MACEDO, Andréia O.

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0
UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA E PRESERVAÇÃO
PATRIMONIAL
Andréia Oliveira Macedo
AGENTES INTEMPÉRICOS ATUANTES EM SÍTIOS
RUPESTRES NA ÁREA DO PARQUE NACIONAL SERRA DA
CAPIVARA - PI
São Raimundo Nonato – PI
2010
1
UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA E PRESERVAÇÃO
PATRIMONIAL
Andréia Oliveira Macedo
Trabalho apresentado à Universidade Federal
do Vale do São Francisco – UNIVASF, Campus
Serra
da
Capivara,
como
requisito
para
obtenção do título de Bacharel em Arqueologia
e Preservação
PreservaçãoPatrimonial.
Patrimonial. Orientadora: Prof a.
Maria
Orientadora:
Fátima Barbosa
Prof a. Souza.
Maria Fátima
Souza.
São Raimundo Nonato – PI
2010
Barbosa
2
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio
convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada à fonte.
São Raimundo Nonato - PI, 25 de junho de 2010.
Andréia Oliveira Macedo
e-mail: [email protected]
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Sistema Integrado de Bibliotecas - UNIVASF
M141a
Macedo, Andréia Oliveira
Agentes intempéricos atuantes em sítios rupestres na área do
Parque Nacional Serra da Capivara - PI / Andréia Oliveira Macedo. –
São Raimundo Nonato, PI, 2010.
64 f. : Il ; 29 cm.
Trabalho de Conclusão de Curso - Universidade Federal do Vale do
São Francisco, Campus São Raimundo Nonato, para graduação em
Arqueologia e Preservação Patrimonial, 2010.
Orientadora: Maria Fátima Barbosa Souza.
Banca examinadora: Celito Kestering, Selma Passos Cardoso.
Bibliografia
Anexos
1. Intemperismo. 2. Pinturas Rupestres. 3. Serra da Capivara.
I.Título. II. Universidade Federal do Vale do São Francisco.
CDD 709.011
3
4
“A arte rupestre faz parte de um tempo longínquo do qual
não se tem outras informações senão aquelas fornecidas
pela arqueologia. Os sítios de arte rupestre, então, fazem
parte
do
patrimônio
cultural da
humanidade,
por
representarem um pouco deste passado do homem”
(Godoy, 1985).
5
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Deus por ter me abençoado com uma família
maravilhosa (Marta, Ivo e Kátia) que sempre esteve ao meu lado, incentivando-me,
encorajando-me e animando-me diante das dificuldades, ou seja, a base de tudo.
A todos os professores que deixaram sua parcela de contribuição na
construção do conhecimento arqueológico, em especial aos professores Daniela
Cisneiros por ter despertado a vontade de realizar uma pesquisa voltada para as
pinturas rupestres e pelas ótimas aulas, Demétrio Mutzemberg pelas enriquecedoras
aulas, Janaina Santos pelas dúvidas solucionadas durante o engatinhar desta
pesquisa e empréstimos de livros, Fátima Barbosa pela orientação, Selma Passos e
Celito Kestering por comporem a banca examinadora.
A Rochele e Eliene pela paciência e ajuda com as pesquisas bibliográficas.
A amiga Ivinha pelas conversas durante minhas passagens para a biblioteca.
Aos colegas de turma, em especial Adriana, Annelise, Bernardo, Luiza,
Leidiana, Fatinha, Tânia, Rianne e Jacson.
Ao amigo Ronei pela paciência como guia e ao professor Mácio Teodúlo pelo
apoio, troca de conhecimentos e idas a campo.
Aos estimados amigos de ex-turma da UESPI Elisângela, Flávio, Jailva e
Marcilange, que compartilharam minhas angústias, incentivando-me e acreditando
neste momento.
A todas as pessoas especiais que diretamente e indiretamente contribuíram
para a finalização desta etapa.
6
RESUMO
MACEDO, Andréia Oliveira. Agentes intempéricos atuantes em sítios rupestres na
área do Parque Nacional Serra da Capivara – PI. Monografia, 64 f. São Raimundo
Nonato, 2010.
O presente trabalho tem por objetivo identificar os agentes intempéricos atuantes em
sítios rupestres na área arqueológica do Parque Nacional Serra da Capivara – PI,
inserida na região sudeste do Estado do Piauí, ocupando parte dos municípios de
São Raimundo Nonato, Coronel José Dias, João Costa e Brejo do Piauí. O Parque
Nacional Serra da Capivara contém a maior concentração de sítios arqueológicos
com pinturas rupestres do continente americano. Estes sítios, por estarem expostos
ao ar livre, encontram-se ameaçados pela ação de agentes naturais como o
intemperismo e a erosão que aceleram o processo de destruição deste patrimônio
cultural da humanidade. A pesquisa foi desenvolvida a partir da revisão bibliográfica
sobre a área de estudo, os tipos de intemperismo, os processos de erosão,
transporte e deposição, pesquisa de campo com preenchimento de protocolos de
levantamento de sítios arqueológicos e protocolos fotográficos. Os sítios escolhidos
foram quatro abrigos sob rocha arenítica com representações de pinturas rupestres:
Toca do Povo da Extrema II e Toca do Vento, localizados na Serra Branca; Toca do
Paraguaio e Toca da Entrada do Pajaú, localizados na Serra da Capivara. Para a
escolha dos sítios foi levado em consideração o levantamento imagético das
pinturas rupestres no banco de dados do site da Fundação Museu do Homem
Americano (FUMDHAM), a inserção topográfica e a localização nas zonas Serra
Branca e Serra da Capivara.
Palavras – chave: Intemperismo. Pinturas rupestres. Parque Nacional Serra da
Capivara – PI.
7
ABSTRACT
MACEDO, Andréia Oliveira. Intempérics Agents in grassland sites in the area of
Serra da Capivara National Park – PI. Monography, 64 f. São Raimundo Nonato,
2010.
This work aims to identify agents in archaeological sites on the area of Serra da
Capivara National Park –include in the Southeast region of the State of Piauí,
covering areas of the municipalities of São Raimundo Nonato, Colonel José Dias,
João Costa and Brejo do Piaui. The Serra da Capivara National Park contains the
largest concentration of archaeological sites with paintings of the American continent.
So, these sites because they are exposed to the air are threatened by the actions of
the natural agents such as weathering and erosion, which accelerate the processes
of destruction of cultural heritage of humanity. The research was developed from the
literature review on the study area, weathering processes of erosion, transport and
deposition, field research with filling protocols survey of archaeological sites and
photographs. The sites chosen were four shelters sandstones with representation of
cave painting: People's extreme II wind touches, located in the Serra Branca
Mountains; touches of Paraguayan and touches the entry of Pajaú, located in the
Serra da Capivara. For the choice of sites was taken into account the removal of rock
art imagery in the site database of American Museum Foundation (FUMDHAM), the
insertion location and topographical areas in the Serra Branca Mountains areas and
Serra da Capivara.
Key – words: Weathering. Paintings. Serra da Capivara National Park – PI.
8
LISTA DE FIGURAS
Figura1-Mapa
de
localização
do
Parque
Nacional
Serra
da
Capivara
e
entorno.......................................................................................................................13
Figura 2 - Mapa geológico do Parque Nacional Serra da Capivara – PI...................15
Figura 3 - Mapa geomorfológico do Parque Nacional Serra da Capivara – PI..........16
Figura 4 - Mapa de cobertura vegetal do Parque Nacional Serra da Capivara – PI...19
Figura 5 – Fluxograma de procedimentos de análise................................................37
Figura 6- Mapa de localização dos sítios pesquisados, Parque Nacional Serra da
Capivara - PI...............................................................................................................39
Figura 7- Vista parcial do sítio Toca do Povo da Extrema II......................................40
Figura 8 - Rachadura próxima a mancha gráfica.......................................................42
Figura 9 - Mancha ocasionada pelo processo de oxidação atingindo diretamente as
pinturas rupestres.......................................................................................................43
Figura 10 - Expansão das raízes entre a superfície do solo e a rocha......................43
Figura 11 - Vista parcial do sítio Toca do Vento.........................................................44
Figura 12 - Fragmento de rocha em conseqüência do desplacamento do paredão..46
Figura 13 - Mancha ocasionada pelo processo de oxidação comprometendo a
estética do sítio...........................................................................................................46
Figura 14 - Buracos ocasionados por insetos servindo de abrigo para cupins,
vespas, bem como desplacamento atingindo diretamente as pinturas rupestres......47
Figura 15 - Vista parcial do sítio Toca da Entrada do Pajaú......................................48
Figura 16 - Desplacamento atingindo a mancha gráfica............................................49
Figura 17 - Mancha ocasionada pela percolação de água pluvial, bem como
desplacamento atingindo a pintura rupestre..............................................................50
Figura 18 - Manchas próximas as pinturas rupestres ocasionadas por casas de
exu..............................................................................................................................51
Figura 19 - Vista parcial do sítio Toca da Entrada do Paraguaio...............................52
Figura 20 - Cristalização de sais cobrindo as pinturas rupestres...............................53
Figura 21 - Descoloração da pintura rupestre ocasionada pela percolação da água
pluvial.........................................................................................................................54
Figura 22 - Casa de exu construída próxima as pinturas rupestres...........................55
Figura 23- Distribuição topográfica dos sítios arqueológicos.....................................57
9
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS...........................................................................................05
RESUMO..............................................................................................................06
ABSTRACT...........................................................................................................07
LISTA DE FIGURAS.............................................................................................08
INTRODUÇÃO....................................................................................................... 11
1
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
1.1
Localização......................................................................................................13
1.1.1 Geologia..........................................................................................................14
1.1.2 Geomorfologia.................................................................................................16
1.1.3 Recursos Hídricos...........................................................................................17
1.1.4 Clima...............................................................................................................18
1.1.5 Vegetação.......................................................................................................18
1.1.6 Fauna..............................................................................................................20
1.1.7 Solos................................................................................................................21
1.2
Pesquisas Arqueológicas: Registros Rupestres..............................................22
2
DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS E METODOLOGIA
2.1
Intemperismo....................................................................................................25
2.2
Erosão..............................................................................................................31
2.3
Transporte........................................................................................................35
2.4
Deposição.........................................................................................................36
2.5
Metodologia......................................................................................................36
3
DESCRIÇÃO DOS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS E ANÁLISE DOS
AGENTES INTEMPÉRICOS ATUANTES
3.1
Sítio Toca do Povo da Extrema II.....................................................................40
10
3.1.1 Intemperismo Físico........................................................................................41
3.1.2 Intemperismo Químico....................................................................................42
3.1.3 Intemperismo Biológico...................................................................................43
3.2
Sítio Toca do Vento.........................................................................................44
3.2.1 Intemperismo Físico........................................................................................45
3.2.2 Intemperismo Químico....................................................................................46
3.2.3 Intemperismo Biológico...................................................................................47
3.3
Sítio Toca da Entrada do Pajaú.......................................................................48
3.3.1 Intemperismo Físico........................................................................................49
3.3.2 Intemperismo Químico....................................................................................50
3.3.3 Intemperismo Biológico...................................................................................50
3.4
Sítio Toca do Paraguaio..................................................................................51
3.4.1 Intemperismo Físico........................................................................................53
3.4.2 Intemperismo Químico....................................................................................53
3.4.3 Intemperismo Biológico...................................................................................54
CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................56
REFERÊNCIAS..........................................................................................................59
ANEXOS....................................................................................................................62
11
INTRODUÇÃO
As pesquisas arqueológicas na área do Parque Nacional Serra da Capivara,
situado no Sudeste do Estado do Piauí tiveram início na década de 70, quando
foram descobertos muitos sítios arqueológicos pré-históricos com pinturas e
gravuras rupestres, apresentando grande diversidade referente à temática e a
técnica de realização. A região também apresenta abrigos com abundantes
materiais líticos, fogueiras e alguns enterramentos, bem como sítios a céu aberto,
onde são encontradas oficinas líticas e aldeias de grupos ceramistas.
