Módulo de Oximetria para uso em Monitor Multiparâmetro Henrique José Thiesen1 Me. Marcos Augusto Stemmer2 RESUMO A oximetria é amplamente utilizada em unidades de terapia intensiva e em serviços de emergência. Este projeto visa implementar um módulo para a medição do nível de oxigenação no sangue, taxa de batimento cardíaco por minuto e a obtenção da curva pletismográfica. O sensor é construído de forma que o dedo de uma pessoa fique entre um transdutor e uma fonte luminosa de dois comprimentos de onda distintos. O sensor é ligado a uma placa com os circuitos necessários para realizar a leitura do sinal de um transdutor e converter esta informação em um sinal digital, na seqüência, este sinal é lido por um micro-controlador que irá processar o sinal utilizando técnicas de processamento digital de sinais. Para a calibração e teste de desempenho do oximetro é utilizado um simulador ótico de dedo, onde é possível configurar os parâmetros de saturação de oxigênio e a taxa de batimento cardíaco por minuto. A análise de resultados mostra que o objetivo do trabalho foi alcançado, já que a medidas realizadas estão muito próximas dos resultados obtidos por um módulo de oximetria de alta qualidade, e também quando comparado com o simulador. 1. INTRODUÇÃO Atualmente o desenvolvimento tecnológico está permitindo diagnósticos cada vez mais precisos e com maior rapidez, proporcionando ao paciente segurança e bem-estar com exames menos invasivos. Esta pesquisa apresenta o desenvolvimento e resultados de um módulo para a medição da saturação de oxigênio do sangue de uma pessoa. O oximetro de pulso faz essa medida através de um método não invasivo. Por duas décadas o oximetro vem sendo utilizado em pacientes durante o procedimento cirúrgico, e em pacientes que exijam cuidado intensivo, sendo um importante parâmetro a ser 1 Acadêmico da Faculdade de Engenharia Elétrica da PUCRS. E-mail: [email protected] 2 Professor da Faculdade de Engenharia Elétrica da PUCRS. E-mail: [email protected] 2 constantemente monitorado, já que as células do corpo humano necessitam de oxigênio. Por sua versatilidade e rapidez na medição, este instrumento é amplamente utilizado em serviços de emergência. Este trabalho busca dar início ao domínio da tecnologia em desenvolver módulos de oximetria, já que atualmente a maioria dos fabricantes são estrangeiros. O desenvolvimento deste módulo no Brasil permite que o custo seja reduzido significativamente. O objetivo deste trabalho é desenvolver uma placa com os componentes necessários para o perfeito funcionamento de um módulo que irá calcular a saturação de oxigênio no sangue, obter o valor de batimento cardíaco por minuto e a onda referente ao fluxo sanguíneo. Esses dados serão adquiridos por um módulo baseado em micro-controlador e enviados através de uma comunicação serial para um computador ou ainda para um monitor multiparâmetro, permitindo visualizar o desempenho do oximetro. A placa que será projetada contém os componentes que fazem a amplificação dos sinais analógicos e sua conversão para um sinal digital. Essa placa será projetada para conectar através de um barramento num kit de desenvolvimento com um micro-controlador do tipo ARM. O software, hardware e todo o processamento digital de sinais serão desenvolvidos para o bom funcionamento do oximetro. Este trabalho não abordará o desenvolvimento do software que será utilizado para a visualização do parâmetro no computador. Um módulo de oximetria comercial vem pronto para ser utilizado num monitor multiparâmetro, ou seja, contém os circuitos de fonte, circuitos analógicos e microprocessador integrados numa placa. 