Motivaçao Introdução ao estudo da motivação e da emoção – definições, conceitos e principais modalidades de avaliação A motivação e a emoção são relevantes do ponto de vista teórico-conceptual, pois permite a compreensão do processo de funcionamento da motivação e da emoção (e.g. porque é que praticamos exercício físico, reciclamos?) e do ponto de vista prático, dando-nos conhecimento das condições facilitadoras e das condições inibidoras do alcance de objetivos desejáveis (e.g. como fomentar a prática do exercício físico, reciclagem?). Objeto de estudo da Motivação Segundo Reeve (2009), a motivação é o processo que confere ao comportamento energia, pela intensidade e persistência comportamental, e direção, pois o comportamento é dirigido para objetivos ou metas. Tende a ser visto como um conceito unidimensional que é operacionalizado em termos de quantidade (o quanto?), mas, na verdade, é um conceito multidimensional que é operacionalizado em termos de quantidade e de qualidade (o porquê?) O que inicia o comportamento? Iniciação Como é que o comportamento é mantido ao Persistência longo do tempo? Porque é que o comportamento é dirigido Direção para algumas metas e não para outras? Porque é que o comportamento muda de Mudança direção? Porque é que o comportamento pára? Cessação O comportamento intencional diz respeito ao conjunto de processos associados à mobilização e direção do comportamento, e varia de intensidade em função do tempo, a variação intra-individual, e em função do sujeito, a variação inter-individual. Fontes da motivação (Reeve, 2009) As fontes de motivação são os processos que fornecem ao comportamento a sua energia e direção: as necessidades, a cognição, as emoções e os acontecimentos externos. Hierarquia das quatros fontes de motivação: Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Motivação Necessidades Motivos internos Motivos externos Cognição Emoções Os acontecimentos externos prendem-se com os incentivos ambientais, com as consequências, com os contextos e com as situações sociais e culturais. Quanto às experiências internas, as necessidades são as condições internas que são necessárias para a sobrevivência, o desenvolvimento e o bem-estar: os aspectos fisiológicos, psicológicos e sociais; a cognição corresponde aos padrões pessoais de pensamento: os objetivos e sistemas de objetivos, as crenças e as expectativas e estruturas de expectativas; e as emoções atuam como organizadoras dos sentimentos, da fisiologia, tendo uma finalidade, função e expressão num padrão coerente e adaptativo de resposta. Delimitação das variáveis motivacionais (Ford, 1992) Ford aborda a motivação numa perspectiva mais cognitiva, pelo que as fontes de motivação são sempre internas. Não são traços estáveis, mas processos pessoais (internos) que se organizam na interação com o contexto, revelando a importância da interação sujeito-situação. São orientadas para o futuro, constituindo a motivação um processo antecipatório e preparatório pela antecipação de acontecimentos futuros desejados ou temidos. As variáveis motivacionais são avaliativas mas não instrumentais, pela escolha da direção, manutenção, cessação da situação atual mas não dos meios. As componentes do sistema motivacional (Ford, 1992) O sistema motivacional é constituído pelos processos cognitivos diretivos, ou seja, os objetivos pessoais, pelas crenças de agência pessoal, pela capacidade e autoeficácia, pelo contexto e responsividade, e ainda pelos processos de ativação emocional, como as emoções e os estados afetivos não emocionais, entre os quais a dor e a fadiga. 2 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra 1. Esquema ilustrativo da motivação e funcionamento humano (Ford & Smith, 2007) O comportamento é igual ao produto da motivação, das competências e da responsividade do meio. Caso algum dos elementos falte, não há comportamento. Desta forma, concluímos que a motivação tem um papel importante na efectivação do comportamento (Ford, 1992). As primeiras teorias procuraram explicar todo o comportamento com base na existência de motivação. Atualmente, os autores das mini-teorias consideram que a motivação explica apenas uma parte (25-30%) da efetividade comportamental. Expressões da motivação (Reeves, 2009) A motivação pode ser expressa através de comportamentos, do envolvimento, de indicadores fisiológicos e do auto-relato. Em termos quantitativos e qualitativos, a motivação é expressa pelos antecedentes conhecidos e pelo comportamento manifesto, pelo que neste último se encontra o foco da atenção, o esforço, a latência, a persistência, a escolha, a probabilidade de resposta, as expressões faciais e as expressões corporais. O envolvimento (Reeve, 2009) interrelaciona-se com quatro aspetos: a componente comportamental, que engloba a atenção, o esforço e a persistência, a componente emocional, pelas emoções positivas e pela falta de emoções negativas, tal como a frustração, a componente cognitiva, onde consta a utilização de estratégias de aprendizagem e de auto-regulação, e a componente expressiva, pelas sugestões, iniciativas e questões. Quanto aos indicadores fisiológicos, a motivação pode ser medida através da atividade cerebral, hormonal, cardiovascular, ocular, eletrodinâmica da pele e músculo-esquelética. 3 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Os instrumentos de avaliação psicológica utilizados, apesar de menos fiáveis, são as entrevistas, os questionários e os métodos de indução motivacional (a medida de carácter mais projetivos, como a realizada através das pranchas T.A.T., o teste de perceção temática que permite avaliar aspetos/qualidades da motivação (teoria das necessidades sociais). Estas técnicas de auto-relato é desvalorizado por Reeve mas muito populares no estudo das normas psicológicas e sociais. Temas e pressupostos unificadores no estudo da Moti vação (Reeve, 2009) A motivação abarca tendências de aproximação e de evitamento, necessitando de apoios contextuais para florescer. A motivação favorece a adaptação, pelo que os motivos dirigem a atenção e preparam a ação, variando ao longo do tempo e influenciando o curso do comportamento, consistindo num processo dinâmico e na concomitância de vários motivos com diferentes intensidades ao longo do tempo. O estudo da motivação revela por que sujeito deseja o que deseja, requerendo contextos responsivos para florescer. Não há nada mais prático do que uma boa teoria (Kurt Lewin). A motivação é um processo complexo e dinâmico, uma vez que, os tipos de motivos vão interagindo entre si, evoluindo e mudando de intensidade. As teorias motivacionais estabelecem relações entre variáveis e geram hipóteses testáveis, funcionam como grelhas conceptuais para a interpretação do comportamento e como guias para a resolução de problemas. Existem diferentes tipos de motivação: Intrínseca/extrínseca (Ryan & Deci, 2000) Aprendizagem/resultado (Ames & Archer, 1988) Aproximação/evitamento (Elliot, 1997) Uso das Teorias para Resolver Problemas Práticos (Reeve, 2009) 1) Problema prático - Ex. Abandono escolar 2) A partir do meu conhecimento sobre motivação e emoção Teorias Evidência empírica Experiência prática 4 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra 3) Solução ou intervenção proposta Trará benefícios? Não será prejudicial? A motivação é um factor importante no desenvolvimento da resiliência comportamental, isto é, no desenvolvimento de competências (sociais, educacionais, relacionais, etc.) e de comportamentos de “coping” (Alderman, 2004), podendo atuar como um fator de promoção, de forma compensatória, ou como um fator de protecção, como atenuante dos fatores de risco. Grelha compreensiva do estudo da motivação (Reeve, 2009) Antecedente conhecido Comportamento manifesto Aspetos interrelacionados do envolvimento (Reeve, 2009) Indicadores Fisiológicos (estudo da emoção) Instrumentos da avaliação psicológica Nem sempre os podemos usar porque podem não ser os mais corretos Foco de atenção Escolha Esforço Probabilidade de resposta Latência (Baixa Motivação) Expressões faciais Persistência Expressões corporais Comportamental Cognitivo Emocional Expressivo Atividade cerebral Atividade ocular Atividade hormonal Atividade eletrodinâmica da pele Atividade cardiovascular Atividade músculo-esquelética Entrevistas Métodos de indução motivacional Questionários Perspectiva histórica do estudo da motivação humana – das origens filosóficas à atualidade. Uma visão histórica da Motivação ajuda-nos a compreender como o conceito de motivação se tornou proeminente, como se foi modificando e desenvolvendo, como as ideias foram sendo desafiadas e substituídas e como o campo tem vindo a reemergir e a ser trabalhado em vários domínios da Psicologia aplicada. Principais problemas surgidos no estudo da motivação (Ford, 1992) Análise epistemológica - Ênfase em modelos mecanicistas e no estudo dos mecanismos biológicos do comportamento; Confusões terminológicas e conceptuais - Usam-se os mesmos termos para descrever fenómenos distintos; 5 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Ausência de delimitação do campo da motivação - Nos primeiros anos do estudo da motivação, tudo era explicado pela motivação. No entanto, para Reeve isto é visto como um ponto forte. Estreiteza conceptual (actualidade). Origens filosóficas de conceitos motivacionais Conceção tripartida da alma/psique Esta concepção tem os seus primórdios com Platão e Aristóteles, pelo que Freud é um dos seus percursores na atualidade. Esta é constituída pelos aspetos básicos, como os apetites e os desejos do corpo, pelos aspetos competitivos, as normas sociais, e pelas componentes deliberativas, como os processos nobres e os valores. Conceção dualista da alma/psique A concepção dualista da alma deve-se aos estudos de Descartes, que estabelece uma dicotomia motivacional entre os aspectos passivos e os aspectos ativos da motivação. As paixões do corpo, que são irracionais, impulsivas e biológicas, dizem respeito aos aspectos passivos, nos quais o corpo atua como agente motivacional passivo e mecânico que responde através dos sentidos e dos reflexos, e a racionalidade da mente inteligente e espiritual que funciona de acordo com os aspetos ativos, na qual a vontade atua como agente motivacional ativo e imaterial que pretende controlar e governar os desejos corporais. O Primeiro sistema motivacional compreensivo: a vontade O sistema motivacional explicado pela vontade foi muito breve e sem grande influência no estudo da motivação. Atualmente, a Psicologia interessa-se mais pelas razões pelas quais eu passo da intenção à acção, isto é, a compreensão da motivação associada à compreensão da vontade. No entanto permanecem os atos decorrentes da vontade, isto é, o que surge na nossa mente que nos leva a agir ou não agir, ao esforço voluntário de criar impulsos para agir ou a resistir através da autodisciplina. Este sistema motivacional coloca algumas questões: Qual a origem da vontade? Capacidades inatas, sensações, associações, experiências? De que forma se reveste de intenções, objetivos? Como se opera a passagem da intenção à ação? Há uma incapacidade de caracterizar a sua natureza e as leis através das quais opera, não se conseguindo explicar de onde surge a vontade. A tradição do dualismo cartesiano influenciou este momento de cientificação da Psicologia com a fundação do primeiro laboratório de Psicologia Experimental por Wundt, em Leipzig, através da sua vertente intelectualista. 