Os estudos sobre os registros rupestres da referida área procuram localizar
os diferentes períodos em que foram realizados e atribuí-los a distintos grupos préhistóricos havendo assim, a necessidade de se estabelecer critérios preliminares.
Os sítios com pinturas rupestres por estarem ao ar livre sofrem
constantemente processos de destruição, devido a fatores naturais classificados
como físicos, químicos e biológicos, alguns dos quais são passíveis de controle.
Estes fatores naturais ocasionam a degradação e a decomposição tanto da rocha
como das próprias pinturas, sendo que a própria rocha arenítica escolhida para a
representação destes registros rupestres ajuda no processo, por se tratar de uma
rocha friável e também pelo próprio clima semiárido entre outros fatores abordados
durante o desenrolar da pesquisa.
Para
o
desenvolvimento
desta
pesquisa
partiu-se
do
seguinte
questionamento: Quais os fatores intempéricos que atuam, acelerando a
degradação dos abrigos areníticos e/ou das pinturas rupestres do Parque Nacional
Serra da Capivara?
Os objetivos da presente pesquisa foram:
- Identificar os agentes intempéricos que atuam diretamente nos sítios
arqueológicos degradando à estrutura dos abrigos areníticos e/ou as pinturas
rupestres;
- Observar se os agentes intempéricos estão atuando no paredão rochoso
e/ou nas pinturas rupestres;
- Verificar a relação entre o grau de atuação dos agentes intempéricos em
sítios localizados em baixa, média e alta vertente;
12
- Identificar a intensidade dos processos e causas de natureza de ordem
física, química ou biológica decorrentes do intemperismo atuante nos sítios
arqueológicos;
- Contextualizar os fatores de intemperismo físico, químico e biológico nos
abrigos areníticos.
Para o desenvolvimento desta pesquisa foram selecionados os seguintes
sítios: Toca do Povo da Extrema II e Toca do Vento, localizados na Serra Branca;
Toca do Paraguaio e Toca da Entrada do Pajaú, na Serra da Capivara.
A presente monografia divide-se em três capítulos:
O primeiro capítulo, Caracterização da Área de Pesquisa, aborda aspectos
naturais como: localização, geologia, geomorfologia, recursos hídricos, clima,
vegetação, fauna e solos, bem como o quadro arqueológico no que diz respeito aos
estudos dos registros rupestres da área do Parque Nacional Serra da Capivara.
O segundo capítulo, Definição dos Conceitos e Metodologia ressalta sobre
os tipos de intemperismo, fatores condicionantes, fatores que controlam a alteração
intempérica, os processos e tipos de erosão, transporte e deposição e a metodologia
da pesquisa.
O terceiro capítulo, Descrição dos Sítios Arqueológicos e Análise dos
Agentes Intempéricos Atuantes, versa sobre os quatro sítios selecionados para a
presente pesquisa, a fim de enfatizar aspectos de localização, informações
geológicas, geomorfológicas e dados arqueológicos, bem como a identificação,
atuação e descrição dos agentes destrutivos presentes nos sítios rupestres.
Em seguida são apresentadas as considerações finais, ao desenvolvimento
da pesquisa de levantamento dos agentes intempéricos atuantes nos sítios
rupestres.
13
1
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
Este capítulo tem como objetivo apresentar informações sobre o contexto
ambiental e arqueológico das pinturas rupestres do Parque Nacional Serra da
Capivara - PI, onde estão inseridos os sítios rupestres em estudo.
1.1
Localização
A presente pesquisa abrange a área arqueológica1 do Parque Nacional
Serra da Capivara, inserida na região sudeste do Estado do Piauí, localizada entre
as coordenadas, a norte 8° 26’ 50” latitude e 42° 19’ 51” longitude, a leste 8° 36’ 33”
latitude e 42° 10’ 21” longitude, a sul 8° 54’ 23” latitude e 42° 19’ 46” longitude, a
oeste 8° 46’ 28” latitude e 42° 42’ 53” longitude, ocupando parte dos municípios de
São Raimundo Nonato, Coronel José Dias, João Costa e Brejo do Piauí (Fig. 1).
Figura 1 - Localização do Parque Nacional Serra da Capivara - PI. Fonte: Arquivo da
Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM).
1
É uma categoria de entrada para referenciar a pesquisa em relação a limites geográficos flexíveis
dentro de uma unidade ecológica e que participe das mesmas características geo-ambientais. O
estudo dentro de uma área arqueológica visa conhecer os processos de ocupação, adaptação e
aproveitamento dos recursos disponíveis, por grupos que habitaram a região em tempos pretéritos.
Os sítios correspondem a assentamentos humanos onde podem ser observadas as condições de
ocupação suficientes para poder estudar os vestígios dos grupos étnicos que os povoaram (MARTIN,
2008).
14
1.1.1
Geologia
A área do Parque Nacional situa-se entre dois domínios2 geológicos: a Faixa
de Dobramento Riacho do Pontal e a Bacia do Parnaíba, antigamente denominada
Bacia do Piauí-Maranhão.
A Faixa de Dobramento Riacho do Pontal de acordo com Neves (1975, apud
Santos, 2007) “exibe um sistema de dobramentos dentro da Província Borborema,
apresentando formato irregular, se estendendo numa área de 28.000 km²”. Localizase na divisa dos Estados do Piauí, Pernambuco e Bahia. Para Oliveira (1998 apud
Santos 2007) “pode ser subdividida em cinco zonas de cisalhamento, sendo que a
área do Parque compreende a subzona de cisalhamento Barra do Bonito, composta
por muscovita-quartzitos e quartzitos feldespáticos, micaxistos e quartzoxistos”.
A Bacia do Parnaíba situa-se no Nordeste do Brasil, ocupando uma área de
aproximadamente 600.000 km² e abrangendo parte dos Estados do Pará, Tocantins,
Maranhão, Piauí e Bahia. Na área de estudo, de acordo com Santos (2007) “afloram
rochas, cujos sedimentos foram depositados durante o Siluriano e Devoniano,
correspondendo respectivamente aos grupos3 Serra Grande e Canindé”.
O Grupo Serra Grande situa-se na parte inferior da coluna estratigráfica da
Bacia do Parnaíba.
Inicialmente o Grupo Serra Grande foi definido por Rodrigues (1967) e
Carozzi et al. (1975), citados por Cunha (1986), como sendo “constituído pelas
formações4 Mirador, Tianguá, Jaicós e Itaim”. Caputo e Lima (1984 apud Cunha
1986) “redefiniram o Grupo Serra Grande passando a ser constituído pelas
formações Ipu, Tianguá e Jaicós”.
Segundo Campbell (1949, apud Góes e Feijó, 1994) “a Formação Ipu é
composta principalmente por arenito hialino aparecendo raramente siltito, folhelho e
diamictito”.
De acordo com Rodrigues (1967, apud Góes e Feijó, 1994) “a Formação
Tianguá apresenta folhelho cinza, siltito e arenito micáceo”.
2
Termo utilizado, em geologia, para caracterizar a área ocupada por uma determinada litologia, ou
unidade geológica (GUERRA, 2003)
3
Denominação incluída na divisão estratigráfica da coluna geológica (GUERRA, 2003).
4
Conjunto de rochas e de minerais que possuem caracteres mais ou menos semelhantes, quer de
origem, quer de composição, quer de idade (GUERRA, 2003).
15
Segundo Plummer (1946 apud Góes e Feijó 1994) “a Formação Jaicós
engloba arenito e eventuais pelitos” (Fig. 2).
Figura 2 – Mapa geológico do Parque Nacional Serra da Capivara e
entorno. Fonte: Lagese (2002 apud Santos 2007).
Segundo Rodrigues (1967) e Carozzi et al., (1975) “o Grupo Canindé agrupa
as formações Pimenteira, Cabeças e Longá”. Caputo e Lima (1984), citados por
Cunha (1986) “passam a incluir a formação Itaim neste grupo”. A área de estudo não
apresenta a formação Longá, apenas a Pimenteira, Cabeças e Itaim.
Para Kegel (1953, apud Góes e Feijó, 1994) a Formação Itaim contém
arenito fino esbranquiçado e folhelho cinza-médio a escuro.
De acordo com Small (1914, apud Góes e Feijó, 1994) “a Formação
Pimenteira é composta por espessas camadas de folhelho cinza-escuro a preto”.
Segundo Plummer (1946, apud Góes e Feijó, 1914) “a Formação Cabeças
contém arenito fino”.
16
1.1.2
Geomorfologia
De acordo com Pellerin (1984, apud Santos, 2007) “no Parque Nacional
Serra da Capivara e circunvizinhaças podem ser reconhecidas três unidades
geomorfológicas: planaltos5 areníticos, cuestas6 e pedimentos7”. Os pedimentos não
são tratados nesta pesquisa, porque situam-se no entorno do Parque (Fig. 3).
Figura 3 – Mapa geomorfológico do Parque Nacional Serra da Capivara - PI. Fonte: Arquivo
da Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM).
5
Extensão de terrenos mais ou menos planos, situados em altitudes variáveis (GUERRA, 2003).
Forma de relevo dissimétrico constituída por uma sucessão alternada das camadas com diferentes
resistências ao desgaste e que se inclinam numa direção, formando um declive suave no reverso, e
um corte abrupto ou íngreme na chamada frente da cuesta (GUERRA, 2003).
7
Superfície erosiva, situada no sopé de montanhas ou no interior de vales, levemente inclinada e
esculpida sobre o embasamento cristalino e, em geral, exibindo uma delgada cobertura de cascalhos
fluviais. Normalmente esta feição é originada em climas secos (árido a semi-árido) (SUGUIO, 1998).
6
17
Os planaltos areníticos (chapadas8) do reverso da cuesta localizam-se a
oeste do Parque Nacional. Variam entre 630-600m de altitude no sudeste a 520500m no noroeste. Muito regulares e monótonos, são cortados por alguns vales 9 na
direção norte-sul.
Na Serra Nova, Serra da Capivara e Serra Talhada, a zona da cuesta
representa um dos relevos mais importantes do Nordeste, com projeção da Bacia do
Parnaíba sobre o maciço antigo, com largura de 3 a 7 km.
Arqueologicamente a cuesta torna-se muito importante por apresentar uma
grande concentração de abrigos com pinturas rupestres.
1.1.3
Recursos Hídricos
A região do Parque Nacional não apresenta nenhum rio permanente,
fazendo com que, durante o período chuvoso, ocorram enchentes. Quando termina
o período das chuvas estes rios temporários secam.
A área de estudo apresenta diferente fisionomia na rede hidrográfica 10,
devido à morfologia das vertentes com boqueirões11, canyons12, vales entre outros.
Outras áreas do Parque apresentam caldeirões que surgem por meio da
erosão que ocasiona depressões na rocha, servindo assim como reservatórios que
acumulam águas durante as chuvas. O sopé dos paredões dos canyons apresenta
raras fontes de olhos d’ água que gotejam o ano todo.
8
Denominação usada no Brasil para as grandes superfícies, por vezes horizontais, e a mais de 600m
de altitude. Do ponto de vista geomorfológico a chapada é, na realidade, um planalto sedimentar
típico, pois se trata de um acamamento estratificado que, em certos pontos, esta nas mesmas cotas
da superfície de erosão, talhadas em rochas pré-cambrianas (GUERRA, 2003).
9
Corredor ou depressão de forma longitudinal (em relação ao relevo contíguo), que pode ter, por
vezes, vários quilômetros de extensão. Os vales são formas topográficas constituídas por talvegues e
duas vertentes com dois sistemas de declives convergentes (GUERRA, 2003).
