VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 D e l i m i t a ç ã o d e U n i d a d e s d e Pa i s a ge n s e D e s m a t a m e n t o e m Á r e a s p r ó x i m a s a Á r e a s Ur b a n a s d o Mu n i c í p i o d e Jaborandi-BA R i c a r d o E l l e r A r a n h a 1, O s m a r A b í l i o d e C a r v a l h o J ú n i o r 2 , O t a c í l i o Antunes Santana3, Roberto Arnaldo Trancoso Gomes 2 Introdução O presente trabalho apresenta-se como uma contribuição para a analise de expansões urbanas em paisagens naturais no caso particular do município de Jaborandi – BA. Jaborandi está inserida na lógica de expansão da economia agrícola do Oeste Baiano, onde a questão migratória brasileira, realizada principalmente em meados do século XX, motivada pela busca de trabalho e a obtenção de terras para implantação de cultivos aprendidos através de seus antecessores (cultivos tradicionais), fez com que houvesse a ocupação da porção oeste do estado por famílias sulistas, advindas principalmente dos estados do Paraná e Rio Grande do Sul (atraídas pelo baixo preço das terras) , constituindo uma expansão agrícola , e posteriormente urbana nesta região (Alves et al., 2005). A partir daí, os novos latifúndios estabelecidos causaram uma devastação de áreas silvestres, expandindo monoculturas, principalmente a da soja, áreas de criação de gado e reflorestamentos (com uso predominante de espécies exóticas), favorecidos por extensas áreas pla nas propícias a mecanização e a presença de afluentes do rio São Francisco (Navarro, 2001). 1 Bolsista de iniciação científica da Fundação de Amparo a Pesquisa do Distrito Federal (FAP/DF); Professor Adjunto; 3 Bolsista de Pós-Doutorado Júnior CNPq. 1, 2, 3 Universidade de Brasília (UnB), Instituto de Ciências Humanas (IH), Departamento de Geografia (GEA), Laboratório de Sistemas de Informações Espaciais (LSIE), Campus Universitário Darcy Ribeiro, Asa Norte, 70910-900 Brasília, DF, Brasil. Tel.: (61) 3307-2474; Fax: (61) 3272-1909 - E-mails: osmarjr, robertogomes [@unb.br]; eduardonigma, otaciliosantana, [@gmail.com]. 2 1 Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais Na década de 80 e 90 a população desta região começou a discutir temas de preservação e conservação ambiental, sentidas devido ao aumento de poluição e escassez de alguns recursos naturais, como a diminuição do volume dos recursos hídricos, redução da biodiversidade, expansão de áreas inférteis (Silva, 2000). Segundo Brannstrom et al. (2 008), Brannstrom (2005 e 2001), estudos na região do Oeste Baiano descreveram qu e de 1986 à 2002 a perda de áreas nativas de Cerrado foi de aproximadamente 55%, enquanto o au mento da produção dos cultivos chega a 285%, maiores do que em áreas de Cerrado do estado do Mato Grosso, com perda de 25%, e aumento de produtividade nas áreas de agropecuária na ordem de115%. Segundo Klink e Machado (2005), a transformação de áreas de vegetação natural em áreas de cultivo implica mudanças na estrutura e no funcionamento dos ecossistemas. As modificações na cobertura vegetal podem acelerar a erosão e causar perdas de solo por escoamento, alterar o número e o tipo de organismos que vivem na região e interferir na dinâmica da matéria orgânica do solo (Silveira et al. 2000). A troca de água, carbono e energia entre a litosfera e a atmosfera, são real izadas primeiramente pelos tecidos vegetais presentes nas folhas, sendo a cobertura vegetal a principal ferramenta de pesquisadores e governo para quantificar a produção primária, balanço hídrico e de energia em um sistema fitofisionômico (Hoffmann et al., 2005). Para a análise da área de estudo adotamos a seguinte metodologia: I) delimitação das unidades de paisagens significativas; II) quantificação da abertura de dossel e III) relacionar a proximidade de áreas urbanas com a cobertura e número de espécies arbóreas. Área de Estudo O Município de Jaborandi tem seus limites nas coordenadas de latitude 13º37’10” Sul e longitude 44º25'58" oeste, possuindo altitude média de 448 metros (Figura 1). Sua população estimad a em 2009 era de 8895 habitantes (IBGE, 2009 ). Possui uma área de 2 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 10.066,2 km². O clima é Tropical S emi-úmido com 4 a 5 meses secos e tem uma temperatura média maior que 18°C, o período chuvoso acontece nos meses de novembro a março. Sua pluviosidade média anual é de 1.200mm. O município está localizado em terreno plano e um pouco acidentado com predomínio geomorfológico de chapadas . A rede hidrográfica do município é extensa e faz parte da Bacia do Médio São Francisco e como principais rios, podemos citar o Rio Formoso, Rio Arrojado, Rio Correntina, Rio Arrojadinho , Rio Pratudinho e o Rio Pratudão(Guerra e Cunha, 2006). A atividade predominante no município é a agropecuária de tendência extensiva nas regiões de chapada e subsistência nas porções de relevo menos propício a mecanização . Na agricultura