16/09/2008 Aula 2 Macroeconomia I 1 – Introdução e Conceitos Gerais 1.1 1.2 1.3 1.4 O Objecto da Macroeconomia Macroeconomia vs Microeconomia A géneses da Macroeconomia Política Macroeconomia 2008/2009 Licenciatura em Gestão 1.1 Objecto da Macroeconomia 1 1.1 Objecto da Macroeconomia 1.1 Macroeconomia - definição Ramo da Teoria Económica que estuda o funcionamento como um todo, procurando identificar e medir as variáveis (agregadas ) que determinam o volume da produção total (crescimento económico ), o nível de emprego e o nível geral de preços (Inflação) do sistema económico, bem como a inserção do mesmo na economia mundial. Agregação de actividades semelhantes, levadas a cabo por diferentes agentes 2 1.1 Objecto da Macroenomia Agentes Actividades Consumidores (famílias) Consumo Empresas Investimento e Produção Estado Gastos (G), Impostos e transferências (T), etc Saldo Orçamental Exportações (X), Importações (Q), Transferências Saldo Balança Pagamentos Resto do Mundo Sectores institucionais Agentes privados 5 1.1 Objecto da Macroeconomia − Interessada na evolução global da economia Produto/rendimento PIB Emprego/Desemprego U Preços/inflação π P − Com um determinado horizonte temporal: curto prazo: conjuntura / ciclos económicos – flutuações (emprego/desemprego; inflação/deflação) longo prazo: estrutura / crescimento económico (nível de vida; países ricos vs. países pobres; desigualdades repartição rendimento e riqueza)* 3 1.1 O Objecto da Macroeconomia Grandes agregados Negligencia o comportamento das unidades económicas individuais Permite estabelecer relações entre os agregados e melhor compreensão das interacções entre estes. Ex.: entre os mercados de bens e serviços, de trabalho e de activos financeiros e não financeiros. OBS.: Não há conflito entre Macro e Microeconomia 1.2 Macroeconomia versus Microeconomia A Macroeconomia é um ramo recente da economia (1936, “The General Theory of Employment, Interest and Money”, John Maynard Keynes) que se dedica ao estudo do desempenho global da economia. A Macroeconomia estuda: o comportamento da economia como um todo, examinando as forças que afectam o conjunto das empresas, dos consumidores e dos trabalhadores ao mesmo tempo. a inflação, o desemprego, o crescimento económico … 4 1.2 Macroeconomia vs Microeconomia A Microeconomia é o ramo da Teoria Económica que estuda o funcionamento do mercado de um determinado produto ou grupo de produtos, ou seja, o comportamento dos compradores (consumidores) e vendedores (produtores) de tais bens. – Estuda o comportamento de consumidores e produtores e o mercado no qual interagem. Preocupa-se com a determinação dos preços e quantidades em mercados específicos. 1.2 Macroeconomia vs Microeconomia A Microeconomia é o ramo da economia que se dedica ao estudo do comportamento de entidades individuais. A Microeconomia estuda: o modo através do qual os agentes tomam as suas decisões e a forma como interagem nos mercados; os preços, as quantidades e os mercados individualmente. 5 1.3 A Géneses da Macroeconomia John Maynard Keynes e a grande depressão dos anos 1930 A teoria Macroeconómica teve início com John Maynard Keynes (1883-1946), um génio multifacetado reconhecido nos campos da matemática, da filosofia e da literatura. A sua grande contribuição foi exposta no seu livro Teoria Geral do Emprego, do Juro e do Dinheiro (1936) onde argumentou que as políticas governamentais - orçamental e monetária podem influenciar o produto e assim reduzir o desemprego e encurtar as recessões económicas. As suas teorias foram aplicadas com sucesso a seguir à grande depressão dos anos 1930 e ainda hoje influenciam economistas e políticos de todo o mundo. 1.3 A Génese da Macroeconomia A grande depressão dos anos 1930 Entre 1928 e 1929, nos EUA, perante subidas inesperadas das taxas de juro, as empresas decidiram reduzir o investimento e a produção. O aumento do desemprego levou as famílias a diminuir o consumo, e isto levou as empresas a reduzir ainda mais o investimento e a produção, gerando-se assim um ciclo vicioso de depressão económica. A 24 de Outubro de 1929, dia conhecido como a “quinta-feira negra”, as acções das empresas americanas perderam cerca de 10% do seu valor. A confiança dos agentes económicos ficou seriamente abalada, o que acentuou a depressão. Em 1933, a taxa de desemprego era de 25%, e o produto tinha caído cerca de 30% relativamente ao seu valor de 1929. 