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VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA:
IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS
25 a 29 de outubro de 2016
Goiânia (GO)/UFG
VARIAÇÕES DE TEMPERATURA E UMIDADE DO AR EM ÁREA URBANA: O PARQUE
URSULINA DE ANDRADE MELLO NO BAIRRO CASTELO, REGIÃO DA PAMPULHA,
BELO HORIZONTE-MG
THIAGO MAIA PORTILHO1
JOSÉ CLÁUDIO ELÓI DE OLIVEIRA2
NELI APARECIDA DE CARVALHO3
CARLOS HENRIQUE JARDIM4
RESUMO
O crescimento das cidades em área de clima tropical coloca novos desafios em termos de
problemas ambientais. Diante deste contexto e considerando o importante papel da
vegetação no ambiente urbano, o objetivo deste trabalho foi verificar o possível efeito que a
área verde do Parque Ursulina de Andrade Mello exerce sobre as áreas urbanas adjacentes
no bairro Castelo em Belo Horizonte-MG. As mensurações horárias de temperatura e
umidade relativa do ar foram realizadas em ocasiões distintas, a partir de três pontos de
coleta. Os resultados indicaram que o relativo isolamento do parque reduz sua zona de
influência sobre as áreas urbanas limítrofes.
Palavras-chave: temperatura, umidade relativa do ar, vegetação, áreas urbanas.
ABSTRACT
The growth of cities in tropical area poses new challenges in terms of environmental issues.
Given this context and considering the important role of vegetation in the urban environment,
the objective of this study was to determine the possible effect that the green area of the
Ursuline Park Andrade Mello has on adjacent urban areas in the Castelo district of Belo
Horizonte-MG. The hourly temperature measurements and relative humidity were held at
different times, from three collection points. The results indicated that the relative isolation of
the park reduces its zone of influence on neighboring urban areas.
Keywords: temperature, relative humidity, vegetation, urban areas.
1 – Introdução
O processo de urbanização no Brasil, a partir da década de 1950, fez com que as
cidades, em especial as grandes cidades, tivessem sua paisagem completamente
modificada. A verticalização e o adensamento foram alguns dos fatores que surgiram e
geraram problemas que até hoje tem reflexos no cotidiano das cidades e da população que
as habitam. Esse processo de acúmulo de pessoas em um ambiente reduzido interfere
direta e indiretamente na ocorrência de vários impactos no meio ambiente conforme
descreve Oliveira et al. (2006).
A mudança ocorreu sem vir acompanhada da preocupação paisagística,
privilegiando alguns setores como a construção civil. Dentre os efeitos dessas modificações,
1
Graduando em Geografia, Departamento de Geografia/IGC/UFMG ([email protected]).
Graduando em Geografia, Departamento de Geografia/IGC/UFMG ([email protected]).
3 Graduanda em Geografia, Departamento de Geografia/IGC/UFMG ([email protected]).
4 Professor Adjunto, Departamento de Geografia/IGC/UFMG ([email protected]).
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conforme discussão de Lopes e Jardim (2012) a partir de comparações pontuais de
temperatura e umidade relativa do ar entre Betim, Contagem e Belo Horizonte e, também,
em Jardim e Monteiro (2013), tomando como referencial a Estação Ecológica da UFMG e a
influência das áreas urbanas limítrofes incluem modificações no saldo de energia,
favorecendo a sua conservação temporária no ambiente e consequente aumento da
temperatura do ar. Dentre os fatores que contribuem para isso encontram-se as
características da malha urbana, com poucos espaços intercalados para circulação do ar, as
propriedades térmicas dos materiais utilizados na construção civil com baixo valor de calor
específico (aquece e resfria rapidamente, elevando as amplitudes térmicas) e a reduzida
presença de áreas verdes.
Os resultados discutidos neste artigo foram desenvolvidos num primeiro momento
por Portilho et. al (2014) a partir de trabalho apresentado no III Seminário de Geografia,
ocorrido em outubro de 2014 na cidade de Vitória/ES e despertou interesse em sua
continuidade, com a obtenção de novos dados em momentos diferentes no decorrer dos
anos de 2014 e 2015, cuja forma mais elaborada culminou com a elaboração deste artigo.