2. REFERENCIAL TEÓRICO O oximetro de pulso mede a saturação de oxigênio no sangue, e usualmente o parâmetro é indicado como %SpO2 ou %SaO2. O oxigênio é vital para o funcionamento de cada célula no corpo humano. Na ausência de oxigênio por um prolongado tempo, células irão morrer. Por isso o transporte de oxigênio para as células é um importante indicador da vida do paciente. Muitos métodos foram desenvolvidos para analisar o transporte de oxigênio. O oximetro de pulso é um método não invasivo que pode ser usado em ambiente clínico[1]. 3 O oximetro utiliza o fato de que a desoxihemoglobina (hemoglobina não oxigenada ou Hb) e a oxihemoglobina (hemoglobina oxigenada ou HbO2) têm diferente espectro de absorção luminosa. Aplicando-se luz com diferente comprimento de onda numa parte do paciente (geralmente a ponta dos dedos ou lóbulo da orelha), a relação entre a quantidade de desoxihemoglobina e oxihemoglobina pode ser obtida usando um foto-diodo como transdutor. O fotodiodo é um elemento que converte a intensidade luminosa em um nível de tensão [2]. A saturação de oxigênio no sangue é definida como a relação entre o nível de hemoglobina oxigenada sobre o nível total de hemoglobina (oxihemoblobina + desoxihemoblobina), conforme a expressão[3]: SaO 2 HbO 2 (1) HbO 2 Hb Um oximetro de pulso utiliza um LED vermelho com comprimento de onda de 660nm e um LED infra-vermelho com comprimento de onda de 910nm. Esses comprimentos de onda são usados porque a hemoglobina desoxigenada tem uma alta absorção em torno de 660nm e a hemoglobina oxigenada em 910nm, conforme mostrado na figura 1. Geralmente o dedo é colocado entre a fonte luminosa (LED vermelho e infravermelho) e um transdutor (foto-diodo), conforme mostrado na figura 2 abaixo[3]. Figura 1: Coeficiente de absorção de cada tipo [3] de Hemoglobina . Figura 2: Ideia geral da construção do sensor para oximetro de pulso [3] . 4 O oximetro de pulso assume que a atenuação da luz pelo segmento do corpo é causada pelos seguintes componentes: tecido, pele, ossos, sangue venoso e sangue arterial conforme mostrado na figura 3 abaixo[4]. Figura 3: Atenuação da luz incidente causada por 3 componentes [4] . O oximetro de pulso realiza um cálculo matemático baseado na lei de Beer-Lambert para determinar o percentual de sangue que está saturado com oxigênio. A lei de Beer-Lambert relaciona a absorção de luz que passa através de um material e a concentração deste material[3]. A captação da luz pulsátil permite verificar a amplitude e freqüência de pulso. Esse sinal é chamado de curva pletismográfica e é importante na avaliação do paciente. O sinal medido pelo transdutor possui um nível de tensão contínuo somado a um nível variável devido ao fluxo sanguíneo. O nível de tensão contínua é o resultado da absorção do tecido, pele e ossos. A componente de tensão variável corresponde à variação da absorção da luz pelo aumento no volume de sangue[5]. A transmissão de luz através do fluxo de sangue é alterada pela concentração de HbO2 e Hb com seus respectivos coeficientes de absorção nos dois comprimentos de onda[3]. Para calcular a saturação de oxigênio no sangue (SaO2), primeiramente a razão R é calculada, conforme a equação CAVERM R CCVERM CAINFRA _ VERM CC INFRA _ VERM (2) 5 Onde: CAVERM e CAINFRA _ VERM são as componentes de tensão alternada dos LED’s vermelho e infra-vermelho, respectivamente. CCVERM e CC INFRA _ VERM são as componentes de tensão contínua dos LED’s vermelho e infra-vermelho, respectivamente[4]. Na prática, a equação (2) não é linear conforme indicado. A lei de BeerLambert não leva em conta o múltiplo espalhamento da luz pelas células de sangue. Por isso, muitos oximetros utilizam uma tabela obtida a partir da análise de um grande número de pessoas, onde a oxigenação foi medida através de um método invasivo. A figura 4 mostra o resultado obtido dessa calibração e o modelo de Beer-Lambert[6]. Figura 4: Calibração empírica e o modelo de Beer-Lambert [6] . A implementação do oximetro será baseada no diagrama de blocos abaixo. O oximetro pode ser dividido em um bloco analógico, onde os sinais analógicos são amplificados e amostrados para a conversão em um sinal digital, e um bloco a ser implementado em software, onde o sinal digital é processado. A figura 5 mostra o diagrama de blocos do oximetro de pulso. 