TEXTO CURRÍCULO LATTES: IDENTIDADE, AUTO-PROMOÇÃO, VENDA DE IMAGEM, E CONTRUÇÃO DO EU João Paulo Lima Cunha (Esp. em Teoria e Prática Textuais – NPGL-UFS) [email protected] INTRODUÇÃO Este texto tem o objetivo de evidenciar a forma como o lattes possui aspectos de construção de uma identidade social, voltadas para auto-promoção de sujeitos que visam a venda de uma imagem valorizada para o seu ‘eu’ em contextos particulares. Além disso, busca-se entender de que forma tanto o gênero lattes como seus aspectos podem contribuir para o ensino. Para que fosse possível dar conta de todos os objetos de análise, buscou-se na Análise Crítica do Discurso, uma abordagem (método/teoria/perspectiva) interdisciplinar que abarcasse também o evento social (texto) como material de análise. Analisou apenas 3 currículos, coletados aleatoriamente. Mesmo sendo um assunto de suma importância para o entender questões da vida ‘moderna’, a globalização é fator, ainda, determinante das práticas sociais e seus eventos. Apesar de não ser um tema relativamente novo, a globalização ainda permanece firme perante aos debates - desde as formas mais diplomáticas a questões pessoais. Dessa forma, há relevância neste trabalho por buscar entender como aspectos da globalização transmitem, ou constroem, nos textos, hibridismos. Essas preocupações orientam toda análise durante o texto. 1 - Referencial Teórico 1.2 Análise Crítica do Discurso Análise Crítica do Discurso tem crescido em números de estudos e eventos realizados tanto no Brasil quanto em outras partes do mundo. No Brasil, a tradução do termo em inglês Critical Discourse Analysis gerou dualidade de termos para referir-se ao mesmo assunto. Alguns estudiosos preferem utilizar a nomenclatura Análise do Discurso Crítica (ADC), em vez de Análise Crítica do Discurso (ACD). Neste trabalho, sabendo que não há um consenso quanto ao nome, e nem a necessidade de discussão nesse texto, utilizar-se-á a nomenclatura Análise Crítica do Discurso - ACD, tendo em vista a preferência pelo termo, já que os principais teóricos utilizados nessa bibliografia assim preferem, ou sinalizam, o nome. Por pertencer a uma abordagem discursiva interdisciplinar, ou seja, uma abordagem sem fronteiras epistemológicas (RESENDE; RAMALHO, 2011), a Análise Crítica pode ser caracterizada de diversas formas, tanto como uma teoria, quanto um método, sem nenhum desconforto a ser realizado por aqueles que a utilizam como base de estudo para suas análises (FAIRCLOUGH, 2008; PEDROSA, 2008; PEDROSA, 2010; DIJK, 2008; WODAK, 2003). O que não há como negar nessa discussão é que todos os pesquisadores se valem de pensamento analítico e crítico, com posicionamento vinculado à analise social crítica. Em alguns casos, há diferenciações entre os meios de análise, entretanto tal heterogeneidade impulsiona a ADC para um aperfeiçoamento constante, quanto à maneira de se fazer ciência social crítica (PEDROSA, 2010; RESENDE; RAMALHO, 2011). Segundo Meyer, é necessário que a ACD, mantenha, continuamente, uma retroalimentação entre a análise e a recolhida de dados. Por isso, a seleção de dados não se encerra quando do início da análise, ao contrário, o analista diante de um fato novo, buscará, em sua fonte de dados, exemplos que possam confirmar o que foi encontrado. O que poderia gerar uma análise infinita é controlado pelo recorte estabelecido para a pesquisa. Assim, a coleta de dados passa a ser uma fase, ou melhor, um processo permanentemente operativo (apud, PEDROSA, 2008). O que a ACD busca é vincular um estudo da linguagem envolta as questões das práticas sociais. Como sugere Dijk (2008) ao dizer que os Estudos Críticos do Discurso não são um método, mas usam qualquer método que sejam relevantes para os objetivos da pesquisa. “Na perspectiva sociodiscursiva da ACD, a linguagem é parte irredutível da vida social, o que pressupõe relação interna e dialética de linguagem-sociedade, em que questões sociais são, em parte, questões de discurso, e vice-versa (RESENDE; RAMALHO, 2011, pag. 13)”. O discurso é a articulação entre os momentos das práticas sociais e as semioses/linguagens. É por meio da linguagem como discurso que na vida podemos agir e interagir, construir relações sociais, crenças, valores e identificarmos a nós e aos outros, a partir de atitudes e história. 2. 