10
Maneira como se dispõe o traçado dos rios e dos vales, existindo uma grande variedade de formas
de drenagem (GUERRA, 2003).
11
Termo regional usado no Nordeste do Brasil para as aberturas ou gargantas estreitas cortadas, por
vezes, em serras por onde passa um rio (GUERRA, 2003).
12
Garganta, ravina ou canal, freqüentemente escavado por água corrente na superfície terrestre
cujas paredes são escarpadas (SUGUIO, 1998).
18
1.1.4
Clima
A região Sudeste do Piauí, na qual está inserido o Parque Nacional Serra da
Capivara, de acordo com a classificação climática de Köppen, é caracterizada por
um clima semiárido quente, com chuvas de verão (Classe BShw).
As precipitações são fracas e extremamente irregulares. A estação seca
varia entre sete e dez meses. O início da estação das chuvas ocorre entre outubro e
novembro, representando os períodos mais quentes do ano, com temperatura média
de 31ºC, máximas de 45ºC e mínima de 22ºC, estendendo-se até a metade de abril
ou início de maio. Varia de ano para ano, podendo o início do período das chuvas
ser antecipado, bem como acabar mais cedo do que o previsto, consistindo em um
sistema de distribuição irregular. As precipitações variam de 600 a 700 mm.
Junho é o mês mais frio, com temperatura média de 25ºC, máxima de 35ºC
e mínima de 12ºC, sendo que no sopé da Serra da Capivara as noites são mais
frias, apresentando temperaturas mínimas próximas a 10ºC.
1.1.5
Vegetação
O Parque Nacional Serra da Capivara apresenta como principal ecossistema
o bioma caatinga, cobertura vegetal característica da região semiárida do Nordeste,
com relativa riqueza biológica e endemismos.
Emperaire (1980, apud Santos, 2007) definiu as seguintes categorias
vegetais no Parque: “caatinga arbustiva alta densa; formações arbóreas; caatinga
arbórea média densa; caatinga arbustiva baixa e caatinga arbustiva arbórea”(Fig. 4).
19
Figura 4 – Mapa de cobertura vegetal do Parque Nacional Serra da Capivara - PI. Fonte:
Arquivo da Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM).
No reverso da cuesta, predomina a vegetação do tipo caatinga arbustiva alta
densa, caracterizada por uma homogeneidade fisionômica, representando uma
formação densa com numerosos arbustos de pequeno porte de difícil penetração.
Este tipo de caatinga abrange quatro estratos principais: estrato herbáceo; estrato
sufrutescente com espécies perenes; estrato arbustivo composto por arbustos e
trepadeiras e por último estrato arbóreo baixo atingindo altura máxima de 10m.
Na rede de ravinas13 da frente da cuesta e as que se dirigem para o interior
dos vales da chapada, como no vale da Serra Branca dominam as formações
vegetais de floresta-galeria.
13
Sulcos produzidos nos terrenos devido ao trabalho erosivo das águas de escoamento (GUERRA, 2003).
20
De acordo com o encaixamento podem ser observados dois tipos de
formações arbóreas altas semi-decíduas, ao passo que nos limites da cornija de
arenitos em certos vales e declives apresentam caatinga arbórea.
O front da cuesta, em algumas de suas ravinas, apresenta caatinga arbórea
média densa, a qual é um tipo de vegetação pouco densa com estrato frutescente
de cobertura muito variável com pobreza florística. Apresenta as seguintes
características: espécies caducifólias, micro e mesófilas, de folhas compostas,
presença de espécies espinhosas.
Nas bordas da chapada domina a caatinga arbustiva baixa aberta, na qual
os arenitos erodidos servem de suporte para este tipo de vegetação, crescendo em
bolsões de areia formados por meio da desagregação destes arenitos.
Os vales são compostos por caatinga arbustiva arbórea, no qual o vale da
Serra Branca, nos arenitos brancos da formação Cabeças, observa-se uma caatinga
arbórea baixa densa, diferentemente de outros vales que apresentam caatinga
arbustiva arbórea média.
1.1.6
Fauna
A região do Parque apresenta diversidade faunística pouco conhecida. As
informações abaixo apresentadas resultam de dados publicados em 1991.
Na classe dos mamíferos encontra-se o único mamífero endêmico do sertão
nordestino, o mocó (Kerodon rupestris) que habita as rochas, particularmente as
encostas dos vales e boqueirões, outros tipos de roedores são os ratos rabudos
(Trichomys apereoide), cotias, parcas entre outros.
A área apresenta cinco espécies de tatus os quais são: tatu canastra
(provavelmente extinto), tatu-bola, tatu-peba, tatu-verdadeiro.
Na classe dos primatas foram constatadas três espécies, o sagüi, o macaco
prego e o guariba.
Dentre os carnívoros estão presentes as onças e os gatos silvestres entre
outros.
As espécies de herbívoros são compostas por dois veados o Mazama
gouazoubira e M. americana e por porcos silvestres, sendo mais comum o caititu e o
queixada.
21
Durante o levantamento da fauna do Parque Nacional Serra da Capivara foi
observada uma grande diversidade de morcegos. Até julho de 1988 foram
detectadas vinte e quatro espécies, cujo hematófago (Desmodus rotundus), é o de
maior relevância. Dentre as espécies de morcegos os frugívoros (Artibeus
planirostris) habitam os paredões rochosos.
No que diz respeito às aves, foram identificadas 178 espécies, sendo
encontrada uma série de espécies nos paredões rochosos da orla da chapada e dos
boqueirões, que os utilizam como abrigo, bem como para nidificar.
Os invertebrados são praticamente desconhecidos, existindo algumas
pesquisas sobre aranhas e escorpiões.
As populações de insetos também são pouco conhecidas. As mesmas
atingem grandes densidades, após o início dos períodos chuvosos.
1.1.7
Solos
Os planaltos areníticos (chapadas) são recobertos pelas formações arenoargilosas latossólicas, pertencentes aos latossolos14 amarelo-avermelhados (10
YRS/ 3, Código de Munsell), cuja areia é dominante. Estes latossolos são dos mais
ácidos da região, ocorrendo um aumento da acidez livre nos primeiros 10 cm,
havendo depois uma diminuição, sendo quase inexistente o horizonte húmico, cuja
matéria orgânica em decomposição se encontra entre 0 e 3 cm (EMPERAIRE, 1991,
p. 63).
Nos fundos dos vales são encontrados vertíssolos15.
Nas ravinas da frente da cuesta encontram-se os litossolos16 apresentando
horizonte húmico de 5 a 10 cm de espessura. O pH deste tipo de solo é em torno de
5. Geralmente sua cor no horizonte superior é marrom escuro (10 YR 4/2) e cinza
claro (10YR 7/2) em profundidade. (EMPERAIRE, 1991, p. 64).
14
Solo submetido ao processo de laterização (GUERRA, 2003).
São solos compostos por material mineral com horizonte vértico entre 25 e 10 cm de profundidade.
Variam de pouco profundos a profundos com ocorrência de solos rasos (SUGUIO, 1998).
16
Diz-se dos solos que em cujos horizontes se verifica o predomínio da rocha matriz (GUERRA,
2003).
15
22
1.2
Pesquisas Arqueológicas: Registros Rupestres
Na área do Parque Nacional Serra da Capivara, os pesquisadores ao
estudarem as pinturas rupestres observaram a existência de dois grandes horizontes
culturais denominados de Tradição Nordeste e Agreste, sendo a primeira de maior
dominância nos sítios.
Por arte rupestre entende-se todas as inscrições (pinturas ou gravuras)
deixadas pelo homem e suportes fixos de pedra (paredes de abrigo, gruta,
matacões, etc (PROUS, 1992, p.510).
As pinturas rupestres do Parque Nacional são estudadas como um sistema
de comunicação. São centro de muitas discussões pelo fato de serem vistas como
arte pelos historiadores da arte.
Com o avanço das pesquisas, tornou-se necessário realizar divisões
taxonômicas. As pinturas passaram a ser divididas em subtradições, estilos,
variedades, complexos estilísticos, classes entre outras. Estas subdivisões sofreram
alterações devido a outros achados pertencentes aos mesmos horizontes culturais.
Segundo Martin (2008),
A definição de tradição formulada por A. M. Pessis e N. Guidòn (1992)
considera os tipos de figuras presentes nos painéis, as proporções relativas
que existiam entre esses tipos e as relações que se estabeleceram entre os
diversos grafismos que compõem um painel. Os tipos que caracterizam uma
tradição são estabelecidos a partir da síntese de todas as manifestações
gráficas existentes na área arqueológica determinada.
Para Prous (1992, apud Martin, 2008), “a tradição é a categoria mais
abrangente entre as unidades rupestres descritivas, implicando certa permanência
de traços distintivos, geralmente temáticos”.
Após ser identificada a tradição, busca-se estabelecer a subtradição que
será utilizada para definir o grupo desvinculado de uma tradição, o qual foi adaptado
a um meio geográfico e ecológico diferentes, o que leva ao surgimento da presença
de novos elementos.
Dentro das divisões taxonômicas têm-se também os estilos e variedades.
Para Pessis e Guidon (1992, apud Martin, 2008),
O estilo é a classe mais particular decorrente da evolução de uma
subtradição, segundo as variações da técnica e da apresentação gráfica,
com inovações temáticas que refletem a manifestação criativa de cada
comunidade.
23
Niède Guidon utiliza a subdivisão que denominou variedade, devido à
grande quantidade de sítios com pinturas rupestres, bem como as diferenças entre
as mesmas no Sudeste do Estado do Piauí.
Por meio de várias pesquisas realizadas, N. Guidon, A. M. Pessis, S.
Maranca entre outros, definiram a tradição Nordeste datada em torno de 12.000
anos BP. Por volta de 6.000 anos BP a mesma desapareceu no SE do Piauí. É
caracterizada pela variedade dos temas representados e a riqueza de enfeites e
atributos que acompanham as figuras humanas que dominam as representações, as
quais são representadas sempre em movimento, com o rosto de perfil,
representações de objetos e figuras fitomorfas não foram encontradas, o tamanho
das figuras varia entre 5 e 15 cm.
Os registros rupestres da referida tradição representam cenas do cotidiano
como luta, caça, dança, sexo, bem como representações de cenas cerimoniais ou
mitos. Apresentam uma equilibrada representação de antropomorfos e zoomorfos,
sendo os cervídeos, emas e pequenos quadrúpedes dominantes, mas este quadro
pode variar de acordo com as subtradições regionais.
Cada tradição é dividida em subtradição. A tradição Nordeste possui uma
subdivisão regional denominada Várzea Grande. Suas mais antigas manifestações
estão localizadas no desfiladeiro da capivara, inserido no Parque Nacional Serra da
Capivara.
Esta subtradição teve grande dispersão espacial, ocorrendo numa área de
aproximadamente 40.000 km², havendo durante sua representação mudanças na
apresentação dos temas e na própria evolução dos grafismos.
Diferentemente da tradição Nordeste, a tradição Agreste apresenta técnica
gráfica e riqueza temática inferiores, tendo surgido no sudeste do Piauí por volta de
5.000 anos BP. É caracterizada pela representação de grafismos de grande
tamanho, sem movimento, geralmente isolados, sem formar cenas, mas quando as
cenas são representadas aparecem poucos indivíduos ou animais, sendo os últimos
de difícil reconhecimento das espécies. As figuras desta tradição muitas vezes são
representadas recobrindo parcialmente as pinturas da tradição Nordeste.
Niède Guidon, ao estudar a referida tradição, estabeleceu dois estilos
conhecidos, os quais são: Serra do Tapuio e Extrema, admitindo a possibilidade de
se tratar de subtradições.
