OBSERVATÓRIO NACIONAL MINISTÉRIO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ASTRONOMIA Caracterização das Populações Estelares da Via Láctea Monograa para o Exame de Qualicação Gustavo de Almeida Bragança Orientadora: Dra. Simone Daflon Rio de Janeiro 3 de Julho de 2012 Sumário Resumo iii Abstract iv 1 Introdução 1 2 Halo 5 3 Bojo 14 4 Disco 19 5 Sumário e perspectivas 27 Referências Bibliográcas 29 ii Resumo Nesta monograa, relataremos os principais tópicos discutidos atualmente sobre as populações estelares do halo, bojo e disco Galáctico. Na última década, foram feitas várias descobertas de subestruturas e sobredensidades no halo e no disco que corroboram a ideia de canibalização de galáxias e o modelo hierárquico de formação da Via Láctea. Alguns aglomerados globulares apresentam presença de múltiplas sequências principais e (anti)correlação entre razões de abundâncias de elemento químicos, o que alguns autores sugeriram ser fruto de múltiplas populações nestes aglomerados. Há evidências de que o halo possa ser dividido em duas componentes, porém há discordância sobre os resultados das análises destas evidências. No disco, há várias evidências de uma dicotomia, entretanto resultados mais recentes possivelmente apontam o contrário. O bojo possui uma população intrigante que possivelmente é mais enriquecida em metais quando comparada às populações do halo e do disco, e ainda não há um cenário completo que explique a formação desta população. Esta monograa, assim como sua apresentação e defesa, faz parte do exame de qualicação do programa de doutorado do Observatório Nacional. iii Abstract In this monograph, we will report the main topics that are being discussed on the subject of stellar populations of the Galactic halo, bulge and disk. In the last decade, several discoveries of substructures and overdensities in the halo and disk had been made, which reinforxes the idea of canibalization of galaxies and the hierarchical formation scenario of the Milky Way. Some globular clusters show multiple main sequences on the color-magnitude diagrams and (anti)correlation between chemical elements ratios, which some authors suggest are due to the presence of multiple stellar populations in these clusters. There are evidences that the halo might be separated in two components, thus there is disagreement on the results on the analysis of such evidences. Regarding the disk, the presence of a dichotomy was found almost three decades ago, however more recent results could possibly point that there is not a dichotomy. The bulge has an intriguing population that possibly is more chemically enriched when compared to the halo and disk populations, and there is not a complete formation scenario that ould explain this population. this monograph, as well its presentation and argumentation, is part of the qualifying examination of the Ph.D. program of this institution. iv Capítulo 1 Introdução Uma população estelar é denida como um conjunto de estrelas com idades, composições químicas e propriedades cinemáticas similares. Estes parâmetros são cruciais quando o objetivo é traçar a história da Galáxia através das estrelas (Mould 1982). O conceito de população estelar vem sendo construído por notáveis astrônomos como H. Shapley e R. J. Trumpler, mas foi Baade (1944) que cunhou o conceito geral. Durante a Segunda Guerra Mundial, Baade aproveitou os apagões de energia na cidade de Los Angles, E.U.A, para intensicar suas pesquisas no Observatório de Monte Wilson. Nessa época, ele conseguiu resolver o bojo da galáxia de Andrômeda e notou que as gigantes vermelhas desta galáxia são similares às estrelas mais brilhantes dos aglomerados globulares e que ambas compõem uma população de estrelas distintas da população de estrelas da vizinhança solar. King (1971) descreve uma visão histórica sobre populações estelares. Além disso, King dene populações estelares de uma forma interessante e que transcrevemos aqui: Just as the study of stellar atmospheres and interiors is the physiology of the stars, the study of populations is their ecology. It connects the nature, and numbers of stars with the environment in which they live. 1 Em termos iniciais, a idade era o parâmetro mais importante na denição de população. Isto pode ser visto através da denição de Baade, que separou as estrelas em duas populações: estrelas de População I são jovens e as de População II são velhas. Com as descobertas subsequentes, percebeu-se que a composição química é um fator importante na determinação de populações estelares. Já no século passado, cou claro que separar as estrelas em apenas duas populações não é o mais adequado; entretanto, estes termos ainda são usados quando o objetivo é se referir a uma população velha e pobre em metal (População II) e jovem e rica em metal (População I). No nal do século passado, foi cunhado o termo População III ao se referir às estrelas de primeira geração. As estrelas desta população teriam sido formadas no início do Universo a 1 Tradução livre: Assim como o estudo das atmosfera e interior estelares é a siologia das estrelas, o estudo das populações é sua ecologia. Conecta a natureza e o número de estrelas com o ambiente no qual elas vivem. 1 CAPÍTULO 1. 2 INTRODUÇÃO partir do gás primordial e, assim, possuíriam metalicidade nula. Devido a ausência de ? metais, a massa típica de uma estrela de população III seria bem alta ( ). Acredita-se que não haja exemplares desta população atualmente e que, se for possível encontrá-las, elas estariam a altos redshif ts (z ≈ 10 − 30). Rydberg et al. (2012) descrevem que as estrelas de população III poderão ser detectadas com o telescópio espacial James Webb se as estrelas forem muito massivas (> 300M ) e apenas utilizando lentes gravitacionais com alta magnicação. Um grande passo foi dado na melhor identicação de populações estelares da Galáxia 2 com o Sloan Digital Sky Survey (SDSS) . O SDSS (York et al. 2000) é um levantamento espectrofotométrico cobrindo aproximadamente um quarto do céu. O telescópio usado possui um diâmetro de 2.5 m e está localizado no Apache Point Observatory, New Mexico, E.U.A. As imagens são obtidas simultaneamente em cinco bandas (ugriz) e os dados são processados através de pipelines para medir as propriedades fotométricas e astrométricas. Recentemente foram publicados três estudos com dados do SDSS nos quais os autores realizam uma tomograa do céu. Os trabalhos são: • Juri¢ et al. (2008) estudaram a densidade do disco e do halo através de contagem estelar de aproximadamente 48 milhões de estrelas. As distâncias foram obtidas através de paralaxe fotométrica 3 resultando em distâncias desde 100 pc a 20 kpc e cobrindo uma área de 6500 graus quadrados do céu. A Fig. 1.1 retrata a densidade numérica de estrelas em funcão das coordenadas cilíndricas R e Z. Este é o retrato da Galáxia vista pelo SDSS I. • Ivezi¢ et al. (2008) obtêm metalicidade fotométrica para quase dois milhões de estrelas F e G a distâncias de 500 pc a 8 kpc do Sol. A metalicidade fotométrica foi obtida através de uma calibração realizada com espectros do SDSS para aproximadamente 60 mil estrelas anãs F e G da sequência principal. • Bond et al. (2010) estudaram a cinemática de 18.8 milhões de estrelas com magnitude r < 20 e medidas de movimento próprio do SDSS e do catálogo astrométrico Palomar Observatory Sky Survey (POSS). Estas estrelas possuem distâncias derivadas de paralaxe fotométrica e estão localizadas entre ∼ 100 pc a 10 kpc espalhadas em mais de um quadrante do céu e com latitudes |b| < 20◦ . Nesta monograa estaremo-nos referindo, em mais de uma vez, a estes três trabalhos. Considera-se o colapso monolítico sugerido por Eggen et al. (1962) como o modelo clássico de formação da Galáxia. Neste modelo, o gás primordial colapsou rapidamente 2 http://www.sdss.org/ 3A maior parte das estrelas são anãs e, assim, com uma relação cor-magnitude bem determinada. Com isso, é possível determinar a distãncia através das cores obtidas (Juri¢ et al. 2008). CAPÍTULO 1. 