A história do emprego de vírgula do Português Clássico ao

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A história do emprego de vírgula do Português Clássico
ao Português Europeu Moderno
Cynthia Tomoe Yano
Charlotte Marie Chambelland Galves
RESUMO
O presente projeto de doutorado tem como finalidade dar continuidade à pesquisa desenvolvida no
mestrado, intitulada Um estudo sobre o emprego de vírgula antes de oração completiva no Português
Europeu Clássico: sintaxe, discurso e gramática normativa (CNPq Processo no131111/2010-8), e
explorar mais profundamente determinadas questões levantadas a partir dos resultados obtidos
anteriormente.
Assim, pretende-se dividir o projeto em duas seções. Na primeira, serão desenvolvidas questões
como: de que modo a vírgula era empregada na escrita de textos literários em Português, no
período do século XVI ao XIX, com a hipótese de que a mudança na sintaxe do Português Clássico e a
mudança no uso de vírgula no mesmo período estariam relacionadas, e visando discutir o papel da
prosódia no uso da vírgula. Já na segunda, será feita uma análise comparativa de versões originais
de textos dos séculos XVI e XVII e versões modernizadas por editores do século XX, tendo em vista,
considerando a análise sobre a mudança na sintaxe e no sistema de pontuação do Português,
mostrar como as intervenções dos editores, particularmente sobre a sintaxe e a pontuação dos
textos antigos não são fortuitas, mas refletem a mudança na gramática da língua.
Para tanto, serão utilizados dois corpora: um corpus geral, composto por 24 textos literários
escritos por autores nascidos no período dos séculos XVI ao XIX; e um segundo corpus composto
por 8 textos dos séculos XVI ao XVIII, cada um com uma versão original e uma versão editada.
1
1. INTRODUÇÃO
Nos estudos linguísticos do português poucos ainda são os trabalhos que têm como enfoque a
pontuação e que se preocupam em descrever e explicar o funcionamento dos sinais no decorrer da
história da língua. Os que existem, na sua grande maioria, se concentram apenas na análise de
documentos do Português Medieval, dos séculos XIII a XV (cf. MACHADO FILHO, 2004; MATTOS E
SILVA, 1992), sendo raros os que se dedicam ao Português Clássico, dos séculos XVI a XVIII (cf.
ROSA, 1994; YANO, 2013), que é um período importante na história da língua, pois será nesse
intervalo que ocorrerão mudanças significativas no sistema de pontuação e nas regras de uso dos
sinais nas gramáticas normativas, que culminarão no sistema do Português Moderno.
Tendo em vista os resultados obtidos em um estudo anterior, desenvolvido no mestrado, sobre a
colocação de vírgula antes de orações completivas nominais e verbais, até o início do século XVIII,
havia uma grande flutuação nas regras e funções dos sinais de pontuação, especialmente da vírgula,
que, por vezes, era empregada com o valor de outros sinais, ou outros sinais, como o ponto final,
eram utilizados com o valor de vírgula. Além disso, embora as gramáticas normativas antigas não
mencionem nada a respeito, se observou que os autores, até fins do século XVII, também
empregavam a vírgula para delimitar e introduzir um enunciado relatado. A partir do século XVIII a
vírgula passou a ter funções e regras mais definidas, semelhantes às do Português Moderno.
Assim, este projeto de doutorado tem como propósito explorar mais profundamente essas
questões, procurando compreender melhor como a vírgula era empregada na escrita e quais eram
os fatores que motivavam o uso ou não do sinal em diversos contextos, e se a mudança no uso do
sinal na escrita teria alguma relação com a mudança na sintaxe do Português, observada na mesma
época, no século XVIII. Outra questão que pretende-se discutir é a modificação da pontuação,
mostrando que redunda numa interferência na integridade linguística do texto original. Para este
projeto deverão ser analisadas, especialmente, a relação da pontuação e a sintaxe dos textos.
2
2. OBJETIVOS
O objetivo deste projeto de doutorado é dar continuidade ao trabalho desenvolvido durante o
mestrado, intitulado Um estudo sobre o emprego de vírgula antes de oração completiva no Português
Europeu Clássico: sintaxe, discurso e gramática normativa (CNPq Processo no131111/2010-8).
Desse modo, pretende-se aprofundar o estudo sobre o uso de vírgula na escrita do Português
Europeu do século XVI ao século XIX, buscando desenvolver novas questões:

realizar a análise e um tratamento estatístico de um conjunto maior de dados, de um
corpus de textos ampliado, visando outros tipos de construções, além das com orações
completivas nominais e verbais.

levando-se em conta os resultados obtidos na pesquisa anterior em relação aos dados em
que o verbo regente é um verbo do tipo introdutor de discurso relatado, verificar de que
modo a vírgula é empregada antes de oração completiva introduzida por verbos e nomes
não introdutores de discurso.

verificar qual é a relação entre as regras e o emprego de vírgula na escrita e a prosódia do
Português Europeu Clássico, procurando compreender o que seria exatamente o que, até
meados do século XVIII, os gramáticos denominam “pontuação prosódica”.

verificar se de fato há uma relação entre a mudança na sintaxe do Português no século
XVIII e a mudança no emprego de vírgula no mesmo período.