destaca-se o cultivo de soja, milho e o algodão, nas grandes propriedades em antigas áreas de cerrado, onde são utilizadas tecnologias de cultivo como a implantação de pivôs centrais e irrigações alternativas. Já as pequenas propriedades desenvol vem uma agricultura de subsistência com o cultivo da mandioca, feijão, arroz, cana-de-açúcar e outras culturas. A pecuária também representa grande expressão econômica ; existem no município rebanhos de bovinos e suínos, sendo que a bovinocultura de corte, é a principal atividade, caracterizando -se pela exploração extensiva e com uso de baixa tecnologia. Outros rebanhos de menor expressão econômica, são registrados tais como: suínos, caprinos, ovinos, aves, eqüinos, asini nos e muares. Parte das famílias residentes na zona rural desenvolve m trabalhos ligados ao setor terciário da economia, como a produção de cerâmica (tijolos e telhas), queijo, requeijão, aguardente de cana, rapadura e farinha (IBGE, 2009). 3 Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais Figura 1Mapa de localização do município M a t e r i a i s e Mé t o d o s Os passos metodológicos utilizados foram os seguintes: a) delimitação das unidades de paisagem; b) obtenção dos dados de campo; e c) integração dos dados de sensoriamento remoto e de campo. Para a delimitação das unidades de paisagem foram utilizados um mosaico de imagens do satélite LANDSAT 5, sensor TM (pixel de 30m vetorizado na escala 1:15000 colhida no ano de 2008) e um mosaico de imagens do satélite ALOS, sensor PRISM (pixel de 2,5m vetorizado na escala 1:10000 colhida em 2008), que abarcavam o município de estudo e porções vizinhas .A utilização dos mosaicos de satélites diferentes se justifica pela diferença resolução espacial dos respectivos sensores , que, em casos específicos, facilita a identificação de feições registradas na imagem, como as matas de galeria que são mais facilmente definíveis na LANDSAT . A interpretação foi realizada de maneira visual considerando os elementos básicos para fotointerpretação, identificando a t extura, 4 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 forma e padrão das feições representadas na imagem (MARCHETTI; GARCIA, 1977) e observações de campo, corroborando com as texturas delimitadas e pela reflectância da imagem TM -Landsat. Para reflectância das feições foi elaborada a conversão dos números digitais da imagem em valores de reflectância (Bentz, 1990). As unidades de paisagem delimitad as foram: A) Cerrado; B) Campos Úmidos; C) Massa d´água; D) Mata de Galeria; E) Agropecuária; F) Reflorestamento e G) Área Urbana. Outras unidades de paisagens foram amostradas nas áreas, porém foram unidas nas classes citadas devido a pequenas extensões de suas áreas (< 5 ha), sendo pequenas (<1mm) quando observad as em layouts de escalas acima de 1:50.000. Agricultura e pecuária foram unidas em uma única classe devido a ausência de cobertura arbórea levantados em observações preliminares e também por questões práticas.Não é especialmente importante neste estudo se a área é de expansão de pecuária ou de agricultura. Os dados de campo foram o de cobertura vegetal (%) e o número de espécies arbóreas. A cobertura vegetal foi mensurada através de um aparelho analisador de dossel LAI -2000 (LiCOr, Plant Canopy Analyzer). Foram amostrados 50 pontos distanciados um do outro em um raio de 10 km, englobando todo o muni cípio. Nestes pontos foram amostrados todos os indivíduos arbóreos, ou seja, indivíduos com diâmetro maior que 5 cm, em um raio de 20 m, identificados, e quando não, foram coletadas as partes vegetais reprodutivas (Folhas, sementes e frutos) e partes vegetais não reprodutivas (Folhas, pedaço de caule e galhos), para confecção de exsicatas, e posterior identificação das espécies, segundo o método de comparação de exsicatas, e consulta ao Banco de dados da Tropicos (Missouri Botanical Garden) e Flora Brasiliensis (Departamento de Botânica da Universidade de Campinas – UNICAMP http://florabrasiliensis.cria.org.br/project ). Espécies sem identificação foram encaminhadas aos especialistas do Herbário do 5 Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais IBGE (Reserva Ecológica do Roncador – www.recor.org.br), e Herbário UB (Universidade de Brasília). A integração dos dados foi realizada através do software ArcGIS 9.3, com a criação do banco de dados espaciais ( constando cobertura vegetal e número de espécies) nos limites do município de Jaborandi. A análise de regressão linear e não linear foi realizada para testar a significância entre os dados de cobertura vegetal e número de espécies com a proximidade da área urbana. Resultados e Discussão As principais feições observadas para os alvos delimit ados na imagem ALOS foram representados na Figura 3, sendo nítidas as distinções entre as classes, não só pela interpretação da imagem, como, também, corroborado pelas ref lectâncias (Carvalho et al., 