6 1.3 A Génese da Macroeconomia A grande depressão dos anos 1930 Perante esta situação de bloqueio na qual as empresas não empregavam trabalhadores porque não tinham clientes para os seus produtos, enquanto que as famílias não consumiam porque não tinham emprego, JM Keynes defendeu o aumento dos Gastos Públicos de forma a manetr os trabalhadores empregados Em 1936, Keynes publica “A Teoria Geral do Emprego, dos Juros e da Moeda”, obra fundadora da macroeconomia, que pretende explicar o comportamento do nível de produção e do desemprego, assim como a sua relação com os gastos públicos e impostos (política orçamental) e com a taxa de juro e quantidade de moeda em circulação (política monetária). 1.3 A Génese da Macroeconomia Grande Depressão (1929-33) → demonstrou as fragilidades da teoria económica de então para explicar a amplitude e persistência da recessão Problema Novo Solução Nova (e depressa...) (A macroeconomia é, na sua génese, “empiricista”) Teoria Keynesiana / Ciclos Económicos Progressos da Macroeconomia (anos 50, 60, ... hoje) Crescimento Económico Sofisticação de Teorias/modelos Técnicas de teste e previsão Instituições e procedimentos de política económica 7 1.4 Política Macroeconomia A génese da disciplina aponta para a intervenção pública •Falha de coordenação dos mercados intervencionismo •Falhas das autoridades (ex., contas públicas descontroladas…) livre funcionamento da economia A 1ª vertente tende a acentuar a política económica e a aperfeiçoá-la A 2ª tende a minimizá-la e a fixar como objectivo máximo a estabilização conjuntural 1.4 Política Macroeconomia Alguns dos objectivos da Política Macroeconómica são: (1) Crescimento rápido e estável; (2) Pleno emprego; (3) Inflação baixa e estável; (4) Distribuição equitativa do rendimento. Para isso são utilizados diversos instrumentos: (1) Política subsídios); orçamental (despesas públicas, impostos, (2) Política monetária (oferta de moeda e taxa de juro); (3) Política cambial (taxa de câmbio). 8 1.4 Política Macroeconomica Política orçamental: Despesa pública e impostos A política orçamental corresponde à despesa pública e aos impostos. A despesa pública compreende as compras do Estado (estradas, tanques, salários função pública, etc.) e as transferências do Estado que ampliam os rendimentos de determinados grupos (desempregados, idosos, etc.). Os impostos afectam a globalidade da economia de dois modos. Por um lado, influenciam o rendimento disponível das famílias, com impacto no consumo e na poupança privada. Por outro lado, os impostos afectam os preços dos bens e dos factores de produção e, por isso, influenciam os incentivos dos consumidores e das empresas. 1.4 Política Macroeconomica Política monetária A política monetária, conduzida pelo banco central, é efectuada através da gestão da moeda, do crédito e do sistema bancário. A oferta de moeda influencia várias variáveis financeiras e económicas, como taxas de juro, preço das acções, preço da habitação e taxas de câmbio. A restrição da oferta de moeda leva a taxas de juro mais elevadas e à redução do investimento e do consumo que, por seu turno, causam uma redução do PIB e uma menor inflação. A expansão da oferta de moeda conduz a taxas de juro mais baixas o que permite estimular o crescimento do produto. 9 1.4 Política Macroeconómica Política comercial / Finanças internacionais A política comercial consiste em impostos alfandegários, quotas e outras condições que restringem ou incentivam as importações e as exportações A gestão das finanças internacionais é o outro conjunto de políticas dentro da economia internacional. O comércio internacional de um país é influenciado pela sua taxa de câmbio, que representa o preço da sua moeda em termos das moedas de outros países. Em pequenas economias abertas, a gestão da taxa de câmbio é isoladamente o mais importante instrumento da política macroeconómica. 