ninguém; é atraída pelo objeto de seu desejo. Ensina um Bem a uma alma sedenta de verdade e se lançará para ele. Quem o impulsiona? Ninguém; é atraída por seu desejo. Mas se é assim --isto é, somos atraídos espontaneamente pelo bem e pela verdade que é Deus-- que necessidade haveria de fazer deste amor um mandamento e um dever? É que, rodeados como estamos de outros bens, corremos perigo de errar, de estender falsos bens e perder assim o Sumo Bem. Como uma nave espacial dirigida para o sol deve seguir certas regras para não cair na esfera da gravidade de algum planeta ou satélite intermediário, igual a nós ao tender para Deus. Os mandamentos, começando pelo «primeiro e maior de todos», que é o de amar a Deus, servem para isto. Tudo isso tem um impacto direto na vida e no amor também humano. Cada vez são mais numerosos os jovens que rejeitam a instituição do matrimônio e elegem o chamado amor livre, ou a simples convivência. O matrimônio é uma instituição; uma vez contraído, liga, obriga a ser fiéis e a amar o companheiro para toda a vida. Mas que necessidade tem o amor, que é instinto, espontaneidade, impulso vital, de transformar-se em um dever? O filósofo Kierkegaard dá uma resposta convincente: «Só quando existe o dever de amar, só então o amor está garantido para sempre contra qualquer alteração; eternamente liberado em feliz independência; assegurado em eterna bem-aventurança contra qualquer desespero». Quer dizer: o homem que ama verdadeiramente quer amar para sempre. O amor necessita ter como horizonte a eternidade; se não, não é mais que uma brincadeira, um «amável mal-entendido» ou um «perigoso passa-tempo». Por isso, quanto mais intensamente se ama, mais percebe com angústia o perigo que corre seu amor, perigo que não vem de outros, mas dele mesmo. Bem sabe que é volúvel, e que amanhã, ai! Poder-seia cansar e não amar mais. E já que, agora que está no amor, vê com clareza a perda irreparável que isto comportaria, eis aqui que se previne, «vinculando-se» a amar para sempre. O dever subtrai o amor da volubilidade e o ancora à eternidade. Quem ama é feliz de «dever» amar, parece-lhe o mandamento mais belo e libertador do mundo. [Traduzido por Zenit] ZP06051902 „Amai-vos uns aos outros como Eu vos tenho amado“ – Jo 15, 12 1. Amai-vos uns aos outros como Eu vos tenho amado. [:Jesus Cristo é quem falou. Aleluia, aleluia:] 2. Aquele que Me ama, guardará meu mandamento. 3. O Pai também vos ama, se souberdes ser fraternos. 4. 5. 6. 7. Não fostes vós que Me escolhestes, vosso Pai amou primeiro. Não vos chamo servidores, sois agora meus amigos. O Pai tem um desejo, que saibais viver unidos. Se quereis alguma coisa, em meu nome será dada. Cantemos ….. n° 758 Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona e doutor da Igreja Tratados sobre S. João, nº 65 "Tal como o Pai me amou, assim eu vos amei. Permanecei no meu amor" O Senhor Jesus afirma que dá aos seus discípulos um mandamento novo, o do amor mútuo... Será que este mandamento não existia já na lei antiga, uma vez que está escrito: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo"? (Lv 19,18) Porque é que o Senhor chama novo a um mandamento que é claramente tão antigo? Será um mandamento novo porque, despojandonos do homem velho, Ele nos reveste do homem novo (Ef 2,24)? É certo que o homem que escuta este mandamento ou, melhor, que lhe obedece não foi renovado por um amor qualquer mas por aquele que o Senhor cuidadosamente distingue do amor natural, ao precisar: "como eu vos amei"... Cristo deu-nos pois o mandamento novo de nos amarmos uns aos outros como Ele nos amou; é esse amor que nos renova, que faz de nós homens novos, herdeiros da nova aliança, cantores do "cântico novo" (Sl 95,1). Esse amor, caríssimos irmãos, renovou mesmo os justos de outrora, os patriarcas e os profetas, tal como mais tarde renovou os santos apóstolos. É ele que agora renova as nações pagãs. De todo o género humano, disperso por toda a terra, esse amor suscita e reune o povo novo, o corpo da nova Esposa do Filho de Deus. Tertuliano (155?