3 INTRODUÇÃO Figura 1.1: Densidade numérica de estrelas em função das coordenadas cilíndricas Z , para diferentes intervalos de cor r−i. do vermelho ao azul. polares φ. R e A densidade é mostrada em escala logaritímica Cada pixel corresponde ao valor médio para todos os ângulos Do gráco inferior a direita ao gráco superior a esquerda, o desvio do intervalo de cor em cada gráco para o azul permite obter distâncias maiores. Este é o retrato da Galáxia vista pelo SDSS. Fonte: Juri¢ et al. (2008). e, a partir deste gás, formaram-se as estruturas já conhecidas: halo, bojo e disco. Entretanto, o cenário de formação da Galáxia é mais complexo, como primeiro sugerido por Searle & Zinn (1978) e corroborado por grandes levantamentos recentes, tais quais CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO 4 o Two Micron All Sky Survey (2MASS, Majewski et al. 2003) e o SDSS. O 2MASS foi um levantamento fotométrico no infravermelho de todo o céu. Para obter uma cobertura completa do céu, foram utilizados dois telescópios de 1.3 m localizados em ambos hemisférios. Com os dados obtidos dos dois levantamentos, foi possível detectar subestruturas na nossa Galáxia, como Monoceros (SDSS, Newberg et al. 2002) e TriAnd (2MASS, Rocha-Pinto et al. 2004; Majewski et al. 2004). A existência de subestruturas e da galáxia esferoidal anã Sagittarius (Ibata et al. 1994) na nossa Galáxia é prova de que ocorre canibalização em nossa Galáxia. Com isso, seguindo a mudança no cenário de formação Galáctica, o estudo de populações estelares tornou-se mais complexo, estando muito ligado ao estudo da estrutura Galáctica. Nos próximos capítulos, descreveremos os principais tópicos discutidos recentemente na área de estudo das populações estelares de cada uma das componentes principais da Galáxia: halo (2), bojo (3) e disco (§4). No capítulo 5 concluímos e fornecemos as perspectivas futuras do campo. Capítulo 2 Halo O halo é a componente mais externa da nossa Galáxia. De acordo com o cenário de formação da Galáxia, esta componente foi a primeira a se formar, e com isso, é caracterizado por estrelas velhas e pobres em metais, ou seja, estrelas de População II. O halo é uma componente quasiestática, apresentando uma velocidade de rotação prógrada da ordem de vrot ∼ 20 velocidades com valores de A Fig. km s −1 , porém é a que tem maior dispersão de [σRH , σφH , σZH ] = [135, 85, 85] km s −1 1 (Bond et al. 2010) . 2.1 apresenta o halo no espaço de velocidades cilíndricas [vR , vφ , vZ ] com os dados do SDSS (Bond et al. 2010). As estrelas do halo formam um elipsóide que é claramente visto, assim como a inclinação no espaço do elipsóide de velocidades é consistente com vR × vZ . O ângulo da inclinação tan−1 (vZ /vR ) = R/z . Subestruturas De acordo com o modelo hierárquico de formação, nossa Galáxia formou-se através da acresção de sistemas menores. Uma das primeiras evidências diretas foi a descoberta do canibalismo em andamento de uma galáxia anã esferoidal: Sagittarius (Ibata et al. 1994). Com dados do 2MASS, Majewski et al. (2003) foram capazes de mapear o 2 núcleo e as faixas de maré desta galáxia em 360 ◦ (Fig. 2.2). Recentemente, foram identicadas outras subestruturas no halo Galáctico. RochaPinto et al. (2004) e Majewski et al. (2004), utilizando métodos e amostras distintas, encontraram uma sobredensidade de estrelas na região das constelações de Triangulum e Andromeda (de agora em diante, TriAnd). Estes trabalhos descreveram TriAnd como sendo uma sobredensidade extensa e difusa, sendo possivelmente um detrito de maré de alguma colisão. Além disso, TriAnd não apresenta um núcleo denido e sua distância está estimada entre aproximadamente 16 a 25 kpc (Majewski et al. 2004). Chou et al. (2011) realizaram o primeiro estudo espectroscópico de alta resolução de TriAnd ao analisar 6 gigantes M. Eles encontraram que o comportamento das abundâncias dos elementos-α segue a mesma tendência presente em galáxias anãs esferoidais, o 1 Em coordenadas esféricas, [σrH , σθH , σφH ] = [141, 75, 85] km s−1 . de maré são faixas de estrelas e/ou gás resultante da interação entre galáxais em processo de colisão. 2 Faixas 5 CAPÍTULO 2. 6 HALO Figura 2.1: Distribuições bidimensionais no espaço de velocidades para as estrelas de ambos hemisférios. As estrelas são do levantamento SDSS. No espaço VR ×VZ é possível notar o elipsóide de velocidade e que este é inclinado ao plano Galáctico. Fonte: Bond et al. (2010). que sugeriria sua origem extragaláctica. Martin et al. (2004) encontraram uma sobredensidade na direção da constelação do Canis Majoris e propuseram que esta fosse o núcelo progenitor de Monoceros. Esta é uma sobredensidade encontrada no disco que é discutida no Cap. 4. Entretanto, Mateu et al. (2009) apontaram que se a origem desta sobredensidade for extragalática, um excesso de mais de 100 RR Lyrae deveria estar presente nesta região, o que não foi encontrado. Este resultado sugeriria que esta sobredensidade é uma deformação do disco. Já Rocha-Pinto et al. (2006a) sugeriram 3 que o núcleo de Monoceros estaria localizado na antiga constelação de Argo . Outra subestrutura foi encontrada na direção da constelação de Virgo por Juri¢ et al. (2008). Há evidências de que esta sobredensidade esteja relacionada com outras subestruturas na mesma direção, como por exemplo, a faixa de maré de Virgo (Duau et al. 2006). Esta sobredensidade possui uma densidade de número duas vezes maior quando comparadas a regiões simétricas do céu e se espalha por ∼ 1000 graus quadrados no céu. Carlin et al. (2012), através de análise orbital de estrelas do SDSS, concluem que esta sobredensidade é a remanescente de uma galáxia anã destroçada. Uma lista das subestruturas encontradas até 2010 pode ser encontrada em Rocha- 3 Esta constelação foi desmembrada em três: Carina, Vela e Puppis. CAPÍTULO 2. 