1.4 Política Macroeconomia Dificuldades associadas à definição de políticas: (1) Escassez de instrumentos, acentuada pela união monetária e pacto de estabilidade (regra de Tinbergen); (2) Conflito entre objectivos (exemplos: desemprego vs inflação; curto prazo vs longo prazo); (3) Incerteza relativamente aos efeitos das políticas, potenciada pelo intervalo de tempo entre intervenção e consequências. 10 1.4 Política Macroeconomia Das perspectivas às opções de Política Económica…. Políticas de gestão da procura ou “gestão conjuntural”: e.g., política orçamental (G,T) e política monetária (i) => objectivo de alisamento do consumo Políticas do lado da oferta: visam aumentar a eficiência da economia e o potencial produtivo da economia no longo prazo 1.4 Política Macroeconómica Oferta e procura agregadas Oferta agregada (AS (AS)) A oferta agregada (AS – aggregate supply) refere-se à quantidade total de bens e serviços que as empresas de um país estão dispostas a produzir e vender num dado período. A AS depende do nível de preços, da capacidade produtiva e do nível dos custos dos factores. Procura agregada (AD) A procura agregada (AD – aggregate demand) refere-se ao montante total que os diferentes sectores da economia estão dispostos a gastar num dado período. A AD resulta da soma da despesa dos consumidores, empresas e administração pública e depende do nível de preços, da política monetária, da política orçamental bem como de outros factores. 11 1.4 Política Macroeconómica Lado da Procura e da Oferta Procura (decisões de despesa/curto prazo) das famílias e das empresas (C, I e Importações), do“exterior” (Exportações) e da administração pública como um todo (G) Oferta (decisões sobre o potencial produtivo da economia/longo prazo), ie, sobre a capacidade produtiva da economia Nível de tecnologia disponível, stock de capital disponível, stock de trabalho disponível… 1.4 Política Macroeconómica Oferta e procura agregadas Exemplo de aplicação: Expansão em tempo de guerra 1. Iní Início dos anos 1960 Os presidentes Kennedy e Jonhson aplicaram políticas expansionistas para estimular a economia, incluindo o corte nos impostos sobre indivíduos e empresas em 1963 e 1964. O PIB cresceu 4% ao ano no início dos anos 1960, o desemprego reduziu-se e os preços mantiveram-se estáveis. 2. Guerra do Vietname O governo americano subestimou a despesa com a guerra do Vietname que cresceu 55% de 1965 a 1968. O Presidente Johnson adiou medidas fiscais dolorosas para abrandar o crescimento económico. O aumento dos impostos e os cortes nas despesas não militares só ocorreram em 1968 o que foi demasiado tarde para evitar pressões inflacionistas. 3. A “era da inflaç inflação” ão” A Reserva Federal acompanhou a expansão com o crescimento rápido da moeda e com taxas de juro reduzidas o que resultou num crescimento económico rápido no período de 1966-1970. Sob a pressão de desemprego reduzido e da elevada utilização dos factores, a inflação aumentou inaugurando a “era da inflação” que durou de 1966 a 1981. 12 1.4 Política Macroeconómica Oferta e procura agregadas Política Orçamental Produçã o PIB AD Política Monetária Emprego AD AS Preços e Inflação Nível de preços e custos AS Capital trabalho tecnologia Comercio externo 1.4 Política Macroeconomia Exemplo… “No dia 25 de Agosto foi aprovada em Conselho de Ministros a Proposta de Lei que procede à revisão do Estatuto de Aposentação. De acordo com o documento, os novos funcionários públicos serão inscritos no regime geral da segurança social (…). Para os actuais subscritores da CGA, a idade legal de aposentação vigente (60 anos) aproximar-se-á da que vigora para os restantes trabalhadores no âmbito do regime geral da segurança social (65 anos).” (Banco de Portugal, Indicadores de conjuntura, Setembro 2005) 13 18/09/08 Aula 3 Macroeconomia I 1 – Introdução e Conceitos Gerais 1.5 Metodologia da Macroeconomia 1.6 Modelos macroeconómicos 1.7 Teoria vs realidade 1.8 Análise macroeconómica na perspectiva positiva e na perspectiva normativa 1.9 O papel dos dados