SERVIÇO DE ESCOLARIZAÇÃO HOSPITALAR: DESENVOLVENDO UMA EDUCAÇÃO DE VANGUARDA XAVIER, Angela Regina Ramalho – SEED [email protected] Eixo Temático: Educação Hospitalar Agência Financiadora: Governo do Estado do Paraná Resumo Este trabalho pretende discorrer sobre o atendimento educacional/hospitalar desenvolvido no Hospital Universitário Regional de Maringá, no período de 02 anos (junho/2007 a junho/2009), na modalidade de educação hospitalar, a partir da implantação do Programa SAREH (Serviço de Atendimento à Rede de Escolarização Hospitalar) pelo governo do Estado do Paraná. Visando oferecer educação nas modalidades de 5ª a 8ª séries, Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA) aos alunos enfermos, como garantia da continuidade do processo educativo, o referido programa, desde 2007 é desenvolvido em seis hospitais na cidade de Curitiba, um em Londrina e outro em Maringá, onde se realizou o presente estudo. Premiado pela Federação das indústrias do Estado do Paraná (FIEP), por integrar o conjunto das iniciativas que compõem os “Objetivos do Milênio” traçados pela Organização das Nações Unidas (ONU), o serviço educacional paranaense é considerado de vanguarda na educação, pelo seu caráter inovador enquanto política pública. Diferencia-se das demais ações educativas ocorridas no âmbito hospitalar, por considerar o atendimento pedagógico oferecido pelas equipes que desenvolvem o programa nos hospitais (uma pedagoga e três professores) como equivalente a freqüência e conteúdo, ou seja: são consideradas válidas as aulas dadas no hospital e dessa forma os alunos enfermos não perdem aulas nem conteúdos por conta da enfermidade. Iniciar um atendimento educacional/hospitalar nesses moldes, com pouco referencial bibliográfico e ainda num ambiente diferenciado (hospital) exigiu de seus participantes muita coragem, dedicação e pesquisa. O desafio dessa experiência pioneira, vivenciada pela equipe do Programa SAREH que atua no Hospital Universitário Regional de Maringá, com seus percalços, suas etapas de desenvolvimento, suas conquistas e o desdobramento que ora se vislumbra, apontam caminhos exitosos os quais se pretende descrever nesse relato. Palavras-chave: Hospital. Escola. Escolarização Hospitalar. SAREH. Maringá Introdução O atendimento educacional hospitalar iniciou-se no Hospital Universitário Regional de Maringá no dia 08 de junho de 2007, após a equipe (professores e pedagoga) passar pela 6744 primeira capacitação, realizada entre final de maio e início de junho em Curitiba, ocasião em que o programa foi lançado oficialmente. Finda esta capacitação, o grupo de professores apresentou-se no hospital, onde teve início mais uma semana de estudos denominada “Semana de Vivência Hospitalar” constando de palestras, visitas aos diversos setores do hospital, orientações em relação à procedimentos de higienização e rotina, conhecimento de profissionais (médicos, enfermeiras, chefias e suas hierarquias administrativas) com as quais teriam contato. Após a semana de estudos, no dia 14 de junho de 2007 iniciou-se o atendimento pedagógico aos alunos enfermos. O censo escolar/hospitalar Tudo era muito novo: o hospital, as pessoas, os alunos pacientes, o próprio professor sentia-se “estranho” num ambiente diferenciado. Não se sabia como nem por onde começar, mas era preciso começar. De imediato, não se pensou em solicitar uma listagem de pacientes, coisa rotineira num hospital que opera com sistema informatizado. Sem essa listagem, abordavam-se pacientes em todas as dependências do hospital, solicitando informações sobre sua situação escolar. Constantemente confundia-se a equipe de professores com os pro fissionais do hospital (médicos, enfermeiros) e solicitavam-lhes que resolvessem questões pertinentes à área da saúde. Essas abordagens gerais resultaram nas primeiras intervenções escolares. O atendimento educacional/hospitalar Finda a tarefa de localizar possíveis alunos no interior do hospital, era preciso atendêlos. As capacitações proporcionaram à equipe alguns direcionamentos, mas uma dúvida era crucial: de onde partir? Nesse momento, a “escuta pedagógica” como apreensão/compreensão de expectativas e sentidos, tal qual a define Ceccim, foi de grande valia. O termo escuta provém da psicanálise e diferencia-se da audição. Enquanto a audição se refere à apreensão/compreensão de vozes e sons audíveis, a escuta se refere à apreensão/compreensão de expectativas e sentidos, ouvindo através das palavras, as lacunas do que é dito e os silêncios, ouvindo expressões e gestos, condutas e posturas. (CECIM, 1997, p.31). 