7 HALO Figura 2.2: Mapa em coordenadas equatoriais das fontes pontuais do 2MASS. Cada gura possui estrelas em intervalos de magnitude KS e cor (J − Ks ) distintas. É possível notar a presença de subestrutruas na Galáxia além das galáxias anãs LMC e SMC. Dois ciclos em torno do céu são apresentados para mostrar a continuidade das subestruturas. Fonte: Majewski et al. (2003). Pinto (2010). Devido a possível natureza extragaláctica destas subestruturas, deve-se compreender que suas estrelas formam populações estelares distintas entre si e entre a Galáxia. A razão é que a história de formação destas estrelas são diferentes. A dicotomia do halo Recentemente, Carollo et al. (2007, 2010) sugeriram a presença de uma dicotomia no 4 halo utilizando dados do SDSS . Eles analisaram a velocidade de rotação das estrelas de calibração com solar 5 |Z| ≤ 4 kpc. Esta subamostragem de apenas estrelas da vizinhança deve-se que, a distâncias maiores, não é possível obter estimativas úteis do movi- mento espacial das estrelas. Nesta subamostra, além do já conhecido halo Galáctico, eles identicaram duas distribuições de metalicidade distintas no espaço de velocidades. Eles sugeriram que cada uma das distribuições seria característica de uma componente distinta: um halo interno e outro externo. O halo interno domina à distâncias do plano galáctico de 10 a 15 kpc e sua distribuição de densidade espacial é achatada, com razão entre os eixos de aproximadamente 0.6. A distribuição de metalicidade desta população possui seu máximo em [F e/H] = −1.6 com uma cauda se extendendo para metalicidades maiores e menores. Estas estrelas possuem excentricidades orbitais altas e exibem uma movimeto prógrado quase nulo em torno do centro da Galáxia. O halo externo domina à distâncias de 15 et al. (2007, 2010) utilizaram Data Release 5 e Data Release 7 mais dados do SEGUE, respectivamente. O SEGUE é um levantamento espectroscópico baseado na infraestrutura do SDSS. 5 O termo vizinhaça solar, aqui usado para estrelas com |Z| ≤ 4 kpc, foi utilizado por Carollo et al.. 4 Carollo CAPÍTULO 2. 8 HALO Figura 2.3: Distribuição de [Fe/H] para diferentes cortes na velocidade azimutal. É ∼ −1.0 dex) ([Fe/H] ∼ −2.2 possível notal uma variação da moda, passando do disco espesso ([Fe/H] ao halo interno ([Fe/H] ∼ −1.6 dex) e em seguida para o halo externo dex). Fonte: Carollo et al. (2007). a 20 kpc do plano e possui uma distribuição de densidade espacial quase esférica, com razão dos eixos de aproximadamente 0.9. As estrelas do halo externo possuem uma metalicidade mais pobre, com a moda da distribuição em [F e/H] = −2.2 e uma gama variada de excentricidades orbitais. O halo externo apresenta uma velocidade média retrógrada hVφ i = −80 ± 13 km s −1 . A Fig. 2.3 mostra a distribuição de metalicidade para diferentes intervalos da velocidade azimutal na amostra original de Carollo et al. (2007). Note que para velocidades maiores, há um deslocamneto da distribuição para menor metalicidade. Acredita-se que o cenário de formação do halo externo é distinto ao do halo interno. Durante o colapso da nuvem primitiva que formou a Galáxia, a acreção radial de nuvens de gás deu origem a uma população estelar com alta excentricidade orbital, i.e., o halo interno. Dentro destas nuvens de gás, a formação estelar em andamento gerou o enriquecimento desta população estelar. O halo interno assumiu uma forma achatada devido a formação do disco e da acreção contínua de gás pela Galáxia. O halo externo teria sido formado através da acreção caótica de pequenos subsistemas dentro de minihalos de matéria escura (Carollo et al. 2007). Devido a pequena massa destes subsistemas, o halo de matéria escura os destroçou através de interações de maré, e seriam poucos os subsistemas que chegaram intactos, ou quase intactos, às regiões próximas do plano Galáctico. Assim, a população estelar do halo externo supostamente CAPÍTULO 2. 9 HALO é formada pelos destroços destes subsistemas. Recentemente, foram submetidos dois trabalhos simultaneamente: um de crítica a esses resultados (Schönrich et al. 2011) e a resposta a estas críticas (Beers et al. 2012). Gostaríamos que o leitor notasse que a possibilidade uma discussão em tempo quase real 6 só foi possível graças a publicação preliminar destes trabalhos no arXiv . Relataremos a seguir os principias pontos desta dicussão e que nos restringiremos apenas as versões publicadas, exceto quando escrito explicitamente. A crítica de Schönrich et al. (2011) em relação aos resultados de Carollo et al. (2007, 2010) são referentes as estimativas das distâncias, em que eles armam estarem superestimadas devido a duas razões: 1) uma classicação equivocada das estrelas localizadas no ponto de desligamento (TO) da sequência principal, quando, na verdade, elas deveriam ser estrelas anãs; e 2) uma escala de magnitude absoluta para as estrelas anãs que ajusta uma luminosidade errada para este tipo de estrelas. Como dito, Beers et al. (2012) abordam estas questões. Em Carollo et al. (2007, 2010), a distância foi obtida de acordo com o método iterativo de Beers et al. (2000) que utiliza a magnitude intrínseca (B − V )0 V0 , a cor íntrinseca e o estágio evolutivo da estrela. Apenas o valor da gravidade supercial foi usado como critério para denir o estágio evolutivo das estrelas (argumento 1 supracitado). Beers et al. (2012) concordam e realizam uma nova classicação de estado evolutivo para as estrelas no TO. Eles determinaram uma função que determina a temperatura efetiva no TO, TTO , em função da metalicidade [Fe/H], e assim, reclassicaram as estrelas como anãs ou gigantes àquelas com Tef f < TTO − 250 7 K . Para distinguir entre estrela anã e gigante é utilizado o valor da gravidade supercial. com Tef f ≥ TTO − 250 As estrelas K mantiveram sua classicação de estrela no TO inalterada. A conclusão da existência de um halo externo seria mais afetada pelas estrelas pobres que tiveram seus estados evolutivos alterados de TO para anãs, já que estas estrelas teriam suas distâncias superestimadas. Beers et al. apontam que, dentre todas as estrelas da amostra, 14% tiveram seu estado evolutivo alterado de TO para anãs e que apenas 4% da amostra completa eram estrelas pobres com estado evolutivo alterado. Beers et al. armam que o número pequeno de estrelas com distâncias superestimadas não altera o resultado de Carollo et al.. Em relação ao segundo argumento supracitado, Schönrich et al. (2011) alegaram que Carollo et al. utilizaram uma calibração ruim para a determinação da magnitude absoluta. Schönrich et al. utilizaram uma calibração preliminar de Ivezi¢ et al. (2008) que melhor concorda com o conjunto de isócronas usados por eles (isócronas BaSTI: 6 http://arxiv.org/ 7O valor de 250 K é referente a precisão em 2σ em temperatura do pipeline do SEGUE. CAPÍTULO 2. 