na Macroeconomia e respectivas limitações 1.10 Modelização e previsão na macroeconomia 1.11 Dicotomia “mercados financeiros/economia real” 1.12 O grau de abertura das economias 2008/2009 1.5 Método da Macroeconomia Método da Macroeconomia: OBSERVAR (Estatística e Econometria); COMPREENDER (Teoria Económica / Macroeconomia Positiva); AGIR (Política Económica/ Macroeconomia Normativa). A estabilização dos ciclos económicos, por exemplo, envolve: - identificar o ciclo e a tendência de longo prazo; - compreender quais os factores e mecanismos que originam e influenciam o ciclo e a tendência de longo prazo. - intervir (ou não) no sentido de estabilizar o ciclo sem prejudicar a tendência de longo prazo. 14 1.6 Modelos Macroeconomicos Transformar a realidade complexa em relações de simples apreensão, estabelecendo relações de causalidade… Abstracção e pressupostos de simplificação são necessários para “assimilar” a realidade… Os MODELOS macroeconómicos são as ferramentas necessárias para compreender a realidade complexa… 1.6 Modelos Macroeconomicos O processo científico em economia passa essencialmente pela construção de modelos com vista à interpretação das relações entre variáveis: − Observação dos acontecimentos económicos • construção de estatísticas e registos históricos; − Análise teórica: construção de modelos teóricos que permitam racionalizar os fenómenos observados; − Análise empírica: utilização de técnicas estatísticas para com os dados recolhidos testar os modelos teóricos. •métodos econométricos; •métodos experimentais, mesmo que de difícil concepção Samuelson&Nordhaus(1999): capítulo 1 15 1.6 Modelos Macroeconomicos Os Modelos captam relações de causalidade entre: 1.6 Modelos Macroeconomicos Variáveis endógenas: cujo comportamento se pretende explicar (e.g., taxa de crescimento) Variáveis exógenas: são um dado do problema que não conseguimos explicar ou modelizar num dado modelo (e.g., instrumentos de política económica, condições económicas no exterior, preço do petróleo, sentimento económico, taxa de sindicalização, estado do tempo, ...) (Porque) A distinção entre variáveis exógenas e variáveis endógenas nem sempre é simples… muitas das variáveis exógenas não são totalmente independentes das variáveis endógenas (e.g., decisões de política) 16 1.6 Modelos Macroeconomicos De forma resumida, pode dizer-se que o desenvolvimento da teoria económica se baseia nas seguintes etapas: (1) observação e caracterização (obtenção e manipulação de dados estatísticos relevantes para o problema em causa); (2) formulação de hipóteses e modelos (construção de representações simplificadas da realidade); (3) validação empírica (comparação entre resultados empíricos e predições baseadas nas hipóteses e modelos a testar). 1.7 Teoria e Realidade Teoria ⇒ abstracção e simplificação da realidade complexa ~ Modelo Mas a emergência de relações sistemáticas e testadas entre variáveis endógenas e exógenas pode conduzir à emergência de novas teorias e ao abandono de outras (e.g., Curva de Phillips) Processo longo e complexo e necessariamente contínuo… 17 1.8 Análise positiva vs análise normativa Análise positiva => abstracção de juízos de valor (ex.,associação de determinado evento a eventos exógenos ou decisões de PE: “o aumento dos impostos reduz o défice orçamental”) Análise normativa => emissão de juízos de valor Exemplos – discussão entre os economistas portugueses sobre as políticas de contenção do défice público ou sobre as reformas do mercado de trabalho (ex, “Será melhor a redução do défice via contenção de despesas correntes do que via aumento dos impostos”) 1.8 Análise positiva vs análise normativa Declarações Positivas = Os economistas tentam descrever (Descritivas) o mundo como ele é. Ex.: Uma redução na taxa de crescimento da quantidade de moeda reduziria a Taxa de Inflação. (Cientistas econômicos) Declarações Normativas = Os economistas prescrevem (Prescritivas) como o mundo deveria ser. Ex.: O Banco Central deveria reduzir a quantidade de moeda emitida. (Envolve: Valores, ética, religião, política,etc.) (Formuladores de políticas) 18 1.8 Análise