24
A Tradição Geométrica representa as pinturas que não são reconhecidas,
apresentando diferenças morfológicas e técnicas. As mesmas são de expressão
mínima no Parque Nacional, levando-se em consideração o conjunto de sítios. Esta
tradição refere-se a pinturas realizadas nas paredes dos abrigos sob-rocha e
gravuras executadas mais freqüentemente na base rochosa dos abrigos ou nos
afloramentos rochosos.
25
2
DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS E METODOLOGIA
Este capítulo tem como objetivo apresentar alguns conceitos e a
metodologia abordada na pesquisa, a qual se propõe a identificar os agentes
intempéricos que atuam, degradando abrigos areníticos e/ou às pinturas rupestres
no Parque Nacional Serra da Capivara – PI.
2.1
Intemperismo
A crosta terrestre é formada por rochas que, devido às condições climáticas
sofrem processos que as levam à decomposição e/ou fragmentação formando,
assim o manto de intemperismo, também conhecido por regolito, atividade esta que
ocorre entre a atmosfera e a litosfera.
Como regolito entende-se todo material inconsolidado que recobre o substrato
rochoso inalterado, ou protolito, sendo formado por material intemperizado in situ ou
transportado. (GUERRA; CUNHA, 2006, p. 25)
O intemperismo age por meio de um conjunto de fatores que ocasionam a
desagregação e decomposição das rochas, estando intimamente relacionado à
própria natureza da rocha e ao ambiente, em que a mesma está inserida.
Guerra, A. e Guerra, J.,(1997) definem o intemperismo como “o conjunto de
processos mecânicos, químicos e biológicos que ocasionam a desintegração e
decomposição das rochas”.
Segundo Leinz e Amaral (1989) o intemperismo constitui “o conjunto de
processos operantes na superfície terrestre que ocasionam a decomposição dos
minerais das rochas, graças à ação de agentes atmosféricos e biológicos”.
Teixeira et al., (2000) definem o intemperismo como “o conjunto de
modificações de ordem física (desagregação) e química (decomposição) que as
rochas sofrem ao aflorar na superfície da Terra”.
Vários fatores endógenos como a composição mineralógica do protolito e
fatores exógenos, como o clima são determinantes no tipo de intemperismo que age
em determinada região, assim como a cobertura vegetal e o regime hidrológico.
26
O intemperismo ocorre por meio de fenômenos físicos, químicos, biológicos
que podem agir individualmente ou em conjunto, dependendo da rocha em si e
também do clima da região, sendo o clima o fator determinante do tipo de
intemperismo.
Segundo Suguio (1980),
O intemperismo físico é a ruptura das rochas da crosta terrestre por
solicitação de processos inteiramente mecânicos atribuídos a várias causas.
Algumas dessa forças originam-se no interior das próprias rochas enquanto
outras são aplicadas externamente.
O intemperismo físico é condicionado, devido aos seguintes mecanismos:
Crescimento de cristais em poros e fraturas – deve-se ao fato de que a água da
chuva sofre congelamento ao percolar entre os grãos de cristais e também por meio
das fissuras presentes na rocha. Agindo, assim, sobre o protolito, suas superfícies
são expostas. A água ao ser congelada expande seu volume em 9%, exercendo,
portanto entre as fissuras uma força expansiva, ocasionando deste modo
alargamento nestas fissuras levando à desagregação da rocha. O crescimento de
cristais em poros e fraturas ocorre ativamente em regiões que apresentam climas
polares, sendo que no Brasil, o mesmo age em pequena escala.
Cristalização de sais – ocorre devido aos sais solúveis não serem removidos pelas
águas pluviais, pois a precipitação pluviométrica é insuficiente para removê-los,
ocorrendo predominantemente em regiões de climas áridos e semiáridos. A
cristalização de sais exerce forte pressão sobre as paredes da rocha, por meio do
crescimento de cristais e pela expansão térmica influenciada pela elevação da
temperatura, bem como pela absorção da umidade. Os sais que se precipitam mais
comumente são cloretos, sulfatos e carbonatos que têm como origem, o próprio
processo de alteração das rochas pelo intemperismo, os quais, durante as chuvas
são percolados por meio da água.
Insolação – é ativo em regiões de clima quente e árido. Ocorre pela variação da
temperatura entre o dia e a noite, fazendo com que as rochas expandam-se e
contraiam-se, variando, portanto o volume com o aumento e a diminuição da
temperatura. As rochas são compostas por diversos minerais que apresentam
variados coeficientes de dilatação térmica, ou seja, há um aumento de volume ao
elevar-se a temperatura de 1º C. O arenito sofre dilatação de 5 a 20 µ/m, já o granito
de 6 a 22 µ/m.
27
As rochas ao sofrerem aquecimento durante o dia e resfriamento à noite,
ocasionam a segregação e a redução dos minerais presentes em pequenos
fragmentos.
Outra
forma
que
causa
o fraturamento
brusco
das rochas,
principalmente em ambientes de clima árido, é quando a rocha ao passar por um
intenso período de aquecimento por causa da elevada temperatura é exposta a uma
chuva repentina, entrando em contato com a água pluvial que apresenta
temperatura mais baixa.
Devido à maioria das rochas apresentarem condutibilidade térmica muito
baixa, de modo que quando a rocha é aquecida estabelece-se um gradiente de
temperatura entre a superfície e o interior, ocasionando uma maior expansão na
superfície do que no interior da rocha conduzindo ao fraturamento.
Alívio de pressão – as rochas encontram-se sobrepostas, sendo comprimidas pelo
peso. Quando as rochas de cima passam por processos de intemperismo e erosão,
acabam aliviando a pressão exercida sobre as rochas sobrepostas, levando à
expansão das mesmas provocando fraturas, também conhecidas como juntas de
alívio por possuírem propriedades elásticas.
As rochas se formam no interior da Terra e quando afloram a superfície
terrestre entram em contato com um novo ambiente que apresenta características
como riqueza de água, oxigênio, temperaturas baixas e pressão diferentemente do
ambiente no qual se formaram, com isso, os minerais presentes nessas rochas
passam por diversas reações químicas, ocorrendo o rompimento do equilíbrio do
conjunto de íons o que ocasiona sua transformação em outros minerais mais
estáveis na superfície da Terra.
O intemperismo químico tem como principal agente a água pluvial que infiltra
e percola nas rochas. A água da precipitação atmosférica não é pura, pois apresenta
gases dissolvidos. Os mais importantes gases para a atuação do intemperismo são
o oxigênio e o gás carbônico, sendo o nitrogênio inerente.
O nitrogênio atmosférico juntamente com o oxigênio do ar forma ácido nitroso
e nítrico em dias chuvosos, e estes combinados tem ação totalmente corrosiva para
as rochas. Para os vegetais, atuam como adubo nitrogenado.
As águas percolantes incorporam ácidos orgânicos que são formados por
meio da incompleta degradação da matéria orgânica presente nos solos, o que torna
essas águas ácidas, fazendo com que o ataque aos minerais aumente, tornando
mais intenso à atuação do intemperismo químico.
28
O intemperismo químico apresenta maior relevância em regiões de clima
úmido, como exemplo, pode ser citado o Brasil, onde a velocidade da reação é
acelerada pela temperatura, devido às oscilações de umidade e calor.
Segundo Leinz e Amaral (1989),
Na evolução intempérica de uma rocha podem ser observadas três fases: a
primeira fase é o início do ataque físico a uma determinada rocha, sendo a
textura da mesma conservada; na segunda ocorre a decomposição dos
minerais presentes na rocha que permanece com a textura original, já na
terceira fase a rocha passa pelo processo de decomposição total
ocasionando o desaparecimento da sua textura. É o que se denomina solo.
Em áreas poucos íngremes, onde os fenômenos de deslizamento dos solos
não são observados, o conjunto dessas três fases forma o chamado regolito
ou manto de intemperismo.
As rochas intemperizadas apresentam constituintes mais solúveis que são
transportados pelas águas que drenam o perfil de alteração conhecida também, por
fase solúvel que é formado pelo intemperismo e pedogênese. O material que sobra
no perfil de alteração em conseqüência se torna enriquecido nos constituintes
menos solúveis, estes constituintes menos solúveis apresentam-se nos minerais
primários residuais que conseguiram resistir ao intemperismo, bem como nos
minerais secundários que se formaram no perfil de alteração. Tem-se como
exemplo, de minerais residuais o quartzo que é o mais comum. Para os minerais
secundários tem-se os oxi-hidróxidos de ferro e de alumínio chamados de
neoformados, por resultarem da precipitação de substâncias dissolvidas nas águas
que percolam o perfil. Os minerais secundários podem ser chamados de
transformados, quando se formam por meio da interação que ocorre entre as
soluções de percolação e os minerais primários, ocasionando a modificação de sua
composição química, preservando sua estrutura pelo menos parcialmente.
O intemperismo químico apresenta como principais reações:
Hidratação - o próprio nome hidratação significa combinar com água, ou seja,
adicionar água ao mineral para que a mesma faça parte do edifício cristalino do
mineral. As reações de hidratação e hidrólise estão intimamente relacionadas.
Dissolução - é geralmente o primeiro estágio do intemperismo químico.
As rochas apresentam alguns minerais que estão sujeitos à dissolução por
meio de ácidos que ocasionam a solubilização dos mesmos. A intensidade de
reação de dissolução vai depender de dois pontos que são: a quantidade de água
que passa em contato com os minerais, bem como a própria solubilidade desses
29
minerais. Assim a halita é facilmente dissolvida, enquanto o calcário e o dolomito
são dissolvidos lentamente.
Hidrólise - acontece quando há uma reação química entre os minerais presentes na
rocha e a água, ou seja, entre os íons H+ ou OH- da água e os íons do mineral,
ocorrendo uma decomposição pela água, sendo uma reação bastante comum para
os minerais silicatados.
Oxidação - ocorre por meio de agentes orgânicos e inorgânicos. Os primeiros
resultam do metabolismo de bactérias, portanto são os mais importantes.
As reações de oxidação agem principalmente sobre os minerais de ferro e
manganês que contém íons polivalentes.
No intemperismo químico o processo de oxidação se dá quando ocorre uma
reação com o oxigênio, o qual forma óxidos, ou também com oxigênio e água
formando os hidróxidos.
Os agentes biológicos que causam intemperismo podem ser divididos em
agentes de origem vegetal como as bactérias, fungos microscópicos, liquens, algas,
musgos, ação das raízes das árvores, e os de origem animal que agem por meio de
insetos, roedores, aves entre outros, sendo que alguns desses agentes agem de
forma a ajudar na atuação dos processos químicos e físicos.
O intemperismo biológico desempenha um papel muito importante na
formação de solos, considerado como produto deste tipo de intemperismo, já que o
solo é constituído basicamente de minerais e húmus, este último de grande
importância por conservar sua umidade, o que acelera a atuação do intemperismo
químico.
Alguns fatores são responsáveis pelo controle do intemperismo como o
material parental17, clima, topografia, biosfera e o tempo. Cada um desses fatores
contém características próprias que dependem do ambiente, no qual ocorre o
intemperismo, influenciando sobre sua natureza, velocidade e intensidade.
As rochas apresentam diferentes graus de alteração durante a ação do
intemperismo, devido à natureza dos minerais que as compõem, sua textura e
estrutura.
17
Rochas que dão origem a um determinado tipo de solo. É conhecido também por rocha matriz, ou rocha mãe
(GUERRA, 2003).
30
As
rochas
são
constituídas
de
minerais
que
apresentam
mais
susceptibilidade frente a outros minerais durante as alterações resultantes dos
processos de intemperismo.
O principal agente influenciador do intemperismo é o clima. Ele determina o
tipo e a velocidade do intemperismo numa determinada região. A precipitação e a
temperatura influenciam diretamente sobre a natureza e a velocidade das reações
químicas.
A quantidade de água da chuva que está disponível nos perfis de alteração
assim como a temperatura pode acelerar ou retardar as reações de intemperismo.