-220?), teólogo De praescriptione "Tudo o que aprendi de meu Pai, vo-lo dei a conhecer" Entre os seus discípulos, Cristo escolheu alguns a quem se ligou mais de perto para os enviar a pregar entre os povos. Quando um deles se afastou do seu número, Ele ordenou aos outros onze, quando voltou ao Pai depois da Ressurreição, que fossem ensinar as nações para as baptizarem no Pai, no Filho e no Espírito Santo. Imediatamente, os apóstolos - cujo nome significa "enviados" - tiraram à sorte Matias para ocupar o décimo segundo lugar, em vez de Judas, nos termos da profecia contida no salmo de David (108,8). Com a força prometida do Espírito Santo, eles receberam o dom dos milagres e o das línguas. Primeiro na Judeia, testemunharam a sua fé em Jesus Cristo e instituiram igrejas. A partir daí, partiram através do mundo para espalharem entre as nações o mesmo ensinamento e a mesma fé... Qual foi a pregação dos apóstolos? Que revelação lhes fez Jesus Cristo? Eu direi que a maneira de o sabermos se encontra naquelas mesmas igrejas que os apóstolos pessoalmente fundaram com a sua pregação, tanto por viva voz como com os seus escritos. Se isto é verdade, é incontestável que toda a doutrina que estiver de acordo com estas igrejas apostólicas, mães e fontes da nossa fé, deve ser considerada como verdadeira porque contém o que tais „Amai-vos uns aos outros como Eu vos tenho amado“ – Jo 15, 12 Prova de amor maior não há / que doar a vida pelo irmão. 1. Eis que Eu vos dou o meu novo mandamento: / Amai-vos uns aos outros como Eu vos tenho amado. 2. Vós sereis os meus amigos se seguirdes meu preceito: / Amai-vos uns aos outros como Eu vos tenho amado. 1. Como o Pai sempre Me ama, assim também Eu vos amei: / Amai-vos uns aos outros como Eu vos tenho amado. 2. Permanei em meu amor e segui meu mandamento: / Amai-vos uns aos outros como Eu vos tenho amado. 3. E chagando a minha Pascoa, vos amei ate o fim: / Amai-vos uns aos outros como Eu vos tenho amado. 4. Nisto todos saberão que s sois os meus discípulos: / Amai-vos uns aos outros como Eu vos tenho amado. Pe. José Weber - Cantemos ….. n° 826 Vida de S. Francisco de Assis, dita do "Anónimo de Perugia" §97 “Permanecei no meu amor” Desde o início da sua conversão até ao dia da sua morte, o bem-aventurado Francisco foi sempre muito duro para com o seu corpo. Mas o seu principal e supremo objectivo foi o de possuir e conservar sempre, por dentro e por fora, a alegria espiritual. Ele afirmava que se o servidor de Deus se esforçasse por possuir e conservar a alegria espiritual interior e exterior que procede da pureza de coração, os demónios não poderiam fazer-lhe nenhum mal, e, constrangidos reconheciam: “Dado que este servidor de Deus conserva a sua alegria na tribulação como na prosperidade, não podemos encontrar nenhum meio para fazer mal à sua alma” . Um dia, repreendeu um dos seus companheiros que tinha ar triste e o rosto melancólico: “Porquê manifestar assim a tristeza e a dor que sentes pelos teus pecados? É um assunto entre ti e Deus. Reza para que te dê, pela sua bondade, a alegria e a salvação (Sl 50,14). Diante de mim e dos outros, trata de te mostrares sempre alegre, porque não é conveniente que um servidor de Deus apareça diante dos irmãos com uma cara triste e franzida”. Cardeal John Henry Newman (1801-1890), presbítero, fundador de comunidade religiosa, teólogo Sermão "O jugo de Cristo" "Permanecei no meu amor, ... para que a minha alegria habite em vós, para que a vossa alegria seja perfeita" Cristo já tinha partido; os apóstolos possuiam com certeza a paz e a alegria em abundância, mais ainda do que quando Jesus estava com eles. Mas, de toda a evidência, esta não era uma alegria "como o mundo a dá" (Jo 14, 27). Era a sua própria alegria, nascida do sofrimento