positiva vs análise normativa Economia positiva − Descreve os factos de uma economia; − Estuda o que é a economia e como ela funciona. Economia normativa − Envolve juízos de valor; − Estuda quais deverão ser os objectivos de uma economia. Samuelson (1999: p.8); Colander (1998: p.19) 1.8 Análise positiva vs análise normativa Discordam sobretudo em questões normativas − exemplo: Devemos ou não limitar as importações? •a economia positiva explica-nos as implicações disso: preços mais elevados dos bens importados, menos unidades consumidas, eventualmente maior produção e emprego locais; •não há muitas dúvidas quanto a isto; •as dúvidas surgem quando é necessário decidir se devemos sacrificar o bem estar de uns para favorecer outros (consumidores vs. produtores; consumo e produção actuais vs. consumo e produção futuros). Mas também em questões positivistas − porque utilizam modelos diferentes para descrever a economia, seja por diferente medida seja por diferentes concepções teóricas. Stiglitz (2000: pp.17-19) 19 1.8 Análise positiva Dados Estatísticos/Factos (estatística) (pressuposições empíricas) (pré-científico) Realidade *Positiva Formulação de Hipóteses e Construção de Teorias e de Modelos Testes empíricos Validação de teorias: Econometria Previsões Rejeição (refutação) de teorias e modelos Representações simplificadas da realidade 1. Variaveis exógenas e endógenas: o que explicar no modelo? O que deixar de fora? 2. Formas funcionais tratáveis 3. Modelos resolúveis A conflitualidade teórica reflecte dificuldades de testar Estes 3 pontos representam restrições metodológicas 1.8 Análise normativa Objectivos Político-Sociais n Variáveis Controláveis n Variáveis Objectivo (intermédios e finais) [Objectivos, n] [Instrumentos, n] [Objectivos n] Ex: Crescimento rápido e estável; Pleno Emprego; Inflação baixa e estável Exs: Política monetária: Taxa de juro e oferta de moeda; Política orçamental: Taxa de imposto e despesa pública; Política Cambial: taxa de câmbio Exs. de objectivos: Variação percentual do produto real; Emprego; Inflação Operacionalização da Política Têm natureza histórica e social (escolhas numa sociedade democrática) Variáveis manipuláveis directamente pelo Estado 20 Em conclusão: Existe uma interacção constante entre a teoria e a política económica; entre a macroeconomia positiva e a macroeconomia normativa. A teoria define o campo de visibilidade da política económica. 1.9 Os dados em Macroeconomia Quando puder medir aquilo de que está a falar e puder expressá-lo em números, então sabe alguma coisa sobre o assunto; quando não puder medi-lo, quando não puder exprimi-lo em números, o seu conhecimento é fraco e insatisfatório. Lord Kelvin 21 1.9 Os dados em Macroeconomia O método geral de avaliação de teorias é sujeitá-las a testes científicos => olhar para os factos, ou seja, tentar vê-los através dos dados. Dificuldades práticas Os dados podem não ser fiáveis Os agentes económicos podem ter razões para distorcer a resposta a inquéritos Como ciência social, não é possível efectuar experiências laboratoriais Muitas variáveis não são observáveis (ex., expectativas, bem estar, nível de confiança dos agentes económicos…) 1.10 Modelização e previsão na macroeconomia Com base na informação disponível até 23 de Novembro de 2007, os especialistas do Eurosistema prepararam projecções para a evolução macroeconómica na área do euro. De acordo com essas projecções, o crescimento real médio anual do PIB deverá situar-se entre 2.4% e 2.8% em 2007, entre 1.5% e 2.5% em 2008 e entre 1.6% e 2.6% em 2009. A taxa média de crescimento do IHPC global deverá situar-se entre 2.0% e 2.2% em 2007, entre 2.0% e 3.0% em 2008 e entre 1.2% e 2.4% em 2009. BCE Projecções macroeconómicas para a área do euro elaboradas por especialistas do Eurosistema Dezembro 2007 22 1.10 Modelização e previsão na macroeconomia Com base na informação disponível até 20 de Maio de 2008, os especialistas do Eurosistema prepararam projecções para a evolução macroeconómica da área do euro. De acordo com essas projecções, o crescimento real médio anual do PIB deverá situar-se entre 