As reações do intemperismo serão mais completas quanto maior for à
disponibilidade de água e mais freqüente for sua renovação.
Segundo Teixeira et al.,( 2000),
A temperatura, ao mesmo tempo em que acelera as reações químicas
aumenta a evaporação, diminuindo a quantidade de água disponível para a
lixiviação18 dos produtos solúveis, por exemplo, quando a um aumento na
temperatura de cada 10ºC, as reações químicas aumentam sua velocidade
de duas a três vezes.
Nos trópicos o intemperismo ocorre de forma pronunciada, pois ao mesmo
tempo afeta todos os minerais alteráveis que, devido ao desaparecimento dos
mesmos, dão lugar a produtos neoformados. Geralmente os minerais primários
estão ausentes, com exceção do quartzo e da muscovita que são mais resistentes à
ação do intemperismo.
Em regiões que apresentam climas mais frios, ocorre a alteração apenas
dos minerais menos resistentes. Esta alteração se torna diferenciada no tempo,
tendo como resultado níveis alterados que apresentam certa quantidade de minerais
primários não decompostos. Segundo Teixeira et al., 2000.
Um exemplo clássico da ação do clima na velocidade do intemperismo
químico é dado pelo caso de um obelisco egípcio com idade de mais de
3.000 anos e que se encontrava ainda bem preservado em seu local de
origem; quando foi retirado e exposto em região mais úmida (Nova Iorque,
EUA), sofreu tamanha alteração que, após pouco tempo, as inscrições
originais já não eram mais legíveis.
A topografia está intimamente relacionada a regular a velocidade do
escoamento superficial das águas pluviais, que ocorre quando a capacidade de
infiltração de água no solo é excedida. Sua velocidade é diminuída de acordo com a
18
Processo que sofrem as rochas e solos, ao serem lavados pelas águas das chuvas (GUERRA,
2003).
31
forma do terreno, a cobertura vegetal, entre outros, controlando assim, a quantidade
de água que irá se infiltrar nos perfis, de cuja influência depende da eliminação dos
componentes solúveis.
Em áreas do relevo que permitem boa infiltração de águas pluviais,
percolação por tempo suficiente para a consumação das reações e drenagem para a
lixiviação dos produtos solúveis, este conjunto de processos irá ser favorável para
que as reações do intemperismo ocorram mais intensamente.
De acordo com Teixeira et al., (2000) “o intemperismo químico tem como
agente principal a água da chuva, que tem sua qualidade influenciada pela ação da
biosfera”. No solo a matéria orgânica presente decompõe-se e libera CO2, portanto a
concentração de CO2 nos poros do solo pode chegar a ser até 100 vezes maior do
que na atmosfera, diminuindo assim o pH de infiltração das águas. Já o pH em torno
das raízes das plantas é ainda menor de 2 a 4, sendo mantido enquanto o
metabolismo da planta continua. Para o comportamento do alumínio esse processo
é importante, pois o mesmo, em meios normais é muito pouco solúvel, tornando-se
bastante solúvel em pH abaixo de 4. Segundo Teixeira et al., (2000).
A biosfera também participa mais diretamente no processo intempérico,
através da formação de moléculas orgânicas que são capazes de
complexar cátions de minerais, colocando-se em solução. “Os ácidos
orgânicos produzidos pelos microorganismos são capazes de extrair até mil
vezes mais ferro e alumínio dos silicatos que as águas da chuva.
Superfícies rochosas colonizadas por liquens, que secretam ácido oxálico e
ácido fenólico, são atacadas pelo intemperismo químico muito mais
rapidamente que superfícies rochosas nuas, diretamente expostas aos
outros agentes do intemperismo.
O tempo de exposição de uma rocha aos agentes intempéricos dependerá de
alguns fatores que controlam o intemperismo como a susceptibilidade dos minerais e
do clima. A rocha necessitará de um tempo maior de exposição quando as
condições
do
intemperismo
forem
pouco
agressivas,
para
que
haja
o
desenvolvimento de um perfil de alteração.
2.2
Erosão
Erosão é um fenômeno natural que se refere ao desgaste e afeiçoamento
dos materiais constituintes da superfície terrestre, por meio de processos físicos,
químicos e biológicos.
32
A erosão, o transporte e a deposição são processos que não podem ser
separados e que atuam continuamente na natureza, conduzindo à eliminação de
todas as irregularidades do terreno. Segundo Suguio (2003).
A erosão, o transporte e a deposição são processos fundamentais na
geologia física, pois sem a atuação desses mecanismos o intemperismo
cessaria o relevo não se modificaria e a deposição nas margens
continentais se interromperia. As taxas (ou razões) dessas transformações
são muito baixas, em relação ao lapso de tempo envolvido na vida humana,
mas produzem efeitos significativos em escala geológica de tempo.
O solo é formado por materiais alterados que se encontram na superfície ou
subsuperfície do terreno e que estão sujeitos a ação de agentes geológicos,
constituindo assim a estrutura das vertentes19.
Quando ocorre erosão na superfície, o perfil do solo 20 é mantido, devido à
atividade de alteração das rochas por meio do intemperismo.
Segundo Bigarella (2003),
Em condições de climas mais severos, a erosão pode ocorrer à medida que
os processos de intemperismo desagregam ou decompõem as rochas,
mantendo-se a superfície do terreno praticamente desprovida de solos, nela
aflorando a rocha.
De acordo com Fairbridge (1968, apud Bigarella, 2003),
A ação dos agentes de erosão em condições de aridez ou semi-aridez é
bastante efetiva sobre vastas extensões do globo devido às secas
prolongadas, à perda de vegetação, à breve e violenta atividade das águas
correntes originadas de precipitações de tipo monzonal e das ocasionais
tempestades de verão, entre as latitudes de 5º e 25º, e pelo deslocamento
em direção ao equador do cinturão de vento de oeste (30º- 40º).
A erosão ocorre por intermédio de um conjunto de agentes como, por
exemplo, águas pluviais, fluviais e marinhas, ventos, geleiras entre outros. De
acordo com cada agente erosivo tem-se um determinado tipo de erosão. Na
presente pesquisa são tratados apenas os tipos de erosão predominantes.
Os agentes que atuam na erosão agem também no transporte e na
deposição, dentre os quais a força da gravidade é de fundamental importância
nesses dois últimos processos.
19
Planos de declive variados que divergem das cristas ou dos interflúvios, enquadrando o vale. Nas
zonas de planícies, muitas vezes as vertentes são mal esboçadas e o rio divaga amplamente. Nas
zonas montanhosas, as vertentes podem ser abruptas e formam garganta. Aí as vertentes estão mais
próximas do leito do rio, enquanto nas planícies estão mais afastadas (GUERRA, 2003).
20
Sucessão de zonas ou horizontes, começando na superfície do terreno, que foi originada por
processos pedogenéticos normais, onde lixiviação, oxidação e acreção de partículas foram
importantes (SUGUIO, 1998).
33
Erosão pluvial – realiza-se por meio da ação das águas pluviais, através das forças
de impacto das gotas da chuva que, ao entrarem em contato direto com o solo
provocam o desprendimento das partículas que o compõem, podendo também
contribuir na compactação de sua superfície, formando uma crosta pouco profunda
facilitando, assim o escoamento superficial, já que esta crosta ocasiona a selagem
dos poros impedindo de certa forma a infiltração da água da chuva. Pelo lençol de
escoamento superficial que ocorre quando o solo excede sua capacidade de
infiltração de água durante um evento chuvoso, o fluxo de água passa a escoar
sobre o solo, enfrentando vários obstáculos como, por exemplo, a cobertura vegetal
que pode ser apontada como um dos fatores controladores do escoamento
superficial. Em uma área com espessa cobertura vegetal, a velocidade do fluxo de
água é reduzida, pois o solo apresenta obstáculos. A erosão pluvial pode ocorrer
também por meio do escoamento subsuperficial que age quando a água toma
preferência por dutos e canais na subsuperfície, afetando a erodibilidade 21 dos
solos, por meio do transporte de minerais em solução, em contraposição controla o
intemperismo. O escoamento subsuperficial provoca o colapso da superfície situada
acima, processo pelo qual dá origem às voçorocas22.
Erosão fluvial - é ocasionada pelas águas dos rios. Quanto maior seu volume maior
será sua capacidade de erosão, sendo controlada pela litologia 23 e estrutura das
rochas, bem como pelo clima. Sabe-se que as rochas apresentam susceptibilidades
diferentes frente aos processos químicos, diferenças de dureza, permoporosidade
entre outros. No tocante à estrutura pode-se observar falhas e dobras ocasionadas
pelos movimentos tectônicos no interior da terra, foliações24, ausência ou presença
de estratificações25 etc., que interferem diretamente na erosão fluvial.
21
É a susceptibilidade que os solos têm de ser erodidos. As propriedades dos solos influenciam na
maior ou menor erodibilidade, facilitando ou dificultando a ação da energia cinética das águas das
chuvas e do escoamento superficial (GUERRA, 2003).
22
Escavação ou rasgão do solo ou de rocha decomposta, ocasionado pela erosão do lençol de
escoamento superficial. As voçorocas podem também ser formadas pelo escoamento subsuperficial
(GUERRA, 2003).
23
Estudo científico da origem das rochas e suas transformações (GUERRA, 2003).
24
Constitui um tipo de arranjo dos minerais, ao longo de planos, como resultado da orientação
paralela desses minerais (GUERRA, 2003).
25
Disposição paralela ou subparalela que tomam as camadas ao se acumularem formando uma
rocha. A estratificação pode ser definida como a maneira particular de se depositarem as rochas
sedimentares (GUERRA, 2003).
34
O clima influencia na quantidade de chuvas. Em determinadas regiões chove
mais que em outras, devido ao clima úmido ou seco, apresentando respectivamente
rios perenes, intermitentes ou efêmeros , modificando a descarga fluvial.
Erosão eólica - é causada pelo vento que, de acordo com Suguio (2003) “atua
principalmente em regiões de climas secos (desertos), ou mais raramente em zonas
litorâneas”. Segundo Suguio (2003),
O fenômeno da deflação eólica, que consiste na remoção de material
particulado fino pela ação do vento, é especialmente intenso em regiões
áridas e semi-áridas. A areia transportada pelo vento acha-se mais
concentrada junto à superfície do terreno e, portanto, deve atuar com
intensidades decrescentes de baixo para cima, originando formas bizarras
de erosão, que lembram o cogumelo, a taça, etc. Os depósitos residuais
(lag deposits) da deflação eólica também sofrem a ação do vento com areia,
originando-se os ventifactos, que são fragmentos de minerais ou rochas
facetados e com superfícies foscas.
Erosão diferencial ou seletiva - relacionada às diferenças litológicas e/ou
estruturais das rochas. Ela torna-se mais ativa em rochas frágeis, tornando-se um
processo seletivo. Prevalece em rochas mais fracas do que em rochas mais
resistentes de acordo com as diferenças de dureza da rocha.
Erosão laminar - ocasionada pela água corrente, pela enchente laminar. Este
fenômeno age mais comumente em regiões de clima árido com presença de chuvas
torrenciais, gerando o desenvolvimento de pedimentos. Segundo Suguio (2003) “a
erosão laminar é favorecida por diversas condições como as drenagens rápidas de
grande volume de águas pluviais, carregadas de partículas sólidas, relacionadas a
chuvas torrenciais e esporádicas”.
Erosão lateral - o rio apresenta três fases: a juventude, a maturidade e a senilidade,
sendo que a erosão lateral ocorre quando o rio esta em estado de maturidade fase,
na qual ele vai alargar o seu leito.
Erosão vertical - acontece quando o rio está na fase de juventude, o qual vai
provocar o aprofundamento do seu leito.