Os novos dados trouxeram novas indagações sobre a influência das áreas verdes no
conforto térmico e sobre a necessidade de ampliação e conexão dessas áreas no ambiente
urbano.
Entender o clima das áreas urbanas é de extrema importância, pois com o
conhecimento das situações que podem se apresentar podem-se evitar danos e prejuízos
para a coletividade, decorrentes de precário planejamento urbano, como o ocorrido no mês
de outubro de 2015 sobre as enchentes no bairro Vilarinho5 em Belo Horizonte.
Essa preocupação com o conhecimento a respeito da realidade físico-natural e
interação com a sociedade foi abordada por Conti (2001) em seu artigo “Resgatando a
Fisiologia da Paisagem”, sobre o estudo do meio ambiente como base para reflexão e
adequação da ocupação humana e sua consequente sobrevivência. Discute, ainda, o papel
que a Geografia tem para fazer com que os grupos humanos se solidarizem na defesa do
patrimônio planetário comum, pois mudanças em microescala, quando confrontadas com os
acontecimentos em macro escala, podem ter resultados alarmantes.
Diante deste cenário, retomando o trabalho de Portilho et al. (2014), o objetivo deste
trabalho foi dar continuidade e ampliar os resultados contidos no trabalho citado
Portal Eletrônico do Jornal Estado de Minas (www.em.com.br): “Moradores exigem respostas para a
enchente na Vilarinho”. Disponível em:
<http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2015/10/29/interna_gerais,702559/moradores-exigemrespostas-para-a-enchente-na-vilarinho.shtml> Acesso em: 11/03/2016.
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considerando a influência nas variações de temperatura e umidade relativa do ar do Parque
Ursulina de Andrade Mello no bairro Castelo na região da Pampulha em Belo Horizonte-MG.
A ocupação do bairro Castelo (figura 01) é relativamente recente, datando da
década de 1980, quando começaram as construções das redes de esgoto, de água pluvial e
potável (<https://pt.wikipedia.org/wiki/Castelo_(Belo_Horizonte)>). O Parque Municipal
Ursulina de Andrade Mello teve origem a partir da antiga fazenda São José, de propriedade
de Alípio Ferreira de Mello e Ursulina de Andrade Mello. Foi doada para o município em 22
de setembro de 1978 com a condição de destinar a área para a criação de um parque.
Figura 01. Localização do bairro Castelo e o Pq. Ursulina de Mello, destacando as proximidades em
relação à lagoa da Pampulha e o centro de Belo Horizonte.
Fonte: Google (2016).
Organização: Carlos Henrique Jardim.
2 – Materiais e Métodos
O primeiro procedimento envolveu o levantamento de informações a respeito do
tema e da área de estudo (leitura de textos, artigos, teses, reportagens jornalísticas de fonte
impressa e on-line e trabalho de campo).
O interior e adjacências ao parque Ursulina de Andrade Mello no bairro Castelo
(noroeste do município de Belo Horizonte, região da Pampulha) foi o local escolhido para as
mensurações de temperatura e umidade relativa do ar. As mensurações realizadas em
momentos pontuais durante três semestres distintos compreenderam os anos de 2014 e
2015 (12/04, 01/05, 27/09 e 04/10/2014 e 16/05/2015). Os pontos no interior do parque
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incluíram ambientes de mata fechada e campo aberto, este último localizado nos limites do
parque com via pública.
As primeiras coletas compreenderam os dias 12/04 e 01/05/2014 e foram realizadas
no entroncamento de duas movimentadas avenidas (Av. Altamiro Avelino Soares e Av.
Tancredo Neves) próximas ao Parque Ursulina num setor deprimido de vale. O objetivo era
averiguar a influência do Parque quando confrontado com o grande volume de
deslocamento de veículos no local e possível efeito que o relevo deprimido desse setor
poderia produzir.
