A história do emprego de vírgula do Português Clássico ao Português Europeu Moderno Cynthia Tomoe Yano Charlotte Marie Chambelland Galves RESUMO O presente projeto de doutorado tem como finalidade dar continuidade à pesquisa desenvolvida no mestrado, intitulada Um estudo sobre o emprego de vírgula antes de oração completiva no Português Europeu Clássico: sintaxe, discurso e gramática normativa (CNPq Processo no131111/2010-8), e explorar mais profundamente determinadas questões levantadas a partir dos resultados obtidos anteriormente. Assim, pretende-se dividir o projeto em duas seções. Na primeira, serão desenvolvidas questões como: de que modo a vírgula era empregada na escrita de textos literários em Português, no período do século XVI ao XIX, com a hipótese de que a mudança na sintaxe do Português Clássico e a mudança no uso de vírgula no mesmo período estariam relacionadas, e visando discutir o papel da prosódia no uso da vírgula. Já na segunda, será feita uma análise comparativa de versões originais de textos dos séculos XVI e XVII e versões modernizadas por editores do século XX, tendo em vista, considerando a análise sobre a mudança na sintaxe e no sistema de pontuação do Português, mostrar como as intervenções dos editores, particularmente sobre a sintaxe e a pontuação dos textos antigos não são fortuitas, mas refletem a mudança na gramática da língua. Para tanto, serão utilizados dois corpora: um corpus geral, composto por 24 textos literários escritos por autores nascidos no período dos séculos XVI ao XIX; e um segundo corpus composto por 8 textos dos séculos XVI ao XVIII, cada um com uma versão original e uma versão editada. 1 1. INTRODUÇÃO Nos estudos linguísticos do português poucos ainda são os trabalhos que têm como enfoque a pontuação e que se preocupam em descrever e explicar o funcionamento dos sinais no decorrer da história da língua. Os que existem, na sua grande maioria, se concentram apenas na análise de documentos do Português Medieval, dos séculos XIII a XV (cf. MACHADO FILHO, 2004; MATTOS E SILVA, 1992), sendo raros os que se dedicam ao Português Clássico, dos séculos XVI a XVIII (cf. ROSA, 1994; YANO, 2013), que é um período importante na história da língua, pois será nesse intervalo que ocorrerão mudanças significativas no sistema de pontuação e nas regras de uso dos sinais nas gramáticas normativas, que culminarão no sistema do Português Moderno. Tendo em vista os resultados obtidos em um estudo anterior, desenvolvido no mestrado, sobre a colocação de vírgula antes de orações completivas nominais e verbais, até o início do século XVIII, havia uma grande flutuação nas regras e funções dos sinais de pontuação, especialmente da vírgula, que, por vezes, era empregada com o valor de outros sinais, ou outros sinais, como o ponto final, eram utilizados com o valor de vírgula. Além disso, embora as gramáticas normativas antigas não mencionem nada a respeito, se observou que os autores, até fins do século XVII, também empregavam a vírgula para delimitar e introduzir um enunciado relatado. A partir do século XVIII a vírgula passou a ter funções e regras mais definidas, semelhantes às do Português Moderno. Assim, este projeto de doutorado tem como propósito explorar mais profundamente essas questões, procurando compreender melhor como a vírgula era empregada na escrita e quais eram os fatores que motivavam o uso ou não do sinal em diversos contextos, e se a mudança no uso do sinal na escrita teria alguma relação com a mudança na sintaxe do Português, observada na mesma época, no século XVIII. Outra questão que pretende-se discutir é a modificação da pontuação, mostrando que redunda numa interferência na integridade linguística do texto original. Para este projeto deverão ser analisadas, especialmente, a relação da pontuação e a sintaxe dos textos. 2 2. OBJETIVOS O objetivo deste projeto de doutorado é dar continuidade ao trabalho desenvolvido durante o mestrado, intitulado Um estudo sobre o emprego de vírgula antes de oração completiva no Português Europeu Clássico: sintaxe, discurso e gramática normativa (CNPq Processo no131111/2010-8). Desse modo, pretende-se aprofundar o estudo sobre o uso de vírgula na escrita do Português Europeu do século XVI ao século XIX, buscando desenvolver novas questões: realizar a análise e um tratamento estatístico de um conjunto maior de dados, de um corpus de textos ampliado, visando outros tipos de construções, além das com orações completivas nominais e verbais. levando-se em conta os resultados obtidos na pesquisa anterior em relação aos dados em que o verbo regente é um verbo do tipo introdutor de discurso relatado, verificar de que modo a vírgula é empregada antes de oração completiva introduzida por verbos e nomes não introdutores de discurso. verificar qual é a relação entre as regras e o emprego de vírgula na escrita e a prosódia do Português Europeu Clássico, procurando compreender o que seria exatamente o que, até meados do século XVIII, os gramáticos denominam “pontuação prosódica”. verificar se de fato há uma relação entre a mudança na sintaxe do Português no século XVIII e a mudança no emprego de vírgula no mesmo período. analisar construções de versões original e editada de textos antigos, em que a pontuação foi modernizada por editores a fim de torná-los mais acessíveis a um público moderno, tendo em vista a hipótese de que a mudança na sintaxe teria sido um fator para a mudança no uso da vírgula. 