6745 Entender o que não foi dito, traduzir gestos, expressões, condutas e posturas desse novo “aluno-paciente” que está ali, diante de nós, com sua enfermidade, sua curiosidade e seus medos, resultantes de um ambiente desconhecido, aliado ao desconhecimento da própria enfermidade e suas possibilidades (ou não) de cura, exposto a procedimentos invasivos, geradores de dor e sofrimento, esse era o nosso maior desafio. O perfil/diagnóstico A “escuta pedagógica” levou-nos à elaboração de uma ficha perfil/diagnóstico do aluno enfermo. Enquanto solicitavam-se os conteúdos à escola de origem, os professores exercitavam sua capacidade de ouvir pedagogicamente os internos, elaborando individualmente o diagnóstico/perfil de cada aluno encaminhado para atendimento educacional/hospitalar. De posse dos conteúdos enviados pela escola, os mesmos eram imediatamente repassados aos professores. Caso a escola não enviasse os conteúdos em tempo hábil, consultavam-se as Diretrizes Curriculares Estaduais e, de acordo com a série e a disciplina, aliados à experiência dos professores e as informações colhidas no diagnóstico dos alunos, definiam-se os conteúdos a serem trabalhados. Ouvindo o aluno enfermo, na maioria das vezes obtinha-se a informação de quais os últimos conteúdos estudados por ele na escola regular, o que facilitava em muito o trabalho da equipe. O currículo Uma classe hospitalar que funciona no interior de um hospital público, que atende usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), e que recebe alunos pacientes vindos, na sua maioria de escolas públicas, tanto da cidade de Maringá quanto dos municípios que compõem a Região Metropolitana, deve pensar num currículo que lhes possibilite o acesso ao conhecimento historicamente produzido, como via de emancipação humana. Dessa forma, a abordagem curricular dos alunos enfermos atendidos no Hospital Universitário Regional de Maringá é focada no conhecimento, com base nas teorias críticas de currículo e organizada de forma disciplinar. 6746 Para atender as especificidades do aluno enfermo, realizaram-se adaptações curriculares no âmbito do projeto pedagógico (currículo escolar). Partiu-se da visão do todo (currículo amplo), analisando-se criteriosamente o que seria essencial para o aluno aprender naquele momento específico da internação. “As ações adaptativas visam a flexibilizar o currículo para que possa ser desenvolvido na sala de aula e atender às necessidades especiais de alguns alunos” (PINHEIRO, 2006, p.4). Entende-se que o “aluno de hospital” nesse momento peculiar de internação e enquanto acometido de uma enfermidade, passa por necessidades consideradas “especiais”. O método Focada na visão progressista da educação, a equipe SAREH do Hospital Universitário Regional de Maringá conduz os alunos enfermos à compreensão da realidade histórico-social, levando-os ao entendimento do papel do sujeito construtor e/ou transformador dessa mesma realidade. Dentro da pedagogia progressista, adota-se a tendência libertadora que tem em Paulo Freire, Moacir Gadotti e Rubens Alves seus principais representantes. A metodologia Quando falamos em metodologia, não estamos falando de método, mas sim de formas de trabalhar que vão sendo construídas pelos professores na prática cotidiana de um hospital, junto a um grupo de crianças, adolescentes e adultos com enfermidades e escolaridades as mais diversas. Essas formas sofrem modificações nas diferentes situações com as quais professores e alunos vão se defrontando. Dessa maneira, entende-se que metodologia é o modo que cada professor encontra de trabalhar os conteúdos com o aluno hospitalizado, seja na enfermaria, no quarto onde o mesmo encontra-se internado, na sala de aula do Programa SAREH ou no solarium, ao ar livre. Os espaços no hospital são diferenciados, mas as práticas pedagógicas ali desenvolvidas são escolares, embora ocorram de maneira peculiar. Tratando-se de Programa SAREH, a primeira metodologia utilizada é ouvir o aluno, saber quais são suas reais necessidades e interesses. A primeira tarefa do “professor de hospital” é conhecer os alunos com os quais irá