UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE MEDICINA TROPICAL PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA DA ESQUISTOSSOMOSE MANSONI EXPERIMENTAL ANDRÉ DE LIMA AIRES RECIFE - PE 2010 ANDRÉ DE LIMA AIRES AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA DA ESQUISTOSSOMOSE MANSONI EXPERIMENTAL Dissertação apresentada ao Colegiado do Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical do Departamento de Medicina Tropical do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Medicina Tropical na área de concentração em Doenças Infecciosas e Parasitárias. Orientadoras: Profª. Drª. Elizabeth Malagueño de Santana Profª. Drª. Mônica Camelo Pessôa de Azevedo Albuquerque RECIFE-PE 2010 Aires, André de Lima Avaliação da N-acetilcisteína na imunopatologia da esquistossomose mansoni experimental / André de Lima Aires. – Recife: O Autor, 2010. 94 folhas: il., fig., tab. e quadros. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco. CCS. Medicina Tropical, 2010. Inclui bibliografia e anexos. 1. Esquistossomose mansoni. 2. Imunomodulação granulomatosa. 3. N-acetilcisteína e Praziquantel. I. Título. 616.995.122 CDU (2.ed.) UFPE 616.96 CDD (20.ed.) CCS2010-116 DEDICATÓRIA “Tudo o que um sonho precisa para ser realizado é de alguém que acredite que ele possa ser realizado”. Roberto Shinyashiki DEDICATÓRIA A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me possibilitou conhecer a verdadeira intimidade do que é estar ao lado DELE. Em especial à minha mãe, Alcione de Lima, que me ensinou a importância do respeito e por ter suportado minha distância para a realização deste trabalho. Sua luta nunca será esquecida. À Maria das Graças (Gracinha) que tolerou a minha chata presença diária e ao meu pai Antônio Tadeu Aires que desde o meu ingresso na Universidade sempre me apoiou em todos os momentos. A vocês sou-lhes eternamente agradecido. À minha irmã, Alcilene de Lima, cujo apoio em tudo sempre pude contar, pelos bons momentos de infância e pela incansável dedicação na luta pelo seu espaço. Obrigado por tudo. Aos meus irmãos, Alberto, Eduardo e Suely, que sempre me apoiaram em muitos momentos difíceis. A todos os outros de minha família que sinceramente torceram pelo meu sucesso. Amo-os incondicionalmente! AGRADECIMENTOS “Aprendi com a esperança, Que não devemos ser donos de nossos sonhos, Pois eles devem ser livres, sempre.” George Nascimento AGRADECIMENTOS Gostaria de sinceramente agradecer a todos que direta ou indiretamente puderam contribuir não só com o desenvolvimento deste trabalho, como, principalmente, com o meu amadurecimento pessoal e profissional. À Profª. Drª. Elizabeth Malagueño por ter aceitado a orientação e confiança depositada neste trabalho, à Profª Drª Mônica Albuquerque pela amizade, atenção, ajuda e incremento ao meu desejo pela Parasitologia. A todos do Laboratório de Imunologia do LIKA pelo constante apoio, especialmente à Profª. Drª. Vlaudia Costa e o Biomédico Luiz Henrique. À coordenação, professores, alunos e todos que formam a Pós-Graduação em Medicina Tropical da UFPE. Às Profas. Drª. Sônia Leite e Drª. Paloma Medeiros, responsáveis pelos meus primeiros passos na pesquisa e docência. Ao Grande Amigo e Profo. Dro. Haroudo Satiro Xavier pelo apoio durante toda a iniciação cientifica. Agradeço imensamente aos meus mestres pelo crédito ao meu trabalho. À Drª. Constança Barbosa pelo caráter profissional que representa na minha formação, por ter aberto as portas de seu laboratório e assim ter me feito ganhar além de muito conhecimento, AMIGOS que levo sempre na memória. Ao Profo. Dro. Marco Souza pelo constante apoio durante meu estágio no Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães, e por ter depositado confiança em meu trabalho e me fazer acreditar no crescimento profissional. À Juliana Kelle, Amanda Farias e Renata Ramos pela desprendida e importante ajuda durante a conturbada administração diária das drogas e por terem atenuado minhas crises de surtos. Obrigado pelo apoio! À Maria Helena, Filipe, Paulo e todos os outros competentes profissionais do Biotério do LIKA. Às amigas Ana Patrícia, Sara, Nilza, Juliana e Talita e a todas que juntas formam o Círculo de Oração. Obrigado pelas orações ao meu favor e por sempre levar meus pedidos ao mais alto dos céus. Ao Profo. Dro. Nicodenos Teles e a Mestre Mariana Ramos pela fundamental ajuda durante a análise morfométrica. A TODOS da Turma “Biologia: Arte e Ciências pela Vida” pelo orgulho e o diferencial que juntos fizemos durante toda a graduação e pós-graduação em ser BIÓLOGOS LICENCIADOS. Obrigadão pelo agradável convívio. Ao André Ricardo pelo longo convívio durante a iniciação cientifica, apesar dos trancos e barrancos saímos ilesos. À Fernanda Francisca e Emily, amigas incondicionais que sempre me impulsionaram em todos os meus momentos. À Profª. Drª. Marilene da Silva e todos os amigos do Laboratório de Fungos Aquáticos da UFPE pela agradável amizade que construímos. "Gestos de carinho, atenção e delicadeza fazem-nos perceber quanto algumas pessoas são especiais na forma de ser e como são bem-vindas as suas ações. A atenção, a paciência, o carinho, a companhia, a amizade e os surtos têm me torna leve a cada dia. Encontrei um novo Nascimento que tem me proporcionado tudo isto. Muito obrigado!" E a todos os outros amigos que sempre recordam de mim com carinho, que me admiram e torcem pelo meu sucesso. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela concessão da bolsa de estudo. RESUMO “Fácil é jugar pessoas que estão sendo expostas pelas circunstâncias. Difícil é encontrar e refletir sobre seus erros, ou tentar fazer diferente algo que já fez de muito errado.” Carlos Drummond de Andrade RESUMO As principais alterações na esquistossomose mansoni (EM) ocorrem no fígado em decorrência da deposição de ovos do parasito neste órgão. O Praziquantel (PZQ) é eficaz sobre o S.mansoni, porém, não altera as lesões histopatológicas já instaladas, as quais podem deixar sequelas irreversíveis. A N-acetilcisteína (NAC) tem atenuado danos em hepatopatias crônicas, efeitos atribuídos as suas propriedades antiinflamatórias, antioxidantes e desintoxicante hepático. Assim, investigamos a ação da NAC e/ou PZQ na modulação imunopatologica na EM experimental em diferentes fases da infecção (aguda, intermediária e crônica). Na fase aguda, a intervenção com NAC (200mg/Kg/dia) se deu do dia subseqüente à infecção até o 60º dia, nas fases intermediária e crônica a partir do 45º ao 90º dia e do 45º ao 120º dia respectivamente. O PZQ (100mg/Kg/dia) foi administrado do 45° ao 49º dia após a infecção. Cada grupo foi formado por 4 subgrupos (n=9) de acordo com a terapia: Controle, NAC, PZQ e NAC+PZQ. Após tratamento foram determinados: a carga parasitológica, padrão de ovoposição, análise histomorfométrica de tecido hepático e os níveis de citocinas (IL-4, IL-10 e INF-γ) e óxido nítrico (NO) das culturas de esplenócitos. De acordo com a terapia e o tempo decorrido de infecção, os subgrupos PZQ ou NAC+PZQ alcançaram 100% de eficácia e com alteração do oograma. Entretanto, os subgrupos NAC apresentaram oograma padrão e sem alteração na carga parasitária. A análise histopatológica sugere que os granulomas esquistossomóticos variaram em composição e organização celular de acordo com o tempo. Os subgrupos PZQ ou NAC+PZQ apresentaram número reduzido de granulomas. Apesar da modulação natural no diâmetro do granuloma, a terapia com NAC e/ou PZQ incrementam de forma significativa essa modulação. O grau de fibrose sugere menor deposição de colágeno nos subgrupos NAC e NAC+PZQ. Aos 60 dias da infecção os níveis de IL-10 são bem reduzidos. Entretanto aos 90 dias é observado aumento significativo da IL-10 nos subgrupos NAC e NAC+PZQ, já aos 120 dias ocorre diminuição desta citocina nos subgrupos NAC e NAC+PZQ. Foi evidenciada modulação negativa da NAC nos níveis de INF e NO nos subgrupos NAC e NAC+PZQ. Os níveis de IL-4 nos subgrupos NAC foram semelhantes ao controle, mostrando que o NAC neste modelo experimental não exerce influência sobre esta citocina. Neste estudo, a NAC através da modulação imunopatologica atenuou o dano ao tecido hepático de camundongos esquistossomóticos. Palavras chaves: Esquistossomose acetilcisteína e Praziquantel. mansoni, Imunomodulação granulomatosa, N- ABSTRACT "Para realizar grandes conquistas, devemos não apenas agir, mas também sonhar; não apenas planejar, mas também acreditar." Anatole France ABSTRACT The main pathological alterations in the schistosomiasis mansoni (SM) affect the liver due to the deposition of parasite eggs in this site. Although the praziquantel (PZQ) is highly effective on S. mansoni, it does not change the inflammatory course already installed, which can leave irreversible tissue consequences. The N-acetylcysteine (NAC) decreases the damage from chronic liver diseases through its anti-inflammatory, antioxidant, and hepatic detoxifying properties. For these reasons, we investigated the action of NAC and/or PZQ in the immunopathological modulation on the experimental SM in different phases of the infection. In the acute phase, NAC (200 mg/Kg/day) was orally administered to the mices from the day after the cercariae infection to the 60th day, and in the intermediary and chronic phases this drug was administered from the 45 th day after the infection to the 90th day and from the 45th to the 120th day, respectively. PZQ (100 mg/Kg/day) was used from the 45th day after the cercariae infection to the 49th day. Moreover, each experimental group was composed by 4 subgroups (n = 9) according to the following therapeutic regimens: control, NAC, PZQ, and NAC+PZQ. The parasite load, pattern of ovoposition, histomorphometrical analysis of the hepatic tissue, and the levels of IL-4, IL-10, INF- γ, and NO found in splenocytes cultures were determinate. Only PZQ and NAC+PZQ subgroups reached 100% of efficacy with alteration on the oogram. However, NAC subgroups presented standard oogram with no alteration on the parasite load. According to the time of infection, histopathological analysis of schistosomotic granulomas varied in the composition and cellular organization and the PZQ and NAC+PZQ subgroups showed decreased number of granulomas. Despite the normal modulation of the diameter of the schistosomotic granulomas, the therapy with NAC and/or PZQ increased this modulation significantly. The level of fibrosis of granulomas in the NAC and NAC+PZQ subgroups was lower than in other groups. At 60 days of infection, the levels of IL-10 were very low in all studied subgroups, but at 90 days it was observed a significant increase of this cytokine in the NAC and NAC+PZQ subgroups while at 120 days its levels decreased in these same subgroups significantly. It was observed that NAC negatively influenced the levels of INF- and NO in the NAC and NAC+PZQ subgroups. Additionally, levels of IL-4 in the NAC subgroups were similar to controls suggesting that this drug did not execute any influence upon the levels of this cytokine. In this study, NAC seemed to attenuate the damage on the tissue liver of schistosomotic mices through the immunopathological modulation. Keywords: Schistosomiasis mansoni. granuloma formation. N-acetylcysteine. Praziquantel. LISTA DE ILUSTRAÇÕES “O lucro de nosso estudo é tornarmo-nos melhores e mais sábios.” Michel de Montaigne LISTA DE ILUSTRAÇÕES QUADROS Quadro 1 - Definição dos grupos experimentais e esquema terapêutico. ............................. 48 FIGURAS Figura 1 - Distribuição Geográfica da Esquistossomose no mundo ...................................... 26 Figura 2 - Distribuição Geográfica da Esquistossomose mansoni no Brasil .......................... 27 Figura 3 - Formas evolutivas do Schistosoma mansoni. A – ovo; B – miracídio; C; esporocisto; D – cercária; E – esquistossômulos e F – vermes adultos macho e fêmea ......................................................................................................... 29 Figura 4 - Ciclo Biológico do Schistosoma mansoni. .......................................................... 32 Figura 5 - Estruturas químicas das drogas esquistossomicidas clássicas ................................40 Figura 6 - Estrutura molecular da N-acetilcisteína ..................................................................41 Figura 7 – Fotomicrografias de tecido hepático de camundongos esquistossomóticos nas fases aguda (A e B), intermediária (C e D) e crônica da infecção pelo S. mansoni (H.E). A – G1-NAC – granuloma periovular exsudativo evidenciando intenso infiltrado inflamatório composto por eosinófilos, neutrófilos e escassos macrófagos e linfócitos circundando ovo central em degeneração (400x); B – G1-NAC+PZQ – necrose coagulativa central em granuloma periovular (200x); C - G2-Controle – granuloma esquistossomótico produtivo de margem bem-delimitada composto por macrófagos, linfócitos e escassos eosinófilos (400x); D – G2-NAC+PZQ – granuloma periovular produtivo apresentando menor tamanho que o da figura C e deposição de pigmento esquistossomótico (seta) (400x); E – G3-NAC – granulomas periovulares isolados ou coalescentes (100x); F – G3-NAC+PZQ – granulomas isolados e nódulos fibróticos exibindo menor tamanho que os observados na figura E (100x); G – G3-Controle – extensa fibrose, proeminente vascularização e hiperplasia de ductos biliares entre espaçosporta (fibrose hepática periportal murina) (400x). ................................................................ 65 Figura 8 – Fotomicrografias de tecido hepático de camundongos infectados pelo S. mansoni empregadas para a classificação do grau de fibrose definida através das colorações histoquímicas de tricrômico de Masson (lado direito) e picrosirius-red (lado esquerdo), segundo critérios adotados para as análises histopatológicas. A e B - G1-NAC - leve grau de deposição de fibras colágenas, delicadas, irregulares, fragmentadas, frouxamente organizadas e distribuídas de forma concêntrica no perímetro dos granulomas esquistossomóticos (400x); C e D – G2 – Controle - moderada deposição de fibras colágeno (400x); E e F – G2-PZQ - intensa deposição de colágeno, sendo visualizada fibras colágenas compactadas e densamente distribuídas de forma periférica e central ao granuloma esquistossomótico (400X). .................................... 69 Figura 9 – Níveis de IL4, (A) IL-10 (B), NO (C) e IFN- (D) secretados por células esplênicas de camundongos infectados pelo S. mansoni tratados com N-acetilcisteína (NAC) e/ou Praziquantel (PZQ), eutanasiados aos 60, 90 e 120 dias após a infecção. As células foram estimulas por antígeno solúvel de ovos de S. mansoni (SEA). Os resultados estão expressos em média das culturas em duplicatas de 5-8 animais por subgrupo ± erro padrão. ..................................... 71 LISTA DE TABELAS “Os homens mais valentes e os soldados mais esforçados nascem dos camponeses." Plínio LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Vermes adultos de Schistosoma mansoni recuperados pela técnica de perfusão do fígado e veias mesentéricas e o oograma em de camundongos tratados com N-acetilcisteína e/ou Praziquantel em diferentes fases de infecção .............................................................................................................................. 63 Tabela 2 – Número médio de granulomas esquistossomóticos em tecido hepático de camundongos infectados pelo Schistosoma mansoni e tratados com N-acetilcisteína e/ou Praziquantel em diferentes fases de infecção ................................ 