6 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra O segundo sistema motivacional compreensivo: o instinto Sofre influências dos estudos de Darwin, dando primazia do conceito de adaptação através do determinismo biológico/geneticista – o mecanicismo - e repudiando conceitos motivacionais mentalistas em detrimento de conceitos genéticos e mecanicistas. Há uma ausência de distinção entre processos motivacionais animais e humanos, mas diferentes espécies têm diferentes reportórios comportamentais que fazem parte da sua herança genética e que são desencadeados por condições do meio. A principal razão para a ocorrência destes reportórios comportamentais é a de que a sobrevivência do organismo (a sua adaptação às condições do meio) depende da sua realização. Os instintos são responsáveis pela ativação e direção do comportamento. São sequências de movimentos ou de atos motores inatos executados de forma automática a partir da ação de um estímulo desencadeador (Abreu, 2002). W. James e W. McDougall elaboraram listas de instintos que explicavam todos os tipos de comportamentos, simples e complexos. Para James, os seres humanos têm mais instintos que os animais e estes expressam-se em padrões comportamentais mais flexíveis. Surge o problema da Lógica Circular, pois as variáveis causais definidas independentemente do comportamento que pretendem explicar são, na verdade, inseparáveis do comportamento . A causa explica o efeito e este justifica a causa . “Se vai com os seus semelhantes é o ‘instinto gregário’ que o ativa; se vai sozinho é o ‘instinto antissocial’, se morde a unha é o ‘instinto de morder a unha’. Assim, tudo se explica com uma facilidade mágica, a magia da palavra” (Holt, 1931). O único critério utilizado para comprovar a existência de instintos é o julgamento dos investigadores acerca da sua existência (listagens de milhares de instintos). O Terceiro sistema motivacional compreensivo: o impulso (“drive”) O comportamento está ao serviço da satisfação das necessidades fisiológicas – a adaptação – que permite o funcionamento homeostático. São sistemas motivacionais organizados em torno da noção de redução da tensão, que permitem respostas mais eficazes na explicação da passagem do repouso à acção. A teoria pulsional de S. Freud O sistema nervoso (ou aparelho psíquico) tem uma tendência inata para manter um nível constante e baixo de energia, em que o seu estado ideal é o repouso ou inércia (= prazer). O aparelho psíquico é uma estrutura mental ou organização a vida psíquica, onde o sistema de forças mantém um nível constante e baixo de energia, que corresponde a um sistema homeostático fechado. 7 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Qualquer estimulação provoca no aparelho psíquico um aumento da tensão que se traduz em afetos de desprazer e de ódio em relação à fonte de estimulação. Assim, a atitude originária (a tendência primária) do organismo perante o mundo externo e os seus objetos de investimento é a de recusa, fuga, evitamento ou ódio. Desta forma estamos perante a lei primária de funcionamento do aparelho psíquico, que indica o afastamento em relação à fonte de estimulação. No entanto, os seres humanos experienciam estados de aumento da estimulação originados pelas forças pulsionais de natureza biológica (vida, fome, sede, sexo e morte – agressão), das quais não se pode fugir e que dirigem a energia psíquica para a satisfação das necessidades orgânicas. As pulsões têm quatro características principais: Origem orgânica Força ou energia causadora de estimulação interna e consequente aumento da tensão, desconforto psicológico, expressão psíquica de desejo. Meta ou finalidade – satisfação resultante da descarga de tensão e redução da estimulação. Objetos de investimento energético não estabelecidos geneticamente – indeterminação objetal. As pulsões funcionam, assim, como os determinantes da iniciação, direção e manutenção do comportamento. Origem da Pulsão •Estado de carência /deficiência orgânica •Exempo da queda do nível de açúcar sensação de fome Força da pulsão •A intensidade da deficiência orgânica emerge na consciência como um desconforto psicológico ansiedade Objeto da pulsão •Redução da ansiedade/tens ão através de um objeto consumatório exempo da comida Finalidade da pulsão •Satisfação orgânica através da redução da tensão/ansiedad e (temporária) 2. Síntese da Teoria Pulsional de Freud (Reeve, 2009) No sentido de descarregar a energia acumulada pelas forças pulsionais, pelo perigo que representam para a saúde e pela fonte de desprazer, o aparelho psíquico efetua uma viragem para o mundo exterior, investindo 8 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra em objetos através de respostas de descarga motora susceptíveis de restabelecerem o nível anterior de ausência de tensão, i.e., obter prazer. Esta diz respeito à lei Secundária de funcionamento do aparelho psíquico, que indicia uma aproximação do objeto consumatório. Iniciação Direção Manutenção Comportamento 3. Lei secundária do funcionamento do aparelho psíquico Modelos complementares da Teoria Pulsional de Freud (Weiner, 1989) Modelo Primário da Ação: Inicialmente valorizado por Freud, aplica a lei secundária – a energia acumulada deve ser libertada através de respostas motoras. O ego intervém entre as pulsões e o comportamento, impondo adiamentos e/ou alterando a sua direcção. Modelo primário de pensamento: Todos os processos de pensamento são derivados das necessidades básicas – libidinais e agressivas – que visam a satisfação imediata. É necessária a satisfação imediata com ausência de processos intermediários; A energia pulsional acumulada deverá ser maior que a energia pulsional libertada. Modelo secundário de ação: O ego intervém entre as pulsões e o comportamento – adiamentos e/ou alteração da sua direção. Modelo secundário de pensamento: Desenvolvimento das funções cognitivas centradas na antecipação e permitindo o planeamento (o objeto de satisfação está ausente e há adiamento). Todos os processos cognitivos superiores estão ao serviço do funcionamento das necessidades primárias, da manutenção do repouso (há um afastamento da fonte de estimulação). Contudo, … Só nos modelos secundários é que o ego intervém entre a ativação da pulsão e a expressão comportamental (impondo adiamentos); Nos modelos de ação há um enfoque no comportamento “aberto”, enquanto os modelos de pensamento se centram nos processos cognitivos dirigidos para o alcance dos objetivos. 9 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra O conflito, numa leitura mecanicista, resulta da oposição entre a tendência à descarga direta de energia acumulada e as forças geridas pelo ego que se lhes opõem, os adiamentos, mas que, indiretamente, se encontram ao seu serviço. A conceção psicanalítica de Freud é criticada por Nuttin (1978), que afirma que há uma despersonalização da motivação, em que todas as forças dinâmicas do comportamento são concebidas como quantidades interpessoais de energia. Imposições do Id Ego Limitações do superego Obrigações do meio 4. O ego como mediador do comportamento A teoria do impulso de C. Hull O impacto da motivação no comportamento é explicado através das noções de necessidade orgânica /tissued need (inatas) e de impulso/drive, que explicam porque é que o mesmo organismo se comporta de maneira diferente em diferentes ocasiões, perante os mesmos estímulos. O impulso produz-se devido a uma alteração das necessidades orgânicas (fome, sede, sexo, sono,) que são ativadas quando o organismo se encontra num estado de privação ou de carência (contrações do estômago, secura da boca) produzindo um aumento da tensão, levando a um impulso com uma base puramente fisiológica. 10 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Alteração das necesidades orgânicas/fisiológicas •Estado de privação •Aumento da tensão Impulso Psicológico Iniciação do comportamento O impulso inicia ou ativa o comportamento, mas não determina a sua direção. A direção do comportamento é fruto da aprendizagem que ocorre como consequência do reforço. A redução do impulso (comer, beber, dormir) são respostas reforçadas que produzem respostas consumatórias, ou seja, levando à aprendizagem de novos hábitos. As respostas que não contribuem para a diminuição do impulso não são reforçadas, não ocasionando novas aprendizagens. No entanto, esta teoria do impulso nega a ideia de expectativa. As respostas consumatórias, i.e., as respostas reforçadas, restabelecem o equilíbrio homeostático do organismo este cessa a sua atividade. Tal como a conceção pulsional de S. Freud, também esta perspetiva considera a relação com o mundo como secundária, como forma de reestabelecer o equilíbrio homeostático. As necessidades orgânicas (fome, sede, sono, sexo, fuga de tudo o que é prejudicial ou nocivo) são necessidades primárias inatas (não aprendidas). As necessidades cognitivas, sociais, etc., são necessidades secundárias ou derivadas, adquiridas ou aprendidas a partir da satisfação das necessidades primárias, por um processo de socialização ou de condicionamento (vinculação afetiva à figura materna). Há uma posterior reformulação da teoria, na qual o valor de incentivo de um objecto, i.e., a estimulação externa, também contribui para iniciar ou ativar o comportamento. 11 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Estado de saciação Aumento progressivo da carência fisiológica Impulso é reduzido Situação prolongada de privação produz uma necessidade fisiológica Ocorrência do comportament o consumatório Comportamentos dirigidos para a gratificação do impulso Necessidade intensifica-se e dá origem ao impulso psicológico Aspetos comuns entre as teorias de Freud e de Hull (Weiner, 1989) Determinismo – Explica todo o comportamento. Complementaridade entre as leis fisiológicas e psicológicas – valorização das leis biológicas e subvalorização das psicológicas. Redução da tensão em função de um objetivo básico do comportamento – adaptações. Busca do significado funcional da ação (Darwin) – adaptação. Aspetos diferenciadores entre as teorias de Freud e de Hull (Weiner, 1989) Metodologia Freud Método clínico Consideração do pensamento como gerador de ação As pulsões são responsáveis pela Mobilização e direção do comportamento; Hull Método experimental Negação da influência da cognição sobre a ação – as reações orgânicas/biofisiológicas Estão na origem da acção O impulso mobiliza mas não é responsável pela direção do comportamento 12 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Limitações das conceções mecanicistas e homeostáticas da motivação (Abreu, 2002; Ford, 1992); Nuttin, 1978; Weiner, 198 9) Metáfora do “homem-máquina” (Weiner) – o organismo passivo e reativo que se pode “puxar” (através dos incentivos) e “empurrar” (através das necessidades). Nem todo o tipo de motivação assenta no modelo de redução da tensão, mesmo ao nível das próprias necessidades fisiológicas (Exemplo da experiências de Harlow sobre o comportamento de manipulação dos macacos, da procura de novas sensações que implicam uma persistência da tensão, e dos distúrbios alimentares.). Assim como nem sempre as necessidades biofisiológicas se podem conceber como acumulações de energia a reduzir por uma descarga motora (exemplo da experiência de Kohn e de Bellows). Existe uma necessidade de contacto com os objetos na ausência de qualquer busca de satisfação de outras necessidades (Exemplo da experiência de Hebb sobre a necessidade de contacto com os objetos na ausência de qualquer busca de satisfação de outras necessidades) e importância das fontes externas de motivação, pois o contacto com o mundo não é secundário (Ex: Publicidade). Deve-se atender ainda ao carácter primário das necessidades psicológicas (cognitivas, sociais, afetivas, etc.) – Casos das “crianças selvagens”, observações de Spitz e de Bowlby, experiências de Harlow sobre a “natureza do amor”. As Grandes teorias e o declínio dos sistemas motivacionais compreensivos Procuraram explicar todo o espectro da ação motivada – Por que comemos, bebemos, trabalhamos, jogamos, competimos, receamos certas coisas, lemos, apaixonamo-nos,... Vontade: Os antigos filósofos estudaram a motivação segundo dois temas, o da vontade e o dos desejos do corpo. No entanto contribuiu muito pouco para a explicação da motivação. Foram mais as questões que colocou do que aquelas a que respondeu. Instinto: Análise fisiológica da motivação, centrada na mecânica. O apelo da doutrina instintiva reside na habilidade para explicar comportamento não aprendido com energia e direção (i.e., impulsos biológicos). Contribuiu muito pouco para a explicação da motivação e tornou evidente que rotular não é a mesma coisa que explicar. Drive/Impulso: O comportamento motivado é analisado em função das necessidades do organismo segundo uma homeostasia biológica. Consistiu numa abordagem limitada que levou à contestação dos sistemas motivacionais compreensivos, embora tivessem entretanto surgido alguns princípios motivacionais bemsucedidos, como o caso do incentivo e da ativação. 