Aluno(a): ________________________________________Turma: _____Data:__/__/____ Grupo 1 GALEANO, Eduardo H. Seda que foi baba. In: Espelhos: uma história quase universal. Porto Alegre, RS: L&PM, 2008. p. 24. Aluno(a): ________________________________________Turma: _____Data:__/__/____ Grupo 2 O imperador que viveu construindo a morte A China se chama China por causa de Chin, Chin Shi Huang, que foi seu primeiro imperador. Ele fundou a sangue e fogo a nação, que até então estava despedaçada em reinos inimigos, impôs uma língua comum e um comum sistema de pesos e medidas e criou uma moeda única, feita de bronze e com um furinho no meio. E para proteger seus domínios mandou erguer a Grande Muralha, uma infinita onda de pedra que atravessa o mapa e continua sendo, dois mil e duzentos anos depois, a defesa militar mais visitada do mundo. Mas essas minúcias nunca lhe tiraram o sono. A obra de sua vida foi a sua morte: sua sepultura, seu palácio para o depois. Começou a construção no dia em que se sentou no trono, aos treze anos de idade, e ano após ano o mausoléu foi crescendo, até ser maior que uma cidade. Também cresceu o exército que ia custodiá-lo, mais de sete mil ginetes e soldados de infantaria, com seus uniformes da cor do sangue e suas negras armaduras. Esses guerreiros de barro, que agora assombram o mundo, tinham sido modelados pelos melhores escultores. Nasciam a salvo da velhice e eram incapazes de traição. O monumento funerário era trabalho de presos, que extenuados morriam e eram jogados no deserto. O imperador dirigia a obra em seus mínimos detalhes e exigia mais e mais. Estava muito apressado. Várias vezes seus inimigos tinham tentado matá-lo, e ele tinha pânico de morrer sem sepultura. Viajava disfarçado, e cada noite dormia num lugar diferente. E chegou o dia em que a colossal tarefa terminou. O exército estava completo. O gigantesco mausoléu também, e era uma obra-prima. Qualquer mudança ofenderia a sua perfeição. Então, quando o imperador estava a ponto de fazer meio século de vida, a morte veio buscá-lo e ele se deixou levar. O grande teatro estava pronto, abriam-se as cortinas, a função começava. Ele não poderia faltar. Aquela era uma ópera para uma só voz. GALEANO, Eduardo H. O imperador que viveu construindo a morte. In: Espelhos: uma história quase universal. Porto Alegre, RS: L&PM, 2008. p. 25-26. Glossário Sepultura: cova onde se sepultam os cadáveres; Mausoléu: tumba grandiosa; Ginetes: cavalo de boa raça, fino e bem adestrado; Extenuados: enfraquecido, cansado, prostrado, exausto. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio versão 5.0 (2004). Aluno(a): ________________________________________Turma: _____Data:__/__/____ Grupo 3 O bicho-papão Tártaro Gêngis Khan foi o bicho-papão das histórias que durante muitos anos aterrorizaram os europeus adultos, o Anticristo que encabeçava as hordas enviadas da Mongólia por Satã. – Não são homens! São demônios – clamava Frederico I, rei da Sicília e da Alemanha. Na verdade, a Europa estava ofendida porque Gêngis Khan não se havia dignado a invadi-la. E com métodos não muito delicados tinha conquistado um enorme império, que se estendia da meseta da Mongólia até a savana da Rússia, passando pela China, pelo Afeganistão e pela Pérsia. A má fama se transmitiu a todos os membros da família Khan. No entanto, o neto de Gêngis Khan, Kublai Khan, não comia crus os viajantes europeus que muito de quando em quando chegavam até o seu trono de Pequim. Os acolhia, escutava e oferecia emprego. Marco Polo trabalhou para ele. GALEANO, Eduardo H. O bicho-papão Tártaro. In: Espelhos: uma história quase universal. Porto Alegre, RS: L&PM, 2008. p. 88. Glossário Tártaro: inferno; Hordas: bando indisciplinado; Meseta: planalto de pequena conformação; Savana: planície das regiões tropicais de longa estação seca. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio versão 5.0 (2004). Aluno(a): ________________________________________Turma: _____Data:__/__/____ Grupo 4 Marco Polo Estava preso, em Gênova, quando ditou seu livro de viagens. Seus companheiros de cárcere acreditavam em tudo. Quando escutavam as palavras de Marco Polo, vinte e sete anos de viagens pelos caminhos do Oriente, todos os presos escapavam e viajavam com ele. Três anos depois, o prisioneiro veneziano publicou seu livro. Publicou é uma maneira de dizer, porque a imprensa não existia na Europa. Circulavam algumas cópias, feitas a mão. Os poucos leitores que Marco Polo encontrou não acreditaram em uma só palavra. O mercador estava alucinado: quer dizer que as taças de vinho se erguiam no ar sem que ninguém as tocasse e chegavam aos lábios do grande Khan? Quer dizer que havia mercados onde um melão do Afeganistão era o preço de uma mulher? Os mais piedosos disseram que ele estava ruim da cabeça. No mar Cáspio, a caminho do monte Ararat, esse delirante tinha visto óleos que ardiam, e havia visto rochas que ardiam nas montanhas da China. Soava no mínimo ridícula a história de que os chineses tinham dinheiro de papel, notas carimbadas pelo imperador mongol e barcos nos quais navegavam mais de mil pessoas. Nada mais do que gargalhadas mereciam o unicórnio da Sumatra e as areias cantoras do deserto de Gobi, e eram simplesmente inverossímeis aqueles tecidos intocáveis pelo fogo nos povoados que Marco Polo havia encontrado mais além de Taklinakan. Séculos depois, soube-se que: os óleos que ardiam eram petróleo; as pedras que ardiam, carvão; os chineses usavam papel-moeda fazia quinhentos anos, e suas embarcações, dez vezes maiores que os barcos europeus, tinham hortas que davam verduras frescas aos marinheiros e evitavam-lhes o escorbuto; o unicórnio era o rinoceronte; o vento fazia soar os cumes das dunas no deserto; e eram de amianto os tecidos resistentes ao fogo. Nos tempos de Marco Polo, a Europa não conhecia o petróleo, nem o carvão, nem o papel-moeda, nem as grandes embarcações, nem o rinoceronte, nem as altas dunas, nem o amianto. GALEANO, Eduardo H. Marco Polo. In: Espelhos: uma história quase universal. Porto Alegre, RS: L&PM, 2008. p. 88-89. Glossário Cárcere: cela de cadeia, prisão; Escorbuto: doença devida à carência de vitamina C, e que se caracteriza por tendência às hemorragias; Cume: o ponto mais alto de um monte; Amianto: fibra mineral natural sedosa resistente ao fogo. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio versão 5.0 (2004). Aluno(a): ________________________________________Turma: _____Data:__/__/____ Grupo 5 Fundação da liberdade de pressão O ópio estava proibido na China. Os mercadores britânicos levavam de contrabando o ópio que traziam da Índia. Graças aos seus esforços, ia crescendo a quantidade de chineses enganchados nessa droga, mãe da heroína e da morfina, que lhes mentia felicidade e arrebentava suas vidas. Os contrabandistas estavam fartos dos problemas causados pelas autoridades chinesas. O desenvolvimento do mercado exigia liberdade de comércio e a liberdade de comércio exigia guerra. O bondoso William Jardine era o narcotraficante mais poderoso e dirigia a Sociedade Médica Missionária, que na China oferecia tratamento às vítimas do ópio que ele mesmo vendia. Jardine encarregou-se de comprar, em Londres, alguns influentes escritores e jornalistas, para criar um ambiente propício para a guerra. O best-seller Samuel Warren e outros profissionais da comunicação elevaram aos céus os heróis da liberdade. A liberdade de expressão ao serviço da liberdade de comércio: uma chuva de folhetos e de artigos