3. DISCUSSÃO Levando-se em conta que este projeto de pesquisa tem como finalidade dar continuidade ao estudo desenvolvido durante o mestrado, intitulado Um estudo sobre o emprego de vírgula antes de oração completiva no Português Europeu Clássico: sintaxe, discurso e gramática normativa (CNPq Processo 3 no131111/2010-8), nesta seção serão apresentados alguns resultados obtidos anteriormente que levaram a se pensar em novas questões, as quais pretende-se desenvolver neste projeto. 3.1. COMPARAÇÃO ENTRE CONSTRUÇÕES COM E SEM VÍRGULA ANTES DE ORAÇÃO COMPLETIVA NOMINAL E VERBAL No estudo anterior, foi realizada a análise de um conjunto de dados em que havia uma vírgula entre uma oração completiva e o seu regente nominal ou verbal, a fim de se observar como o sinal de pontuação era empregado na escrita no Português Europeu durante o período do século XVI ao XIX e quando ele teria deixado de ser empregado nesse tipo de contexto, considerando que a norma gramatical, no Português Moderno, considera tal uso equivocado. Assim, o que se observou na análise foi que, na maior parte das ocorrências encontradas, o nome e o verbo regentes eram do tipo que introduzem um discurso relatado, como, por exemplo, “mandar”, “dizer”, “fazer a saber”, “dar por resposta”, “pregão” (= “anunciar”), “novas” (= “contar (notícia)”), e, portanto, que era provável que a vírgula possuísse uma função a mais, de delimitar e introduzir um discurso relatado, seja ele direto ou indireto. Apesar de as gramáticas e os tratados de ortografia da época não fazerem qualquer menção à essa função da vírgula, tal hipótese parece se sustentar pelo fato de haver uma alta incidência de casos nos textos literários analisados e por terem sido encontrados os mesmos tipos de construções, com os mesmos tipos de verbos, em que a oração completiva é precedida por dois pontos, os quais já possuíam nas gramáticas, desde os primórdios, a mesma função de introduzir um relato ou uma citação. Exemplos: 1. Sentença com vírgula entre um verbo e uma oração completiva: a. Outros querem dizer, que é sem nenhuma falta a esperma da mesma Baleia: 4 2. Sentença com vírgula entre um nome e uma oração completiva: b. Publicou-se um edito, que nenhum bispo ainda, que fosse protestante tivesse voto no Parlamento, 3. Sentença com dois pontos entre um verbo e uma oração completiva: c. E dando-lhe o livro, lhe disse: “Que lhe mostrasse os quatro homens, que escreveram a Lei dos Cristãos”. Porém, ao se analisar textos mais recentes, setecentistas e oitocentistas, o que se notou é que esse uso da vírgula parece ter caído em desuso a partir do século XVIII e as suas funções e regras de uso passaram a ser mais similares às da gramática do Português Moderno. Ou seja, nos séculos XVI e XVII os escritores empregavam o sinal de pontuação como um recurso retórico, para marcar não somente uma pausa maior, mas também que a seguir viria uma fala ou um relato. No entanto, tal função, principalmente a partir do século XIX, se perdeu e diversos novos sinais ganharam espaço, como as aspas e o travessão, e os autores passaram a empregá-los para indicar o discurso relatado nos seus textos escritos. Além disso, especialmente nos dados dos textos oitocentistas, os tipos de construção em que a vírgula está presente passaram a ser diferentes e a ter um elemento interpolado entre o verbo e a oração completiva, como uma oração parentética ou um vocativo, que, segundo a norma gramatical, deve ser obrigatoriamente isolado por vírgulas, hífens ou parêntesis. Essa periodização se sustenta ao se levar em conta os valores de ocorrência encontrados nos textos. Nas sentenças com orações completivas selecionadas por nomes precedidas por vírgula se observou que nos séculos XVI e XVII as porcentagens de ocorrência variam entre 2,42% e 3,47%, mas nos séculos XVIII e XIX caem para 0,25% e 0%, respectivamente. Já quanto às sentenças com orações completivas selecionadas por verbos precedidas por vírgula, no século XVI a porcentagem de ocorrências é de 31,25%, mas no século XVII a porcentagem é mais alta, de 59,59%. E a partir de então há uma queda brusca para 24,71% no século XVIII e 6,97% no século XIX. Ao se tomar cada texto separadamente como base, a análise se mantém, pois até o século XVII as porcentagens variam entre 40% a 80%, aproximadamente, mas a partir do início do século XVIII, há uma queda considerável e os valores passam a ser próximos a 11%. Desse modo, é possível se pensar que a mudança teria se iniciado já no início do século XVIII, chegando a ser quase total no século seguinte. 5 Embora os resultados apresentados sejam bastante significativos, não é possível afirmar que eles sejam suficientemente representativos. Assim sendo, uma das propostas deste projeto de pesquisa é realizar a análise e um tratamento estatístico de um conjunto maior de dados, a serem coletados de um corpus de textos ampliado, para se obter resultados mais consistentes. Além disso, outro tópico que também se pretende analisar é o emprego da vírgula em construções com verbos e nomes não-discursivos. Tais tipos de dados foram deixados de lado no estudo anterior, pois foi decidido focalizar a análise com base na hipótese da representação do discurso relatado na escrita. No entanto, é interessante levar em conta esses dados, especialmente para fins comparativos. 