13 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Necessidade (Reeve, 2009) Condição da pessoa essencial e necessária para a sobrevivência, o crescimento, e o bem-estar. Quando as necessidades são nutridas e satisfeitas, o bem-estar é mantido e aumentado, mas quando a sua satisfação é negligenciada ou frustrada, há uma perturbação do bem-estar físico e psicológico. Os estados motivacionais possibilitam a realização de ações antes que haja dano para o bem-estar físico e psicológico do organismo. Fisiológicas Psicológicas •Sede •Fome •Sexo •Inerentes ao funcionamento dos sistemas biológicos •Autonomia •Competência •Relacionamento •Inscritas nas finalidades do funcionamento humano saudável Sociais •Realização •Afiliação •Intimidade •Poder •Internalizadas ou aprendidas a partir das histórias de socialização Necessidades Fisiológicas (Reeve, 2009) O padrão cíclico de aumento e diminuição do impulso psicológico envolve sete processos básicos: Necessidade (fisiológica) – condição biológica deficiente Impulso (psicológico) – variável interveniente entre os estados de privação e as ações restaurativas Homeostasia - tendência para a manutenção de um estado de equilíbrio interno Feedback negativo - inibição do comportamento consumatório derivado do impulso, assinalando um estado e saciedade Múltiplos “inputs - (impulso gerado a partir de diferentes fontes e motivando vários tipos de comportamentos consumatórios) Mecanismos intra-organísmicos – mecanismos regulatórios internos (estruturas cerebrais, sistema endócrino, órgãos) que ativam, mantêm e cessam a necessidade fisiológica Mecanismos extra-organísmicos - influências contextuais que ativam, mantêm e cessam o impulso 14 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra São inerentes ao funcionamento dos sistemas biológicos. Sede •Estado motivacional que prepara a pessoa para realizar um conjnto de comportamentos dirigidos para a remedização do déficit de água. Fome •A fome e a alimentação envolvem um complexo sistema regulatório, com mecanismos de regulação a curto prazo (teoria glioestática - níveis de açúcar no sangue) e a longo prazo (alterações do tecido adiposo) Sexo •A motivação sexual aumenta e decresce em resposta a um conunto de factores - hormonais, indicadores externos (métrica facial), scripts cognitivos e processos evolucionários. Razões do fracasso na auto-regulação das necessidades fisiológicas: As pessoas subestimam a força das necessidades fisiológicas quando não as estão a experienciar. Ausência de critérios ou a utilização de critérios inconsistentes, conflituosos ou inapropriados. Fracasso na monitorização do comportamento por motivos de distração, preocupação, exaustão emocional ou intoxicação. Pós-teorias do Impulso/Drive Primeiro, o estudo da motivação rejeitou uma visão passiva da natureza humana, adoptando assim, uma visão ativa do ser humano. Segundo, a motivação passou a ser analisada sob os pontos de vista cognitivo e humanístico. Terceiro, houve uma focalização em problemas socialmente relevantes. O desenvolvimento das mini -teorias Os mais importantes princípios motivacionais após as teorias do impulso consistiam nos conceitos de incentivo e de activação. O incentivo consiste na aproximação aos incentivos positivos e afastamento dos incentivos negativos. A motivação principal consiste em aumentar e manter o contacto com estímulos atrativos e não em reduzir a tensão produzida pelas necessidades fisiológicas. Através da aprendizagem os sujeitos formam expectativas relativamente aos objetos do meio que são gratificantes ou não, que corresponde à dinâmica do comportamento. 15 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Já a activação necessita das características do meio, que influenciam o nível de ativação do cérebro através da novidade e da relação curvilínear entre o nível de ativação e comportamento, como o aborrecimento, o interesse, o medo, etc. As mini-teorias procuram explicar os fenómenos motivacionais específicos (ex.: fluxo); as circunstâncias que afetam a motivação (ex.: uma experiência de fracasso); os grupos de pessoas (ex.: trabalhadores, fumadores); e questões teóricas particulares (ex.: qual a relação entre cognição e emoção). Anos 60/70: Teoria da motivação de realização (Atkinson, 1964) Teoria atribucional da motivação (Weiner, 1972) Teoria da expectativa x valor (Vroom, 1964) Teoria do fluxo (Csikszentmihalyi, 1975) Teoria da motivação intrínseca (Deci, 1975) Teoria do estabelecimento de objetivos (Locke, 1968) Teoria do desânimo aprendido (Seligman, 1975) Teoria da autoeficácia (Bandura, 1977) A natureza ativa dos sujeitos: Os organismos são ativos e orientados para o crescimento (criatividade, competência, eus possíveis, auto-actualização, autodeterminação). A revolução cognitiva presta ênfase nos processos mentais internos (planos, objetivos, estratégias, crenças, expectativas, atribuições). No seguimento da obra “Theories of motivation: From mechanisms to cognition” (Weiner, 1972), o foco de estudo prende-se nos seres humanos, em complemento à corrente humanística (Maslow). A importância da investigação aplicada e socialmente relevante Resolver os problemas motivacionais que as pessoas enfrentam nas suas vidas (escola, saúde, trabalho, relações interpessoais, etc.) tem relações com diferentes áreas da Psicologia (fome como fonte de impulso 16 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra vs. fatores motivacionais subjacentes aos distúrbios alimentares ou ao bem-estar físico). Responde de forma específica às questões sobre a causa e variação de intensidade do comportamento. Desenvolvi mento Social Educação Organizaci onal/trabal ho Cognitiva Motivação Personalid ade Psicofisiolo gia Clínica Saúde Aconselha mento 5: Relações do estudo da motivação com áreas de especialização da Psicologia (Reeve, 2004) As abordagens contemporâneas da motivação Os sujeitos são organismos ativos, com capacidade de regular a sua interação com os contextos, com tendência para o desenvolvimento, crescimento, funcionamento integrado e organizado e com um nível de complexidade crescente nos planos intra e inter-individual. Esta tendência para o desenvolvimento é idealmente regulada pelo núcleo funcional do eu (“self”), embora os contextos possam facilitar ou inibir esta dinâmica de desenvolvimento. Surgem duas abordagens, as predominantemente organísmicas, que se focam nas necessidades comuns a todos os sujeitos, em todas as culturas, cujo grau de “satisfação” permite um aumento ou redução do grau de funcionamento optimal; e as predominantemente sociocognitivas, que salientam os processos cognitivomotivacionais que explicam a organização do comportamento em função das suas metas ou finalidades. Teoria hierárquica de organização das necessidades humanas de A. Maslow A mudança do foco da motivação percebida como resultando da ação de forças mecânicas impessoais e incontroláveis (internas e externas), atuando segundo o primado da redução da tensão, para um paradigma mais personalista que pressupõe conceitos de intencionalidade (autoatualização) e de potencialidade (para a 17 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra realização de diferentes ações) na relação com o mundo – as necessidades (ou grupos de necessidades) da totalidade da pessoa e não de um organismo. As necessidades estão organizadas de forma hierárquica: As necessidades de ordem superior (de crescimento) só podem ser alcançadas depois de as necessidades de ordem inferior terem sido satisfeitas. Manifestam-se mais tarde, são menos necessárias para a sobrevivência e a sua satisfação envolve melhores condições ambientais e uma maior complexidade comportamental. As necessidades dos níveis superiores são “B-needs”: organizam uma motivação de crescimento e assentam no mecanismo de persistência da tensão. As necessidades inferiores determinam o comportamento até alcançarem a satisfação. Uma vez satisfeitas, são as necessidades dos níveis superiores que permitem compreender o funcionamento comportamental. As necessidades dos níveis inferiores são “D-needs”: a sua satisfação produz redução da tensão e retorna o organismo a um estado de equilíbrio. Os dois tipos de motivação (deficitária e reactiva vs. de crescimento e proactiva) representam duas formas de adaptação ao mundo, sendo que o estudo do funcionamento homeostático da motivação tem sido privilegiado na literatura psicológica por diversas ordens de razões quer de natureza conceptual (atribuição de conotações mecanicistas a conceitos teleológicos e de índole cognitivista), quer de natureza metodológica (ex.: precisão nas medidas). 18 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Autoactualização Estima Pertença Segurança Biológicas Necessidades de realização potencial Necessidades de confiança, sentimentos de valor pessoal e competência, autoestima, e respeito pelos outros. Necessidades de pertença, afiliação, amar e ser amado. Necessidades de segurança, conforto, tranquilidade. Necessidades de alimento, água, oxigénio, descanso, expressão sexual, descarga das tensões. B-Needs A sua satisfação produz redução da tensão e retoma o organismo a um estado de equilíbrio. D-Needs Organizam uma motivação de crescimento e assentam no mecanismo de persistência da tensão. Abordagem organísmica do estudo da motivação humana e reflexão em torno das noções de motivação intrínseca e extrínseca Todos os organismos estão equipados de forma a iniciarem relações e a efetuarem trocas com o meio, tendo em consideração que possuem competências e a motivação para exercerem essas competências. Os organismos são flexíveis devendo ajustar-se e acomodar-se às mudanças contextuais. Estas abordagens focam-se na forma como os organismos iniciam interações com o meio e no modo como se adaptam, mudam e crescem em função dessas transações com o meio. Cada uma das formas principais de funcionamento da unidade funcional organismo-mundo possui um certo dinamismo intrínseco, que está na base teórica das conceções organísmicas da Motivação (Nuttin, Deci & Ryan). A concepção organísmica da motivação identifica várias necessidades psicológicas específicas: Necessidade de ser a causa dos acontecimentos (“personal causation”, De Charms) Necessidade de produzir efeitos (“effectance motivation”, White e Harter) Necessidade de se confrontar com desafios (“optimal experience theory”, Csikszentmihalyi) Necessidade de perceber (Woodworth) Necessidade de valor pessoal (“self-worth”, Covington) Curiosidade (Berlyne) Prazer da causalidade (Nuttin) 19 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra A “nutrição” das necessidades básicas é fundamental para o desenvolvimento e o bem-estar, embora os factores contextuais, culturais e desenvolvimentais que influenciam os seus modos de expressão e os seus meios de satisfação possam variar amplamente; a disponibilização de condições (por parte dos contextos sociais) que permitem a nutrição destas necessidades é fundamental (alienação vs. envolvimento). Surge a discussão sobre a teoria da autodeterminação enquanto modelo contemporâneo integrador das principais características da abordagem organísmica do estudo da motivação, pois esta é uma metateoria organísmica que engloba cinco mini-teorias: Teoria da avaliação cognitiva Teoria da integração organísmica Teoria das orientações de causalidade Teoria das necessidades psicológicas básicas Teoria do conteúdo dos objetivos Dinâmica da Relação Eu-Mundo no Estudo da Satisfação (Reeve, 2005) Sujeito Mundo A relação sujeito-mundo forma uma unidade funcional com dois pólos inseparáveis. O indivíduo tem necessidade de interagir eficazmente com o meio e de o utilizar como forma de expressão das suas necessidades psicológicas e dos seus interesses e valores. O meio por vezes é capaz de nutrir os recursos internos do indivíduo, mas frequentemente negligencia ou impede essa nutrição (passividade e alienação). Os motivos são esboços de relações sujeito-situação requeridos para o funcionamento e desenvolvimento das potencialidades do organismo. 