67 Tabela 3 – Classificação do grau de fibrose nos granulomas esquistossomóticos em tecido hepático de camundongos infectados pelo Schistosoma mansoni em diferentes fases da infecção e tratados com Nacetilcisteína e/ou Praziquantel, através das análises histoquímicas de Tricrômico de Masson e Vermelho de Picrosirius ................................................................ 68 SUMÁRIO “Você bloqueia seu sonho quando você permite que seu medo fique maior do que a sua fé." Mary Manin Morrisey SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 23 2 REVISÃO DE LITERATURA 26 2.1 Epidemiologia da Esquistossomose 26 2.2 Biologia do Schistosoma mansoni 30 2.3 Patogenia da Esquistossomose 33 2.4 Imunopatologia da Esquistossomose 34 2.5 Tratamento da Esquistossomose 38 2.6 N-acetilcisteína 42 3 OBJETIVOS 45 3.1 Objetivo geral 45 3.2 Objetivos específicos 45 4 OPERACIONALIZAÇÃO DA PESQUISA 47 4.1 Desenho do estudo 47 4.2 Animais 47 4.3 Infecção de caramujos, obtenção das cercárias e infecção dos camundongos 4.4 48 Formação dos grupos de estudo e esquema terapêutico com NAC e/ou PZQ 48 4.5 Suscetibilidade in vivo do S. mansoni frente à NAC e/ou PZQ 50 4.6 Determinação da suscetibilidade in vivo do S. mansoni frente à NAC e/ou PZQ 50 4.6.1 Recuperação dos vermes 50 4.6.2 Oograma 51 4.7 Estudo histopatológico e morfométrico de tecido hepático 51 4.8 Avaliação dos níveis de citocinas e óxido nítrico 51 4.8.1 Cultura de células esplênicas 51 4.8.2 Dosagem de citocinas 52 4.8.3 Dosagem de óxido nítrico 53 4.9 Análise estatística 54 4.10 Considerações éticas 54 5 ARTIGO - Efeito imunopatológico do tratamento da N-acetilcisteina na esquistossomose mansoni experimental 56 RESUMO 57 1 INTRODUÇÃO 58 2 OPERACIONALIZAÇÃO DA PESQUISA 59 2.1 Animais, infecção e considerações éticas 59 2.2 Formação dos grupos experimentais e esquema terapêutico com NAC e/ou PZQ 59 2.3 Estudo parasitológico 61 2.4 Recuperação dos vermes 61 2.5 Oograma 61 2.6 Estudo histopatológico e morfométrico de tecido hepático 61 2.7 Cultura de células esplênicas 62 2.7.1 Dosagem de Nitrito 61 2.7.2 Dosagem de Citocinas 63 2.8 Análise Estatística 63 3 RESULTADOS 63 3.1 Análise parasitológica 63 3.2 Análise histopatológica 64 3.2.1 Fase aguda – 60 dias 64 3.2.2 Fase intermediária- 90 dias 65 3.2.3 Fase crônica – 120 dias 65 3.3 Análise morfométrica dos granulomas esquistossomóticos 67 3.4 Análise do grau de fibrose nos granulomas esquistossomóticos 68 3.5 Níveis de citocinas e óxido nítrico 70 4 DISCUSSÃO 72 6 CONCLUSÕES 79 7 REFERÊNCIAS 81 8 ANEXO 101 INTRODUÇÃO “Se não existe possibilidade de fracasso, então a vitória é insignificante." Robert H. Schuller 23 1 INTRODUÇÃO* A esquistossomose é uma doença produzida por trematódeos do gênero Schistosoma. Considerada a mais importante helmintíase em termos de morbidade e mortalidade, atualmente, encontra-se endêmica em 76 países com estimativa de 300 milhões de pessoas infectadas, 20 milhões dos quais desenvolvem sérias complicações crônicas, o que acarretam cerca de 500.000 mortes por ano em todo o mundo (BINA; PRATA, 2003; CHIRAKALWASAN et al., 2006; WHO, 2006; PARISE FILHO et al., 2007). No Brasil a estimativa é que existam cerca de seis milhões de pessoas infectadas pelo S. mansoni, única espécie encontrada nas Américas (KATZ; PEIXOTO, 2000). Anualmente mais de 100 mil novos casos e 500 óbitos são notificados no território nacional, sendo Minas Gerais e Pernambuco os estados com maior índice de prevalência (Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, 2009). Em Pernambuco, a esquistossomose é considerada uma endemia rural, entretanto este quadro tem sofrido alterações, pois inúmeros casos autóctones em localidades indenes do litoral do Estado e região metropolitana do Recife têm sido notificados, além da existência de novos sítios de transmissão em regiões de turismo e férias de verão (BARBOSA et al., 1996a, 1998a, 1998b, 2000a, 2000b, 2001; SOUZA, 2008). O principal elemento patogênico da infecção pelo S. mansoni são os ovos depositados pelas fêmeas nos vasos mesentéricos, os quais, posteriormente, são arrastados através do fluxo sangüíneo para diversos órgãos especialmente para o fígado. Inicialmente, forma-se um processo inflamatório agudo ao redor do ovo, em decorrência da eliminação de antígenos do miracídio. Estes antígenos estimulam células e citocinas especificas que modulam a formação do granuloma esquistossomótico no decorre de toda a infecção (BRUNET et al., 1999). No período pré-patente há um predomínio da resposta imune Th1, com produção de IFN-γ e IL-2 que contribui para a formação do granuloma agudo (PEARCE et al., 1991). A resposta Th1, após a deposição de ovos no tecido do hospedeiro, sofre uma substituição progressiva para um perfil Th2. No curso crônico o granuloma decresce de tamanho e celularidade, devido à imunomodulação, apesar de haver progressão da fibrose hepática (WYNN et al., 1998). Ainda nesta fase, inúmeros nódulos fibróticos podem coalescer levando à diminuição da luz dos vasos sanguíneos e à perda da elasticidade, que conduz a hipertensão portal, achado clínico mais severo na esquistossomose mansoni (MELO; COELHO, 2005). Por consequência, as manifestações clínicas podem ser caracterizadas por: varizes esofagianas, hemorragias digestivas e ascite (GRYSEELS et al., 2006). _________________ * Dissertação normatizada e apresentada acordo com a ABNT NBR 14724:2005 24 A falta de vacinas e de ações eficazes em saúde pública faz da quimioterapia o único recurso imediato para minimizar a prevalência e incidência da esquistossomose no mundo. Atualmente o praziquantel (PZQ) é o fármaco de primeira escolha, devido a longa experiência clínica, mostrando que é seguro e efetivo contra todas as espécies de Schistosoma, com cura parasitológica entre 80% a 90% (CIOLI, 2004). Com a descoberta do PZQ e a ocorrência da esquistossomose exclusivamente em países em desenvolvimento, a indústria farmacêutica pouco tem investido em novas tecnologias para o desenvolvimento de novos fármacos para o controle dessa parasitose. Ainda não existe uma droga eficaz para o tratamento da fibrose hepática, embora muitas tenham sido ensaiadas (FRIEDMAN, 2003). Este quadro, não apenas justifica, mas aponta a necessidade de planejamento, desenvolvimento e pesquisas com novos fármacos que apresentem propriedades hepatoprotetoras ou que possam modular a formação granulomatosa esquistossomótica. Em humanos e animais experimentais a N-acetilcisteína (NAC) inibe lesões teciduais devido as suas propriedades anti-inflamátorias, antioxidantes e desintoxicantes hepático (KELLY, 1998; ZAFARULLAH et al., 2003). Na clínica tem sido empregada para tratar uma variedade de patologias, incluindo a fibrose cística (TIROUVANZIAM, 2006; HENKE; RATJEN, 2007), doença pulmonar obstrutiva crônica (HENKE; RATJEN, 2007), toxicidade associada às lesões hepáticas (PRESCOTT, 2005) e a cirrose biliar (MANI et al., 2006). Estudos em pacientes com insuficiência hepática fulminante aguda e cirrose estável demonstraram que a administração da NAC melhora a hemodinâmica portal (JONES et al., 1994). Lauz e colaboradores (2004) concluíram que a NAC previne a lise celular e mantém a função hepática diante da isquemia e reperfusão que o órgão é submetido no ato operatório. Perreira-Filho e colaboradores (2008) evidenciaram em fígado de animais cirróticos, induzidos por tetracloreto de carbono, que a NAC confere proteção contra a fibrose hepática e estresse oxidativo, observando redução de 400% no depósito de colágeno, no grau de fibrose classificada como leve a moderada, nos níveis de glutationa peroxidase e menor expressão da iNOS quando comparado com o grupo controle sem tratamento. Considerando as propriedades farmacológicas da NAC sobre a função hepática e sendo a esquistossomose mansoni uma patologia com extensas alterações neste órgão, propomos investigar neste trabalho os efeitos deste fármaco na imunopatologia em camundongos infectados pelo S. mansoni em diferentes fases de infecção, podendo desta forma junto à terapia convencional do PZQ contribuir na modulação granulomatosa. 25 REVISÃO DA LITERATURA “O destino não reina sem a cumplicidade secreta do instinto e da vontade.” Giovanni Papini 26 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 Epidemiologia da Esquistossomose A esquistossomose é uma infecção parasitária causada por espécies de Schistosoma, helmintos, trematódeos, cujo hospedeiro definitivo é o homem. Endêmica em 76 paises e territórios com estimativa de aproximadamente 300 milhões de pessoas infectadas, 20 milhões das quais desenvolvem sérias complicações crônicas, o que acarretam cerca de 500.000 mortes por ano (CHITSULO, 2000; BINA; PRATA, 2003; CHIRAKALWASAN et al., 2006; WHO, 2006; PARISE FILHO et al. 2007). A gravidade que a doença assume em muitos casos e o déficit orgânico que produz fazem da esquistossomose a segunda mais importante doença tropical em termo de morte e morbidade, ficando atrás apenas da malária. Em termos epidemiológicos, uma doença é considerada endêmica com base na análise das características espaciais e temporais que definem um determinado agravo à saúde. Sendo assim, a esquistossomose é considerada uma endemia em muitos países e regiões, pois acomete ampla faixa de populações sob riscos específicos, há um longo tempo. Em 2005, King e colaboradores já referem à esquistossomose como uma pandemia, e a responsabiliza por 2 - 15% do subdesenvolvimento da população portadora da doença. Segundo o comitê da Organização Mundial de Saúde (WHO) (1993), considerando as características de distribuição geográfica, morfológicas do verme adulto, localização do espículo no ovo, desenvolvimento do ciclo biológico, especificidade dos hospedeiros e padrões genéticos, espécies do gênero Schistosoma são assim classificadas: S. haematobium (BILHARTZ, 1852) S. japonicum (KATSURADA, 1904) S. mansoni (SAMBON, 1907) S. intercalatum (FISCHER, 1934) S.mekongi (VOGE; BRICKNER; BRUCE, 1978) As esquistossomoses apresentam-se amplamente distribuídas em países dos continentes asiático, africano e americano, incluindo neste o Brasil (figura 1) (GRYSSELS et al., 2006). Estimativas sugerem que o maior número de pessoas infectadas esteja no continente africano, onde poucos esforços têm sido implantados no sentido de controlar a infecção (CHITSULO et al., 2000). 27 A África apresenta baixos índices de esquistossomose mansoni na região Norte, porém na região do delta do Nilo e no Sul do Saara são concentrados os maiores focos, onde existem 85% de todos os casos de esquistossomose no mundo (WHO, 2006). Na Ásia apenas ocorrem focos na Arábia Saudita, Iêmen e Oman. Na América Central e América do Sul, os locais de infecção estão em vários Estados do Brasil, Venezuela, Suriname, Porto Rico, República Dominicana e Antilhas (ROSS et al., 2002). Figura 1 - Distribuição Geográfica da Esquistossomose no mundo. Fonte: GRYSSELS et al., 2006. Embora existam cinco espécies que acometem o homem, o Schistosoma mansoni é o de maior prevalência, apresentando-se endêmico em 55 países, principalmente no Sul do Saara africano como também em grande parte da América do Sul (CHITSULO, 2000). As espécies do gênero Schistosoma provavelmente chegaram às Américas com o tráfico de escravos africanos e com a imigração asiática e oriental, porém apenas o S. mansoni adaptou-se à região, devido ao encontro de bons hospedeiros intermediários e condições ambientais semelhantes à de sua origem (KATZ; ALMEIDA, 2003). Apesar da Europa também ter recebido populações de escravos e imigrantes asiáticos e de ser comprovada a existência de ovos de S. mansoni em coprólitos, o parasito ali não se estabeleceu, devido, muito provavelmente, à inexistência de hospedeiros intermediários suscetíveis (BOUCHET et al., 2002). 28 No Brasil o S. mansoni chegou entre os séculos XVI e XVII durante a colonização portuguesa (TCHUEM TCHUENTE et al., 1995). Aqui, encontrou hospedeiros intermediários (caramujos do gênero Biomphalaria) com distribuição geográfica ampla e condições ambientais favoráveis para adaptação, o que facilitou sua instalação e propagação (REY, 2002). Atualmente, o S. mansoni é encontrado em 19 Estados brasileiros (figura 2), desde o Maranhão até Minas Gerais, concentrando-se na região Nordeste. Entretanto, focos isolados têm ocorrido no Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás e Distrito Federal, porém o número de casos vem aumentando na região Sul do país devido à mobilidade populacional (REY, 2001). Figura 2 - Distribuição da esquistossomose mansoni no Brasil. Fonte: Amaral et al., 2006. 29 A estimativa é que no Brasil 25 milhões de pessoas habitam áreas de risco e cerca de seis milhões de indivíduos encontram-se infectados pelo S. mansoni (KATZ; PEIXOTO, 2000; REY, 2001). Dados do Ministério da Saúde mostram que a esquistossomose, no Brasil, causa mais óbitos (em média, mais de 500 a cada ano) que a dengue, a leishmaniose visceral e a malária. Mais de 100 mil casos da doença são identificados a cada ano no território nacional, sendo Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe os estados com maior índice de prevalência (Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar, 2009). Barbosa e colaboradores (2006), utilizando dados da Fundação Nacional de Saúde, constataram que entre os estado brasileiros, Pernambuco exibe o maior número de casos, com cerca de um quarto de sua área tendo prevalência acima de 25%, apresentando crescentes taxas de infecção. Adicionalmente, existem localidades na região da Zona da Mata deste estado com 80% de indivíduos cronicamente parasitados. É de aproximadamente cinco milhões o número de pessoas que reside nesta região e, assim, cerca de 62% da população pernambucana está sob risco de infecção (FAVRE et al., 2001; RESENDES et al., 2005), onde só em 2006 foram notificados 762 casos de esquistossomose (BRASIL. S. V. S., 2006). Historicamente, a esquistossomose é considerada uma doença endêmica rural em Pernambuco, sendo comprovada a existência de casos e focos de transmissão em quase todos os municípios da Zona da Mata, principalmente nas regiões canavieiras do Estado. Esta parasitose vem em expansão gradual ocasionada pelo êxodo de trabalhadores rurais em busca de trabalho, indivíduos que saem de suas regiões infectados e acabam assumindo papel de potente disseminador dos ovos do parasito, pois devido as suas condições de vida precárias, sem saneamento básico e moradia, adequada, acabam contaminando criadouros de moluscos existentes no litoral. Este fato tem sido comprovado pela existência de casos autóctones na região indene do litoral do Estado e região metropolitana do Recife, além de existir novos sítios de transmissão em regiões de turismo e férias de verão (BARBOSA et al., 1996a, 1996b, 1998a, 1998b, 2000a, 2000b, 2001; SOUZA, 2008). Como consequência, o perfil epidemiológico da esquistossomose vem sofrendo profundas alterações comportamentais em termos de morbidade, mortalidade e situação socioeconômica. Em áreas rurais, a esquistossomose se apresenta predominantemente sob a forma crônica, incidindo na classe social de baixa renda e tendo como vetor o B. straminea. Enquanto no litoral e região metropolitana do Recife, a doença é destacada por casos agudos em pessoas de classe média e alta, sendo o vetor o B. glabrata (BARBOSA et al., 2001). Apesar do diagnóstico e tratamento serem relativamente simples, o controle da esquistossomose requer, tanto medidas de saneamento básico, como mudança dos hábitos das 30 pessoas que residem em áreas endêmicas. Essas medidas têm como finalidade interromper o ciclo evolutivo do parasito (KATZ; ALMEIDA, 2003). No entanto, esse controle é particularmente difícil por razões que variam consideravelmente, tais como: extensa disseminação do hospedeiro intermediário; inexistência de vacina; tempo necessário para que a educação sanitária seja efetivamente aceita e implantada pela população e o alto custo das obras de engenharia sanitária que garantam adequado abastecimento de água para as residências e eliminação adequada dos dejetos, impedindo, assim, a contaminação dos recursos hídricos (COURA; AMARAL, 2004). Desta forma, fazem-se necessários, associado a essas medidas de controle, novos estudos no sentido de melhor conhecer a infecção e a dinâmica das interações hospedeiroparasito, bem como avanços de novas terapias esquistossomicidas com a finalidade de controlar a expansão da esquistossomose mansoni. 