2 - Identidade Social A questão da identidade tem sido, conforme Stuart Hall (2006), amplamente discutida na teoria social. Não é algo novo tratar sobre identidade nos estudos sociais. É realmente um dilema e um desafio para a sociologia – se você se lembrar de que, há apenas algumas décadas, a “identidade” não estava nem perto do centro do nosso debate, permanecendo unicamente um objeto de meditação filosófica. Atualmente, no entanto, a “identidade” é o “papo do momento”, um assunto de extrema importância e em evidencia (BAUMAN, 2005, p. 22-23, grifo do autor). A princípio, no auge do iluminismo, pensava-se em um sujeito (uma identidade) centrada em si, unificado, consciente, em que o centro era seu interior. Oposto a esse padrão, com o nascimento das ciências sociais (sociologia), pensava-se em uma identidade (posição de sujeito) que era formada pela interação entre o ‘eu’ e a sociedade (interior-exterior). Entretanto o sujeito moderno, sobre qual a citação acima diz estar na “moda”, possui um processo que o ponto principal está em como entender as identidades ‘pós-modernas’ reveladas no discurso, ao ponto delas implicar consequências qualificadoras (Stuart Hall, 2006). “As identidades flutuam no ar, algumas de nossa própria escolha, mas outras infladas e lançadas pelas pessoas em nossa volta, e é preciso estar em alerta constante para defender as primeiras em relação às últimas (BAUMAN, 2005, p. 19)”. A identidade social tem sido cada dia menos vinculada à questão de símbolos nacionais, crenças e nações. Em novos tempos, a vinculação da identidade está em torno de meios de comunicação, entretanto em cada caso deve-se ter a vinculação do contexto das identidades. Há um atual deslocamento da identidade do cidadão para a identidade do consumidor (CANCLINI apud, RESENDE; RAMALHO, 2011); (BAUMAN, 2001). “As identidades modernas territorizadas vão cedendo lugar a identidades configuradas no consumo, “naquilo que se possui, ou naquilo que se pode chegar a possuir” e consequentemente a novas identidades (RESENDE; RAMALHO, 2011)”. Para Bauman, as pessoas tendem a não nascer com uma identidade, como outrora se pensava. Há um processo globalizante de busca por ela. Os sujeitos precisam se tornar algo (não nascem algo). Em busca desse desvelamento da identidade na linguagem, Fairclough identifica o ethos como uma “identidade social” construída socialmente (FAIRCLOUGH, 2008, p.207). Isto é, vários fatores são relevantes e contribuem para uma identidade (imagem/estereótipo) perante o grupo social. Um “tipo de linguagem usado por uma categoria particular de pessoas e relacionado com sua identidade” (Chouliaraki; Fairclough, 1999). 1.3 - Auto-promoção e Venda de Imagem A investigação da linguagem com base na identidade conforme Fairclough sugere, em uma perspectiva interdisciplinar, a busca por questões consequentes da globalização, principalmente, através das mídias. Portanto, tal busca pode explicar porque eventos sociais (textos), em contextos particulares, assumem formas de poder e vozes representam o mundo por meio de construções particulares de identidades sociais. (ORMUNDO, 2010). Anteriormente no texto, citou-se sobre o hibridismo que ocorre nos textos. Com a globalização, a incorporação de diferentes gêneros, estilos e campos discursivos é algo recorrente. O discurso publicitário é uma dessas incorporações. Entretanto, apenas os aspectos da auto-promoção e venda de imagem serão levados em conta nessa análise. A propaganda, por outro lado, é definida como a propagação de princípios e teorias. Em outros termos, a publicidade vende um produto e a propaganda vende uma idéia. Todavia, no Brasil, vender produto, implica vender idéia. Sendo assim, costuma-se usar a designação publicidade para ambos e, por essa razão, o uso da expressão anúncio publicitário é mais frequente que anúncio propagandístico (SILVEIRA, 2010, p. 38, grifo do autor). Conforme Bauman (2001), envolto em um mundo do consumo, estamos sempre infelizes, ansiosos, insatisfeitos e inseguros como consumidores em busca de uma mercadoria. A procura da construção de uma identidade louvável, que de certa forma, consegue se promover por meio da linguagem, nesse contexto insaciável, consumista em relação a títulos e eventos acadêmicos, por vezes sem consciência tácita, é o que faz o gênero discursivo lattes ser importante para o estudo crítico do discurso e suas possibilidades. 