10 HALO Pietrinferni et al., 2004, 2006). Entretanto, Ivezi¢ et al. (2008) não esperava que esta calibração funcionasse para estrelas quentes próximas ao TO, e um considerável número de estrelas em Carollo et al. são deste tipo. Além disso, Beers et al. alegam que a calibração usada por Schönrich et al. não considera a correção para diferentes idades adotada por Ivezi¢ et al. para obter um método de paralaxe fotométrica mais útil. Após a correção, Beers et al. (2012) analisaram a distribuição da velocidade azimutal da amostra com [F e/H] < −2.0 e amostras de outros trabalhos, incluindo a de Schönrich et al. (2011). Beers et al. encontraram as mesmas evidências da existência de um halo externo. Eles ainda realizaram quatro testes: 1. Para as estrelas com [Fe/H] < −1.5, eles analisaram a amostra corrigida no espaço de movimentos próprios. Utilizando um teste Kolmogorov-Smirnov bidimensional, eles descartaram a hipótese nula que a população de estrelas com Vφ < −200 km s −1 é idêntica a população composta pelo resto da amostra. Entretanto, Schönrich et al. relatam que, mesmo não havendo um viés nas magnitudes absolutas estimadas e assim também nas distâncias, uma distribuição simétrica dos erros da magnitude causa uma distribuição assimétrica na distribuição de distâncias com uma longa cauda para valores super-estimados (viés de Lutz & Kelker, 1973). Assim, como a distribuição de distâncias reete-se na distribuição de velocidades azimutais, a assimetria identicada por Carollo et al. (2007) seria causada por este raciocínio e foi mal interpretado por eles. Beers et al. concordam que tal viés possa existir, mas que sua presença não obscurece a presença de um halo retrógrado e a identicação desta componente retrógrada no espaço de movimentos próprios fortalece esta armação. 2. Eles separaram a amostra em intervalos de distância ao plano Galáctico e analisaram a distribuição de metalicidade dos intervalos. Para intervalos de distâncias |Z| > 5 kpc é possível notar uma variação na moda da distribuição de metalici- dade de [Fe/H] = −1.6 para [Fe/H] = −2.2. 3. Uma amostra distinta foi utilizada neste teste. Utilizaram-se as estrelas na parte azul do ramo horizontal (blue horizontal branch) do SDSS. Estas estrelas são bem brilhantes e possuem uma distância fotométrica bem calibrada. vidiram esta amostra em duas, utilizando [Fe/H] = −2.0 Eles di- como critério de corte e analisaram a distribuição de velocidade radial das duas subamostras. Para a subamostra com metalicidade alta, não se pode rejeitar a hipótese de uma única componente. Para a subamostra com baixa metalicidade, duas subcomponentes são necessárias para se realizar um bom ajuste. CAPÍTULO 2. 11 HALO 4. Neste teste, a mesma amostra do terceiro teste é utilizada. Entretanto, é re- alizado uma análise da distribuição de metalicidade em diferentes intervalos de distância ao centro Galáctico. Novamente, percebe-se um deslocamento da moda da distribuição de um valor [Fe/H] = −1.7 para [Fe/H] ∼ −2 quando aumenta-se a distância ao centro Galáctico. Assim, de acordo com Beers et al., todos os testes realizados corroboram com a dicotomia do halo sugerida por Carollo et al. (2007). Entretanto, Schönrich et al. (2011) 8 rebateram as armações de Beers et al. (2012) . Schönrich et al. argumentam que utilizaram diversas calibrações de distâncias, incluindo aquela usada por Beers et al. (2012) e não encontraram evidências da dicotomia. Assim, a presença de uma di- cotomia no halo ainda é discutida e mais análises são necessárias para encerrar este assunto. Múltiplas populações em aglomerados globulares A existência de múltiplas populações em aglomerados globulares não é uma descoberta recente. Entretanto, graças a telescópios e detectores mais potentes, evidências mais diretas surgiram na última década. Para uma lista extensa dos trabalhos nesta área, sugerimos a leitura dos artigos de revisão Gratton et al. (2004, 2012). Faremos aqui um breve panorama sobre o tópico. A evidência canônica da presença de múltiplas populações em aglomerados globulares é a anticorrelação entre os elementos químicos Na e O (Fig. 2.4). Gratton et al. (2004) apontaram que, a princípio, acreditava-se que a anticorrelação era evidência de um cenário misto e que seria necesário a presença de componentes primordiais e evoluídas, i.e. populações múltiplas. Porém, os modelos eram imprecisos e não descreviam a abundâncias dos elementos químicos tal qual observadas. Com a descoberta que o Na pode ser produzido através do ciclo NeNa na mesma região que o O é esgotado via ciclo ON, a ideia da existência de populações múltiplas nos aglomerados se consolidou. As estrelas de primeira geração produzem Na e esgotam O, e ejetam o Na sintetizado para o meio interestelar através de ventos. As estrelas das gerações posteriores são formadas com este gás enriquecido. Note que esta é uma evidência indireta. Uma evidência mais direta é a presença de múltiplas curvas representando um mesmo estágio evolutivo no diagrama cormagnitude, e.g., múltiplas sequências principais (Fig. 2.5). Como já denido, populações estelares distintas são formadas em épocas distintas. O enriquecimento do meio interestelar no qual as populações posteriores se formaram foi causado pela ejeção de material sintetizado pelas estrelas da primeira geração. As 8A versão preliminar disponibilizada no arXiv.org, não a publicada. CAPÍTULO 2. 12 HALO Figura 2.4: Coleção de anticorrelações ONa para diversos aglomerados. As linhas separam a primeira geração (P), a geração intermediária (I) e a segunda geração (E). Círculos vermelhos são medidas apara ambos elementos enquanto as setas azuis são estrelas com medidas de Na e valores superiores de O. Fonte: Gratton et al. (2012). possíveis candidatas a terem ejetado este material sintetizado são estrelas gigantes do ramo assintótico (AGB) de massa intermediária (411 11 M ), e estrelas massivas de alta rotação (20120 M ), M ). 9 estrelas super-AGB (9 O material sintetizado deve ser ejetado ao meio a baixas velocidades para evitar seu escape do aglomerado. Isto é possível através de ventos lentos em estrelas AGBs ou ventos equatoriais nas estrelas de alta rotação. Modelos evolutivos de Decressin et al. (2009) concluíram que as estrelas AGBs massivas e com rotação possuem uma dragagem mais profunda e que C, N e O também são trazidos para superfície, além do Na. Este material ejetado através de ventos resultaria em diferenças maiores entre as diferentes gerações estelares do que aquelas observadas. Com isso, eles concluem que as estrelas AGBs masivas e com rotação possam ser descartadas como poluidoras. Estas estrelas poluidoras estão fundindo H, seja no núcleo ou na região inferior da camada convectiva (Hot Bottom Burning). Como o principal resultado da fusão de H é o He, as estrelas de populações posteriores devem ser ricas em He. Para alguns 9 Estrelas super-AGB fundem carbono fora do núcleo em condições parcialmente degeneradas. Elas terminam sua evolução como anãs brancas de ONe. CAPÍTULO 2. 