2.2 Biologia do Schistosoma mansoni. Os aspectos morfológicos e biológicos do S. mansoni são analisados de acordo com seus vários estágios de desenvolvimento no decorrer do ciclo biológico no hospedeiro definitivo e intermediário. Este parasito apresenta-se sobre as formas evolutivas de ovo, miracídio, esporocisto I e II, cercária, esquistossômulo e verme adulto (figura 3). Figura 3: Formas evolutivas do S. mansoni. A - ovo; B - miracídio; C - Esporocisto; D – Cercária; E - Esquistossômulo e F - vermes adultos macho e fêmea 31 O ciclo biológico do S. mansoni é do tipo heteroxênico com passagem obrigatória em dois hospedeiros: um definitivo representado pelo homem e alguns roedores, onde ocorre à reprodução sexuada dos vermes, e o hospedeiro intermediário que são moluscos do gênero Biomphalaria no qual ocorre a reprodução assexuada. O ciclo completo ocorre em cerca de 80 dias, tanto no hospedeiro definitivo quanto no intermediário, com média de 40 dias em cada. No hospedeiro definitivo tem início com a penetração das cercárias até a eliminação de ovos juntos com as fezes e no intermediário da penetração do miracídio até a liberação de cercárias (figura 4) (KATZ; ALMEIDA, 2003). Uma característica peculiar do ciclo biológico é o meio aquático, onde são encontradas as formas infectantes. Os hospedeiros intermediários são moluscos de água doce, hermafroditas, inclusos na família Planorbidae, caracterizados por terem a concha enrolada em espiral plana, e, por essa razão, conhecidos como planorbídeos. No Brasil os moluscos capazes de serem infectados com S. mansoni são três: B. glabrata, B. straminea e B. tenagophila (MALAGUEÑO; SANTANA, 1994). Desde as fases iniciais de formação do ovo no interior da fêmea até sua eliminação, profundas modificações morfológicas e fisiológicas ocorrem. O ovo é posto de forma imatura (1º estádios) e até sua eliminação passa por mais três estádios de maturação (2º, 3º e 4º estádio) até atingir a completa maturação (formação completa do miracídio) que decorre no intervalo de uma semana após eliminação pelo verme fêmea. Os ovos maduros têm em média 150µm de comprimento por 65µm de largura e são facilmente reconhecidos pela presença de um espículo lateral, situado no pólo posterior (REY, 2001). Os ovos são excretados juntos com as fezes que em contato com a água por meios de condições específicas de luminosidade intensa, temperatura em torno de 28°C e boa oxigenação, eclodem liberando uma larva ciliada denominada miracídio, que nada ativamente até o encontro do hospedeiro intermediário (HAAS, 1995). Em contato com o molusco, o miracídio movimenta-se ativamente, fazendo com que suas glândulas de penetração liberem enzimas proteolíticas capazes de favorecer sua penetração pela digestão dos tecidos moles principalmente na base das antenas e no pé do caramujo vetor (COELHO, 1957). Após a penetração ocorrem profundas e rápidas alterações, o miracídio permanece no ponto de penetração, onde cresce e transforma-se em um “saco” com forma oval ou alongada e no decorrer de três dias tem-se formado o esporocisto primário (I) ou mãe (NEVES, 2000). Em aproximadamente 72 horas, as células germinativas contidas no esporocisto primário sofrem intensa multiplicação, originando os esporocistos secundários (II). Estes 32 migram ativamente através dos tecidos do molusco atingindo a glândula digestiva, sofrendo modificações anatômicas e agora passando a conter no seu interior cercárias (REY, 2001). Decorrendo entre 5 a 6 semanas, os caramujos liberam cercárias em meio aquático, que nadam ativamente penetrando através da pele ou mucosas no hospedeiro definitivo. Logo após ação, as cercárias perdem a cauda, restando o corpo cercariano então denominado de esquistossômulos (NEVES, 2005). Os esquistossômulos migram pelo tecido subcutâneo até alcançar a circulação sanguínea. Ao acessarem o sistema circulatório, os esquistossômulos são carregados pelo fluxo sanguíneo venoso para coração, posteriormente atingem os pulmões, retornam ao coração, ganhando, assim, a grande circulação. O desenvolvimento final de esquistossômulos para vermes adultos se completa quando os mesmos se instalam nos vasos intra-hepáticos (PINTO; ALMEIDA, 1948). O verme adulto macho mede cerca de 1cm de comprimento, tem cor esbranquiçada, com tegumento recoberto de minúsculas projeções (tubérculos). Apresenta o corpo dividido em duas regiões: anterior, na qual encontramos a ventosa oral, e a ventosa ventral (acetábulo) e logo após esta região o corpo sofre uma dobra das laterais no sentido longitudinal dorsoventralmente formando um canal chamando ginecóforo, que tem a função de albergar a fêmea (NEVES, 2000). Seguindo a ventosa oral, tem-se o esôfago, que se bifurca ao nível do acetábulo e funde-se depois formando um ceco único. Logo atrás do acetábulo, encontra-se de sete a nove massas testiculares, que se abrem diretamente no canal ginecófaro. (NEVES, 2000). A fêmea apresenta cor castanho-escura, de topografia mais simples do que as dos machos, com tegumento liso, corpo fino, cilíndrico e delicado, medindo aproximadamente de 1,2 a 1,6cm de comprimento. A presença das ventosas e sistema digestório é semelhante a do macho. Após a venosa ventral segui-se a vulva, útero, e ovário único oblongo, na metade anterior do corpo. Na região posterior da fêmea localizam-se as glândulas vitelogênicas, que ocupam os dois terços posteriores de seu corpo (OLIVEIRA et al., 2000). Os schistosomas adultos acasalam, migram para as veias mesentéricas inferiores, principalmente ao nível da parede intestinal superior, onde ocorre a postura dos ovos. Contudo, uma parte destes chegará ao ambiente externo dando continuidade ao ciclo biológico, o restante fica retido na mucosa intestinal ou são arrastados, pela circulação, para o fígado, dando origem ao quadro mais característico da esquistossomose: a reação inflamatória granulomatosa hepática (REY, 2001). 33 Figura 4. Ciclo Biológico do Schistosoma mansoni. Fonte: Centro de Controle de Doenças e Prevenção – Esquistossomose 2.3 Patogenia da Esquistossomose As lesões que ocorrem no organismo parasitado pelo S. mansoni são decorrentes, tanto da agressão direta do parasito ou de seus elementos, quanto da resposta imune do hospedeiro a tais agressões. Estudos anatomoclínicos mostram que existem diferenças significativas entre os indivíduos portadores das várias formas clínicas que se desenvolve em duas fases: aguda (pré-postural e pós-postural) e crônica (leve ou grave) (CHITSULO, et al., 2000). Na fase aguda pré-postural, pode ocorre dermatite cercariana decorrente da morte de algumas cercárias que penetram na pele. As manifestações clínicas são micropápulas eritematosas e pruriginosas, com intensidade e duração geralmente pequenas (LAMBERTUCCI; SILVA; VOIETA, 2005). Após desaparecimento dos sinais cutâneos, com posterior desenvolvimento dos esquistossômulos, os pacientes podem apresentar febre alta, mal estar, astenia, urticária, tosse, anorexia, náuseas, vômitos, mialgias, cefaléia e diarréia (REY, 2001). Em virtude dos sintomas mencionados ocorrerem também em várias outras doenças infecciosas e parasitárias, apenas o quadro clínico pode não sugerir o diagnóstico para esquistossomose. O exame físico pode ser detectado abdome distendido e 34 doloroso, com fígado e baço aumentados (REY, 2001). Essas manifestações não são evidenciadas em moradores de áreas endêmicas, caracterizando a forma inaparente da esquistossomose (LAMBERTUCCI et al., 2000). Dos ovos postos pelas fêmeas, parte chegará ao ambiente externo, o restante ficará retido na mucosa intestinal ou serão conduzidos embolicamente até outros órgãos especialmente para o fígado, dando início a uma reação de hipersensibilidade tardia do tipo granulomatosa (REY, 2001). Os ovos retidos no epitélio intestinal induzem um processo inflamatório com hiperplasia, ulceração e formação de microabscessos (CHEN et al., 1978; CHEN, 1991, CHEN, 1999). Inicialmente, tem-se a formação do processo inflamatório granulomatoso agudo, que se desenvolve ao redor dos ovos, em decorrência da eliminação de antígenos do miracídio, chamados genericamente de SEA (Soluble egg antigens - Antígenos solúveis do ovo), que são eliminados através dos microporos da casca do ovo e estimulam células e citocinas específicas (HANG et al., 1974; WYLER et al., 1978), favorecendo, assim, a formação de um infiltrado de células inflamatórias, processo que termina com a formação de uma cicatriz fibrótica (HORII et al., 1984; BOROS, 1989). O curso da inflamação granulomatosa esquistossomótica apresenta três estágios evolutivos: exsudativo, produtivo e de cicatrização por fibrose (RASO et al., 1978; BOGLIOLO, 2000). O primeiro estágio é característico durante a fase inicial da infecção, por ovos maduros (embrionados) circundados por zona de necrose, onde comumente são encontrados imunocomplexos. Nesta fase os numerosos granulomas são periovulares, ditos “hiperérgicos”, isto, é, granulomas grandes, com predominante componente exsudativo, formado por granulócitos (neutrófilos e eosinófilos) e, mais perifericamente, por linfócitos, plasmócitos e macrófagos, periferia pouco delimitada, com escassas fibras colágenas finas e frouxamente arranjadas em disposição concêntrica e frequente necrose central ou halo de necrose periovular (RASO et al., 1978, SILVA et al., 2006). Esta fase pode durar, em média, trinta a sessenta dias, desaparecendo quando o paciente é submetido a tratamento específico ou podendo evoluir para a fase crônica, caso não haja tratamento (KATZ; ALMEIDA, 2003). No estágio produtivo, o ovo habitualmente se encontra fragmentado ou deformado e o infiltrado celular é constituído por macrófagos, linfócitos e plasmócitos e escassos neutrófilos e eosinófilos, e o granuloma nessa fase é ligeiramente menor quando comparado com o estágio exsudativo. Durante o processo granulomatoso, as células inflamatórias vão sendo substituídas por células semelhantes a fibroblastos, que se orientam em camadas concêntricas 35 que fabricam e depositam abundantes quantidades de colágenos, que devido ao aumento da deposição desta proteína na matriz extracelular, a estrutura do granuloma se completa com a formação de um nódulo fibrótico (ZILTON, 2005), caracterizando a fase de cicatrização por fibrose, onde o granuloma é ainda menor e se resume ao vestígio da casca do ovo, circundado por escasso infiltrado inflamatório mononuclear e, mais externamente, por zona de fibrose (VON LICHTEMBERG, 1987; ANDRADE, 2004). A forma crônica habitual ou leve é a forma mais comum dos casos, encontra-se em cerca de 90% dos infectados, principalmente em áreas endêmicas. Estes portadores são assintomáticos ou com vagas queixas, geralmente discretas e inespecificas. Os granulomas hepáticos são periovulares isolados, em varias fases de evolução para a cicatrização, o número de granulomas é habitualmente pequeno, pois geralmente a carga parasitária nestes portadores é baixa. Na forma grave ou avançada da esquistossomose, no curso crônico da infecção, os diversos pontos fibróticos podem se coalescer levando à diminuição da luz dos vasos sanguíneos e à perda da elasticidade, configurando a alteração patológica mais importante desta fase, a hipertensão portal (DAVIS; KRESINA, 1996; MELO; COELHO, 2005). Nessa fase, podem existir pacientes que permanecem na sua forma clínica estacionária ou compensada, conservando um bom estado geral, com sintomatologia de pequena intensidade. Outros, porém, podem evoluir para as formas mais graves ou descompensadas apresentando circulação colateral, varizes esofagianas, hemorragias digestivas, fibrose periportal e ascite (DOMINGUES; DOMINGUES, 1994; REY, 2001, GRYSEELS et al., 2006). Como consequência do bloqueio portal, há redução do fluxo sanguíneo no território drenado pela veia porta. A esplenomegalia ocorre em grande parte em virtude desta congestão venosa, bem como da hiperplasia e hipertrofia das células do sistema macrofágicolinfocitário, com diferenciação plasmocitária e produção de imunoglobulinas, em virtude da presença de grande quantidade de substâncias antigênicas (PEARCE; MacDONALD, 2002; GRYSEELS et al., 2006). O processo inflamatório e o tamanho dos granulomas variam com a intensidade e duração da infecção, com a fase evolutiva de cada granuloma e até mesmo entre os diversos órgãos comprometidos. O decréscimo no tamanho do granuloma, observado entre as fases aguda e crônica, foi chamado de modulação, processo extremamente complexo que envolve células T, macrófagos, fatores solúveis, prostaglandinas, anticorpos e imunocomplexos (RASO et al., 1978, VON LICHTEMBERG, 1987; ANDRADE, 2004). 36 A lesão macroscópica, em si, já é caracterizada, porém assume maior significado microscopicamente, ao exibir vários graus de lesões inflamatórias destrutivas e obstrutivas dos ramos porta intra-hepáticos. Uma das características mais importantes da lesão hepática esquistossomótica é o padrão de fibrose descrito por Symmers, em 1904, que do ponto de vista anatômico consiste em uma inflamação crônica causada pelos ovos que penetram no conjuntivo periportal (peripileflebite) e pela propagação desta à parede dos ramos porta (pileflebite). Nesta fase verifica-se a neoprodução conjuntivo-vascular intensa e sistematizada, porém não ocorre subversão da arquitetura lobular do fígado (BOGLIOLO, 2000 BAPTISTA; ANDRADE, 2005; SILVIA et al., 2006). Macroscopicamente a lesão é caracterizada, ao corte, por grandes e fibrosos espaços porta que aparecem como manchas brancas circundadas por parênquima hepático normal, lembrando hastes de cachimbo branco (claypipestem fibrosis). O aspecto externo do órgão revela bocelamento da cápsula de Glisson mostrando-se espessa e opaca nas depressões e distendida e translúcida nas áreas protuberantes (ANDRADE; SILVA; SOUZA, 1997). Contraditoriamente, apesar dos granulomas serem patogênicos, eles também protegem o hospedeiro, ao sequestrar moléculas hepatotóxicas liberadas pelo ovo, prevenindo o dano hepático maior, assunto este que vem sendo amplamente estudado em modelo murino com o propósito de avaliar a dinâmica da formação e modulação granulomatosa esquistossomótica (PATTON et al., 2001; ANDRADE; BAPTISTA; SANTANA, 2006). 