Pedagogia de projetos: um estudo de caso no curso de pedagogia da Universidade de Brasília Fernando de Assis Alves (Universidade de Brasília) [email protected] Paulo Sérgio de Andrade Bareicha (Universidade de Brasília) [email protected] Resumo: Diferentes são os tipos de organização curricular. Variam conforme a especificidade do curso, a proposta de relação entre teoria e prática e os objetivos a que se destina o curso. Objetivo: Analisar e discutir a pedagogia de projetos. Metodologia: Foi investigado o caso do curso de pedagogia da Universidade de Brasília (UnB), um dos quatro em universidades federais organizados por projetos. Focalizamos o projeto Teatro Ecopedagógico, exemplo típico entre os 20 projetos oferecidos, entre 2006 e 2009, envolvendo cerca de 100 estudantes. Resultados: Os resultados apontam para estratégias que visam à difusão da pedagogia de projetos, uma vez que exige uma mudança de postura pedagógica fundamentada na concepção de que a aprendizagem ocorre a partir da resolução de situações didáticas significativas para o estudante, através do desenvolvimento do senso crítico, da pesquisa e da resolução de problemas. Esse tipo de pesquisa está associado às diversas formas de ação coletiva que estão orientadas em função da resolução de problemas ou de objetivos de transformação. Conclusões: A pedagogia de projetos é método que objetiva a integração entre ensino, a pesquisa e a extensão, aproxima o currículo à realidade do trabalhar, dando novo sentido ao processo do aprender, do ensinar, e do pesquisar. Palavras Chave: Pedagogia de projetos, Currículo, Pesquisa, Extensão. Pedagogy of projects: a case study in the course of pedagogy of the University of Brasília Abstract: Different types of educational organization. Vary the specificity of the course, the relationship between theory and practice and the goals of the course. Goal: analyze and discuss the pedagogy of projects. Methodology: Investigate the case of pedagogy of the University of Brasília (UnB), one of the four universities Federal organized by projects. Focus the project Theatre Ecopedagógico, typical example between 20 projects offered, between 2006 and 2009, involving approximately 100 students. Results: the results suggest strategies aimed at the dissemination of pedagogy of projects, since it requires a change in posture pedagogical substantiated in design that learning occurs from resolution of significant historical situations for the student through the development of critical sense, scanning and resolving problems. This kind of search is associated with various forms of collective action that are geared to the resolution of problems or goals of transformation. Conclusions: the pedagogy of projects is method that objective the integration between education, research and extension approaches the curriculum to the reality of the work, giving new meaning to learn, teach, and searching. Key-words: Pedagogy of projects, Curriculum, Research, Extension. 1 Introdução Este artigo é resultado de análise do currículo do curso de pedagogia, especialmente dos projetos três, quatro e cinco, que fazem parte do rol de atividades obrigatórias para a formação do pedagogo. O currículo do curso de pedagogia é separado por projetos e foi adotado em consonância com as diretrizes nacionais para o curso de pedagogia. Nesse contexto, surgiu a iniciativa de relacionar a pedagogia de projetos com o currículo do curso de pedagogia e seus respectivos desdobramentos na relação entre ensino, pesquisa e extensão. As observações e inferências vêm sendo desenvolvidas desde 2006 na Universidade de Brasília (UnB), por meio do projeto de extensão de ação contínua: Teatro Ecopedagógico. Para Bareicha (2008) o conceito da ecopedagogia organiza ideológica e pedagogicamente as ações que utilizam o teatro e o sociodrama como estratégias de mobilização social. O teatro ecopedagógico por meio do grupo do Instituto Círculo de Giz e a Faculdade de Educação da Universidade de Brasília desenvolvem em parceria o projeto Teatro Ecopedagógico que utiliza o método baseado na Pedagogia do Drama. A ecopedagogia diz respeito a um novo paradigma. O paradigma da sustentabilidade. O paradigma da economia solidária. O paradigma do bem estar individual-social-cósmico. O paradigma da consciência ecológica, da convivência, da