As mulheres portuguesas estão a fumar mais? As mulheres em Portugal começaram a fumar durante os anos setenta e sobretudo depois do 25 de Abril, com a melhoria das condições socioeconómicas e a emancipação feminina. O consumo iniciou-se nas mulheres mais instruídas e só mais tarde se generalizou à classe média. Segundo os últimos inquéritos nacionais de saúde (19872005/6), o consumo de tabaco na mulher tem aumentado em todas as idades. Apenas as mulheres mais velhas (mais de 75 anos) continuam sem fumar. No entanto em todas as idades, a maioria das mulheres é não fumadora e nunca fumou regularmente. A prevalência nas raparigas adolescentes é actualmente preocupante, atingindo valores mais altos do que nos rapazes e com início cada vez mais precoce. Por outro lado, as mulheres de idade média estão menos motivadas para deixar de fumar e deixam de fumar mais dificilmente do que os homens. Assim, fumar está a tornar-se, cada vez mais, um comportamento feminino. Porque estão as mulheres portuguesas a fumar mais? Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a estratégia de marketing da indústria tabaqueira desenvolvida nas últimas décadas em países de economia emergente, com Portugal e Espanha, é a grande responsável por este aumento do consumo. Hoje em dia as mulheres têm que lidar com uma maior exigência no trabalho (laboral e doméstico) e na profissão e acumulam responsabilidades e dificuldades acrescidas, muitas vezes com pouco apoio social, familiar e do parceiro. Assim apresentam maiores níveis de stress, ansiedade, depressão e solidão. A indústria tabaqueira soube aproveitar esta vulnerabilidade das mulheres e através da publicidade criou a “imagem de marca do cigarro feminino”, “companheiro da mulher”. As mulheres são mais dependentes emocionalmente do cigarro, do que os homens. Para além da dependência, outra razão que impede as mulheres de “largar o tabaco” é que estas acreditam nos benefícios de fumar, tais como ajudar a lidar com o stress ou com as dificuldades da vida, ou ainda a suportar a solidão, o aborrecimento, ou a evitar que se engorde. Estes mitos são fabricados pela indústria do tabaco que investe anualmente milhões em estratégias de “marketing” extremamente eficazes e agressivas para seduzir em especial os jovens e as mulheres, manipulando crenças e atitudes sociais que se traduzem em novos consumidores, com comportamentos de risco. “O tabagismo é uma epidemia que se contagia pela publicidade (OMS).”Os maços de cigarros são a melhor forma de publicidade do tabaco (OMS) e há marcas que são desenhadas especificamente para atrair as mulheres. As mulheres são mais vulneráveis às estratégias de marketing da indústria do tabaco. As mulheres são mais vulneráveis aos efeitos do tabaco? A mulher é mais vulnerável aos efeitos nocivos do tabaco na saúde, apresentando maiores riscos de cancro de pulmão, doença cardiovascular e doença respiratória crónica, para além das implicações na sua saúde reprodutiva e ciclo biológico. 1 Assim se “as mulheres fumam como os homens, vão morrer como morre actualmente a maioria dos homens”. 2 Como podemos ajudar as mulheres portuguesas a não fumar? O melhor tratamento é a prevenção, é sempre mais fácil não começar a fumar. É urgente desenvolver políticas de saúde pública eficazes e integradas de prevenção e controlo de tabagismo, adaptadas ao género, para travar a epidemia do tabagismo nas mulheres. Campanhas efectivas de sensibilização e educação para a saúde nos “media”, programas de prevenção nos locais de trabalho, escolas, universidades, devem ser estimulados e apoiados. É muito importante trabalhar a partir da escola com os pais, ensinar a não fumar como norma social válida e a prevenir o tabagismo dos filhos. Espaços públicos 100% livres de fumo, salvam vidas, não custam dinheiro, são bem aceites por todos (OMS) e além de protegerem da exposição ao fumo de tabaco, ensinam a não fumar como norma social válida, previnem a iniciação e ajudam os fumadores a deixar de fumar. O papel das organizações de mulheres na prevenção e controlo de tabagismo é crucial para desmitificar as crenças associadas ao comportamento tabágico feminino, diminuir a aceitação social do tabagismo feminino e promover estilos de vida saudável que as mulheres poderão transportar para as suas famílias. As mulheres procuram mais ajuda para deixar de fumar e precisam de maior apoio para deixar de fumar. Assim divulgar e facilitar o acesso ao tratamento é muito importante. Estes programas de tratamento deverão focar os obstáculos à cessação mais específicos da mulher, como o aumento de peso, o stress e os estados de ânimo negativo (depressão, angústia, solidão), além ter um forte componente de apoio psico-social. Devem ser aproveitadas as múltiplas oportunidades que a prática clínica da saúde da mulher e da criança oferecem para intervir sistematicamente e proactivamente na identificação das fumadoras, ensinando os benefícios da cessação e promovendo a motivação. Devem ser desenvolvidos diversos formatos de apoio social que possam efectivamente ajudar as mulheres a vencer as inúmeras adversidades e dificuldades da vida diária. Campanhas efectivas de sensibilização e educação para a saúde nos “media” e o apoio abrangente das “quitlines”- linhas de apoio telefónico, podem contribuir para a promoção da cessação tabágica nas mulheres, sobretudo das mais desfavorecidas socialmente. É portanto, responsabilidade de todos os profissionais de saúde, desmistificar mitos, alertar e educar para os malefícios do tabaco, encorajar e apoiar as mulheres para deixar de fumar e acima de tudo investir na prevenção. Autores: 3 Sofia Belo Ravara, médica pneumologista, responsável pela consulta de apoio ao fumador do Centro Hospitalar da Cova da Beira; docente de Medicina Preventiva e de Epidemiologia da Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade da Beira Interior. Professor José Manuel Calheiros, médico de saúde pública, Professor Catedrático de Medicina Preventiva e de Epidemiologia da Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade da Beira Interior. 4