2.4 Imunopatologia da esquistossomose A formação do granuloma hepático esquistossomótico é um processo complexo que envolve a resposta imune celular e humoral. Os diversos tipos celulares envolvidos neste processo desempenham funções variadas com o objetivo de aprisionar e reter os antígenos liberados pelos ovos evitando assim, uma necrose tissular mais ampla. Neste sentido, vários tipos celulares produzem citocinas que desempenham as mais variadas funções ao longo de todo o processo infeccioso (AMIRI et al., 1992; PATTON et al., 2001). De acordo com a capacidade de produzir citocinas, os linfócitos auxiliadores T CD4 + (Helper) foram classificados em dois grupos (MOSMANN e COFFMAN, 1989). Denominados de Th1 os linfócitos T que possuem a capacidade de secretar as citocinas IL-2 e IFN-γ e de Th2 aqueles que produzem IL-4, IL-5 e IL-10. Esses dois grupos possuem atividades antagônicas, uma vez que citocinas do tipo Th1 inibem a secreção de citocinas Th2, 37 e citocinas Th2 inibem a secreção de citocinas Th1 (ROCHA; TANGHOT, 2004; STOCKINGER; BOURGEOIS; KASSIOTIS, 2006). O perfil Th1 está associado com as reações de hipersensibilidade tardia e com controle de infecções por microorganismos intracelulares, enquanto a resposta Th2 está relacionada à resposta humoral (FALLON et al., 2000a; JAKUBZICK et al., 2002; JAKUBZICK et al., 2003) e a IL-10 apresentando papel essencial no controle dos dois perfis de resposta imune (LUKACS; BOROS, 1993; HOFFMANN et al., 2000). Stadecker (1999) e Fallon (2000), concluíram que as respostas do perfil Th2 são protetoras, agindo como mediadores antiinflamatório e as Th1 estariam, relacionadas com a formação do granuloma esquistossomótico, predominantes na fase aguda da infecção que induz a imunopatologia letal devido a ausência de granulomas bem formados e exposição a hepatotoxinas derivadas do ovo do parasito. No decorrer das quatro primeiras semanas de infecção, período pré-patente há um predomínio da resposta Th1, com produção de IFN-γ e IL-2 contribuindo para a formação do granuloma agudo (ANDRADE; AZEVEDO, 1987; PEARCE et al., 1991). Com o início da deposição de ovos nos tecidos do hospedeiro a resposta Th1 normalmente sofre uma substituição progressiva por uma resposta Th2 (GRZYCH et al., 1991; PEARCE et al., 1991; RAMASWAMY et al., 1997). Desta forma a imunodolação granulomatosa inicia-se durante o período Th1 e continua durante a emergência de citocinas Th2 (STADECKER, 1999). Os granulomas periovulares que se formam, à medida que a doença evolui da fase aguda para a fase crônica, decrescem em tamanho e em celularidade, devido à imunomodulação, apesar de haver progressão da fibrose hepática (WYNN et al., 1998). Esse perfil será mantido ao longo de toda a infecção, porém para o desenvolvimento assintomático ou oligossintomático é necessária que exista um balanço entre os perfis Th1 e Th2 (BRUNET et al., 1999). O IFN-γ é uma citocina diretamente envolvida na resposta granulomatosa. De suas inúmeras funções podemos citar que ela age como agente supressor da síntese de colágeno por fibroblastos, sendo associada com a proteção contra a fibrose na esquistossomose (KOVACS, 1991; HENRI et al., 2002). Em modelos experimentais a administração de IFN-γ exógeno, durante a infecção esquistossomótica, leva a inibição da fibrose hepática com produção de granulomas de menor tamanho (CZAJA et al., 1989). Estudos em infecção por S. japonicum demonstraram que IFN-γ é um forte indutor da produção de óxido nítrico, que apresenta importância na patologia da esquistossomose, bem como também é um regulador das 38 citocinas do perfil Th2, as quais possuem papel chave na formação dos granulomas (HIRATA; FUKUMA, 2003). A IL-4 deflagra a produção de IgE, em decorrência do aumento de eosinófilos propiciado pela IL-5. Juntas IL-4 e IL-5 desempenham o papel efetor da resposta aos antígenos de parasitos extracelulares. Em camundongos tratados com anti-IL-4 ocorre a diminuição da fibrose hepática apesar de pouca interferência no tamanho dos granulomas neste órgão (CHEEVER et al., 1994; ELTOUM et al., 1995). Enquanto que, a administração exógena de IL-4 ocorre um aumento do tamanho dos granulomas hepáticos (YAMASHITA; BOROS, 1992). Dentre as funções da IL-5, estão a proliferação e a ativação de eosinófilos, que parecem ser essenciais no decorre da migração dos esquistossômulos, e participa da destruição dos mesmos (CAPRON et al., 1979). Os eosinófilos representam cerca de 50% da composição do infiltrado inflamatório que compõe o granuloma esquistossomótico na fase aguda, a função primordial dos eosinófilos é na neutralização das hepatotoxinas liberadas pelos ovos de S. mansoni (OLDS; MAHMOUD, 1980). Com base nas respostas imunes no decorrer da infecção pelo S. mansoni e evolução dos granulomas hepáticos, é importante o estudo da mudança do padrão imune, a fim de melhor compreender a imunopatologia. 2.5 Tratamento da Esquistossomose Diante dos altos índices de morbidade e mortalidade provocada pelo Schistosoma, a esquistossomose representa uma das dez doenças tropicais que estão sob programas de controle da Organização Mundial de Saúde (MOREL, 2000). Mesmo inserida neste programa a esquistossomose ainda é considerada uma doença negligenciada. O termo “negligenciado” ou “doença de pobre” é empregado a todas as doenças onde não existe investimento em pesquisa e desenvolvimento de novos fármacos (RENSLO et al., 2006; MRAZEK et al., 2003). O primeiro quimioterápico com atividade esquistossomicida foi relatado por Christopherson em 1918, através do tratamento com antimoniais, com tártaro emético, mencionados em papiros médicos com o nome de msdmt, no tratamento de hematúria, provavelmente causada pelo S. haematobium, os efeitos colaterais tóxicos, levaram a busca de outros fármacos, livres de metal e que fossem administrados via oral (CHRISTOPHERSON, 1918). A partir de então, surgiram novos fármacos como a lucanthona (KIKUTH; GÖNNERT, 1948) e o niridazol (LAMBERT, 1964) com atividade 39 contra as três principais espécies de Schistosoma que parasitam o homem, o S. mansoni, S. haematobium e S. japonicum. No entanto, esses fármacos, por apresentarem graves efeitos colaterais, não foram considerados seguros o suficiente para serem utilizados em larga escala nas regiões endêmicas. Durante um programa específico para o desenvolvimento de novas drogas esquistossomicidas, em 1964, pela indústria farmacêutica Pfizer (Sandwich, Inglaterra), Richards, Foster e Baxter desenvolveram uma nova série de derivados 2-aminometil-tetrahidroquinolínicos que apresentaram ação esquistossomicida, muito embora em sua maioria tenha exibido pouca eficácia, alta toxicidade e elevados efeitos colaterais. O composto que apresentou maior potencial esquistossomicida foi o UK3883 que apresenta estrutura semelhante ao lucanthone (miracil D). Posteriormente, a oxidação microbiológica do UK3883 pelo fungo Aspergillus sclerotiorium dá origem ao UK-4271, chamado de oxamniquine (OXA) (RICHARDS; FOSTER, 1969; FOSTER, 1973). O oxamniquine inicialmente chamado de Mansil®, mistura das palavras mansoni e Brasil, pois, o fármaco apresenta atividade exclusiva sobre o S. mansoni e no Brasil ter sido realizados os primeiros ensaios clínicos. O Mansil® apresentou atividade terapêutica com eficácia em torno de 90%, sendo bem tolerada, eficiente tanto na atividade profilática quanto na ação em todos os estágios imaturos do parasito, com a administração em dose única intramuscular e apresentando como único efeito colateral, a dor local (KATZ et al, 1973). Devido à dor local a droga passou a ser fabricada para o uso oral. Com o advento desta droga, pela primeira vez um fármaco esquistossomicida poderia ser administrado sem grandes riscos em tratamento individual ou em massa. Só no Brasil, o Programa Especial de Controle da Esquistossomose, tratou mais de 13 milhões de pessoas com o oxamniquine nas zonas endêmicas sem relato de óbito relacionado ao uso do medicamento. Na década de 1970, as indústrias alemãs Merck e Bayer desenvolveram uma nova droga, o praziquantel (PZQ). A mesma surgiu dos estudos da atividade anti-helmíntica de compostos tranquilizantes, selecionado entre mais de quatrocentos compostos que apresentou ação anti-helmíntica polivalente. No Brasil a droga foi lançada comercialmente para o tratamento de cestóides, com o nome de Cestox® ou Cisticide®(SEUBERT et al, 1977). O praziquantel atualmente é o fármaco de primeira escolha para o tratamento da esquistossomose, tendo como segunda opção o OXA. Isso se deve a razões como: atividade contra todas as espécies de Schistosoma; ausência de efeitos colaterais sérios; administração por via oral; custo competitivo; e longa experiência clínica, mostrando que é seguro, efetivo e de fácil administração, com cura parasitológica de 80% a 90%. Os efeitos colaterais mais 40 frequentes são dores abdominais, diarréia, náusea, vômito e anorexia (SANTOS et al, 1979). Diversos estudos com o PZQ demonstraram que a droga não apresenta mutagenicidade e genotoxicidade nos esquemas terapêuticos utilizados (KRAMERS et al., 1991), mesmo com muitos estudos, os mecanismos moleculares de ação do PZQ não são bem conhecidos (CIOLI, 2004). A maior desvantagem do PZQ sobre o Schistosoma é a sua baixa eficácia contra as formas imaturas (GRYSSELS et al., 2001) e vermes fêmeas imaturos (PICA-MATTOCIA; CIOLI, 2004). Entretanto, alternativas têm sido propostas para solucionar este problema, tais como a associação do PZQ com outras drogas capazes de eliminar as formas imaturas do parasito. A associação terapêutica do PZQ com a OXA apresenta maior atividade sobre o S. mansoni quando comparada a terapia isolada de cada droga (DELGADO et al., 1992; GRYSCHECK et al., 2004). O desenvolvimento do PZQ em 1970 e o vasto uso na década de 80 reduziram de forma significativa a morbidade e mortalidade provocada pelo Schistosoma (BERGQUIST, 2002). Entretanto, a droga não impede a reinfecção, e o tratamento repetido é geralmente uma prática comum em áreas endêmicas (MAGNUSSEN, 2003). Contudo, o surgimento de cepas Schistosoma praziquantel-resistentes (STELMA et al., 1995; STELMA et al., 1997; LIANG et al., 2001) tem levado a um grande número de trabalhos, sejam experimentais ou de campo, visando evitar este problema potencial (DOENHOFF et al., 2002). Nos últimos 30 anos houve uma melhora significativa na terapêutica da esquistossomose, caracterizada pelo desenvolvimento do PZQ, considerada droga “ideal” pelas propriedades farmacologias que apresenta. É possível que a descoberta desta droga, associado à ocorrência exclusiva da esquistossomose em países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos, ou seja, países com baixo poder aquisitivo de compra e de pessoas economicamente ativas, tenham levado a indústria farmacêutica a não se interessarem em investir em novas tecnologias para desenvolver novos fármacos para o controle da esquistossomose, bem como de drogas que atuem sobre as lesões granulomatosas já instaladas. A terapia convencional com o PZQ é eficaz sobre o S. mansoni, porém, não altera as lesões histopatológicas já instaladas, as quais podem deixar sequelas irreversíveis. Ainda não existe uma droga eficaz para o tratamento da fibrose hepática na esquistossomose, embora muitas tenham sido ensaiadas. Desde 1990, pesquisas vêem sendo desenvolvidas para identificar terapêuticas antifibróticas, porém ainda, não existe nenhuma droga dita “ideal” (FRIEDMAN, 2003). Este quadro, não apenas justifica, mas aponta a necessidade de 41 planejamento, desenvolvimento e pesquisas com novos fármacos que apresentam potencial atividade esquistossomicida (CIOLI, 2000; TDR, 2009) e de outras drogas que apresentem efeitos hepatoprotetores ou que possam modular a formação granulomatosa esquistossomótica. A Figura 5 ilustra as principais estruturas químicas das drogas esquistossomicidas clássicas. Figura 5 - estruturas químicas das drogas esquistossomicidas clássicas. 42 2.6 N-ACETILCISTEÍNA A N-acetilcisteína (NAC) (figura 6) é um tiol de baixo peso molecular, composto precursor da L-cisteína e glutationa reduzida nas células. É uma fonte de grupos sulfidril e removedores de substâncias reativas como OH e H2O2 geradas pela reação dos peroxinitritos, com NO e superóxido (ZAFARULLAH, 2003, PINHO et al., 2005). Figura 6 – estrutura molecular da N-acetilcisteína A NAC contribui para a síntese da glutationa, um dos desintoxicantes naturais mais importantes e poderosos no organismo humano, especialmente no fígado (DE FLORA et al, 2001, PINHO et al., 2005). Possui papel-chave na homeostase celular, visto que a depleção de glutationa pode causar morte celular devido à peroxidação lipídica e declínio nos níveis de tiol-proteínas (REED et al., 1984). A NAC pode atuar diretamente reduzindo os níveis de ROS in vivo e in vitro (ARUOMA et al., 1989) ou diretamente como “varredora” de radicais de peróxido de hidrogênio, ácido hipoclórico e radical hidroxil, assim como inibir a liberação de TNF-α, a ativação de citocinas pró-inflamatórias e apoptose celular (PINHO et al., 2005). Exercer efeito antioxidante indireto por facilitar a biossíntese da glutationa, através da enzima glutationa peroxidase, que é uma das três enzimas necessárias à sobrevivência celular por serem antioxidantes endógenos (CONESA et al., 2001). É uma droga bem absorvida e rapidamente metabolizada, somente cerca de 10% da amostra ingerida permanece na circulação por um tempo razoável, sendo a maior parte da droga consumida na produção de glutationa intracelular, em um extenso metabolismo de primeira passagem no fígado (VINCENZINI et al., 1998). Em humanos e animais experimentais a NAC inibe o dano tecidual causado pelo estresse oxidativo devido as suas propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes e desintoxicantes sobre o tecido hepático (KELLY, 1998; ZAFARULLAH et al., 2003). Por 43 estas propriedades, a NAC tem sido a droga de escolha para o tratamento da insuficiência hepática induzida por paracetamol, além de apresentar diversas propriedades farmacológicas com benefícios potenciais em pacientes criticamente doentes (ATKINSON, 2001; ATKURI et al., 2007). Na clínica tem sido empregada para tratar uma variedade de patologias, incluindo a fibrose cística (TIROUVANZIAM, 2006; HENKE; RATJEN, 2007), a doença pulmonar obstrutiva crônica (KASIELSKI; NOWAK 2001; HENKE; RATJEN 2007), a toxicidade associada às lesões hepáticas (PRESCOTT, 2005) e a cirrose biliar (MANI, et al., 2006), além de ter sido empregada para elevar os níveis de glutationa em eritrócitos e linfócitos melhorando a função das células T em portadores da imunodeficiência adquirida humana (DE ROSA et al., 2000). Ademais, De Flora et al. (2001) afirmam que a NAC apresenta propriedade mucolítica devido à reação de seu grupamento químico sulfidrila com as pontes dissulfeto das secreções mucosas, dissolvendo-as. Estudos em pacientes com insuficiência hepática fulminante aguda e cirrose estável demonstraram que a administração de NAC melhora a hemodinâmica portal (JONES et al., 1994). Lauz e colaboradores (2004) estudaram a ação da NAC a fim de prevenir a lise celular e assim manter a função hepática diante da isquemia e reperfusão que o órgão é submetido no ato operatório e concluíram que a NAC previne a lise celular e mantém a função hepática. O tratamento com antioxidantes, entre eles a NAC tem mostrado atenuar fibrose intersticial em vários processos patológicos (POLI; PAROLA, 1997; ZAFARULLAH et al., 2003). Pereira-filho (2008) avaliaram os efeitos da NAC sobre o estresse oxidativo no fígado de animais cirróticos por inalação de tetracloreto de carbono e evidenciaram através de análise bioquímica uma redução de 400% no depósito de colágeno no fígado dos animais tratados com a NAC quando comparados aos animais cirróticos controle. Ainda neste estudo, a análise histoquímica pela coloração de Picrossírius red evidenciou redução no grau de fibrose classificada como leve a moderada nos animais tratados com NAC, por outro lado o grupo cirrótico controle apresentou classificação severa. Neste estudo os autores concluem que este fármaco confere proteção ao tecido hepático de animais cirróticos. Diante do exposto e considerando as propriedades da NAC sob a função hepática e sendo a esquistossomose mansoni uma patologia com extensas alterações hepáticas, propomos neste trabalho, investigar os efeitos deste fármaco na modulação granulomatosa esquistossomótica em camundongos infectados pelo S. mansoni em diferentes fases de infecção (aguda, intermediário e crônico), podendo assim contribuir junto à terapia convencional do Praziquantel na melhora da morbidade pelo S. mansoni. 