tolerância, da inclusão, da autonomia, da socionomia, da cidadania planetária. (BAREICHA, 2008). Nesse paradigma os conteúdos pedagógicos são a criatividade, a liberdade, a responsabilidade, a espontaneidade, a iniciativa, a igualdade, a etnicidade, a convivência multicultural e biodiversa (Gutiérrez, 1999). Dessa forma, de maneira mais ou menos acelerada e articulada, a consciência ecológica cresce e se materializa através dos movimentos sociais, entre os formadores de opiniões, que ajudam a transformar o senso comum da população em geral; através de iniciativas científicas, que ajudam a explicar e a complexificar os problemas e suas soluções. A educação é colocada como cerne da base fundamental da formação de estudantes aptos ao exercício pleno da cidadania. A educação, como parte integrante e com papel fundamental na formação dos estudantes, quando não atenda as demandas mais emergentes, pode acabar desvirtuando sua função precípua, que é a da educação de qualidade. Na primeira metade do século XX, um movimento de educadores europeus e norteamericanos contestava a passividade a que os métodos da Escola Tradicional condenavam a criança. Nesse movimento, denominado Escola Nova destacamos o filósofo John Dewey (1859-1952). Ele critica a Escola Tradicional, pois esta utilizava métodos passivos e os professores eram percebidos como detentores de todo o saber. Dessa forma, reproduzia e perpetuava valores vigentes. Conhecimentos e tecnologias integram-se para produzir novos conhecimentos que permitam compreender as problemáticas atuais e desenvolver projetos em busca de alternativas para a transformação do cotidiano e a construção da cidadania. Ao desenvolver projetos em sala de aula, é importante levantar problemáticas relacionadas com a realidade do aluno, cujas questões e temáticas em estudo partem do conhecimento que ele traz, bem como nos mostra o mestre Paulo Freire quando se refere à alfabetização, onde é importante trabalhar com as palavras geradoras, do cotidiano dos alunos, de seu contexto que buscam desenvolver investigações para construir um conhecimento científico que ajude este aluno a compreender o mundo e a conviver criticamente na sociedade. O projeto Teatro Ecopedagógico integra linguagens artísticas e princípios de ecologia humana. Entre outras ações desenvolvidas há duas que se destacam: o Teatro Círculo de Giz e a Educação em Saúde. Ambas convergem seus esforços para a realização de cursos de formação em educação e promoção da saúde para estudantes, professores e jovens. A qualidade da educação e do ensino tem muito a ver com o tipo de cultura que nela se desenvolve. É o que afirma Gimeno Sacristán (2000) no que concerne a re-elaboração dos significados de que a educação tem para si no cotidiano e como a cultura influencia nisso. Para cumprir tal tarefa, é necessário ampliar e personalizar a informação de modo a atingir os indivíduos em sua identidade pessoal e em todas as convicções, valores, projetos de vida e motivação que embasam o comportamento em foco. 2 Apresentação da problemática da pesquisa A ciência e a arte de ensinar e aprender encanta e desafia o pensamento e a ação dos educadores. O papel da arte sempre teve algo de subversivo e de inovador: uma crítica, uma ilustração, um desnudamento impróprio aos estatutos de poder instituídos. “Por sua vez, as ciências humanas e sociais advogam para si os fundamentos da educação, e a pedagogia nasce investida na difícil tarefa de definir seu estatuto epistemológico e, ao mesmo tempo, instrumentalizar o professor em seu imprescindível papel de profissional” (BAREICHA, 1999). A Pedagogia de Projetos é uma mudança de postura pedagógica fundamentada na concepção de que a aprendizagem ocorre a partir da resolução de situações didáticas significativas para o aluno, aproximando-o o máximo possível do seu contexto social, através do desenvolvimento do senso crítico, da pesquisa e da resolução de problemas. (FREITAS, 2003.) Segundo Hernández (1998), os projetos não podem ser considerados como um modelo pronto e acabado ou como metodologia didática, ou separados de sua dimensão política. Trabalhar com projetos significa dar novo sentido ao processo do aprender e do ensinar. Eles devem estar voltados para uma ação concreta, partindo da necessidade dos alunos de resolver problemas da sua realidade, para