1.4 - Gênero Lattes A materialidade linguística utilizada para análise é o texto introdutório do lattes, não que se esteja menosprezando o valor promocional ou informativo dos outros campos que compõem o gênero. Entretanto, essa opção é por acreditar que tal texto inicial pode refletir a capacidade criativa dos enunciadores. Como currículo lattes é um gênero específico, há também a presença das peculiaridades citadas. O lattes é um gênero textual já existente: curriculum vitae. Ele também funciona como um currículo de vida, entretanto está direcionado a uma pequena esfera da sociedade, restringindo-se aos acadêmicos e técnicos, onde eles podem informar sobre sua produção como profissional, pesquisador e estudioso, dentro de um estilo particular. O nome lattes é em homenagem ao estudioso, e um dos maiores pesquisadores brasileiros, o físico Césare Mansueto Giulio Lattes, mais conhecido como César Lattes (PLATAFORMA LATTES, 2010). O gênero lattes, como em todo gênero com ligações institucionais, é de certa forma controlado por o que Teun van Dijk (2008) chama de “elites simbólicas”. As elites simbólicas no caso do lattes podem ser entendidas como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, (CNPq), e seus diversos estudiosos. O controle do lattes é exercido através do acesso que as pessoas podem ter ao gênero. Hoje, é preciso reconhecer o papel de destaque das mídias como instrumento de lutas hegemônicas, o qual ampliou a possibilidade de grupos cada vez mais restritos disseminarem seus discursos, suas visões particulares de mundo como se fossem universais (RESENDE; RAMALHO, 2011). 2 - Análise O discurso na sociedade pós-moderna, sem dúvida, cumpre uma etapa importante na constituição e reprodução de identidades sociais. Isto se deve ao uso constante da veiculação do uso da linguagem à mídia escrita, falada e televisiva entre outras. Nessa relação, há a propagação de relações de poder, além da criação de identidades sociais de forma peculiar a uma sociedade. Dessa forma, há características que diferenciam a sociedade pós-moderna (contemporânea) de grupos anteriores, de outra época social (FAIRCLOUGH, 2001, p.40). Assim como em outros gêneros na sociedade pós-moderna, o lattes não possui uma identidade sólida, acabada e estruturada. O que marca essa sociedade conforme descreve Bauman (2005), é a capacidade de negociação e de decisões de cada indivíduo para trilhar os caminhos e determinar sua identidade. “Ao contrário de outras teorias que veem o poder como uma força de coação unilateral da estrutura sobre o indivíduo, que dela não consegue se libertar, para a ADC o poder é temporário, com equilíbrio apenas instável (RESENDE; RAMALHO, 2011)”. Só participam do lattes as pessoas que tem acesso ao gênero – professores, pesquisadores, técnicos e estudantes. Uma pessoa ‘comum’ da sociedade que não possui as características pretendidas não pode ser um enunciador no gênero, pois se enquadra na restrição do mesmo. Acesso aos gêneros é, de certa forma, poder decidir quem pode falar; quem pode escrever; sobre quem e para quem; quando e em que contexto; quem pode participar; quais papéis podem desempenhar. Ter acesso ao gênero é inevitavelmente ter mais poder social (DIJK, 2008, p.89). Ser enunciador do lattes é possui um poder social simbólico; é possuir um status valorizado no contexto de uso desse gênero. O contexto do lattes é controlado pelas instituições que exigem dos que buscam de alguma forma participar de uma seleção a apresentação do lattes, seja a apresentação para emprego ou para financiamentos de pesquisas. Em busca dessa valorização, os enunciadores usam o lattes como uma vitrine, uma propaganda, uma publicidade para valorizar suas identidades construídas historicamente. As relações sociais estabelecidas com o gênero possibilitaram a construção de identidades sociais estereotipadas. Todos que participam do lattes se inserem no status dos intelectuais. Deixam de fazer parte de uma grande massa e incluem-se na pequena classe dos estudiosos (diferenciados). O processo produtivo e interpretativo do lattes perpassa por outra ideologia fundamentada para a criação da identidade ideal: a auto-promoção. Existe a ideologia também nos currículos que possui um tom de caráter comercial. A ideologia diz respeito ao que o enunciador precisa fazer para se autopromover: “vender-se”. Desse jeito é possível ter alguma chance de sucesso na vida acadêmica. O texto precisa ser convincente, apresentando as vantagens e possíveis contribuições para todas as categorias consumidoras do lattes. Tal pensamento serve da mesma forma para os que irão consumir o texto, pois terão a autopromoção como um parâmetro avaliativo para selecionar ou não o candidato, enunciador do lattes (FAIRCLOUGH, 2001). Currículo 1: Observa-se, por meio do texto, que as escolhas lexicais do enunciador visam expressar uma progressão crescente em sua profissão. A escolha de palavras como nomes próprios e de instituições são comuns para expressar o status do enunciador e suas relações com outros agentes sócias no mesmo ambiente, tanto