2008) e resultados espacializados no mapa das unidades de paisagens (Figura 2). Figura 2: Mapa Jaborandi-BA. das unidades de paisagens no Município de 6 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 As áreas nativas somadas (Cerrado , Campos Úmidos e Mata de Galeria) tiveram maiores extensões (76,78%) do que as áreas classes antropizadas juntas: Reflorestamento, Agropecuária, e Área Urbana (23,22%), mostrando que o município de Jaborandi , neste recorte temporal, possui grande parte da sua vegetação natural preservada (Tabela 1). Tabela 1: Extensão das classes delimitadas. Classes Área (ha) (%) Cerrado 693.068,57 Agropecuária 184.802,40 Reflorestamento 34.748,78 3,67 Campos úmidos 18.688,72 1,97 Mata de Galeria 15.332,58 1,62 Área Urbana 198,03 0,02 Massa d´água 85,59 0,01 73,1 9 19,5 2 Porém, em trabalho de campo nas áreas estudadas, observou-se uma redução na cobertura arbórea, corroborado pelos dados (Figura 4A), de áreas mais distantes, com cobertura de aproximadamente 80%; para mais próximas de áreas urbanas chega a 0% a cobertura vegetal arbórea. Também na Figura 4A, quando se fez a análise de regressão entre a cobertura arbórea com a proximidade das áreas urbanas, obteve -se uma relação 2 significativa (R >0,5; p< 0,001) em função logarítmica. Esta função também foi verificada para a relação do número de espécies com a proximidade de áreas urbanas ( Figura 4B). A perda da biodiversidade quando a diminuição da cobertura vegetal foram acentuadas principalmente nos 50 km mais próximos a área urbana, havendo uma estabilização distância, devido possivelmente a da curva a proximidade partir desta espacial de 7 Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais obtenção pela exploração de rec ursos advindos com a vegetação e da mudança do uso da terra, para a criação de gado. Figura 3: Paisagens, imagens ALOS, reflectância espectral e cobertura arbórea representativas dos diferentes alvos presentes em Jaborandi-BA: A) Cerrado; B) Campos Úmidos; C) Massa d´água; D) Mata de Galeria; E) Agropecuária (áreas de pivôs); F) Reflorestamento e G) Área Urbana. 8 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 90 Cobertura Vegetal (%) 80 70 60 50 40 30 20 y = 17,00ln(x) - 28,69 R² = 0,612 p<0,001 10 0 0 50 100 150 200 Proximidade da área urbana (km) (A) 80 Número de espécies 70 60 50 40 y = 11,39ln(x) + 8,726 R² = 0,737 p<0,001 30 20 0 (B) 50 100 150 200 Proximidade da área urbana (km) Figura 4: Relação da proximidade da área urb ana do Município de Jaborandi (km) com a cobertura vegetal (A) e o número de espécies arbóreas (B). Equação, coeficiente de determinação = R 2 e nível de significância = p são os parâmetros da análise de regressão. 9 Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais Considerações Finais O município de Jaborandi (BA) possui em proporção maior áreas naturais preservadas, porém observamos que nas proximidades das áreas urbanas há uma sensível redução da cobertura vegetal arbórea e do número de espécies devido possivelmente a proximidade espacial facilitadora dos processos logísticos de obtenção pela exploração de recursos naturais bem como para seu escoamento e alojamento da mão de obra. A densidade demográfica do município é extremamente reduzida quando comparada a municípios v izinhos (aproximadamente 1 hab/Km²). Somente a intervenção do grande poder econômico migrante de regiões com custo das terras muito superior aos praticados na região provocou a expanção , no final da década de 1980, de atividades agropecuárias voltadas prin cipalmente para consumo em outras unidades da federação e, posteriormente, com muito maior ênfase, ao comercio exterior. Consequentemente causou maior pressão sobre ecossistemas nativos, localizados mais proximamente aos núcleos urbanizados do município. Possivelmente a demanda ecológica do século XXI. Provoque maior vigilância do poder público e de entidades do terceiro setor com interesses (econômicos ou ideológicos) na preservação da biodiversidade.. Os resultados do presente estudo refletem processo semelhante que ocorre em todo o Oeste Baiano , seguindo um processo de modificação cada vez mais intenso da paisagem natural. 10 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 B i b l i o gr a f i a ALVES, V.E.L. 2005 A mobilidade sulista e a expansão da fronteira agrícola brasileira, Agrária, São Paulo. BENTZ, C.M. 1990 Avaliação da Transformação radiométrica dos dados TM/Landsat – 5 em Reflectâncias. Dissertação de Mestrado em Sensoriamento Remoto , São José dos Campos, INPE, BRANNSTROM, C., JEPSON, W., FILIPPI, A., REDO, D., XU, ZENGWANG, GANESH, SRINIVASAN. 2008 Land change in the Brazilian Savanna( Cerrado), 1986-2002: Comparative analysis and implications for land-use policy. Land Use Policy, Saint Louis. BRANNSTROM,C. 2005 Environmental policy reform on eastern Brazils agricultural frontier . 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