uma prática social que pode ser adaptada ao contexto escolar através de exposições, maquetes, músicas, dança, trabalhos artísticos, artesanatos, passeios, dentre outros. Projetos pedagógicos podem ser construídos a partir de um eixo norteador, que independente do foco do projeto pode se utilizado, e implica em pelo o menos quatro etapas, como exemplificado por (Suzana Burnier, 2007) adaptado pelo autor: a) A problematização: quando se define o problema a ser investigado ou o empreendimento a ser realizado. Nessa etapa, o fundamental é conseguir que o problema ou empreendimento seja assumido por todos os alunos como problema seu, implicando-os em seu desenvolvimento; b) A etapa seguinte é a do desenvolvimento do projeto, quando se fará o planejamento do caminho a ser percorrido, definindo-se as fontes a serem investigadas, os recursos necessários, o cronograma do trabalho e, se for o caso, a atividade de culminância do projeto; c) A terceira etapa de um projeto é a sistematização ou síntese. É o momento em que se retomam os passos dados, tomando-se consciência do caminho percorrido, via de regra invisível para quem estava "de dentro", envolvido no mesmo. É quando se exercitam as habilidades de síntese, selecionando os conhecimentos mais importantes trabalhados ao longo do projeto e organizando-os segundo a forma anteriormente combinada, que funcionará como o ponto de culminância do projeto; d) A outra etapa dos projetos na verdade deve acontecer entremeada com as demais e ainda ao final de toda a tarefa: é a avaliação. Aqui pretende-se implantar todo um conjunto de idéias que vêm sendo longamente construídas ao longo da história da educação acerca do que seja avaliar um processo de aprendizagem. Pretende-se, com a avaliação, melhorar o processo, aprimorando todos os envolvidos. Os processos educativos não podem ter compromissos com avaliações que visam distinguir os melhores dos menos capazes. De acordo com Celso Vallin (2007), embora cada projeto apresente particularidades e exija adaptações, as seguintes preocupações básicas devem ser consideradas na construção de um projeto: a) Identificação de um problema; b) Levantamento de hipóteses e soluções; c) Mapeamento do aporte científico necessário; d) Seleção de parceiros; e) Definição de um produto; f) Documentação e registro; g) Método de acompanhamento e avaliação; h) Publicação e divulgação. A idéia central da Pedagogia de Projetos é articular os saberes escolares com os saberes sociais de maneira que, ao estudar, o aluno não sinta que aprende algo abstrato ou fragmentado. Um dos pressupostos básicos do projeto é a autoria – seja individual, em grupo ou coletiva. Daí a importância do desenvolvimento de projetos articulados que envolvam a co-autoria dos vários protagonistas, protagonistas entendidos como atores principais do processo, e não apenas coadjuvantes, meros auxiliares do processo. A construção de um projeto deve considerar a unidade de propósitos, consistência nas ações, sentido comum nos esforços de cada um e resultados sistematizados. A escola é uma das estruturas mais importantes nos processos de mudança social, bem como observa Apple (2006) que “as atitudes educacionais dos grupos dominantes na sociedade ainda carregam o peso histórico e estão exemplificadas mesmo nos tijolos e na argamassa dos próprios prédios da escola”. A partir dos pressupostos ecopedagógicos, uma série de procedimentos de ação têm sido desenvolvidos e organizados como referência teórico-metodológica destinada aos profissionais que utilizam métodos e técnicas da pedagogia ativa para o enfrentamento de diferentes dramas sociais. O currículo prescrito se mostra por hora bastante incipiente, outrora contemplador quanto da contribuição para os processos de mudança. “A assepsia cientifica não cabe nesse tema, pois no mundo educativo, o projeto cultural e de socialização que a escola tem para seus alunos não é neutro” (SACRISTÁN, 2008). Para Goodson (2008) a matriz de modelos e teorias de mudanças, em movimento, nos levou de uma crença confiante na mudança interna gerada profissionalmente até a mudança externamente comandada e triunfalmente proclamada. Crença essa que move todas as relações frente ao que é posto pela ideologia dominante. Um dos desafios atuais da universidade pública brasileira é estabelecer, de fato, as