20 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra INDIVÍDUO CONTEXTO Necessidades psicológicas Meios de “satisfação” Relações de influência sociocultural Interesses e valores Autonomia Competência Relacionamento Actividades interessantes Desafios Feedback Escolhas Incentivos Recompensas Prescrições Interditos Aspirações bem-estar Prioridades Objectivos Climas interpessoais Interesses Preferências Valores A nutrição das necessidades psicológicas em contextos de intervenção A nutrição das necessidades básicas é fundamental para o desenvolvimento e o bem-estar, embora os factores contextuais, culturais e desenvolvimentais que influenciam os seus modos de expressão e os seus meios de satisfação possam variar amplamente. A disponibilização de condições (por parte dos contextos sociais) que permitem a nutrição destas necessidades é fundamental para que os sujeitos com problemas ou dificuldades desenvolvimentais e comportamentais consigam sustentar as mudanças esperadas (alienação vs. envolvimento). Autonomia Importante na regulação intrínseca do comportamento e no exercício da livre vontade, da agência, da escolha, sem muita regulação ou controlo externo, pelo que é a necessidade mais importante das teorias organísmicas e implica a minimização do controlo externo. Autonomia percebida: • Locus de causalidade interna – Não sou peão! Eu…..Outros • Volição – ausência de constrangimentos, livre vontade Quero…..Tenho que • Percepção de escolha nas acções pessoais Opções…..Ausência de opções Contexto que nutre a necessidade de autonomia (vs. contexto controlador) Aspetos que funcionam como um contínuo bipolar 21 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Contextos Promotores da Autonomia ou Contextos Controladores: A necessidade de autonomia é promovida pelo contexto. Existem estilos motivacionais exercidos em certos contextos que apoiam mais ou menos a necessidade de autonomia • Meios • Acontecimentos externos • Contextos sociais Estilos motivacionais • Relações interpessoais Estilos Motivacionais Estratégias de Apoio à Autonomia Nutrição dos recursos internos - identificação e promoção da expressão de interesses, preferências, aspirações pessoais e competências; Utilização de linguagem informativa e não impositiva – “Já reparei que tem tido mais dificuldade em…porquê?” vs “Tem que se esforçar mais!”; Comunicação do valor, sentido, utilidade, importância do envolvimento em determinadas acções, sobretudo na realização de tarefas desinteressantes, embora relevantes – “É importante…porque” vs “Faça porque é mesmo assim”; Reconhecimento e aceitação do afecto negativo - reacções válidas que podem ser utilizadas para resolver o problema vs negação da reacção para obtenção de obediência; Utilização de questões abertas e não de questões fechadas no aconselhamento e na psicoterapia. Existem escolhas que não promovem a autonomia, as do tipo “esta ou aquela” alternativa – escolha entre opções fornecidas pelos outros (não há promoção da autonomia), permite uma verdadeira escolha entre acções – é dada a oportunidade de escolha significativa que reflecte os valores e os interesses pessoais, promovendo condições que satisfazem a necessidade de autonomia e aumentando o esforço, criatividade, preferência pelo desafio e desempenho. 22 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Estratégias motivacionais (Reeve, 2005) APOIO DA AUTONOMIA Ouvir atentamente Permitir que os outros falem, deem sugestões Providenciar um “rationale” Encorajar o esforço Elogiar o progresso, aperfeiçoamento Perguntar aos outros o que querem fazer Responder efectivamente às perguntas Reconhecer que há perspectivas diferentes CONTROLO Reter materiais de aprendizagem Mostrar as respostas correctas Dizer as respostas correctas Dar directivas, ordens Afirmações do tipo “deves”, “tens que”… Perguntas controladoras Colocar continuamente exigências … Benefícios do Apoio à Autonomia (Reeve, 2009) Motivação - motivação intrínseca, percepção de controlo, curiosidade, etc. Envolvimento - comportamental, emoções positivas, decréscimo das emoções negativas, persistência, etc. Desenvolvimento - percepção do valor pessoal, criatividade, preferência por tarefas desafiantes, etc. Aprendizagem - utilização de estratégias profundas vs superfície, processamento activo da informação, utilização de estratégias de auto-regulação, etc. Realização - notas, nível de desempenho nas tarefas, etc. Bem-estar psicológico - vitalidade, satisfação, etc. Competência (Mihaly Csikszentmihalyi) Experiência de percepções de eficácia pessoal e de mestria na realização de actividades e no estabelecimento de objectivos com grau óptimo de desafio. Competência percebida: Grau óptimo de desafio – equilíbrio entre competências e dificuldade da tarefa; Grau óptimo de estrutura – comunicação não ambígua acerca das expectativas do meio e dos resultados desejados; Feedback positivo – que confirme que o nível de competência é > ao desafio da tarefa; O grau óptimo de desafio permite as experiências de Flow (Fluxo), que corresponde à nutrição da necessidade de competência. É o estado psicológico de grande prazer que se refere a um estado de 23 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra compromisso, de concentração e envolvimento total numa atividade desafiante, pelo que o fluxo é mais comum em contextos de trabalho do que de lazer. Não está associada ao alcance de um resultado final, de uma meta ou recompensa, mas ao processo global de realização da tarefa (motivação puramente intrínseca) e tem propriedades “aditivas” (procura constante de fluxo). Nem sempre está associada a atividades positivas, mas está sempre associado a comportamentos ativos que requerem muita “energia de ativação”. A constante regulação do nível de dificuldade produz um grau óptimo de desafio. Características da experiência óptima: Existência de um equilíbrio ente o grau de competência percebido e o grau de dificuldade da tarefa., por exemplo, o aborrecimento requer maior competência e menor dificuldade, enquanto a ansiedade tem uma dificuldade maior do que a competência. Realização da atividade livremente aceite. Fusão da acção e da consciência Existência de objectivos claros e desafiadores (comportamento ativo). Existência feedback imediato que confirma que a competência é maior do que o desafio, e com intensa concentração na tarefa. Percepção de auto-controlo e de controlo do meio Perca de consciência de si e sentimento de transcendência (fusão pessoa-tarefa) Transformação do tempo (viver no imediato, no momento). Experiência agradável, que permite intenso prazer (emoções muito mais fortes). 24 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra 6: Marujo et al., 2001 Como promover Experiências de Fluxo? a) Manipular a Dificuldade da tarefa: • Preocupação ou ansiedade – diminuir a dificuldade da tarefa (níveis inferiores nos jogos, solicitar ajuda, alterar prazos e as regras do jogo….); Aborrecimento ou apatia – aumentar a dificuldade da tarefa (níveis superiores nos jogos, impor prazos mais curtos, realizar sozinho/a uma tarefa, utilizar a fantasia….); b) Manipular as Competências necessárias para a realização da tarefa: • Preocupação ou ansiedade – treinar para adquirir as competências necessárias; • Aborrecimento ou apatia – impor limitações à utilização das capacidades pessoais (jogar com a mão esquerda, fazer de olhos fechados, não estudar…). Estratégias de apoio à Competência: Feedback positivo – aumenta a percepção de competência; 4 fontes: tarefa, comparação da realização actual com realizações anteriores (feedback intrapessoal), comparação social (feedback interpessoal), avaliação de outros; Tarefas com um grau óptimo de desafio – o feedback positivo produz + prazer e satisfação nestas condições (ex.: experiência de S. Harter). Relacionamento Corresponde à necessidade de estabelecer relações interpessoais significativas em contextos específicos, percepção de pertença e de apoio na realização de actividades e no estabelecimento de objectivo e com grande importância na regulação extrínseca do comportamento. 25 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Relacionamento percebido: Estabelecimento de ligações e de vínculos afetivos Estabelecimento de relações sociais alargadas Interações emocionalmente positivas Estratégias que satisfazem a Necessidade de Relacionamento Estabelecimento de relações sociais – cuidar, gostar, aceitar, valorizar, intimidade (não a quantidade, mas a qualidade das relações); Estabelecimento de relações de comunidade vs de troca - diferentes regras implícitas relacionadas com dar e receber “valores” sociais ou, pelo contrário, tangíveis; Internalização – transformação de uma regulação ou valor externo numa regulação ou valor interno (adopção e integração no self de valores ou prescrições externas ou sociais) - contexto social imediato e contexto de desenvolvimento. O modelo motivacional do envolvimento baseado na satisfação das necessidades psicológicas (Reeve, 2009, p. 166) Extensão do comprometimento Nutre a necessidade psicológica de autonomia Suporte da autonomia - Nutre recursos internos motivacionais, depende da informação da linguagem, promove a valorização, reconhece e aceita efeitos negativos como bem. Nutre a necessidade psicológica de competência Estrutura - Comunicação de expectativas e procedimentos claros, proporciona desafios ideais, proporciona desenvolvimento de habilidades, a orientação rica em informações e feedback, tolerância a grandes falhas Nutre a necessidade psicológica de relatividade Expressa afeição e simpatia para os alunos, mostra empatia pelo bem-estar dos alunos, gostar realmente de estar com os alunos, compartilha recursos pessoais, tais como tempo, atenção e energia, ... 26 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação •Apresenta informação clara e neutra sobre o comportamento e consequências. •Ajuda o cliente a desenvolver os objetivos apropriados •Proporciona feedback positivo •Suporta a auto-eficácia Difere de caos ou confusão Entrevista motivacional: •Evita a coerção. •Rola com resistência •Explora opções •Encoraja a mudança de conversa •Deixa o cliente tomar decisões sobre o quê e como mudar. Difere de coerção ou controlo Envolvimento Relacionamento Entrevista motivacional: Suporte de autonomia Autonomia Estrutura - Competência Universidade de Coimbra Entrevista motivacional: •Expressa empatia •Explora as preocupações do cliente •Demonstra compreensão pela posição do cliente •Evita julgamentos ou culpa Difere de rejeição ou negligência 7: Self-determination theory and motivational interviewing, Markland et al. Fábula Judaica – Modificação do Contexto de Motivação Numa pequena cidade do sul dos EUA. onde o KKK tinha muita influência, um alfaiate judeu teve a audácia de abrir uma pequena oficina na rua principal. No sentido de o levar a abandonar aquele lugar o Klan decidiu importuná-lo. Todos os dias um grupo de pessoas se colocava à entrada da sua oficina gritando insistentemente “Judeu! Judeu!”. A situação daquele alfaiate foi ficando cada vez mais desagradável e perigosa, ao ponto de ele passar noites seguidas em branco. Finalmente, em desespero de causa, elaborou um estratagema para inverter a situação. Quando, no dia seguinte, chegou o grupo de pessoas que o vinha importunar gritando, o alfaiate apareceu à porta da oficina e disse-lhes “A partir de hoje cada pessoa que aparecer aqui a gritar ‘Judeu’ recebe da minha parte uma nota de 5 dólares”. Em seguida, levou a mão ao bolso das calças e deu a cada membro do grupo o dinheiro prometido. Encantados com esta oferta, os membros do grupo voltaram no dia seguinte e gritaram a plenos pulmões “Judeu! Judeu!”. O alfaiate apareceu à porta da sua oficina com um ar muito satisfeito. Levou a mão ao bolso das calças e deu a cada um dos membros do grupo uma moeda de 1 dólar, dizendo “ 5 dólares é muito dinheiro e hoje eu não vos posso dar essa quantia – só posso oferecer 1 dólar a cada um”. Os membros do grupo foram-se embora relativamente satisfeitos (“1 dólar ainda é dinheiro!”). Contudo, quando voltaram no dia seguinte para gritarem à porta da oficina, o alfaite só deu uma moeda de 50 cêntimos a cada um. “Porque é que só temos direito a 50 cêntimos?”, protestaram os membros do grupo. “Porque só tenho posses para vos pagar isso”, respondeu o alfaiate. “Mas há dois dias atrás deu-nos uma nota de 5 dólares e ontem deu-nos uma moeda de 1 dólar. Não é justo, senhor!” “É pegar ou largar. Esta quantia é aquela que eu vos vou poder pagar daqui em diante!” 