Erosão remontante - de acordo com Suguio (2003) a erosão remontante é o
“processo de erosão que atua nas cabeceiras de um vale fluvial, conduzindo ao
aumento da extensão em parte por intemperismo e gravidade, atuando em conjunto
com os processos fluviais”.
35
2.3
Transporte
Ao sofrerem a atuação do intemperismo, as rochas liberam partículas
minerais que passam a fazer parte do manto de intemperismo. As partículas ficam
soltas sofrendo, em seguida, o transporte.
Existem diversos agentes exógenos que atuam no transporte e que ao
mesmo tempo, agem na erosão, havendo assim vários tipos de transporte de acordo
com os agentes envolvidos. Enfatiza-se os que apresentam relevância a esta
pesquisa.
Águas pluviais e fluviais - os sedimentos são transportados pela água das chuvas
e dos rios. Os sedimentos grandes e pesados como as areias e cascalhos são
transportados por arrastamento, rolamento ou saltação constituindo a carga de
fundo26. As partículas argilosas e sílticas são leves o que permite o transporte como
carga de suspensão27.
Durante o transporte as partículas, ao permanecerem juntas, podem sofrer
uma eventual colisão, causando sua fragmentação.
Ventos - ocasionam o deslocamento de sedimentos em suspensão, por saltação ou
arrastamento superficial. Esse deslocamento pode ocorrer tanto a favor como contra
ao declive do terreno. Os sedimentos transportados variam de granulação como
areia fina (0, 125 – 0, 250 mm) a muito fina (0,062 – 0,125).
Movimentos de massa - é um tipo de transporte que atua com interferência direta
de agentes como a gravidade, água e ar, entre outros, onde sedimentos e rochas
são deslocados vertente abaixo.
De acordo com Leopold et al., (1964, apud Bigarella, 2003), “as áreas
sujeitas a movimentos de massa possuem as seguintes características ou atributos”:
a) intemperismo profundo das rochas;
b) na ausência de uma alteração profunda, a presença de estruturas sedimentares
favoráveis e de litologia variada;
26
É aquela carga transportada no fundo dos canais fluviais. É constituída, geralmente de areias,
cascalhos, seixos e blocos. Esses materiais mais grosseiros muitas vezes ficam depositados no leito
do rio por um longo período, sendo remobilizados durante as cheias. A carga de fundo pode contribuir
para o aumento da erosão do leito fluvial, por meio do atrito dos materiais grosseiros com o fundo do
rio (GUERRA, 2003).
27
São os sedimentos levados pelos canais fluviais, misturados às águas dos rios e transportados em
suspensão. A textura predominante desse tipo de carga é de siltes e argilas, pois possuem um
diâmetro menor que as areias e, dessa forma, as águas dos rios têm energia suficiente para
transportá-los, sem deixar entrar em contato com o fundo do rio (GUERRA, 2003).
36
c) a presença de argilas expansivas;
d) teor elevado de umidade;
e) possibilidade de ação criogênica perene, sazonal ou de tempo menor;
f) ocorrência de terremotos;
g) vertentes perturbadas pela ação de ondas ou de rios.
Os movimentos de massa são condicionados por diversos fatores como a
declividade da encosta, regime de chuvas, perda de vegetação, existência de
espessos mantos de intemperismo entre outros, muitos desses fatores influenciam
também na erosão.
2.4
Deposição
Para Suguio (2003),
A deposição corresponde à fase de sedimentação e/ou acumulação de
partículas essencialmente minerais, em meios subaquoso ou subaéreo
móveis, sob condições físicas e químicas normais, isto é, muito parecidas
com as existentes na superfície terrestre (temperaturas superficiais e
pressões atmosféricas).
A deposição ou processo de sedimentação inicia quando os agentes de
transporte perdem a força, tendendo a acumular o material nos sopés das vertentes.
Observa-se que a deposição pode ser considerada como o último processo
ou etapa final de um conjunto de processos que se inícia com o intemperismo. Pela
desagregação das rochas forma-se o manto de intemperismo, seguido pela erosão
que também pode ocorrer ao mesmo tempo ou até antes do intemperismo de acordo
com as condições do ambiente. Em seguida se dá o processo de transporte deste
material por meio, de diversos agentes exógenos. Por último acontece à deposição
do sedimento que pode ter como origem rochas preexistentes ou formadas in situ.
2.5
Metodologia
Buscando identificar e analisar os agentes intempéricos atuantes nos sítios
rupestres inseridos na área arqueológica do Parque Nacional Serra da Capivara –
PI, utilizou-se um conjunto de procedimentos metodológicos que abarcam desde a
revisão bibliográfica até a interpretação dos dados obtidos na pesquisa (Fig. 5).
37
Pesquisa Bibliográfica
Levantamento Imagético
Levantamento Cartográfico
Pesquisa in situ
Contexto Ambiental e Arqueológico
do Parque Nacional Serra da
Capivara
Contexto dos Sítios
Localização
Abrigo
Localização
Geologia/Geomorfologia
Mancha Gráfica
Localização:
Rocha/Conglomerado
Inserção Topográfica
Tamanho
Recursos Hidrícos/Clima
Dimensões/Abertura/
Orientação
Agentes Atuantes
Rocha Suporte
Vegetação/Fauna/Solos
Intemperismo
Forma do Abrigo
Registros Rupestres
Vegetação
Físico/Químico/
Biológico
Elaboração/Preenchimento de protocolo investigativo e fotográfico
Elaboração de Mapa
Figura 5 – Fluxograma dos procedimentos de análise.
A pesquisa dividiu-se em estudo de gabinete e campo:
Em gabinete realizou-se a pesquisa bibliográfica a fim de reunir dados sobre
o contexto ambiental e arqueológico do Parque Nacional Serra da Capivara, dos
quatros sítios escolhidos para esta pesquisa, sobre intemperismo físico, químico e
biológico, processos de erosão, transporte e deposição, a fim de auxiliar na análise
dos agentes intempéricos atuantes nos sítios rupestres.
Para a escolha dos sítios realizou-se um levantamento imagético no banco
de dados do site da FUMDHAM, com o objetivo de observar o estado das pinturas
rupestres, pesquisa nas fichas de sítio nos arquivos da FUMDHAM e levantamento
cartográfico, visando ter um conhecimento prévio sobre a área de pesquisa antes de
se ir a campo.
Construiu-se uma metodologia de levantamento e análise dos agentes
intempéricos, baseada em um elenco de critérios selecionados para entender os
sítios rupestres e seu entorno. Foram elaborados dois protocolos um de
levantamento de sítio e outro fotográfico.
Os critérios utilizados foram selecionados a fim de contemplar informações
gerais e específicas de interesse para a pesquisa.
38
As informações gerais sobre o sítios contemplam: tipo de sítio, rocha
suporte, seleção do grão, anomalias na rocha, cor da rocha, dimensões do sítio,
abertura, orientação, unidade de relevo, posição na vertente, bacia hidrográfica, tipo
de vegetação, tipo de intervenção anteriormente realizada no sítio, tipo de material
encontrado, datação, material datado, tipo de registro rupestre, filiação cultural,
localização dos registros rupestres, dimensões da superfície pictural e cores
predominantes.
Em específico abordou-se as seguintes informações: exposição do sítio ao
sol, vento, chuva, intemperismo físico, químico e biológico de origem animal e
vegetal, erosão e o tipo de intervenção realizada pela equipe de conservação da
FUMDHAM.
Estes critérios foram organizados em um protocolo de levantamento de sítio,
que por sua vez foi aplicado em campo. Com as informações obtidas por
preenchimento dos protocolos, realizou-se a análise individual de cada sítio e a
elaboração de um mapa, constando a localização de todos os sítios arqueológicos
pesquisados.
Em campo realizou-se o reconhecimento dos sítios selecionados, sendo que
as observações in situ levaram em consideração a região em que estão inseridos e
os próprios sítios. Utilizou-se informações de macro (a região do Parque Nacional
Serra da Capivara), meso (entorno dos sítios) e micro escala (o próprio sítio), bem
como a identificação dos agentes destrutivos, preenchimento dos protocolos,
levantamento fotográfico e descrição das evidências.
39
3
DESCRIÇÃO DOS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS E ANÁLISE DOS AGENTES
INTEMPÉRICOS ATUANTES
Este capítulo tem como objetivo apresentar os dados obtidos por meio de
pesquisas realizadas in situ. Foram selecionados quatro abrigos sob rocha arenítica
com representações de pinturas rupestres, dos quais respectivamente dois estão
localizados na Serra Branca e dois na Serra da Capivara, a saber: Toca do Povo da
Extrema II, Toca do Vento, Toca do Paraguaio, Toca da Entrada do Pajaú (Fig. 6).
Figura 6 - Mapa de localização dos sítios pesquisados, Parque Nacional Serra da
Capivara - PI.
O sítio Toca do Povo da Extrema II trata-se de um abrigo de difícil acesso.
Nele não foi realizado trabalho algum de sondagem ou escavação. No sítio Toca da
40
Entrada do Pajaú foi realizada uma sondagem pela equipe da Fundação Museu do
Homem Americano (FUMDHAM), obtendo-se uma datação de 6.990 anos. É um dos
abrigos que se encontra mais degradado. Nele foi realizado um trabalho de pesquisa
por uma equipe composta por especialistas em conservação, arquiteto, entomólogo,
botânico, geólogo e microbiologista para tentar reduzir os impactos da atuação dos
agentes de destruição. O sítio Toca do Paraguaio apresenta representações de
pinturas rupestres tanto na rocha arenítica como nos conglomerados. O sítio Toca
do Vento possui pinturas e gravuras. Estes dois últimos apresentam trabalhos de
escavação.
3.1
Sítio Toca do Povo da Extrema II
O sítio Toca do Povo da Extrema II é um abrigo sob rocha arenítica com
finas camadas de siltito28. Foi descoberto em 1973. Localiza-se na Serra Branca nas
coordenadas UTM 23L 752261 UTM N 9046594 em uma altitude de 407 m, na baixa
vertente. Possui orientação E-W, abertura N e uma área de 28 m² (Fig. 7).
Figura 7 - Vista parcial do sítio Toca do Povo da Extrema II.
As pinturas rupestres pertencem à Tradição Nordeste e Subtradição Várzea
Grande, representadas nas cores vermelho escuro e médio, ocupando uma
superfície pictural de 9 m².
28
Rocha clástica de granulação muito fina, composta predominantemente por partículas de dimensão do silte
(1/16 a 1/256 mm de diâmetro) (SUGUIO, 1998).
41
A parede rochosa do abrigo é constituída por grãos muito bem selecionados
apresentando uma forma tabular com nítida estratificação cruzada 29, predominando
as cores avermelhada e cinza escuro.
A superfície do solo apresenta blocos rochosos de variados tamanhos que
provavelmente devem ter se desprendido da parede rochosa.
A vegetação do entorno é do tipo caatinga arbórea arbustiva, predominando
o tipo arbóreo. Próximo ao paredão rochoso em uma pequena área, a vegetação é
rasteira, por causa da presença de umidade retida por uma grande árvore localizada
numa área mais côncava próximo à rocha. Das espécies presentes podem ser
citadas a pitomba, o pau d’ arco e a aroeira.
No sítio Toca do Povo da Extrema II ocorrem os processos de deposição de
partículas
minerais
formadas
pela
atuação
do
intemperismo,
erosão
e
conseqüentemente o transporte.
3.1.1 Intemperismo Físico
O sítio, como todos os outros, por estar exposto ao vento, sol e chuva, sofre
processos de degradação natural, através da ação de agentes intempéricos que em
conjunto com as condições naturais como a oscilação climática, ou seja, a variação
da temperatura entre o dia e a noite provoca rachaduras na rocha, fazendo com que
as águas pluviais tomem preferência pelas mesmas, ocasionando o alargamento
dessas rachaduras e, com o passar dos anos, leva ao desprendimento de partes da
rocha, atingindo as pinturas rupestres.