44 OBJETIVOS “A neve e a tempestade matam as flores, mas nada podem contra as sementes.” Kahlil Gibran 45 3 OBJETIVOS 3.1 Objetivo geral Avaliar a ação da N-acetilcisteína e Praziquantel na imunopatologia da esquistossomose mansoni experimental em diferentes fases na infecção. 3.1 Objetivos específicos Em camundongos tratados ou não tratados com NAC e/ou PZQ em diferentes fases de infecção pelo Schistosoma mansoni: ● Comparar os parâmetros parasitológicos através da quantificação de vermes recuperados e padrão de ovoposição; ● Comparar as analises histopatológicas e histomorfométricas em tecido hepático; ● Comparar a produção das citocinas IL-4, IL-10 e INF- e Óxido nítrico nos sobrenadantes das culturas de células esplênicas. 46 OPERACIONALIZAÇÃO DA PESQUISA “No estudo da história natural existem dois obstáculos igualmente perigosos: o primeiro é não possuir nenhum método, o segundo referir tudo a um sistema particular.” George Louis Leclerc 47 4 OPERACIONALIZAÇÃO DA PESQUISA 4.1 Desenho do estudo Estudo experimental de intervenção para avaliar camundongos fêmeas infectadas pelo S. mansoni, tratados e não-tratados com a NAC e/ou PZQ em diferentes tempos após a infecção. Os modelos experimentais animais são extremamente importantes para a melhor compreensão de diversos processos infecciosos (DRUILHE et al., 2002). Na esquistossomose mansoni diversos modelos já foram utilizados para avaliar a infecção, desde modelos simples até mais complexos com o propósito de descobrir possíveis controles ou melhores condutas terapêuticas para essa parasitose (CHEEVER et al., 2002). Vários animais têm sido empregados como modelos experimentais na avaliação de drogas esquistossomicidas, entre eles estão macacos (SADUN et al., 1966), coelhos (CHEEVER et al., 1980) e camundongos (WARREN, 1966, ANDRADE; SILVA; SOUZA, 1997). Sendo este último o melhor modelo e o de escolha para o presente trabalho, pois, desenvolver ciclo biológico e quadro histopatológico semelhante ao que ocorre no homem, por ser de fácil manipulação e manutenção e baixo custo. O modelo murino é empregado para esclarecer aspectos que não podem ser investigados em seres humanos, por questões éticas e operacionais. A linhagem de escolha para o presente estudo foi a Swiss webster, frequentemente empregada, pois apresenta variabilidade genética, o que facilita extrapolar relativamente os resultados para os seres humanos e neste animal as dificuldades de realização por questões éticas são menores. Os animais foram mantidos nas mesmas condições ambientais e alimentares. Desta forma, qualquer diferença existente entre os grupos e subgrupos será atribuída à intervenção terapêutica. 4.2 Animais Foram utilizados camundongos fêmeas, Swiss webster, pesando entre 28-30 gramas, com 28 dias de idade, fornecidos e mantidos no biotério do Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami da Universidade Federal de Pernambuco (LIKA-UFPE) de acordo com condições padronizadas de criação. 48 Para a infecção dos camundongos foi utilizada a cepa de S. mansoni, Belo Horizonte – Minas Gerais (BH), mantida pelo Laboratório de Imunologia de Doenças Parasitárias e de Esquistossomose Experimental - LIKA-UFPE, pela passagem sucessiva da cepa em caramujos da espécie Biomphalaria glabrata fornecidos pelo moluscário da Disciplina de Parasitologia, do Departamento de Medicina Tropical, da UFPE. 4.3 Infecção de caramujos, obtenção das cercárias e infecção dos camundongos Para infecção dos hospedeiros intermediários, fezes de camundongos infectados pelo S. mansoni (camundongos de manutenção) foram coletadas e tratadas de acordo com a técnica de sedimentação espontânea. O sedimento foi exposto à iluminação e a temperatura de 28oC, até a eclosão dos ovos e visualização dos miracídios com auxilio de lupa. Os miracídios foram postos em contado com caramujo individualmente, permanecendo exposto à luz artificial e ao calor 28ºC por aproximadamente duas horas. Posteriormente, os moluscos foram mantidos em aquários com água desclorada e livres de exposição luminosa (STANDEN, 1952). Para cada ciclo de infecção, 80 moluscos eram expostos à infecção para que forneçam quantidade razoável de indivíduos positivos e houvesse equilíbrio entre os sexos do parasito (PELLEGRINO; KATZ, 1968). Decorridos 35 a 40 dias após a infecção, os moluscos foram novamente expostos à luz e à temperatura de 28ºC por cerca de 40-60 minutos, em recipientes de vidro, contendo água destilada, agora para permitir a liberação de cercárias. (STIREWALT, 1954). Após a obtenção de uma suspensão cercariana, os camundongos foram infectados, via subcutânea com uma fração desta suspensão, que continha, em média, 50 cercárias. (OLIVIER; STIREWALT, 1952). 4.4 - Formação dos grupos de estudo e esquema terapêutico com NACe/ou PZQ. Estudos indicam que a fase crônica da infecção esquistossomótica em camundongos é estabelecida a partir da 12ª semana após a infecção (FALLON, 2000a; PEARCE; MCDONALD, 2002), entretanto a fibrose hepática periportal começa se esboçar a partir da 16ª semana (ANDRADE; CHEEVER, 1993; COUTINHO et al., 2007). Para o presente estudo, foi estabelecido que o tempo decorrido entre o tempo de infecção e eutanásia fosse de 60 (G1), 90 (G2) e 120 (G3) dias, para avaliação das fases aguda, intermediária e crônica, respectivamente. 49 Os camundongos foram divididos em três grupos experimentais de acordo com o tempo de intervenção terapêutica e eutanásia. Cada grupo experimental foi formado por 4 subgrupos com 9 animais cada de acordo com o quadro abaixo. QUADRO 1 – Definição dos grupos experimentais e esquema terapêutico. Esquema terapêutico Grupos Subgrupos experimentais experimentais NAC 200mg/Kg/dia PZQ 100mg/Kg/dia Controle Grupo 1 (G1) NAC Fase aguda PZQ Administrada do dia subsequente Administrado do 45º dia após à infecção até o 60º dia*. a infecção até o 49º dia. Administrado do 45º dia após a Administrado do 45º dia NAC+PZQ Controle Grupo 2 (G2) NAC Fase PZQ intermediária NAC+PZQ Grupo 3 (G3) Fase crônica * infecção até o 90º dia . após a infecção até o 49º dia. Controle NAC Administrado do 45º dia após a Administrado do 45º dia PZQ infecção até 120º dia*. após a infecção até o 49º dia. NAC+PZQ * O término do tratamento corresponde ao dia da eutanásia. Antes de iniciar o tratamento todos os animais foram marcados e pesados individualmente. O tratamento com a NAC na concentração de 200mg/Kg/dia está baseado nos trabalhos de Jones AL e colaboradores (1994) e Yang e colaboradores (2008) envolvendo estudos com humanos e com animais cirróticos e de Fan e colaboradores (2007) ao estudar o efeito da NAC na infecção experimental pelo S. japonicum. O esquema terapêutico adotado com o praziquantel teve por objetivo alcançar a cura parasitológica, desta forma interferindo na postura diária dos ovos de S. mansoni considerado potencial fator fibrogênico. Assim buscamos a uniformidade do quadro fisiopatológico dos granulomas já instalados podendo mensurar com maior fidedignidade a ação da NAC como 50 fármaco adjuvante no tratamento da esquistossomose após terapia especifica com o praziquantel. A NAC (Sigma) foi diluída em solução salina e o PZQ (Sigma) foi suspendido em Cremophor EL a 2%, ambos administrados por tubagem esofágica. Os animais dos subgrupos controle, livre de NAC e/ou PZQ, foram submetidos as mesmas condições que os demais subgrupos experimentais. 4.5 Suscetibilidade in vivo do S. mansoni frente à NAC e/ou PZQ O procedimento experimental recomendado e utilizado neste trabalho para avaliação da suscetibilidade in vivo do S. mansoni está de acordo com os trabalhos desenvolvidos por Pellegrino e Faria (1965), Katz e colaboradores (1966) e Katz e Pellegrino (1973). 4.6 Determinação da suscetibilidade in vivo do S. mansoni frente a NAC e/ou PZQ A avaliação da suscetibilidade in vivo da NAC e/ou PZQ sobre o S. mansoni foi baseada na recuperação final dos vermes e alteração no padrão de ovoposição pelo método do oograma. 4.6.1 Recuperação dos vermes Decorrido o tempo de tratamento de cada grupo, os animais foram eutanasiados por deslocamento cervical (MARTINEZ et al., 2003). Após eutanásia, foi efetuada uma incisão próxima aos órgãos genitais, com auxílio de pinças e tesouras cirúrgicas, indo até a caixa torácica, posteriormente foi realizada a perfusão do sistema venoso portal através da injeção de solução salina heparinizada (cloreto de sódio a 0,85% e citrato de sódio 1,5%), na veia cava inferior com a mesma solução (PELLEGRINO; SIQUEIRA, 1956). A mesma solução foi injetada na aorta descendente, procedendo-se à perfusão das veias mesentéricas (DUVALL; DE WITT, 1967). Ao final foi realizada a quantificação dos vermes adultos machos e fêmeas. 51 4.6.2 Oograma Fragmentos do intestino dos camundongo foram retirados para a leitura do oograma. Estudo que avalia o desenvolvimento dos ovos de S. mansoni encontrados na parede intestinal do hospedeiro, sob a ação de terapias esquistossomicidas. Foram contados e classificados os ovos nos seus diferentes estágios de desenvolvimento e ovos mortos. Para a classificação seguiram-se os critérios propostos por Pellegrino e colaboradores (1962). A susceptibilidade do S. mansoni é então avaliada pela alteração de oograma, sendo considerado alterado quando estiverem ausentes um ou mais estádios (PELLEGRINO, FARIA, 1965). 4.7 Estudo histopatológico e morfométrico de tecido hepático Fragmentos de fígado de cada animal foram fixados em formaldeído a 10% tamponado em PBS e processados para inclusão em parafina. Posteriormente, realizado cortes histológicos de 5µm de espessura. Para cada amostra de tecido hepático foram confeccionadas três laminas histológicas, coradas pelas técnicas de hematoxilina-eosina (HE), picrosirius-red (PR) e tricrômico de Masson (TM) (Junqueira; Bignolos and Brentani, 1979). Para a análise do infiltrado inflamatório foram utilizadas as amostras coradas pela técnica de HE. As colorações de PR e TM foram empregadas para a determinação do grau de fibrose (classificados em: leve, moderado e intenso, de acordo com o arranjo das fibras de colágeno e a deposição desta proteína no tecido hepático), mensuração do diâmetro médio dos granulomas viáveis (com ovo, ou vestígio de ovo central) e do número médio de granulomas capturados em cinco campos aleatórios (área total de campo = 12.234 μm2, área total visualizada = 61.170μm2) em amostras histológicas de cada animal por subgrupo. Para obtenção das imagens das amostras foi utilizado microscópio óptico acoplado a câmera digital e sistema computadorizado com linguagem orientada para leitura de imagem pelo software Motic Images Plus 2.0 ML®. 4.8 Avaliação dos níveis de citocinas e óxido nítrico 4.8.1 Cultura de células esplênicas Após término da terapia experimental de cada grupo, os baços dos camundongos foram retirados de maneira asséptica, e colocados em meio RPMI 1640 para transporte. Em 52 fluxo laminar os mesmos foram macerados em placas de Petri junto ao meio RPMI 1640 (Sigma Chemical, St. Louis, Mo., USA) complementado com HEPES (10mM), 2mercaptoetanol (0,05mM) 216mg de L-glutamina e antibiótico gentamicina 50mg/L e posteriormente levados à centrifugação a 4°C por 10 minutos, a 1500 rpm. Após este procedimento as hemácias foram lisadas pela adição de água estéril ao precipitado por 18 segundos (1mL/baço). Posteriormente as células foram ressuspendidas em meio RPMI complementado e mantidas refrigeradas durante cinco minutos para a formação de grumos. O sobrenadante foi então transferido para outro tubo de ensaio para a realização de uma nova centrifugação a 4°C por 10 minutos, a 1500 rpm. e o precipitado foi ressuspendido em meio RPMI suplementado com 10% de Soro Bovino Fetal (Sigma Chemical, St. Louis, Mo., USA). As células foram contadas e avaliadas quanto à viabilidade diluindo-se a suspensão em Azul de Trypan 0,2%. (1:10) e contando as células em câmara de Newbauer. As células ressuspendidas foram cultivadas em placas de 48 poços nunca concentração de 5x10 6 células/mL estimuladas por na SEA (20μg/mL). As placas foram incubadas a 37ºC, a 5% de CO2 e após 24h e 72h coletado os sobrenadantes para posterior análise da produção das citocinas IL-4, IL-10, INF- γ e Oxido nítrico. 4.8.2 Dosagem de citocinas Os níveis das citocinas IL-4, IL-10 e INF-γ no sobrenadante das células esplênicas foram determinados por ELISA (Enzyme linked immunosorbent assay) sanduíche. As placas para realização do ELISA (Costar, Cambridge, MA, USA) foram sensibilizadas com os primeiros anticorpos de captura [anti-IL-4 (11B11 a 4μg/ml, anti-IL-10 (C252-2A5, a 8μg/ml) e anti-INF- (XMG 1.2, a 4μg/ml)], diluídos em tampão salina fosfato (PBS 0,01M pH 9,6) sendo e distribuídos 50l em cada poço da placa e incubadas à temperatura de 4°C por 18h. Após este período, as placas foram lavadas três vezes com PBST (Tampão salina fosfato com 0,05% de Tween 20) e bloqueadas por 30 minutos com 150μl PBST a 10% de SBF. Após este período as placas foram novamente lavadas com PBST e, em seguida, adicionados 50μl dos respectivos padrões recombinantes de camundongos: rIL-4, rIL-10 e rIFN-, diluídos nas concentrações indicadas pelo fabricante ou das amostras dos sobrenadantes da cultura de células esplênicas. As placas novamente incubadas a 4°C por 18 horas. Após esta incubação, as placas foram lavadas com PBST e 50 μl dos segundos anticorpos biotinilados [anti-IL-4 (BVD6.24G2, a 1μg/ml, anti-IL-10 (SXC1, a 2μg/ml) e 53 anti-INF-μ (AN18, a 2μg/ml),] diluídos com PBST e 0,1% de BSA, foram distribuídos nos poços, seguido de incubação à temperatura ambiente por 1 hora. Após esta incubação, cada placa foi novamente lavada três vezes com PBST e o conjugado enzimático diluído 1:6000 (estreptoavidina marcada com peroxidase, Sigma Chemical, St. Louis, Mo., USA) em PBST contendo BSA 0,1 % foi adicionado às placas, 80μl/poço, e estas foram incubadas à temperatura ambiente por uma hora. As placas foram lavadas novamente com PBST e a reação revelada pela adição do substrato contendo H2O2 30% e o cromógeno ABTS [(2,2’azinobis (3-ethylbenzthiazoline-6-sulfonic acid)], Sigma Chemical, St. Louis, Mo., USA) dissolvidos em tampão citrato 0,1 M e fosfato de sódio 0,2 M pH = 5,5. A reação foi então bloqueada com 50 μl/poço ácido cítrico 0,2 M e a leitura realizada em leitor de ELISA (BIO RAD modelo 2550) em comprimento de onda de 405nm. As quantidades de citocinas nos sobrenadantes são calculadas a partir de curvas padrão, obtidas com concentrações de 0,625 a 10ng/ml de rINF-, 0,625 a 10ng/ml de rIL-4 e 0,625 a 10ng/ml de rIL-10. Os resultados são apresentados com as médias aritméticas das dosagens de culturas em duplicatas de 5-8 animais por subgrupo ± erro padrão. 4.8.3 Dosagem de Óxido nítrico Os níveis de óxido nítrico nas culturas de células esplênicas foram realizados através da dosagem de nitrito pela reação de Griess. 