3.2. RELAÇÃO ENTRE A PROSÓDIA DO PORTUGUÊS E O EMPREGO DE VÍRGULA NA ESCRITA Além da influência do tipo de verbo que rege a oração completiva sobre a colocação ou não de vírgula antes da oração completiva, também se observou no estudo anterior que a prosódia parece ser um fator decisivo. Isto é, como ilustram os exemplos abaixo, o que parece ocorrer é que, havendo um elemento maior - um adjunto, uma oração adverbial, uma oração gerundiva ou uma oração relativa -, a colocação de uma outra vírgula antes do complementizador que seria impedida para que ele não seja isolado e, assim, não sejam marcadas duas pausas seguidas. Mesmo quando o verbo é seguido por uma cadeia mais longa, não se coloca vírgula antes de que, como no exemplo em 4.b. “antes lhe lembrava que instasse a Deus Nosso Senhor com apertadas orações que, pois lhe livrara o pé da queda, lho livrasse também da Braga com que o mundo o ameaçava, que a tinha por pior género de queda e por maior perigo.”. Também não se encontra virgula depois do verbo quando este é precedido por uma virgula. (cf. exemplos em 5.). 4. Exemplos com uma oração adverbial, uma oração gerundiva ou uma oração relativa contida na oração completiva: a. e afirmava se que, no que tocava a sua pessoa e casa, lha tinha de secreto sojeita 6 b. antes lhe lembrava que instasse a Deus Nosso Senhor com apertadas orações que, pois lhe livrara o pé da queda, lho livrasse também da Braga com que o mundo o ameaçava, que a tinha por pior género de queda e por maior perigo. c. respondeu que, apenas dera pela falta do berço, caíra como morta, d. e creia Vossa Excelência que, quando me lembra o que remeto e o que Vossa Excelência necessita, se põe na maior prova a minha sensibilidade. 5. Exemplos com um adjunto, uma oração adverbial, uma oração gerundiva ou uma oração relativa que precede ou contém o verbo regente da oração completiva: a. e, sem crer em pressentimentos, confesso que logo me lembrou o mano. b. O Cardeal de Estoureville em 1452, fazendo vários regimentos para a mesma Universidade por mandado de Carlos VII, ordenou que os Estudantes, e Bacharéis fossem examinados pela Metafísica, e Moral de Aristóteles. c. E o general Martim Afonso de Melo mandou aviso a Manoel da Silva Mascarenhas capitãomor da Vila de Mourão, advertindo-lhe que era necessário colher um castelhano, para saber dele o número da gente, e o lugar, a donde havia de ser o assalto: d. Toma por fundamento aquella prophecia de São Paulo, em que diz que a Egreja ha-de crescer, segundo a medida da edade de Christo: Outro tipo de construção no qual a prosódia parece exercer alguma influência no uso de vírgula é quando há um pronome clítico enclítico ou proclítico ao verbo. Isto é, assumindo, com Galves, Britto & Paixão de Sousa (2005), que nas construções com ênclise o sintagma que precede o verbo tem um contorno entoacional independente, e que nas construções com próclise o sintagma pré-verbal está incluído no mesmo contorno entoacional que o do verbo, espera-se, na escrita, seria mais provável a presença de uma vírgula antes de V-cl do que antes de cl-V. Após feita uma busca preliminar nos textos do corpus anotados sintaticamente, o que se observou parece sugerir que de fato a posição do pronome clítico em relação ao verbo está relacionado com o emprego ou não de vírgula. Em termos quantitativos, notou-se que, no geral, o número de ocorrências de ênclise e próclise precedidas por vírgula é inverso ao de ênclise e próclise sem vírgula. Isto é, com o sinal de vírgula 7 presente, há mais ocorrências com o clítico enclítico (V-cl), mas com a vírgula ausente, o número de ocorrências com o clítico proclítico (cl-V) é maior. Além disso, como é possível observar nos dados com ênclise precedida por vírgula, nos exemplos abaixo em 6., há uma variação nos tipos de ocorrências. Ou seja, há tanto construções com uma oração gerundiva como com um sintagma preposicional ou um sujeito precedendo o verbo. 6. Exemplos com ênclise (V-cl) precedido por vírgula: a. por isso as façanhas que só têm por princípio a vaidade do valor, reputam-se grandes aa proporção da impiedade, com que o mesmo valor as executa; b. Em o sábado gordo, retirando se o padre Allen para o seminário, armou se o teatro em a sala de as batalhas c. Ao amigo que prega os guardanapos grandes, sucedeu lhe neste dia uma desgraça. d. REINANDO aquele muito católico e sereníssimo Príncipe el-Rei Dom MANUEL, fez-se uma frota para a Índia de que ia por capitão mór Pedro Álvares Cabral: (...). E nos poucos dados encontrados com ênclise não precedida por vírgula os tipos de construções são os mesmos encontrados quando a vírgula está presente, porém, levando-se em conta a cronologia dos textos, é interessante notar que, à exceção dos textos Sermões, de Antônio Vieira, e Vida do apostólico padre Antonio Vieira, de André de Barros, ambos do século XVII, a maioria dos casos se concentra nos textos dos séculos XVIII e XIX. Quanto aos dados com o pronome clítico proclítico ao verbo, é interessante apontar que foram encontradas algumas ocorrências em que a vírgula está presente antes do clítico. No entanto, com a exceção de alguns casos, como os do texto Sermões, de Antônio Vieira (exemplo 7.a.), em que a vírgula separa cl-V do sujeito da oração, a colocação da vírgula antes do clítico