analisar construções de versões original e editada de textos antigos, em que a pontuação foi
modernizada por editores a fim de torná-los mais acessíveis a um público moderno, tendo
em vista a hipótese de que a mudança na sintaxe teria sido um fator para a mudança no uso
da vírgula.
3. DISCUSSÃO
Levando-se em conta que este projeto de pesquisa tem como finalidade dar continuidade ao estudo
desenvolvido durante o mestrado, intitulado Um estudo sobre o emprego de vírgula antes de oração
completiva no Português Europeu Clássico: sintaxe, discurso e gramática normativa (CNPq Processo
3
no131111/2010-8), nesta seção serão apresentados alguns resultados obtidos anteriormente que
levaram a se pensar em novas questões, as quais pretende-se desenvolver neste projeto.
3.1. COMPARAÇÃO ENTRE CONSTRUÇÕES COM E SEM VÍRGULA ANTES DE ORAÇÃO
COMPLETIVA NOMINAL E VERBAL
No estudo anterior, foi realizada a análise de um conjunto de dados em que havia uma vírgula entre
uma oração completiva e o seu regente nominal ou verbal, a fim de se observar como o sinal de
pontuação era empregado na escrita no Português Europeu durante o período do século XVI ao XIX
e quando ele teria deixado de ser empregado nesse tipo de contexto, considerando que a norma
gramatical, no Português Moderno, considera tal uso equivocado.
Assim, o que se observou na análise foi que, na maior parte das ocorrências encontradas, o nome e
o verbo regentes eram do tipo que introduzem um discurso relatado, como, por exemplo, “mandar”,
“dizer”, “fazer a saber”, “dar por resposta”, “pregão” (= “anunciar”), “novas” (= “contar (notícia)”), e,
portanto, que era provável que a vírgula possuísse uma função a mais, de delimitar e introduzir um
discurso relatado, seja ele direto ou indireto. Apesar de as gramáticas e os tratados de ortografia da
época não fazerem qualquer menção à essa função da vírgula, tal hipótese parece se sustentar pelo
fato de haver uma alta incidência de casos nos textos literários analisados e por terem sido
encontrados os mesmos tipos de construções, com os mesmos tipos de verbos, em que a oração
completiva é precedida por dois pontos, os quais já possuíam nas gramáticas, desde os primórdios,
a mesma função de introduzir um relato ou uma citação.
Exemplos:
1. Sentença com vírgula entre um verbo e uma oração completiva:
a. Outros querem dizer, que é sem nenhuma falta a esperma da mesma Baleia:
4
2. Sentença com vírgula entre um nome e uma oração completiva:
b. Publicou-se um edito, que nenhum bispo ainda, que fosse protestante tivesse voto no
Parlamento,
3. Sentença com dois pontos entre um verbo e uma oração completiva:
c. E dando-lhe o livro, lhe disse: “Que lhe mostrasse os quatro homens, que escreveram a Lei
dos Cristãos”.
Porém, ao se analisar textos mais recentes, setecentistas e oitocentistas, o que se notou é que esse
uso da vírgula parece ter caído em desuso a partir do século XVIII e as suas funções e regras de uso
passaram a ser mais similares às da gramática do Português Moderno. Ou seja, nos séculos XVI e
XVII os escritores empregavam o sinal de pontuação como um recurso retórico, para marcar não
somente uma pausa maior, mas também que a seguir viria uma fala ou um relato. No entanto, tal
função, principalmente a partir do século XIX, se perdeu e diversos novos sinais ganharam espaço,
como as aspas e o travessão, e os autores passaram a empregá-los para indicar o discurso relatado
nos seus textos escritos. Além disso, especialmente nos dados dos textos oitocentistas, os tipos de
construção em que a vírgula está presente passaram a ser diferentes e a ter um elemento
interpolado entre o verbo e a oração completiva, como uma oração parentética ou um vocativo, que,
segundo a norma gramatical, deve ser obrigatoriamente isolado por vírgulas, hífens ou parêntesis.
Essa periodização se sustenta ao se levar em conta os valores de ocorrência encontrados nos textos.
Nas sentenças com orações completivas selecionadas por nomes precedidas por vírgula se
observou que nos séculos XVI e XVII as porcentagens de ocorrência variam entre 2,42% e 3,47%,
mas nos séculos XVIII e XIX caem para 0,25% e 0%, respectivamente. Já quanto às sentenças com
orações completivas selecionadas por verbos precedidas por vírgula, no século XVI a porcentagem
de ocorrências é de 31,25%, mas no século XVII a porcentagem é mais alta, de 59,59%. E a partir de
então há uma queda brusca para 24,71% no século XVIII e 6,97% no século XIX. Ao se tomar cada
texto separadamente como base, a análise se mantém, pois até o século XVII as porcentagens
variam entre 40% a 80%, aproximadamente, mas a partir do início do século XVIII, há uma queda
considerável e os valores passam a ser próximos a 11%. Desse modo, é possível se pensar que a
mudança teria se iniciado já no início do século XVIII, chegando a ser quase total no século seguinte.
5
Embora os resultados apresentados sejam bastante significativos, não é possível afirmar que eles
sejam suficientemente representativos. Assim sendo, uma das propostas deste projeto de pesquisa
é realizar a análise e um tratamento estatístico de um conjunto maior de dados, a serem coletados
de um corpus de textos ampliado, para se obter resultados mais consistentes.
Além disso, outro tópico que também se pretende analisar é o emprego da vírgula em construções
com verbos e nomes não-discursivos. Tais tipos de dados foram deixados de lado no estudo
anterior, pois foi decidido focalizar a análise com base na hipótese da representação do discurso