relações do ensino a pesquisa e a extensão. Os papéis da pesquisa e do ensino são inegáveis. O papel da extensão, durante muito tempo, foi questionado. Os indicadores oficiais de produtividade sempre privilegiaram o desenvolvimento de pesquisas e sua conseqüente divulgação em congressos e publicação em periódicos afins. “Os “eventos” de extensão e as “atividades de extensão” sempre foram mais valorizados quando associados à divulgação de pesquisas ou a realização de ensino pontualmente”. (BAREICHA, 2005). A relação entre ensino, pesquisa e extensão apresenta-se no âmbito das universidades públicas brasileiras como expressão de excelência que por sua vez demonstra suas virtudes e compromissos sociais. A busca incessante pela excelência por sua vez, apresenta-se como uma estratégia que apregoa todos os contextos experienciais, construídos pelo trabalho dos homens, que a partir do exercício da práxis encerram uma tríplice orientação: o que fazer, para que fazer e como fazer. Lígia Martins (2007) afirma que é por esta via que o homem pode transformar a matéria em idéia e a idéia em matéria. Tais afirmações permitem-nos deduzir que o desenvolvimento das capacidades ontológicas essenciais requer a construção e a consolidação das propriedades, dos atributos humanos imprescindível à práxis. Há uma grande complexidade quando se fala da relação entre o ensino, a pesquisa e extensão, por se tratar inclusive de uma dupla função do ensino superior que não pode ser dissociada. A função de formação profissional e a que implica na aprendizagem de um conjunto de conhecimentos e domínios metodológico-técnicos. Nas duas últimas décadas, especialmente após a Lei de Diretrizes e Bases Nacionais – LDB – Nº 9.394/96, se percebeu uma vontade incessante de rever os processos de ensino e de aprendizagem. É conclamado que as aprendizagens estejam congruentes com os anseios da realidade, apresentados pela própria comunidade. Instala-se uma relação de condicionamento da construção de conhecimentos ao meio, determinante para a construção de competências. Para o pedagogo Phillipe Perrenoud, apud Lígia Martins (2007), principal referência na disseminação desta noção no ideário pedagógico brasileiro, anuncia a competência como uma qualidade desenvolvida no indivíduo por meio daquilo que ele faz. Sua construção vincula-se, portanto, a prática social. Pratica social esta que ainda é apregoada ao estrito laço, quando há, aos eixos estruturantes da práxis educativa, mas que ainda não se faz presente na maior parte dos circuitos da formação universitária. O eixo estruturante do processo formativo se define na articulação indivíduo situação, onde os projetos de extensão representam um dos eixos que pretende atender ao objetivo precípuo de aproximar o conhecimento que é produzido e compartilhado no seio das universidades frente às comunidades, onde os mesmos experienciam os eixos de ensino e pesquisa, completando o ciclo de aprendizagem de forma orgânica com enfoque ao eixo estruturante ensino, pesquisa e extensão. Organicamente unidas ao ensino é que a pesquisa e a extensão terão, certamente, a máxima expressão na formação superior. Se por um lado, o ensino coloca o aluno em relação com o produto da ciência, a pesquisa o coloca em relação com o seu desenvolvimento, instrumentalizando-o para produzir conhecimentos a partir de sua futura atuação profissional ou em situações planejadas especificamente para este fim. (MARTIN, 2007). Essa idéia fortalece a concepção de que a extensão é extremamente necessária à formação atrelada á pesquisa. Infelizmente a extensão ainda enfrenta um grande desafio, especialmente por muito tempo ter tido caráter básico assistencialista e traz desdobramentos no circuito acadêmico de menor valor à extensão. Tendo dessa forma sofrido ao longo do tempo muito preconceito. Para tanto, é preciso que a extensão seja vista como uma instância indissociável à formação, vislumbrando um ciclo de formação completo. De acordo com Lígia Martins (2007) não se trata, porém, de conceber a intervenção ou extensão apenas como uma oportunidade de treinamento no qual o aluno realizará gratuitamente o que executará futuramente mediante honorários ou ainda, promovê-la com caráter eminentemente retributivo e assistencialista. Tais preceitos extensionistas devem ser superados e para tanto algumas