divulgação técnica puccinia cnici-oleracei em

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DIVULGAÇÃO
TÉCNICA
Puccinia cnici-oleracei
em Acmella uliginosa
na região Sul da Bahia.
PUCCINIA CNICI-OLERACEI EM ACMELLA ULIGINOSA NA REGIÃO SUL DA BAHIA
C.C. Aparecido1, T.R. Santos2, J.L. Bezerra2
Instituto Biológico, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Vegetal, Av. Cons. Rodrigues Alves,
1252, CEP 04014-002, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: [email protected]
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RESUMO
Acmella uliginosa conhecida popularmente como agrião bravo ou jambú, pertence à família
Compositae e é uma planta nativa da África, Ásia-tropical e América do Sul, sendo vastamente
distribuída pelo Nordeste brasileiro, bem como na região Amazônica. Suas folhas e flores têm várias
aplicações na culinária e farmacologia. Em outubro de 2007, em uma área do Centro de Pesquisa
do Cacau/CEPEC (Município de Ilhéus, BA) foram coletadas folhas de A. uliginosa que exibiam
manchas circulares, castanhas, contornadas por halo amarelado, com a existência de pústulas na
face abaxial, características de fungo pertencente à ordem Pucciniales (ferrugem). Exames microscópicos possibilitaram identificar o fungo como Puccinia cnici-oleracei. Esta espécie havia sido, até
2007/2008, relatada nos Estados do Acre, Amazonas, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Rio
de Janeiro e São Paulo. No entanto, este é o primeiro registro do patógeno no Estado da Bahia.
A ocorrência de P. cnici-oleracei em A. uliginosa é de interesse especial no Brasil, uma vez que as
folhas têm ampla utilização tanto na culinária como na farmacologia, e a presença de patógenos,
principalmente foliares, pode prejudicar a planta como um todo e, especialmente, na síntese dos
compostos com aplicação famacológica.
PALAVRAS-CHAVE: Pucciniales, ferrugem, agrião-bravo, jambú.
ABSTRACT
PUCCINIA CNICI-OLERACEI ON ACMELLA ULIGINOSA IN SOUTH OF BAHIA, BRAZIL.
Acmella uliginosa popularly known as agrião-bravo or jambu belongs to the Compositae family
and is native to Africa, Asia and tropical South America, being widely distributed throughout
northeastern Brazil and the Amazon region. Its leaves and flowers have various applications in
cooking and pharmacology. In October 2007, from an area of the Centro de Pesquisa do Cacau/
CEPEC (Ilheus, BA, Brasil) were collected leaves of A. uliginosa exhibiting circular patches, brown,
with pustules on the abaxial surface, characteristics of fungi belonging to Uredinales (rust).
Microscopic examination allowed us to identify the fungus as Puccinia cnici-oleracei. This fungus
was, until 2007/2008, reported in the states of Acre, Amazonas, Maranhão, Minas Gerais, Pará,
Paraíba, Rio de Janeiro and São Paulo. However, this is the first record of the pathogen in the state
of Bahia. The occurrence of P. cnici oleracei on A. uliginosa has a particular interest in Brazil, once
the plant has widespread use in both cooking and pharmacology and in the presence of pathogens,
especially leaf can damage the plant as a whole, and specialy in the synthesis of the compounds
give pharmacological application.
KEY WORDS: Pucciniales, rust, Acmella uliginosa.
Acmella uliginosa (SW.) Cass., sinonímia Spilanthes uliginosa, conhecida popularmente como agrião
bravo ou jambú, pertence à família Asteraceae (=
Compositae). É nativa da África, Ásia-tropical e
América do Sul, sendo vastamente distribuída pelo
Nordeste brasileiro, bem como na região Amazônica.
É uma dicotiledônea herbácea, propagada por
sementes, que apresenta porte ereto ou decumbente
com aproximadamente 50 a 80 cm de altura, anual
ou perene, com raízes fasciculadas, folhas opostas e
suculentas, flores liguladas, tubulosas e pequenas,
corolas de coloração amarelada, heterógama ou
homógama e discoide, pedunculada, terminal ou
axilar, usualmente solitária (Jstor Plant Science,
2011).
A planta inteira é reivindicada por possuir propriedades medicinais. As flores são mastigadas para
aliviar dor de dente e as plantas trituradas são usadas
em reumatismo. As folhas também são comidas cruas
ou como um vegetal, por muitas tribos da Índia.
Centro de Pesquisa do Cacau, Ilhéus, BA, Brasil.
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Biológico, São Paulo, v.74, n.1, p.31-33, jan./jun., 2012
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C.C. Aparecido et al.
Suas folhas e flores têm várias aplicações na
culinária e farmacologia, como analgésico local,
antifúngico, antisséptico, antiviral, diurético e estimulante do sistema imunológico devido à presença
de diferentes princípios ativos, como: óleos essenciais, saponinas, colina, terpenoides e espilantol,
uma isobutilamida, entre outros (Vasconcelos, 2003)
(Plantas que curam, 2012).