relatado na escrita. No entanto, é interessante levar em conta esses dados, especialmente para fins
comparativos.
3.2. RELAÇÃO ENTRE A PROSÓDIA DO PORTUGUÊS E O EMPREGO DE VÍRGULA NA ESCRITA
Além da influência do tipo de verbo que rege a oração completiva sobre a colocação ou não de
vírgula antes da oração completiva, também se observou no estudo anterior que a prosódia parece
ser um fator decisivo. Isto é, como ilustram os exemplos abaixo, o que parece ocorrer é que,
havendo um elemento maior - um adjunto, uma oração adverbial, uma oração gerundiva ou uma
oração relativa -, a colocação de uma outra vírgula antes do complementizador que seria impedida
para que ele não seja isolado e, assim, não sejam marcadas duas pausas seguidas. Mesmo quando o
verbo é seguido por uma cadeia mais longa, não se coloca vírgula antes de que, como no exemplo
em 4.b. “antes lhe lembrava que instasse a Deus Nosso Senhor com apertadas orações que, pois lhe
livrara o pé da queda, lho livrasse também da Braga com que o mundo o ameaçava, que a tinha por
pior género de queda e por maior perigo.”. Também não se encontra virgula depois do verbo quando
este é precedido por uma virgula. (cf. exemplos em 5.).
4. Exemplos com uma oração adverbial, uma oração gerundiva ou uma oração relativa
contida na oração completiva:
a.
e afirmava se que, no que tocava a sua pessoa e casa, lha tinha de secreto sojeita
6
b. antes lhe lembrava que instasse a Deus Nosso Senhor com apertadas orações que, pois lhe
livrara o pé da queda, lho livrasse também da Braga com que o mundo o ameaçava, que a
tinha por pior género de queda e por maior perigo.
c.
respondeu que, apenas dera pela falta do berço, caíra como morta,
d. e creia Vossa Excelência que, quando me lembra o que remeto e o que Vossa Excelência
necessita, se põe na maior prova a minha sensibilidade.
5. Exemplos com um adjunto, uma oração adverbial, uma oração gerundiva ou uma oração
relativa que precede ou contém o verbo regente da oração completiva:
a.
e, sem crer em pressentimentos, confesso que logo me lembrou o mano.
b. O Cardeal de Estoureville em 1452, fazendo vários regimentos para a mesma Universidade
por mandado de Carlos VII, ordenou que os Estudantes, e Bacharéis fossem examinados pela
Metafísica, e Moral de Aristóteles.
c.
E o general Martim Afonso de Melo mandou aviso a Manoel da Silva Mascarenhas capitãomor da Vila de Mourão, advertindo-lhe que era necessário colher um castelhano, para saber
dele o número da gente, e o lugar, a donde havia de ser o assalto:
d. Toma por fundamento aquella prophecia de São Paulo, em que diz que a Egreja ha-de
crescer, segundo a medida da edade de Christo:
Outro tipo de construção no qual a prosódia parece exercer alguma influência no uso de vírgula é
quando há um pronome clítico enclítico ou proclítico ao verbo. Isto é, assumindo, com Galves, Britto
& Paixão de Sousa (2005), que nas construções com ênclise o sintagma que precede o verbo tem um
contorno entoacional independente, e que nas construções com próclise o sintagma pré-verbal está
incluído no mesmo contorno entoacional que o do verbo, espera-se, na escrita, seria mais provável
a presença de uma vírgula antes de V-cl do que antes de cl-V.
Após feita uma busca preliminar nos textos do corpus anotados sintaticamente, o que se observou
parece sugerir que de fato a posição do pronome clítico em relação ao verbo está relacionado com o
emprego ou não de vírgula.
Em termos quantitativos, notou-se que, no geral, o número de ocorrências de ênclise e próclise
precedidas por vírgula é inverso ao de ênclise e próclise sem vírgula. Isto é, com o sinal de vírgula
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presente, há mais ocorrências com o clítico enclítico (V-cl), mas com a vírgula ausente, o número de
ocorrências com o clítico proclítico (cl-V) é maior. Além disso, como é possível observar nos dados
com ênclise precedida por vírgula, nos exemplos abaixo em 6., há uma variação nos tipos de
ocorrências. Ou seja, há tanto construções com uma oração gerundiva como com um sintagma
preposicional ou um sujeito precedendo o verbo.
6. Exemplos com ênclise (V-cl) precedido por vírgula:
a.
por isso as façanhas que só têm por princípio a vaidade do valor, reputam-se grandes aa
proporção da impiedade, com que o mesmo valor as executa;
b. Em o sábado gordo, retirando se o padre Allen para o seminário, armou se o teatro em a
sala de as batalhas
c.
Ao amigo que prega os guardanapos grandes, sucedeu lhe neste dia uma desgraça.
d. REINANDO aquele muito católico e sereníssimo Príncipe el-Rei Dom MANUEL, fez-se uma
frota para a Índia de que ia por capitão mór Pedro Álvares Cabral: (...).
E nos poucos dados encontrados com ênclise não precedida por vírgula os tipos de construções são
os mesmos encontrados quando a vírgula está presente, porém, levando-se em conta a cronologia
dos textos, é interessante notar que, à exceção dos textos Sermões, de Antônio Vieira, e Vida do
apostólico padre Antonio Vieira, de André de Barros, ambos do século XVII, a maioria dos casos se
concentra nos textos dos séculos XVIII e XIX.
Quanto aos dados com o pronome clítico proclítico ao verbo, é interessante apontar que foram
encontradas algumas ocorrências em que a vírgula está presente antes do clítico. No entanto, com a
exceção de alguns casos, como os do texto Sermões, de Antônio Vieira (exemplo 7.a.), em que a
vírgula separa cl-V do sujeito da oração, a colocação da vírgula antes do clítico sempre se dá pela
presença de um aposto, adjunto, oração relativa, oração gerundiva, oração parentética em primeira