reflexões sobre a história da extensão universitária no Brasil. É preciso superar, entender e fazer. Um dos desafios da Universidade Pública Federal tem sido o de aproximar a pesquisa, o ensino e a extensão de forma mais articulada. Algumas ações estão sendo realizadas, e a Universidade de Brasília – UnB - está concatenada a esse objetivo, em decorrência propôs um conjunto de ações, que pudessem expressar sua função social. A Extensão tem, pois, um importante papel de ancoragem dessa função social, por meio dos programas e cursos voltados para as necessidades da sociedade local, compartilhada com as regiões administrativas. As origens da extensão universitária reportam-nos ao regime militar, à ditadura, e ao papel que as universidades públicas foram conclamadas a assumir naquele momento. Tratavase de um processo de mão única (universidade – sociedade) imbuído de inúmeros preconceitos ideologicamente criados e reforçadores da sociedade de classes. É notório que a universidade que tem buscado incessantemente uma profunda compreensão da realidade social, para que a partir do ensino e da pesquisa possa entender os processo complexos e a partir da extensão poder intervir diretamente na realidade. Nesse sentido a extensão ocupa lugar tão importante quanto o ensino e a pesquisa, pois é, sobretudo, por meio dela que os dados empíricos imediatos e teóricos se confrontam, gerando as permanentes re-elaborações que caracterizam a construção do conhecimento científico. De acordo com o Manual da Extensão da Universidade de Brasília de 2004 toda atividade de extensão acadêmica pressupõe uma ação junto à comunidade, disponibilizando ao público externo à Instituição o conhecimento adquirido com o ensino e a pesquisa desenvolvidos na Universidade. Conforme proposto no Plano Nacional de Extensão elaborado pelo Fórum de PróReitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras e pela Secretaria de Ensino Superior do Ministério da Educação e do Desporto (2000), este modelo de extensão. (...) vai além de sua compressão tradicional de disseminação de conhecimentos - cursos, conferências, seminários -, prestação de serviços; assistência, assessorias e consultorias; e difusão cultural (realização de eventos ou produções artísticoculturais). Portanto, objetiva-se retirar da extensão o caráter de “terceira função” para (...) dimensioná-lo como filosofia, ação vinculada, política, estratégia democratizante, metodologia, sinalizando para uma universidade voltada para os problemas sociais com o objetivo de encontrar soluções através das pesquisas básicas e aplicadas, visando realimentar o processo ensino-aprendizagem como um todo e intervindo na realidade concreta (...). De acordo com a política de extensão em vigor na UnB, as ações de extensão apresentam grande diversidade e derivam da natureza da Universidade, cuja função é cultivar o saber, no sentido da sua produção, disseminação e aplicação. Com essa amplitude e complexidade, a extensão universitária na UnB, assume ainda alguns requisitos: a) trabalho processual onde a relação escola-professor-aluno-sociedade passa a ser de intercâmbio, de interação, de modificação mútua e de complementaridade; b) veículo de comunicação permanente com diferentes setores da sociedade, numa perspectiva contextualizada; c) meio de formar profissionais-cidadãos capacitados a antecipar e criar respostas às questões da sociedade; d) alternativa de produção de conhecimento, de aprendizado mútuo e de realização de ações simultaneamente transformadoras entre a Universidade e sociedade; e) aprendizagem recíproca entre alunos, professores e sociedade que ocorre em qualquer espaço e momento, dentro e fora da Universidade; f) vivência social, política e profissional dos professores, alunos e técnicosadministrativos por intermédio interdepartamental e interinstitucional. de uma ação interdisciplinar, Bareicha (2005) aponta que um dos desafios atuais da universidade pública brasileira é estabelecer, de fato, as relações entre o ensino, a pesquisa e a extensão. Os papéis da pesquisa e do ensino são inegáveis. A pedagogia do drama também pode ser utilizada nas estratégias de educação em saúde. Para Bareicha (2005), “a pedagogia do drama propõe uma abordagem multireferencial e procura realizar uma leitura plural de seus objetos de estudo e ação, teóricos e