trabalhar. Nesse sentido, a capacidade de 6747 “escuta”, de observação e de registro é fundamental, pois nas conversas entre eles, nas suas brincadeiras, nas relações que vão estabelecendo com os objetos e os seres que os rodeiam, dão-nos indicativos das suas necessidades, interesses e formas de aprender. Nada impede que os professores escolham as metodologias de acordo com a adequação delas à idade ou as possibilidades do aluno enfermo, à natureza do trabalho, ao tipo de temática ou aos conteúdos que pretende desenvolver ou ainda, aos tempos e espaços disponíveis à sua realização no hospital, mas o ponto de partida é sempre o perfil diagnóstico. Na escolha da metodologia, deve-se ter em mente que cada aluno é um ser em potencial, oriundo de culturas diversas, nas quais interferem valores, atitudes, procedimentos, maneiras de viver e de conviver. É importante para os professores conhecerem as diferentes maneiras de trabalhar, para que possam selecionar as mais apropriadas ao aluno hospitalizado e que provoquem nele curiosidade e desejo de agir sobre o mundo. Essas metodologias devem promover, quando possível, a interação entre os alunos hospitalizados e possibilitar a exploração dos espaços e dos objetos, ao mesmo tempo em que devem levar em consideração suas necessidades de brincar, de conhecer o mundo e de se expressar por meio de diferentes linguagens. Conhecendo e explorando o espaço hospitalar Ao iniciar-se o atendimento pedagógico no Hospital Universitário Regional de Maringá, procurou-se andar pelos corredores do hospital, conhecendo e observando cada espaço com “olhar de educador”, buscando caminhos alternativos sobre esta nova realidade. Dessa maneira, verificou-se a possibilidade de explorar pedagogicamente os vários painéis decorativos pintados nas portas e paredes da ala do Pronto Atendimento. Esse trabalho foi realizado por um grupo de artistas plásticos ligados à Diretoria de Cultura da Universidade Estadual de Maringá. O trabalho dos alunos enfermos chamou a atenção do grupo que através da artista plástica Tânia Machado, assim se expressou a respeito: Bom dia pessoal do SAREH! Que bacana! Realmente, os chamarei de boa colheita! As imagens que serviram de inspiração para os seus alunos-pacientes, fizeram parte de um Projeto de Extensão chamado OLHOS COLORIDOS, que desenvolvemos com a coordenação do HUM. Foram realizados por integrantes do grupo APIS - Artes Visuais da UEM; somos da PEC/ Diretoria de Cultura e o grupo já existe há 15 anos. Olha, é uma satisfação saber que as imagens inspiram outros corações. Muito obrigada, bom trabalho e quando precisarem nos procurem. Felicidades! (Tânia Machado, mensagem pessoal enviada à autora). 6748 Pensou-se inicialmente em incentivar a professora da disciplina de Artes para trabalhar com os alunos enfermos a releitura desses painéis. Mas a idéia expandiu-se e os professores das demais áreas exploraram os painéis em todas as suas potencialidades, abrangendo todas as disciplinas. Trabalhando com sucatas hospitalares Movidos por esse “olhar” de educadores/pesquisadores, investigou-se a possibilidade de encontrar “sucatas hospitalares” entendidas aqui como material que está inutilizado no hospital ou de pouco valor, mas que igualmente tivesse possibilidade de uso pedagógico. Encontrou-se nas chapas de radiografias que eram descartadas pelo hospital essa possibilidade e a partir delas, criaram-se infinitas possibilidades de exploração, na disciplina de Artes. Desenhos utilizando guache, crayon, cola colorida e glitter, tendo como fundo as radiografias, foram o destaque da primeira Mostra Pedagógica realizada pela equipe. Nesse mesmo enfoque, descobriu-se no hospital embalagens de galões de oxigênio, contendo redes de proteção na cor verde, que foram armazenadas durante todo o ano. De posse desse material, juntamente com os alunos enfermos criou-se motivos natalinos que resultaram na montagem de uma “árvore de natal pedagógica”, a primeira nesse estilo que decorou o corredor principal do hospital em dezembro de 2008. Nesse Natal, trabalhou-se ainda com “rolinhos” (aquela parte de papel mais dura e de cor escura, que serve de suporte para enrolar o papel higiênico), surgindo também criativas árvores de Natal que decoraram um dos corredores do hospital. Atividades significativas Ausubel, contemporâneo de Piaget, distingue dois eixos ou