13 HALO Figura 2.5: Diagrama magnitudecor mostrando a sequência prinicpal tripla de NGC 2808. O círculo vermelho e o triângulo azul são estrelas anãs analisadas por Bragaglia et al. (2010). Fonte: Gratton et al. (2012). aglomerados, esta variação em He pode ser a causa de múltiplas sequências principais para alguns aglomerados, como apontados por Piotto et al. (2005, 2007) e vistos em ω Cen e NGC 2808 (Fig. 2.5). A principal discrepância entre as populações está nos elementos leves: Li, C, N, O, Na, Mg e Al. Porém, variações nas abundâncias de elementos mais pesados já foram observadas. As variações em e.g., ω [Fe/H] foram encontradas nos aglomerados mais massivos, Cen (Marino et al. 2011). Os elementos produzidos por captura de nêutron apresentam pouca variação. Recentemente, foi identicada uma pequena variação de elementos formados pelo processo-r em aglomerados pobres (e.g. Roederer & Sneden, 2011), mas há evidências contrárias (Cohen 2011). A variação destes elementos não apresenta correlação com a dos elementos leves, assim, acredita-se que a discrepância seja causada por heterogeneidades do meio interestelar. Nesta monograa, ativemo-nos a descrever apenas múltiplas populações estelares como explicação para as evidências observacionais nos aglomerados globulares, já que este cenário é o mais aceito. O leitor deve saber que há outras ideias acerca do as- sunto, e.g., heterogeneidades no material o qual se formou o aglomerado. Para mais informação sobre outros cenários, Gratton et al. (2012) discursam sobre o asssunto em sua introdução. Capítulo 3 Bojo A população estelar do bojo Galáctico é a menos estudada devido a sua distância e a alta extinção causada pelo disco. No bojo galáctico parece existir duas populações estelares com metalicidades, padrões de abundâncias e idades diferentes(e.g. Cunha et al. 2007; Meléndez et al. 2008; Bensby et al. 2010b). A população do bojo é composta por estrelas velhas (> 10 1 Ga , Zoccali et al., 2003) e a população no centro Galáctico (CG) é composta por estrelas formadas a mais de 5 Ga e outras mais jovens, com apenas algumas centenas de Ma de idade (Pfuhl et al. 2011). A melhor forma de estudar a história de uma população estelar é através de suas estrelas anãs (e.g. Edvardsson, B. et al. 1993), independente de sua localidade. Estas apresentam idades diferentes, e assim, registram toda a história da população. Entretanto, observar diretamente estrelas anãs no bojo é extramemente difícil por necessitar várias horas de integração nos maiores telescópios disponíveis atualmente. Assim, para contornar tal diculdade, alguns autores estão utilizando um método não convencional nesta área: observação através de microlentes gravitacionais. Como exemplo mais recente, Bensby et al. (2009, 2010a,b, 2011) estão construindo uma amostra de anãs de bojo utilizando este método e, até o momento, já observaram 36 anãs/subgigantes do bojo (Bensby et al. 2012). Seus resultados apontam para uma distribuição de met- alicidade aparentemente bimodal com picos em [Fe/H] ∼ −0.6 e [Fe/H] ∼ +0.6 dex. Esta distribuição bimodal não é aparente na distribuição de gigantes do bojo (Zoccali et al. 2008), como pode ser visto na Fig. 3.1. De acordo com Bensby et al., a ausência de estrelas na região entre picos não é causado pela pequena amostra. A idade isocronal desta amostra aponta que, apesar da grande incerteza, a população de baixa metalicidade é velha, enquanto as estrelas com alta metalicidade possuem idades diversas. Como encontrado por diversos autores (Lecureur et al. 2007; Fulbright et al. 2007; Meléndez et al. 2008; Alves-Brito et al. 2010; Bensby et al. 2010b), as abundâncias químicas dos elementos-α das estrelas mais pobres do bojo são similares as do disco espesso. Entretanto, há discordância sobre a similaridade dos padrões de abundâncias. 1 Ga e Ma representam gigaanum (109 anos) e megaanum (106 anos), respectivamente 14 CAPÍTULO 3. 15 BOJO Figura 3.1: Função de distribuição de metalicidades para a) 26 estrelas anãs e b) 204 gigantes vermelhas de Zoccali et al. (2008). A bimodalidade na distribuição das anãs não é vista na distribuição das gigantes. Fonte: Bensby et al. (2011). Fulbright et al. (2007) concluem que os padrões de abundâncias são distintos e que não apontam similaridades no enriquecimento químico dessas duas populações. Porém, outros autores (Meléndez et al. 2008; Alves-Brito et al. 2010; Bensby et al. 2010b) encontraram padrões semelhantes entre as populações. Fulbright et al. (2007) analisaram as abundâncias químicas dos elementos-α e Fe de uma amostra de 27 gigantes K do bojo na janela de Baade cuja coordenadas Galácticas são (l, b) = (1.0◦ , −3.9◦ ). Os padrões das razões de abundâncias de O, Mg, Si, Ti i e Ca são semelhantes entre si, com decaimento ao aumento da metalicidade, porém com decaimento menor quando comparado as estrelas do disco. Os padrões de [Al/Fe] [Na/Fe] e são ainda mais distintos quando comparados aos padrões do disco. Quando as razões entre os elementos-α são comparados com [Fe/H], percebe-se que os elementos produzidos por nucleossíntese explosiva (Si, Ca e Ti) possuem padrões semelhantes enquanto os produzidos por queima hidrostática (O e Mg) possuem padrões únicos. Os autores concluíram que o cenário de formação da população do bojo é caracterizado por uma rápida formação estelar. Isto resultou em um atraso maior na produção de Fe pelas SNIa, acarretando em um enriquecimento maior de elementos-α. Ainda, os autores apontaram que a taxa de produção dos elementos Si, Ca e Ti pelas SNeII seria dependente da metalicidade, o que explicaria a correlação entre com [Fe/H]. contra [Fe/H] [Mg/hSiCaTii] O gráco de espalhamento da média das abundâncias de Si, Ca e Ti são apresentados na Fig. 3.2(a). Os autores concluem que o cenário de enriquecimento da população estelar do bojo deve ser diferente da do disco e que CAPÍTULO 3. 16 BOJO (a) Figura 3.2: que X (b) Comparação entre os grácos de espalhamento de representa a média da abundância de elemntos X = hSi, Ca, Tii, X = hO, Mg, Si, Ca, Tii. et al. (2007) em que α. [X/Fe] × [Fe/H], em Em (a), dados de Fulbright e (b) dados de Alves-Brito et al. (2010) em que mais investigações são necessárias para obter uma melhor compreensão do cenário de enriquecimento do bojo. O trabalho de Lecureur et al. (2007) obtêm resultados similares ao de Fulbright et al. (2007). Ao estudar os padrões de abundâncias dos elementos O, Na, Mg e Al para um conjunto de gigantes vermelhas do bojo, eles encontraram razões de O, Mg e Al em relação ao Fe distintas as razões das estrelas do disco. Eles concluem que uma rápida formação estelar poderia resultar nos padrões observados. Os trabalhos de Meléndez et al. (2008) e Alves-Brito et al. (2010) analisaram, em conjunto, as abundâncias químicas dos elementos C, N, O, Na, Mg, Al, Si, Ca, Ti e Fe de gigantes K na janela de Baade. Como dito, eles obtiveram resultados distintos aos de Fulbright et al. (2007) e de Lecureur et al. (2007), como exemplicado na Fig. 3.2. Os padrões das razões de abundâncias são bem similares ao do disco espesso, a ponto de serem quase indistinguíveis. A Fig. 3.2(b) apresenta o gráco de espalhamento da média das abundâncias de O, Mg, Si, Ca, Ti contra et al., os padrões de [Fe/H]. De acordo com Meléndez [O/Fe] e [C + N/O] são semelhantes entre o bojo e o disco espesso. Com isso, eles concluíram que os cenários de formação das populações do bojo e do disco não devem diferir notavelmente e, assim, que ambas Funções de Massa Inicial (IMF), Taxas de Formação Estelar e escalas de tempo de formação devam ser similares. Assim como Fulbright et al., Alves-Brito et al. também encontraram um aumento de com [Fe/H], [Al/Fe] porém eles comentam que possivelmente há erros sistemáticos causados CAPÍTULO 3. 