Amostras de A. uliginosa, procedentes de uma área
do Centro de Pesquisa do Cacau/CEPEC (Município
de Ilhéus, BA), foram coletadas em outubro de 2007,
exibindo manchas foliares circulares, castanhas,
contornadas por halo amarelado, apresentando
pústulas epífilas elevadas na face abaxial das folhas,
características de fungo pertencente à ordem Pucciniales (= Uredinales).
A partir das pústulas foram preparadas lâminas
coradas com lactofenol e azul de algodão. As lâminas
foram observadas ao microscópio óptico aumento
400x. Os exames laboratoriais foram conduzidos
no laboratório de Biodiversidade de Fungos do
Centro de Pesquisa do Cacau (CEPEC/CEPLAC) no
Município de Ilhéus, BA, e no Centro de Pesquisa
e Desenvolvimento de Sanidade Vegetal, Instituto
Biológico, São Paulo, SP.
Ao microscópio óptico observou-se a presença
de teliosporos oblongos a elipsoides, pedicelados,
A
C
com paredes lisas, bicelulares, castanhos, levemente
constrictos no septo, medindo de 26 - 46 x 12 – 20
µm com pedicelos de 14 – 24 µm de comprimento
e 6 – 10 µm de largura. Tais dimensões correspondem aos relatos existentes em outros trabalhos
(Cummins, 1978). Não foram observados pícnios,
écios e uredínios.
As observações realizadas possibilitaram identificar o fungo como pertencente ao gênero Puccinia
e à espécie P. cnici-oleracei Persoon ex Desmaziéres,
espécie de ampla distribuição geográfica e que parasita vários gêneros da família Asteraceae (PardoCardona, 2006).
O gênero Puccinia possui em torno de 4.000
espécies patogênicas a inúmeros hospedeiros
(Hawksworth et al., 1995) e pertence à família Pucciniaceae, ordem Pucciniales, classe Teliomycetes e
filo Basidiomycota. Os gêneros Puccinia e Uromyces
são os patógenos obrigatórios mais importantes da
referida família em termos agrícolas e econômicos,
ocorrendo em praticamente todos os continentes,
causando sérias perdas em plantios comerciais.
Principalmente, porque a infecção causa intensa
queda de folhas, o que acaba por refletir no processo fotossintético da planta parasitada (Cummins;
Hiratsuka, 1983; Hawksworth et al., 1995; Agrios,
1997; Pardo-Cardona, 2006).
B
D
Fig. 1 – Puccinia cnici-oleracei I. Teliossoros observados sobre a superfície adaxial da folha (A); teliosporos e paráfise
(B, C e D).
Biológico, São Paulo, v.74, n.1, p.31-33, jan./jun., 2012
Puccinia cnici-oleracei em Acmella uliginosa na região Sul da Bahia.
P. cnici-oleracei infecta, pelo menos, 20 gêneros
de Asteraceae, sendo os principais: Acanthosperma,
Ambrosia, Baccharis, Calea, Eclipta, Eleutherantha, Elvira,
Emilia, Erigeron, Hymenostephium,
Melampodium, Milleria, Parthenium, Senecio, Spilanthes,
Stenachaenium, Synedrella,Tetranthus, Tridex,
Verbesina, Wedelia, e Xanthium. É caracterizado como
um micro-organismo microcíclico, cosmopolita, com
vasto número de sinonímias e, embora possam haver
populações dentro dessa espécie de ferrugem, as
quais são especializadas nas populações dos diferentes hospedeiros, em todas as plantas infectadas,
o micro-organismo tem a mesma morfologia. Convém informar que as muitas sinonímias existentes
resultam, principalmente, devido ao hospedeiro
sobre o qual o patógeno tenha sido relatado. Os
télios são observados na face abaxial das folhas ou
raramente em ambos os lados (Hennen et al., 2005).
Outra característica dessa espécie é a germinação “in
situ” de, pelo menos, alguns teliosporos sem período
de dormência sendo, por este motivo, chamada de
“lepto-forma”. Foi relatado, experimentalmente, populações da ferrugem obtidas de Emilia e Spilanthes,
grande variabilidade na germinação dos teliosporos
ao longo do tempo.
Essa espécie havia sido, até 2007/2008, relatada
nos Estados do Acre, Amazonas, Maranhão, Minas
Gerais, Pará, Paraíba, Rio de Janeiro e São Paulo
(Hennen et al., 2005) (Embrapa, 2012), sendo este, no
entanto, o primeiro registro do patógeno no Estado
da Bahia. A ocorrência de P. cnici-oleracei em A.
uliginosa, é de interesse especial no Brasil, uma vez
que as folhas têm ampla utilização tanto na culinária
como na farmacologia.
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Acesso em: dezembro de 2007.
Recebido em 28/3/12
Aceito em 8/5/12
Biológico, São Paulo, v.74, n.1, p.31-33, jan./jun., 2012
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