Cuidando as emoções A dor no ambiente hospitalar

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Pontifícia Universidade Católica do RS
Faculdade de Medicina
Departamento de Psiquiatria
I Colóquio de Qualidade de Vida,
Saúde e Trabalho
Cuidando as emoções
Edgar Chagas Diefenthaeler
Mestre em Clínica Médica
Psicanalista da SPPA
International Psychoanalytical Association
Autor Desconhecido
A dor no ambiente hospitalar
O terapeuta
Cyro Martins
Pois fica decretado, a partir de hoje,
que terapeuta é gente também.
Sofre, chora, ama, sente.
E às vezes precisa falar.
O olhar atento, o ouvido aberto, escutando a tristeza do outro,
quando às vezes a tristeza maior está dentro do seu peito.
Quanto a mim, fico triste, fico alegre, e sinto raiva também.
Sou de carne e osso. E quero que você saiba isto de mim.
E agora, que já sabe que sou gente,
quer falar de você para mim?
www.celpcyro.org.br
Objetivos
Considerar a complexidade das vivências da equipe
hospitalar e dos alunos da medicina com responsabilidades
crescentes sobre a vida de seres humanos que sofrem.
Objetivos
As pessoas que cuidam de pessoas preparam-se
para lidar com o sofrimento dos outros e não com
o seu próprio sofrimento.
Têm dificuldade em reconhecer suas dores
- da mente e do corpo – que se refletem
na sua vida e nas pessoas próximas.
Contexto hospitalar
O hospital é um ambiente insalubre e violento por natureza.
O hospital é o contexto de um paradoxo:
o local onde se busca e se resgata a saúde é, ao mesmo
tempo, um local insalubre, doentio;
de esperança e desesperança
O hospital é campo da batalha maior:
entre a vida e a morte.
(Ribeiro, Forjaz; RBP, 2006)
Contexto hospitalar
O hospital é onde se chega muito perto da realidade mais dura
do ser humano:
o encontro com a morte.
É um ambiente de permanente tensão.
Lidar com esta violência sem adoecer exige um mínimo de
conhecimento de si próprio, para se proteger desta loucura
que abate todos que o freqüentam.
(Ribeiro, Forjaz;RBP, 2006)
Contexto hospitalar e violência
O estudante de medicina, assim como o médico,
estão sujeitos à agressão e a atos de violência
verbal e física - por parte dos pacientes e seus familiares.
ex: aluno do 4º ano
Trabalho realizado em São Paulo com 500 profissionais
mostrou que 41% dos médicos já sofreram algum tipo de
violência.
Informativo Cremers (2006)
Contexto hospitalar e violência
A doença, a dor, a ameaça de perdas definitivas
dos bens maiores e da própria vida, gera muita
raiva.
Esse ódio é descarregado naqueles que estão
próximos, que falham no “poder” de aliviar e
proteger.
A dinâmica dos sentimentos
no contexto hospitalar
A realidade das perdas e fracassos de manter
a saúde dos outros, a sua própria e de seus
familiares, traz intensos sentimentos de
onipotência e impotência em ciclagem rápida:
A prática e o ciclo dos sentimentos
Onipotência
Depressão
Isolamento
Impotência
Angústia
Profissionais envolvidos com a saúde têm
dificuldades inerentes a qualquer indivíduo,
pessoais e profissionais, mas além dessas
- apresentam particularidades próprias -,
que vão além da técnica e da vida no hospital,
devido às características especialmente
desgastantes do treinamento, desenvolvimento e
responsabilidades crescentes com o
compromisso sobre o que é realmente importante
no ser humano:
a vida e a morte.
O estudo da medicina e o cadáver
O estudante
é apresentado
à medicina
através de um
corpo morto.