27 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra “E pensa que nos vamos dar ao trabalho de vir aqui gritar “Judeu” por uns míseros 50 cêntimos?”, disseram os membros do grupo. “Então não venham!”, ripostou o alfaiate. E eles não voltaram. Adaptado de Deci, E. (1976, pp. 157-158) 1) Comportamento intrinsecamente motivado • Retirada das contingências • Comportamento mantém-se 2) Comportamento extrinsecamente motivado • Retirada das contingências • Comportamento cessa • As razões intrínsecas desapareceram; • O locus de causalidade tornou-se exclusivamente externo Teoria da Auto-Determinação (SDT) (E. Deci & R. Ryan) Motivação Intrínseca A motivação intrínseca corresponde a um estado de funcionamento tipicamente auto-determinado; constitui a base natural para a aprendizagem e o desenvolvimento, pois assenta na tendência inata para ser a causa dos acontecimentos (explorar), procurar a novidade, buscar desafios, produzir efeitos, utilizar e promover as competências pessoais – é fundamental para o desenvolvimento cognitivo e social; quando intrinsecamente motivadas as pessoas envolvem-se nas atividades por interesse, prazer ou satisfação e experienciam graus elevados de vitalidade (possibilidade de experiências de “fluxo”) – a atividade é um fim em si mesma Características das actividades que facilitam a Activação da Motivação Intrínseca Complexidade, novidade e imprevisibilidade interesse, curiosidade exploração; Feedback claro e imediato (dimensão informativa autonomia); Auto-percepções de competência, autonomia e relacionamento. Principais Vantagens do Comportamento Intrinsecamente Motivado Não desaparece quando não estão presentes os reforços externos; 28 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Não apresenta “custos escondidos dos reforços” - desmotivação subsequente ao reforço externo de uma actividade previamente intrinsecamente motivada e diminuição da motivação intrínseca futura. No entanto, a maioria das actividades que realizamos não são intrinsecamente motivantes. Sobretudo depois da infância, a existência de numerosas regulações sociais, bem como a assunção de novas responsabilidades requerem o envolvimento em actividades instrumentais que permitem o alcance de resultados socialmente valorizados, diferentes da actividade em si mesma – a motivação extrínseca. Motivação Extrínseca (Reeve, 2009) Uma razão contextual (e.g. incentivos ou consequências) para o envolvimento numa ação ou numa atividade. “Faz isto de forma a obter aquilo! Comportamento requerido Incentivo ou consequências extrínsecas “Qual o benefício que isto me pode trazer?” O “custo escondido das recompensas” (Reeve, 2009) As punições funcionam? Suprimem o comportamento indesejado? As punições têm alguns efeitos secundários, tais como a emocionalidde negativa, como chorar, gritar ou ter medo, provoca danos na relação entre o punidor e o punido e ainda pode causar uma modelação negativa do modo como lidar com um comportamento indesejável. Já o uso de recompensas numa actividade tem efeitos primários desejáveis, tais como a promoção do cumprimento de uma disposição, norma, regra, isto é, facilita o envolvimento comportamental na actividade, e o efeito controlador na motivação intrínseca, mas também tem alguns efeitos secundários não desejados, tais como a influência na motivação intrínseca, a interferência na qualidade do processo de aprendizagem e na capacidade de auto-regulação autónoma. Relações entre a motivação intrínseca e extrínseca (Deci et al., 2001) 29 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra As investigações de Lepper et al. com crianças demonstra os efeitos negativos da orientação motivacional extrínseca na satisfação e interesse por atividades, levando a uma diminuição da autonomia e da competência percebidas. Esta investigação foi replicada em adultos, com diferentes tarefas e recompensas. Este efeito negativo é mediado por alguns fatores: 1. Tipo de recompensa: Verbal – mais importante na motivação intrínseca Tangível 2. Carácter não esperado (maior autonomia) e carácter esperado(menor autonomia) Respostas não contingentes às tarefas –não esperados. Respostas contingentes às tarefas – mina mais a motivação intrínseca. Resposta contingente ao nível dos resultados – pode nutrir a necessidade de competência. 3. Impacto no locus percebido de causalidade Dimensão informativa – locus interno motivação intrínseca Dimensão de controlo – locus externo motivação extrínseca 4. Tipo de contexto interpessoal no qual as recompensas foram administradas Competição/controlo Apoio à autonomia e à competência. Eficácia das recompensas verbais no aumento da motivação intrínseca Contingência à realização das atividades recompensadas. Especificidade: que características das atividades permitiram o alcance do resultado (competências, esforço, estratégias, ajuda, ...)? Sinceridade/credibilidade/variedade. 30 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Teoria da avaliação cognitiva (Reeve, 2009) Esta teoria formula um conjunto de previsões relativamente ao modo com as contingências externas afectam a motivação. Qualquer contingência externa (e.g., dinheiro, notas, prazos) afecta a motivação intrínseca e extrínseca, através do seu efeito nas necessidades psicológicas de autonomia e de competência. As contingências externas têm duas funções: 1. Função de controlo - Controlar o comportamento “Se fizeres X alcanças Y” Mina a motivação intrínseca; Interfere na qualidade da aprendizagem; Aumenta a regulação externa; mina a auto-regulação autónoma. 2. Função informativa - Informar sobre a competência percebida “Porque foste capaz de fazer X, és eficaz e competente” Aumenta a motivação intrínseca; Promove a qualidade da aprendizagem; Facilita a auto-regulação. A maior saliência de uma ou outra função determina o efeito do acontecimento na motivação intrínseca e extrínseca. Os acontecimentos exteriores afetam a motivação intrínseca mediados pelas perceções de autonomia e de competência – o feedback positivo (perceção de competência) só promove a motivação intrínseca se ocorrer num contexto de autonomia percebida (i.e., a dimensão informativa); as ações que veiculem controlo levam a uma perceção de externalidade e diminuem a motivação intrínseca. As contingências externas afectam a motivação intrínseca sempre que influenciam o “locus” percebido de causalidade. Os acontecimentos exteriores afectam a motivação intrínseca quando mediados pelas perceções de autonomia e de competência. 31 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Já os acontecimentos que favorecem um “locus” percebido como externo diminuem a motivação intrínseca e aumentam a motivação extrínseca. Pelo contrário, os acontecimentos que promovem um “locus” percebido como interno aumentam a motivação intrínseca e diminuem a motivação extrínseca. Os acontecimentos externos afectam a motivação intrínseca para uma actividade optimal quando influenciam a competência percebida e os acontecimentos que promovem maior grau de competência percebida aumentam a motivação intrínseca, enquanto os que inibem o grau de competência percebida diminuem a motivação intrínseca. Os acontecimentos determinantes na iniciação e regulação do comportamento tem três aspectos potenciais, cada um com um significado funcional. O aspeto informativo facilita o “locus” de causalidade percebido como interno e grau de competência, aumentando assim a motivação intrínseca. O aspeto controlador favorece o “locus” externo, onde não há percepção de competência, minando a motivação intrínseca e promovendo a motivação extrínseca. O aspeto desmotivante promove o grau de incompetência percebida, diminuindo a motivação intrínseca e promovendo a amotivação. O feedback positivo – percepção da competência – só promove a motivação intrínseca se ocorrer num contexto de autonomia percebida (dimensão informativa). As ações que veiculem controlo levam a uma percepção de externalidade e diminuem a motivação intrínseca. A orientação motivacional extrínseca tem um impacto negativo no processo de aprendizagem e no bemestar. O objectivo da educação deve ser o de ajudar ao estabelecimento de múltiplos objectivos autodefinidos, com valor intrínseco, capazes de satisfazerem diversos motivos, consolidarem o valor pessoal e 32 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra facilitarem o envolvimento no processo de aprendizagem. Contudo, a activação extrínseca pode ser uma opção quando a motivação intrínseca inicial é muito baixa. Teoria da integração organísmica A motivação extrínseca permite o funcionamento auto-determinado (teoria da integração organísmica) dependendo do tipo de regulação comportamental que promover (Lens et al., 2009) Na regulação externa,o comportamento é regulado através de meios externos como recompensas, punições, avaliações, prazos, etc. (contingências externas); o locus da iniciação é externo ao self (controlo interpessoal). Na regulação introprojetada, o comportamento é realizado para evitar a ansiedade, a culpa, ou para manter perceções de valor pessoal; o locus de iniciação é parcialmente externo ao self (controlo intrapessoal).Já na regulação identificada, o comportamento é visto como instrumental para o alcance de objetivos valorizados; o sujeito identifica-se com a atividade e o locus de iniciação é percebido como fundamentalmente interno (regulação interna). Por último, na regulação integrada o comportamento é realizado de forma a harmonizar e a trazer coerência a diferentes aspetos do self e em função dos interesses e valores pessoais; o locus de iniciação está completamente internalizado (regulação interna). Amotivação Regulação externa Ausência de regulação intencional Contingências de recompensas e punições Motivação Extrínseca Regulação Regulação introprojetada identificada Auto-estima contingente: envolvimento do ego Importância dos objetivos, valores e regulações. Regulação integrada Coerência entre os objetivos, valores e regulações. Motivação Intrínseca Interesses e apreciação das tarefas Motivação Motivação Motivação Motivação moderadamente moderadamente autónoma autónoma controlada autónoma inerente A regulação comportamental difere da motivação intrínseca, pois não se referem ao envolvimento em Falta de motivação Motivação controlada atividades por prazer, interesse e satisfação; este continuum pode ser atravessado nos dois sentidos. A motivação é um plano contínuo em função da autodeterminação. Quanto à qualidade da motivação, a amotivação refere-se à ausência de intencionalidade comportamental, à não valorização das atividades, à ausência de perceções de competência e à ausência de expetativas de resultado); a motivação controlada corresponde à regulação externa e à regulação introprojetada; já a motivação autónoma diz respeito à regulação identificada, regulação integrada, regulação intrínseca. No entanto, todas elas se referem à intencionalidade comportamental. 33 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Motivação Autónoma Auto-regulação com base em interesses e valores pessoais. Integrada no núcleo funcional do eu. Motivação Controlada Regulação externa ou parcialmente interna. Não integrada no núcleo funcional do eu. Podem não diferir em quantidade, mas diferem em qualidade, ou seja, produzem diferenças na qualidade comportamental. Resultados de diversos trabalhos de investigação – contextos educativos, tratamento do alcoolismo, programas de dieta, adesão ao exercício físico, relacionamento conjugal, participação política, participação religiosa, etc. Depoimento de um Estudante Universitário “Quando vim para a universidade comecei a fazer jogging por várias razões: 1) disseram-me para o fazer; 2) era um desafio; 3) pensei que precisava de fazer exercício. Devido a este conjunto de razões fiz periodicamente jogging durante os dois primeiros anos em que aqui estive e senti que essa actividade me era benéfica. No entanto, este ano tenho feito jogging por outras razões e objectivos. Depois da investigação pessoal que fiz sobre a aeróbica comecei a ver o jogging e fitness não apenas como uma actividade, mas como uma verdadeira filosofia de vida. Agora sinto que o fitness é uma parte necessária da minha vida. Na realidade, o jogging pode ser mais do que uma pura actividade física, pode também ser uma fonte de prazer estético e de realização. Para mim tem sido especialmente uma fonte de realização.” 