6 Fonte de corrente LED VERMELHO Controle Lumin. LED’s LED INFRAVERMELHO Chaveamento LED’s Controle LED’s Amplificador tensão AD2 AD2 Porta Serial Calculo BPM e SaO2 AD2 Base de tempo FOTO-DIODO Interrupção Software Remoção CC D/A Bloco Analógico, A/D, D/A Comunicação RS232 Conversor corrente p/ tensão Aquisição Sinais AD1 Filtro IIR (Remoção CC) AD1 AD1 A/D Filtro FIR Implementação em Software Figura 5: Diagrama de blocos do oximetro de pulso. Bloco conversor de corrente para tensão, amplificador de tensão e Analógico Digital (A/D): a saída do foto-diodo do sensor de dedo passa através de um conversor de corrente para tensão. Na seqüência o sinal é aplicado a um amplificador de ganho 5. Este amplificador é controlado por um conversor digital/analógico (D/A) para a remoção de parte do nível de tensão continua, evitando a saturação do amplificador. Estes dois sinais passam pelo conversor Analógico/Digital para o processamento em software[7]. Controle LED’s: é usado para fazer o chaveamento dos LED’s. Os LED’s são ligados alternadamente, quando o vermelho está ligado o infra-vermelho está desligado e vice-versa. Os LED’s ficam ligados por aproximadamente 450us, a uma freqüência de 500Hz[7]. Fonte de corrente: controla o nível de luminosidade dos LED’s para ficar dentro da faixa de utilização do conversor de corrente para tensão[7]. Controle de luminosidade dos LED’s: o nível de tensão presente na saída do conversor de corrente para tensão é amostrado pelo canal 1 do A/D. A partir deste sinal a corrente no LED é ajustada para a tensão de saída no conversor de corrente para tensão não saturar nem ficar num nível muito baixo[7]. Chaveamento dos LED’s, aquisição de sinais e base de tempo: este bloco faz o controle do tempo que o LED fica ligado, a multiplexação dos mesmos e a leitura do sinal convertido pelo A/D. Esses eventos são 7 controlados pela base de tempo gerada pelo microprocessador e define a taxa de amostragem do sinal[7]. Remoção CC: este bloco remove parte do nível de tensão contínua para evitar que o sinal fique fora da faixa de utilização do amplificador de tensão[7]. Filtros: O sinal amostrado do canal AD2 passa através de um filtro passa baixa do tipo FIR (Finite Impulse Response), com freqüência de corte em 10Hz para a remoção de ruídos indesejados. Este sinal contém um nível de tensão contínua que é indesejável para o cálculo da saturação de oxigênio (SaO2), e a visualização da curva do fluxo sanguíneo. Para resolver isso é utilizado um filtro IIR (Inifinite Impluse Response) para remoção do nível de tensão contínua[7]. Saturação de oxigênio (SaO2): após o tratamento e filtro dos sinais obtidos do sinal do LED infra-vermelho e LED vermelho é calculado o valor RMS (Root Mean Square) destes sinais. A razão do sinal do LED vermelho e infra-vermelho é calculado e uma tabela deverá ser consultada pelo microprocessador para a obtenção do valor de %SaO2[7]. Cálculo de batimento por minuto (BPM): usando o sinal de tensão alternada do LED infra-vermelho, um algoritmo detecta o pico do sinal. O tempo entre dois picos é contado e o número de BPM será determinado por[7].: BPM 60.TA N AMOSTRAS Onde: TA = Taxa de amostragem do sinal NAMOSTRAS: Número de amostras do sinal entre a deteção do pico do sinal. Porta Serial: usando uma comunicação serial padrão RS-232 o sinal de SaO2, BPM e a curva do fluxo sanguíneo são enviados para um software de visualização num computador. 