CURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA THAÍSA CERQUEIRA CASTILHO FORTUNATO GEOGRAFIA DA SAÚDE: UMA ANÁLISE DOS CONDICIONANTES SOCIOESPACIAIS DA TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA NO BRASIL (1960-2010) Campos dos Goytacazes/RJ 2016 1 THAÍSA CERQUEIRA CASTILHO FORTUNATO GEOGRAFIA DA SAÚDE: UMA ANÁLISE DOS CONDICIONANTES SOCIOESPACIAIS DA TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA NO BRASIL (1960-2010) Monografia apresentada ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense como requisito parcial para conclusão do Curso de Licenciatura em Geografia. Orientador: Prof. Ms. Celso Vicente Mussa Tavares Campos dos Goytacazes/RJ 2016 2 THAÍSA CERQUEIRA CASTILHO FORTUNATO GEOGRAFIA DA SAÚDE: UMA ANÁLISE DOS CONDICIONANTES SOCIOESPACIAIS DA TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA NO BRASIL (1960-2010) Monografia apresentada ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense como requisito parcial para conclusão do Curso de Licenciatura em Geografia. Aprovado em 20 de setembro de 2016. Banca Avaliadora: _____________________________________________________________ Prof. Celso Vicente Mussa Tavares (Orientador) Mestre em Geografia - UFRJ Instituto Federal Fluminense _____________________________________________________________ Prof. Philipe Braga André Mestre em Geografia - UFF Instituto Federal Fluminense _____________________________________________________________ Prof.ª Roselene Affonso do Nascimento Especialista em Gestão Pública Municipal - UFF Instituto Federal Fluminense Campos dos Goytacazes/RJ 2016 3 Aos meus pais José Luiz e Eloisa, por toda dedicação, empenho e generosidade que os fizeram optar pela renúncia dos seus próprios sonhos, para que hoje eu pudesse conquistar mais essa vitória! 4 AGRADECIMENTOS A Deus, primeiramente, que me faz vencer todas as barreiras e dificuldades da vida; À minha irmã Danielle, por ser minha companheira e conselheira de todos os momentos; Ao meu esposo Cleber, que nunca mede esforços e está sempre disposto a colaborar no que for necessário para o nosso sucesso. Obrigada por ser meu aconchego!; Aos meus familiares e amigos que torceram – e continuam torcendo – na certeza de que posso conquistar muito além daquilo que almejamos alcançar, pelo poder da fé; Aos ausentes que, infelizmente, não puderam presenciar essa vitória, mas que sonharam junto comigo e desejaram a minha felicidade. Saudades eternas!; Ao meu querido Orientador, Prof. Ms. Celso Vicente Mussa Tavares, fonte de luz que iluminou meus passos nessa longa caminhada, cujo caminho construímos juntos. Agradeçolhe por acreditar em mim, por todo incentivo e confiança na minha capacidade!; Aos ilustres Professores, Ms. Philipe Braga André e Roselene Affonso do Nascimento, que são também parte dessa realização. Muito obrigada por todo aprendizado, e por aceitarem compor a banca examinadora deste trabalho; Aos meus amigos e colegas de turma, em especial a Paola Tavares, a Mírian Belarmindo e a Wallace Neves, quero registrar meu fraterno agradecimento pela amizade que construímos, pelo amparo e apoio nas horas de incertezas, pelos sentimentos compartilhados durante a jornada acadêmica, e até pelas inúmeras noites de sono perdidas e os finais de semana que passamos estudando. Graças a Deus tudo valeu a pena!; A todos que de forma direta ou indireta contribuíram para a concretização desse trabalho. 5 O passo e a velocidade da mudança na mortalidade nos últimos 40 anos sugerem que tanto a difusão de tecnologias de controle quanto a melhoria no padrão de vida tiveram o seu papel. Wood e Carvalho 6 RESUMO Esta pesquisa reflete acerca de um tema de relevante interesse para a Geografia, já que pretende cobrir, dentro de certos limites, uma perceptível lacuna da literatura geográfica: a interdisciplinaridade com a área da Saúde e campos afins. Nesta análise procurou-se enfocar os condicionantes socioespaciais da transição epidemiológica no Brasil (1960-2010) e identificar o perfil epidemiológico da população, em relação às implicações que a transição demográfica acarretou para a singular mudança na prevalência de doenças no Brasil no referido período, estabelecendo-se uma comparação entre os padrões de morbimortalidade em cada macrorregião. Este estudo foi realizado por meio de uma metodologia que se baseou em pesquisa bibliográfica e na coleta de dados demográficos em sites oficiais, o que nos levou a concluir que a Geografia é a disciplina com potencial para uma melhor compreensão da discrepante situação epidemiológica nacional, cujos condicionantes socioespaciais se expressam de forma diferenciada nas cinco macrorregiões brasileiras devido a fatores tais como: desenvolvimento econômico, nível de urbanização e condições de vida. Todavia, as respostas para este dilema só serão eficazes se forem dadas intersetorialmente. Palavras-chave: Socioespaciais. Geografia da Saúde. Transição Epidemiológica. Condicionantes 7 ABSTRACT This survey reflects on a topic of relevant interest to the geography since it intends to cover, within certain limits, a noticeable gap of geographical literature: interdisciplinary with the health sector and related fields. In this analysis we tried to focus on the socio-spatial constraints of epidemiological transition in Brazil (1960-2010) and identify the epidemiological profile of the population, in relation the implications of the demographic transition has led to the singular change in prevalence of diseases in Brazil in that period, establishing a comparison between morbidity and mortality patterns in each macroregion. This study was conducted through a methodology that relied on bibliographical research and in the collection of demographic data on official sites, which led us to conclude that geography is the discipline with the potential for a better understanding of the discrepant national epidemiological situation, whose socio-spatial constraints are expressed differently in the five Brazilian regions due to factors such as economic development, level of urbanization and living conditions. However, the answers to this dilemma will only be effective if given intersectorally. Keywords: Geography of Health. Epidemiological Transition. Socio-spatial Constraints. 8 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Mapa da divisão regional do Brasil, proposta por Pedro Geiger .................... 34 9 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Proporção de óbitos (%) por Grupo de Causas segundo Região Período: 1960 .................................................................................................................. 35 Tabela 2 - Proporção de óbitos (%) por Grupo de Causas segundo Região Período: 1970 .................................................................................................................. 36 Tabela 3 - Proporção de óbitos (%) por Grupo de Causas segundo Região Período: 1980 .................................................................................................................. 36 Tabela 4 - Proporção de óbitos (%) por Grupo de Causas segundo Região Período: 1990 .................................................................................................................. 36 Tabela 5 - Proporção de óbitos (%) por Grupo de Causas segundo Região Período: 2000 .................................................................................................................. 37 Tabela 6 - Proporção de óbitos (%) por Grupo de Causas segundo Região Período: 2010 .................................................................................................................. 37 10 SUMÁRIO Lista de Ilustrações ........................................................................................................... 08 Lista de Tabelas ................................................................................................................ 09 Introdução ......................................................................................................................... 11 1 - A Dimensão Socioespacial da Saúde no Brasil ........................................................... 15 1.1 O Desenvolvimento da Política de Saúde Brasileira: Avanços e Retrocessos ........... 15 1.2 Aspectos Epidemiológicos: a Particularidade do Brasil ............................................. 18 1.3 A Geografia como via de Compreensão da Situação Epidemiológica........................ 21 2 - Uma Análise dos Condicionantes Socioespaciais da Transição Epidemiológica no Brasil (1960-2010) ............................................................................................................ 25 2.1 O Espaço como Condicionante Social ........................................................................ 25 2.2 A Transição Epidemiológica Brasileira: Reflexo da Organização Espacial ............... 27 3 - O Padrão de Morbimortalidade nas Diferentes Macrorregiões Brasileiras ................. 30 3.1 Região e Globalização ................................................................................................ 30 3.2 O Desenvolvimento da Regionalização Brasileira ..................................................... 33 3.3 Polarização Epidemiológica: a Desigualdade da Situação de Saúde nas Regiões Brasileiras ......................................................................................................................... 35 Considerações Finais ........................................................................................................ 39 Referências Bibliográficas ................................................................................................ 