1. “Disseram-me para o fazer” – regulação externa 2. “Desafio” – regulação intrínseca 3. “Pensava que precisava” – regulação identificada 4. “Fonte de realização” – regulação integrada Estudo das necessidades sociais Necessidades adquiridas: as necessidades sociais Definição: Um processo psicológico adquirido que é progressivamente resultante da história pessoal de socialização (experiências precoces, influências cognitivas e influências desenvolvimentais) e que ativa respostas comportamentais e emocionais a incentivos que são particularmente relevantes para esse tipo de necessidade (importância das diferenças individuais) São necessidades que têm uma forma de funcionamento mais complexo que as necessidades psicofisiológicas e psicológicas: Mecanismo de deficiência (homeostático); Mecanismo de crescimento (homeoquinésico). 34 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Estão sempre presentes mas não estão sempre visíveis, precisam de algo que as estimule. Exemplos: Realização (mais estudados) Afiliação/intimidade Poder Incentivos ativadores de cada uma das necessidades (Reeve, p.175) Necessidade social Realização Afiliação/Intimidade Poder Necessidade social de realização Incentivo que ativa a necessidade Fazer uma coisa bem para demonstrar competência Oportunidade para agradar aos outros e obter a sua aprovação; oportunidade para estabelecer relações interpessoais de proximidade Ter impacto, controlo e influência nos outros Atkinson formula inicialmente a necessidade de realização como o possível resultado do tipo de necessidades individuais a nível da realização para actividades específicas: Necessidade de Realização (“need for achievement”) e da tendência de acção associada, que considera igualmente a probabilidade de sucesso e o valor de incentivo do sucesso; Necessidade de Evitar o Fracasso (“need to avoid failure”) e da tendência de acção associada, que considera igualmente a probabilidade de fracasso e o valor de incentivo negativo do fracasso. Probabilidade de sucesso – tendência que tem que ver com a competência percebida para a realização da tarefa Necessidade de realização = Escolha entre a aproximação e o evitamento, e essa escolha é feita em função das características de personalidade. Dweck, por sua vez, faz uma formulação contemporânea, afirmando que esta necessidade de realização pode resultar das teorias implícitas das qualidades individuais (e.g. inteligência), a teoria da entidade (“Entity theory”), cujo objectivo de realização é resultado do eu; e a teoria incremental (“Incremental theory”), cujo objectivo de realização é a mestria ou a aprendizagem. Modelo de J.Atkinson Fraca capacidade preditiva Explica o comportamento em geral Modelo de Dweck Melhor previsão do comportamento em situações específicas através do estudo dos objectivos 35 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra As teorias implícitas e o tipo de objectivos de realização decorrem das características individuais. Para Atkinson, estas duas teorias complementam-se. A necessidade de realização é assim considerada como o desejo de fazer bem, tendo em consideração uma norma de excelência, pelo que esta última diz respeito a qualquer desafio à perceção pessoal de competência em função de um resultado objetivo de sucesso ou fracasso (i.e., competição com a tarefa, competição intra-pessoal, competição interpessoal). O comportamento é avaliado em termos de sucesso e de fracasso em função de três critérios: competição com a tarefa; competição intra-pessoal; e competição interpessoal. Existem diferenças na escolha, latência, esforço, persistência e na assunção pessoal de responsabilidades relativamente aos sucessos e fracassos. Os sujeitos com níveis mais elevados de realização têm mais emoções de aproximação, enquanto os que apresentam baixos níveis de realização têm emoções de evitamento. Origens da necessidade de realização A necessidade de realização sofre influências de socialização precoce, através do treino educativo da autonomia, aspirações de realização elevadas, critérios de excelência realistas, valorização positiva dos comportamentos de realização, etc.; influências cognitivas, através das perceções de capacidade pessoal, expetativas elevadas de sucesso, valorização dos comportamentos de realização e pelo estilo atribucional optimista e ainda influências desenvolvimentais, como as crenças de realização a partir da comparação social, valores e emoções (orgulho, vergonha). Modelo de J. Atkinson - Resultado das Tendências pra o Sucesso e para o Fracasso (Reeve, 2009) Tendência para o sucesso (Ts) Tendência para evitar o fracasso (Tf) Motivação de realização 36 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra (Ms x Ps x Is) (Maf x Pf x If Ta Ms – Motivo para o sucesso Maf – motivo para evitar o fracasso; Ps – probabilidade percebida de sucesso; Pf – probabilidade percebida de fracasso (1-Ps); If – valor de incentivo negative do fracasso (1-Is). Is – valor de incentivo do sucesso (1Ps). Quanto maior é Ts e quanto menor for o Tf, maior é a motivação de realização Quanto maior é Ps, menor será o Is. Condições de Activação e Satisfação das Necessidade de Realização (Normas de excelência): Tarefas moderadamente difíceis - tarefas que satisfazem a realização; Competição – pessoas que tem necessidade de realização elevada, gostam da competição (competem consigo próprios ou com outras pessoas); Empreendedorismo - sujeitos com motivação de realização mais elevada estão mais em profissões de empreendedorismo elevado. Objetivos de realização (binómio competência -esforço) - Dweck Orientação para o eu, resultado (demonstrar as competências possuídas): A orientação é prestada para o nível dos resultados obtidos, na qual os erros são percebidos como fracassos, estes últimos que por sua vez expressam a falta de capacidades. Na avaliação, o critério de comparação é social, i.e., existe uma comparação dos resultados pessoais com os resultados do grupo de referência, existindo uma preferência por tarefas fáceis ou rotineiras. Isto implica de certo modo uma abordagem de superfície do material de aprendizagem, na qual existe uma utilização de estratégias cognitivas menos elaboradas (reprodução), considerando-se o material de aprendizagem como uma acumulação de factos isolados e levando a que a realização da tarefa ocorra o mais depressa e com o menor esforço possível. 37 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra A orientação para o eu pode ser influenciada por uma tendência de aproximação, i.e., pela obtenção de apreciações de competência pessoal, como a necessidade de realização e de critérios positivos de desempenho; ou por uma tendência de evitamento, i.e., de forma a evitar apreciações desfavoráveis da competência pessoal, como pela necessidade de evitar o fracasso, baixa auto-estima, vitalidade e bem-estar psicológico. Orientação para a tarefa, aprendizagem, mestria (aprender novas competências) A orientação para a mestria prende-se com o desejo de aprender e de aumentar os seus conhecimentos e competências, na qual os erros constituem oportunidades de aprendizagem. Na avaliação, o critério de comparação é individual, i.e., o sujeito faz uma comparação entre os resultados actuais e os resultados anteriores, existindo uma preferência por tarefas novas e desafiantes, que se traduz num maior envolvimento, que por sua vez, leva a elevadas expetativas de competência na realização de tarefas moderadamente difíceis e desafiantes. Aqui, existe uma abordagem mais profunda do material de aprendizagem, pois são utilizadas estratégias cognitivas mais elaboradas e estratégias meta-cognitivas, que visam a apreensão do sentido do material de aprendizagem. Na orientação para a mestria existem elevadas expectativas de competência na realização de tarefas moderadamente difíceis e desafiantes, pelo que é ainda mais fácil pedir ajuda quando estamos orientados para a mestria. A adopção de um objetivo de mestria em vez de um objetivo de resultado traduz-se numa preferência por tarefas desafiantes, com potencial de aprendizagem, a utilização de estratégias profundas de aprendizagem, a regulação por motivação intrínseca, em vez de extrínseca, e a probabilidade mais elevada de pedir informações e ajuda. Isto deriva do maior esforço, da maior persistência e do melhor desempenho, atitudes vantajosas para atingir um objetivo de mestria. Predominância da Orientação para o Eu/Resultado - Evitamento (Covington, 1998) Quando os contextos são mais externalizados, tendemos a usar estratégias que dificultam o alcance de níveis de excelência e sabotam a vontade de aprender. Esta corresponde à orientação para o resultado, na vertente do evitamento. No entanto, esta é uma abordagem auto-destrutiva, que leva à procrastinação e ao adiamento, ao estabelecimento de objectivos inatingíveis, na persistência em não tentar, fazer falsos esforços, dar respostas vagas, etc., e na qual a garantia de sucesso passa por trabalhar de forma compulsiva e estabelecendo objectivos excessivamente baixos, fazendo “batota”, etc. 38 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Necessidade Social de Afiliação Condições de activação: Privação da interacção social (isolamento social e medo de rejeição); Condições de satisfação: Aceitação e aprovação social. Necessidade Social de Intimidade Condições de activação: Estabelecimento e manutenção de redes interpessoais, nomeadamente ao nível das díades; Condições de satisfação: Proximidade e “calor” nas relações interpessoais. Necessidade Social de Poder Condições de activação: Liderança, agressividade, profissões influentes e sinais exteriores de prestígio. Estas ativam as tendências de aproximação, pelo que uma cessidade de poder elevada está associada a um maior facilidade no alcance de objetivos. Padrão motivacional de liderança (variante da necessidade de poder): a elevada necessidade de poder, a baixa necessidade de afiliação e o elevado autocontrolo constituem os factores que levam a um líder eficaz. A abordagem cognitiva do estudo da motivação humana O estudo do comportamento dinamizado por objectivos Fatores cognitivos que promovem a regulação autónoma do comportamento: Tipo de atribuições causais feitas para os resultados dos comportamentos pessoais em contextos sociais e/ou de realização. Tipo de expectativas (auto-eficácia, orientação para os resultados) Estabelecimento, implementação e avaliação de objetivos pessoais (“goal setting”, “implementation intentions” e “goal striving”). Modelo TOTE – O impacto da planificação na ação (Miller, Galanter & Pribrem, 1960) Pretende a resolução da incongruência, que se reveste de propriedades motivacionais, entre o estado actual e o estado ideal através do comportamento de planificação. A incongruência causa desconforto e mobiliza para a ação. 39 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Os planos são as ferramentas cognitivas que dirigem o comportamento. Test Operate •Comparação do estado actual com o estado ideal Test •Ação para alcançar o estado ideal Exit •Comparação do estado atual com o estado ideal Incongruência •O estado actual é congruente como estado ideal. Congruência O Modelo TOTE é criticado pela sua visão mecanicista, pois a redução da discrepância era feita à custa da repetição dos planos. Mas os planos são ajustáveis e sujeitos a revisão. Se houver incongruência, deve-se desenvolver um conjunto de acções (“operar”) para alcançar o estado ideal e mudar, rever e/ou abandonar um plano de acção ineficaz; mudando o comportamento (e.g., aumentar o esforço), e porque leva a uma motivação corretiva. O que posso fazer para aumentar a motivação? Existência de discrepância entre o estado actual e o estado ideal Redução da discrepância (motivação corretiva) – Criação de discrepância (processo de reativa, redução da tensão. estabelecimento de objectivos) – tendem para o crescimento, projectiva, proactiva Actuação de processos de feedback que informam Sistema de feed-forward em que o sujeito acerca da discrepância entre o estado actual e o proactivamente estabelece um objectivo num futuro estado ideal. mais ou menos distante Estudo dos objectivos São as representações cognitivas de acontecimentos futuros. Processo de estabelecimento de objectivos (“ goal setting”) Modalidades Preferenciais de Codificação dos Objectivos (Kuhl, 1986) O sistema motivacional opera na realidade através da estruturação de acções que são codificadas com diferentes graus de intensidade quanto ao desejo; à preocupação; e à intenção. 