8 3. METODOLOGIA DE PESQUISA Conforme o diagrama de blocos da figura 5 apresentado na seção anterior, o oximetro é composto por uma interface analógica de aquisição dos sinais e uma interface digital de processamento de sinais. As placas usadas para realizar estas funções podem ser vistas na figura B2 do apêndice B. 3.1. Desenvolvimento do hardware A placa de processamento de sinais utilizada para este projeto contém um micro-controlador da família ARM com os periféricos necessários para a interface de comunicação com a placa analógica e porta serial para a visualização dos sinais num computador. A placa contendo o micro-controlador foi desenvolvida para a disciplina de Laboratório de Processadores da Pontifícia Universidade Católica (PUC-RS), sendo uma ferramenta adequada para a fase desenvolvimento de projetos, já que possui display para visualização de informações, interface de comunicação, leds e chaves. Esses recursos ajudam muito na busca e solução de problemas relativos a software e hardware. O diagrama esquemático e software de apoio desta placa podem ser encontrados no site[10] da disciplina de Laboratório de Processadores da PUCRS. A placa com a interface analógica será conectada através de um conector na placa de processamento de sinais. A placa analógica contém muitos componentes SMD (Surface Mountain Device), isso exige que a mesma seja fabricada por uma empresa especialista em placas de circuito impresso. Circuito amplificador do Foto-Sensor: A figura 6 mostra o circuito utilizado para fazer o condicionamento do sinal do foto-sensor. O foto-sensor é conectado a um pré-amplificador para converter o sinal luminoso emitido pelos led’s em um nível de tensão. O amplificador operacional U1 é configurado como amplificador de transimpedância, convertendo a corrente que passa no foto-sensor em tensão. 9 Figura 6: Circuito do Pré-Amplificador do Foto-Sensor O sinal presente na saída de U1 é aplicado a um amplificador de ganho 5, representado na figura 6 por U2. A tensão na entrada não-inversora de U2 é controlada por um digital/analógico (D/A). A tensão aplicada na entrada não inversora de U2 é calculada pelo processador de sinais com o objetivo de evitar a saturação do sinal na saída deste amplificador. O sinal presente na saída de U2 (ADC_CH2) é utilizado para o cálculo de %SaO2, batimentos por minuto, e a obtenção da curva pletismográfica. Circuito de chaveamento dos LED’s: A figura 7 mostra o circuito para o acionamento dos LED’s vermelho e infra-vermelho do sensor de dedo. Figura 7: Circuito de acionamento dos LED’s do sensor de dedo. 10 O LED vermelho e infra-vermelho são ligados alternadamente. Quando o LED vermelho está ligado, o LED infra-vermelho está desligado e vice-versa. O diagrama de tempo é indicado na figura 8. VLIG VDESL IVLIG IVDESL Figura 8: Diagrama de tempo dos LED’s vermelho (V) e infra-vermelho (IV) Onde: VLIG = IVLIG = 450us VDESL = IVDESL = 1550us Os transistores Q1 e Q2 funcionam como chave. Q1 é acionado para ligar o LED infra-vermelho, e Q2 para ligar o LED vermelho. Os transistores Q3 e Q4 são controlados por um conversor digital-analógico (D/A). A tensão fornecida pelo D/A controla a corrente de acionamento do LED que está ativo. A corrente do LED vermelho é controlada pelo canal B do D/A, e a corrente do LED infra-vermelho é controlada pelo canal A do D/A. A corrente aplicada nos LED’s deverá ser suficiente para que a tensão no ponto AD CANAL 1, conforme mostrado na figura 6 fique em torno de 2V. O sistema fica continuamente monitorando este sinal e ajustando se necessário. Conversor Analógico/Digital e Digital/Analógico Os conversores A/D e D/A são responsáveis por fazer a interface entre o sinal analógico e digital. O barramento SPI (Serial Protocol Interface) é utilizado para a interface de comunicação do A/D e D/A com o micro-controlador. Através deste barramento é possível ter vários dispositivos conectados ao barramento. 