Médico e a intimidade do outro
O médico trabalha em
contato direto com:
o sangue, secreções
e excreções...
na mais profunda
intimidade do corpo,
da mente e da alma
do outro
Não se considera o
quão profundamente
a dor do outro toca a
nossa dor
Compreendendo as emoções
O contato – intenso e próximo – com a doença –
com a dor orgânica, mental e moral
e, especialmente, com a morte, traz muita ansiedade,
pode resultar em excessiva preocupação com sua
saúde física e reforçar o medo de sua própria morte
determinando intolerância às incertezas clínicas, humor
deprimido, diminuição da sensibilidade (empatia) frente
ao sofrimento dos pacientes e até condutas que estão
relacionadas com medo ou fobia à morte.
(Merril , Lorimor, Thornby , Woods; 1998).
Cuidando as emoções
Flutuações ou até alterações do humor,
se intensas e reconhecidas, pode levar a uma busca de ajuda.
Outras expressões mais sutis passam despercebidas com o
risco de graves conseqüências.
Podem comprometer o desenvolvimento profissional, escolhas
e o futuro da carreira, além do prejuízo à auto-estima e do
próprio crescimento do indivíduo
Preocupações excessivas com o mundo externo e/ou
Preocupações excessivas com o mundo interno
comprometem o aprendizado e o desempenho
Formas de cuidar: currículo médico
(FAMED/PUCRS)
Sentimentos como: ansiedade, depressão, medo e vontade
de fugir, são compartilhados e discutidos, semanalmente,
com a equipe da Medicina Interna e um Psiquiatra, o que
torna o momento de ensino e aprendizado mais leve e
proveitoso.
Na discussão de casos clínicos são enfocados aspectos
biológicos, emocionais e sociais dos pacientes, para melhor
manejo das freqüentes vivências vinculadas a situações
complexas e multidisciplinares.
Zimmermann, Cataldo, Diefenthaeler, Furtado,Coelho,
Rev.CFM.Bioética&Ètica Médica.Brasília:2006
Formas de cuidar:
(FAMED/PUCRS)
A Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários instituiu o Centro de
Atendimento Psicossocial (CAP), constituído por uma equipe
multidisciplinar, da qual faz parte um psiquiatra.
Esse Serviço integra-se com os demais Serviços e Unidades
que compõem a Universidade.
Tem por objetivo atender dificuldades de alunos e
professores, tanto no processo ensino-aprendizado, como os
de ordem pedagógica, cognitiva, emocional e social.
Zimmermann, Cataldo, Diefenthaeler, Furtado,Coelho,
Rev.CFM.2006
Formas de cuidar e ser cuidado
(FAMED/PUCRS)
Os professores da Psiquiatria ficam à disposição da
Direção da Faculdade para receber alunos que,
por características próprias, patológicas ou não,
têm maiores dificuldades.
O cuidado com o aluno em formação é amplo, com a participação
da psiquiatria -, nas situações que surgem naturalmente ou
naquelas especiais ou individuais, patológicas ou não, em um
espaço que o acolhe e oferece confiança (continência, holding).
Zimmermann, Cataldo, Diefenthaeler, Furtado,Coelho,
Rev.Bioética&Ètica Médica.CFM.Brasília:2006
Formas de cuidar e ser cuidado
(Cidape)
Centro de Interação e Desenvolvimento da Assistência /Pesquisa/
Ensino (Cidape), ligado ao Serviço de Psicologia e de Psicologia
Organizacional – presta acompanhamento a todos profissionais
que trabalham no Hospital Universitário São Lucas/PUCRS,
desde o momento em que são admitidos até o desligamento.
Os profissionais recebem ajuda por procura espontânea ou por
recomendação da sua chefia direta.
Os motivos mais freqüentes são cansaço, estresse, até sintomas
psíquicos graves, com risco de suicídio.
O maior pedido de ajuda é o de “ser ouvido”.
A escuta é um processo ativo.