práticos”. Esse olhar sobre a pedagogia do drama propõe uma abordagem que contemple, não só a valorização cênica, mas adentre pelos caminhos das relações de ensino, ainda pouco exploradas. É necessário que, ao se falar de relações de ensino, estejam ligados com as relações de aprendizagem, utilizando as mais diversas ferramentas para atingir aos objetivos propostos, inclusive com a mescla de metodologias para atender as especificidades, uma vez que não existe uma metodologia única para todas as demandas apresentadas. Segundo Bareicha (1999), desde o período pré-socrático há registros de utilização das alegorias do teatro como instrumento de transmissão ou divulgação de conhecimentos. No Brasil, desde a época do descobrimento, há relatos de apresentações cênicas. O teatro é utilizado, como uma ferramenta que modifica elementos de uma comunidade, que traz consigo o pertencimento frente aos temas abordados. Brecht parte rumo a uma concepção de teatro cujo conteúdo lidasse com os problemas de sua época e através do qual os espectadores pudessem colher elementos para compreendê-los, possibilitando-lhes assim a elaboração de estratégias de intervenção na realidade. Como apresentado por Kulesza (2002): Foi em função, portanto, da participação de amadores em espetáculos, que Brecht iniciou a sua teorização pedagógica. Desta forma, o teatro didático foi inicialmente concebido como um exercício de preparação, estética e política, dos atores. Esta motivação inicial nunca seria abandonada. São famosos os longos meses de ensaio antes da estréia de uma peça por ele dirigida no Berliner Ensemble, tendo em vista, muito mais do que a perfeição técnica, o aprendizado por parte do elenco de todas as implicações daquilo que estavam representando. Sua concepção do “coordenador de ensaios” pode ser aplicada perfeitamente ao professor, bastando assimilar a aula a uma espécie de ensaio, e o coordenador ao professor. Embora longas, vale a pena citarmos as prescrições que Brecht faz a quem tenha essa função. O coordenador não entende por ensaio a submissão à disciplina a partir daquilo que já está estabelecido em sua “cabeça”, entende-o como uma experimentação. Ele precisa exigir que várias possibilidades sejam mantidas. É perigoso para ele ser forçado a encontrar rapidamente a única solução “correta”. A única solução correta só pode ser uma dentre muitas soluções possíveis, se é que ela existe, e vale a pena experimentar também outras soluções, mesmo porque, assim, a solução final será enriquecida. A existência de um teatro didático repousa, pois, na existência de uma escola divertida, de entretenimento e também de prazer. Porém, como o teatro de Brecht não é diretivo, no sentido de não se tratar de um teatro moralista como ele frisou várias vezes, como fará o professor para conciliar o lúdico e o político na sala de aula? Essa é uma questão que aponta um dos grandes desafios frente à formação de professores, uma vez que o tripé que se frisa na maioria das universidades, ensino, pesquisa e extensão, ainda não são exercidas, possibilitando uma incongruência com o que se propõe nos cursos de formação. O distanciamento entre o campo teórico e o prático não é um privilégio da atualidade, esse é um quadro que vem se arrastando há anos. O teatro vem rompendo com o paradigma de que a educação deve ser vista como uma relação unilateral, onde somente os professores são os detentores do saber, uma vez que a didática teatral se faz extremamente necessária como estratégia de aproximação docente e discente. Uma técnica que pode ser considerada modelar para a aplicação do estranhamento nas novas tecnologias de informação visando uma educação emancipatória é a simulação, conceito, aliás, de imediata associação com o jogo teatral. As simulações em tempo real, tornadas facilmente disponíveis para os alunos, podem ser propostas pelo professor para, por exemplo, estudar o efeito de uma variável na modificação de uma determinada situação. KULESZA (2002). No contexto da prevenção a realidade tem nos mostrado que ações educativas realmente eficazes não são alcançadas simplesmente através da divulgação de informações factuais. Para cumprir tal tarefa, é necessário ampliar e personalizar a informação de modo a atingir os indivíduos em sua identidade pessoal e em todas as convicções, valores, projetos de