3.2. Desenvolvimento do software 11 Para programar as rotinas do oximetro de pulso foi utilizada a linguagem de programação C com o compilador Keil. A figura 9 mostra o fluxograma do software do oximetro de pulso. Início LED InfraVermelho Inicialização periféricos: Timer, A/D, D/A, Porta Serial, Pinos de E/S NÃO Filtro FIR Filtro FIR Remove nível CC (Filtro IIR) Remove nível CC (Filtro IIR) Cálculo %SpO2 Int. Timer: Freqüência Amostragem SIM Liga LED e controle de luminosidade Ajuste de tensão no Amplficador U2 LED Vermelho Detector batimento e cálculo de batimentos por minuto Envio de dados pela porta serial Leitura A/D Figura 9: Fluxograma do software do Oximetro de Pulso Após a inicialização dos periféricos do micro-controlador, o sistema fica aguardando o evento de timer gerar uma interrupção. O timer gera uma interrupção a cada 1ms, sendo que somente um LED é ligado por evento, conforme mostrado no diagrama de tempos da figura 8. Dessa forma, a taxa de amostragem do sinal é 500Hz. O ajuste da intensidade dos LED’s é realizado através de dois canais do conversor D/A, canal A e B representados na figura 7. De acordo com a tensão presente na saída do amplificador U1, uma tensão é aplicada a entrada não inversora do amplificador U2 através do canal 12 C do D/A. Esta tensão é calculada de forma a evitar a saturação do amplificador U2. Este diagrama poder ser visto na figura 6. O sinal na saída do amplificador U2 é amostrado por um conversor A/D. Este circuito é mostrado na figura 6. Neste ponto dois sinais são gerados, um referente ao LED vermelho e outro referente ao LED infra-vermelho, e serão tratados separadamente. Para filtrar ruídos indesejados, o sinal de cada LED passa por um filtro passa-baixa do tipo FIR com freqüência de corte em 10Hz, conforme mostra a resposta em freqüência na figura 10. A freqüência de amostragem é de 500Hz. Esse filtro é sugerido pela referência[7]. Figura 10: Resposta em freqüência do filtro FIR O sinal amostrado do foto-sensor contém um nível elevado de tensão contínua junto com uma pequena parcela em CA referente à variação no volume de sangue. Para o cálculo da saturação de oxigênio no sangue, o nível de tensão contínua deve ser extraído. Para a remoção do nível de tensão contínua um filtro IIR (Infinite Impulse Response) de primeira ordem é utilizado. A seguinte função de transferência é utilizada para o filtro[7]. 13 H ( z) Y (Z ) 1 Z 1 X (Z ) 1 Z 1 Onde = 0,992 para uma atenuação de 22dB do nível CC. Na figura 11 temos a resposta do sinal após passar pelo filtro. Neste exemplo, o sinal de entrada é uma senóide com 2 volts de tensão contínua e 1 volt de pico de tensão alternada. Figura 11: Resposta do sinal após passar pelo filtro IIR A figura 11 mostra que na saída do filtro, após um período de estabilização, o sinal está sem tensão contínua e apenas uma pequena atenuação se comparado ao sinal de entrada. O algoritmo de detecção de batimento e cálculo da taxa de batimento cardíaco utiliza apenas o sinal do LED infra-vermelho que possuí uma amplitude maior. Quando os dois sinais estão filtrados e sem nível de tensão contínua, o valor da saturação de oxigênio no sangue pode ser calculado. A razão R pode ser calculada através da equação (2). Como o nível de tensão contínua é nulo, a expressão pode ser simplificada como (3): 14 R CAVERM CAINFRA_ VERM (3) Onde: CAVERM é o valor RMS (root mean square) do sinal em corrente alternada referente ao LED vermelho. CAINFRA _ VERM é o valor RMS (root mean square) do sinal em corrente alternada referente ao LED infra-vermelho. Como mencionado anteriormente, a razão R não é linear com a saturação de oxigênio do sangue. Para solucionar isso, uma tabela será consultada para obter o valor de %SpO2. A tabela será obtida conforme descrito na análise de resultados no procedimento de calibração do oximetro. 