e da aflição. Foi esta alegria que Matias recebeu, quando fizeram dele um apóstolo. Os outros tinham sido escolhidos por assim dizer na sua infância: herdeiros certos do Reino, mas ainda "com tutores, com intendentes" (Ga 4,2). Mesmo tendo sido apóstolos, eles não compreendiam ainda a sua vocação; alimentavam em si pensamentos de ambição humana, desejos de riqueza; e aceitamos que tivesse sido assim durante algum tempo... S. Matias entra em pleno na herança; desde a sua eleição, recebeu logo os poderes de apóstolo, o penhor do apostolado. Nenhum sonho de sucesso pessoal podia aflorar a este trono que se erguia sobre a tumba de um discípulo que tinha sido passado ao crivo e desanimado, mesmo à sombra da cruz daquele que tinha traído. Sim, S. Matias pode bem repetir-nos hoje as palavras de Nosso Senhor: "Tomai o meu jugo, aprendei de mim" (Mt 11,29). Porque esse jugo, ele mesmo o carregou, duma vez só. Desde a sua "infância apostólica", ele levou o jugo do Senhor. Embarcado de repente na sua grande Quaresma, aí encontrou a alegria... "Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. " (Mt 16,24) Vir até Cristo é segui-lo; tomar a sua cruz, é carregar o seu jugo; se Ele nos diz que é leve é porque é o seu próprio jugo; é Ele que o torna leve, sem contudo deixar de ser um jugo... Não pensemos que esta vida "sob o jugo" seja privada de alegria: "O meu jugo é fácil", diz Jesus. É a graça que o torna assim pois ele mantém-se austero: é uma cruz. Bem aventurada Teresa de Calcutá (1910-1997), Fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade No Greater Joy (Não há maior amor) «Disse-vos isso para que a minha alegria seja completa em vós» «Deus ama quem dá com alegria» (2 Co 9,7). O melhor meio de manifestar a nossa gratidão a Deus, assim como aos outros, é aceitar tudo com alegria. Um coração alegre concilia-se naturalmente com um coração abrasado pelo amor. Os pobres sentiam-se atraídos para Jesus porque Ele era possuído por alguma coisa maior do que Ele. Irradiava esta força nos Seus olhos, nas Suas mãos e em todo o Seu corpo. Todo o Seu ser manifestava o dom que Ele fazia de Si próprio a Deus e aos homens. Que nada possa inquietar-nos, até ao ponto de nos encher de tristeza e desencorajamento arrebatando-nos a alegria da Ressurreição. A alegria não é uma simples questão de temperamento quando se trata de servir a Deus e às almas; ela está sempre a receber e essa é uma razão forte para nos esforçarmos por adquiri-la e fazê-la crescer em nossos corações. Mesmo que tenhamos pouco para dar, não obstante ficará a alegria que brota dum coração enamorado de Deus. Por todo o mundo há pessoas famintas e sedentas do amor de Deus. Nós respondemos a esta carência quando semeamos a alegria. Ela é também uma das melhores defesas contra a tentação. Jesus não pode tomar plena posse duma alma senão quando ela se Lhe abandona alegremente. Beata Teresa de Calcutá (1910-1997), fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade Uma Coisa Bela para Deus “Digo-vos isto para que a Minha alegria esteja em vós” A alegria é oração. A alegria é força. A alegria é amor. A alegria é como uma rede de amor que prende as almas. “Deus ama o que dá com alegria” (2 Co, 9, 7). Quem dá com alegria dá mais. Não há melhor maneira de manifestarmos a nossa gratidão a Deus e aos homens do que tudo aceitando com alegria. Um coração ardente de amor é necessariamente um coração alegre. Não permitais nunca que a tristeza vos invada, a ponto de vos fazer esquecer a alegria de Cristo ressuscitado. Todos temos um desejo ardente do céu, onde Deus se encontra. Ora, está nas mãos de todos nós estarmos, desde já, no céu com Ele, sermos felizes com Ele já neste momento. Mas esta felicidade imediata com Ele significa amar como Ele ama, ajudar como Ele ajuda, dar como Ele dá, servir como Ele serve, socorrer como Ele socorre, permanecer com Ele em todas as horas do dia, tocar o