41 11 INTRODUÇÃO O presente trabalho cujo título é: Geografia da Saúde: uma análise dos condicionantes socioespaciais da Transição Epidemiológica no Brasil (1960-2010), objetiva tratar de um assunto pertinente na atualidade, que tem se apresentado como fato preocupante tanto para os governantes como para os habitantes de cada lugar do território brasileiro. Este fenômeno não é particular do nosso país e se manifesta também em outras partes do globo, mas o corrente estudo mantém seu foco em nossa realidade nacional, concentrando suas atenções principalmente nas décadas que compreendem os anos de 1960 a 2010. Embora seja um assunto de relevante interesse público, ainda tem sido pouco explorado por estudiosos de várias áreas com potencialidade de colaboração para uma melhor compreensão do tema e na formulação de respostas e alternativas para amenizá-lo, com destaque para os profissionais da área de Geografia. Buscamos aqui uma maior aproximação do fenômeno da transição epidemiológica brasileira com a nossa área de interesse, que é a Geografia, na perspectiva da Geografia da Saúde em conexão com alguns teóricos do campo da Saúde na intenção de consagrar o espaço geográfico como categoria-chave na análise deste fenômeno que é conhecido pela mudança progressiva de um perfil de morbimortalidade no qual há a predominância de doenças infecciosas e parasitárias para um outro no qual este perfil passa a ser caracterizado pela predominância das patologias do tipo crônicas e degenerativas e as conhecidas por “doenças de causas externas”. Na maioria dos textos lidos, cujos autores são médicos, dentre eles podemos citar Prata (1992), Monteiro (1997), Oliveira (2004), Barata (2005) e Araújo (2012), percebemos a ênfase nos fatores externos ao indivíduo, ganho trazido com a formulação e adoção de um novo conceito de saúde pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que considera os aspectos biológicos, psicológicos e sociais na compreensão do processo saúde-doença, porém estes mesmos fatores são tratados pelos autores como fatores determinantes da situação de vida da população. Reconhecemos que o pensamento destes autores é incompleto por negligenciar o espaço geográfico em suas análises, pois, desconsideram e, portanto, não abordam a respeito do condicionamento socioespacial. O leitor deve estar confuso e se perguntando neste momento: mas o que tem a ver Saúde com Geografia? Pode-se responder, levando-se em conta a análise dos condicionantes socioespaciais da saúde da população brasileira em suas diferentes regiões. No decorrer do 12 texto o leitor entenderá o quanto a Geografia pode contribuir para uma apreciação crítica relativa à Saúde. Nesta pesquisa adotou-se como recorte temporal o período a partir de 1960, pois é quando se observa um acelerado envelhecimento da população brasileira, em conjunto com uma série de transformações de ordem socioeconômica, cultural, demográfica e ambiental que repercutiram diretamente para a emergência da transição epidemiológica no país. Estas transformações, tais como o aumento da urbanização e a melhoria das condições de vida nos últimos séculos, foram responsáveis por um importante declínio da mortalidade e pela mudança do perfil epidemiológico da população. A análise deste fenômeno nesta pesquisa estende-se até o ano de 2010, quando foram levantados os dados mais recentes da demografia brasileira por meio do Censo Demográfico, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). O interesse pelo tema surgiu pela aproximação com o campo da Saúde, enquanto esta autora atuava como estagiária do curso de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense (UFF), em Campos dos Goytacazes. Durante o estágio realizado no Hospital Escola Álvaro Alvim (HEAA) muitos questionamentos vieram à tona, despertando a vontade de pesquisa na área, que culminou com a elaboração deste trabalho de conclusão do curso de Licenciatura em Geografia. Pretende-se, aqui, discutir o papel do espaço geográfico e sua repercussão no perfil de saúde da população brasileira, dando conta de compreender os aspectos da transição epidemiológica ainda em curso no Brasil. Os principais autores utilizados foram: Prata (1992); Guimarães (2001); Gomes In: Castro (2007); Lencioni In: Carlos (2007) e Araújo (2012). Reconhecem-se os seguintes conceitos como fundamentais: “transição epidemiológica”, que é caracterizada pelas “mudanças ocorridas no tempo nos padrões de morte, morbidade e invalidez que caracterizam uma população específica e que, em geral, ocorrem em conjunto com outras transformações demográficas, sociais e econômicas” (OMRAM, 2001 apud OLIVEIRA, 2004, p. 898); “região”, que, por possuir uma multiplicidade de acepções na Geografia, não tem um conceito hegemônico capaz de defini-la, a não ser por seus componentes essenciais: “o fundamento político, de controle e gestão de um território” (GOMES, 2007, p. 73). Com base neste referencial teórico, e considerando a acentuada desigualdade no desenvolvimento regional, a questão central desta pesquisa é: quais os condicionantes da transição epidemiológica nas diferentes macrorregiões do Brasil? Através dessa análise constatou-se que os condicionantes desta transição se dão de maneira diferenciada em cada macrorregião do país, devido à desigualdade socioespacial provocada por vários fatores, a 13 saber: desenvolvimento econômico, nível de urbanização e condições de vida. Os objetivos que este trabalho monográfico se propõe a atingir são: analisar os condicionantes socioespaciais da transição epidemiológica nas macrorregiões do Brasil no período de 19602010, visto aqui como objetivo central; identificar o perfil epidemiológico da população brasileira; analisar as implicações da transição demográfica no processo de transição epidemiológica em curso no Brasil; e comparar as mudanças no padrão de morbimortalidade das diferentes macrorregiões brasileiras. Tais objetivos são reconhecidos como secundários. A metodologia baseou-se na pesquisa bibliográfica que teve como principais fontes utilizadas as do tipo bibliográficas: foram utilizadas obras completas que tratam da questão abordada nesta pesquisa, a fim de contribuir para a análise das condições de saúde da população brasileira; periódicos eletrônicos: tais como, artigos retirados da internet, da área de Geografia, Demografia e também da área de Saúde, visto que tratam-se das fontes mais acessíveis; e as demográficas: dados retirados do site do IBGE e do DATASUS foram fundamentais para a análise proposta. Um dos principais desafios com o qual a autora se deparou no decorrer da pesquisa foi a escassez de referências bibliográficas sobre o assunto, principalmente no que tange ao conhecimento geográfico. Outro fator limitante foi a dificuldade de obtenção de dados relativos a certos períodos e a determinadas doenças, visto que a maioria dos dados disponíveis em meio eletrônico correspondem à década de 1990 em diante, o que demonstra que, com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) em 1990, houve maior eficiência na captação e divulgação de dados, porém, não estando isento da má qualidade das estatísticas em algumas regiões. Em síntese, este trabalho está dividido, além da introdução e das considerações finais, em três capítulos. No capítulo I “A dimensão socioespacial da saúde no Brasil”, que encontrase subdividido em três seções: 1.1 “O desenvolvimento da Política de Saúde brasileira: avanços e retrocessos”; 1.2 “Aspectos epidemiológicos: a particularidade do Brasil” e 1.3 “A Geografia como via de compreensão da situação epidemiológica”, versou-se sobre os (des)caminhos do sistema de Saúde brasileiro, sobre a singularidade do perfil epidemiológico no país e a necessária contribuição da Geografia a respeito. O capítulo II “Uma análise dos condicionantes socioespaciais da transição epidemiológica no Brasil (1960-2010)” encontra-se subdividido em duas seções: 2.1 “O espaço como condicionante social” e 2.2 “A Transição Epidemiológica brasileira: reflexo da organização espacial” que buscam discutir o papel do espaço e a sua intensa relação com as dimensões social e econômica. 14 O capítulo III, intitulado “O padrão de morbimortalidade nas diferentes macrorregiões brasileiras”, é composto por três partes: 3.1. “Região e globalização”; 3.2 “O desenvolvimento da regionalização brasileira” e 3.3 “Polarização epidemiológica: a desigualdade da situação de saúde nas regiões brasileiras” nos quais se procurou focalizar a atualidade do conceito de região e analisar as diferenças e desigualdades entre as macrorregiões que se traduzem, consequentemente, em um complexo mosaico de perfis epidemiológicos distintos. 