acadêmico quanto profissional (RODRIGUES-JÚNIOR, 2010). Isso se pode confirmar a partir do segundo currículo . Currículo 2: A identidade institucional é um dos mecanismos promocionais, tanto para as pessoas que participam da instituição, quanto para a própria instituição, conforme Fairclough (2001). A logomarca de uma instituição, isto é, o ‘nome’, a ‘bandeira’, a representação institucional, possui para qualquer gênero discursivo, quando inscrito no ambiente contextual específico, um valor qualitativo. Sendo assim, quando os enunciadores fazem uso desses sintagmas nominais, estão incorporando ‘valores’, característicos das instituições, ao seu discurso (MAINGUENEAU, 2008). Os nomes das instituições de ensino funcionam como uma grande ‘marca’ que oferece seus produtos (cursos, aperfeiçoamento, títulos) aos clientes (estudantes, pesquisadores, funcionários e sociedade). Além das escolhas de palavras com valores institucionais fortes, há também a presença de palavras cujos valores profissionais são postos em evidência. Um cargo ocupado em determinadas instituições, a participação em grupos de pesquisas, citação de publicações de livros, nome de orientadores são outros aspectos presentes no lattes para construção da identidade ideal no currículo. É possível fazer uma referência do lattes ao mercado empresarial. Nesse ambiente os discursos sempre privilegiam os meios de liderança e promoção. Embora se saiba que existam muitas palavras de cunho promocional que pertencem ao meio empresarial, elas, devido à necessidade de valorização da identidade social de cada enunciador, migraram para outro campo discursivo, fazendo parte também do discurso promocional no lattes. Foi o que aconteceu com as palavras que pertencem ao campo semântico do vocábulo “liderança”. Currículo 3: O currículo apresentou a característica empresarial dentre poucos que a utilizou. Outros optavam sempre por fazer uso de palavras/verbos com pouca evocação promocional. A presença dos itens ‘chefiou’ e ‘coordenou’ denotam um aspecto de ação em um processo. Os verbos que expressam tal característica estão sendo escolhidos para compor o discurso, mesmo quando outros verbos poderiam expressar a mesma ideia de forma mais fiel ou similar, numa relação de sinonímia. Ser líder é “está à frente de todos e sobressaindo-se aos outros, em seu cotidiano familiar e, principalmente, em seus projetos profissionais (FARIAS; PEDROSA, 2008, p.107)”. Uma escolha lexical digna de nota é liderança na primeira frase. A expressão das relações acadêmicas em termos de liderança faz parte, na minha opinião, de um discurso empresarial que tem colonizado a ordem do discurso acadêmico recentemente e que na verdade, acho extremamente antipática. Em termos das características do discurso promocional discutidas anteriormente, o excerto é mais uma significação/construção do sujeito/objeto do que uma descrição baseada só no referencial, e o sentido parece estar subordinado ao efeito (FAIRCLOUGH, 2001, p.60-61, grifo do autor). O hibridismo recorrente nos gêneros é a principal característica advinda com a globalização. A presença do discurso empresarial é reforçado pelo discurso comercial como marca importante também no lattes. Outra manifestação do hibridismo (intertextualidade) nas condições expostas pelo fragmento acima é o exemplo em que um texto coloca um endereço eletrônico, apresentando as suas informações pessoais e profissionais que, possivelmente, não foram descritas no lattes ou servem como informações auxiliares sobre conteúdos impróprios para o gênero. O falante, nessa condição, está fora do seu próprio discurso, oferecendo condições para controlar ou manipular o discurso. Existe aí uma relação entre discurso e a construção de identidade - é o que o lattes se propõe fazer. Chamando tais exemplos de ‘itens de anúncio de emprego’ é como Fairclough (2001) define a utilização da estrutura linguística no discurso, pois é comum encontrar nos anúncios de emprego, nos classificados de jornais, a referência a informações fora do próprio gênero, ou seja, se houver necessidade de maiores informações, as pessoas devem procurar os elementos secundários no endereço informado no anúncio. Para o lattes e seus usuários é possível assegurar sua posição de prestígio através da legitimação que são relações de dominação representadas como legítimas conforme Thompson (apud. RESENDE; RAMALHO, 2011). Por meio da narrativização (histórias do passado que legitimam o presente), Universalização (interesses específicos são apresentados como interesses gerais) e Racionalização (raciocínio que procura justificar