17 BOJO pela diculdade em obter a abundância das linhas de Al, pois as linhas estudadas estão sobrepostas. O padrão de [Mg/Fe] encontrados por Fulbright et al. et al. diferem, em que o primeiro encontra um aumento com [Fe/H] e Alves-Brito e o segundo um decréscimo. Alves-Brito et al. sugerem que a diferença esteja nos diferentes ajustes de ponto-zero utilizados para obter as abundâncias por ambos trabalhos, e que o ajuste utilizado por Fulbright et al. é inadequado para o estudo de gigantes. Além disso, os padrões de abundâncias das anãs do bojo (Bensby et al. 2010b) corroboram com os resultados de Meléndez et al. (2008) e Alves-Brito et al. (2010). Enm, as discrepâncias nos resultados entre os diferentes estudos de gigantes no bojo (Lecureur et al. 2007; Fulbright et al. 2007; Meléndez et al. 2008; Alves-Brito et al. 2010) parece ser resultado de metodologias divergentes. Assim que mais estudos com novos dados e/ou metodologias, teremos um cenário de formação da população estelar do bojo mais preciso. Apesar das discordâncias, os trabalhos citados acima concluem que o cenário de formação não inclui uma IMF que favoreça estrelas massivas. Como dito incialmente, há indícios que no CG há uma população estelar distinta ao bojo. Cunha et al. (2007) investiga esta população através de uma análise química dos elementos C, N, O, Ca e Fe de 11 estrelas. Esta amostra aponta que esta população possui metalicidade levemente supersolar (∆ elementos-α supersolares. Ca contra [Fe/H] A Fig. ∼ 0.1 dex) e razões de abundâncias dos 3.3 apresenta as razões de abundâncias de O e das estrelas do CG em comparação com as estrelas do halo e do disco Galáctico. Trabalhos mais recentes (e.g Davies et al. 2009; Najarro et al. 2009) corroboram com os resultados de Cunha et al.. O valor supersolar de C e N obtidos por Cunha et al. poderia ser resultado da dragagem destes elementos até a superfície. Os autores concluem que os valores supersolares são consistentes com um cenário dominado por uma maior fração de SNeII em relação a SNeIa. Este cenário seria possível com uma IMF que favoreça o nascimento de estrelas massivas ou enriquecimento por SNeII recente no CG. Outra possibilidade seria o enriquecimento do meio por ventos de gigantes vermelhas do bojo ou transporte de matéria causado pela barra (e.g Davies et al. 2009). Estudos fotométricos, como o de Pfuhl et al. (2011), permitem a obtenção de um número maior de estrelas. Pfuhl et al. investigam a história de formação da população do CG através de uma amostra de 450 gigantes frias a 1 pc de Sgr A*, i.e. do buraco negro super massivo que estálocalizado no CG. Os autores concluíram que uma IMF normal é mais provável, em acordo com trabalhos citados acima, entretanto, dada as incertezas e ao pequeno número de estrelas massivas, os autores não descartam a possibilidade de uma IMF plana ou mais inclinada. Se uma IMF normal for adotada, o histórico da população do CG é marcada por dois períodos de formação estelar: o CAPÍTULO 3. Figura 3.3: [Fe/H]. 18 BOJO Gráco de espalhamento das razões de abundância de O e Ca contra Círculos vermelhos são estrelas do CG e pontos azuis são estrelas do halo e disco Galáctico. Fonte: Cunha et al. (2007). primeiro com seu máximo em ∼ 10 Ga atrás e um segundo ocorrendo atualmente, com seu início em 200300 Ma. Os autores apontam que aproximadamente 80% da massa da população deve ter sido formado a mais de 5 Ga. Várias descobertas estão sendo feitas sobre o bojo nos últimos anos, mas um cenário conclusivo sobra a formação de sua população estelar ainda não está formado. Mais estudos são necessários para compreendermos melhor esta população. Capítulo 4 Disco Dentre as três componentes, o disco é a mais estudada, mas ainda assim, sua complexidade não é totalmente compreendida. Sua população característica é a População I, isto é, estrelas jovens e ricas em metais. Ao estudar a densidade estelar da vizinhança solar em função da distância ao plano Galáctico, Gilmore & Reid (1983) vericaram que a curva de densidade era melhor ajustada por duas exponenciais com escalas de alturas distintas. Eles associaram a exponencial com menor escala de altura ao disco velho, i.e., disco no, e a exponencial com maior escala de altura, a uma outra componente do disco, chamada de disco espesso. O disco no teria sido formado no assentamento do gás quando a Galáxia se formou. Entretanto, a formação e a própria existência do disco espesso é amplamente discutida na literatura. A dicotomia do disco é exaustivamente estudada e qualquer trabalho sobre população estelar requer uma discussão sobre o assunto. Trabalhos da década passada (e.g. Bensby et al. 2003, 2005; Reddy et al. 2006) concluíram que 1. a população do disco espesso, para um dado valor de [Fe/H], é mais abundante em elementos-α, 2. o padrão de abundâncias do disco no possui uma inclinação suave, e 3. as estrelas do disco espesso até a publicação dos artigos supracitados são velhas. Como exemplo, a Fig. 4.1 apresenta o gráco de espalhamento de [α/Fe] × [Fe/H] de ∼ 17000 anãs G a menos de 3 Kpc obtidas pelo levantamento SDSS/SEGUE. Note que há uma separação entre as populações do disco espesso e do disco no. Os prováveis cenários de formação do disco espesso são: 1. colapso lento e suportado pela pressão em um cenário de formação via colapso monolítico 2. aquecimento do disco no induzido por canibalização e/ou acresção direta do material estelar da galáxia canibalizada Para que o primeiro argumento seja válido, é necessário que haja um gradiente vertical de metalicidade, já que o assentamento teria ocorrido de forma gradual. Ao 19 CAPÍTULO 4. 20 DISCO Figura 4.1: Gráco de espalhamento de [α/Fe] × [Fe/H] de ∼ 17000 anãs G a menos de 3 kpc obtidas pelo levantamento SDSS/SEGUE. Curvas de níveis mostram regiões de equidensidade enquanto a escalar de cor, a quantidade de estrelas em cada intervalo. Curva contínua delimita os discos espesso/no e as curvas tracejadas delimitam as regiões utilizadas para identicar estrelas de cada disco. Fonte: Lee et al. (2011). analisar a metalicidade e a cinemática das estrelas do SDSS, Ivezi¢ et al. (2008) encontraram que a distribuição vertical do disco pode ser modelada por uma distribuição não-gaussiana que é a soma de duas gaussianas: pd (x = [F e/H]|Z) = 0.37G[x|µ = a(Z) + 0.14, σ = 0.11] (4.1) + 0.63G[x|µ = a(Z), σ = 0.21], 1 em que a(Z) = −0.847 + 0.35exp(−|Z|/1.0 kpc) dex e Z é a distância ao plano Galáctico. A Fig. 4.2 apresenta a distribuição normalizada de metalicidade para diferentes distâncias ao plano Galáctico. A curva tracejada é o melhor ajuste para um modelo de duas componentes (halo mais disco). A distribuição gaussiana com moda em é a contribuição do halo, e a distribuição não-gaussiana centrada em ∼ −0.7 ∼ −1.5 é a con- tribuição do disco, em que as duas componentes gaussianas da distribuição do disco também são apresentadas. À primeira vista, cada distribuição gaussiana poderia ser intrepretada como sendo representativa de cada uma das subcomponentes do disco. Entretanto, para que esta armação seja correta, a razão das normalizações deveria 1 G(x|µ, σ) √ 2 2 = ( 2πσ)−1 e−(x−µ) /2σ CAPÍTULO 4. 