15 1 A DIMENSÃO SOCIOESPACIAL DA SAÚDE NO BRASIL 1.1 O Desenvolvimento da Política de Saúde Brasileira: Avanços e Retrocessos A Política de Saúde no Brasil é marcada por um longo processo de desenvolvimento que comporta ganhos e perdas em sua trajetória de formulação e implementação que, contraditoriamente, abarca evolução e limites à sua efetivação enquanto direito social de todo cidadão brasileiro. A compreensão do processo saúde-doença passa pelo entendimento da estruturação da Política de Saúde em território nacional. Segundo Bravo (2007), no século XVIII as medidas em Saúde se limitavam à prática liberal e à filantropia exercida pelas Santas Casas e Beneficências. Já no século XIX, em decorrência das transformações econômicas e políticas, algumas iniciativas surgiram no campo da Saúde Pública, como a vigilância do exercício profissional e a realização de campanhas limitadas. No século XX, a saúde surgiu como questão social refletindo as mazelas causadas pelo surgimento do trabalho assalariado. O Estado, no caso do Brasil, só vai intervir efetivamente na Saúde na década de 1930, quando a questão “saúde” passa a ser reivindicada pelo nascente movimento operário. Em nosso país a Saúde só passa a ser tratada como questão pública após os anos de 1930, ainda que de uma forma bastante restritiva, a partir da crescente pressão pela intervenção estatal neste setor, visto que anteriormente ela não possuía o caráter de política social, sendo concebida como uma prática liberal e filantrópica na qual o indivíduo era responsável pela manutenção e recuperação da sua saúde. As políticas sociais nacionais são oriundas da efervescência deste momento histórico marcado pela luta de classes, datado da década de 1930, cujo objetivo de sua criação foi para dar respostas, de forma consistente, às sequelas trazidas pela emergente questão social, questão esta proporcionada pelo intenso processo de industrialização que provocou a aceleração da urbanização e a ampliação da massa trabalhadora em precárias condições de higiene, saúde e habitação; diante desse quadro, foi necessária e pressionada a intervenção estatal. Num primeiro esforço no sentido de intervir sobre a questão da Saúde, foram criadas as Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPs) ainda em 1923, abrangendo inicialmente apenas os trabalhadores ferroviários, mas estas só se estenderam para outras categorias profissionais após 1930 com a criação dos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs). As 16 ações em Saúde tinham um caráter restritivo e eram organizadas em dois subsetores: o de Saúde Pública, predominante até a metade da década de 1960, que englobava, por exemplo, as campanhas de vacinação e melhorias das condições sanitárias; e o de Medicina Previdenciária (IAPs), via contribuição trabalhista, que compreendia, no que tange à Saúde, a assistência médico-curativa e a distribuição de medicamentos, sem, contudo, se preocupar com a prevenção. Em suma, a situação epidemiológica da população brasileira, no período de 1945 a 1964, mesmo com alguns investimentos pontuais em 1950, 1956 e 1963, revelava um cenário de infestação de doenças infecciosas e parasitárias e elevados índices de morbidade 1 e mortalidade infantil e geral. Na época da ditadura militar houve a unificação da Previdência Social com a junção dos IAPs em 1966; assim, os trabalhadores ficaram excluídos da gestão da Previdência, restando-lhes apenas o papel de financiadores. A política de saúde nesse momento se deu através do modelo de privilegiamento do produtor privado, servindo como um mecanismo de acumulação capitalista. A partir deste momento, o setor privado começa a sobrepujar o setor público. Na década de 1980 destacam-se os ganhos proporcionados pela incorporação das reivindicações trazidas à tona pelos protagonistas do Movimento de Reforma Sanitária, sobretudo profissionais médicos, iniciado na década de 1970, e que influenciou na elaboração da Política de Saúde por meio do texto constitucional de 1988 e na consequente criação do Sistema Único de Saúde (SUS), cujo objetivo é garantir o acesso gratuito e universal aos serviços de saúde. A VIII Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986, representou um avanço fundamental para a discussão da questão “saúde” no país, pois incorporou o conceito ampliado deste vocábulo formulado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1948, que a compreende como qualidade de vida, possuindo um aspecto biopsicossocial visto que é considerada como resultante das condições de alimentação, moradia, transporte, lazer, educação, trabalho, saneamento básico, renda, meio ambiente, emprego, liberdade, acesso e 1 Refere-se ao índice de doenças em uma determinada região (GUIMARÃES, 2002). Constitui-se como um índice epidemiológico, o índice de morbidade, que se desdobra nos coeficientes de incidência (proporção de novos casos de determinadas patologias, sempre considerando um limite territorial, ou seja, uma população específica, durante certo período de tempo) e de prevalência (proporção de novos e antigos casos de certas doenças, resguardados os limites territoriais e cronológicos). O termo morbidade ou morbilidade deriva da palavra latina morbus que significa tanto doença física, enfermidade, como doença do espírito, paixão (REZENDE, 2012). 17 posse de terra e acesso a serviços de saúde, ou seja, um completo bem-estar físico, mental e social. Na década de 1980 a Saúde passou a ter uma dimensão política, democrática, contando com a participação de novos sujeitos nos debates sobre saúde. As principais propostas debatidas por esses sujeitos coletivos foram a universalização do acesso; a concepção de saúde como direito social e dever do Estado; a reestruturação do setor através da estratégia do sistema unificado de saúde; a descentralização do processo decisório para as esferas estadual e municipal, o financiamento efetivo e a democratização do poder local através de novos mecanismos de gestão - os Conselhos de Saúde. A Constituição Federal de 1988 representou a promessa de afirmação e extensão dos direitos sociais ao introduzir avanços na tentativa de corrigir as históricas injustiças sociais, incapaz de universalizar direitos, pautada na tradição da classe hegemônica de privatizar a coisa pública (BRAVO, 2007). O conceito ampliado de saúde baseou a formulação do Sistema Único de Saúde (SUS), que se estruturou em oposição ao modelo médico-previdenciário até então vigente, e foi uma das estratégias do Movimento de Reforma Sanitária, o qual contou com a participação de profissionais de saúde articulados às lutas e mobilizações do movimento popular que reivindicavam a intervenção do Estado na garantia da saúde como um direito fundamental, culminando com a criação das leis nº 8.080 e 8.142, ambas de 1990 que formam a Lei Orgânica da Saúde (LOS). Com base nisto, caberia ao poder público prover os meios necessários para a sua prevenção, promoção e recuperação. Não obstante ser a década de 1980 um período de inúmeros avanços e conquistas no campo social, opostamente é considerada por muitos autores como a “década perdida” porque as lutas que se travaram pela garantia de direitos por parte do poder público foram negligenciadas pela proposta neoliberal adotada pelo governo nacional na década de 1990. Tal proposta reforçava a negação dos direitos sociais por meio do enxugamento dos gastos públicos para pagamento da dívida externa, acarretando o sucateamento dos serviços e reforçando a mercantilização da Saúde. Entretanto, mesmo com as conquistas proporcionadas pelo Projeto de Reforma Sanitária, existe atualmente a disputa entre este e o Projeto Privatista corroborado pela ofensiva neoliberal, implantada no Brasil desde a década de 1990, pelo então presidente Fernando Collor de Melo (1990-1992), que constitui um entrave à efetivação das propostas oriundas do Movimento Sanitário. Esse embate é fruto da crise do Welfare State e da crise do socialismo real que desencadearam uma crise global a partir da década de 1970. Diante desse 18 contexto de instabilidade, verifica-se na sociedade contemporânea brasileira a existência de dois projetos antagônicos para o social: o de democracia restrita, que consiste na retração dos direitos sociais e políticos via diminuição do papel do Estado no plano social; e o de democracia de massas, que propõe a universalização da participação social. Estes projetos interferem nas políticas sociais, bem como na Política de Saúde (BRAVO; MATOS, 2008). 1.2 Aspectos Epidemiológicos: a Particularidade do Brasil Nos últimos cinquenta anos no Brasil, foram – e ainda são – notáveis os efeitos do fenômeno conhecido por “transição epidemiológica”, o qual é conceituado por Prata (1992), como uma gradual e progressiva transformação do padrão de mortalidade, morbidade e invalidez de uma população na qual se verifica a evolução de um perfil de alta mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias - como é o caso da malária, hanseníase, leishmaniose, febre tifoide, cólera, febre amarela, entre outras - para um outro que é caracterizado pela elevação e predominância dos índices de mortalidade por doenças crônico-degenerativas, tais como as neoplasias (cânceres), as doenças do aparelho respiratório, com destaque para o grupo de doenças cardiovasculares, bem como um considerável percentual de mortalidade por causas externas. Este fenômeno, que ocorre tardiamente nos países periféricos, pode ser notado em território brasileiro desde a década de 1940, tendo o seu ápice, sobretudo, a partir de 1960, quando o país passa a apresentar melhorias nas condições de vida, incluindo-se nesse quadro avanços em infraestrutura e em condições médico-sanitárias que se refletem consequentemente em uma evolução da proporção de população idosa. Isto demonstra que há uma estreita relação entre a urbanização e as transições epidemiológica e demográfica, sendo esta última definida por Alves (2008), como sendo um processo, em primeiro momento, desencadeado pela redução das taxas de mortalidade que culmina, posteriormente, com a redução das taxas de natalidade, alterando assim a estrutura etária da pirâmide populacional. De fato, as dinâmicas demográficas e epidemiológicas são fenômenos que estão associados entre si, pois as duas transições tratam de um mesmo processo social e, especificamente, das mudanças ocorridas em termos populacionais e coletivos, cada uma a seu modo como já conceituamos anteriormente com base no referencial teórico. É crescente no Brasil e no mundo a parcela de população em idade senil (60 anos ou mais), salvo as 19 diferentes realidades e contextos socioeconômicos distintos que fazem despontar particularidades em cada parte do globo. Esse estrato populacional vem se adensando continuamente no país e demanda uma gama de serviços de saúde especializados, sobretudo, os de média e alta complexidade que são os mais custosos. As dificuldades de acesso aos serviços, determinadas pela negação do direito à saúde, vêm acarretando uma maior recorrência do usuário ao sistema apenas quando o seu quadro