dimensões para a aprendizagem: a aprendizagem significativa e a memorística. “Ausubel fala de disposição para aprender como condição para a aprendizagem significativa” (ALECRIM, 2008, p.40). Entendemos por atividades significativas aquelas que apresentam sentido e significado em si mesmas e as quais o aluno hospitalizado tem prazer em realizá-las, compreende o “porque” de sua realização, demonstrando interesse e disposição para aprender. Aqui, 6749 incluem-se atividades como o brincar, ouvir ou contar histórias, leitura e/ou confecção de gibizinhos, desenhos, ilustrações, colagens, preencher diagramas ou palavras cruzadas, produzir e/ou interpretar textos a partir de “tiras”, “cartuns” ou “charges”, realizar jogos e desafios que desenvolvam o raciocínio lógico-matemático, atividades artísticas como pintura ao ar livre, música e dança (quando possível, pois os alunos enfermos, na maioria das vezes, apresentam-se na sala de aula com pés e/ou mãos imobilizados), realização de pequenas experiências científicas, bem como atividades ligadas aos cuidados corporais, ao aprendizado do auto cuidado, dos valores e regras de convivência social. Atividades diversificadas Com referência às metodologias que envolvem atividades diversificadas, como as realizadas ao longo desses dois anos: Tarde de Artes Plásticas (2007/2008), Tarde de Jogos (2008), Cantos Pedagógicos (2008), Oficinas Temáticas (2008), “Pintando o 7 no HUM”, atividade de pintura ao ar livre (2007/2008) e Mostra de Atividades Pedagógicas (2007/2008), constatou-se a viabilidade das mesmas acontecerem no ambiente hospitalar. Optou-se em organizar essas atividades em datas significativas como a “Semana da Criança” e por ocasião do aniversário do Programa SAREH. Nessas ocasiões, coloca-se à disposição dos alunos enfermos uma diversidade de materiais e de possibilidades pedagógicas à sua livre escolha. O papel do professor, nessas situações, tem sido o de organizar os espaços e os materiais, juntamente com a pedagoga (cada professor organiza a sua área), mediando, observando e desafiando os alunos para que explorem suas potencialidades. Explorando pedagogicamente a enfermidade Estar em um hospital constitui-se uma experiência de aprendizagem significativa e que contribuirá de forma efetiva para a vivência e maturação do aluno enfermo. Conhecer a natureza de sua enfermidade, suas manifestações, o funcionamento de seu corpo, os procedimentos terapêuticos, seus direitos enquanto paciente, a função de cada espaço dentro do hospital e as relações que se estabelecem entre os pacientes, todas essas questões compõem um vasto currículo escolar praticado no espaço hospitalar e que dá margem à explorações as mais diversas por parte dos professores que atuam no hospital. 6750 Dessa forma, na disciplina de Língua Portuguesa, trabalhou-se com os alunos hospitalizados a construção de histórias em quadrinhos, onde se exploraram narrativas, efetuadas por meio de desenhos e/ou textos, registrando histórias de suas enfermidades, desde o início em que elas se manifestaram até darem entrada no hospital, o que vivenciaram durante o período de internação, a recuperação da saúde, o atendimento educacional recebido e a alta. Surgiram atividades muito ricas em conteúdo e detalhes, narrando histórias de superação e que resultaram em benefício para os alunos enfermos, no sentido de maturação e experiência de vida, além de terem sido significativas e envolventes, sob o ponto de vista pedagógico. Uma dessas narrativas foi a da aluna Samara, que cursava a 5ª série e na época, estava sendo atendida há uma semana pela equipe SAREH. A aluna, que se expressava muito bem na oralidade, contou-nos sua "aventura" de andar de SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) assim: "Era uma van vermelha escrito "SAMU". Veio me levar porque eu tinha tido uma convulsão e ainda estava meio "girando". Os "caras" vieram com uma maca dura, me colocaram no oxigênio e me levaram correndo para fora. O oxigênio fazia "chiiiiiii" sem parar e o motorista veio dirigindo “que nem” um doido, com a sirene ligada, dando "pau" nos carros para chegar logo. Eu achei “massa” andar de SAMU, mesmo de maca dura que doía as minhas costas. Mas quando cheguei aqui, me colocaram numa maca pior ainda" (SAMARA, 11 anos). Fichas de conteúdos plastificadas Iniciou-se em 2008 um fichário, contendo