Neste abrigo não se identificou desplacamento diretamente nas pinturas. As
mesmas estão correndo grande risco, pois há várias rachaduras próximas a mancha
gráfica, o que, em alguns anos poderá provocar a queda de parte da parede rochosa
que contém as pinturas (Fig. 8).
29
Arranjo espacial de camadas, de espessuras centimétricas a decimétricas, oblíquo ou plano principal de
estratificação, formado durante o transporte subaquoso (marinho ou fluvial) ou eólico de sedimentos clásticos,
mais comumente encontrado em arenitos (SUGUIO, 1998).
42
Rachadura
Mancha gráfica
Figura 8 – Rachadura próximo à mancha gráfica.
Outro fator relevante é a cristalização de sais comum nos sítios rupestres
localizados na área de estudo, que é dominada pelo clima semiárido, com baixas
precipitações favorecendo a acumulação de sais por cima das pinturas e gerando
tensões térmicas na rocha por meio do aumento de volume, devido à cristalização
de minerais acelerando sua deteriorização.
3.1.2 Intemperismo Químico
Identificou-se manchas de coloração preta a poucos centímetros das
pinturas. Possivelmente sua origem deve-se à umidade presente na parte do solo
próximo à rocha, devido à presença de uma grande árvore encostada na parede
rochosa. Suas raízes espalham-se para dentro da concavidade existente entre a
rocha e o solo (Fig. 9).
43
Mancha gráfica
Oxidação
Figura 9 – Mancha ocasionada pelo processo de oxidação atingindo diretamente as
pinturas rupestres.
3.1.3 Intemperismo Biológico
Este sítio nitidamente sofre com a atuação de agentes biológicos de origem
vegetal. Numa área mais côncava entre o paredão rochoso há uma grande árvore.
Algumas de suas raízes estão expostas na superfície ramificando-se externamente
sobre a rocha, mais especificamente entre a superfície do solo e o paredão rochoso
provocando assim, pressão na rocha por causa da expansão de suas raízes,
causando o alargamento e o surgimento de fraturas a poucos centímetros da
mancha gráfica (Fig. 10).
Expansão das raízes
Figura 10 – Expansão das raízes entre a superfície do solo e a rocha.
44
Segundo Brunet et al., (1986, apud Lage et al., 2007),
Os depósitos vegetais são os que mais aceleram o processo de degradação
do suporte rochoso, pois agem em três vias diferentes: química (produção
de ácidos húmicos), mecânica (favorece o desplacamento) e microbiológica
(forma um microclima favorável a proliferação de microorganismos).
Quanto aos agentes biológicos de origem animal, detectou-se casas de exu,
galerias de maria-pobre e cupins. Os mesmos não estão sobre as pinturas.
Apresentam maior concentração na parte côncava da rocha, próximo ao solo.
Devido à umidade presente nesta área, tornam-se um local ideal para a reprodução
de cupins e vespas, porque ficam menos expostos à insolação. As fezes de mocó
(Kerodon rupestris), localizadas no paredão rochoso, interferem também na estética
do sítio.
3.2
Sítio Toca do Vento
O sítio Toca do Vento descoberto em 1973, localiza-se na Serra Branca nas
coordenadas UTM 23L 7502669 e UTM N 90417988, em uma altitude de 413 m, na
baixa vertente. Possui orientação SE-NW, abertura S-W e uma área de 65 m de
largura e 11,30 de comprimento (Fig. 11).
Figura 11 – Vista parcial do sítio Toca do Vento.
É um abrigo sob rocha arenítica, de forma tabular, de coloração bege,
avermelhada e acinzentada, onde se observa finas intercalações de siltito e
45
acamamento 30 das camadas. A parede rochosa do abrigo é constituída por grãos
muito bem selecionados.
Apresenta pinturas nas cores vermelho médio, escuro e claro das Tradições
Nordeste e Agreste, Estilo Serra Branca e gravuras realizadas nas paredes do
abrigo e nos blocos localizados no solo.
Foi escavado em 1978 sendo coletadas 139 peças líticas de quartzito,
quartzo entre outros, material cerâmico, carvão de fogueira e mancha de ocre. A
datação foi realizada a partir do carvão evidenciado em uma fogueira, datado em
8500±60 anos BP (BETA 200147).
A vegetação presente no entorno é do tipo caatinga arbórea arbustiva.
Dentre as espécies vegetais destacam-se o angico de bezerro, a jurema, a unha de
gato, o feijão de boi, entre outras, bem como vegetação rasteira.
Próximo ao sítio há uma drenagem intermitente, pela qual passa muita água
no período chuvoso, pelo fato do solo ser arenoso. Com o passar do tempo a
mesma pode tornar-se uma grande voçoroca.
3.2.1
Intemperismo Físico
O intemperismo físico está agindo por meio de eflorescências salinas, que
estão mascarando a pigmentação original das pinturas rupestres e através de
rachaduras em diversas áreas da parede do abrigo.
Observou-se fragmentos de rocha no solo, cuja queda ocorreu pelo
desplacamento do paredão rochoso. As pinturas encontram-se bastante degradadas
pelo desplacamento e escamação, fazendo com que algumas se tornem menos
visíveis e outras desapareçam quase por completo, como é o caso de uma
quantidade significativa de pinturas deste sítio (Fig. 12).
30
Propriedade presente na maioria das rochas sedimentares, caracterizada por planos mais ou menos
definidos de separação interna determinados, em geral, por diferenças de mineralogia, forma ou tamanho das
partículas componentes (SUGUIO, 1998).
46
Figura 12 - Fragmentos de rocha em conseqüência do desplacamento do paredão.
3.2.2 Intemperismo Químico
Percebeu-se que o intemperismo químico, por meio da oxidação, atinge tanto
o suporte rochoso como as próprias pinturas rupestres, formando novos pigmentos
sobre as mesmas influenciando diretamente na destruição deste patrimônio(Fig. 13).
Processo de oxidação
Figura 13 – Mancha ocasionada pelo processo de oxidação comprometendo a
estética do sítio.
47
3.2.3 Intemperismo Biológico
Os agentes biológicos atuantes são tanto de origem vegetal como plantas da
família das cactáceas situadas na parte superior da rocha que, diante das
observações provavelmente não desempenham significativa contribuição para a
danificação das pinturas, porque a distância entre elas é grande. No final da parede
há uma quantidade considerável de musgos espalhados na rocha, estando estes
bem próximos da mancha gráfica, se comparados com os cactos.
Quanto aos agentes de origem animal identificou-se galerias de cupins e
vespas, abelhas e exus. Está ocorrendo um intenso processo de degradação em
grande parte do abrigo principalmente próximo a área escavada atingindo, tanto a
rocha como as pinturas, provocada por uma espécie de inseto que está atuando de
forma a provocar pequenos buracos e marcas como um tipo de caminhos, os quais
estão sendo habitados por exus, cupins e vespas, além de servirem de depósito
para fezes de roedores (Fig. 14).
Buracos
Desplacamento
Figura 14 - Buracos ocasionados por insetos servindo de abrigo para cupins e vespas, bem
como desplacamento atingindo diretamente as pinturas rupestres.
48
3.3
Sítio Toca da Entrada do Pajaú
O sítio Toca da Entrada do Pajaú, também denominado de Pau d’arco,
descoberto em 1970, é um abrigo sob rocha arenítica que apresenta camadas de
seixo. Situa-se na Serra da Capivara, nas coordenadas UTM 23L 777138 UTM N
9029452 em uma altitude de 507 m, na alta vertente. Possui orientação E-W,
abertura N e uma área de 243,1 m².
O abrigo apresenta pinturas na cor vermelho médio da Tradição Nordeste,
Estilo Serra da Capivara, ocupando uma superfície pictural de 21,45 m².
Em 1978 foi realizada uma sondagem, obtendo-se uma datação a partir de
carvões de uma estrutura de fogueira pelo método C14. A datação é de 6.990 ± 70
anos BP.
A parede rochosa do abrigo é composta por grãos moderadamente
selecionados.
Apresenta
coloração
branca
acinzentada,
avermelhada
com
acamamento nas camadas, cuja forma é tabular (Fig. 15).
Figura 15 - Vista parcial do sítio Toca da Entrada do Pajaú.
A vegetação do entorno é do tipo caatinga arbórea arbustiva, dentre as
espécies destacam-se o angico de bezerro, o pau d’arco, o marmeleiro, a jurema, o
bilro e a maria-mole.
O abrigo encontra-se em acelerado grau de degradação, tanto por causa do
intemperismo, como pela ação da erosão eólica e pluvial, pelo fato de se tratar de
49
uma rocha arenítica friável e por estar em alta vertente, o que influencia diretamente
na atuação da erosão e transporte.
Foram realizados trabalhos pela equipe de conservação da FUMDHAM para
diminuir os impactos dos processos de erosão. Uma das medidas foi colocar uma
lona preta sobre o solo do abrigo, cobrindo-o com seixos no intuito de reduzir o
impacto das partículas do solo, que pela ação do vento batem diretamente na
parede rochosa, levando a desagregação da mesma, além disso, foram colocadas
sobre esta lona caixas de madeiras a fim de medir a quantidade de pó que se
desagrega da rocha.
3.3.1 Intemperismo Físico
Observou-se a atuação do intemperismo físico por meio do desplacamento da
rocha, que está afetando diretamente as pinturas. Alguns painéis encontram-se
parcialmente imperceptíveis. Existem muitas rachaduras que começam no topo do
teto do abrigo e seguem até a base da rocha, provavelmente formadas por antigas
raízes vegetais que, com o passar do tempo, irão ocasionar a desagregação de
parte do paredão rochoso (Fig. 16.
Desplacamento
Figura 16 – Desplacamento atingindo a mancha gráfica.
50
3.3.2 Intemperismo Químico
Na parede do abrigo percebeu-se algumas manchas originadas pelo
escorrimento da água pluvial, que toma preferência por algumas áreas da rocha e
em muitos desses trechos à presença de pinturas rupestres que se encontram com
uma coloração diferente, devido à água da chuva, além de algumas manchas
escuras presentes na rocha que possivelmente devem ser produzidas pelo processo
de oxidação (Fig. 17).
Mancha ocasionada por água pluvial
Cicatriz de desplacamento
Figura 17 – Mancha ocasionada pela percolação da água pluvial, bem como desplacamento
atingindo a pintura rupestre.
3.3.3 Intemperismo Biológico
O intemperismo biológico esta atuando através de galerias de cupins tanto
próximas as pinturas, como pelo lado de fora do paredão também a casas de exu.
Verificou-se algumas manchas na rocha propiciadas pela equipe de conservação
que colocou fogo nas galerias de exu que estavam afetando o sítio.
A presença de abelhas, fezes de roedores e de garranchos secos no solo do
abrigo indicando a presença de pássaros. No solo avistou-se pegadas de animais,
merecendo ser ressaltando que próximo ao sítio existe um pequeno reservatório de
água (Fig. 18).
51
Mancha gráfica
Manchas ocasionadas por casas de exu
Figura 18 – Manchas próximas as pinturas rupestres ocasionadas por casas de exu.
3.4
Sítio Toca do Paraguaio
O sítio Toca do Paraguaio descoberto em 1970 é um abrigo sob rocha
formada por conglomerados e arenitos com intercalações de siltitos. Localiza-se na
Serra da Capivara nas coordenadas UTM 23L 776169 UTM N 9028058 em uma
altitude de 441m, na média vertente. Possui orientação N-S e abertura S e ocupa
uma área de 655.6 m².
A parede rochosa do abrigo apresenta grãos moderadamente selecionados,
pois é composto por conglomerados mal selecionados que varia de tamanho e
arenitos com intercalações de siltitos bem selecionados. Apresenta forma tabular
com nítido acamamento, predominando a cor bege avermelhada e acinzentada (Fig.