despencou sobre a opinião pública britânica, exaltando o sacrifício dos homens cidadãos que estavam desafiando o despotismo chinês e se arriscavam a ir para o cárcere, para a tortura ou para a morte naquele reino da crueldade. Criado esse clima, desatou-se a tormenta. A guerra do ópio prolongou-se, com alguns anos de interrupção, de 1839 até 1860. GALEANO, Eduardo H. Fundação da liberdade de pressão. In: Espelhos: uma história quase universal. Porto Alegre, RS: L&PM, 2008. p. 203-204. Glossário Ópio: substância que é utilizada como narcótico; Narcótico: que produz narcose, que faz dormir; Narcotraficante: traficante de narcóticos; Best-seller: livro que é um sucesso de livraria, que vende muito; Cárcere: cela de cadeia, prisão. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio versão 5.0 (2004). Aluno(a): ________________________________________Turma: _____Data:__/__/____ Grupo 6 GALEANO, Eduardo H. Aqui foi a China. In: Espelhos: uma história quase universal. Porto Alegre, RS: L&PM, 2008. p. 204-205. Aluno(a): ________________________________________Turma: _____Data:__/__/____ Grupo 7 GALEANO, Eduardo H. Desastres naturais. In: Espelhos: uma história quase universal. Porto Alegre, RS: L&PM, 2008. p. 206. Aluno(a): ________________________________________Turma: _____Data:__/__/____ Grupo 8 GALEANO, Eduardo H. A China servida na mesa da Europa. In: Espelhos: uma história quase universal. Porto Alegre, RS: L&PM, 2008. p. 218-219. Aluno(a): ________________________________________Turma: _____Data:__/__/____ Grupo 9 Cem flores e um único jardineiro Na China, nos últimos anos de Mao, cometia traição à pátria que se atrevesse a comprovar que a realidade era como era, e não como o Partido mandava que fosse. Em outros tempos, porém, Mao não era o que acabou sendo. Quando tinha vinte e cinco anos, ele propunha a síntese de Lao-Tse com Karl Marx, e se atrevia a formulá-la assim: a imaginação é pensamento, o presente é passado e futuro, o pequeno é grande, o masculino é feminino, muitos são um e a mudança é permanência. Naquele tempo, havia sessenta comunistas em toda a China. Quarenta anos depois, a revolução tinha conquistado o poder, com Mao à frente. Já não havia mulheres caminhando a duras penas com seus pés atrofiados por determinação de uma tradição feroz, nem parques onde os cartazes avisavam: Proibida a entrada de chineses e de cães. A revolução estava mudando a vida de quarta parte da humanidade e Mao não ocultava suas divergências com os costumes herdados de Stalin, para quem as contradições não eram provas de vida nem ventos de história, mas doenças que só existiam para ser eliminadas. Mao dizia: – A disciplina que asfixia a criatividade e a iniciativa deve ser abolida. E dizia: – O medo não é solução. Quanto mais assustado você estiver, mais fantasmas virão de visita. E lançou o chamado: – Que cem flores floresçam, que se enfrentem cem escolas de pensamento. Mas a floração durou pouco. Em 1957, o Grande Timoneiro pôs em prática seu Grande Salto para Frente e anunciou que dali a pouco a economia chinesa iria humilhar as economias mais ricas do mundo. A partir de então, a divergência e a dúvida foram proibidas. Era obrigatório acreditar nos números que os burocratas mentiam para não perder o emprego ou a vida. Mao só escutava os ecos de sua voz, que lhe diziam o que ele queria escutar. O Grande Salto para Frente saltou no vazio. GALEANO, Eduardo H. Cem flores e um único jardineiro. In: Espelhos: uma história quase universal. Porto Alegre, RS: L&PM, 2008. p. 300-301. Aluno(a): ________________________________________Turma: _____Data:__/__/____ Grupo 10 GALEANO, Eduardo H. O imperador vermelho. In: Espelhos: uma história quase universal. Porto Alegre, RS: L&PM, 2008. p. 301-302.