clínico já se encontra bastante agravado, caracterizando o hospital como a principal via de acesso ao sistema, num sentido inverso ao proposto pela legislação. Isso implica em desafios a serem enfrentados pelos formuladores e implementadores de políticas públicas, que devem se empenhar para que os anos a mais de vida dos brasileiros sejam gozados com maior qualidade. Um aspecto da transição epidemiológica que podemos observar em conjunto com a transição demográfica consiste em considerar que o percentual de pessoas acometidas com doenças crônicas é predominante na população idosa, que frequentemente apresenta múltiplas patologias desse tipo. Consoante acabamos de afirmar, Veras (2001, p. 78) acrescenta que “a maioria das doenças crônicas que acometem os indivíduos, geralmente os idosos, tem na própria idade seu principal fator de risco. Envelhecer sem nenhuma doença crônica é antes a exceção do que a regra”. A transição epidemiológica em curso no Brasil, assim como nos demais países periféricos, guarda similaridades, mas também difere em alguns aspectos do mesmo fenômeno já ocorrido nos países centrais, sendo que nestes, o fenômeno em questão já está completo e foi observado no transcurso dos últimos cem anos. Assim, o caso brasileiro é considerado uma particularidade, visto que apresenta uma transição prolongada e atípica devido à persistência e reincidência de doenças infecciosas e parasitárias tidas como patologias do atraso, que impedem a completude do fenômeno e que estão associadas a questões sociais, culturais, econômicas, políticas, demográficas e geográficas. A prevalência de doenças crônico-degenerativas e por causas externas soma-se a um quadro preocupante de incidência de doenças transmissíveis e de reincidência de outras que já haviam sido erradicadas como, por exemplo, a hanseníase, a dengue e a cólera. Isto representa uma questão de saúde pública, na qual antigos e atuais problemas coexistem conferindo um movimento de contra transição. É relevante mencionar que num país como o Brasil, que possui dimensões continentais, a transição epidemiológica não se realiza de forma homogênea nas diferentes macrorregiões brasileiras definidas pelo IBGE, como veremos adiante no terceiro capítulo. 20 De acordo com Omram apud Araújo (2012) existem três estágios epidemiológicos pelo qual a humanidade atravessou ao longo do processo histórico: a) A „Era da Fome e Pestilências‟, que durou desde o início dos tempos históricos até o fim da Idade Média, foi caracterizada por altos índices de natalidade, altas taxas de mortalidade por doenças infecciosas endêmicas e epidemias que assumiam, com frequência, caráter pandêmico, devastando as populações. Nessa fase, a expectativa de vida estava em torno de 20 anos e o crescimento demográfico foi lento. b) A „Era do Declínio das Pandemias‟, correspondendo historicamente ao período que vai da Renascença até o início da Revolução Industrial, foi caracterizada pelo progressivo desaparecimento das grandes pandemias, embora as doenças infecciosas continuassem a ser a principal causa de morte. Nesse período verificou-se uma gradual melhora no padrão de vida e a expectativa de vida alcançou os 40 anos. Como as taxas de mortalidade declinaram até níveis de 30 por 1000 e a natalidade continuava acima de 40 por 1000, iniciou-se um longo período de crescimento populacional. c) A „Era das Doenças Degenerativas e das Causadas pelo homem‟ estendese da Revolução Industrial até os tempos modernos. Caracterizou-se por uma progressiva melhoria do padrão de vida das populações (habitação, saneamento, alimentação, educação) e um correspondente declínio das doenças infecciosas, que se iniciou várias décadas antes do aparecimento das sulfas e dos antibióticos e se acentuou após esses progressos da medicina. A expectativa de vida foi aumentando até atingir os 70 anos, nos meados deste século. As principais causas de mortalidade passaram a ser doenças cardiovasculares e as neoplasias malignas. Nessa fase, houve uma desaceleração no crescimento demográfico (p. 533). A terceira fase indicada pela letra c é a que nos interessa mais de perto porque aponta o fenômeno da transição epidemiológica sobre o qual buscamos nos debruçar. A partir dessa periodização podemos concluir que, ao longo dos anos, as melhorias no padrão de vida da humanidade são inquestionáveis, entretanto, essa realidade não é experimentada de forma idêntica na periferia do sistema-mundo e, particularmente, no Brasil, cujos efeitos da Revolução Industrial repercutiram de forma devastadora, traduzindo-se em aspectos negativos como a deterioração da qualidade de vida da população. Outro fato que merece destaque e que reflete a morosidade do processo de transição vivido é que a redução significativa nos índices de morbidade e mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias somente foi sentida após a introdução dos antibióticos e de outros avanços na medicina moderna. Diante desse contexto, afirma-se a existência de um perfil epidemiológico polarizado que conforma, em um mesmo quadro, dois perfis epidemiológicos 21 distintos: o grupo de patologias infecciosas e parasitárias e o grupo de patologias crônicodegenerativas. 1.3 A Geografia como via de Compreensão da Situação Epidemiológica É certo que o espaço constitui, por excelência, o objeto de estudo da ciência geográfica, embora a sua centralidade nos debates teórico-metodológicos dos principais pensadores da Geografia só tenha se firmado recentemente, pois, durante todo o século XIX e até meados do século XX, as correntes da Geografia Tradicional e também da Geografia Moderna, com exceção da Geografia Crítica, negligenciaram o conceito-chave que representa o espaço para a nossa ciência. É verdade que a Geografia Teorética ou Quantitativa se utilizou amplamente deste conceito, mas confundiu espaço geográfico com espaço geométrico. A Geografia Crítica emergente na década de 1970 é fruto do Movimento de Renovação da Geografia que despontou em meados da década de 1950, fazendo surgir novas vertentes, além da corrente crítica, a corrente humanista ou cultural aparece no cenário mundial. Todavia, a Geografia Crítica provocou uma ruptura radical com as correntes da Geografia Tradicional e com a Geografia Teorético-Quantitativa, revolucionando também o ensino da disciplina. A corrente crítica fundamenta-se no materialismo histórico-dialético marxista e trouxe à tona a necessidade de denúncias sociais, de desvendar o caráter contraditório próprio das relações sociais capitalistas que se realizam no espaço geográfico. Dentre os principais expoentes podemos citar: Yves Lacoste, David Harvey e Milton Santos. Num primeiro esforço de definir o espaço cujas relações sociais são um dado essencial para a sua apreensão, Santos (1978 apud Santos, 2006) concluiu que a geografia poderia ser construída considerando-se o espaço enquanto um conjunto de fixos e fluxos. A realidade geográfica é expressa por essa interação existente entre fixos e fluxos. Os fixos são os elementos contidos na configuração territorial, ou seja, a sua materialidade sejam eles objetos naturais e/ou artificiais, e os fluxos são as ações ou elementos que possuem mobilidade. O espaço geográfico não se reduz à sua configuração territorial, pois são as relações sociais que dão vida ao espaço, portanto, o espaço geográfico é constituído por sistemas de objetos e sistemas de ação. Assim sendo, o objeto de estudo da Geografia é o espaço, ou seja, é o conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações. Em seu raciocínio dialético, afirma também que “o espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário, e também 22 contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ação, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá” (SANTOS, 2006, p. 39). É com base no conceito de espaço geográfico explicitado por Santos (2006), mencionado acima, que delineamos esta pesquisa acerca da situação epidemiológica brasileira problematizada sob a ótica geográfica. Este conceito amplamente aceito no campo do conhecimento geográfico contempla as dimensões física e humana que são interagentes e compõem, nem sempre em harmonia, o contexto espacial onde as relações sociais - e, diga-se de passagem, que se tratam de relações sociais capitalistas que valorizam as coisas e coisificam as pessoas - dão forma à sociedade de determinados espaços. Não pretendemos adotar aqui uma postura exacerbada que considera que todos os fenômenos são essencialmente geográficos, nem que a Geografia tem que dar conta de tudo, mas enfatizamos que essas questões são oriundas do perpétuo dilema da Geografia como ciência de síntese, do embate existente se a nossa ciência é uma ciência idiográfica ou nomotética. No entanto, entendemos que a Geografia pode contribuir para a compreensão da situação epidemiológica nas diferentes macrorregiões brasileiras, e que nós, estudiosos da geografia, não devemos nos furtar às discussões pertinentes ao assunto. O espaço tem sido constantemente utilizado nas análises sobre saúde e ambiente. Desde a antiguidade vêm se desenvolvendo estudos que enfatizam as relações entre ambiente e saúde a partir de distintas abordagens. A categoria espaço, recentemente, tem ganhado destaque nos estudos de epidemiologia e ciências afins devido aos avanços das ferramentas de geoprocessamento, dentre as quais o Sistema de Informações Geográficas (SIG‟s). Tais ferramentas estão sendo incorporadas pelas ciências da saúde, tratando a organização espacial ou o lugar como condicionante das situações de vida, doença e morte de indivíduos, já que as mesmas se realizam de forma discrepante nos diferentes lugares, sendo expressão do desenvolvimento desigual e combinado preconizado de forma hegemônica pelo modelo de sociedade capitalista (BARCELLOS; MACHADO, 