Nas datas de 27/09, 04/10/2014 e 16/05/2015 esse ponto foi substituído por outro
ponto em meio aos vários prédios que compõe a massa de edifícios, também no Bairro
Castelo, mais precisamente na Rua Cantor Luiz Gonzaga, cerca de 200 m da entrada do
parque. A mudança teve como objetivo averiguar o alcance da zona de influência do Parque
sobre o bairro (ou vice-versa). A mudança também aconteceu pela percepção e análise dos
resultados das primeiras coletas, uma vez que o grande volume de carros em deslocamento
nas avenidas citadas não permitia uma averiguação mais adequada da possível influência
do Parque no interior do bairro.
As mensurações ocorreram entre 8 h e 16 h em intervalos de 30 min. Utilizou-se do
psicrômetro de funda para mensurar a temperatura e umidade relativa do ar. A temperatura
do solo (solo exposto, sob cobertura vegetal e pavimento) foi feita com termômetros digitais
e de mercúrio, a direção do vento foi averiguada através da orientação da fita de cetim
indicada pela bússola e a nebulosidade (tipo, altura e recobrimento do céu) através de
observação visual.
Os dados gerados foram analisados de forma comparativa, tomando-se como
referencial as características ambientais de cada ponto de mensuração referenciados nas
condições de tempo do dia. As imagens de satélite meteorológico e as cartas sinóticas
disponibilizadas pelo INPE (www.cptec.inpe.br) e Marinha do Brasil (www.mar.mil.br)
auxiliaram na caracterização das condições de tempo, a partir da identificação e
caracterização das massas de ar. Este tópico apoiou-se nas discussões de Monteiro (1990a;
1990b) a respeito da condução de pesquisas de climatologia em áreas urbanas.
3 – Resultados
Quando da primeira medição, no dia 12/04/2014, o tempo estava quente e úmido,
com céu parcialmente nublado sob ação do ASAS (Anticiclone Subtropical do Atlântico Sul).
Nas primeiras horas da manhã as temperaturas eram de 22,0°C, tanto no ponto de mata
fechada quanto no bairro Castelo (figura 02). A umidade relativa, nos dois pontos, era de
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84%. Entre 12 h e 30 min e 13 h as mensurações realizadas na mata fechada se
mantiveram em patamares acima dos 80%, enquanto que no interior do bairro os valores
situaram-se abaixo dos 65%.
Figura 02. Variação da umidade relativa do ar no dia 12/04/2014.
Fonte: Dados de campo.
Organização: Thiago Maia Portilho.
Figura 03. Variação da temperatura do ar no dia 12/04/2014.
Fonte: Dados de campo.
Organização: Thiago Maia Portilho.
No dia 01/05/2014 o céu apresentava-se sem nuvens, mas com a influência de um
ambiente frio e seco, características predominantes para o período de estiagem na cidade
de Belo Horizonte. As temperaturas, às 08h e 30 min, registraram no interior do bairro
18,0ºC, na mata fechada 12,0ºC e no campo aberto 13,0ºC (figura 05). Os valores de
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umidades relativa, no mesmo momento indicaram 65% no bairro e 80% no interior do
parque, mata e descampado (figura 04). Verifica-se que o campo aberto recebe influência
da mata fechada no decorrer de todo o período da coleta. O valor mais baixo nesse ponto foi
de 65%, enquanto que interior do bairro a valores de 40%. O bloqueio que as copas das
árvores fazem frente à entrada de radiação solar e a evapotranspiração vegetal são alguns
fatores que podem explicar o fato da umidade relativa do ar ser maior na mata fechada e
não no interior do bairro.
Figura 04. Variação da umidade relativa do ar no dia 01/05/2014.
Fonte: Dados de campo.
Organização: Thiago Maia Portilho.
Figura 05. Variação da temperatura do ar no dia 01/05/2014.
Fonte: Dados de campo.
Organização: Thiago Maia Portilho.
O dia 27/09/2014 foi o que registrou as maiores temperaturas, conforme se observa
na figura 06, onde o interior do bairro teve 31ºC, o campo aberto teve 29ºC e a mata
fechada registrou, aproximadamente, 27ºC. Isto aconteceu em decorrência da atuação de
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uma massa de ar seco que se formou após a passagem da uma frente fria. Essa situação
deve-se à junção de um ambiente mais seco, devido à época de transição do período de
estiagem para o período de chuva, característico da região, com maior incidência de raios
solares, devido ao posicionamento da Terra com o hemisfério sul recebendo maior carga de
radiação solar.