21 DISCO Figura 4.2: Distribuição de metalicidade fotométrica da Galáxia com dados do SDSS. ∼ −1.5 é identicada como sendo o halo, e ∼ −0.7 é identifcada como sendo o disco. As A distribuição gaussiana com moda em a outra distribuição com moda em subcomponetes da distribuição do disco não podem ser interpretadas como sendo o disco no e o espesso. Fonte: Ivezi¢ et al. (2008). variar com Z, o que não ocorre. A Fig. 4.3 apresenta a distribuição da metalicidade fotométrica no plano vertical da Galáxia. Nota-se que na região do disco não há evidências de uma dicotomia, e que o gradiente de metalicidade aparenta ser monotônico. Ivezi¢ et al. também analisaram a cinemática das estrelas. Da mesma forma que a metalicidade, a distribuição da velocidade longitudinal, pD (x = vφ |Z), na direção do polo norte Galáctico pode ser descrito com uma distribuição não-gaussiana que é a soma de duas gaussianas: pD (x = vφ |Z) = 0.75G[x|vn (Z), σ1 ] + 0.25G[x|vn (Z) − 0.34 em que σ1 e σ2 são funcções do tipo a + b|Z|c . km s −1 , σ2 ], (4.2) Novamente, as distribuições gaussianas não podem ser interpretadas como as subcomponentes do disco. Na Fig. 4.4, Bond et al. (2010) utilizaram um conjunto maior de dados do SDSS (Data Release 7) para estudar a cinemática das estrelas e ajustaram a distribuição citada acima. CAPÍTULO 4. 22 DISCO Figura 4.3: Distribuição da metalicidade fotométrica no plano vertical da Galáxia com dados do SDSS. A sobredensidade em [R, |Z|] ≈ [15, 3.5] kpc é identicada como sendo a subestrutura Monoceros. Fonte: Ivezi¢ et al. (2008). Ivezi¢ et al. comentam que o disco no/espesso possam ser uma estrutura única e complexa, e que seus resultados implicariam que diferentes processos, ao contrário de apenas um, resultaram nas distribuições de metalicidades e velocidades observadas. Entretanto, eles ainda armam que resultados espectroscópicos encontraram evidências de dois discos e que a distinção entre as duas componentes só possa ser encontrada através de espectroscopia de alta resolução, como exemplo, os trabalhos de Bensby et al. (2005) e Reddy et al. (2006). Entretanto, Bensby et al. e Reddy et al. partem do princípio que o disco espesso é real para realizarem a classicação de pertinência de suas estrelas. Assim, os resultados de Ivezi¢ et al. (2008) e Bond et al. (2010) suportam o argumento de que o disco foi criado através de um colapso suportado pela pressão e que possivelmente não há um disco espesso. Nos dados do SDSS, Juri¢ et al. (2008) encontraram que a distribuição de densidade numérica, ρD (R, Z), pode ser modelada como a soma de dois discos exponenciais (um disco no e um disco espesso): |Z−Z | (R−R ) |Z−Z | (R−R ) − H − L1 − H − L2 1 2 ρD (R, Z) = ρD (R ) e + D e , (4.3) em que os valores para um melhor ajuste, após uma correção de binaridade considerando uma fração de 35%, são, para as escalas de altura, H1 = 300 pc e H2 = 900 CAPÍTULO 4. 23 DISCO Figura 4.4: Distribuição de velocidades rotacionais vφ dos dados do SDSS. Curvas verde e vermelha são as distribuições do disco e não podem ser interpretadas como sendo o disco no e o espesso. Curva em azul é identifcada como o halo e a curva em magenta é a soma das distribuições. Fonte: Bond et al. (2010). pc, para as escalas de comprimento, L1 = 2600 pc e L2 = 3600 pc, e D = 0.13. Juri¢ et al. ainda encontraram evidências de subestruturas na Galáxia (e.g. Monoceros) o que suporta o segundo argumento de formação de um disco espesso. A corrente em Monoceros 2 foi primeiro identicada no SDSS por Newberg et al. (2002) através de contagem estelar. Rocha-Pinto et al. (2003) apontou que o cenário mais plausível para a formação desta estrutura é de acresção recente de uma galáxia satélite que possuía uma órbita quase coplanar com a Via Láctea, contrário a proposta de Ibata et al. (2003) de ser um anel ao redor da Galáxia. Tanto os estudos de contagens estelares (Juri¢ et al. 2008) e de metalicidade (Ivezi¢ et al. 2008, Fig. 4.3) com dados do SDSS corroboram com o cenário de formação proposto por Rocha-Pinto et al. (2003). Ivezi¢ et al. (2008) encontraram que a distribuição de metalicidade de Monoceros pode ser descrita como uma distribuição gaussiana com média de µ[Fe/H] = −0.95 σ[Fe/H] = 0.15 dex e que é distinta da distribuição do disco e do halo. 2 Também chamada de Galactic Anticenter Stellar Structure, GASS. e dispersão Esta distinção CAPÍTULO 4. 24 DISCO é reforçada por Chou et al. (2010) que, ao estudar a abundância química de titânio, ítrio e lantânio de 21 estrelas gigantes do tipo M de Monoceros, encontraram valores de abundâncias distintos a estrelas da Via Láctea. Ademais, Chou et al. (2010) apontaram que os valores de abundâncias são similares a Sagittarius e a outras galáxias esferoidais anãs, sugerindo a origem extragaláctica de Monoceros e que a galáxia percursora a Monoceros tenha sido uma galáxia deste tipo. Ao analisar os valores de abundância química de 6 gigantes M de TriAnd, Chou et al. (2011) encontraram que possivelmente há uma diferença química entre as duas estruturas e que ambas tiveram uma história de enriquecimento distintas, refutando o argumento de que ambas estruturas possuem uma conexão (Peñarrubia et al. 2005). Mais recentemente, Michel-Dansac et al. (2011) sugeriram através de simulação que a órbita quase circular de Monoceros pode ter sido causada por um encontro de Sagittarius com outra galáxia satélite. Em contrapartida, Bovy et al. (2011a,b, 2012) armam que o disco espesso não existe. Para chegar a esta conclusão, eles utilizaram os dados espectróscopicos do SDSS/SEGUE. Em Bovy et al. (2011a,b), eles calcularam a densidade de massa su- 3 percial para cada subpopulação . A preferência por utilizar densidade supercial de massa ao invés das contagens estelares foi causado pela distribuição de dados do SDSS/SEGUE no espaço [α/Fe] × [Fe/H] reetir mais a função de seleção do levan- tamento do que uma distribuição de abundâncias. presença de bimodalidade na distribuição de sença de dois picos na distribuição de [Fe/H], Eles não encontraram nenhuma mas encontraram uma fraca pre- [α/Fe], o qual eles atribuíram a uma consequência natural da física de enriquecimento, i.e., atraso do enriquecimento por supernovas do tipo Ia. Para cada subpopulação, os autores calcularam a escala de altura. A Fig. 4.5 apresenta a distribuição da densidade supercial de massa como uma função da escala de altura; a curva apresentada é a soma das densidades superciais de cada subpopulação em intervalos de escala de altura e as subpopulações são apresentadas em escala de cor em função do [α/Fe]. A distribuição de escala de altura encontrada é suave e monotônica. Em Bovy et al. (2012), os autores modelaram a dispersão vertical de velocidade σz (z, R) e sua dependência espacial para cada subpopulação. obter uma estimativa de σz (z, R) ao contrário do método usual trabalho. 4 e seu erro para cada estrela de cada subpopulação, . A Fig. 4.6 apresenta os principais resultados deste No gráco superior a esquerda é possível notar que sentido de subpopulações com menor 3 Neste Este método permite [α/F e] e maior [F e/H], σz (z, R) aumenta no i.e., subpopulações mais trabalho, uma subpopulação é denida pelas estrelas dentro de um intervalo de 0.05 dex e 0.1 dex em [α/Fe] e [Fe/H], respectivamente 4 σ = P (v z i z,i − hvz i)/N CAPÍTULO 4. 