ou segunda posição. Indo além da norma gramatical, que toma como regra a delimitação de tais
tipos de elemento por pontuação, nestes casos as vírgulas, possivelmente, marcam uma mudança
de tessitura, pelo fato de as orações conterem idéias complementares ao que está sendo dito.
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7. Exemplos com próclise (cl-V) precedido por vírgula:
a.
Segundo esta conta, muitos dos que hoje são vivos, se pódem achar presentes a toda a
tragedia do dia do Juiso, e vêr os horrendos signais que hão-de preceder.
b. Com a honra, que adquire, se consola o que perde a vida;
c.
Andando um Lopo de Reboredo pelejando com muito esforço, lhe tirou um dos inimigos
com uma fisga,
d. Em o rosto de todos, parentes e amigos, se notava a mágoa profunda e a viva saudade que
causava esta partida.
Nos dados com próclise não precedida por vírgula, correspondentes à maioria das ocorrências com
próclise encontradas, observou-se que, afora três casos em que o pronome clítico é precedido por
uma oração relativa ou uma oração gerundiva, em todos os demais casos, de todos os textos dos
séculos XVI ao XIX, o elemento que o antecede é um sintagma preposicional.
Assim, tendo em vista essas análises preliminares, o que se pretende explorar neste projeto é, com a
análise de um número maior de dados, observar mais detalhadamente como a vírgula se comporta
em diversos contextos, além das orações completivas, e tentar estabelecer de que modo a prosódia
influenciava o uso ou não do sinal. Pelos exemplos dados acima, é possível se pensar que fatores
como a presença de um elemento, como um adjunto, formado por uma cadeia maior ou menor, uma
conjunção que ou um pronome clítico enclítico ou proclítico ao verbo, bloquearia ou favoreceria o
emprego de vírgula.
Além disso, também pretende-se, com isso, procurar compreender com mais clareza o que seria o
que os gramáticos, até fins do século XVIII, denominavam de “pontuação prosódica”.
3.3. RELAÇÃO ENTRE A MUDANÇA SINTÁTICA NO PORTUGUÊS E A MUDANÇA NO EMPREGO
DE VÍRGULA
Outra questão que se pretende discutir neste projeto de pesquisa é se haveria alguma relação entre
a mudança na sintaxe do Português Europeu e a mudança no emprego de vírgula no Português
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Europeu Clássico no mesmo período. Tal hipótese surgiu da semelhança observada entre os
resultados da análise de dados nos quais há um sujeito interpolado entre uma oração completiva e
o verbo que a rege, em construções em que há uma vírgula antes da oração completiva (cf. YANO,
2013), e os resultados de análises sobre a posição do sujeito e do verbo em orações matrizes (cf.
PAIXÃO DE SOUSA, 2004; GALVES,, BRITTO & PAIXÃO DE SOUSA, 2005, GALVES & PAIXÃO DE
SOUSA, 2005; GIBRAIL, A. 2010; ANTONELLI, 2011; GALVES & PAIXÃO DE SOUSA, 2013; GALVES &
GIBRAIL, 2013).
Quanto aos dados em que há um sujeito entre o verbo e a oração completiva nos dados com vírgula
antes de oração completiva, o que se percebe é que, apesar de haver uma certa variação nos valores
nos séculos XVI e XVII, nos textos desses períodos foi encontrada uma média de 10 e 25
ocorrências, respectivamente, mas no século XVIII há uma queda drástica para apenas 3
ocorrências e no século XIX o valor cai para quase zero.
Tais resultados sugerem que no século XVIII houve uma mudança na posição do sujeito em orações
matrizes antes de orações completivas, deixando de estar posposto ao verbo, seguindo a tendência
observada pelos estudos mencionados acima. Tal mudança se relaciona com a mudança na
colocação de vírgula, pois, como é possível observar nos exemplos abaixo, em construções com um
elemento, como um sujeito, interpolado entre o verbo e a oração completiva, a vírgula parecia ter
um papel de marcar a relação do sujeito com o verbo que o precede.
a.
por efeito do qual, dizem muitos, se fará estimar de toda a gente.
b. Por isso diz o Senhor, que aquelle dia está por vir, e já é:
c.
e imaginando aquele Augusto Príncipe, que o Santelmo desta tormenta poderia ser uma
Mitra, mandou a oferecer ao Padre ANTÓNIO VIEIRA pelo Secretário de Estado, com
promessa de o elevar a outra mais opulenta, que cedo se esperava vagasse.
Os estudos mencionados acima sobre a posição do sujeito na história do português europeu
mostram que a partir do século XVIII o sujeito deixa de ocupar uma posição pós-verbal e passa a ser
mais pré-verbal. Em Sintaxe de posição do verbo e mudança gramatical na história do português
europeu (2011), por exemplo, Antonelli argumenta que na gramática clássica do português o verbo
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ocupava uma posição alta na oração (em Fin, na camada CP), o que favorecia a maior frequência do
aparecimento do sujeito após o verbo. No século XVIII, porém, houve uma mudança na posição do
verbo, que passou a ocupar uma posição mais baixa na oração, e, consequentemente, também na
posição do sujeito, que passou a ter uma posição pré-verbal reservada.
E em Clitic placement and the position of subjects (2005), e The loss of verb-second in the history of
Portuguese: Subject position, Clitic placement and Prosody (2013), Galves & Paixão de Sousa, como se
pode observar no gráfico abaixo, mostram, de forma semelhante à Antonelli (2011), que nos
séculos XVI e XVII os números de ocorrência de construções com a ordem VS (Verbo-Sujeito),
apesar de variar entre os textos analisados, eram sempre mais altos do que os de construções com a
ordem SV. Já a partir do início do século XVIII, o cenário se inverte, isto é, o que se observa é que o