1998). Segundo Barcellos e Machado (1998) o espaço, nas análises de saúde, é abordado sob três perspectivas principais: a geométrica, que diz respeito às relações de localização e proximidade dos lugares que compartilham de condições socioambientais semelhantes; a regional, que remete tanto à sua realidade concreta como à sua construção intelectual, considerando-se a existência de diferentes regiões, cada qual com suas características particulares, que se inter-relacionam umas com as outras; e a terceira perspectiva é a do lugar que se refere ao espaço de vivência singular de determinados grupos humanos que possuem 23 modos de vida diferenciados. Porém, os autores, ao explicá-las, apontam os usos e as limitações de cada uma dessas perspectivas enquanto categoria de análise espacial. No entanto, a Geografia representa a possibilidade de uma melhor compreensão da transição epidemiológica vivenciada pela população brasileira, já que o perfil de morbimortalidade2 de uma população possui uma estreita relação com o espaço geográfico, pois níveis melhores ou piores de saúde estão associados à forma como o homem vive, habita e se organiza no espaço. Assim, A observação do gradiente socioeconômico em saúde, estendendo-se a todas as camadas da sociedade, é bastante antiga. Do mesmo modo, ao longo dos dois últimos séculos foram se acumulando evidências de que tanto o nível de pobreza quanto o contexto social em que ela se desenvolve importam na determinação do estado de saúde, ou seja, indivíduos pobres vivendo em ambientes degradados apresentam pior estado de saúde do que indivíduos pobres vivendo em ambientes melhores (BARATA, 2005, p. 08). No mesmo sentido, Guimarães (2001) discute a saúde pública numa perspectiva geográfica, apontando a estreita relação existente entre saúde, ambiente e cidade. Esclarece que o perfil de morbimortalidade da população está diretamente ligado ao meio urbano, portanto, melhorias nas condições sanitárias representam uma diminuição do risco de agravos à saúde, proporcionando uma melhor qualidade de vida e menor incidência de doenças infectocontagiosas ou doenças do atraso. O autor acrescenta que, num primeiro momento, as melhorias nas condições de vida e no planejamento urbano foram o único “remédio” para o controle das doenças infecciosas e parasitárias, destacando-se, posteriormente, o impacto dos avanços na área da microbiologia no final do século XIX e início do século XX. O fenômeno urbano pensado a partir da lógica geográfica/espacial implica na compreensão da cidade como locus da produção, da ordem que funciona dialeticamente por intermédio da própria desordem, do caos. Assim, todas as transformações ocorridas no espaço urbano moderno trouxeram, e continuam por trazer, resultados para o processo saúde-doença. Tomando o globo como campo de análise de tais transformações, podemos inferir que tanto 2 A palavra morbimortalidade agrega dois subconceitos: o de morbidade ou morbilidade, e o de mortalidade. Denota-se as doenças causadas de morte em uma população definida, em espaços e períodos de tempo delimitados. Podendo, semelhante aos seus subconceitos e a termos similares, ser utilizado na produção de informações estatísticas (Definição baseada no site: www.queconceito.com.br/morbimortalidade). 24 os países ditos de capitalismo avançado, quanto os de capitalismo tardio testemunharam, ainda que de forma bastante heterogênea como insistimos em assinalar, as transições, pois O resultado imediato, em termos da dinâmica demográfica, foi o aumento da expectativa de vida ao longo do século XX, o que contribuiu para o crescimento vegetativo da população mundial e a chamada “transição epidemiológica” – o perfil de morbimortalidade da população desses países sofreu alterações com o crescimento das doenças crônico degenerativas, muitas delas associadas ao stress e ao sedentarismo da vida urbana (GUIMARÃES, 2001, p. 161). As gritantes desigualdades regionais que se refletem no espaço urbano em termos de serviços, recursos, equipamentos e infraestrutura, capazes de garantir que as pessoas tenham qualidade de vida, acabam por se exprimir em desigualdade de acesso, de renda e, inclusive, na desigualdade em níveis de saúde-doença, o que coloca em voga a necessidade de uma análise socioespacial. 25 2 UMA ANÁLISE DOS CONDICIONANTES SOCIOESPACIAIS DA TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA NO BRASIL (1960-2010) 2.1 O Espaço como Condicionante Social Sabemos que o espaço geográfico não é um mero receptáculo das ações humanas, mas este possui um papel ativo, desempenhando simultaneamente várias funções, a saber: o espaço urbano capitalista é, ao mesmo tempo, fragmentado e articulado, reflexo e condicionante social, manifestando-se também como um campo simbólico e um campo de lutas. Todos esses matizes compõem o espaço, acontecendo de forma conjunta e não isolada. Atualmente vivemos em um mundo em constante transformação, onde impera a fluidez, a informação e a instantaneidade levadas até as últimas consequências pelo estágio de acirramento do processo de globalização do qual somos testemunhas. Deste modo, fica difícil afirmar que ainda existam lugares absolutamente isolados. Ao longo do processo histórico, o homem modificou o espaço, apropriando-se da natureza através do seu trabalho visando ao atendimento das suas necessidades. Para empregar o conceito marxista de trabalho, podemos dizer que o homem transformou de tal forma o meio que já não existe mais a natureza primitiva ou primeira natureza, mas uma segunda natureza que foi humanizada, artificializada. Ao intervir na natureza, o homem transformou a si mesmo, modificando a sua natureza humana, assim, estabeleceu uma divisão social do trabalho que requer relações sociais de produção que são hoje tipicamente capitalistas e intrinsecamente desiguais. Desta maneira o homem organizou o espaço segundo os interesses e necessidades do sistema capitalista de produção, constituindo o que Milton Santos denomina de espaço do capital. Por isso, o espaço urbano apresenta as características estudadas por Corrêa (2000 a) sendo fragmentado e articulado, reflexo e condicionante social, um conjunto de símbolos e campo de lutas. A cidade exprime a estrutura de produção social por meio de diversos agentes, ainda segundo Corrêa (2000 a): os proprietários dos meios de produção; os proprietários fundiários; os promotores imobiliários; o Estado e os grupos sociais excluídos produzem e reproduzem o espaço. O espaço urbano reflete a sociedade de classes revelada na segregação residencial e possibilita a perpetuação do sistema no seu papel de condicionamento social, porque a própria 26 organização espacial induz a sua reprodução. Por outro lado, a reprodução do espaço segregado produz uma contradição: as classes subalternas reivindicam o acesso aos direitos sociais, sobretudo, o direito à cidade. Os movimentos sociais denunciam a falta ou a precariedade dos serviços públicos e de infraestrutura, pressionando o poder público a tomar providências quanto à questão social. Porém, não se deve esquecer que o Estado é um instrumento de defesa dos interesses burgueses como não se cansava de nos alertar os pensadores marxistas. E, via de regra, queremos dizer que Isto significa que a sua atuação não se realiza de modo uniforme no espaço urbano, atuação que se traduziria nos investimentos em água e esgoto, na criação de uma completa infraestrutura para implantações industriais, na produção de novos espaços urbanizáveis, na abertura de vias de grande densidade de tráfego, na instalação de áreas de lazer, na renovação urbana, na construção de conjuntos habitacionais, mas também na expulsão de moradores e permissividade na proliferação de loteamentos populares sem infraestrutura (CORRÊA, 2000 b, p. 83). A distribuição da organização espacial brasileira não poderia ser diferente: a iniquidade entre as regiões tanto internas como externas é prevalecente, isso se justifica pois O desenvolvimento humano sobre a superfície terrestre produz um espaço diferenciado, que viabiliza e intermedia a relação da sociedade com a natureza. Através do processo de desenvolvimento, são gerados os lugares dos pobres, das indústrias, dos ricos, de circulação, que são diferentes e próximos (BARCELLOS; MACHADO, 1998, p. 105, grifo dos autores). Entretanto, desejamos sublinhar a função de condicionante da sociedade que nas palavras de Corrêa (2000 a, p. 9) significa dizer que “o condicionamento se dá através do papel que as obras fixadas pelo homem, as formas espaciais, desempenham na reprodução das condições de produção e das relações de produção”. O espaço como condicionante social representa a necessidade de garantir a manutenção do status quo, pois, de outro modo estaria fadada ao fim; dessa maneira, a organização espacial possui certa ambiguidade porque na medida em que é “um meio de vida no presente (produção), [é] também uma condição para o futuro (reprodução)” (CORRÊA, 2000 b, p. 55). 