Seu próprio Ser por trás do rosto da aflição humana. São Siluane (1866-1938), monge ortodoxo Escritos “Como Eu vos amei” Por que sofre o homem nesta terra? Por que suporta as dores e se sujeita aos males? Sofremos porque não somos humildes. O Espírito Santo habita uma alma humilde, dando-lhe a liberdade, a paz, o amor e a felicidade. Sofremos porque não amamos os nossos irmãos. O Senhor disse: “É por isto que todos saberão que sois Meus discípulos: Se vos amardes uns aos outros” (Jo 13, 35). Quando amamos um irmão, o amor de Deus vem a nós. O amor de Deus é de uma grande doçura; é um dom do Espírito Santo, que não se conhece em plenitude senão pelo Espírito Santo. Mas existe um amor moderado, o amor que o homem obtém quando se esforça por cumprir os mandamentos de Cristo e receia ofender a Deus; e também esse é bom. Temos de nos esforçar todos os dias por fazer o bem e por aprender, com todas as nossas forças, a humildade de Cristo. Evangelho segundo S. João 15,18-21. «Se o mundo vos odeia, reparai que, antes que a vós, me odiou a mim. Se viésseis do mundo, o mundo amaria o que é seu; mas, como não vindes do mundo, pois fui Eu que vos escolhi do meio do mundo, por isso é que o mundo vos odeia. Lembrai-vos da palavra que vos disse: o servo não é mais que o seu senhor. Se me perseguiram a mim, também vos hão-de perseguir a vós. Se cumpriram a minha palavra, também hão-de cumprir a vossa. Mas tudo isto vos farão por causa de mim, porque não reconhecem aquele que me enviou. S. Policarpo (69-155), bispo e mártir Carta aos Filipenses, SC 10, p. 215-217, 221. "Se me perseguiram, perseguir-vos-ão também" Permaneçamos sem cessar, meus irmãos, agarrados à nossa esperança e ao penhor da nossa justiça, Cristo Jesus... Sejamos imitadores da sua paciência e, se sofrermos em seu nome, demos-lhe glória. Foi este o modelo que Ele nos apresentou em si mesmo e foi nisso que acreditámos. Exorto-vos a todos a obedecerem à palavra da justiça e a perseverarem na paciência que vistes com os vossos olhos, não só nos bem-aventurados Inácio, Zósimo e Rufo, mas também noutros que estavam convosco, e no próprio Paulo e nos outros apóstolos; acreditai que todos esses não correram em vão, mas antes na fé e na justiça, e que estão no lugar que lhes era devido junto do Senhor, com quem eles sofreram. Eles não amaram "o tempo presente" (1 Tm 4,10), mas sim a Cristo que morreu por nós e que Deus ressuscitou por nós... Que Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, e Ele mesmo, o sumo-sacerdote eterno, o Filho de Deus, Jesus Cristo, vos façam crescer na fé e na verdade, em mansidão e sem cólera, em paciência e longanimidade, fortaleza e castidade; que Ele vos faça tomar parte na herança dos seus santos, e a nós mesmos convosco, e a todos os que estão debaixo do céu, que acreditam em nosso Senhor Jesus Cristo e em Seu Pai que o ressuscitou de entre os mortos. Rezai por todos os santos. Rezai também pelos reis e pelas autoridades, rezai pelos que vos perseguem e vos odeiam, e pelos inimigos da Cruz; assim, o fruto que dareis será visível a todos e vós sereis perfeitos n'Ele. Orígenes (cerca de 185-253), presbítero e teólogo Exortação ao martírio, 41-42 "Se o mundo vos odear, sabei que primeiro me odeou a mim" Se, ao passarmos da descrença à fé, "passámos da morte à vida" (Jo 5,24), não nos espantemos se o mundo nos odeia. Porque todos os que não passaram da morte à vida, mas permanecem na morte, não podem amar os que passaram da morada tenebrosa da morte... para "os edifícios feitos de pedras vivas" (1Pe 2,5) em que reina a luz da vida... Para nós, cristãos, chegou o tempo de nos gloriarmos porque está dito: "Gloriamo-nos nas nossas provações pois sabemos que a provação produz a perseverança, a perseverança produz o valor experimentado, o valor experimentado produz a esperança e a esperança não engana, porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo" (Rm 