vida e motivação que embasam o comportamento em foco. De acordo com Edgar Hamann (1998), muitos profissionais da área da saúde que trabalham na área de atenção, cuja formação está orientada para o atendimento de doentes, vêm-se confrontando com a necessidade de implementar práticas variadas de educação em saúde. Isso é suficiente para iniciar um diálogo com profissionais que realizam sociodrama bem como apresentar reflexões em torno de suas possibilidades nesse campo. Outro momento de crescimento com o sociodrama pedagógico é decorrente da oportunidade de refletir sobre a psicologia da prática social da educação. Drama" significa "ação" em grego. Psicodrama pode ser definido como uma via de investigação da alma humana mediante a ação. É um método de pesquisa e intervenção nas relações interpessoais nos grupos, entre grupos ou de uma pessoa consigo mesma. Mobiliza para vivenciar a realidade a partir do reconhecimento das diferenças e dos conflitos e facilita a busca de alternativas para a resolução do que é revelado, expandindo os recursos disponíveis. Tem sido amplamente utilizado na educação, nas empresas, nos hospitais, na clínica, nas comunidades. 3 Metodologia A pesquisa é de natureza qualitativa – descritiva, com enfoque fenomenológico. Considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa. O primeiro passo foi a implementação do projeto de extensão de ação contínua: Teatro Ecopedagógico. As observações foram feitas de 2006 até 2009 no âmbito dos projetos três, quatro e cinco. Os projetos três integram o currículo do curso de pedagogia da faculdade de educação da Universidade de Brasília e fazem parte dos componentes curriculares obrigatórios para os estudantes da pedagogia e para os demais cursos como disciplina optativa ou módulo livre. Os projetos três se apresentam como espaços de formação que integram o ensino, a pesquisa e a extensão como premissas norteadoras do trabalho. Em 2006 foi implementado o projeto em educação e saúde, onde concentrava no currículo, questões ligadas a sexualidade e juventude, bem como violência, prevenção das DST/HIV/Aids, dentre outros. A iniciativa era mobilizar os estudantes para que participassem do projeto, uma vez que acabara de ser implementado com essa temática. A dinâmica do projeto integrava o ensino – em sala de aula- por meio de oficinas e de atividades sócio-psicodramáticas, onde o mais importante era a re-significação de conteúdos por meio de discussões sobre os temas correlatos. Havia ainda atividades de pesquisa, uma vez que uma das propostas era de os próprios estudantes apresentarem atividades para seus pares e para jovens de comunidade. Para tanto era necessário trabalho de pesquisa para elaboração do que seria apresentado. Culminava com intervenções junto à comunidade, onde se completava o ciclo do ensino, pesquisa e extensão. No ano de 2007 foi ofertada a primeira turma de orientação em projeto quatro, também integrante curricular obrigatório para estudantes do curso de pedagogia – consiste na prática de estágio supervisionado – onde os estudantes que, depois de passado pelas fases de projeto três, vão à campo exercitar as práticas de ensino-aprendizagem. As estratégias utilizadas eram de adaptação livre, tendo como eixo central oficinas e atividades sóciopsicodramáticas. A maioria dos estágios consistiu na oferta de cursos para jovens do ensino médio. O projeto cinco, trabalho de final de curso- monografia, teve sua primeira defesa no âmbito do projeto em 2007. É resultado do trabalho realizado desde as fases de projetos três e quatro, culminando em projeto cinco. Trivinõs (2007) afirma que: Toda pesquisa pode ser, ao mesmo tempo, quantitativa e qualitativa. Na prática ocorre que toda investigação baseada na estatística, que pretende obter resultados objetivos, fica exclusivamente no dado estatístico. Raramente o pesquisador aproveita essa informação para avançar numa interpretação mais ampla da mesma. Seu ideal é estabelecer que existe entre os fenômenos uma relação estatisticamente significativa ou não, verificar empiricamente suas hipóteses ou determinar que elas foram rejeitadas. Os investigadores pouco experientes, especialmente, que transformam a estatística num instrumento fundamental de busca, quando ela realmente deveria ser um elemento auxiliar do pesquisador, desperdiçam um material hipoteticamente importante. E terminam seu estudo onde, verdadeiramente, deveriam começar. (p. 118) As observações mesclaram tanto o método quantitativo, quanto o qualitativo, uma vez que um não anula o outro, nem impede que os dois possam ser utilizados em uma mesma pesquisa. Ao ponto que a pesquisa qualitativa vem sendo empregada com grande freqüência, especialmente em pesquisa na área da educação. 