4. RESULTADOS 4.1. Calibração da saturação de oxigênio Para a calibração do oximetro de pulso foi utilizado um simulador ótico de dedo do fabricante FLUKE, modelo INDEX2 conforme mostrado na figura 12. Este equipamento simula um dedo humano, e nele é possível simular a saturação de oxigênio de 35% a 100% com resolução de 1%. A amplitude do pulso e a taxa de batimento cardíaco podem ser ajustados para realizar testes de desempenho das funcionalidades do módulo de oximetria. Figura 12: Simulador de SpO2 O valor de R é calculado através da equação (3) pelo microprocessador do oximetro de pulso. Para cada valor de saturação de oxigênio aplicado pelo simulador foram registrados 5 amostras de R. A partir dessas cinco amostras 15 uma média simples é realizada afim de melhorar a precisão do oximetro. Esse procedimento foi realizado com toda a faixa disponível no simulador, de 35% a 100%. Como exemplo, a tabela 1 mostra os valores obtidos para a saturação de oxigênio de 90% a 100%. Valor Simulador %SpO2 100 99 98 97 96 95 94 93 92 91 90 0,360 0,478 0,533 0,593 0,619 0,670 0,689 0,710 0,737 0,759 0,808 0,371 0,468 0,542 0,595 0,623 0,658 0,681 0,706 0,734 0,787 0,822 R (medido) 0,370 0,476 0,552 0,601 0,632 0,662 0,684 0,704 0,747 0,772 0,821 0,368 0,475 0,538 0,602 0,635 0,660 0,688 0,711 0,740 0,760 0,818 0,379 0,464 0,542 0,588 0,625 0,656 0,682 0,706 0,741 0,754 0,813 R (média) 0,369 0,472 0,541 0,596 0,627 0,661 0,685 0,707 0,740 0,766 0,816 Tabela 1: Razão R em função da saturação de oxigênio A partir da tabela com os valores da razão R e a saturação de oxigênio podemos fazer um comparativo com o modelo de Beer-Lambert mencionado anteriormente. A figura 13 mostra este gráfico. Figura 13: Relação da razão R pela saturação de oxigênio O gráfico da figura 13 mostra que o resultado obtido neste trabalho está de acordo com o esperado mostrado na figura 4. 16 Os valores da razão R obtidos durante o procedimento de calibração foram gravados na memória do microprocessador. Durante a utilização do oximetro de pulso, a razão R é calculada após a detecção de 6 batimentos válidos. Um algoritmo busca na tabela de calibração o valor de R correspondente mais próximo, e nesta posição da tabela é lido o valor de saturação de oxigênio 4.2. Avaliação de desempenho Para avaliar o desempenho do módulo desenvolvido, o sensor de dedo foi conectado no simulador configurado com a saturação de oxigênio em 96%, e a taxa de batimento cardíaco em 75 batimentos por minuto. Através da comunicação serial RS232, a curva pletismográfica é enviada para o computador, juntamente com as informações de saturação de oxigênio e a taxa de batimento cardíaco, conforme mostrado na figura 14. Figura 14: Desempenho do oximetro de pulso A figura 14 mostra que os resultados obtidos estão de acordo com os parâmetros do simulador. Para comparar a curva pletismográfica, foi utilizado um monitor da fabricante INSTRAMED que utiliza um módulo de oximetria da Smiths-Medical[8], modelo BCI WW3711[9]. A imagem do monitor com a curva é mostrada no apêndice B, figura B1. O apêndice A apresenta os valores de saturação de oxigênio medidos a partir do módulo de oximetria desenvolvido neste trabalho, e as medidas do módulo da fabricante Smiths-Medical. A tabela foi construída utilizando toda a 17 faixa de disponível no simulador, que vai de 35% a 100% de saturação de oxigênio. A taxa de batimento cardíaco utilizada foi mantida em 75 batimentos por minuto. Durante os testes, o módulo apresentou um sinal com ruído na curva pletismográfica e maior erro na medida da saturação de oxigênio quando a pessoa apresenta baixa perfusão. A baixa perfusão implica numa diminuição no volume de sangue, um dos motivos para isso acontecer é a baixa temperatura na região do corpo humano onde está o sensor de dedo. A situação de baixa perfusão também é encontrada em paciente neonatal. 