sempre se dá pela presença de um aposto, adjunto, oração relativa, oração gerundiva, oração parentética em primeira ou segunda posição. Indo além da norma gramatical, que toma como regra a delimitação de tais tipos de elemento por pontuação, nestes casos as vírgulas, possivelmente, marcam uma mudança de tessitura, pelo fato de as orações conterem idéias complementares ao que está sendo dito. 8 7. Exemplos com próclise (cl-V) precedido por vírgula: a. Segundo esta conta, muitos dos que hoje são vivos, se pódem achar presentes a toda a tragedia do dia do Juiso, e vêr os horrendos signais que hão-de preceder. b. Com a honra, que adquire, se consola o que perde a vida; c. Andando um Lopo de Reboredo pelejando com muito esforço, lhe tirou um dos inimigos com uma fisga, d. Em o rosto de todos, parentes e amigos, se notava a mágoa profunda e a viva saudade que causava esta partida. Nos dados com próclise não precedida por vírgula, correspondentes à maioria das ocorrências com próclise encontradas, observou-se que, afora três casos em que o pronome clítico é precedido por uma oração relativa ou uma oração gerundiva, em todos os demais casos, de todos os textos dos séculos XVI ao XIX, o elemento que o antecede é um sintagma preposicional. Assim, tendo em vista essas análises preliminares, o que se pretende explorar neste projeto é, com a análise de um número maior de dados, observar mais detalhadamente como a vírgula se comporta em diversos contextos, além das orações completivas, e tentar estabelecer de que modo a prosódia influenciava o uso ou não do sinal. Pelos exemplos dados acima, é possível se pensar que fatores como a presença de um elemento, como um adjunto, formado por uma cadeia maior ou menor, uma conjunção que ou um pronome clítico enclítico ou proclítico ao verbo, bloquearia ou favoreceria o emprego de vírgula. Além disso, também pretende-se, com isso, procurar compreender com mais clareza o que seria o que os gramáticos, até fins do século XVIII, denominavam de “pontuação prosódica”. 3.3. RELAÇÃO ENTRE A MUDANÇA SINTÁTICA NO PORTUGUÊS E A MUDANÇA NO EMPREGO DE VÍRGULA Outra questão que se pretende discutir neste projeto de pesquisa é se haveria alguma relação entre a mudança na sintaxe do Português Europeu e a mudança no emprego de vírgula no Português 9 Europeu Clássico no mesmo período. Tal hipótese surgiu da semelhança observada entre os resultados da análise de dados nos quais há um sujeito interpolado entre uma oração completiva e o verbo que a rege, em construções em que há uma vírgula antes da oração completiva (cf. YANO, 2013), e os resultados de análises sobre a posição do sujeito e do verbo em orações matrizes (cf. PAIXÃO DE SOUSA, 2004; GALVES,, BRITTO & PAIXÃO DE SOUSA, 2005, GALVES & PAIXÃO DE SOUSA, 2005; GIBRAIL, A. 2010; ANTONELLI, 2011; GALVES & PAIXÃO DE SOUSA, 2013; GALVES & GIBRAIL, 2013). Quanto aos dados em que há um sujeito entre o verbo e a oração completiva nos dados com vírgula antes de oração completiva, o que se percebe é que, apesar de haver uma certa variação nos valores nos séculos XVI e XVII, nos textos desses períodos foi encontrada uma média de 10 e 25 ocorrências, respectivamente, mas no século XVIII há uma queda drástica para apenas 3 ocorrências e no século XIX o valor cai para quase zero. Tais resultados sugerem que no século XVIII houve uma mudança na posição do sujeito em orações matrizes antes de orações completivas, deixando de estar posposto ao verbo, seguindo a tendência observada pelos estudos mencionados acima. Tal mudança se relaciona com a mudança na colocação de vírgula, pois, como é possível observar nos exemplos abaixo, em construções com um elemento, como um sujeito, interpolado entre o verbo e a oração completiva, a vírgula parecia ter um papel de marcar a relação do sujeito com o verbo que o precede. a. por efeito do qual, dizem muitos, se fará estimar de toda a gente. b. Por isso diz o Senhor, que aquelle dia está por vir, e já é: c. e imaginando aquele Augusto Príncipe, que o Santelmo desta tormenta poderia ser uma Mitra, mandou a oferecer ao Padre ANTÓNIO VIEIRA pelo Secretário de Estado, com promessa de o elevar a outra mais opulenta, que cedo se esperava vagasse. Os estudos mencionados acima sobre a posição do sujeito na história do português europeu mostram que a partir do século XVIII o sujeito deixa de ocupar uma posição pós-verbal e passa a ser mais pré-verbal. Em Sintaxe de posição do verbo e mudança gramatical na história do português europeu (2011), por exemplo, Antonelli argumenta que na gramática clássica do português o verbo 10 ocupava uma posição alta na oração (em Fin, na camada CP), o que favorecia a maior frequência do aparecimento do sujeito após o verbo. No século XVIII, porém, houve uma mudança na posição do verbo, que passou a ocupar uma posição mais baixa na oração, e, consequentemente, também na posição do sujeito, que passou a ter uma posição pré-verbal reservada. E em Clitic placement and the position of subjects (2005), e The loss of verb-second in the history of Portuguese: Subject position, Clitic placement and Prosody (2013), Galves & Paixão de Sousa, como se pode observar no gráfico abaixo, mostram, de forma semelhante à Antonelli (2011), que nos séculos XVI e XVII os números de ocorrência de construções com a ordem VS (Verbo-Sujeito), apesar de variar entre os textos analisados, eram sempre mais altos do que os de construções com a ordem SV. Já a partir do início do século XVIII, o cenário se inverte, isto é, o que se observa é que o número de ocorrências com a ordem SV é superior e, portanto, passa a haver uma preferência maior por colocar o sujeito lexical antes do verbo. Gráfico 1 - A evolução da posição do sujeito em todos os contextos matrizes afirmativos (GALVES & PAIXÃO DE SOUSA, 2013)1 Desse modo, a questão que se levanta aqui, como já mencionado, é se haveria alguma relação entre a mudança na colocação de vírgula antes de orações completivas e a mudança na sintaxe do GALVES, C. & PAIXÃO DE SOUSA, M, C. The loss of verb-second in the history of Portuguese: subject position, clitic placement and prosody. USP/Unicamp. 