50µL de amostras ou padrão (NaNO2-251-4 Sigma Chemical, St. Luis, Mo, USA) foram colocados em placas de vinil (2595, Costar), diluídas em meio RPMI 1640 (Cultilab) com 5% de SBF. Em seguida, adicionado o reagente de GRIESS (1% sulfanilamida, 0.1% naftiletilenodiamina e 3% H3PO4). A quantidade de NO é calcalculado a partir de curva padrão obtidas com concentração de 1,65 a 50µ μM. A leitura foi realizada a 540nm em leitor de ELISA. Os resultados são expressos como as médias aritméticas das dosagens de culturas em duplicatas de 5-8 animais por subgrupo ± erro padrão (GREEN et. al. 1982). 5 Análise estatística Para comparação dos diferentes grupos, foi empregada a análise de variância (ANOVA). Quando a ANOVA revelou diferença significativa, foi utilizado o teste de Tukey para identificar as diferenças entre os grupos. A significância estatística foi considerada, admitindo-se um nível crítico de 5%, em todos os casos. 54 6 Considerações éticas Os procedimentos descritos para a utilização experimental dos animais foram aprovados pela Comissão de Ética em Experimentação Animal do Centro de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Pernambuco (CEEA-UFPE). Os critérios de avaliação e julgamento pela CEEA-UFPE são de acordo com as normas sugeridas pelo Colégio Brasileiro para Experimentação Animal, e com as normas internacionais estabelecidas pelo National Institute of Health Guide for Care and Use of Laboratory Animals. 55 ARTIGO “O pessimista se queixa do vento, o otimista espera que ele mude e o realista ajusta as velas.” William Ward 56 ARTIGO ORIGINAL EFEITO IMUNOPATOLOGICO DO TRATAMENTO DA N-ACETILCISTEINA NA ESQUISTOSSOMOSE MANSONI EXPERIMENTAL André de Lima Aires 1 Renata Alexandre Ramos Silva1 Giuliana Viegas Schirato2 Nicodemos Teles de Pontes Filho3 Sidcley Bernardino de Araújo4 Valdênia Maria Oliveira Souza1 Vlaudia Maria Assis Costa1, Mônica Camelo P. A. Albuquerque1 Elizabeth Malagueño de Santana1*. 1 Laboratório de imunologia de Doenças Parasitárias e de esquistossomose Experimental do Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami da Universidade Federal de Pernambuco (LIKA/UFPE), Recife, Pernambuco, Brazil. 2 Biotério do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz – CpqAM - Brasil 3 Departamento de Patologia do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco e Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami da (LIKA/UFPE), Recife, Pernambuco, Brazil. 4 Departamento de Patologia do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco * Endereço para correspondência: Elizabeth Malagueño de Santana Campus Universitário, Cidade Universitária, Recife-PE-Brasil. CEP: 50670-901 E-mail: [email protected] e/ou [email protected] 57 RESUMO A N-acetilcisteína (NAC) atenua danos em hepatopatias crônicas, efeitos atribuídos as suas propriedades antiinflamatórias, antioxidantes e desintoxicante hepático. Assim, investigamos a ação da NAC e/ou Praziquantel (PZQ) na imunopatologia da esquistossomose mansoni experimental. Três grupos experimentais foram formados, os quais corresponderam às fases aguda, intermediária e crônica da infecção. Cada grupo foi formado por 4 sub-grupos de acordo com o esquema terapêutico: Controle, NAC, PZQ e NAC+PZQ. A intervenção com a NAC, 200mg/Kg/dia, via oral, na fase aguda teve inicio no dia subsequente a infecção com duração de 59 dias consecutivos. Nas fases intermediária e crônica, a NAC foi administrada a partir do 45º dia após a infecção e manteve-se durante 45 e 75 dias respectivamente. O PZQ, 100mg/Kg/dia, via oral, foi administrado do 45° ao 49º dia após a infecção. Os animais foram mortos aos 60, 90, e 120 dias após a infecção correspondendo às fases aguda intermediária e crônica da infecção, respectivamente. A NAC modulou negativamente a sínteses de INF-γ e NO e positivamente IL-10, entretanto não influenciou a produção de IL-4. Na análise histopatológica de tecido hepático sugere que os granulomas esquistossomóticos variaram em composição e organização celular de acordo com o tempo de infecção e esquema terapêutico. Os animais tratados com a NAC e/ou PZQ apresentaram redução significativa no tamanho dos granulomas hepáticos e aqueles tratados com NAC apresentaram menor grau de fibrose. Concluímos que a NAC neste modelo experimental modulou a resposta imune, atenuando o dano tecidual hepático em camundongos infectados pelo S. mansoni. Palavras-chaves: Schistosoma mansoni, N-acetilcisteína, Praziquantel e fisiopatologia granulomatosa. 58 1 INTRODUÇÃO A esquistossomose é uma infecção parasitária produzida por espécies de helmintos trematódeos do gênero Schistosoma com ampla distribuição mundial. Presente em 76 países e territórios, aproximadamente 300 milhões de pessoas encontram-se infectadas e, destas, cerca de 20 milhões desenvolvem sérias complicações crônicas, resultando em aproximadamente 500.000 mortes por ano (Chitsulo 2000; Bina; Prata, 2003; Blanchard, 2004, Chirakalwasan, 2006). A inexistência de vacinas e de ações eficazes em saúde pública faz da quimioterapia o recurso imediato para minimizar a prevalência e incidência da esquistossomose. O praziquantel é o único fármaco para o tratamento da esquistossomose por atuar sobre todas as espécies de Schistosoma com importância em saúde pública, com cura parasitológica de 80 a 90% (Botros et al. 2005, Walter et al. 2006). Contudo, um dos grandes problemas na terapia da esquistossomose diz respeito a inexistência de tratamento para fibrose hepática. Não há ainda uma droga eficaz, embora muitas tenham sido ensaiadas (Arthur, 2002, Friedman, 2003). Este quadro, não apenas justifica, mas aponta a necessidade de planejamento, desenvolvimento e pesquisas com fármacos que apresentem propriedades hepatoprotetoras ou que possam modular a formação granulomatosa esquistossomótica. A N-acetilcisteína (NAC) por apresentar propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes e desintoxicantes sobre o tecido hepático, inibi o dano tecidual causado pelo estresse oxidativo em humanos e animais experimentais (Kelly, 1998; Zafarullah et al., 2003). O tratamento com antioxidantes, inclusive a NAC tem mostrado atenuar fibrose intersticial em vários processos patológicos (Poli e Parola, 1997; Zafarullah et al., 2003). Por estas propriedades, a NAC tem sido a droga de escolha para o tratamento da insuficiência hepática induzida por paracetamol (Hardman, Limbird e Gilman; 2001). Lauz e colaboradores (2004) concluíram que a NAC previne a lise celular e mantém a função hepática diante da isquemia e reperfusão que o órgão é submetido no ato operatório em modelo experimental. A N-acetilcisteína (NAC) é um tiol de baixo peso molecular, composto precursor da L-cisteína e glutationa reduzida nas células. É uma fonte de grupos sulfidril e removedores de substâncias reativas como OH e H2O2 geradas pela reação dos peroxinitritos, com NO e superóxido (Zafarullah, 2003, Pinho et al., 2005). É uma droga bem absorvida e rapidamente metabolizada, somente cerca de 10% da amostra ingerida permanece na circulação por um tempo razoável, sendo a maior parte da droga consumida na produção de glutationa 59 intracelular, em um extenso metabolismo de primeira passagem no fígado (Vincenzini et al., 1998). Diante do que foi exposto e considerando as propriedades farmacológicas da NAC sob a função hepática e sendo a esquistossomose mansoni uma patologia com extensas alterações hepáticas, propomos neste trabalho, investigar os efeitos deste fármaco na modulação granulomatosa esquistossomótica e imunológica em camundongos infectados pelo S. mansoni em diferentes fases de infecção (agudo, intermediário e crônico), podendo assim contribuir junto à terapia convencional do Praziquantel na melhora da morbidade na esquistossomose. 2 Operacionalização da Pesquisa 2.1 Animais, infecção e considerações éticas Foram utilizados camundongos fêmeas, Swiss Webster, pesando entre 28-30 gramas, com 28 dias de idade, mantidos no biotério do Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami da Universidade Federal de Pernambuco (LIKA-UFPE) de acordo com condições padronizadas de criação. Para a infecção dos camundongos foi utilizada a cepa de Schistosoma mansoni, Belo Horizonte – Minas Gerais (BH), mantida pelo Laboratório de Imunologia de Doenças Parasitárias e de Esquistossomose Experimental – LIKA - UFPE, através de passagens sucessivas da cepa em caramujos da espécie Biomphalaria glabrata. Após obtenção de suspensão cercariana, os camundongos foram infectados via percutânea com 50 cercárias (Olivier and Stirewalt, 1952). Todo procedimento experimental foi aprovado pela Comissão de Ética em Experimentação Animal (CEEA/UFPE) (processo numero 23076.021878/2008-66). 2.2 Formação dos grupos experimentais e esquema terapêutico com NAC e/ou PZQ Estudos indicam que a fase crônica da infecção esquistossomótica em camundongos é estabelecida a partir da 12ª semana após a infecção (Fallon, 2000a; Pearce and Mcdonald, 2002), entretanto a fibrose hepática periportal começa a esboçar-se a partir da 16ª semana (Andrade and Cheever, 1993; Coutinho et al., 2007). Para o presente estudo, foi estabelecido que o tempo decorrido entre o tempo de infecção e eutanásia fosse de 60 (G1), 90 (G2) e 120 (G3) dias, para avaliação das fases aguda, intermediária e crônica, respectivamente. 60 Os camundongos foram divididos em três grupos experimentais de acordo com o tempo de intervenção terapêutica e eutanásia. Cada grupo experimental foi formado por 4 subgrupos com 9 animais cada de acordo com o quadro abaixo: QUADRO 1 Definição dos grupos e subgrupos experimentais e esquema terapêutico com a N-acetilcisteina (NAC) e Praziquantel (PZQ). Esquema terapêutico Grupos Subgrupos experimentais experimentais NAC 200mg/Kg/dia PZQ 100mg/Kg/dia Controle NAC PZQ NAC+PZQ Administrada do dia Administrado do 45º subsequente à infecção dia após a infecção até o 60º diaa. até o 49º dia Controle Grupo 2 (G2) NAC Fase PZQ intermediária NAC+PZQ Administrado do 45º Administrado do 45º dia após a infecção até dia após a infecção o 90º diaa. até o 49º dia Grupo 1 (G1) Fase aguda Controle Administrado do 45º dia Administrado do 45º Grupo 3 (G3) NAC após a infecção até 120º dia após a infecção Fase crônica PZQ diaa. até o 49º dia. NAC+PZQ a O término do tratamento corresponde ao dia da eutanásia. O tratamento com a NAC na concentração de 200mg/Kg/dia foi baseado nos trabalhos de Jones AL e colaboradores (1994) e Yang e colaboradores (1998) envolvendo estudos com humanos e com animais cirróticos e de Fan e colaboradores (2007) ao estudar o efeito da NAC na infecção experimental pelo S. japonicum. O esquema terapêutico adotado com o praziquantel teve por objetivo alcançar a cura parasitológica, desta forma interferindo na postura diária dos ovos considerado potencial fator fibrogênico. Assim buscamos a uniformidade do quadro fisiopatológico dos granulomas já instalados podendo mensurar com maior fidedignidade a ação da NAC como fármaco adjuvante no tratamento da esquistossomose após terapia especifica. A NAC (Sigma) foi diluída em solução salina e o PZQ (Sigma) foi suspendido em Cremophor EL a 2%, ambos administrados por tubagem esofágica. Os animais dos subgrupos controle, livre de NAC e/ou PZQ, foram submetidos as mesmas condições que os demais 61 subgrupos experimentais. Decorrido o tempo de tratamento de cada grupo, os animais foram eutanasiados por deslocamento cervical (Martinez et al., 2003). 2.3 Estudo parasitológico 2.4 Recuperação dos vermes Os vermes foram recuperados por meio da perfusão do sistema venoso portal e veias mesentéricas de acordo com a técnica Pellegrino e Siqueira (1956) e Duvall e De Witt (1967). Ao final foi realizada a quantificação dos vermes adultos machos e fêmeas. 2.5 Oograma Fragmentos intestinais dos animais foram empregados para a avaliação do padrão de ovoposição através da técnica do oograma. Os ovos encontrados foram contados e classificados em seus diferentes estágios de desenvolvimento e ovos mortos, segundo critérios propostos por Pellegrino e colaboradores (1962). 2.6 Estudo histopatológico e morfométrico de tecido hepático Fragmentos de fígado de cada animal foram fixados em formaldeído a 10% tamponado em PBS e processados para inclusão em parafina. Posteriormente, realizado cortes histológicos de 5µm de espessura. Para cada amostra de tecido hepático foram confeccionadas três laminas histológicas, coradas pelas técnicas de hematoxilina-eosina (HE), picrosirius-red (PR) e tricrômico de Masson (TM) (Junqueira; Bignolos and Brentani, 1979). Para a análise do infiltrado inflamatório foram utilizadas as amostras coradas pela técnica de HE. As colorações de PR e TM foram empregadas para a determinação do grau de fibrose (classificados em: leve, moderado e intenso, de acordo com o arranjo das fibras de colágeno e a deposição desta proteína no tecido hepático), mensuração do diâmetro médio dos granulomas viáveis (com ovo, ou vestígio de ovo central) e do número médio de granulomas capturados em cinco campos aleatórios (área total de campo = 12.234 μm2, área total visualizada = 61.170μm2) em amostras histológicas de cada animal por subgrupo. Para obtenção das imagens das amostras foi utilizado microscópio óptico acoplado a câmera digital 62 e sistema computadorizado com linguagem orientada para leitura de imagem pelo software Motic Images Plus 2.0 ML®. 2.7 Cultura de células esplênicas Após término da terapia experimental de cada grupo, os baços dos camundongos foram retirados de maneira asséptica, e colocados em meio RPMI 1640 para transporte. Em fluxo laminar os mesmos foram macerados em placas de Petri junto ao meio RPMI 1640 (Sigma Chemical, St. Louis, Mo., USA) complementado com HEPES (10mM), 2mercaptoetanol (0,05mM) 216mg de L-glutamina e antibiótico gentamicina 50mg/L e posteriormente levados à centrifugação a 4°C por 10 minutos, a 1500 rpm. Após este procedimento as hemácias foram lisadas pela adição de água estéril ao precipitado por 18 segundos (1mL/baço). Posteriormente as células foram ressuspendidas em meio RPMI complementado e mantidas refrigeradas durante cinco minutos para a formação de grumos. O sobrenadante foi então transferido para outro tubo de ensaio para a realização de uma nova centrifugação a 4°C por 10 minutos, a 1500 rpm. e o precipitado foi ressuspendido em meio RPMI suplementado com 10% de Soro Bovino Fetal (Sigma Chemical, St. Louis, Mo., USA) As células foram contadas e avaliadas quanto à viabilidade diluindo-se a suspensão em Azul de Trypan 0,2%. (1:10) e contando as células em câmara de Newbauer. As células ressuspendidas foram cultivadas em placas de 48 poços nunca concentração de 5x10 6 células/mL estimuladas por na SEA (20μg/mL). As placas foram incubadas a 37ºC, a 5% de CO2 e após 24h e 72h coletado os sobrenadantes para posterior análise da produção das citocinas IL-4, IL-10, INF- γ e Oxido nítrico. 2.7.1 Dosagem de Nitrito O acúmulo de Nitrito (NO2-) em sobrenadantes de cultura de células de 72 h foi usado como indicador de produção de NO, determinado pela reação de Griess. Nitrite de sódio foi utilizado como padrão (1,56 a 50 μM). 50 μL de sobrenadante foi incubado 10 min, ao abrigo da luz, a temperatura ambiente com 50μL de reagente de Griess (N-[1-naphthyl]ethylenediamine (1mg/mL), sulfanilamide (10 mg/mL), e 5% ácido fosfórico em água destilada. A absorbância foi medida a 540 nm em leitor de ELISA. 