27 2.2 A Transição Epidemiológica Brasileira: Reflexo da Organização Espacial No item 1.2 do primeiro capítulo abordamos sumariamente as implicações da transição demográfica que repercutiu também numa transição epidemiológica. O Brasil e suas capitais vêm apresentando desde a década de 1940, mais especificamente e acentuadamente a partir de 1960, uma mudança na sua estrutura demográfica, que primeiramente é marcada por uma redução no índice de mortalidade por doenças de fácil prevenção como é o caso das moléstias infecciosas e parasitárias que em 1940 vitimaram 43,5% da população contra 11,4% em 1980 de acordo com os dados fornecidos por Monteiro (1997, p. 189). A queda na mortalidade se processou em termos tanto gerais como na idade infantil, sendo que esta última foi mais notável depois de 1980, tudo isso graças a melhorias que começaram a ser implantadas na década de 1930, que refletiu numa sensível melhora nos níveis de saúde da população proporcionadas pela instalação de água encanada, esgoto, coleta de lixo, serviços de saúde e da introdução do uso de antibióticos. Todas essas modificações no espaço, ainda que limitadas e restritas, configuraram um novo cenário demográfico e epidemiológico que culminou no envelhecimento populacional e no predomínio de morbidade e mortalidade pelas doenças do tipo crônicas e degenerativas. Soma-se a esses acontecimentos uma redução mais rápida da natalidade após os anos de 1960, o que demonstra uma mudança no comportamento reprodutivo e no crescimento vegetativo. A redução da natalidade foi tão brusca que se compararmos com os países desenvolvidos, podemos afirmar que essa mudança demorou quase dois séculos para acontecer, ao contrário do Brasil que em apenas 40 anos decresceu vertiginosamente sua taxa de fecundidade, pois em 1950 as mulheres possuíam de 7 a 9 filhos em média e hoje (IBGE, Censo de 2010) a média gira em torno de menos de 2 filhos por mulher. Os principais fatos responsáveis por essa incrível redução no número de filhos foram a grande aceitação, por parte das famílias, dos métodos contraceptivos que foram introduzidos na população brasileira nos anos de 1970, dentre eles destacam-se as pílulas, a esterilização feminina em massa, na maioria das vezes praticada de forma involuntária, e o abortamento; também a absorção da mão de obra feminina pelo mercado de trabalho é um fator digno de nota (IBGE, 2009). No mesmo sentido, contribuíram para essas modificações a intensificação do processo de urbanização e o êxodo rural. Tal fato pode ser comprovado por dados que apontam que na década de 1950 o país passa a ter 50% da sua população residindo em cidades, percentual que se alavancou durante as décadas posteriores chegando a alcançar mais de 80% segundo o 28 Censo de 2010 do IBGE. Não é demais reafirmar que as desigualdades socioeconômicas e socioespaciais revelam um perfil epidemiológico distinto em cada região. Se ampliarmos nossa escala de análise do processo de urbanização para o mundo, com especial ênfase para os países subdesenvolvidos, concluiremos, de acordo com Santos (2008), que este fenômeno além de ser recente é também crescente, haja vista a amplitude de sua evolução, pois em meados do século XIX a população urbana representava 1,7% da população mundial ao passo que já em 1950 era de 21%, chegando em 1960 a representar 25%. Diferentemente dos países desenvolvidos caracterizados por uma urbanização antiga e lenta pós-Revolução Industrial, os países subdesenvolvidos experimentaram um rápido crescimento urbano que, entre 1950 e 1960, apontavam um aumento de 59,3% da população urbana desses países contra 31% nos países desenvolvidos. O inchaço urbano nos países subdesenvolvidos foi proporcionado também pelas migrações; as habitações precárias e a favelização indicam o cerne da questão urbana no então chamado Terceiro Mundo. A redução das taxas de mortalidade e natalidade foram também contrastantes em relação a esses grupos de países, conforme assinalamos anteriormente a respeito do Brasil, tendo os países subdesenvolvidos uma diminuição acelerada. As mudanças na estrutura etária da população brasileira caracterizam uma pirâmide demográfica de base estreita que evidencia um menor percentual de crianças e adolescentes, um tronco alargado em relação à base representando um grande percentual de adultos, e um topo, ainda reduzido, mas que vem se adensando continuamente com a elevação do percentual de idosos, o que muitos autores consideram como bônus demográfico 3. Por tudo isso, o Brasil saiu de um quadro de predomínio de morbidade e mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias característico de populações infantis e da falta e precariedade de saneamento básico e de recursos médicos, e saltou para um perfil epidemiológico no qual há uma predominância de morbidade e mortalidade por doenças crônicas típicas de sociedades idosas, ocorrendo também um acentuado número de mortes por causas externas ocasionadas pela violência urbana com ênfase para os homicídios, suicídios e acidentes de trânsito que vitimam em geral os homens na faixa etária jovem-adulta. Um dado 3 De acordo com Alves (2008), o Bônus Demográfico ou Janela de Oportunidade é caracterizado pelo período em que há uma menor carga de dependência em termos populacionais, ou seja, o percentual de crianças e adolescentes (0 a 14 anos de idade) e de idosos (acima de 65 anos de idade), considerada como “população dependente”, é reduzido, apresentando um momento favorável para a economia brasileira, considerando o percentual elevado de adultos (15 a 64 anos de idade) que é tida como população potencialmente ativa ou População em Idade Ativa (PIA). Entretanto, o autor nos alerta que o Bônus Demográfico ocorre uma única vez, por isso suas vantagens e benefícios precisam ser aproveitados. 29 igualmente preocupante é o quantitativo de doenças infecciosas que persistem e a reincidência de algumas delas que outrora já haviam sido erradicadas. 30 3 O PADRÃO DE MORBIMORTALIDADE NAS DIFERENTES MACRORREGIÕES BRASILEIRAS 3.1 Região e Globalização Como proposto, nosso objetivo com esta pesquisa é apreender como se realiza, de forma diferenciada, o fenômeno da transição epidemiológica nas cinco grandes regiões brasileiras, considerando-se os condicionantes socioespaciais. Para tal, um dos conceitos ao qual recorreremos é o de região. Buscamos ao longo desta seção resgatar sua origem etimológica, como também a discussão em torno desse conceito-chave pelas correntes geográficas, ao final, procederemos ao debate atual que envolve região e globalização. A palavra região deriva do latim regere cujo radical reg está relacionado à regra, regência, regente, administração, etc. Lencioni (2007) e Gomes (2007) concordam sobre a antiguidade do conceito que já vinha sendo utilizado pelos gregos no conhecimento sobre as diferenças e contrastes da superfície terrestre. Hecateu de Mileto (550-475 a. c.) ficou conhecido como o pioneiro na realização de uma regionalização da Terra provida de método, disseminando, assim, a regionalização proposta por Pitágoras e a ele também foi creditado o traçado do primeiro mapa-múndi. Durante o Império Romano, a noção de região estava contida no termo regione que designava as áreas sob domínio romano que mantinham certo grau de autonomia, entretanto, estavam submetidas às normas e ao pagamento de impostos à cidade de Roma. A acepção da palavra região aparece nesse momento exprimindo um sentido político-administrativo. Região é um conceito polissêmico pela multiplicidade de usos e concepções que lhe são atribuídos. Seu uso não é exclusivo da Geografia e mesmo nesse campo de saber não há a prevalência de uma única acepção do termo; mas é utilizado também por outras ciências tais como: a Matemática, a Biologia e a Biogeografia na associação a domínios específicos; pela administração estatal no sentido de hierarquia e controle e para o estabelecimento de divisões administrativas; pelas instituições e empresas na definição de recortes para gerir os negócios; e, inclusive, no senso comum principalmente para se referir à localização e à extensão de algo no espaço (GOMES, 2007). A noção de região perpassou por todas as correntes do pensamento geográfico, cada qual conferindo uma forma particular de tratamento deste conceito com um viés científico. Muito diferente do debate acerca do conceito de espaço como sinalizamos no item 1.3, o 31 movimento de ideias a respeito da região foi unânime nas vertentes da Geografia, “[...] haja vista a posição privilegiada que ocupou nos debates ao longo da história do pensamento geográfico (LEMOS, 2005, p. 27). Os estudos regionais ou corográficos surgiram como tentativa de solução para o persistente dilema da dicotomia entre Geografia Física e Geografia Humana. Na intenção de impedir a perda de sua identidade foram adotados, na Geografia, os estudos regionais que buscavam relacionar os aspectos físicos e humanos de uma determinada área por meio de generalizações e particularidades a fim de garantir a unidade da disciplina. Com efeito, não houve a ruptura, porém, seus esforços surtiram um efeito indesejável, isto é, criou uma nova dicotomia: Geografia Regional versus Geografia Geral. A Escola Alemã, tendo Frederich Ratzel como seu expoente, fez surgir a noção de região natural com ênfase nos fatores ambientais sob prejuízo dos fatores sociais; a Escola Francesa, com Paul Vidal de La Blache, nos trouxe a noção de região geográfica cujas características fundamentais se baseavam nas possibilidades da ação humana sobre o meio. Richard Hartshorne e Hettner defenderam o método regional que consistia na diferenciação de áreas considerada o objetivo último do pesquisador geógrafo, mas a Nova Geografia (ou Geografia Teorético-Quantitativa) concebia a região como classe, ou seja, regionalizar significaria classificar regiões segundo critérios matemáticos. A Geografia de cunho fenomenológico se preocupou com a identidade regional construída pelos sentimentos dos homens ao pertencerem a uma dada região, todavia, a Geografia Crítica concebeu a região como parte de uma totalidade histórica atentando para as injustiças sociais. Ainda hoje a região é considerada um dos conceitos mais complexos para nós, profissionais da geografia, em vista do processo de globalização em ritmo acelerado que pretende a homogeneização do planeta. Não obstante essa obsessão pela homogeneidade, reforça-se ainda mais, num sentido inverso ao desejado, a fragmentação e a resistência com a criação de um sentimento regional que retoma a Geografia Regional que outrora havia sido declarada “morta”, portanto, “a região continua a existir, mas com um nível de