40 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Método de Indução Motivacional (J. Nuttin & W. Lens) 1. Eu espero... 1. Eu desejo que... 2. Proponho-me... 2. Eu tento evitar que... 3. Eu desejo... 3. Eu receio que... 4. Desejo ardentemente... 4. Não quero que... 5. Eu tento... 5. Tenho medo que... 6. Faço os possíveis por... 6. Opor-me-ia a que... 7. Esforço-me por... 7. Eu lamentaria muito se... 8. Estou decidido(a) a... ... Componentes da Codificação dos Objectivos que facilitam a passagem da Representação à Acção (Kuhl, 1986) 1. Componente subjectiva - agente da acção; 2. Componente contextual - dimensões temporais e espaciais associadas ao objectivo; 3. Componente objectiva - plano de acção para realizar o objectivo; 4. Componente relacional - integração no self. Se todas as componentes forem codificadas, tenho uma intenção. Caso não estejam presentes todas as componentes, tenho uma intenção, mas não faço nada para a concretizar. Estrutura da codificação dos objetivos Dimensão Temporal dos Objectivos: 1) Dimensão temporal de longo prazo – extensão, densidade, coerência; 2) Dimensão temporal de curto prazo – estabelecimento de objectivos específicos, proximais e moderadamente difíceis. Medida da Perspectiva Temporal Futura (Nuttin & Lens, 1985) 41 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Os objectivos distais (longo prazo) promovem a motivação intrínseca quando estão associados à realização de tarefas interessantes, relevantes e significativas, e fornecem dinamismo aos objectivos proximais e instrumentais (curto prazo) ao seu alcance. Variam em: a) Extensão – profundidade do espectro temporal prospectivo; b) Densidade – quantidade de objectivos e sua distribuição relativa pelos diferentes períodos temporais; c) Coerência – a probabilidade de alcance do objectivo final aumenta à medida da realização com sucesso dos objectivos instrumentais. Impacto comportamental da perspectiva temporal futura extensa Sujeitos com perspectiva temporal futura extensa percebem as distâncias temporais objectivas como mais curtas, antecipam melhor as consequências a longo prazo das suas acções actuais, atribuem mais valor aos objectivos distantes e são mais persistentes no seu alcance; o grau de satisfação na realização de uma tarefa instrumental e o esforço despendido no seu prosseguimento são mais intensos; e são mais capazes de transformarem os seus desejos vagos em intenções comportamentais. Problemas com o estabelecimento de objectivos a longo prazo (Reeve, 2009) A existência de períodos longos em que há ausência de reforço das realizações pode levar a que o compromisso para com os objectivos diminua, assim como quando os objectivos não providenciam reforços imediatos. Desta forma, há benefícios na tradução de um objectivo longo prazo numa série de objectivos a curto prazo, e esta solução é sobretudo necessária se o objectivo a longo prazo consistir numa tarefa ambígua e complexa. Impacto Comportamental dos Objectivos Proximais (Locke & Latham; Bandura) Os objectivos proximais fornecem feedback imediato que permitem a consolidação de percepções de competência, contribuindo para a criação (emoções positivas) ou redução da discrepância (emoções negativas). Promovem a mobilização e direcção do comportamento, pelo que os objectivos específicos e moderadamente difíceis mobilizam mais esforço e persistência, reduzem a ambiguidade no pensamento e a variabilidade nos níveis de realização, promovem a atenção e o planeamento estratégico. O impacto de objectivos específicos e moderadamente difíceis no comportamento depende da sua interacção com factores não motivacionais. Sempre que externamente propostos precisam de ser aceites, com base no nível 42 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra de dificuldade, participação, credibilidade de quem propõe, e motivação extrínseca. Devem ainda estar integrados em sistemas de meios-fins. Limitações do Estudo do Processo de Estabelecimento de Objectivos O estudo dos processos de estabelecimento de objectivos está mais relacionado com a tentativa de aumentar os níveis de realização do que com a tentativa de promover o comportamento motivado, funcionando melhor quando as tarefas a realizar são desinteressantes e não excessivamente complexas, quando na ausência de factores de motivação intrínseca. Não deve gerar um controlo excessivo nem facilitar as condições para a geração de emoções negativas (stress, ansiedade associada ao medo do fracasso). Processo de avaliação de objectivos pessoais (“ goal striving”) Conteúdo da Avaliação dos objetivos Os objectivos têm uma relação com o crescimento pessoal e com o bem-estar subjectivo, que tem implicações para a compreensão do desenvolvimento pessoal e para a consulta psicológica. Impacto a longo prazo e na organização da vida quotidiana 1) Tipo de relações requeridas com determinadas categorias de objectos – diversas taxonomias; 2) Inserção contextual – carácter idiossincrático dos objectivos com implicações no seu modo de estudo e avaliação (nomotético vs. ideográfico); 3) Organização hierárquica – do nível mais molecular ou inferior ao nível mais molar ou superior (preocupações, temas, projectos pessoais….); integração vs. conflito (intrínsecos vs. extrínsecos). Propriedades Motivacionais dos Esquemas de Representação de Si (“personal strivings”) (Reeve, 2009) 1) Eu consistente – Esquemas de representação de si que dirigem o comportamento para confirmarem a visão existente e para prevenirem episódios que gerem feedback que possa desconfirmar essa visão; 2) Eu possível – Esquemas de representação de si que geram motivação para dirigir o eu actual relativamente a um eu futuro desejado. “Personal strivings” = nível superior ou mais molar na hierarquia de objectivos A concepção dos “eus possíveis” (possible selves) (H. Markus e cols.) 43 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra A concepção dos eus possíveis dizem respeito aos componentes do sistema do eu orientadas para o futuro, como ideias, imagens ou cenários do que desejamos ser (“eu possível” positivo) e do que não queremos ser ou do que tememos vir a ser (“eu possível” negativo). Servem de ligação entre o auto-conceito e o comportamento. Os “eus possíveis” globais permitem a construção de “eus possíveis” mais específicos e orientados para tarefas também elas específicas, i.e., representações orientadas para a acção. Quanto mais elaborado é o “eu possível”, i.e., quanto maior o número de auto-representações, maior a sua influência na mobilização e organização da acção, nos planos cognitivo, afectivo e somático. O equilíbrio entre “eus possíveis” positivos e negativos em domínios nucleares intensifica a motivação e regula a orientação e manutenção do comportamento (maior eficácia na monitorização do processo). A multidimensionalidade do auto-conceito ou da identidade, as avaliações nos domínios que contêm os “eus possíveis” contribuem de um modo mais decisivo para as autoavaliações globais, como a auto-estima. Os jovens geram mais “eus possíveis” que os sujeitos mais velhos, em mais categorias, embora sejam menos capazes de definirem acções instrumentais para a concretização desses “eus possíveis” (Cross & Markus, 1991). O não equilíbrio entre “eus possíveis” positivos e negativos no mesmo domínio de inserção comportamental estabelece uma relação com o comportamento delinquente em adolescentes, nos quais existem mais “eus negativos” (Oyserman & Markus, 1988). As diferenças de género nos “eus possíveis” variam ao longo da adolescência, pois as raparigas constroem “eus possíveis” em mais domínios de vida e com maior probabilidade subjectiva de concretização dos “eus possíveis” negativos (Knox et. al., 1998, 2000). Elaboração e Avaliação de Objectivos Pessoais no aconselhamento motivacional (Cox & Klinger, 2004) As investigações de Little sobre o equilíbrio desejável entre as diferentes categorias de objectivos, tendo por base o número de objectivos: os sujeitos com muitos objectivos eram mais ansiosos, face aos sujeitos com poucos, que eram mais deprimidos. A frequência das diferentes categorias remete para a situação dos sujeitos que não têm objectivos relacionados com as suas tarefas de vida ou com os seus problemas actuais, devendo estas categorias serem sequenciadas e ordenadas temporalmente. A análise linguística dos objectivos e da sua sintaxe indica que existem objectivos formulados na negativa e como “tentativa”. As categorias mais problemáticas dizem respeito à preponderância da categoria intrapessoal. 44 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Os processos volitivos A implementação das intenções (Reeve, 2009) c) Retomar a acção depois de interrompida a) Iniciar a acção, apesar dos distractores b) Persistir, apesar das dificuldades e obstáculos Funções Básicas dos Processos Volitivos (Kuhn, 1992) Facilitação do planeamento – ligar o objetivos a componentes situacionais (contingências meiocomportamento) Promoção da iniciativa comportamental – iniciar a ação Manutenção das intenções activadas – persistir face a obstáculos, contrariedades, retomar após uma interrupção Desactivação de intenções irrealistas ou inadequadas. Critérios para a ativação de objetos situacionalmente apropriados e socialmente relevantes (Ford, 1992) Oportunidade Tempo Importância Urgência Meios disponíveis Princípio dos Objectivos Múltiplos e do Alinhamento dos Objectivos (Ford, 1992) Providenciar a possibilidade de satisfazer o maior número de objectivos, como um “seguro motivacional”. Harmonização entre objectivos conflituantes – quando uns objectivos facilitam os outros (não há conflito), há maior eficácia e bem-estar. 45 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Intra-pessoal Inter-pessoal Temporal O estudo das crenças de controlo pessoal e da auto -regulação As crenças de controlo pessoal são a motivação para exercer controlo pessoal: os sujeitos tentam exercer controlo sobre os aspectos previsíveis do seu meio de forma a tornar mais prováveis os acontecimentos positivos e menos prováveis os acontecimentos negativos. Quando os sujeitos acreditam que podem desenvolver um curso de acção ou alcançar os resultados desejáveis estão motivados para exercer controlo pessoal e a intensidade das suas tentativas, em diversos planos comportamentais, corresponde a intensidade das suas expectativas. Tipos De Crenças ou Expectativas: Crenças/Expectativas de Auto-eficácia e Crenças quanto ao Resultado (Reeve) Sujeito •CRENÇAS DE AUTOEFICÁCIA - Consigo fazer isto? Crenças de um sujeito sobre a sua capacidade para mobilizar os recursos cognitivos, afectivos e comportamentais necessários para lidar eficazmente com as situações/tarefas. Comportamento Resultado •CRENÇAS QUANTO AOS RESULTADOS Serei bem sucedido? Crenças de que o comportamento produzirá resultados positivos ou prevenirá a ocorrência de resultados negativos. Os dois tipos de expectativas /crenças exercem influências distintas na iniciação e regulação do comportamento, mas ambas têm que ser relativamente elevadas para que o comportamento seja energético e dirigido para objectivos. A análise das crenças de auto-eficácia e das crenças quanto aos resultados permitirá compreender a relutância das pessoas em participar em certas actividades. Crenças de Agência Pessoal (Ford, 1992) Remete-nos para as crenças acerca da capacidade pessoal (“capability beliefs”), as crenças de auto-eficácia, e para as crenças acerca da responsividade do contexto (“context beliefs”), as crenças quanto aos resultados. 