2013. Pág. 5. 1 11 português no mesmo período. Pretende-se trabalhar com a hipótese de que essa relação existe, uma vez que a análise em Yano (2013) de que, em dados dos séculos XVI e XVII, há uma maior frequência de uso de vírgula antes de oração completiva quando há um sujeito (ou outro elemento) interpolado, e a análise em Antonelli (2011) de que na gramática clássica do Português o verbo ocupava uma posição mais alta na oração parecem mostrar que haveria um sentimento de distanciamento maior entre o verbo e a oração completiva, que favoreceria a colocação de vírgula antes da oração completiva. 3.4. A EDIÇÃO DA PONTUAÇÃO DE TEXTOS ANTIGOS COMO EVIDÊNCIA PARA A MUDANÇA SINTÁTICA Levando-se em conta a proposta deste projeto, de analisar como os autores, no período do século XVI ao século XIX, empregavam o sinal de vírgula na escrita do Português, se faz importante considerar o nível de edição dos textos que constituem o corpus de trabalho. Isso, pois, a depender do grau de intervenção do editor sobre o texto original, informações relevantes de caráter linguístico podem ser perdidas e, com isso, a pesquisa pode ser comprometida. Assim, como já mencionado anteriormente, este projeto também tem como finalidade apresentar um estudo comparativo de versões original e editada de um conjunto de textos. Porém, indo além da discussão sobre as propostas de edição de textos antigos e quais os problemas que determinadas intervenções podem implicar, o que se pretende realizar aqui é um levantamento das intervenções feitas pelos editores nos textos e, com isso, utilizar esses dados como evidência para analisar a relação entre a mudança na sintaxe do Português e a mudança no uso de vírgula do Português Clássico ao Português Europeu. Ou seja, considerando a periodização da mudança na sintaxe que os estudos, mencionados acima mostram (cf. também GALVES, NAMIUTI & PAIXÃO DE SOUSA, 2006), e sendo os textos antigos do período dos séculos XVI e XVII e as suas versões editadas do século XX, é de se esperar que os editores tenham modernizado a pontuação dos textos conforme a gramática que emerge durante o século XVIII, ou seja o Português Europeu Moderno, assim como o fazem com a ortografia das palavras. Suas intervenções podem, portanto, ser tomadas 12 como mais uma evidência para a hipótese de que o uso de vírgula teria se modificado por influência da mudança na sintaxe da língua. Um exemplo que ilustra bem essa questão é o dado abaixo, do texto Nova Floresta, de Manuel Bernardes. a. Vendo tão rara e verdadeira amizade, el-rei Dionísio o mais velho disse-lhes: b. Vendo tão rara, e verdadeira, amizade el-rei Dionísio o mais velho, disse-lhes: Como mencionado na seção anterior, Galves & Paixão de Sousa, em seu estudo Clitic placement and the position of subjects (2005), mostraram que em construções com o verbo em terceira posição com ênclise, se encontrava apenas um dado com a ordem XSV-cl – apresentado acima em a. –, o que causava um certo estranhamento, já que em nenhum outro texto analisado essa ordem aparecia. Porém, como mencionado em Galves & Paixão de Sousa, 2013, ao voltarem ao texto original, descobriram que a pontuação original era como em b., sugerindo que “el-rei Dionísio” não era o sujeito pré-verbal de “disse”, como em a., mas o sujeito pós-verbal de “vendo”, como em b., o que era coerente com os demais dados. Assim, em construções do tipo V3, não foi atestada nenhuma ocorrência nos textos do século XVIII da ordem XSV-cl. Desse modo, é interessante notar que, ao modificar a posição das vírgulas na sentença, o editor acabou por não apenas apagar indícios de como o sinal de vírgula era utilizado na época, mas também por modificar a sintaxe da escrita original, de acordo com a sua gramática do Português Europeu Moderno. Ou seja, uma vez que, do século XVIII em diante, o sujeito passou a ocupar, com maior frequência, uma posição pré-verbal, para o editor, nascido no século XX, o mais natural é colocar o sujeito nessa posição, e não após o verbo da oração gerundiva e, por essa razão, ele interpretou e modernizou a pontuação de modo equivocado e conforme a sua própria gramática. 