1.5% e 2.1% em 2008 e entre 1.0% e 2.0% em 2009. A taxa média de crescimento do IHPC global deverá situar-se entre 3.2% e 3.6% em 2008 e entre 1.8% e 3.0% em 2009. BCE Projecções macroeconómicas para a área do euro elaboradas por especialistas do Eurosistema Junho 2008 1.10 Modelização e previsão na macroeconomia O que condiciona os erros de previsão: Qualidade do modelo (limitada pelos pressupostos…) Súbitas alterações em variáveis exógenas Os desfasamentos típicos da política económica não captados pelo modelo Os contextos de geração de expectativas podem alterar-se substancialmente Os agentes podem antecipar as decisões de política económica Alterações de regimes (ex., o caso da formação da UEM) A produção de informação macroeconómica, que serve de base para previsões e também para a formação de expectativas, pode ter desfasamentos temporais 23 1.11 Mercados Financeiros e Economia Real Mercados Financeiros Economia monetária/financeira: onde os agentes económicos transaccionam activos financeiros Economia Real Centra-se na produção e consumo de bens e serviços e nos rendimentos associados às actividades produtivas 1.11 Mercados Financeiros e Economia Real • Agentes económicos: aforradores (com capacidade de financiamento, ex., famílias) e investidores (com necessidade de financiamento, ex., empresas) • Activos financeiros: acções, obrigações, moedas e outros instrumentos financeiros • Mercados cambiais, accionistas, obrigacionistas, monetários, etc. ¾alguns deles apresentam grande volatilidade 24 1.11 Interligação entre economia financeira e economia Real A acumulação de capital… “Desde Junho, já houve três subidas do preço do dinheiro por parte do FED e novos aumentos são esperados até ao final do ano. O custo do crédito está a encarecer pelo que é natural que o mercado imobiliário reaja em baixa.” (Jornal Público, 25 de Setembro de 2004, p.29) As acções representam uma forma de detenção de riqueza privada… Repartição de rendimentos… relação entre a evolução da quota de rendimentos do trabalho vs evolução do índice de cotação bolsista 1.12 Grau de abertura da Economia 25 1.12 Grau de Abertura da Economia A abertura tem aumentado ao longo do tempo (globalização) • Abertura vs dimensão • População, território e mercado interno A dimensão tende a influenciar o tempo da abertura ⇒Os países pequenos tendem a ser mais abertos, e em menor período de tempo, que os países grandes Abertura da economia real vs abertura financeira => intensificação da globalização no plano financeiro (ex., o caso da crise do Sudeste Asiático) 22/09/08 Aula 4 Macroeconomia I 1 – Introdução e Conceitos Gerais 1.13 O papel das Instituições no desempenho macroeconómico 1.14 Tendência e conjuntura 1.15 As fontes do crescimento económico no longo prazo 1.16 Ciclos económicos, choques e respostas de política macroeconómica 2008/2009 26 1.13 O papel das instituições no desempenho macroeconómico 1) Promoção de Afectação Eficiente dos Recursos 2) Promoção da Justiça Distributiva 3) Promoção de Estabilidade Macroeconómica 4) Promoção do Crescimento Económico 9Porquê? 9 Como? 1.13 O papel das instituições no desempenho macroeconómico ¾ Se as decisões individuais fossem, em qualquer circunstância, eficazes, as funções do Estado seriam mínimas: 9 garante da defesa 9 garante da justiça 9 produção da legislação que constitui o enquadramento legal de uma economia de mercado 9 garante dos direitos de propriedade, mormente dos direitos de propriedade privada e da sua livre circulação ¾ O Estado desempenha funções económicas, porquê? 9 Numa economia de mercado há falhas relacionadas com a afectação de recursos, com a repartição de rendimentos, com a actividade cíclica e com o crescimento. 27 1.13 O papel das instituições no desempenho macroeconómico Porquê: 1) O mercado não conduz à afectação de recursos mais eficiente quaisquer que sejam as condições. É preciso que estejam reunidas determinadas condições. Caso contrário há falhas de mercado: externalidades; bens públicos; poder de monopólio; informação assimétrica 2) Os indivíduos deverão poder fazer face a adversidades tais como a doença, a velhice, a morte. As desigualdades sociais muito acentuadas são inaceitáveis do ponto de vista da sociedade. Qualquer indivíduo deverá viver com dignidade. 