um conjunto de relações) confirma-se o poder hegemônico que o lattes possui. Outra parcela importante para manutenção da hegemonia no lattes é a sua Unificação. A unificação [...] consiste em construir simbolicamente uma forma de unidade que interliga indivíduos numa identidade coletiva, independentemente das divisões que possam separá-los. Duas estratégias principais são relacionadas a esse modo: a padronização, baseada num referencial padrão partilhado, e a simbolização, a construção de símbolos de identificação coletiva (RESENDE; RAMALHO, 2011, p. 29). Para romper a padronização é preciso que os enunciadores tenham consciência que os gêneros discursivos possuem estilos característicos de cada identidade conforme Fairclough. O estilo pode caracterizar um determinado gênero e consequentemente ser o elemento definidor de uma identificação. “tipo de linguagem usado por uma categoria particular de pessoas e relacionado com sua identidade” já que o estilo é a maneira de identificar a si e aos outros. (Chouliaraki; Fariclough, 1999, p.63). Entretanto, a formação da identidade não é apenas um processo lingüístico. Nele há todas as possibilidades da construção discursiva conforme virmos anteriormente (FAIRCLOUGH, 2003). 3 – Lattes e Ensino A principal discussão em torno de ensino de línguas é a introdução do estudo dos gêneros textuais, entretanto é preciso ressaltar que não basta apenas utilizar o gênero como ferramenta. É preciso utilizá-lo de forma crítica, desenvolvendo as competências individuais inerentes a cada aluno (MARCUSCHI, 2008). O estudo do lattes pode contribuir com o ensino, auxiliando os alunos para se portarem criticamente frente a textos repletos de lutas hegemônico-ideológicas. O texto deve ser levado em consideração em todos os seus aspectos. Deve-se entender sua constituição discursiva, embora a constituição lingüística (textual) seja tão importante quanto a outra. A busca por um espaço social valorizado, seja em qualquer área, será o desejo dos profissionais que estão sendo formados na educação básica. Além disso, tem que se ressaltar a importância da produção textual para auto-promoção, já que vivemos em um mundo tão competitivo. “Segundo Moita Lopes, “ensinar a usar uma língua é ensinar a se engajar na construção social do significado e, portanto, na construção de identidades sociais dos alunos. Mas a fim de possibilitar essa construção identitária, é necessário que o próprio profissional docente se engaje nesse processo de construção social, ressignificando-se, para assim poder atuar como agente de transformação e forjar novas posturas e identidades sociais” (REICHMANN, 2010, P. 47-48). O que se valoriza na citação é o ensino pautado tanto no aluno quanto no professor. Os dois, além da inclusão de políticas educacionais, devem ter a consciência do processo que envolve o ensino de línguas. CONCLUSÕES É fato notório que para se manterem temporariamente em posição hegemônica, grupos particulares criam mecanismos que possibilitam manter posição de liderança, moral, política e intelectualidade. É o que ocorre com o lattes verificado em sua particularidade. Essa particularidade possibilita que o gênero faça parte dos tipos de textos que servem como base para o estudo no ensino da educação básica, já que o mesmo possibilitar o preparo do aluno (e professor) para o senso crítico e competência. Pode se concluir que o lattes é gênero de ideologias, hegemonias e características autopromocionais. Tudo isso vinculado às relações de poder institucional das elites simbólicas dos pesquisadores/estudiosos. Devido ao breve espaço, o texto cumpre o importante papel de divulgar tanto a ACD quanto a identidade vinculada ao lattes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. BAUMAN, Zygmunt. Identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. CHOULIARAKI, Lilie; Fairclough, Norman. Discourse in late modernity: rethinking critical discourse analysis. Edinboug University, 1999. FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e mudança social. Tradução Izabel Magalhães. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2008. ______. Analysing Discourse: textual analysis for social research. London; New York: Routledge, 2003. ______. A análise critica do discurso e a mercantilização discurso público: as universidades. In: MAGALHÃES, Célia M. Reflexões sobre a análise do discurso. Belo Horizonte: Faculdade de Letras, UFMG, p.31-81, 2001. FARIAS, Silvia Margarida dos Santos; Pedrosa, Cleide Emília Faye. As imagens de si no gênero editorial. In. 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