46 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra O Modelo de Auto-Eficácia de Bandura É o modelo mais importante no âmbito do estudo das percepções de competência ou eficácia pessoal. As expectativas ou crenças de auto-eficácia são específicas relativamente a determinadas tarefas ou situações (são o oposto da Dúvida – geradora de ansiedade), podendo ter uma dimensão individual ou uma dimensão colectiva. Fontes das expectivas de auto-eficácia 47 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Impacto das Expectativas de auto-eficácia no comportamento: 1. Comportamento de escolha 2. Esforço despendido e persistência face a existência de obstáculos – fortes expectativas de autoeficácia produzem um esforço persistente para ultrapassar contratempos e dificuldades. A dúvida leva as pessoas a diminuir os seus esforços. 3. Padrões de pensamento e reações emocionais – estudo de Collins; utilização de estratégias mais adequadas em crianças com expectativas mais positivas de auto-eficácia; as pessoas com um grande sentido de auto-eficácia tendem a visualizar cenários competentes e a nutrir entusiasmo, optimismo e interesse pela tarefa e as suas dificuldades. As Expectativas de Auto-eficácia devem ser avaliadas quanto aos seguintes critérios: Nível – número de passos que o sujeito acredita ser capaz de dar ou de tarefas que julga ser capaz de desempenhar Força - grau de confiança no desempenho com sucesso Generalidade - conjunto de situações em que o sujeito se considera eficaz Bandura argumenta contra a utilização de medidas descontextualizadas de avaliação auto-eficácia, que transformem estas expectativas num traço de personalidade e não em julgamentos específicos a situações ou tarefas. Nas áreas em que as expectativas e auto-eficácia são consistentemente negativas, como por exemplo, do desempenho em matemática, têm um impacto considerável nas escolhas educativas e de carreira. O comportamento (nos planos cognitivo afectivo e accional) é optimal quando as crenças/expectativas de auto-eficácia excedem ligeira/moderadamente as capacidades objetivas associadas ao desempenho de tarefas específicas. Estratégias de Incremento das expectativas de auto-eficácia (“empowerment”) a) Promotoras do Desempenho na tarefa Estabelecimento de objectivos Feedback; Recompensas verbais Auto-instrução; 48 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra b) Promotoras da Aprendizagem Vicariante - Modelação Utilização preferencial de pares e perito Utilização preferencial de modelos de coping e modelos de excelência. Expectativas de Eficácia Expectativas de resultado Crenças de auto-eficácia Orientação para a mestria ou desânimo Desânimo aprendido Atribuição Causal dos Sucessos e dos Fracassos Principais Dimensões da Atribuição Causal Locus de controlo (externo e interno) Estabilidade e instabilidade Controlabilidade e incontrolabilidade Impacto dos Processos Atribucionais na Motivação e comportamento 1) Diferentes interpretações das realizações passadas e do sentimento de valor pessoal 49 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra 2) Diferentes expectativas quanto aos resultados futuros (relação forte ou fraca entre as acções pessoais e os resultados alcançados). É mais adaptativo atribuir o sucesso a : Capacidades Estáveis Competências Causas internas Esforço Instáveis, mas controláveis Estratégia É mais adaptativo atribuir o fracasso a: internas e controláveis Esforço Incontroláveis e externas Sorte (acaso) Causas instáveis As orientações motivacionais na resposta ao fracasso devem ser de confiança pessoal no controlo dos acontecimentos e resultados. Os Estilos Atribucionais – Padrões de Resposta ao Fracasso (C.Dweck) 1) Estilo de orientação para a Mestria – Melhorar a competência O fracasso e atribuído a causas instáveis Sucessos atribuídos a causas internas 50 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Auto- imagem e afectos positivos Persistência perante o fracasso, foco nas soluções a ultrapassar Utilização de auto-instruções para resolução dos problemas. 2)Estilo de orientação para o Desânimo – Evitar percepções de incompetência Fracasso atribuído a causas internas e estáveis, impossíveis de controlar e superar (desistência); Sucesso atribuído a causas externas, há sub-estimação dos êxitos Desistência perante o fracasso Auto-imagem e afectos negativos. Verbalizações acompanhando a resolução de uma tarefa difícil Estilo orientado para o desânimo Estilo orientado para a mestria Atribuições do fracasso a si próprio (“estou a Auto-instruções no sentido da melhoria dos níveis de ficar confuso”, “não sou esperto”, nunca tive realização ("à medida que isto se torna mais difícil tenho boa memória”) que me esforçar mais") Afirmações irrelevantes para a resolução do problema (“vou a uma festa este fim de semana”) Afirmações expressando auto monitorização ("vou-me concentrar bastante agora ") Afirmações expressando um "fim" positivo para a situação ("estou quase a conseguir") Afirmações expressando afeto negativo (“isto já não está a ter piada”; “vou desistir”) Afirmações expressando afecto positivo ("gosto de um desafio") Processos cognitivo-motivacionais e modalidades de intervenção; Os Estilos de Atribuição Causal Cada um dos estilos aparece associado ao estabelecimento preferencial de um dos dois tipos de objectivos de realização: 1) Objectivos de aprendizagem - estilo de orientação para a mestria (melhorar a competência) 2) Objectivos de resultado - estilo de orientação para desânimo (“passar” nos testes à capacidade pessoal e evitar percepções de incompetência) 51 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Procedimento e Resultados de um Estudo Típico de Desânimo Aprendido Condição experimental Descarga inevitável Descarga evitável Condição de controlo, sem descarga Fase 1 Recebem a descarga, não há resposta que ponha fim às descargas Recebem a descarga, ao carregarem num botão põem fim às descargas Eram colocado no dispositivo experimental mas não recebiam descargas Fase 2 Descarga recebida Resultados Não tentam fugir às descargas Descarga recebida Escapam rapidamente das descargas, saltando a barreira Escapam rapidamente das descargas saltando a barreira. Descarga recebida Quadro de Desânimo Aprendido Contingência - Expectativa subjectivamente percebida de incapacidade para controlar eficazmente os acontecimentos (expectativa de independência R-Resultado). Refere-se à relação objectiva entre o comportamento de uma pessoa e os resultados do meio. A contingência existe num continuum que vai desde resultados controláveis até incontroláveis; Cognição - As exposições repetidas a acontecimentos traumáticos percebidos como incontroláveis determinam a formação desta expectativa, bem como as atribuições usadas para interpretar os resultados. Refere-se à cognição entre as contingências reais do meio e a compreensão subjectiva da pessoa sobre o controlo que tem nesse meio; Comportamento - O quadro de “desânimo aprendido” surge quando os sujeitos acreditam que não podem controlar os acontecimentos e os resultados, sendo essas crenças muito persistentes e o seu impacto assinalável nas R de “coping”. Este quadro dá origem a três tipos de “deficits”: a) Motivacionais: diminuição na emissão de respostas voluntárias e intencionais, impacto negativo na aprendizagem; b) Cognitivos: a capacidade para apreender a percepção de contingências entre acções pessoais /resultados em tarefas futuras diminui drasticamente; c) Emocionais: comportamento apático e deprimido. Conceito de Optimismo Aprendido (Seligman) Relacionado com o tipo de atribuições causais 52 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra a) Estilo explicativo optimista: causas temporárias, especificas, externas e/ou controláveis para os acontecimentos negativos Mais motivação Níveis de realização mais elevados Maior bem-estar físico e menos sintomas depressivos. b) Estilo explicativo optimista: causas internas, estáveis e globais para os acontecimentos positivos. Mais motivação Níveis de realização mais elevados Maior bem-estar físico e menos sintomas depressivos. c) Estilo explicativo pessimista: causas estáveis, globais, internas e incontroláveis para os acontecimentos negativos. Menos motivação Níveis de realização mais baixos Menor bem-estar físico e mais sintomas depressivos. d) Estilo explicativo - optimista vs. pessimista - Diferentes expectativas acerca do futuro Optimistas: controlabilidade e resiliência Pessimistas: incontrolabilidade e desânimo e) Estilo explicativo – Maior probabilidade de depressão após um acontecimento negativo: Atribuições a causas estáveis e globais Consequências negativas ou catastróficas Inferência de características acerca do eu Expectativas de desânimo (capacidade do eu) e do resultado negativas 53 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Teoria da Reactância (Reactance) (Brehm) Vs. Desânimo Aprendido (Expectativas de resultado) A reactância é a tentativa psicológica e comportamento de reestabelecer (reagir contra) uma situação de liberdade (de controlo pessoal) eliminada ou ameaçada, sobretudo quando tem um grau médio ou elevado de importância – maior grau de actividade, hostilidade, agressividade. Persiste enquanto o comportamento de “coping” activo for considerado adequado e eficaz para reestabelecer o controlo pessoal ameaçado ou perdido, i.e., quando a independência resposta-resultado for percebida surge o desânimo aprendido, ou seja, a “reactância” precede o desânimo aprendido e promove o desempenho. Esperança A esperança é um conceito cognitivo e afectivo integrador dos dois tipos de expectativas, que é constituído por: Cognições instrumentais - produção de caminhos alternativos, bem como o diálogo interno positivo que persiste em os encontrar ( “hei-de encontrar uma maneira de resolver isto”)- optimismo Pensamento agencial - mobilização dos recursos dinâmicos, envolvendo igualmente em diálogo interno positivo (“não vou desistir”) - auto eficácia Barreiras e stressores - as emoções positivas ou negativas resultam das percepções de sucesso relativamente ao alcance dos objectivos valorizados. As pessoas com um nível elevado de esperança tendem a interpretar as barreiras como desafios, procurando caminhos alternativos e mobilizando os recursos motivacionais nesse sentido (as emoções positivas reforçam este processo). Já as pessoas com um nível baixo de esperança ficam presas em ruminações pessimistas (“self –doubt”) tendendo a desistir do alcance dos objectivos valorizados. Os acontecimentossurpresa activam emoções que mobilizam os recursos motivacionais, que actuam no sentido da ligação a um objectivo. Porque que os sujeitos com mais esperança têm desempenhos superiores? Os sujeitos com maior esperança têm desempenhos superiores porque estabelecem objectivos específicos e proximais em vez de objectivos vagos e distais, preferencialmente objectivos de orientação para a mestria, preferindo objectivos auto-propostos a objectivos externamente propostos. Promovem a regulação intrínseca em detrimento da regulação extrínseca do comportamento, sendo menos “distraídos” pelos obstáculos externos , por cognições irrelevantes para a tarefa e por sentimentos negativos. Geram múltiplas cadeias de meios-fins em vez de se fixarem num único caminho e são auto-determinados, atribuindo mais sentido à sua vida quando do reflectem sobre o progresso na construção e alcance de objectivos valorizados. 54 Motivação e Emoção Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra Índice Introdução ao estudo da motivação e da emoção – definições, conceitos e principais modalidades de avaliação ....................................................................................................................................................... 1 Perspectiva histórica do estudo da motivação humana – das origens filosóficas à atualidade. ....................... 5 Abordagem organísmica do estudo da motivação humana e reflexão em torno das noções de motivação intrínseca e extrínseca ................................................................................................................................. 19 A abordagem cognitiva do estudo da motivação humana ............................................................................ 39 55