conteúdos flexibilizados, separados por área e por disciplina. Estas fichas foram preparadas pela pedagoga, com o auxílio dos professores na pesquisa dos conteúdos. A equipe preocupou-se em selecionar conteúdos que fossem curtos, significativos, interessantes e direcionados à demanda de atendimento escolar/hospitalar encontrada no Hospital Universitário Regional de Maringá: Ensino Fundamental (Series Iniciais e Finais) Ensino Médio e EJA (Educação de Jovens e Adultos). Nessa perspectiva, elaborou-se uma série de fichas contendo imagens, textos, atividades, charges, poemas, diagramas, desafios envolvendo raciocínio lógico-matemático, textos sobre esportes e demais atividades consideradas adequadas ao atendimento escolar/hospitalar. Em seguida, plastificou-se todo esse material, de forma que pudesse 6751 permitir o manuseio de diferentes alunos enfermos permitindo, ao mesmo tempo, que se fizesse a higienização utilizando álcool 70° a cada uso, evitando dessa forma a contaminação por transmissão de bactérias, preocupação constante quando se trabalha num hospital. Essas idéias foram surgindo a partir do momento em que se ampliou a vivência do grupo de professores na rotina do atendimento educacional/hospitalar, verificando-se a inexistência de material pedagógico direcionado a esse tipo de atendimento. Atribui-se este fato ao caráter pioneiro do programa que, na sua prática, está sendo moldado pela equipe de atendimento (pedagoga e professores), que desse modo tornam-se de fato, atores e autores da história do atendimento educacional/ hospitalar no estado do Paraná e referência nessa modalidade de atendimento a nível nacional. Pastas individuais Também plastificada, por questões de higienização, conforme relato anterior (ficha de conteúdos), a equipe preocupou-se em organizar também em 2008, pastas individuais para armazenamento da documentação escolar dos alunos atendidos, tais como: ficha de acompanhamento, 2ª via da ficha de atendimento (oficial), avaliação familiar, autorizações diversas dos pais (para filmar, fotografar, citar nome de alunos em reportagens, entre outras) e atividades pedagógicas realizadas pelo aluno no contexto hospitalar. Estas pastas acompanham o aluno durante toda a internação e após a alta, a documentação é armazenada em envelopes identificados e numerados, que são arquivados após a conclusão dos relatórios (ficha de atendimento/pareceres). A ficha plastificada é então higienizada e disponibilizada para uso de outro aluno-paciente. Uso da tecnologia Os recursos tecnológicos, tanto em termos de equipamentos (TV Multimídia, notebook, máquina fotográfica digital, entre outros), são colocados a serviço do atendimento educacional/hospitalar. Além disso, utilizam-se os recursos midiáticos (jornal, rádio e TV) para divulgação das ações do programa. A internet tem se mostrado excelente instrumental para troca de experiências entre os profissionais que trabalham com educação hospitalar, nos vários estados e regiões do país, além de divulgar as ações pedagógicas realizadas no 6752 programa. Com este objetivo, criou-se o “Blog do SAREH/HUM” 1 onde postam-se, semanalmente os acontecimentos mais relevantes do programa SAREH no Hospital Universitário Regional de Maringá. Ainda na rede, através do Orkut,2 a equipe que atua no SAREH/HUM integrou-se às demais comunidades de educação hospitalar do país: naquele espaço, além dos vínculos de amizade e conhecimento, trocam-se experiências, atividades, informações sobre cursos, congressos e eventos nacionais e/ou estaduais e, principalmente divulga-se o atendimento de vanguarda realizado nos hospitais do Paraná. A comunicação da equipe SAREH/HUM com as escolas de origem dos alunos enfermos, com a responsável pelo programa SAREH no NRE (Núcleo Regional de Educação) e com a equipe de Coordenadoras do NAS (Núcleo de Apoio ao SAREH) na SEED (Secretaria de Estado da Educação) ocorre preferencialmente via email ([email protected]). Para registrar a história do programa, suas conquistas e seus avanços, criou-se a partir da Semana da Criança de 2008 o “Jornal do SAREH” um informativo mensal que, até o momento, é produzido de forma artesanal e com uma tiragem reduzida, mas que pretende tornar-se capaz de chegar a todas as escolas do município de Maringá, divulgando o serviço de escolarização hospitalar realizado dentro do Hospital Universitário