5,3-5)... "Tal como tomámos grandemente parte nos sofrimentos de Cristo, também por Cristo somos grandemente consolados" (2Co 1,5). Acolhamos, pois, com grande fervor os sofrimentos de Cristo; que eles nos sejam grandemente concedidos, se queremos ser grandemente consolados, uma vez que todos "os que choram serão consolados" (Mt 5,5)... Os que participarem nos sofrimentos participarão também na consolação, em proporção aos sofrimentos que os fazem participar em Cristo. Aprendei do apóstolo que disse com confiança: "Nós o sabemos: uma vez que conheceis como nós o sofrimento, obtereis como nós a consolação" (2Co 1,7). S. Cipriano (c.200-258), Bispo de Cartago e mártir Carta 56 «Não pertenceis ao mundo pois que vos escolhi...é por isso que o mundo vos odeia» O Senhor quis que nos alegrássemos , que estremecêssemos de alegria ao sermos perseguidos (Mt 5,12), porque quando vêm as perseguições, é então que se dão as coroas da fé (Tgo 1,12, é então que os soldados de Cristo prestam as suas provas, é então que os céus se abrem aos seus testemunhos. Nós não estamos alistados na milícia de Deus para só pensarmos na tranquilidade, para nos esquivarmos ao serviço, quando o Mestre da humildade, da paciência, do sofrimento, prestou Ele próprio, antes de nós, o mesmo serviço. Aquilo que Ele ensinou, começou por cumpri-lo e, se nos exorta a resistir, é porque sofreu antes de nós e por nós. Para se participar nas competições do estádio, exercitamo-nos, treinamos, e sentimo-nos muito honrados se, diante da multidão, temos a felicidade de ganhar o prémio. De maneira diferente, esta é uma prova nobre e espectacular, em que Deus nos vê combater, nós os seus filhos, e em que Ele próprio nos dá a coroa celeste (1Co 9,25). Os anjos também nos olham e Cristo assiste-nos. Armemo-nos pois com todas as nossas forças; levemos por diante o combate com uma alma corajosa e uma fé inteira. Sto. Afraate (? -cerca 345), monge e bispo em Ninive, perto de Mossul no actual Iraque As exposições, nº 21 “O servo não é maior que o seu senhor” (Jo 15,20) Jesus foi perseguido como os justos [do Antigo Testamento] foram perseguidos, a fim de que sejam consolados os perseguidos de hoje, eles que são perseguidos por causa de Jesus perseguido. Porque ele disse: “ Se o mundo vos odeia, ficai sabendo que primeiro me odiou a mim. Se fosseis do mundo, o mundo amaria o que é seu; mas, porque não sois do mundo, ao contrário, eu vos separei do meio do mundo, por isso é que o mundo vos odeia. Lembrai-vos da palavra que vos disse: - o servo não é maior que o seu senhor. - Se me perseguiram a mim, também vos perseguirão a vós” (Jo 15, 18-20). Com efeito, ele nos dissera antes: “O irmão entregará o seu irmão à morte, e o pai entregará o seu filho. E levantar-se-ão os filhos contra os pais e lhes darão a morte. E vós sereis odiados por todos, por causa do meu nome”. Tinhanos também ensinado: “Mas quando vos entregarem, não vos preocupeis nem com o que haveis de falar nem com o que haveis de dizer; nessa altura ser-vos-á inspirado o que tiverdes de dizer. Não sereis vós a falar, é o Espírito de vosso Pai que falará por vós”. Foi este Espírito que falou pela boca de Jacob ao seu perseguidor Esaú; o Espírito de sabedoria que falou perante o Faraó pela boca de José perseguido; o Espírito que falou pela boca de Moisés em todos os milagres que ele fez no Egipto…; O Espírito que cantava pela boca de David perseguido, porque era por ele que ele cantava para aliviar do mau espírito Saúl seu perseguidor; o Espírito que revestiu Elias, com o qual ele repreendeu Jezebel e Achad seu perseguidor…; o Espírito que reconfortou Jeremias, e ele ergueu-se, audaciosamente, para repreender Sedecias; o Espírito que protegeu Daniel e os companheiros na Babilónia; esse mesmo Espírito que salvaguardou Mardoqueu e Ester no país do seu cativeiro. Ouve, meu amigo, os nomes dos mártires, dos confessores e dos perseguidos: Abel, Jacob, José, Moisés, Josué, Jefté, Sansão, Gedeão e Barac, David, Samuel, Ezequias, Elias, Eliseu, Miqueias, Jeremias, Daniel, Ananias e os seus companheiros, Judas Macabeu e os seus companheiros… Mas o martírio de Jesus foi o maior de todos: ele ultrapassou em tribulação e em testemunho todos estes que o antecederam e todos os que hão-de vir. João Paulo II Homilia durante a celebração ecuménica das testemunhas da fé do século XX, 7/5/00 (trad. DC 2227, p. 503 © Libreria Editrice Vaticana) "Se o mundo vos odeia, reparai que, antes que a vós, me odiou a mim." "Quem tem apego à sua vida, vai perdê-la; quem despreza a sua vida neste mundo, vai conservá-la para a vida eterna" (Jo 12, 25). Acabámos de escutar estas palavras de Cristo. Trata-se de uma verdade que não raro o mundo contemporâneo rejeita e despreza, fazendo do amor a si mesmo o supremo critério da existência. Todavia, as Testemunhas da Fé, que inclusivamente nesta tarde nos falam com o seu exemplo, não consideraram o seu interesse pessoal, o próprio bem-estar e a sobrevivência como os maiores valores da fidelidade ao Evangelho. Apesar da sua debilidade, opuseram uma estrénua resistência ao mal. Na sua fragilidade resplandeceu a força da fé e da graça do Senhor. A herança preciosa que estas testemunhas corajosas nos transmitiram constitui um património comum de todas as Igrejas e de cada Comunidade eclesial. Trata-se de uma herança que fala com uma voz mais alta do que os factores de divisão. O ecumenismo dos mártires e das Testemunhas da Fé é o mais convincente, pois indica aos cristãos do século XX a via para a unidade. É a herança da Cruz vivida à luz da Páscoa: herança que enriquece e sustenta os cristãos, enquanto iniciam o novo milénio. Que a memória destes nossos irmãos e irmãs sobreviva no século e no milénio que acabam de iniciar. Aliás, cresça! Seja transmitida de geração em geração, para que dela germine uma profunda renovação cristã! Seja conservada como um tesouro de valor excelso para os cristãos do novo milénio e constitua o fermento para a obtenção da plena comunhão entre todos os discípulos de Cristo! É com ânimo repleto de íntima comoção que exprimo estes votos. Rezo ao Senhor para que a plêiade de testemunhas que nos circunda ajude todos nós, crentes, a expressar com igual denodo o nosso amor a Cristo, Àquele que está sempre vivo na sua Igreja: assim como ontem, também hoje, amanhã e para sempre! Evangelho segundo S. João 15,26-27.16,1-4. «Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, que procede do Pai, e que Eu vos hei-de enviar da parte do Pai, Ele dará testemunho a meu favor. E vós também haveis de dar testemunho, porque estais comigo desde o princípio.» «Dei-vos a conhecer estas coisas para não vos perturbardes. Sereis expulsos das sinagogas; há-de chegar mesmo a hora em que quem vos matar julgará que presta um serviço a Deus! E farão isto por não terem conhecido o Pai nem a mim. Deixo-vos ditas estas coisas, para que, quando chegar a hora, vos lembreis de que Eu vo-las tinha dito. Não vo-las disse, porém, desde o princípio, porque Eu estava convosco.» Santo António (c. 1195-1231), franciscano, doutor da Igreja Sermões para o Domingo e para as festas dos santos «O Espírito da Verdade [...] dará testemunho a meu favor» O Espírito Santo é «um rio de fogo» (Dn 7,10), um fogo divino. Tal como o fogo actua sobre o ferro, também este fogo divino actua nos corações maculados, frios e duros. Em contacto com tal fogo, a alma perde, pouco a pouco, a sua negrura, a frieza e a dureza. Transforma-se por completo à semelhança do fogo que a inflama. Porque se o Espírito é dado ao homem, se lhe é insuflado, é para o transformar à sua semelhança, tanto quanto for possível. Sob a acção do fogo divino, o homem purifica-se, inflama-se, liquefaz-se, alcança o amor de Deus, tal como diz o apóstolo Paulo : «o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» (Rm 5,5).