complexidade jamais visto pelo homem. Agora, nenhum subespaço do planeta pode escapar ao processo conjunto de globalização e fragmentação, isto é, de individualização e regionalização” (SANTOS, 1999, p. 16). Assim, será discutido agora o dilema entre região e globalização. É consenso entre Andrade (2001) e Haesbaert (1999) que a globalização não é um fenômeno recente, iniciado de acordo com Andrade (2001) concomitante ao surgimento do modo de produção capitalista que se estendeu da Europa Ocidental em direção a todo o globo terrestre. Nesse sentido, o autor compreende a globalização como uma fase da evolução do 32 sistema capitalista que procedeu ao imperialismo e que, certamente, será superada por uma outra fase ainda neste século. Também há concordância entre os autores no que tange a importância e relevância da região. Para Haesbaert (1999) a questão regional não desapareceu, ela retoma sua força, no atual período de globalização neoliberal, em função de regionalismos, identidades regionais e desigualdades. Para Andrade (2001) o processo de regionalização encontra-se no extremo oposto ao da globalização, pois esta última que se pretende uniformizadora de hábitos e costumes se defronta com resistências dos agentes locais que fazem intensificar os movimentos étnicos e nacionalistas. Neste contexto, Haesbaert (1999) ressalta que a massa de excluídos produz suas próprias diferenciações. Assim sendo, o local, a região continua possuindo uma grande importância política e econômica. Semelhante a Andrade (2001), Haesbaert (1999) constata que os processos globalizantes são contraditórios, na medida em que são ao mesmo tempo de globalização e fragmentação, portanto, as diferenciações espaciais resultam do próprio movimento de globalização. Acrescentando que a diversidade territorial advém da imbricação entre as dimensões global e local. Neste aspecto, o autor afirma que o lugar comporta o global justificando-se que os processos globais se instalam no local, mas que no mesmo sentido o local pode globalizar-se. Os dois autores concordam que a globalização, longe de ser somente um processo homogeneizante, como muitos acreditam, é antes de tudo heterogeneidade e fragmentação devido à emergência de novas desigualdades, sobretudo econômicas, e recriação das diferenças (culturais e identitárias) postas em cena, dado o seu caráter excludente e seletivo que não incorpora todas as frações do espaço geográfico. Segundo Andrade (2001) o paradoxo da globalização consiste no fato de que a pretensão de unificar o espaço geográfico acaba por estimular novas diferenciações regionais. Haesbaert (1999) considera que a região na atualidade se apresenta de forma bastante complexa devido à multiplicidade de dimensões que a atravessam. Entretanto, observa-se a dificuldade de se estabelecer uma análise regional na contemporaneidade, visto que é difícil realizar uma síntese entre as múltiplas dimensões, fato que se evidencia na crescente dominância da lógica reticular, dos fluxos em rede. Daí falar-se cada vez mais de uma “regionalização global em rede”, territórios-rede e rede regional. Contudo, Haesbaert (1999) salienta que, diferentemente da noção de região para os clássicos, tais como La Blache, Hartshorne e Sauer, ainda ocorre uma diferenciação de áreas 33 que se dá, no tempo presente, sob novas bases, sendo a diversidade um produto da própria dinâmica globalizadora. O autor aponta a necessidade de reconstrução do conceito de região a partir de suas articulações com os processos de globalização, devendo-se empreender uma atualização conceitual que leve em consideração os seguintes aspectos: o grau de complexidade na definição dos recortes regionais; a instabilidade que altera mais rapidamente a coerência ou a coesão regional; e sua inserção em processos de globalização e fragmentação. Enfim, uma geografia regional renovada precisa considerar sua inserção desigual em movimentos mais globalizados. Com base nestes aspectos, Andrade (2001) reitera que a globalização provoca uma regionalização em escala mundial. Todavia, cabe destacar que mesmo com o predomínio de relações local-global, da instabilidade e da organização reticular em territórios descontínuos, há o retorno aos enraizamentos mais conservadores: as meso-escalas, a escala nacional e os territórios-zona dotados de continuidade espacial continuam muito relevantes. 3.2 O Desenvolvimento da Regionalização Brasileira Tendo em vista que buscamos abordar nesta pesquisa as semelhanças e diferenças no perfil de morbimortalidade da população em cada macrorregião brasileira definidas pelo IBGE em vigor na atualidade, procederemos a um breve histórico do desenvolvimento da divisão regional brasileira. A primeira divisão regional do Brasil foi oficialmente adotada em 1942 a qual abrangia cinco regiões geográficas, culminando em 1945 com a criação de subdivisões entendidas como microrregiões compostas por municípios com características em comum. Essa divisão regional foi proposta pelo geógrafo Fábio de Macedo Soares Guimarães contribuindo a partir de então para a organização e gerenciamento do território nacional. A divisão regional proposta por Fábio Guimarães compreendia 21 estados e o Distrito Federal, que na época estava sediado na cidade do Rio de Janeiro. As regiões eram formadas da seguinte maneira: região Norte (Amazonas e Pará), região Nordeste (Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas), região Leste (Sergipe, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Distrito Federal), região Sul (São Paulo, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul) e região Centro-Oeste (Mato Grosso e Goiás). Além dessas grandes regiões havia também cinco territórios federais. 34 Em 1969 a divisão regional sofreu uma redefinição devido ao reordenamento territorial em termos econômicos que se redesenhava no eixo das capitais do Rio de janeiro, Belo Horizonte e São Paulo e atribuía novos contornos regionais fazendo surgir uma nova região chamada Sudeste que englobava os estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo, fazendo com a que a região Leste fosse extinta. Contudo Bahia e Sergipe passaram a fazer parte da região Nordeste e alguns territórios federais tornaram-se estados e foram incorporados pelas macrorregiões. Essa regionalização prevalece até hoje, sendo que não existe mais nenhum território federal e houve a criação de novos estados podendo-se citar o exemplo de Tocantins que é o estado mais recente, sendo criado com a Constituição Federal de 1988. Outras divisões foram propostas por vários autores, cada qual ora enfatizava aspectos geofísicos, ora enfatizava aspectos geoeconômicos como é o caso da regionalização proposta por Pedro Pinchas Geiger em 1967, que compreendia apenas três grandes regiões geoeconômicas ou complexos regionais que não se limitavam às fronteiras estaduais estabelecidas oficialmente pelo IBGE, são elas: 1) Amazônia, 2) Centro-Sul e 3) Nordeste. Abaixo podemos visualizar a regionalização de Geiger exposta pela figura 1. Figura 1 – Divisão Regional Proposta por Pedro Geiger Fonte: http://www.infoescola.com/geografia/divisao-geoeconomica-do-brasil/ Já a atual configuração regional é composta por 26 estados e o Distrito Federal estando assim definida: Norte (Amazonas, Acre, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e Amapá), Nordeste (Bahia, Sergipe, Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Ceará, Rio Grande do Norte, Maranhão e Piauí), Centro-Oeste (Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Brasília-DF), Sudeste (Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo) e Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul). 35 As cinco macrorregiões brasileiras apresentam as seguintes características gerais: a Região Norte é a menos povoada, apresentando uma densa rede hidrográfica e a presença da floresta amazônica; a Região Nordeste é perpassada por graves sequelas causadas pela questão social e por sua dinâmica populacional repulsora; a Região Centro-Oeste é uma área de ocupação recente e de expansão da fronteira agrícola com o predomínio do agronegócio; a Região Sudeste é a mais desenvolvida do conjunto brasileiro, possuindo o maior índice de urbanização e de densidade demográfica com destaque para os estados do Rio de Janeiro e São Paulo, polos dinâmicos da economia brasileira, e a Região Sul, caracterizada também pela concentração de serviços, guarda heranças étnicas de portugueses, espanhóis e indígenas. 3.3 Polarização Epidemiológica: a Desigualdade da Situação de Saúde nas Regiões Brasileiras Nesta seção procuramos mostrar a concretude da nossa análise através da exploração de dados oficiais que nos permitem visualizar, de maneira explícita e comparativa, a questão da particularidade da transição epidemiológica brasileira em suas diversas expressões em cada macrorregião. Os dados que conseguimos captar nos levam a reafirmar a tese apresentada no decorrer do texto: a influência do espaço na situação de saúde da população, o que gera uma polarização epidemiológica no país. É preciso destacar a dificuldade de se encontrarem dados referentes às doenças do aparelho respiratório relativos ao período de 1960 a 1980, segundo regiões, e a dados sobre morbidade por grupo de causas, conforme já assinalado na introdução. Tabela 1 - Proporção de óbitos (%) por Grupo de Causas segundo Região Período: 1960 Doenças Doenças do Doenças do Regiões infecciosas e aparelho aparelho Causas parasitárias Neoplasias circulatório respiratório externas Brasil (Capitais) 25,90 8,10 21,50 8,00 4,80 Norte 40,00 4,00 12,00 4,00 Nordeste 37,00 4,00 11,00 3,00 Sudeste 19,00 10,50 29,00 7,00 Sul 24,00 10,50 20,50 5,00 Centro-Oeste 27,00 5,00 17,00 8,00 Fonte: Elaborada pela autora a partir dos dados coletados por ARAÚJO (2012) e PRATA (1992). 