63 2.7.2 Dosagem de Citocinas Os níveis das citocinas IL-4, IL-10 e INF- γ no sobrenadante das células esplênicas foram determinados por ELISA sanduiche (Enzyme linked immunosorbent assay). A produção das citocinas foi determinada utilizando pares de anticorpos e citocina recombinante da BD seguindo as instruções do fabricante: anti-IL4 (11B11 a 4g/ml) e anti-IL4 biotinilado (BVD6.24G2, a 1g/ml), anti-IL10 (C252-2A5, a 8g/ml); anti-IL10 biotinilado (SXC1, a 2g/ml)) e anti-INF(XMG 1.2, a 4g/ml) anti-INF biotiniladoN18, a 2g/ml). A reação foi incubada com streptavidin-peroxidase (Sigma) e revelada utilizando ABTS [(2,2’-azinobis (3-ethylbenzthiazoline-6-sulfonic acid)] (Sigma Chemical, St. Louis, MO, USA). A leitura foi determinada a 405 nm. Os resultados são apresentados como as médias aritméticas das dosagens de culturas em duplicatas de 5-8 animais por subgrupo ± erro padrão. 2.8 Análise Estatística Foi utilizado o programa GraphPad Prism 3.02 e aplicado o teste de Tukey para comparar diferenças entre os grupos e subgrupos com nível de significância de 5% (p< 0,05) para todos os casos. 3 RESULTADOS 3.1 Análise parasitológica Na tabela 1 encontram-se os dados referente a recuperação de vermes e o padrão de ovoposição de camundongos infectados pelo S. mansoni, tratados ou não tratados com Nacetilcisteína e/ou Praziquantel. Em todos os grupos, os subgrupos Controle e NAC não apresentaram diferença significativa no número de vermes adultos. Entretanto, os subgrupos PZQ e NAC+PZQ nenhum verme foi recuperado atingindo, portanto 100% de eficácia terapêutica. O padrão de ovoposição mostrou-se normal, não havendo diferença significativa entre os subgrupos Controle e NAC nos diferentes tempos de tratamento. Entretanto, nos subgrupos PZQ e NAC+PZQ o oograma apresentou alteração. 64 Tabela 01 - Vermes adultos de S. mansoni recuperados pela técnica de perfusão do fígado e veias mesentéricas e oograma em camundongos tratados com N-acetilcisteína e/ou Praziquantel em diferentes fases de infecção. Grupos Experimentais Média de vermes adultos recuperados % de ovos por estádios de desenvolvimento % de redução de vermes Imaturos Maduros Inviáveis 11,0±2,23 8,0±1,12 19,0±3,28 - 58,12±2,0 33,14±2,2 8,74±0,81 6,75±0,75 6,25±0,94 13,0±1,68 0,0±0,0 0,0±0,0 0,0±0,0 0,0±0,0 0,0±0,0 0,0±0,0 31,58 100,0 100,0 Machos Fêmeas Total G1-60 dias Subgrupos (n=9) Controle NAC PZQ NAC+PZQ 59,34±2,35 32,96±2,58 7,69±0,67 0,0±0,0 9,7±1,26 90,3±1,26 0,0±0,0 17,38±3,17 82,63±3,17 G2-90 dias Subgrupos (n=9) Controle NAC PZQ NAC+PZQ 9,8±0,73 7,0±0,89 16,8±0,73 - 49,95±2,91 42,23±2,46 7,824±0,67 10,5±0,5 0,0±0,0 0,0±0,0 6,75±1,1 0,0±0,0 0,0±0,0 17,25±1,1 0,0±0,0 0,0±0,0 100,0 100,0 51,46±2,47 0,0±0,0 0,0±0,0 10,48±0,92 0,0±0,0 0,0±0,0 9,75±0,75 6,25±1,54 16,0±1,08 - 51,6±2,12 38,06±1,18 10,34±1,09 11,2±1,74 8,8±1,49 20,0±3,03 0,0±0,0 0,0±0,0 0,0±0,0 0,0±0,0 0,0±0,0 0,0±0,0 100,0 100,0 53,63±3,3 0,0±0,0 0,0±0,0 33,89±2,5 0,0±0,0 0,0±0,0 38,06±1,8 0,0±0,0 0,0±0,0 G3-120 dias Subgrupos (n=9) Controle NAC PZQ NAC+PZQ 12,49±1,42 0,0±0,0 0,0±0,0 Notas: Valores expressos em média ± erro padrão 3.2 Análise histopatológica 3.2.1 Fase aguda – 60 dias Nos subgrupos G1-Controle e G1-NAC foram visualizados no tecido hepático, granulomas periovulares do tipo exsudativo, caracterizados por intenso infiltrado inflamatório composto por polimorfonucleares eosinófilos e neutrófilos, além de escassos macrófagos e linfócitos circundando ovo central em degeneração (figura 7A), sendo distribuídos predominantemente de modo isolado nos pequenos e grandes espaços-porta. Os subgrupos G1-PZQ e G1-NAC+PZQ apresentaram granulomas periovulares exsudativos, alguns em conglomerados devido a coalescência desses granulomas nos espaços-porta, exibindo, alguns animais, necrose coagulativa central (figura 7B) e focos isolados de hepatite reacional 65 eosinofílica difusa visualizados nos médios e grandes espaços-porta. Ademais, e em todos os subgrupos a cápsula hepática encontrava-se íntegra. 3.2.2 Fase intermediária- 90 dias Aos 90 dias após a infecção, independente do esquema terapêutico empregado, as amostras de tecido hepático exibiram granulomas periovulares, distribuídos nos espaços-porta isoladamente ou em coalescência, predominantemente do tipo produtivo com margens bemdelimitadas, sendo compostos por macrófagos e alguns linfócitos dispostos em proximidade ao ovo ou vestígio de ovo central, além de escassos eosinófilos (figuras 7C e 7D). Em alguns campos microscópicos, foram visualizados granulomas caracteristicamente exsudativos nos animais dos subgrupos G2-Controle e G2-NAC. Adicionalmente, a cápsula hepática encontrava-se íntegra e grande quantidade de pigmentação pardo-amarelada, compatível com pigmento esquistossomótico, foi visualizada nos espaços-porta e no parênquima hepático (figura 7D). 3.2.3 Fase crônica – 120 dias Após 120 dias de infecção, as análises histopatológica do tecido hepático dos animais avaliados apresentaram diferenças consideráveis entre os subgrupos experimentais. Nos subgrupos G3-Controle e G3-NAC, os granulomas esquistossomóticos foram, em sua maioria, do tipo produtivo, dispondo-se nos espaços-porta e no parênquima hepático de forma coalescente ou isolada (figura 7E), exibindo em algumas áreas extenso comprometimento periportal, decorrente da grande deposição de ovos, ocasionando aumento da vascularização, hiperplasia de ductos bilíferos e intenso infiltrado inflamatório crônico (fibrose hepática periportal murina) (figura 7G). Ainda nestes grupos, visualizou-se grande acúmulo de pigmento esquistossomótico nos espaços-porta e a cápsula hepática encontrava-se íntegra, embora em alguns animais tenha sido visualizado significativo abaulamento da superfície externa do fígado devido ao crescimento periférico dos granulomas. Os subgrupos G3-PZQ e G3-NAC+PZQ apresentavam em sua maioria granulomas do tipo produtivo com evolução para cicatrização fibrótica, distribuídos isoladamente ou em coalescência nos espaços-porta (figura 7F). 66 Figura 7 – Fotomicrografias de tecido hepático de camundongos esquistossomóticos nas fases aguda (A e B), intermediária (C e D) e crônica (E, F e G) da infecção pelo S. mansoni (H.E). A – G1-NAC – granuloma periovular exsudativo com intenso infiltrado inflamatório composto por neutrófilos e escassos macrófagos e linfócitos circundando o ovo central em degeneração (400x); B – G1-NAC+PZQ – necrose coagulativa central em granuloma periovular (200x); C – G2-Controle – granuloma esquistossomótico produtivo de margem bemdelimitada, composto por macrófagos, linfócitos e escassos eosinófilos (400x); D – G2-NAC+PZQ – granuloma periovular produtivo apresentando menor tamanho que o da figura C e deposição de pigmento esquistossomótico (seta) (400x); E – G3-NAC – granulomas periovulares isolados ou coalescente (100x); F – G3-NAC+PZQ – granulomas isolados e nódulos fibróticos exibindo menor tamanho que os observados na figura E (100x); G – G3-Controle – extensa fibrose proeminente vascularização e hiperplasia dos ductos biliares entre espaços-porta (fibrose periportal murina (400x). 67 3.3 Análise morfométrica dos granulomas esquistossomóticos De acordo com a tabela 2 o esquema terapêutico e o tempo decorrido após a infecção (60, 90 e 120 dias) são fatores que influenciaram na redução do número e no tamanho do diâmetro médio dos granulomas hepáticos esquistossomóticos. O número médio dos granulomas em todos os tempos de infecção apresentou diferença significativa (p < 0.001) entre os subgrupos Controle e NAC quando comparados aos subgrupos PZQ e NAC+PZQ, com redução percentual variando entre 71,09% (G1-PZQ) e 94,07% (G3-NAC+PZQ) (tabela 2). Entretanto, o subgrupo G1-NAC apresentou redução percentual no número médio dos granulomas de 43,64%. Porém, tal redução pode ser justificada pela menor carga parasitária encontrada neste subgrupo (tabela 2). Com relação ao diâmetro médio dos granulomas esquistossomóticos na fase aguda da infecção, foi visualizada discreta redução entre os subgrupos G1-NAC e G1-PZQ quando comparados ao G1-Controle. Apenas o subgrupo G1-NAC+PZQ apresentou diferença significativa (p < 0.001) quando comparado ao seu respectivo controle (tabela 02). Entretanto, a análise intragrupo das fases intermediária (G2) e crônica (G3) da infecção, mostrou redução significativa (p < 0.001) no diâmetro dos granulomas entre todos os subgrupos experimentais quando comparados ao subgrupo controle. Adicionalmente, a análise intergrupo mostrou que mesmo havendo uma modulação natural no diâmetro médio do granuloma no decorre da infecção, o tratamento com NAC e/ou PZQ incrementam de forma significativa essa modulação, especialmente nos subgrupos G2 (tabela 2 e Figura 7D). 68 Tabela 2 Número e diâmetro médio de granulomas esquistossomóticos em tecido hepático de camundongos infectados pelo S. mansoni e tratados com N-acetilcisteína (NAC) e/ou Praziquantel (PZQ) em diferentes fases de infecção. Granulomas esquistossomóticos Grupos experimentais Número médio* % de redução Diâmetro médio**(µm) % de Redução G1-60 dias Subgrupos (n=9) Controle NAC PZQ NAC+PZQ 10,38±1,29 5,85±0,55a 3,0±0,63a 1,87±0,35a 43,64 71,09 81,98 340,1±7,73 312,0±14,91 321,1±12,64 293,0±5,08a 8,26 5,58 13,84 G2-90 dias Subgrupos (n=9) Controle NAC PZQ NAC+PZQ 13,71±1,71 11,13±1,59 1,22±0,46a 1,25±0,36a 18,81 91,10 90,88 295,1±7,26b 184,1±4,56a,c 176,1±11,62a,d 163,8±7,34a,e 37,61 40,32 44,49 G3-120 dias Subgrupos (n=9) Controle NAC PZQ NAC+PZQ 13,0±1,94 12,4±1,69 1,37±0,37a 0,77±0,27a 4,61 89,46 94,07 249,7±11,72b 160,6±6,6a,c 170,7±12,67a,d 154,2±6,4a,e 35,68 31,63 38,24 Notas: Valores expressos em média ± erro padrão * Número de granulomas em cinco campos aleatórios. ** Diâmetro do granuloma em cinco campos aleatórios. a diferença significativa intragrupo com o subgrupo controle (p < 0.001). b diferença significativa intergrupo com o subgrupo G1-veículo (p < 0.001). c diferença significativa intergrupo com o subgrupo G1-NAC (p < 0.001). d diferença significativa intergrupo com o subgrupo G1-PZQ (p < 0.001). e diferença significativa intergrupo com o subgrupo G1-NAC+PZQ (p < 0.001). 3.4 Análise do grau de fibrose nos granulomas esquistossomóticos A tabela 3 mostra a distribuição do grau de fibrose nos granulomas esquistossomóticos em tecido hepático em diferentes fases da infecção. Na fase aguda, foi evidenciado leve grau de deposição de fibras colágenas, delicadas, irregulares, fragmentadas, frouxamente organizadas e distribuídas de forma concêntrica no perímetro dos granulomas esquistossomóticos, em todos os subgrupos estudados (figura 8 A e B). Na fase intermediária da infecção, o grau de deposição de fibras colágenas variou de acordo com os subgrupos 69 estudados. O subgrupo G2-Controle apresentou 66.6% das amostras de tecido hepático classificadas com grau de fibrose moderado, sendo visualizada moderada deposição de fibras colágeno, definidas e organizadas com feixes mais densos e de coloração mais intensa que o grau leve (figura 8 B e C). No subgrupo G2-PZQ 5 das 9 (55%) amostras de tecido hepático foram classificados como intensa deposição de colágeno, sendo visualizada fibras colágenas compactadas e densamente distribuídas de forma periférica e central ao granuloma esquistossomótico e intensa coloração em azul pelo Tricromico de Masson e vermelho pelo picrosiruis red (figura 8C e D). Por outro lado, os subgrupos G2-NAC e G2-NAC+PZQ apresentaram 77.7% das amostras histológicas classificados como grau leve no depósito de colágeno. Na fase crônica da infecção, observou-se que o grau de fibrose foi de moderado a intenso no subgrupo G3-Controle (44.4%), intenso no G3-PZQ (66.6%) e eleve no G3-NAC (55.5%), de leve a moderado no subgrupo G3-NAC+PZQ (44.4%). Tabela 3 Distribuição do grau de fibrose nos granulomas esquistossomóticos em tecido hepático de camundongos infectados pelo S. mansoni em diferentes fases da infecção e tratados com N-aceitlcisteína (NAC) e/ou Praziquantel (PZQ). Grau de fibrose Grupos experimentais Leve n (%) Moderado n (%) Intenso n (%) G1-60 dias Subgrupos (n=9) Controle NAC PZQ NAC+PZQ 8/9 (88.8) 8/9 (88.8) 8/9(88.8) 6/9(66.6) 1/9 (11.1) 1/9 (11.1) 2/9 (22.2) 1/9 (11.1) 1/9 (11.1) G2-90 dias Subgrupos (n=9) Controle NAC PZQ NAC+PZQ 3/9 (33.3) 7/9 (77.7) 1/9 (11.1) 7/9(77.7) 6/9 (66.6) 1/9 (11.1) 3/9 (33.3) 2/9 (22.2) 1/9 (11.1) 5/9 (55.5) - G3-120 dias Subgrupos (n=9) Controle NAC PZQ NAC+PZQ 1/9 (11.1) 5/9 (55.5) 2/9 (22.2) 4/9 (44.4) 4/9 (44.4) 2/9 (22.2) 1/9 (11.1) 4/9 (44.4) 4/9 (44.4) 2/9 (22.2) 6/9 (66.6) 1/9 (11.1) 70 Figura 8 – Fotomicrografias de tecido hepático de camundongos infectados pelo S. mansoni empregadas para a classificação do grau de fibrose definida através das colorações histoquímicas de tricrômico de Masson (lado direito) e picrosirius-red (lado esquerdo), segundo critérios adotados para as análises histopatológicas. A e B - G1-NAC - leve grau de deposição de fibras colágenas, delicadas, irregulares, fragmentadas, frouxamente organizadas e distribuídas de forma concêntrica no perímetro dos granulomas esquistossomóticos (400x); C e D – G2 – Controle - moderada deposição de fibras colágeno (400x); E e F – G2-PZQ - intensa deposição de colágeno, sendo visualizada fibras colágenas compactadas e densamente distribuídas de forma periférica e central ao granuloma esquistossomótico (400X). 71 3.5 Níveis de Citocinas e Óxido Nítrico Na figura 9 encontram-se expressos os níveis de IL-4, IL-10, NO e INF das culturas de células esplênicas estimuladas por antígeno solúvel de ovos de S. mansoni. Em todas as fases da infecção os níveis de IL-4 nos subgrupos NAC foram semelhantes ao respectivo Controle, mostrando assim que para este modelo experimental a NAC não exerce influência sobre os níveis desta citocina. Por outro lado, nos subgrupos PZQ aos 60 e 90 dias após a infecção, ocorreu redução significativa (p<0,001) nos níveis de IL-4. Entretanto, aos 120 após a infecção níveis mais elevados de IL-4 são produzidos neste subgrupo (figura 9A). Com relação a citocina IL-10 foi observada diferença no perfil de resposta dependendo do tempo de infecção e esquema terapêutico. Aos 60 dias após a infecção os níveis de IL-10 mostraram-se reduzidos em todos os subgrupos estudados (figura 9B). Entretanto, 90 dias após a infecção ocorreu aumento significativo (p<0,001) da IL-10 nos subgrupos NAC e NAC+PZQ. Ao passo que, aos 120 dias após a infecção os níveis desta citocina foram semelhantes ao controle nestes subgrupos. Adicionalmente, os animais tratados com o PZQ apresentaram uma inversão nos níveis de IL-10, sendo esta negativa aos 90 dias e positiva aos 120 dias após a infecção (figura 9B). Os animais tratados com NAC e NAC+PZQ apresentaram redução na síntese de NO em todas as fases de infecção, por outro lado os animais tratados com PZQ apresentaram níveis semelhantes ao controle (figura 9C). Com relação aos níveis de INF- os subgrupos tratados com NAC apresentaram redução em todos os tempos de infecção (figura 9D). Por outro lado, nos animais tratados com PZQ foram observados aumento de INF- aos 60 dias após a infecção, redução aos 90 e níveis semelhantes ao controle aos 120 dias após a infecção. 