número de ocorrências com a ordem SV é superior e, portanto, passa a haver uma preferência
maior por colocar o sujeito lexical antes do verbo.
Gráfico 1 - A evolução da posição do sujeito em todos os contextos matrizes afirmativos
(GALVES & PAIXÃO DE SOUSA, 2013)1
Desse modo, a questão que se levanta aqui, como já mencionado, é se haveria alguma relação entre
a mudança na colocação de vírgula antes de orações completivas e a mudança na sintaxe do
GALVES, C. & PAIXÃO DE SOUSA, M, C. The loss of verb-second in the history of Portuguese: subject position,
clitic placement and prosody. USP/Unicamp. 2013. Pág. 5.
1
11
português no mesmo período. Pretende-se trabalhar com a hipótese de que essa relação existe, uma
vez que a análise em Yano (2013) de que, em dados dos séculos XVI e XVII, há uma maior
frequência de uso de vírgula antes de oração completiva quando há um sujeito (ou outro elemento)
interpolado, e a análise em Antonelli (2011) de que na gramática clássica do Português o verbo
ocupava uma posição mais alta na oração parecem mostrar que haveria um sentimento de
distanciamento maior entre o verbo e a oração completiva, que favoreceria a colocação de vírgula
antes da oração completiva.
3.4. A EDIÇÃO DA PONTUAÇÃO DE TEXTOS ANTIGOS COMO EVIDÊNCIA PARA A MUDANÇA
SINTÁTICA
Levando-se em conta a proposta deste projeto, de analisar como os autores, no período do século
XVI ao século XIX, empregavam o sinal de vírgula na escrita do Português, se faz importante
considerar o nível de edição dos textos que constituem o corpus de trabalho. Isso, pois, a depender
do grau de intervenção do editor sobre o texto original, informações relevantes de caráter
linguístico podem ser perdidas e, com isso, a pesquisa pode ser comprometida. Assim, como já
mencionado anteriormente, este projeto também tem como finalidade apresentar um estudo
comparativo de versões original e editada de um conjunto de textos.
Porém, indo além da discussão sobre as propostas de edição de textos antigos e quais os problemas
que determinadas intervenções podem implicar, o que se pretende realizar aqui é um levantamento
das intervenções feitas pelos editores nos textos e, com isso, utilizar esses dados como evidência
para analisar a relação entre a mudança na sintaxe do Português e a mudança no uso de vírgula do
Português Clássico ao Português Europeu. Ou seja, considerando a periodização da mudança na
sintaxe que os estudos, mencionados acima mostram (cf. também GALVES, NAMIUTI & PAIXÃO DE
SOUSA, 2006), e sendo os textos antigos do período dos séculos XVI e XVII e as suas versões
editadas do século XX, é de se esperar que os editores tenham modernizado a pontuação dos textos
conforme a gramática que emerge durante o século XVIII, ou seja o Português Europeu Moderno,
assim como o fazem com a ortografia das palavras. Suas intervenções podem, portanto, ser tomadas
12
como mais uma evidência para a hipótese de que o uso de vírgula teria se modificado por influência
da mudança na sintaxe da língua.
Um exemplo que ilustra bem essa questão é o dado abaixo, do texto Nova Floresta, de Manuel
Bernardes.
a.
Vendo tão rara e verdadeira amizade, el-rei Dionísio o mais velho disse-lhes:
b.
Vendo tão rara, e verdadeira, amizade el-rei Dionísio o mais velho, disse-lhes:
Como mencionado na seção anterior, Galves & Paixão de Sousa, em seu estudo Clitic placement and
the position of subjects (2005), mostraram que em construções com o verbo em terceira posição
com ênclise, se encontrava apenas um dado com a ordem XSV-cl – apresentado acima em a. –, o que
causava um certo estranhamento, já que em nenhum outro texto analisado essa ordem aparecia.
Porém, como mencionado em Galves & Paixão de Sousa, 2013, ao voltarem ao texto original,
descobriram que a pontuação original era como em b., sugerindo que “el-rei Dionísio” não era o
sujeito pré-verbal de “disse”, como em a., mas o sujeito pós-verbal de “vendo”, como em b., o que
era coerente com os demais dados. Assim, em construções do tipo V3, não foi atestada nenhuma
ocorrência nos textos do século XVIII da ordem XSV-cl.
Desse modo, é interessante notar que, ao modificar a posição das vírgulas na sentença, o editor
acabou por não apenas apagar indícios de como o sinal de vírgula era utilizado na época, mas
também por modificar a sintaxe da escrita original, de acordo com a sua gramática do Português
Europeu Moderno. Ou seja, uma vez que, do século XVIII em diante, o sujeito passou a ocupar, com
maior frequência, uma posição pré-verbal, para o editor, nascido no século XX, o mais natural é
colocar o sujeito nessa posição, e não após o verbo da oração gerundiva e, por essa razão, ele
interpretou e modernizou a pontuação de modo equivocado e conforme a sua própria gramática.
13
4. CORPUS E METODOLOGIA
4.1. CORPUS
Para esta pesquisa serão utilizados dois corpora, conforme detalhado abaixo.
O primeiro, a ser utilizado para a análise do emprego de vírgula, será constituído por textos
transcritos de textos-fonte originais ou já editados sem modificação da pontuação, retirados do
Corpus Histórico do Português Tycho Brahe2 e do website Hemeroteca Digital e selecionados de
acordo com a data de nascimento dos autores que os escreveram.3
Em função das questões da pesquisa, o período escolhido para estudo é do século XVI ao século XIX.
Assim, para a composição do corpus foram escolhidos 24 textos literários escritos por autores
nascidos neste intervalo, sendo seis do século XVI, seis do século XVII, seis do século XVIII e seis do
século XIX:

História da Província de Santa Cruz, de Pero Magalhães de Gândavo (1502)

Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto (1510)

O auto das regateiras, Antonio Ribeiro Chiado (1520)

Décadas, de Diogo do Couto (1542)

A vida de Frei Bertolamenu do Mártires, de Luis de Sousa (1556)

Gazeta, em que relatam as novas todas, que ouve nesta corte, e que vieram de varias partes no
mês de novembro de 1641, de Manuel de Galhegos (1597)
O Corpus Histórico do Português Tycho Brahe, desenvolvido junto ao projeto temático Padrões Rítmicos,
Fixação de Parâmetros & Mudança Linguística, coordenado pela Profa. Dra. Charlotte M. C. Galves
(IEL/UNICAMP), é um corpus eletrônico anotado, composto de textos em português escritos por autores
nascidos entre 1380 e 1845. Atualmente, 57 textos (2.547.503 palavras) estão disponíveis para pesquisa livre,
com um sistema de anotação linguística em duas etapas: anotação morfológica (aplicada em 33 textos), e
anotação sintática (aplicada em 16 textos). (www.tycho.iel. unicamp.br/~tycho/corpus/index.html)
3 Foram consideradas aqui as datas de nascimento dos autores e não as datas de publicação dos textos por
duas razões: primeiro, pois nos estudos gerativistas de mudança gramatical acredita-se que a gramática
emerge no processo de aquisição das línguas naturais, e segundo, pois muitas vezes, sendo os textos bastante
antigos, a data de nascimento é o único dado temporal em que se pode confiar. (cf. GALVES, BRITTO & PAIXÃO
DE SOUSA, 2006)
2
14

Mercurio Portuguez, com as novas da Guerra entre Portugal, & Castella: começa no principio
de anno de 1663 (1663-1667)4

Sermões, de Padre António Vieira (1608)

Rellaçaõ da Vida e Morte da Serva de Deos a Venerável Madre Elenna da Crus, de Maria do
Céu (1658)

Gazetas manuscritas da Biblioteca Pública de Évora (1729-1731)5

Vida do apostólico Padre António Vieira, de André de Barros (1675)

Gazeta de Lisboa (1715-1718)6

Folheto de Lisboa (1741)7

Cartas familiares, de Cavaleiro de Oliveira (1702)

Reflexões sobre a vaidade dos homens, de Matias Aires (1705)

Pina Manique e a Universidade de Coimbra - Cartas do Intendente e de José Rodrigues Lisboa
para o Doutor Francisco Montanha, de Pina Manique (1733)

Cartas e Outros Escritos, de Marquesa de Alorna (1750)

Gazeta de Lisboa (Janeiro a Dezembro de 1810) 8

Memórias do Marquês da Fronteira e d'Alorna, de Marquês de Fronteira e d'Alorna (1802)

A inauguração da estátua equestre, de Joaquim da Costa Cascais (1815)

A morgadinha de Val-d’Amores, de Camilo Castelo Branco (1825)

Maria Moisés, de Camilo Castelo Branco (1825)

Cartas a Emília, de Ramalho Ortigão (1836)

O regente, de Marcelino Mesquita (1856)
É importante ressaltar que, com a exceção dos textos Mercurio Portuguez, com as novas da Guerra
entre Portugal, & Castella: começa no principio de anno de 1663, Gazeta de Lisboa e Folheto de Lisboa,
todos os demais textos foram selecionados pelo fato de já estarem disponíveis para consulta no
Corpus Histórico do Português Tycho Brahe as suas versões editadas e anotadas sintaticamente.
O Mercúrio Português, durante todo o período em que foi publicado, de 1663 a 1667, teve como diretor e
redator Antônio de Souza de Macedo, nascido no ano de 1606. (cf. purl.pt/369/1/ficha-obra-mercurio.html)
5 As primeiras gazetas foram escritas por D. Francisco Xavier de Menezes, nascido no ano de 1673. (cf. www.
arqnet.pt/dicionario/ericeira4c.html; LISBOA, J. L.; MIRANDA, T. C. P. R.; OLIVAL, F. Gazetas manuscritas da
Biblioteca Pública de Évora. Vol. I (1729-1731). Lisboa: Edições Colibri, CHC-UNL e CIDEHUS-UE. 2002. Pág. 19.)
6 Algumas das primeiras edições da Gazeta de Lisboa foram selecionadas como parte do conjunto de textos do
século XVII, uma vez que o critério tomado é a data de nascimento dos autores e o seu redator, na época, foi
José Freire Monterroio Mascarenhas, nascido no ano de 1670. (cf. purl.pt/369/1/ficha-obra-gazeta_de_lisboa.
html)
7 O redator do Folheto de Lisboa, durante todo o período em que foi publicado, foi o seu criador Luis Montez
Matoso, nascido no ano de 1701. (cf. bndigital.bn.br)
8 Não foi possível encontrar quem era o redator da Gazeta de Lisboa no ano de 1810. Porém, levando-se em
conta a datação da edição, parece plausível se pensar que ele tenha nascido no século XVIII.
4
15
Já o segundo corpus será composto por 8 textos, com uma versão original e uma versão editada,
retirados do Corpus Histórico do Português Tycho Brahe (versões editadas) e da Biblioteca Nacional
Digital, da Biblioteca Nacional de Portugal, do Arquivo Nacional da Torre do Tombo e dos websites
Internet Archive e Google Books (versões originais). Ele será utilizado para a comparação entre
versões editada e original de um mesmo texto, a fim de se observar quais foram as intervenções
feitas pelos editores e como elas evidenciam a mudança na sintaxe e no uso de vírgula do Português
Clássico ao Português Europeu.

Corte na aldeia e noites de inverno, Francisco Rodrigues Lobo (1579)
 uma edição publicada em 1649
 uma edição editada por A. Lopes Vieira e publicada em 1907



História do Futuro, de Padre Antônio Vieira (1608)

uma edição publicada em 1718

uma edição editada por Maria Leonor Carvalhão Buescu e publicada em 1971
Cartas Familiares, de Francisco Manuel de Melo (1608)

uma edição publicada em 1752

uma edição editada por M. Rodrigues Lapa e publicada em 1942
Cartas Espirituais, de Antônio das Chagas (1631)

uma edição publicada em 1762
 uma edição editada por M. Rodrigues Lapa e publicada em 1939


Volume I do texto Nova Floresta, de Manuel Bernardes (1644)

uma edição publicada em 1706

uma edição editada por J. Pereira de Sampaio e publicada em 1949
Cartas, de José da Cunha Brochado (1651)

manuscritos escritos, provavelmente, entre 1695 a 1712
uma edição editada por Antônio Álvaro Dória e publicada em 1944