1.13 O papel das instituições no desempenho macroeconómico Porquê: 3) As flutuações cíclicas da actividade económica não podem ter uma amplitude muito acentuada sob pena de gerarem desemprego, estagnação económica ou inflação e piorarem o nível de vida dos cidadãos. 3) Só se houver crescimento económico é que o nível de vida dos cidadãos poderá melhorar. Os governos devem intervir criando as condições para que um crescimento económico sustentável possa ocorrer. 28 1.13 O papel das instituições no desempenho macroeconómico Como? Através de políticas económicas. Uma política económica é uma acção deliberada do governo na esfera económica, em que são accionados instrumentos com vista à realização dos objectivos previamente definidos, sendo fixado o horizonte temporal da política. [As políticas económicas custam dinheiro, o Governo utiliza receitas provenientes dos impostos que cobra para pagar as políticas económicas que implementa]. Sujeito Económico - Estado INTRUMENTOS POLÍTICA ECONÓMICA OBJECTIVOS Horizonte Temporal - definido 1.13 O papel das instituições no desempenho macroeconómico 29 1.13 O papel das instituições no desempenho macroeconómico O sector público procura melhorar o bem-estar dos indivíduos, desempenhando três funções económicas: • fornecimento de bens e serviços públicos; • redistribuição do rendimento; • estabilização macroeconómica. O sector público está sujeito a uma restrição orçamental intertemporal, precisando de recolher receitas de modo a poder realizar despesas 1.13 O papel das instituições no desempenho macroeconómico A eficiência do funcionamento dos mercados não é alheia à qualidade das instituições: Enquadramento legal + supervisão dos mercados => estável com regras transparentes que garantam o bom funcionamento do ambiente negocial, o cumprimento dos contratos e a liberdade de empresa, e.g. Potenciar externalidades de search e informação em mercados cujos produtos têm elevado teor tecnológico e que, apesar da relação de preços relativos, o consumidor/distribuidor não consegue avaliá-los Garante de iniciativa e propriedade privada A instabilidade legislativa, nomeadamente quanto ao sistema fiscal, desincentiva o investimento 30 1.13 O papel das instituições no desempenho macroeconómico A regulação da concorrência e o controlo dos poderes de monopólio (cond. Monopólio e posição dominante) => Políticas de concorrência: legislação “antimonopolista” prevenindo a formação de monopólios, cartéis e o domínio dos mercados dos inputs e outputs pelas empresas => redução de preços e aumento de quantidade produzida (e.g., liberalização do mercado financeiro, redução das barreiras à livre circulação de produtos, liberalização do mercado de telecomunicações móveis, parecer negativo da UE contra integração do Gás de Portugal na EDP, etc.) A legislação laboral => Minimizando os efeitos adversos sobre a eficiência da economia [e.g., (redução) Salário mínimo, (redução) Subsídio de desemprego, (redução) Prestações sociais associadas à situação de desemprego (assistência médica, serviços judiciais) próximas das existentes para os empregados] 1.13 O papel das instituições no desempenho macroeconómico Os trâmites burocráticos => Simplificação (exs.: processo de criação de empresa -> empresa na hora; informatização do sistema fiscal) A qualidade e rigor do poder político => Aumento Independência das administrações públicas e transparência Políticas potenciadoras de um ambiente nominal estável ⇒afectam expectativas 31 1.13 O papel das instituições no desempenho macroeconómico Fornecimento de bens e serviços potenciadores de externalidades positivas para a as empresas, funcionando como incentivo ao investimento pela redução de custos (infraestruturas, telecomunicações, investimento em capital humano e formação profissional – sistema de educação, sistema judicial, segurança pública, gestão de parques de ciência e tecnologia, política ambiental e de saúde pública…) Que