72 A 140 IL-4 (pg/mL) 120 100 80 * 60 * 40 20 * * 60 DIAS le N AC N PZ AC Q +P ZQ tro le N AC N PZ AC Q +P ZQ C on tro C on C on tro le N AC N PZ AC Q +P ZQ 0 90 DIAS 120 DIAS B 14000 IL-10 (pg/mL) 12000 * * 10000 * 8000 6000 4000 2000 60 DIAS AC P N AC ZQ +P ZQ on t C 90 DIAS N ro l e AC P N AC ZQ +P ZQ N e ro l C on t N AC N PZ AC Q +P ZQ C on t ro l e 0 120 DIAS C Óxido nítrico (M) 60 50 40 30 20 * * * * 10 on t ro le N AC P N AC ZQ +P ZQ C on t ro le N AC P N AC ZQ +P ZQ C C on t ro le N AC P N AC ZQ +P ZQ 0 60 DIAS 90 DIAS 120 DIAS D 14000 * 10000 * 8000 * 6000 * 4000 * 2000 60 dias 90 dias on t ro le N AC N PZ AC Q +P ZQ C on t ro le N AC N PZ AC Q +P ZQ C on t ro le N AC N PZ AC Q +P ZQ 0 C IFN gama (pg/mL) 12000 120 dias . Figura 9 Níveis de IL4, (A) IL-10 (B), NO (C) e IFN- (D) secretados por células esplênicas de camundongos infectados pelo S. mansoni tratados com Nacetilcisteína (NAC) e/ou Praziquantel (PZQ), eutanasiados aos 60, 90 e 120 dias após a infecção. As células foram estimulas por antígeno solúvel de ovos de S. mansoni (SEA). Os resultados estão expressos em média das culturas em duplicatas de 5-8 animais por subgrupo ± erro padrão. *p < 0,001 comparado ao subgrupo controle. 73 4 DISCUSSÃO A quimioterapia com o Praziquantel (PZQ) tem se mostrado eficaz na redução da morbidade e mortalidade esquistossomótica (Ferrari et al., 2003; Doenhoff and PicaMattoccia, 2006). Na atualidade o PZQ é o único fármaco responsável por essa ação, sendo altamente eficaz contra todas as espécies de Schistosoma com importância em saúde pública. Mesmo assim, a investigação e desenvolvimento de novas drogas esquistossomicidas é uma necessidade premente (Albuquerque et al, 2005; Albuquerque et al. 2007; Magalhães et al. 2009; Abdul-Ghani et al. 2009; Magalhes et al. 2010). Na terapia experimental da esquistossomose mansoni em camundongos a cura parasitológica com o PZQ esta na dependência do tempo da infecção, do sexo dos vermes, se estes estão ou não pareados, da dose e da cepa do parasito (You-Sheng et al., 2001; CIOLI; PICA-MATTOCCIA, 2004). No presente estudo, a dose de 100 mg/Kg/dia de PZQ administrada durante cinco dias consecutivos, entre o 45º e 49º dias após a infecção conferiu cura parasitológica de 100% em todos os subgrupos onde o PZQ fazia parte do esquema terapêutico. Este resultado é semelhante ao de Drescher e colaboradores (1993), cuja sensibilidade da cepa BH de S. mansoni frente ao PZQ apresentou eficácia de 99,4% com a dose de 100mg/kg por cinco dias. Com a descoberta do PZQ e a ocorrência da esquistossomose exclusivamente em países em desenvolvimento, a indústria farmacêutica pouco tem investido em novas tecnologias para o desenvolvimento de novos fármacos esquistossomicidas, bem como drogas capazes de atuarem sobre as alterações fisiopatológicas na esquistossomose. Na clínica a N-acetilcisteina vem sendo amplamente empregada para tratar uma variedade de patologias, incluindo a fibrose cística (Tirouvanziam, 2006; Henke and Ratjen, 2007), a doença pulmonar obstrutiva crônica (Kasielski and Nowak, 2001; Henke and Ratjen, 2007), a toxicidade associada às lesões hepáticas (Prescott, 2005) e a cirrose biliar (Mani et al. 2006), além de ter sido empregada para elevar os níveis de glutationa em eritrócitos e linfócitos melhorando a função das células T em portadores da imunodeficiência adquirida humana (De Rosa et al. 2000). A NAC contribui para a síntese da glutationa, um dos desintoxicantes naturais mais importantes e poderosos no organismo humano, especialmente no fígado (De Flora et al, 1991; Pinho et al. 2005). Possui papel-chave na homeostase celular, visto que a depleção de glutationa pode causar morte celular devido à peroxidação lipídica e declínio nos níveis de tiol-proteínas (Reed et al. 1984). A NAC pode atuar diretamente reduzindo os níveis de radicais superóxidos in vivo e in vitro (Aruoma et al. 1989) e como “varredora” de radicais de 74 peróxido de hidrogênio, ácido hipoclórico e radical hidroxil, assim como inibir a liberação de TNF-α, a ativação de citocinas pró-inflamatórias e apoptose celular (Pinho et al. 2005). Na esquistossomose mansoni os ovos são responsáveis pelas manifestações clinicas mais importantes da doença ao serem retidos na mucosa intestinal ou arrastados pela circulação sanguinea até o fígado. Inicialmente, o ovo induz a formação de um processo inflamatório granulomatoso agudo, que se desenvolve ao redor dos mesmos, em decorrência da eliminação de antígenos do miracídio, chamados genericamente de SEA (Soluble egg antigens), que estimula células e citocinas específicas (Hang et Al., 1974; Wyler et al., 1978), favorecendo, assim, a formação de um infiltrado de células inflamatórias, processo que termina com a formação de uma cicatriz fibrótica no curso mais avançado da infecção (Zilton 2005). Os granulomas são compostos, principalmente, por fibras colágenas, macrófagos, eosinófilos, linfócitos e plasmócitos em proporções diferentes, variando nos diferentes órgãos e em função da fase de sua evolução (Pearce and Macdonald 2002) e é coordenado pela influência de uma rede de mediadores inflamatórios (Wynn et al. 1995; Conlon 2005). Imunologicamente a esquistossomose mansoni é caracterizada por uma dicotomia na síntese de interleucinas. No período prepatente é observado aumento das citocinas do tipo Th1 (Wynn et al. 1993), seguido, pelo aumento de citocinas do perfil Th2 logo após a deposição de ovos do parasito no hospedeiro (Gryzch et al. 1991). Esta mudança de perfil imune apresenta relação direta com a formação do granuloma, mostrando assim, um importante papel da imunomodulação pelas citocinas na esquistossomose. Estudos demonstram que a quimioterapia com o PZQ modula a resposta imune humoral e celular de indivíduos infectados pelo S. mansoni. Algumas dessas mudanças conferem uma proteção parcial envolvendo respostas do tipo Th2 (Reimert et al. 2006; Walter et al. 2006). Entretanto, tem sido sugerido que respostas polarizadas em Th1 ou Th2 são prejudiciais. Desta forma, é necessário que exista regulação destes perfis para conferir melhor proteção no curso da infecção (Hoffmann et al. 2000). Os achados histopatológicos em nosso estudo mostraram que nos animais tratados com NAC e/ou PZQ houve redução significativa no diâmetro médio dos granulomas esquistossomóticos hepáticos. Embora o tipo de granuloma predominante entre os subgrupos Controle e NAC nas diferentes fases de infecção não tenham diferido de forma significativa. A diminuição no tamanho do granuloma nos animais tratados com a NAC e/ou PZQ pode ser justificada pelo aumento da IL10. Neste estudo os níveis de IL-10 foram bem reduzidos aos 60 dias após a infecção. Estudos em seres humanos e camundongos infectados pelo Schistosoma indicam níveis mais elevados da IL-10 nas fases mais avançada da infecção 75 esquistossomótica (Bosshardt et al. 1997; Wynn et al. 1993; Montenegro et al. 1999; Van Den Biggelaar et al. 2000). Este fato foi evidenciado neste estudo nas fases intermediária (90 dias) e crônica (120 dias) da infecção. Aos 90 dias após a infecção os subgrupos tratados com NAC e NAC+PZQ apresentaram altos níveis de IL-10, sugerindo que neste grupo a NAC tenha apresentado efeito sobre a regulação desta citocina. Este resultado está de acordo com trabalhos que mostram que a administração de IL-10 leva a redução do tamanho do granuloma enquanto o inverso é observado em animais deficientes em IL-10 e infectado com S. mansoni (De'broski et al. 2008). Ademais, essa citocina exerce um papel essencial no processo de imunomodulação que ocorre na fase crônica da infecção esquistossomótica (Flores Villanueva et al., 1994; Sadler et al. 2003). A presença de IL-10 em pacientes com hepatoesplenomegalia tem sido considerada benéfica (Montenegro et al. 1999; Alves-Oliveira et al. 2006). A IL-10 regula a produção de várias citocinas pró-inflamatórias, sendo considerada um inibidor da síntese de IFN-γ. No presente estudo, os níveis de INF- nos subgrupos tratados com a NAC apresentaram redução em todos os tempos de infecção. Recentemente Martins-Leite e colaboradores (2008) demonstraram que indivíduos infectados pelo S. mansoni e tratados com PZQ, mas que ainda apresentavam fibrose tinham um perfil de baixa produção de IFN- e elevada produção de IL-13. Sendo esta última citocina destacada como importante marcador da morbidade nestes pacientes. Ainda neste trabalho os autores também observaram uma correlação negativa entre presença de IL-10 e fibrose antes e após tratamento. Pirrho e colaboradores (2003) demonstraram que camundongos infectados com S. mansoni e tratados com Dexametasona apresentaram redução no tamanho dos granulomas e deposito de colágeno, associando este fato à redução de IFN-, IL-12 e IL-4 e aumento da produção de IL-10. Hoffmann e colaboradores (2000) também observaram a participação da IL-10 em camundongos knockout para esta citocina e infectados pelo S. mansoni os quais manifestaram respostas Th1 e Th2 mistas e elevadas, com grande proliferação de linfócitos, maior número de células produtoras de IFN- e IL-4 e grande ampliação do quadro inflamatório, mostrando que a IL-10 é fundamental para o controle da polarização excessiva tanto das respostas Th1 quanto Th2, o que limita de forma significativa os danos causados pela intensa inflamação decorrente destas polarizações. De'Broski e colaboradores (2008) demonstraram que animais tratados com anti-IL-10 tem aumento da produção de IL-4, IFN-, 76 TNF e IL-17, com conseqüente aumento de granuloma hepático e exacerbação do dano hepatocelular. Neste modelo experimental, todos os subgrupos onde a NAC fazia parte do esquema terapêutico adotado os níveis de óxido nítrico foi significativamente reduzidos. Sugerindo influencia da ação da NAC como agente removedor de radical livre (NO) causado pelo estresse oxidativo na esquistossomose mansoni. Fan e colaboradores (2007) também observaram redução nos niveis de NO em camundongos infectados com S. japonicum e tratados com NAC. Halliwell e Gutteridge (2007) sugerem que a redução dos niveis de NO pela NAC seja por sua atuação como scavenger direto de NO e peroxinitrito e também pela redução dos níveis de IFN- e aumento na síntese de IL-10, dados semelhante aos nossos resultados. Talaat e colaboradores (2007) ao estudarem pacientes infectados pelo S. mansoni, não encontraram diferenças entre os níveis de IL-4 entre os indivíduos com diferentes graus de fibrose e nem entre eles e os indivíduos portadores da forma clínica intestinal. Morais e colaboradores (2002) ao avaliarem os níveis de IL-4 estimulados por SEA e SWAP de portadores da esquistossomose mansoni, concluem que não há diferença entre os indivíduos controle e os portadores da forma clínica aguda e crônica da infecção. Em nosso estudo a NAC parece não afetar a síntese de IL-4, visto que em todos os subgrupos níveis semelhantes aos respectivos controles foram observados. Por outro lado a administração do PZQ regulou negativamente a síntese desta citocina IL-4 aos 60 e 90 dias e positivamente aos 120 dias após a infecção. A fibrose é o resultado mais temível das doenças crônicas que afetam o fígado (Zilton, 2005). A fibrose hepática é caracterizada pelo acúmulo de matriz extracelular fibrótica, cuja presença danifica a arquitetura e funções hepáticas. No presente estudo a administração da NAC foi capaz de atuar sobre a síntese de colágeno, reduzindo o depósito desta proteína sobre o tecido hepático e o grau de fibrose nos granulomas esquistossomóticos. Segundo Makoto Segawa e colaboradores (2002) a diminuição no grau de fibrose pode ser explicada pelo fato da NAC estar suprimindo o gene promotor de colágeno a2, diminuindo assim sua síntese. Outra proposta para tal redução seria a capacidade da NAC em inativar parcialmente o fator nuclear kappa B (NFKB), o qual está implicado na ativação das células estreladas (Schereck et al, 1992). Em lesões agudas ou crônicas a célula estrelada de Ito, célula-chave na fibrogênese, sob influência de citocinas fibrogênicas, (TGF-β, TNF-α, PDGF e outras), se diferencia em miofibroblasto e fibroblasto, se engajando na síntese dos elementos da matriz 77 (colágenos, elastina, proteoglicanos e proteínas de constituição) (Geerts et al. 1994, Geerts 2001, Ramadori e Sail, 2002). O tratamento com antioxidantes, inclusive a NAC tem mostrado atenuar fibrose intersticial em vários processos patológicos (Poli; Parola, 1997; Zafarullah et al., 2003). Perreira-Filho e colaboradores (2008) evidenciaram em fígado de animais cirróticos, induzidos por tetracloreto de carbono que a NAC confere proteção contra a fibrose hepática e estresse oxidativo, observando redução de 400% no depósito de colágeno, no grau de fibrose classificada como leve a moderada, nos níveis de glutationa peroxidase e menor expressão da iNOS quando comparado com o grupo controle sem tratamento. Além da cura parasitológica na esquistossomose, o reparo das alterações hepáticas provocadas pelo processo granulomatoso é desejável. De acordo com os nossos resultados a NAC e a associação NAC+PZQ levou a uma redução da morbidade em camundongos experimentalmente infectados pelo S. mansoni, uma vez evidenciada a redução no tamanho dos granulomas hepáticos. Além disso, estes granulomas apresentaram uma menor deposição de fibra de colágeno o que pode proporcionar uma menor hipertensão portal e fibrose hepática e por consequência a não levaria a angiogênese. Também foi evidente que o tratamento com a NAC levou a uma redução significativa nos níveis de INF-γ e NO e um aumento de IL-10, citocina hoje considerada como chave para o desenvolvimento de um curso mais ameno da esquistossomose mansoni. Concluindo que a NAC neste modelo experimental através da modulação imunopatologica atenuou o dano ao tecido hepático de camundongos esquistossomóticos. 78 CONCLUSÕES “O desejo cumprido regozija a alma.” Provérbios 13:19 79 CONCLUSÕES Diante dos resultados apresentados, podemos concluir que: ● A NAC não apresenta atividade esquistossomicida, não altera o padrão de ovoposição e não tem influencia sobre o número médio de granulomas esquistossomóticos distribuídos em tecido hepático de camundongos infectados pelo S. mansoni. ● No esquema terapêutico adotado a administração do PZQ resultou em 100% de eficácia sobre os vermes adultos, e na diminuição do número médio de granulomas esquistossomóticos distribuídos em tecido hepático de camundongos infectados pelo S. mansoni. ● O modelo experimental adotado mostrou que há regressão natural no tamanho dos granulomas esquistossomóticos no curso da infecção, e que no esquema terapêutico empregado a NAC, PZQ e NAC+PZQ incrementaram esta regressão conduzindo a um processo patológico ameno. ● Neste modelo experimental a fibrose hepática esquistossomótica parece ser modulada pela NAC, a qual favoreceu a diminuição do grau de fibrose nos granulomas esquistossomóticos. ● A NAC e associação NAC+PZQ parece modular a resposta imunopatológica em camundongos infectados pelo S. mansoni ao conduzir aumento nos níveis de IL-10 e redução nos níveis de NO e INF-. 80 REFERÊNCIAS "Não basta conquistar a sabedoria, é preciso usá-la." Cícero 81 REFERÊNCIAS ABDUL-GHANI RA, LOUTFY N, HASSAN A. Experimentally promising antischistosomal drugs: a review of some drug candidates not reaching the clinical use. Parasitol Res 105:899– 906, 2009. ALBUQUERQUE, M. C. P. A. et al. Synthesis and schistosomicidal activity of new substituted thioxo-imidazoline compounds. Die Pharmazie (Berlin), v. 60, p. 13-17, 2005. ALBUQUERQUE, M. C. P. A. et al. Tegumental alterations in adult Schistosoma mansoni treated with imidazolidine derivatives. Lat. Am. J. Pharm., v. 26, n. 1, p. 65-9, 2007. ALVES-OLIVEIRA, L. F. et al. Cytokine production associated with periportal fibrosis during chronic schistosomiasis mansoni in humans. Infection and Immunity, v. 74, p. 1215, 2006. AMARAL, R. S. et al. An analysis of the impact of the Schistosomiasis control programme in Brazil. Mem. Inst. Oswaldo Cruz, v. 101, s. 1, p. 79-85, 2006. AMIRI, P. et al. 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