Os valores de umidade relativa foram baixos e prejudiciais à saúde humana,
conforme pode-se observar pelas explicações retiradas da página eletrônica do Dr. Drauzio
Varella6: “Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o nível ideal para o organismo
humano gira entre 40% e 70%. Acima desses valores, o ar fica praticamente saturado de
vapor d’água, o que interfere no nosso mecanismo de controle da temperatura corporal
exercido pela transpiração. Quanto mais alta a temperatura e mais úmido o ar, mais lenta
será a evaporação do suor, que ajuda a dissipar o calor e a resfriar o corpo. Algumas
medidas simples podem ajudar a aliviar essa sensação de desconforto e mal-estar. No
extremo oposto, tempo seco demais e baixa umidade do ar causam danos maiores para a
saúde. Além de dificultarem a dispersão de gases poluentes, que agravam a situação,
provocam o ressecamento das mucosas das vias aéreas, tornando a pessoa mais
vulnerável a crises de asma e a infecções virais e bacterianas. Baixa umidade do ar deixa
também o sangue mais denso por causa da desidratação e favorece o aparecimento de
problemas oculares e alergias. Mesmo quando a temperatura sobe, o ar seco faz seus
estragos, pois acelera a absorção do suor pelo ambiente e resseca a pele.”
Figura 06. Variação da umidade relativa do ar no dia 27/09/2014.
Fonte: Dados de campo.
6
Página Eletrônica do Dr. Drauzio Varella. Disponível em: <http://drauziovarella.com.br/doencas-esintomas/umidade-do-ar-reflexos-na-saude/> Acesso em: 11/03/2016
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Organização: Thiago Maia Portilho.
Figura 07. Variação da temperatura do ar no dia 27/09/2014.
Fonte: Dados de campo.
Organização: Thiago Maia Portilho.
No dia 04/10/2014 os desdobramentos da passagem da frente fria citada
anteriormente na descrição do dia 27/09/2014. Os efeitos são a forte atuação de um sistema
de alta pressão na região e a queda das temperaturas, como se pode observar na figura 09.
A maior temperatura do dia foi registrada no interior do bairro, mas não passou dos 25,0ºC.
Os valores de umidade relativa também não tiveram nenhuma melhora quando comparadas
ao dia 27 de setembro. Pelo contrário, devido à sucessão de dias secos, os índices obtidos
na mata fechada e, consequentemente, no campo aberto, tiveram uma piora, quase se
nivelando com os índices obtidos no interior do bairro. O campo aberto esteve na maioria
das medições no patamar de 50%. A mata fechada se manteve em 60%, mas a partir do
meio-dia a média também foi de 50%. E o interior do bairro, que pela falta de estrato vegetal
presente no seu ambiente, não conseguia se sustentar acima dos 50% (figura 08).
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Figura 08. Variação da umidade relativa do ar no dia 04/10/2014.
Fonte: Dados de campo.
Organização: Thiago Maia Portilho.
Figura 09. Variação da temperatura do ar no dia 04/10/2014.
Fonte: Dados de campo.
Organização: Thiago Maia Portilho.
O dia 16/05/2015 foi a última data onde se fez a coleta de dados (figuras 10 e 11).
Em termos comparativos a situação climática se aproximava muito da situação encontrada
na data do dia 04/10/2014. A região de Belo Horizonte estava sofrendo as consequências da
passagem de uma frente fria, com a atuação de um sistema de alta pressão que bloqueou a
entrada de outros sistemas que avançavam no sentido sul-norte.
A mata fechada conseguiu se sustentar em patamares próximos aos 65% e o interior
do bairro, que pelo histórico das medições anteriores costuma mostrar os piores índices,
conseguiu se sustentar em patamares próximos aos 50%.