13 4. CORPUS E METODOLOGIA 4.1. CORPUS Para esta pesquisa serão utilizados dois corpora, conforme detalhado abaixo. O primeiro, a ser utilizado para a análise do emprego de vírgula, será constituído por textos transcritos de textos-fonte originais ou já editados sem modificação da pontuação, retirados do Corpus Histórico do Português Tycho Brahe2 e do website Hemeroteca Digital e selecionados de acordo com a data de nascimento dos autores que os escreveram.3 Em função das questões da pesquisa, o período escolhido para estudo é do século XVI ao século XIX. Assim, para a composição do corpus foram escolhidos 24 textos literários escritos por autores nascidos neste intervalo, sendo seis do século XVI, seis do século XVII, seis do século XVIII e seis do século XIX: História da Província de Santa Cruz, de Pero Magalhães de Gândavo (1502) Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto (1510) O auto das regateiras, Antonio Ribeiro Chiado (1520) Décadas, de Diogo do Couto (1542) A vida de Frei Bertolamenu do Mártires, de Luis de Sousa (1556) Gazeta, em que relatam as novas todas, que ouve nesta corte, e que vieram de varias partes no mês de novembro de 1641, de Manuel de Galhegos (1597) O Corpus Histórico do Português Tycho Brahe, desenvolvido junto ao projeto temático Padrões Rítmicos, Fixação de Parâmetros & Mudança Linguística, coordenado pela Profa. Dra. Charlotte M. C. Galves (IEL/UNICAMP), é um corpus eletrônico anotado, composto de textos em português escritos por autores nascidos entre 1380 e 1845. Atualmente, 57 textos (2.547.503 palavras) estão disponíveis para pesquisa livre, com um sistema de anotação linguística em duas etapas: anotação morfológica (aplicada em 33 textos), e anotação sintática (aplicada em 16 textos). (www.tycho.iel. unicamp.br/~tycho/corpus/index.html) 3 Foram consideradas aqui as datas de nascimento dos autores e não as datas de publicação dos textos por duas razões: primeiro, pois nos estudos gerativistas de mudança gramatical acredita-se que a gramática emerge no processo de aquisição das línguas naturais, e segundo, pois muitas vezes, sendo os textos bastante antigos, a data de nascimento é o único dado temporal em que se pode confiar. (cf. GALVES, BRITTO & PAIXÃO DE SOUSA, 2006) 2 14 Mercurio Portuguez, com as novas da Guerra entre Portugal, & Castella: começa no principio de anno de 1663 (1663-1667)4 Sermões, de Padre António Vieira (1608) Rellaçaõ da Vida e Morte da Serva de Deos a Venerável Madre Elenna da Crus, de Maria do Céu (1658) Gazetas manuscritas da Biblioteca Pública de Évora (1729-1731)5 Vida do apostólico Padre António Vieira, de André de Barros (1675) Gazeta de Lisboa (1715-1718)6 Folheto de Lisboa (1741)7 Cartas familiares, de Cavaleiro de Oliveira (1702) Reflexões sobre a vaidade dos homens, de Matias Aires (1705) Pina Manique e a Universidade de Coimbra - Cartas do Intendente e de José Rodrigues Lisboa para o Doutor Francisco Montanha, de Pina Manique (1733) Cartas e Outros Escritos, de Marquesa de Alorna (1750) Gazeta de Lisboa (Janeiro a Dezembro de 1810) 8 Memórias do Marquês da Fronteira e d'Alorna, de Marquês de Fronteira e d'Alorna (1802) A inauguração da estátua equestre, de Joaquim da Costa Cascais (1815) A morgadinha de Val-d’Amores, de Camilo Castelo Branco (1825) Maria Moisés, de Camilo Castelo Branco (1825) Cartas a Emília, de Ramalho Ortigão (1836) O regente, de Marcelino Mesquita (1856) É importante ressaltar que, com a exceção dos textos Mercurio Portuguez, com as novas da Guerra entre Portugal, & Castella: começa no principio de anno de 1663, Gazeta de Lisboa e Folheto de Lisboa, todos os demais textos foram selecionados pelo fato de já estarem disponíveis para consulta no Corpus Histórico do Português Tycho Brahe as suas versões editadas e anotadas sintaticamente. O Mercúrio Português, durante todo o período em que foi publicado, de 1663 a 1667, teve como diretor e redator Antônio de Souza de Macedo, nascido no ano de 1606. (cf. purl.pt/369/1/ficha-obra-mercurio.html) 5 As primeiras gazetas foram escritas por D. Francisco Xavier de Menezes, nascido no ano de 1673. (cf. www. arqnet.pt/dicionario/ericeira4c.html; LISBOA, J. L.; MIRANDA, T. C. P. R.; OLIVAL, F. Gazetas manuscritas da Biblioteca Pública de Évora. Vol. I (1729-1731). Lisboa: Edições Colibri, CHC-UNL e CIDEHUS-UE. 2002. Pág. 19.) 6 Algumas das primeiras edições da Gazeta de Lisboa foram selecionadas como parte do conjunto de textos do século XVII, uma vez que o critério tomado é a data de nascimento dos autores e o seu redator, na época, foi José Freire Monterroio Mascarenhas, nascido no ano de 1670. (cf. purl.pt/369/1/ficha-obra-gazeta_de_lisboa. html) 7 O redator do Folheto de Lisboa, durante todo o período em que foi publicado, foi o seu criador Luis Montez Matoso, nascido no ano de 1701. (cf. bndigital.bn.br) 8 Não foi possível encontrar quem era o redator da Gazeta de Lisboa no ano de 1810. Porém, levando-se em conta a datação da edição, parece plausível se pensar que ele tenha nascido no século XVIII. 