Zimmermann, Cataldo, Diefenthaeler, Furtado,Coelho,
Rev.Bioética&Ètica Médica.CFM.Brasília:2006
Formas de cuidar e ser cuidado
(Cidape)
Identificada a necessidade de avaliação psiquiátrica ou
psicológica, é feita a indicação, encaminhamento e
acompanhamento.
Alguns grupos recebem acompanhamento no próprio ambiente de
trabalho, na modalidade de grupos operativos
O contexto é o da proposta da Psicologia Institucional:
buscar a saúde e o bem estar dos profissionais, promovendo o
estabelecimento de vínculos saudáveis e dignificantes.
O interesse está na instituição como totalidade, mesmo que se
ocupe de uma parte dela (Bleger).
Maria Rita Coelho, Diefenthaeler, Cataldo, Furtado, Zimmermann.
Rev.Bioética & Ética Médica.CFM.Brasília:2006
A dinâmica dos conflitos
Conflito é um elemento imprescindível no
desenvolvimento e em qualquer manifestação humana.
Conflitos tornam-se patológicos quando não se busca
recursos para dinamizá-los e resolvê-los.
Maria Rita Coelho, Diefenthaeler, Cataldo, Furtado, Zimmermann.
Revista Bioética&Ètica Médica.CFM.Brasília:2006
Considerações finais
Fica evidenciada a importância de centros para a
assistência ao estudante de medicina.
Desenvolver projetos de pesquisa que identifiquem as
dificuldades emocionais que ocorrem durante o
treinamento médico. Muitas Universidades brasileiras já
estão tendo este cuidado, o que representa um grande e
uma louvável iniciativa para o aprimoramento da Saúde
em nosso país, que só pode existir a partir do cuidado
com o próprio médico e seus colaboradores e antes
ainda, com os estudantes da ampla área da medicina.
(Nogueira-Martins;Stella; Nogueira. 1997)
Considerações finais
Como professores e coordenadores, médicos,
psiquiatras e psicanalistas, temos o compromisso maior
de resgatar a curiosidade e o interesse pelo
conhecimento em nossos alunos.
Para que seja retomado o caminho da busca do
conhecimento pelo qual a realidade frustradora
pode não só ser evitada, e sim modificada;
não só suportada, como elaborada.
Diefenthaeler,EC.
Dificuldades emocionais no aprendizado
dos estudantes de medicina.
Rev. de Medicina da PUCRS.2000
Metodologia do ensino médico
Considerações finais
É muito doloroso crescer e aprender.
Mas considerar esta dor e as crises desses
processos é o caminho que pode levar á
realização e o prazer profissional mais genuíno
COMPONENTE BÁSICO DA FORMAÇÃO DO
INDIVÍDUO
A dinâmica dos conflitos
“Ser cuidado” remete a um contato direto com a
própria fragilidade, o que, em certa medida, não é
permitido ser expresso no trabalho diário dos
cuidadores.
O temido é passar para o outro lado:
ser o paciente
A ciclagem dos
sentimentos
Este conflito interno abrange
sentimentos opostos, presentes no
mundo interno dos profissionais:
onipotência: sentir-se capaz de
curar
fragilidade: reconhecer suas
fraquezas.
Referências
Diefenthaeler.E, Cataldo Neto.A,Furtado.NR, Zimmermann.PR, Maria Rita. Cuidando
das emoções. Bioética, Conselho Federal de Medicina: Brasília, 2006
Diefenthaeler,E.Dificuldades emocionais no aprendizado do estudante de medicina.
Revista de Medicina da PUCRS.v10,2000.
Diefenthaeler,E. et al. Is depression a risk factor for mortality in chronic hemodialysys
patients?RevBraPsiquiatria,v.30,junho2006
Zuadi,AW. et al.Reduction of the anxiety of medical students after curricular reform.
RevBraPsiquiatria,v.30,junho2006
Edgar Chagas Diefenthaeler
Mostardeiro 333/713
90430/010
Fone/Fax: (51) 3222.3007
Email: [email protected]
Porto Alegre/RS
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