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A diferença entre os dois dias foi a presença de altos percentuais de umidade relativa
do ar. A explicação passa pela análise dos índices pluviométricos, uma vez que o ano de
2014 se apresentou como sendo um dos mais secos dentre aqueles onde se tem dados
coletados. Em 2014 o volume de chuva anual foi de 944,1 mm, o que representa menos da
metade da média da série histórica, compreendida entre 1961 e 2014, com o valor de
1506,11 mm. Por isso que na mensuração do dia 04/10/2014 ainda tinha-se níveis tão
baixos de umidade.
O número de dias com baixa incidência de chuva fez com que o ambiente ficasse
seco por mais tempo. Ao final de 2014 e durante todo o ano de 2015, o sistema atmosférico
passa a buscar o equilíbrio e, assim, tem-se no ano de 2015 medições com índices de
quantidade de chuva que ultrapassam a média pluviométrica histórica, em todos os meses
daquele ano. O dia 16/05 não foge a regra e o acúmulo de água no ambiente registrou
elevada umidade no ar para o período (figura 10). Ressaltando que se trata de um mês que
acusa o começo da temporada dos alertas para os baixos índices de umidade.
Juntamente com o fato do interior do bairro não ter uma quantidade expressiva de
vegetação que favoreça a conexão entre ele e a mata fechada, tem-se uma ampla superfície
pavimentada que aumenta a área de recepção de radiação solar. Ao mesmo tempo essa
área propicia o armazenamento temporário de calor, de forma crescente e permanente
durante o dia e a noite, contribuindo com o aumento da temperatura e do desconforto
térmico. Deve-se acrescentar a isso a proximidade entre os edifícios, que dificulta a
passagem do vento, dificultando, também, a dissipação de calor. Além disso, a maneira
como os quarteirões foram projetados (ao estarem paralelos à extensão do Parque e não
perpendiculares), fazem com que sejam mais uma barreira entre a integração do bairro e do
parque e, consequentemente, redução da área de influência deste. Esses fatores somados
contribuíram para que se atingissem, em alguns momentos, valores de temperatura e
umidade relativa próxima a níveis prejudiciais à saúde.
Um dos motivos da mata fechada ter bons índices de umidade, que poderiam ajudar
no conforto térmico do bairro, se deve ao fato de que as copas das árvores bloqueiam
grande parte da entrada da radiação direta solar. Isso faz com se mantenha a temperatura
do ar em patamares relativamente baixos e estáveis (com menores amplitudes térmicas),
mesmo nos horários mais quentes do dia, uma vez que o saldo de radiação é menor quando
comparado às áreas desobstruídas. A explicação pode ser creditada a dois fatores básicos:
menor temperatura (e, portanto, mais próximo da saturação) e à evapotranspiração vegetal,
que transforma a planta em fonte de umidade, tornando o ambiente naquela localidade
confortável sob o ponto de vista higrométrico.
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Figura 10. Variação da umidade relativa do ar no dia 16/05/2014.
Fonte: Dados de campo.
Organização: Thiago Maia Portilho.
Figura 11. Variação da temperatura do ar no dia 16/05/2014.
Fonte: Dados de campo.
Organização: Thiago Maia Portilho.
4 – Conclusões
As condições de conforto térmico e higrométrico produzido pela mata fechada do
parque não é estendida para outras partes do bairro Castelo devido ao fato do mesmo não
dispor de continuidade do estrato vegetal e/ou conexões com outros espaços verdes. Pelo
contrário, ao sair do Parque o que se verifica é a escassa presença de árvores,
fragmentadas pelo espaço, em meio às edificações e superfícies pavimentadas, além de
automóveis e pessoas em deslocamento.
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A conjunção desses fatores influencia a variação positiva de temperatura (os
implementos urbanos constituem-se em fontes de radiação ativa ou passiva) que, ao final,
constitui-se em indicador negativo de qualidade ambiental. Uma área verde de dimensão
privilegiada como a do Parque Ursulina de Andrade Mello acaba por não cumprir
devidamente o seu papel como difusor de umidade e de atenuação da temperatura,
resultado do isolamento desse espaço em meio à malha urbana.
5 – Referências
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CONTI, J. B. Resgatando A “Fisiologia da Paisagem”. Revista do Departamento de
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GOOGLE.
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