4 15 Já o segundo corpus será composto por 8 textos, com uma versão original e uma versão editada, retirados do Corpus Histórico do Português Tycho Brahe (versões editadas) e da Biblioteca Nacional Digital, da Biblioteca Nacional de Portugal, do Arquivo Nacional da Torre do Tombo e dos websites Internet Archive e Google Books (versões originais). Ele será utilizado para a comparação entre versões editada e original de um mesmo texto, a fim de se observar quais foram as intervenções feitas pelos editores e como elas evidenciam a mudança na sintaxe e no uso de vírgula do Português Clássico ao Português Europeu. Corte na aldeia e noites de inverno, Francisco Rodrigues Lobo (1579) uma edição publicada em 1649 uma edição editada por A. Lopes Vieira e publicada em 1907 História do Futuro, de Padre Antônio Vieira (1608) uma edição publicada em 1718 uma edição editada por Maria Leonor Carvalhão Buescu e publicada em 1971 Cartas Familiares, de Francisco Manuel de Melo (1608) uma edição publicada em 1752 uma edição editada por M. Rodrigues Lapa e publicada em 1942 Cartas Espirituais, de Antônio das Chagas (1631) uma edição publicada em 1762 uma edição editada por M. Rodrigues Lapa e publicada em 1939 Volume I do texto Nova Floresta, de Manuel Bernardes (1644) uma edição publicada em 1706 uma edição editada por J. Pereira de Sampaio e publicada em 1949 Cartas, de José da Cunha Brochado (1651) manuscritos escritos, provavelmente, entre 1695 a 1712 uma edição editada por Antônio Álvaro Dória e publicada em 1944 Verdadeiro Método de Estudar, de Luis Antônio Verney (1713) uma edição publicada em 1746 uma edição editada por António Salgado Filhoe publicada em 1949 Entremezes de Cordel, de José Daniel Rodrigues da Costa (1757) uma edição, chamada Rimas, da qual os textos compilados no livro Entremezes de Cordel foram retirados, publicada em 1795 uma edição editada por Luís Miguel Cintra e Jorge Silva Melo e publicada em 1973 Conforme apresentado na lista acima, entre os 8 textos, 6 são de autores nascidos nos séculos XVI e XVII e 2 são de autores nascidos no século XVIII. Tal escolha para o corpus não foi fortuita, uma vez 16 que, levando-se em conta que a mudança na sintaxe do Português ocorreu no século XVIII (cf. PAIXÃO DE SOUSA,, 2004; GALVES, BRITTO & PAIXÃO DE SOUSA, 2005, GALVES, & PAIXÃO DE SOUSA, 2005; GALVES,, NAMIUTI & PAIXÃO DE SOUSA, 2006; GIBRAIL, 2010; ANTONELLI, 2011; GALVES & PAIXÃO DE SOUSA, 2013; GALVES & GIBRAIL, 2013), espera-se encontrar menos mudanças na pontuação das versões editadas dos textos setecentistas em relação às dos textos quinhentistas e seiscentistas. 4.2. METODOLOGIA Para o desenvolvimento desta pesquisa as seguintes etapas serão realizadas. Primeiramente, uma parte dos textos do corpus - o Folheto de Lisboa, a Gazeta de Lisboa, e o Mercurio Portuguez -, que ainda se encontra em formato de manuscrito ou edição fac-similada, deverá ser transcrita, editada e anotada sintaticamente para, então, poder ser feita a coleta e a análise dos dados. Outros, como as Gazetas Manuscritas da Biblioteca Pública de Évora (1729-1731), já estão transcritos e editados, porém ainda não anotados sintaticamente. Assim, para isso serão utilizadas duas ferramentas: o E-Dictor Web e o Corpus Draw. O E-Dictor9 é uma ferramenta que permite aos usuários fazer a transcrição e a edição eletrônica de textos, isto é, editar textos em diversos níveis, como expandir abreviaturas, segmentar palavras, modernizar a grafia de palavras, inserir comentários ou notas sobre o texto ou alguma edição. Após feitas a transcrição e a modernização dos textos, eles passarão por um parser, no qual será feita a anotação sintática automática. Os textos, então, deverão ser revisados e corrigidos no Corpus Draw10, que é uma ferramenta que permite aos usuários fazer a correção da anotação sintática de O E-Dictor é uma ferramenta desenvolvida por Pablo Faria (IEL/UNICAMP), Fábio Kepler (IME/USP) e Maria Clara P. de Sousa (FFLCH/USP). (cf. FARIA, KEPLER & PAIXÃO DE SOUZA, 2009), no âmbito do projeto de desenvolvimento do Corpus Tycho Brahe. 10 O Corpus Draw é um módulo dentro do programa CorpusSearch, o qual foi desenvolvido por Beth Randall, como parte de um projeto coordenado pelo Prof. Anthony Kroch (Universidade da Pensilvânia), com a finalidade de se poder construir um extenso corpus de textos em língua inglesa anotados sintaticamente e 9 17 textos de um corpus parseado. Nele as sentenças dos textos são apresentadas em forma de estruturas de árvores, que podem ser editadas e/ou utilizadas para fins de exibição. Os dados, então, serão coletados com o auxílio da ferramenta CorpusSearch. O CorpusSearch é um programa que auxilia na pesquisa em linguística de corpus, permitindo aos usuários anotar textos sintaticamente, realizar buscas no interior desses textos e obter informações sobre sintaxe, léxico e pontuação. A respeito da pontuação, em particular, é interessante apontar que é possível buscar dados nos quais um sinal aparece em um determinado contexto, uma vez que todos os sinais são previamente marcados com etiquetas morfológicas. Isto é, a vírgula recebe a etiqueta ( , ) e os dois pontos, o ponto final e o ponto e vírgula recebem a etiqueta ( . ). A principal vantagem de trabalhar com um corpus anotado e utilizar uma ferramenta de busca como o Corpus Search é que é possível recuperar todas as sentenças em que ocorre a estrutura sintática que se deseja estudar de forma rápida e eficiente, sem o trabalho de ler os textos e copiar cada sentença, uma a uma, à mão, correndo o risco de se esquecer de uma ou mais e, com isso, comprometer a análise dos dados e os resultados da pesquisa. Por fim, após feitas as buscas, os dados serão separados e classificados de acordo com a presença ou não de vírgula e o tipo de elemento que precede ou segue o sinal de vírgula. Já para o estudo comparativo das versões original e editada dos textos do segundo corpus serão feitos a leitura dos textos e o levantamento dos casos em que há discrepâncias no uso de pontuação entre as duas versões para, então, seguir para a análise e a discussão, levando-se em conta resultados obtidos da análise do primeiro corpus. 