Verdadeiro Método de Estudar, de Luis Antônio Verney (1713)

uma edição publicada em 1746

uma edição editada por António Salgado Filhoe publicada em 1949
Entremezes de Cordel, de José Daniel Rodrigues da Costa (1757)

uma edição, chamada Rimas, da qual os textos compilados no livro Entremezes de Cordel
foram retirados, publicada em 1795

uma edição editada por Luís Miguel Cintra e Jorge Silva Melo e publicada em 1973
Conforme apresentado na lista acima, entre os 8 textos, 6 são de autores nascidos nos séculos XVI e
XVII e 2 são de autores nascidos no século XVIII. Tal escolha para o corpus não foi fortuita, uma vez
16
que, levando-se em conta que a mudança na sintaxe do Português ocorreu no século XVIII (cf.
PAIXÃO DE SOUSA,, 2004; GALVES, BRITTO & PAIXÃO DE SOUSA, 2005, GALVES, & PAIXÃO DE
SOUSA, 2005; GALVES,, NAMIUTI & PAIXÃO DE SOUSA, 2006; GIBRAIL, 2010; ANTONELLI, 2011;
GALVES & PAIXÃO DE SOUSA, 2013; GALVES & GIBRAIL, 2013), espera-se encontrar menos
mudanças na pontuação das versões editadas dos textos setecentistas em relação às dos textos
quinhentistas e seiscentistas.
4.2. METODOLOGIA
Para o desenvolvimento desta pesquisa as seguintes etapas serão realizadas.
Primeiramente, uma parte dos textos do corpus - o Folheto de Lisboa, a Gazeta de Lisboa, e o
Mercurio Portuguez -, que ainda se encontra em formato de manuscrito ou edição fac-similada,
deverá ser transcrita, editada e anotada sintaticamente para, então, poder ser feita a coleta e a
análise dos dados. Outros, como as Gazetas Manuscritas da Biblioteca Pública de Évora (1729-1731),
já estão transcritos e editados, porém ainda não anotados sintaticamente. Assim, para isso serão
utilizadas duas ferramentas: o E-Dictor Web e o Corpus Draw.
O E-Dictor9 é uma ferramenta que permite aos usuários fazer a transcrição e a edição eletrônica de
textos, isto é, editar textos em diversos níveis, como expandir abreviaturas, segmentar palavras,
modernizar a grafia de palavras, inserir comentários ou notas sobre o texto ou alguma edição.
Após feitas a transcrição e a modernização dos textos, eles passarão por um parser, no qual será
feita a anotação sintática automática. Os textos, então, deverão ser revisados e corrigidos no Corpus
Draw10, que é uma ferramenta que permite aos usuários fazer a correção da anotação sintática de
O E-Dictor é uma ferramenta desenvolvida por Pablo Faria (IEL/UNICAMP), Fábio Kepler (IME/USP) e Maria
Clara P. de Sousa (FFLCH/USP). (cf. FARIA, KEPLER & PAIXÃO DE SOUZA, 2009), no âmbito do projeto de
desenvolvimento do Corpus Tycho Brahe.
10 O Corpus Draw é um módulo dentro do programa CorpusSearch, o qual foi desenvolvido por Beth Randall,
como parte de um projeto coordenado pelo Prof. Anthony Kroch (Universidade da Pensilvânia), com a
finalidade de se poder construir um extenso corpus de textos em língua inglesa anotados sintaticamente e
9
17
textos de um corpus parseado. Nele as sentenças dos textos são apresentadas em forma de
estruturas de árvores, que podem ser editadas e/ou utilizadas para fins de exibição.
Os dados, então, serão coletados com o auxílio da ferramenta CorpusSearch. O CorpusSearch é um
programa que auxilia na pesquisa em linguística de corpus, permitindo aos usuários anotar textos
sintaticamente, realizar buscas no interior desses textos e obter informações sobre sintaxe, léxico e
pontuação. A respeito da pontuação, em particular, é interessante apontar que é possível buscar
dados nos quais um sinal aparece em um determinado contexto, uma vez que todos os sinais são
previamente marcados com etiquetas morfológicas. Isto é, a vírgula recebe a etiqueta ( , ) e os dois
pontos, o ponto final e o ponto e vírgula recebem a etiqueta ( . ).
A principal vantagem de trabalhar com um corpus anotado e utilizar uma ferramenta de busca
como o Corpus Search é que é possível recuperar todas as sentenças em que ocorre a estrutura
sintática que se deseja estudar de forma rápida e eficiente, sem o trabalho de ler os textos e copiar
cada sentença, uma a uma, à mão, correndo o risco de se esquecer de uma ou mais e, com isso,
comprometer a análise dos dados e os resultados da pesquisa.
Por fim, após feitas as buscas, os dados serão separados e classificados de acordo com a presença
ou não de vírgula e o tipo de elemento que precede ou segue o sinal de vírgula.
Já para o estudo comparativo das versões original e editada dos textos do segundo corpus serão
feitos a leitura dos textos e o levantamento dos casos em que há discrepâncias no uso de pontuação
entre as duas versões para, então, seguir para a análise e a discussão, levando-se em conta
resultados obtidos da análise do primeiro corpus.
4.3. CRONOGRAMA DE TRABALHO
Para o desenvolvimento desta pesquisa as etapas descritas acima serão realizadas conforme o
cronograma abaixo.
fazer buscas e obter dados lexicais, sintáticos e estatísticos nos textos anotados. (http://corpussearch.
sourceforge.net/CS-manual/CDBasics.html)
18
Ano
1
Ano
2
Ano
3
Ano
4
Tarefa/Mês
Transcrição de parte dos textos do corpus