25 DISCO Figura 4.5: Distribuição da densidade supercial de massa das estrelas no raio solar ΣR0 (hz ) em função da escala de hz . Fonte: Bovy et al. (2011a). jovens. de altura hz . Curva é a densidade total em intervalos de O gráco superior a direita mostra que não há uma tendência do gradiente σz (z, R) em função das subpopulações. Os grácos inferiores mostram que σz (z, R) mantêm-se aproximdamente constante dentro de cada subpopulação. De acordo com os autores, estes resultados implicam que há uma subpopulação intermediária, ou seja, não há duas populações distintas, mas sim uma distribuição suave e monotônica de subpopulações. Com isso, o autores rejeitam a ideia da existência de um disco espesso. Eles encontraram que a componente mais espessa e velha do disco apresenta uma escala radial menor que a componente na e jovem. Isto seria uma evidência observacional direta que discos galáctios se formam de dentro para fora através de algum mecanismo interno, e.g., migração radial (Schönrich & Binney 2009a,b). Como dito inicialmente, as idades e as metalicidades das estrelas são duas das três propriedades principais de uma população estelar. Assim, é desejável a investigação de uma relação idademetalicidade de uma população. Assim como a dicotomia, ainda há uma divergência sobre a existência de tal relação. Como exemplo mais recente, Holmberg et al. (2007) revisou as metodologias aplicadas ao catálogo fotométrico GenevaCopenhagen Survey (Nordström et al. 2004) e, ao analisarem os resultados, concluíram que tal relação é fraca, ou que possivelmente possa nem existir, e que apresenta grande dispersão. Entretanto, ao utilizar idades cromosféricas (Rocha-Pinto et al. 2000) e o raio médio da órbita como indicador da posição de nascimento da estrela e, assim, de sua idade (Rocha-Pinto et al. 2006b) é possível obter uma relação mais forte. Ao estudar a migração radial das estrelas, Ro²kar et al. (2008) mostraram que se as estrelas não migrassem, a relação idademetalicidade seria mais forte e com menor dispersão. CAPÍTULO 4. 26 DISCO Figura 4.6: Resultados da dispersão de velocidade vertical função da distância ao plano |z|, [Fe/H] e [α/Fe]. σz (z, R) e sua derivada em Fonte: Bovy et al. (2012). Quanto ao disco espesso, Bensby et al. (2004) e Haywood (2006) mostraram que possivelmente existe uma relação idademetalicidade para a população desta componente, fato contrariado por Holmberg et al. (2007). Ao que parece, os resultados discrepantes são frutos de metodologia diferentes. Assim que a melhor metodologia for denida, uma resposta surgirá. A sua existência, ou não, auxiliará no entendimeno da evolução do disco Galáctico. Enm, ainda não há uma conclusão denitiva acerca da existência e origem do disco espesso. Contudo, estudos do disco no/espesso se limitavam a regiões da vizinhança solar devido a limitações técnicas. Novos resultados sobre estudos do disco interno mapeados por anãs F e G estão surgindo (e.g. Bensby & Feltzing 2012). Bensby & Feltzing comentam que seus resultados preliminares apontam diferenças entre as estrelas do disco interno, vizinhança solar e disco externo. As estrelas do disco interno apresentam ser velhas com baixo valores de [Fe/H] e alto valores em [α/Fe], já as estrelas do disco externo apresentam ser jovens com alta metalicidade e baixo valores de [α/Fe]. Capítulo 5 Sumário e perspectivas Nesta monograa, relatamos os últimos estudos referentes as populações estelares. Recentemente surgiram fortes evidências de uma dicotomia no halo Galáctico (Carollo et al. 2007), entretanto este não é um cenário totalmente aceito (Schönrich et al. 2011) e que está sendo debatido (Beers et al. 2012). Subestruturas e sobredensidades foram encontradas tanto no halo (e.g. TriAnd, Rocha-Pinto et al. 2004; Majewski et al. 2004) quanto no disco (e.g. Monoceros, Newberg et al. 2002) o que demonstra a complexidade da nossa galáxia e são evidências diretas de um cenário de formação hierárquico. Vimos que alguns aglomerados globulares possivelmente apresentam mais de uma geração de estrelas, o que é evidenciado em diagramas cor-magnitude (Fig. 2.5) e estudos de (anti)correlação em razões de abundâncias (Fig. 2.4). O bojo é um mistério que é um pouco mais desvendado a cada estudo publicado. Há grupos que apontam que o enriquecimento químico de sua população seja distinta da população do disco (Fulbright et al. 2007) e há aqueles que apontam o contrário (AlvesBrito et al. 2010). As estrelas do centro Galáctico são quimicamente mais enriquecidas e Pfuhl et al. (2011) concluíram que, se a IMF desta população for normal, o centro Galáctico teve dois períodos de formação estelar, sendo o último ainda em andamento. Vimos que há estudos (e.g. Bovy et al. 2011b) que concluem que o disco espesso não existe. Entretanto, a maior parte dos estudos foca nas estrelas da vizinhança solar, e estudos das estrelas do disco nas regiões mais internas e externas (Bensby & Feltzing 2012) pode alterar nossa compreensão da população do disco. Alguns grandes levantamentos que vão esclarecer ainda mais nosso entendimento 1 neste campo estão sendo planejados. O Large Synoptic Survey Telescope (LSST) é um telescópio de 8.4 m que está sendo construído em El Peñón, Chile, com o intuito de mapear todo céu em dias. Isto possibilitará construir um mapa do céu em movimento. Graças a seu grande porte e sua dedicação exclusiva a este projeto, será possível obter uma mapa da Via Láctea mais detalhado do que o do SDSS. O APO Galactic Evolution 2 Experiment (APOGEE) é um projeto que se utilizará do telescópio utilizado no SDSS para obter espectroscopia de alta resolução de 1 http://www.lsst.org/lsst/ 2 http://www.sdss3.org/surveys/apogee.php 27 ∼ 105 estrelas, revolucionando, assim, CAPÍTULO 5. 28 SUMÁRIO E PERSPECTIVAS 3 a compreensão da química das populações estelares da nossa Galáxia. O Gaia missão astrométrica que lançará um satélite em 2013. distância, movimentos próprios e velocidade radial de é uma O objetivo é obter posição, ∼ 106 estrelas. Estes projetos possuem outros objetivos além dos relatados aqui, porém estes são os mais cruciais para o estudo de populações estelares da Via Láctea. Agradecimento À S. Daon, A. O. Ribeiro e J. V. Sales Silva pela leitura e sugestões. Aos revisores Utilizou-se para esta pesquisa bibliográca o acervo Astrophysics Data System Bibliographic Services da NASA. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior pelo apoio nanceiro. Licença Este trabalho está licençiado sob a Licença Atribuição-NãoComercial 3.0 Não Adaptada da Creative Commons. 3 http://www.esa.int/science/gaia Referências Bibliográcas Alves-Brito, A., Meléndez, J., Asplund, M., Ramírez, I., & Yong, D. 2010, A&A, 513, A35 Baade, W. 1944, AJ, 100, 137 Beers, T. C., Chiba, M., Yoshii, Y., et al. 2000, AJ, 119, 2866 Beers, T. C., Carollo, D., Ivezi¢, v., et al. 2012, AJ, 746, 34 Bensby, T., & Feltzing, S. 2012, EPJ Web of Conferences, 19, 04001 Bensby, T., Feltzing, S., & Lundström, I. 2003, A&A, 410, 527 . 2004, A&A, 421, 969 Bensby, T., Feltzing, S., Lundström, I., & Ilyin, I. 2005, A&A, 433, 185 Bensby, T., Johnson, J. A., Cohen, J., et al. 2009, A&A, 499, 737 Bensby, T., Asplund, M., Johnson, J. A., et al. 2010a, A&A, 521, L57 Bensby, T., Feltzing, S., Johnson, J. A., et al. 2010b, A&A, 512, A41 Bensby, T., Adén, D., Meléndez, J., et al. 2011, A&A, 533, A134 Bensby, T., Feltzing, S., Gould, A., et al. 2012, eprint arXiv:1201.2013 Bond, N. 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