19).
52
Figura19 – Vista parcial do sítio Toca do Paraguaio.
É dividido em dois setores um alto e outro baixo, os dois apresentam
pinturas rupestres. Em 1978 foi realizada uma escavação, onde foram encontradas
no setor alto duas sepulturas denominadas de sepultura 1 datada em 7.000 ± 100
anos BP e sepultura 2 datada em 8.670 ± 120 anos BP, junto aos esqueletos foram
encontrados peças líticas.
É um abrigo sob rocha formado por conglomerados e arenitos com
intercalações de siltitos, estando às pinturas rupestres localizadas tanto no paredão
de arenito como nos conglomerados, as mesmas variam de vermelho médio, claro e
escuro, pertencentes à Tradição Nordeste e Agreste representando uma superfície
pictural de 213,4 m².
A vegetação do entorno é do tipo caatinga arbórea arbustiva. Pode-se
destacar algumas espécies como o angico de bezerro, o pau d’arco, o rompe gibão,
o oitizeiro e algumas vegetações rasteiras, entre outras.
O sítio Toca do Paraguaio situa-se em média vertente diferentemente do
sítio Toca da Entrada do Pajaú. A atuação da erosão é pouco perceptível, porque o
entorno do mesmo é formado por vegetação arbórea de grande porte, diminuindo o
impacto do vento sobre a rocha e até mesmo pelo fato de a superfície ser
praticamente desprovida de solo, nela aflorando a rocha.
53
3.4.1 Intemperismo Físico
Dentre as formas de intemperismo físico – crescimento de cristais em poros
e fraturas, cristalização de sais, oscilação climática e alívio de pressão, as mais
evidentes in situ são a oscilação climática que, por meio da variação de temperatura
entre o dia e a noite e ao intenso período de aquecimento da rocha, devido às
elevadas temperaturas muitas vezes exposta a uma chuva repentina, ocasionam
fraturas e cristalização de sais.
Os sais solúveis não são removidos pelas águas pluviais, já que a
precipitação pluviométrica é insuficiente para removê-los exercendo assim, forte
pressão provocando a desagregação da parede rochosa.
As fraturas originadas pela variação da temperatura e pela desagregação
comprometem a estabilidade do abrigo, originando desplacamentos na parede
rochosa comprometendo as pinturas rupestres (Fig. 20).
Mancha gráfica
Mancha gráfica
Cristalização de sais
Mancha gráfica
Figura 20 – Cristalização de sais cobrindo as pinturas rupestres.
3.4.2 Intemperismo Químico
O principal agente causador do intemperismo químico é a água pluvial que
infiltra e percola nas rochas. As águas pluviais podem atingir as pinturas rupestres
54
de duas maneiras: as destruindo e/ ou mascarando a pigmentação original por meio
de processos de lixiviação (Fig. 21).
Descoloração por água pluvial
Figura 21 – Descoloração da pintura rupestre ocasionada pela percolação da água pluvial.
Observou-se que muitas pinturas estão com a pigmentação original
mascarada, por causa da mancha de água que se forma pelo escorrimento das
águas pluviais, como pela presença de algumas manchas escuras provocadas pelo
processo de oxidação.
3.4.3 Intemperismo Biológico
O intemperismo biológico é ocasionado por agentes de origem vegetal
(bactérias, fungos, liquens, algas, musgos, raízes e plantas) e de origem animal
(insetos, roedores, morcegos, aves).
No paredão rochoso a presença de casas de maria-pobre, cupins e exus em
diversos setores, onde alguns estão próximos a mancha gráfica, ao mesmo tempo a
uma grande quantidade de fezes que pertencem a roedores como mocós, no
entanto algumas pinturas apresentam manchas escuras que devem ser provocadas
por fungos e bactérias das quais, não foram identificadas porque não realizou-se
análises em laboratório.
55
Casa de exu
Mancha gráfica
Figura 22– Casa de exu construída próxima as pinturas rupestres.
56
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os sítios escolhidos para esta pesquisa, bem como outros sítios
arqueológicos por estarem expostos na natureza, estão sujeitos a ação de agentes
intempéricos e erosivos, ocasionando perda irreparável deste patrimônio. É
necessária a realização de pesquisas que identifiquem estes agentes destrutivos,
para que uma equipe especializada possa tomar as medidas cabíveis no intuito de
reduzir a atuação dos mesmos.
Na área escolhida para a pesquisa percebeu-se que o intemperismo físico
ocorre por meio de rachaduras que levam ao desplacamento da rocha e
cristalização de sais ocasionados pelo tipo de clima semiárido, onde estão inseridos,
havendo oscilações climáticas entre o dia e a noite. Com relação ao intemperismo
químico observou-se que o principal agente destrutivo é a água pluvial que escorre
pelo paredão rochoso, muitas vezes atingindo as pinturas rupestres modificando ou
mascarando assim, sua pigmentação original, como pelo processo de oxidação
provocando manchas escuras.
O intemperismo biológico atua através de agentes de origem animal, como
galerias de insetos de cupins, maria-pobre, exu e abelhas, o mocó (Kerodon
rupestris) espécie endêmica das caatingas, o qual as fezes e urina entram em
estado de fermentação comprometendo a estética dos sítios. Os agentes de origem
natural, como as raízes de plantas que se ramificam pela rocha, provocando a
abertura de fendas pelas quais, as águas pluviais tomam preferência resultando no
desprendimento de partes da rocha.
Ao realizar a pesquisa de campo identificou-se que dos tipos de
intemperismo físico, químico e biológico, os agentes físicos e químicos exercem
maior influência no desgaste das pinturas rupestres e do próprio abrigo, mas devese levar em consideração que os agentes biológicos em conjunto com os agentes
físicos e químicos desempenham grande contribuição na decomposição das rochas
e que individualmente, também apresentam parcela de contribuição em menor
escala na destruição deste patrimônio cultural.
Ao analisar a atuação dos mesmos, identificou-se que os mais fáceis de
serem parcialmente solucionados são os de origem biológica, com a limpeza dos
sítios, mas o problema de maior relevância é o tipo de rocha arenítica, onde estes
57
painéis foram produzidos, porque se trata de um tipo de rocha muito friável que se
desagrega facilmente por meio da atuação de agentes naturais como a chuva, o
vento e a própria oscilação climática comum em regiões de clima semiárido (Fig. 23).
Figura 23: Distribuição topográfica dos sítios arqueológicos.
Todos os sítios independentes de sua localização topográfica estão sofrendo
intensa degradação pela atuação dos agentes intempéricos que agem, tanto no
paredão rochoso, como sobre as próprias pinturas rupestres. Os sítios que se
encontram em pior estado de conservação são a Toca da Entrada do Pajaú (alta
vertente) que, além do intemperismo sofre com a erosão eólica e a Toca do Vento
(baixa vertente) que esta passando por um intenso processo de destruição
ocasionada por insetos, apresentando manchas gráficas fragmentadas que
dificilmente poderão ser recuperadas apagando-se assim, aos poucos parte deste
importante patrimônio cultural da humanidade, cabendo aos visitantes usar a
imaginação para completar as representações destes painéis, que expressam cenas
de guerra, caça, sexo e dança.
Deve-se ressaltar que os sítios rupestres só não se encontram em estágio
mais avançado de degradação por se tratarem de um patrimônio legalmente
protegido, onde há atuação de uma equipe de conservação da FUMDHAM, que
realizam trabalhos de conservação através da limpeza das galerias de maria-pobre,
cupins, exu, abelhas, fezes de animais, instalação de pingadeiras sobre a rocha
fabricadas com materiais do próprio local responsáveis por desviar o curso da água,
de modo que não atinja as pinturas, bem como a consolidação de fragmentos da
58
parede rochosa que contém pinturas, trabalho este realizado com uma argamassa
preparada com cal e pó da própria rocha, retirada do solo do abrigo de maneira a
tornar perceptível ao visitante a atuação antrópica.
Ressalta-se que esta pesquisa não é e nem pode ser conclusiva, porque os
quatros sítios trabalhados representam apenas uma pequena porção, dentro de um
complexo número de sítios arqueológicos que possuem pinturas rupestres na área
do Parque Nacional Serra da Capivara.
59
REFERÊNCIAS
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ANEXOS
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ANEXO -1
PROTOCOLO DE LEVANTAMENTO DE SÍTIO ARQUEOLÓGICO – PARQUE NACIONAL SERRA DA
CAPIVARA – PI
LOCALIZAÇÃO
Nome do sítio: Toca da Entrada do Pajaú ou Pau D’ Arco
Código: 006
Município: Coronel José Dias
UF: PI
Data da descoberta: 1970
Proprietário do terreno: Parque Nacional Serra da Capivara
Endereço: Centro Cultural Sérgio Motta, Sn
Cidade: São Raimundo Nonato - PI
CEP: 64770-000
Data do levantamento: 19/10/2009
Pesquisador (a): Andréia O. Macedo
GPS: Garmin
UTM: ZONA: 23 L
E: 0777138
N: 9029452
Cota altimétrica: 507 m
DATUM: SAD 69
Observações:
INFORMAÇÕES DO SÍTIO
Categoria do sítio: ( x ) pré-histórico ( ) histórico
Tipo de sítio: ( x ) abrigo sob rocha
( ) céu aberto
Rocha suporte: Arenito
Seleção do grão: ( ) seleção pobre ( ) bem selecionado ( x ) moderadamente selecionado
( ) muito bem selecionado
Grau de arredondamento dos grãos: ( ) angular ( x ) sub-angular ( x ) arredondado
( ) sub-arredondado
Anomalias na rocha: ( x )acamamento ( ) estratificação cruzada ( ) outras:
Cor da rocha: Branca acinzentada, avermelhada
Dimensões do sítio: 243,1 m²
Abertura: N
Orientação: E - W
Unidade do relevo: ( ) planalto ( ) planície ( x ) serra ( ) vale
Morfologia do relevo: ( x ) escarpa
( ) encosta
Posição da vertente: ( x ) alta vertente ( ) média vertente
( ) baixa vertente
Bacia hidrográfica: Rio Parnaíba
Fonte de água mais próxima: 20 m
Tipo de vegetação: Caatinga arbórea arbustiva
Observações:
DADOS ARQUEOLÓGICOS
Tipo de intervenção no sítio: ( ) escavação
( x ) sondagem ( ) trincheira
Tipo de material encontrado: Carvões de fogueira e ferramentas líticas
Datação: 6.990 ± 70 anos BP
Material datado: Carvões de fogueira
Observações:
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REGISTROS RUPESTRES
Tipo de registro: ( x ) pintura
( ) gravura
Filiação cultural: Tradição: Nordeste
Sub-tradição: Várzea Grande
Estilo: Serra da Capivara
Localização dos registros rupestres: ( x ) rocha
( ) escamas
Dimensões da superfície pictural: 21,45 m²
Cores predominantes: Vermelho médio
Observações:
( ) seixos
PROBLEMAS DE CONSERVAÇÃO
Degradação: ( ) antrópica ( x ) natural
Exposição do sítio: ( x ) sol ( x ) chuva ( x ) vento
Intemperismo biológico:
Origem vegetal: ( x ) fungos ( ) liquens ( ) musgos ( x ) raízes de plantas
Origem animal: ( x ) cupim ( ) maria-pobre ( x ) abelha ( x ) exu ( x ) aves ( x )
roedores
Intemperismo físico-químico:
( x ) desplacamento ( ) escamação ( x ) rachaduras ( x ) desagregação ( ) cristalização
de sais
( x ) manchas d´água ( ) patina ( x ) insolação
Erosão:
( x ) eólica
( ) fluvial ( x ) pluvial
Tipo de intervenção – Equipe de conservação: ( x ) consolidação ( x ) limpeza ( x ) pingadeira
Observações:
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