Regional de Maringá, servindo ainda para conscientizar diretores, professores e funcionários sobre as ações e objetivos do programa, bem como prestar orientações de como as escolas devem proceder em relação ao atendimento escolar dos alunos enfermos (inserção e/ou reinserção escolar, tarefas domiciliares, entre outras). Atendimento domiciliar No curso de capacitação realizado em maio deste ano na cidade de Curitiba, além do atendimento educacional hospitalar, as oito equipes SAREH do Paraná tiveram orientações preliminares sobre o Atendimento Educacional Domiciliar, um novo desdobramento também 1 Link para acesso: http://sarehmga.blogspot.com/ 2 Link para acesso: http://www.orkut.com.br/Main#Home.aspx 6753 conhecido como uma nova “ramificação” do Programa SAREH que já está acontecendo em algumas Unidades. Trata-se do atendimento à alunos cuja enfermidade (normalmente prolongada ou definitiva) impede-os da frequencia às aulas numa escola regular. A SEED tem liberado professores para que atendam a estes alunos individualmente, em suas residências. O Programa SAREH/HUM através do Professor Severio Donisete do Nascimento (área de Ciências Exatas), iniciou no mês de maio o atendimento domiciliar a um aluno do 2º ano do Ensino Fundamental. A enfermidade desse aluno é popularmente conhecida como “ossos de vidro” (osteogenesis imperfecta), “doença de origem genética que provoca alterações na produção de colágeno, ocasionando a quebra dos ossos a qualquer movimento brusco, tropeço, queda ou outros acidentes” (CABRAL, 2009, online). Conforme orientações do Núcleo Regional de Educação de Maringá (NRE), o atendimento domiciliar pode acontecer quando o aluno tiver que se ausentar por mais que três meses da escola. Para isso, é preciso que os pais ou responsáveis levem até a escola, o laudo médico comprovando a necessidade desse afastamento. A escola, através de ofício, comunicará a situação do aluno ao NRE, que por sua vez, submeterá o processo para apreciação das responsáveis pelo SAREH em Curitiba, a quem caberá ou não a autorização. Considerações finais Tem sido gratificante para a equipe SAREH (tanto do HUM como dos demais hospitais) colher os frutos desta experiência que coloca o Paraná numa condição de primeiro mundo no cenário da educação nacional. O prêmio recebido da FIEP pelo trabalho apresentado por Cinthya Vernizi Adachi de Menezes - idealizadora do programa - destaca a importância do mesmo, que atende aos objetivos traçados pela ONU (Organização das Nações Unidas) para o milênio. Na reinserção do aluno à escola, depoimentos de professores demonstram que os alunos atendidos no hospital reintegraram-se à sala de aula melhores do que haviam saído. Depoimentos colhidos nas fichas de avaliação familiar demonstram a satisfação dos pais no atendimento oferecido pelo programa. Nos dois anos de implantação do Programa SAREH no Hospital Universitário Regional de Maringá foram realizados os seguintes atendimentos: 6754 Tabela 1 – Alunos enfermos atendidos 2007/2009 Ano do atendimento Junho a dezembro 2007 Fevereiro a dezembro 2008 Fevereiro a junho 2009 TOTAL Quantidade 50 184 109 343 Tabela 2– Procedência dos alunos enfermos Procedência Maringá Região Metropolitana TOTAL Quantidade 184 159 343 Tabela 3 – Sexo Sexo Masculino Feminino TOTAL Quantidade 206 137 343 Tabela 4 – Modalidades de Ensino Modalidades Ensino Fundamental Ensino Médio EJA TOTAL Quantidade 277 57 09 343 Tabela 5 – Tipo de escola Tipos Escola Pública Escola Privada TOTAL Quantidade 342 01 343 Tabela 6 – Tempo de internação Tempo de internação Até 05 dias De 06 a 10 dias De 11 a 20 dias De 21 a 30 dias Acima de 30 dias TOTAL Quantidade 189 104 36 11 03 343 REFERÊNCIAS ALECRIM, Cecília Gomes Muraro. Desenvolvimento Humano e Aprendizagem. Brasília, DF, 2008, p.40 6755 CABRAL, Gabriela. Brasil Escola. Disponivel em http://www.brasilescola.com/saude/ossosvidro.htm, acessado em 26/07/2009. CECCIM, Ricardo Burg. Criança Hospitalizada: Atenção Integral como Escuta à Vida. Porto Alegre: Editora da Universidade, 1977. PARANÁ. Orientações para a organização da Semana Pedagógica. Secretaria de Estado da Educação, Superientendência da Educação, Curitiba, 2009. PINHEIRO, Odnéa Quartieri Ferreira. Adaptações curriculares de grande porte e o projeto pedagógico das escolas especiais na área da deficiência mental. Curitiba, 2006, p.4