governo? Ditadura? Democracia? Coligação? Maioria? Minoria? => estabilidade governativa para a gestão de curto prazo e para as reformas estruturais… Organização institucional no mercado do trabalho => Afectam a confiança nos mercados e entre os agentes económicos 1.13 Tendência e Conjuntura _ 32 1.13 Tendência vs conjuntura O aumento tendencial do PIB per capita ocorre em simultâneo com flutuações conjunturais mais ou menos amplas consoante os períodos A magnitude dos desvios do PIB face à tendência constituem uma medida das flutuações cíclicas 1.14 Ciclos Económicos Ciclos econó económicos As flutuações de curto prazo do produto, do emprego e dos preços são denominadas por ciclos económicos Crescimento económico As tendências de longo prazo no produto e nos níveis de vida são conhecidas por crescimento económico 33 1.14 Ciclos Económicos Ciclos econó económicos Os ciclos económicos são flutuações do produto, do rendimento e do emprego nacionais totais, com uma duração habitual de 2 a 10 anos, caracterizadas pela expansão ou contracção generalizada na maioria dos sectores da economia. Recessão e depressão Uma recessão é um período contínuo de declínio do produto, do rendimento e emprego totais, normalmente perdurando 6 meses a 1 ano e caracterizado pelas contracções alargadas a muitos sectores da economia. Uma depressão é uma recessão importante, tanto na intensidade como na duração. Peak (pico) e trough (baixa ou cava) representam o ponto mais elevado e ponto mais baixo do ciclo, respectivamente. 1.14 Ciclos Económicos Ao longo da história, as economias alternam “períodos bons” e “períodos maus” experimentam “ciclos económicos”: Expansões, que ocorrem em muitas actividades económicas ao mesmo tempo, seguidas por recessões e recuperações que culminam na fase de expansão do ciclo seguinte Características dos ciclos económicos: Generalizados: afectam várias actividades da economia ao mesmo tempo Recorrentes, mas não periódicos: repetem - seao longo do tempo, mas sem intervalos regulares nem a mesma68 dimensão temporal 34 1.14 Ciclos Económicos 1.14 Ciclos Económicos PIB real pico cava pico cava recessão recuperação tempo expansão Tipicamente o PIB vai crescendo (fases de expansão mais prolongadas do que as de recessão) 70 35 1.14 Ciclos Económicos 1.14 Ciclos Económicos - Recessão 1.Consumo e produç produção As compras dos consumidores reduzem-se acentuadamente, enquanto que as existências em armazém aumentam inesperadamente. As empresas cortam na produção e o PIB real cai. Pouco depois o investimento diminui. 2.Emprego A procura de trabalhadores cai: redução de horários, seguida de dispensas temporárias e de maior desemprego. 3.Inflaç Inflação Com a redução do consumo a inflação abranda. É pouco provável a redução de salários e do preço dos serviços mas o seu aumento abranda nos períodos de retracção económica. 4.Lucros Os lucros das empresas reduzem-se acentuadamente. Numa antecipação, as cotações das acções entram em queda. 36 1.14 Ciclos Económicos - Expansão As expansões são as imagens simétricas das recessões, em que cada um dos factores referidos nas características típicas de uma recessão funciona em sentido oposto. 1.14 Ciclos Económicos Elementos frequentes nos ciclos económicos em anos recentes: − − as expansões duram mais que as recessões − os ciclos diferem na sua duração Características dos ciclos económicos: generalizados: afectam economia ao mesmo tempo − várias actividades da recorrentes, mas não periódicos: repetem-se ao longo do tempo, mas sem intervalos regulares nem a mesma dimensão temporal − 37 1.14 Ciclos Económicos (A “indesejabilidade”) − − uma parte importante do estudo da Macro prende-se com a possibilidade de o Estado “alisar” o comportamento da economia, restringindo as flutuações e isso significa −“tentar colocar o produto real sempre no máximo”? −“demasiado” produto real tende inflacionário (e deve ser evitado) a ser −Mas níveis baixos de output real também são indesejáveis, significando despedimentos, desemprego, degradação do nível de vida 1.14 Ciclos Económicos Estabilização (reduzir a volatilidade dos ciclos) 76 38