4.3. CRONOGRAMA DE TRABALHO Para o desenvolvimento desta pesquisa as etapas descritas acima serão realizadas conforme o cronograma abaixo. fazer buscas e obter dados lexicais, sintáticos e estatísticos nos textos anotados. (http://corpussearch. sourceforge.net/CS-manual/CDBasics.html) 18 Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Tarefa/Mês Transcrição de parte dos textos do corpus Edição eletrônica de parte dos textos do corpus Anotação sintática de parte dos textos do corpus Leitura de bibliografia Cumprimento dos créditos em disciplinas 1 X 2 X 3 X 4 5 6 7 X X X X 8 9 10 11 12 X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X Tarefa/Mês Coleta e classificação dos dados Análise dos dados Leitura dos textos e levantamento dos dados do segundo corpus Leitura de bibliografia Cumprimento dos créditos em disciplinas Qualificação de área 1 X X 2 X X 3 X X 4 X X 5 6 7 8 9 10 11 12 X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X Tarefa/Mês Análise dos dados Leitura de bibliografia Qualificação de tese 1 X X X 2 X X X 3 X X X 4 X X X 5 X X X 6 X X X 7 X X 8 X X 9 X X 10 X X 11 X X 12 X X Tarefa/Mês Análise dos dados Redação da tese 1 X 2 X 3 X 4 X 5 X 6 X 7 X 8 9 10 11 12 X X X X X É importante apontar, com relação ao cronograma apresentado acima, que desde já presume-se a extensão do período da bolsa para quatro anos, pois para a coleta dos dados para a análise será necessário fazer primeiro o tratamento de alguns textos do corpus - transcrição, edição eletrônica e correção de anotação sintática automática -, que demandará mais tempo de trabalho e, por isso, está previsto para ser realizado durante todo o primeiro ano. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANTONELLI, André. Sintaxe de posição do verbo e mudança gramatical na história do português europeu. (Tese de doutorado) Campinas: Universidade Estadual de Campinas. 2011. CAGLIARI, L. C. & MASSINI-CAGLIARI, G. “O papel da tessitura dentro da prosódia portuguesa”. In: Castro, Ivo; Duarte, Inês. (Org.). Razões e emoção: Miscelânea de estudos em homenagem a Maria Helena Mira Mateus. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda. 2003. CATACH, Nina. La Ponctuation. (Que sais-je? n°2818) Paris: Presses Universitaires de France. 1994. 19 GALVES, Charlotte, BRITTO, Helena & PAIXÃO DE SOUSA, Maria Clara. The Change in clitic placement from Classical to Modern European Portuguese: Results from the Tycho Brahe Corpus. In: “Journal of Portuguese Linguistics, vol. 4, n°1, Special Issue on variation and change in the Iberian languages: the Peninsula and beyond”. Lisboa: Edições Colibri. 2005. GALVES, Charlotte & PAIXÃO DE SOUSA, Maria Clara. “Clitic placement and the position of subjects in the history of European Portuguese”. In: Romance Languages and Linguistic Theory. Selected papers from Going Romance 2003. Amsterdã e Filadélfia: John Benjamins. 2005. ____________________. The loss of verb-second in the history of Portuguese: subject position, clitic placement and prosody. USP/Unicamp. Submetido. 2013. GALVES, Charlotte & GIBRAIL, Alba Verona Brito. Subject inversion in transitive sentences from Classical to Modern European Portuguese: a corpus-based study. Campinas: Unicamp. Submetido. 2013. GALVES, Charlotte, NAMIUTI, C. & PAIXÃO DE SOUSA, Maria Clara. “Novas perspectivas para antigas questões: revisitando a periodização da língua portuguesa.” In: A, Endruschat, R. Kemmler & B. Schafer-Prieβ (Orgs.) Grammatische Strukturen des Europaischen Portugiesisch. Tubingen: Calepinus Verlag. 2006. GIBRAIL, Alba Verona Brito. Contextos de formação de estruturas de tópico e foco no português clássico. (Tese de doutorado) Campinas: Universidade Estadual de Campinas. 2010. LISBOA, J. L.; MIRANDA, T. C. P. R.; OLIVAL, F. Gazetas manuscritas da Biblioteca Pública de Évora. Vol. I (1729-1731). Lisboa: Edições Colibri, CHC-UNL e CIDEHUS-UE. 2002. MACHADO FILHO, Américo V. L. A pontuação em manuscritos medievais portugueses. Salvador: EDUFBA. 2004. MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia. “O que nos diz sobre a sintaxe a pontuação de manuscritos medievais portugueses”. In: REUNIÃO ANUAL DA SBPC, 44. Boletim 14 da Associação Brasileira de Lingüística. São Paulo: ABRALIN. 1992. ROSA, Maria Carlota. Sintaxe e pontuação em impressos portugueses renascentistas. (Tese de doutorado) Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro. 1994. YANO, Cynthia Tomoe. Um estudo sobre o emprego de vírgula antes de oração completiva no Português Europeu Clássico: sintaxe, discurso e gramática normativa. (Dissertação de mestrado) Campinas: Universidade Estadual de Campinas. 2013. 20 WEBSITES Biblioteca Nacional Digital/Biblioteca Nacional de Portugal - (purl.pt) Biblioteca Nacional Digital do Brasil/Fundação Biblioteca Nacional - (bndigital.bn.br) Biblioteca Nacional Tesouros - Gazeta de Lisboa - (purl.pt/369/1/ficha-obra-gazeta_de_lisboa. html) Corpus Histórico do Português Tycho Brahe - (www.tycho.iel.unicamp.br/~tycho/corpus/index. html) Google Books - (books.google.com) Hemeroteca Digital - (hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Periodicos/GazetadeLisboa/GazetadeLisboa. htm) Internet Archive: Digital Library of Free Books, Movies, Music and Wayback Machines - (archive.org /index.php) Portugal - Dicionário Histórico - (www.arqnet.pt/dicionario) 21