4 Resultados Em quatro anos de projeto foram capacitados 210 estudantes universitários e 1.190 do ensino médio. De 2006 até 2009 tiveram a oferta de sete turmas de projetos três, cinco turmas de projeto quatro e seis monografias. Os projetos contaram com uma grande variedade de cursos, tinham estudantes dos cursos de letras, matemática, informática, física, serviço social, artes, ciência política, dentre outros. A importância de diversos olhares e interesses, por áreas do saber, se convergem. O projeto integrou alunos de pós-graduação, de graduação e do ensino médio. Criou espaços de formação em educação e saúde, aproximou a universidade da comunidade, favoreceu ações de protagonismo entre seus pares e a comunidade. Os projetos propiciaram oportunidades de reflexão, autocontrole, autoconhecimento, auto-cuidado, abrindo novas possibilidades de transformação e crescimento pessoal. É importante que os estudantes possam repensar valores, desejos, sentimentos, surpreender-se consigo mesmos e descobrir suas próprias potencialidades, sua criatividade e capacidade de transformação. Os currículos devem ser mais flexíveis, devem utilizar metodologias participativas que promovam o desenvolvimento de habilidades e favoreçam a reflexão e a troca de experiências. A análise das observações apontou ainda a dificuldade que os estudantes têm de se expressar de forma clara e objetiva, dos relacionamentos de convivência com os colegas e com os temas. Diferentes são os problemas que podem gerar essas dificuldades nos estudantes. Nos projetos, o sócio-psicodrama tem funcionado como técnica de intervenção educativa, dando ao universo dos estudantes, possibilidades de criação, expressão e re-significação. Finalmente, o sociodrama foi percebido e utilizando como linguagem e expressão, instrumento que facilita a comunicação. 5 Considerações Finais Elementos da saúde e da educação estão presentes durante todo o desenvolvimento humano de maneira muito expressiva. O psicodrama como método junto à abordagem de temas ligados a educação e saúde pode desenvolver técnicas para auxiliar no processo de ensino-aprendizagem que sirvam como apoio pedagógico. O sociodrama é método de tratamento, de investigação de grupo que permite a abordagem ecopedagógica e a construção coletiva de conhecimento e expressão. Ele tem aspectos educativos, estéticos e terapêuticos, sendo útil para ações educativas, envolvendo estudantes e suas demandas. É importante que a Universidade se atente à importância frente à reformulação de seus currículos, à formação de professores e estudantes, pois apesar de toda a discussão acerca de questões sobre educação e saúde, as ações integradas ainda são incipientes. O ensino, a pesquisa e a extensão devem efetivamente fazer parte do cotidiano das universidades, seja por meio de projetos ou não. Ao vivenciar atividades dessa natureza, os estudantes vão assimilando estruturas próprias. Contudo, devemos buscar transformar tais atividades em projetos pedagógicos. A estrutura dos projetos segue alguns conceitos estruturais como os apresentados por (Celso Vallin, 2007) que consiste na identificação de um problema, no levantamento de hipóteses e soluções, no mapeamento do aporte científico necessário, na seleção de parceiros, definição de um produto, documentação e registro, para que possa avaliar continuamente o processo. O tetro ecopedagógico propõe uma abordagem multireferencial e multiprofissional e procura realizar uma leitura plural de seus objetos de estudo e ação, teóricos e práticos. Os diferentes olhares instituem tanto pontos de vista específicos, quanto linguagens mais apropriadas que outras, conforme a ação exige. Procura-se tornar mais legível a complexidade dos fenômenos que envolvem a educação a partir de leituras qualitativas. Os olhares envolvidos apresentam sua contribuição procurando outros olhares afirmativos. 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