5. CONCLUSÃO O desenvolvimento do módulo de oximetria de pulso atingiu o objetivo com resultados satisfatórios, como observado no apêndice A. As medidas obtidas estão muito próximas dos resultados obtidos com o módulo de oximetria da empresa Smiths-Medical, e também quando comparado com o simulador de dedo. Com este trabalho foi possível dar inicio ao desenvolvimento da tecnologia necessária para a fabricação de módulos de oximetria no Brasil. O processamento digital de sinais permite que o número de componentes analógicos e a complexidade do circuito sejam reduzidos. Desta forma, o módulo desenvolvido aqui tem custo menor que produtos similares importados. Uma melhoria a ser realizada em versões futuras é a tentativa de tornar o circuito mais sensível para os casos de baixa perfusão, principalmente porque a utilização em paciente neonatal exige uma sensibilidade maior. Na apresentação deste trabalho aos professores da banca, houve um questionamento sobre a possibilidade da ocorrência de aliasing na amostragem do sinal. Como o sinal é pulsado e de curta duração, é impossível especificar os capacitores C1 e C5 (ver figura 6), para rejeitar sinais de alta freqüência sem prejudicar o sinal do foto-diodo. Para a solução deste problema, é necessário adicionar um circuito do tipo sample-and-hold, que irá transformar o sinal pulsado num sinal contínuo. Após esse circuito de sample-and-hold, é 18 adicionado um filtro analógico para eliminação de sinais com freqüência maior que a metade da freqüência de amostragem do sinal, evitando o efeito do aliasing. Deve haver um circuito para o sinal referente ao LED vermelho e outro para o LED infra-vermelho. 6. BIBLIOGRAFIA [1]. WEBSTER, Jonh G. Design of Pulse Oximeters. 1 ed. Taylor & Francis Group, 1997. 260 p. [2]. MOORE, James; ZOURIDAKIS, George. Biomedical Technology and Devices. 1 ed. CRC Press LLC, 2003. 860 p. [3]. LI, Yun-Thai. Pulse Oximetry. Department of Electronic Engineeting, University of Surrey, Guildford. Disponível em: <http://personal.ph.surrey.ac.uk/~phs3ps/surj/v2/li.pdf>. Acesso em 05 abril 2010. [4]. MATVIYENKO, Serhiy. CYPRESS AN2313 Pulse Oximeter – Standard. Disponível em: <http://www.cypress.com/?docID=20497>. Acesso em 05 abril 2010. [5]. CHAN, Vincent; UNDERWOOD, Steve. Texas Instruments SLAA274 – A Single-Chip Pulse OximeterDesign Using MSP430. Disponível em: <http://focus.ti.com/lit/an/slaa274/slaa274.pdf>. Acesso em 05 abril 2010. [6]. TOWNSEND, Neil. Pulse Oximetry – Medical Electronics. Disponível em: <http://www.robots.ox.ac.uk/>. Acesso em 05 abril 2010. [7]. MARKANDEY, Vishal. Pulse Oximeter Implementation on the TMS320VC5505 DSP. Disponível em: <http://focus.ti.com/lit/an/sprab37/sprab37.pdf >. Acesso em 05 abril 2010. [8]. <http://www.smiths-medical.com> [9]. Pulse Oximetry Componentry Disponível em: <http://www.smiths-medical.com/Userfiles/oem/OEM.fam.broch.pdf >. Acesso em 10 junho 2010. [10]. Site da disciplina de Laboratório de Processadores. Disponível em: <http://www.ee.pucrs.br/~stemmer/labproc/index.html>. Acesso em 10 junho 2010. 19 APÊNDICE A. Valor Simulador Oximetria deste projeto Oximetria Smiths-Medical Valor Simulador Oximetria deste projeto Oximetria Smiths-Medical Valor Simulador Oximetria deste projeto Oximetria Smiths-Medical 100 99 98 97 96 95 %SpO2 - Faixa de 100% a 79% 94 93 92 91 90 89 100 99 98 97 95 95 94 93 92 91 90 89 87 87 86 85 83 83 82 81 79 79 99 99 98 96 95 94 93 92 91 90 89 88 87 86 85 84 83 82 81 80 79 78 66 65 64 63 62 61 60 59 58 57 88 87 86 85 84 83 82 81 80 79 78 77 76 75 74 73 %SpO2 - Faixa de 78% a 57% 72 71 70 69 68 67 78 77 75 75 74 72 71 70 70 69 67 66 66 64 63 62 63 60 58 58 58 56 77 76 75 74 72 71 70 69 68 67 66 65 64 63 62 60 61 60 58 57 56 55 44 43 42 41 40 39 38 37 36 35 56 55 54 53 52 51 %SpO2 - Faixa de 56% a 35% 50 49 48 47 46 45 55 54 53 52 51 50 49 48 47 46 45 45 43 42 41 40 39 38 37 36 35 35 54 53 52 51 50 49 48 47 46 45 44 43 42 41 40 39 38 37 36 35 34 33 Certificado Calibração LABELO Número E15985 Data Calibração 21/11/2008 Data próxima calibração 30/11/2010 Identificação do instrumento IM017 20 APÊNDICE B Figura B1: Tela mostrando curva pletismográfica com módulo de oximetria de Smiths-Medical Figura B2: Foto da placa de processamento a esquerda; placa de aquisição de sinais analógica (direita); sensor de dedo