Edição eletrônica de parte dos textos
do corpus
Anotação sintática de parte dos textos
do corpus
Leitura de bibliografia
Cumprimento dos créditos em disciplinas
1
X
2
X
3
X
4
5
6
7
X
X
X
X
8
9
10
11
12
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
Tarefa/Mês
Coleta e classificação dos dados
Análise dos dados
Leitura dos textos e levantamento
dos dados do segundo corpus
Leitura de bibliografia
Cumprimento dos créditos em disciplinas
Qualificação de área
1
X
X
2
X
X
3
X
X
4
X
X
5
6
7
8
9
10
11
12
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
Tarefa/Mês
Análise dos dados
Leitura de bibliografia
Qualificação de tese
1
X
X
X
2
X
X
X
3
X
X
X
4
X
X
X
5
X
X
X
6
X
X
X
7
X
X
8
X
X
9
X
X
10
X
X
11
X
X
12
X
X
Tarefa/Mês
Análise dos dados
Redação da tese
1
X
2
X
3
X
4
X
5
X
6
X
7
X
8
9
10
11
12
X
X
X
X
X
É importante apontar, com relação ao cronograma apresentado acima, que desde já presume-se a
extensão do período da bolsa para quatro anos, pois para a coleta dos dados para a análise será
necessário fazer primeiro o tratamento de alguns textos do corpus - transcrição, edição eletrônica e
correção de anotação sintática automática -, que demandará mais tempo de trabalho e, por isso,
está previsto para ser realizado durante todo o primeiro ano.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANTONELLI, André. Sintaxe de posição do verbo e mudança gramatical na história do português
europeu. (Tese de doutorado) Campinas: Universidade Estadual de Campinas. 2011.
CAGLIARI, L. C. & MASSINI-CAGLIARI, G. “O papel da tessitura dentro da prosódia portuguesa”. In:
Castro, Ivo; Duarte, Inês. (Org.). Razões e emoção: Miscelânea de estudos em homenagem a Maria
Helena Mira Mateus. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda. 2003.
CATACH, Nina. La Ponctuation. (Que sais-je? n°2818) Paris: Presses Universitaires de France. 1994.
19
GALVES, Charlotte, BRITTO, Helena & PAIXÃO DE SOUSA, Maria Clara. The Change in clitic
placement from Classical to Modern European Portuguese: Results from the Tycho Brahe Corpus. In:
“Journal of Portuguese Linguistics, vol. 4, n°1, Special Issue on variation and change in the Iberian
languages: the Peninsula and beyond”. Lisboa: Edições Colibri. 2005.
GALVES, Charlotte & PAIXÃO DE SOUSA, Maria Clara. “Clitic placement and the position of subjects
in the history of European Portuguese”. In: Romance Languages and Linguistic Theory. Selected
papers from Going Romance 2003. Amsterdã e Filadélfia: John Benjamins. 2005.
____________________. The loss of verb-second in the history of Portuguese: subject position, clitic
placement and prosody. USP/Unicamp. Submetido. 2013.
GALVES, Charlotte & GIBRAIL, Alba Verona Brito. Subject inversion in transitive sentences from
Classical to Modern European Portuguese: a corpus-based study. Campinas: Unicamp. Submetido.
2013.
GALVES, Charlotte, NAMIUTI, C. & PAIXÃO DE SOUSA, Maria Clara. “Novas perspectivas para antigas
questões: revisitando a periodização da língua portuguesa.” In: A, Endruschat, R. Kemmler & B.
Schafer-Prieβ (Orgs.) Grammatische Strukturen des Europaischen Portugiesisch. Tubingen: Calepinus
Verlag. 2006.
GIBRAIL, Alba Verona Brito. Contextos de formação de estruturas de tópico e foco no português
clássico. (Tese de doutorado) Campinas: Universidade Estadual de Campinas. 2010.
LISBOA, J. L.; MIRANDA, T. C. P. R.; OLIVAL, F. Gazetas manuscritas da Biblioteca Pública de Évora.
Vol. I (1729-1731). Lisboa: Edições Colibri, CHC-UNL e CIDEHUS-UE. 2002.
MACHADO FILHO, Américo V. L. A pontuação em manuscritos medievais portugueses. Salvador:
EDUFBA. 2004.
MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia. “O que nos diz sobre a sintaxe a pontuação de manuscritos
medievais portugueses”. In: REUNIÃO ANUAL DA SBPC, 44. Boletim 14 da Associação Brasileira de
Lingüística. São Paulo: ABRALIN. 1992.
ROSA, Maria Carlota. Sintaxe e pontuação em impressos portugueses renascentistas. (Tese de
doutorado) Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro. 1994.
YANO, Cynthia Tomoe. Um estudo sobre o emprego de vírgula antes de oração completiva no
Português Europeu Clássico: sintaxe, discurso e gramática normativa. (Dissertação de mestrado)
Campinas: Universidade Estadual de Campinas. 2013.
20
WEBSITES
Biblioteca Nacional Digital/Biblioteca Nacional de Portugal - (purl.pt)
Biblioteca Nacional Digital do Brasil/Fundação Biblioteca Nacional - (bndigital.bn.br)
Biblioteca Nacional Tesouros - Gazeta de Lisboa - (purl.pt/369/1/ficha-obra-gazeta_de_lisboa.
html)
Corpus Histórico do Português Tycho Brahe - (www.tycho.iel.unicamp.br/~tycho/corpus/index.
html)
Google Books - (books.google.com)
Hemeroteca Digital - (hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Periodicos/GazetadeLisboa/GazetadeLisboa.
htm)
Internet Archive: Digital Library of Free Books, Movies, Music and Wayback Machines - (archive.org
/index.php)
Portugal - Dicionário Histórico - (www.arqnet.pt/dicionario)
21
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