36 Tabela 2 - Proporção de óbitos (%) por Grupo de Causas segundo Região Período: 1970 Doenças Doenças do Doenças do Regiões infecciosas e aparelho aparelho Causas parasitárias Neoplasias circulatório respiratório externas Brasil (Capitais) 15,70 9,70 24,80 9,00 7,50 Norte 28,00 8,00 19,00 8,00 Nordeste 25,00 6,00 16,00 7,00 Sudeste 12,00 12,00 30,50 8,50 Sul 9,00 13,00 29,00 8,00 Centro-Oeste 25,00 6,00 13,00 5,00 Fonte: Elaborada pela autora a partir dos dados coletados por ARAÚJO (2012) e PRATA (1992). Tabela 3 - Proporção de óbitos (%) por Grupo de Causas segundo Região Período: 1980 Doenças Doenças do Doenças do Regiões infecciosas e aparelho aparelho Causas parasitárias Neoplasias circulatório respiratório externas Brasil (Capitais) 11,40 11,20 30,80 10,10 7,70 Norte 23,00 8,30 21,00 8,50 Nordeste 19,00 8,00 24,00 7,50 Sudeste 7,00 13,00 35,00 7,50 Sul 7,00 15,00 36,00 9,00 Centro-Oeste 12,00 9,00 22,00 12,00 Fonte: Elaborada pela autora a partir dos dados coletados por ARAÚJO (2012) e PRATA (1992). Tabela 4 - Proporção de óbitos (%) por Grupo de Causas segundo Região Período: 1990 Doenças Doenças do Doenças do Regiões infecciosas e aparelho aparelho Causas parasitárias Neoplasias circulatório respiratório externas Brasil 6,23 12,42 34,34 10,59 15,05 Norte 15,15 9,46 24,00 8,65 19,41 Nordeste 10,60 9,51 30,31 8,49 16,45 Sudeste 4,76 12,61 35,64 11,14 14,40 Sul 3,99 15,66 37,39 11,72 13,43 Centro-Oeste 9,33 11,01 30,45 8,85 20,12 Fonte: Elaborada pela autora a partir dos dados do Ministério da Saúde/DATASUS - Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM. 37 Tabela 5 - Proporção de óbitos (%) por Grupo de Causas segundo Região Período: 2000 Doenças Doenças do Doenças do Regiões infecciosas e aparelho aparelho Causas parasitárias Neoplasias circulatório respiratório externas Brasil 5,49 14,86 32,14 10,90 14,60 Norte 7,96 11,84 23,91 9,89 17,84 Nordeste 6,78 11,48 29,77 9,67 15,96 Sudeste 5,12 15,47 33,04 11,35 14,31 Sul 4,05 18,22 34,95 11,89 11,68 Centro-Oeste 6,69 13,44 30,20 9,02 18,65 Fonte: Elaborada pela autora a partir dos dados do Ministério da Saúde/DATASUS - Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM. Tabela 6 - Proporção de óbitos (%) por Grupo de Causas segundo Região Período: 2010 Doenças Doenças do Doenças do Regiões infecciosas e aparelho aparelho Causas parasitárias Neoplasias circulatório respiratório externas Brasil 4,62 16,93 30,87 11,27 13,55 Norte 6,23 13,37 24,84 9,78 21,52 Nordeste 4,61 14,22 31,13 9,03 16,38 Sudeste 4,64 17,66 31,62 12,56 11,04 Sul 3,83 20,70 31,06 11,53 12,25 Centro-Oeste 5,09 15,58 29,01 11,02 17,33 Fonte: Elaborada pela autora a partir dos dados do Ministério da Saúde/DATASUS - Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM. Com base nessas tabelas inferimos que após 1960 houve uma drástica e consistente diminuição das mortes por doenças infecciosas e parasitárias, fator que é acompanhado também por uma brusca redução nos índices de morbidade, reflexo da gradual melhora das condições médico-sanitárias em todo país, salvo a existência de contrastes regionais. Apesar de sua redução significativa, as doenças do tipo infecciosas e parasitárias apresentam-se ainda como problema a ser enfrentado pela complexidade que este grupo de causas representa, sendo multifacetado em três frentes de acordo com Carmo; Barreto; Silva (2003): (i) doenças transmissíveis com tendência declinante, como é o caso da varíola erradicada em 1973, e da poliomielite em 1989, da doença de Chagas, da hanseníase e da febre tifóide, associada a condições sanitárias precárias; (ii) doenças transmissíveis com quadro de persistência dentre as quais se destacam as hepatites virais, especialmente as do 38 tipo B e C, a tuberculose, a malária, e a febre amarela, todas relacionadas a modificações no ambiente pela ação antrópica e; (iii) doenças transmissíveis emergentes e reemergentes com destaque para a dengue, a AIDS, a cólera e a hantavirose. As patologias do tipo crônico-degenerativas que compreendem as neoplasias, as enfermidades do aparelho circulatório e respiratório, ao contrário do grupo explicitado acima, apresentaram ao longo deste período um acréscimo no número de ocorrências, tendo as doenças cardiovasculares como a primeira causa de mortes. Este grupo específico está estritamente vinculado a mudanças no modo de vida, ao novo padrão de viver inaugurado pela modernidade. Índices preocupantes representam também as causas externas que vem aumentando de forma extraordinária, assustadora e acelerada, tanto nos grandes centros quanto nas periferias, que têm como alvo, em sua maioria, homens jovens e negros. Este é o retrato do espraiamento da violência que alarga as fronteiras das cidades, indo em direção ao meio rural. Todavia, as desigualdades regionais demonstram uma realidade paradoxal e heterogênea, onde avanços e retrocessos são experimentados de forma contraditória, configurando desse modo mais do que uma simples transição atípica e irregular. Trata-se de uma polarização epidemiológica, geográfica e social. Comparando-se as regiões Sul, Sudeste e Nordeste, observamos que esta última possui um percentual mais elevado em se tratando das doenças infectocontagiosas do que as primeiras, onde as crônico-degenerativas são mais recorrentes. Esta polarização “é uma expressão das desigualdades de renda, da carência, de alimentação, moradia, saneamento, educação e, também, da dificuldade de acesso aos serviços de saúde” (ARAÚJO, 2012, p. 536). 39 CONSIDERAÇÕES FINAIS Vimos que o Brasil, durante o século XX, passou por intensas e profundas transformações que reconfiguraram o perfil demográfico no que concerne à redução da natalidade, redução da mortalidade geral e infantil e ao aumento da expectativa de vida ao nascer. Tais modificações estão inscritas no fenômeno denominado “transição demográfica”. Esta transição, ao se efetuar de forma radical na estrutura demográfica brasileira, repercutiu em outras esferas, fazendo desabrochar uma nova transição conhecida pelas mudanças no padrão de morbimortalidade que antes era marcado pelo predomínio de doenças do grupo infectocontagiosas, migrando para a predominância de doenças do grupo crônicodegenerativas, fenômeno que ficou conhecido por “transição epidemiológica”, que no nosso caso é inconclusa. Resultado dos processos de ajuste estrutural, impostos pelos organismos internacionais em prol de um desenvolvimento rumo à “modernidade”, implicou em consequências graves tanto no campo demográfico como epidemiológico, fazendo surgir um cenário de agravamento de antigos problemas, com o surgimento de novas expressões da questão social causadas pelo aprofundamento da desigualdade social. Convém mencionar que todo esse processo de mudanças e transformações estão diretamente relacionados com a Geografia, com as condições de vida e trabalho dos habitantes de cada lugar, com as disparidades regionais (re)produzidas pelos homens. Por isso, insistimos em defender a importância do saber geográfico de que é necessária uma nova postura dos geógrafos frente à questão epidemiológica que precisa ser tratada sob o ponto de vista da Geografia, na busca de alternativas. Em busca do desenvolvimento, o ser humano alterou bruscamente o meio, provocando a perda da qualidade ambiental e a modificação de seu perfil epidemiológico, empreendendo uma urbanização acelerada em níveis jamais vistos pela história, desmatando e aumentando consideravelmente os níveis de poluição. Não só os pontos negativos devem ser lembrados, mas, sobretudo, as conquistas alcançadas por meio da luta e resistência que fizeram do SUS uma realidade, representando um grande avanço na Política de Saúde brasileira, embora a universalização pretendida não tenha atingido a todos. Velhos e novos problemas de saúde desafiam o SUS apontando para a necessidade de ampliação da principal estratégia na atenção básica: a Estratégia Saúde da Família (ESF). O Programa Saúde da Família (PSF) foi implantado no país em 1994, atualmente é denominado Estratégia Saúde da Família (ESF), que objetiva à reorganização da atenção básica em 40 consonância com os princípios, diretrizes e fundamentos do Sistema Único de Saúde (SUS), como estratégia de expansão, qualificação e consolidação da atenção básica, proporcionando a reorientação do processo de trabalho realizado por uma equipe multiprofissional, capaz de viabilizar mais resolutividade e impacto na situação de saúde das pessoas e coletividades, apresentando uma ótima relação em termos de custo-efetividade, de acordo com a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB, 2012). Sendo referência em âmbito internacional. Renovados desafios supõem renovadas respostas que só serão eficazes se unirmos esforços na perspectiva da intersetorialidade, caso contrário não conseguiremos avançar rumo à diminuição das desigualdades regionais em todos os sentidos. Reafirmamos a necessidade de compromisso com uma nova postura a ser adotada pelos profissionais de Geografia diante de uma realidade tão complexa e adversa como a brasileira. Acreditamos no potencial do saber geográfico para contribuir de forma interdisciplinar com a questão discutida neste trabalho. 41 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, José Eustáquio Diniz. A transição demográfica e a Janela de Oportunidade. Instituto Fernand Braudel de economia mundial, São Paulo, 2008. ANDRADE, Manuel Correia. Brasil: globalização e regionalização. Universidade Federal de Pernambuco, p. 1-8. 2001. ARAÚJO, José Duarte de. Polarização Epidemiológica no Brasil. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, v. 21, n. 4, p. 533-538, out./dez. 2012. BARATA, Rita Barradas. Epidemiologia Social. Rev. Bras. Epidemiol. v. 8, n. 1, p. 7-17. 2005. BARCELLOS, C.; MACHADO, J. M. H. 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