26/06/2012 às 00h00 Autossuficiência energética economizará R$ 350 milhões Por De São Paulo Usuária intensiva de energia, a indústria siderúrgica tem assistido a um aumento dos custos por força da elevação das tarifas no mercado interno. É com esse intuito que a Usiminas lançou um programa interno de investimentos para alcançar a autossuficiência energética num prazo de até três anos. A companhia quer chegar ao ano de 2015 produzindo toda a energia de que necessita e ainda gerando um excedente que possa ser comercializado no mercado livre. A estimativa da empresa é que a economia chegue à casa dos R$ 350 milhões por ano - sem falar na geração de receita com a venda dos excedentes. Os investimentos previstos na geração de energia ainda não foram divulgados. A Usiminas planeja investir entre R$ 2,5 bilhões e R$ 3 bilhões ao longo deste ano. De acordo com a companhia, apenas 22% do total de energia elétrica consumida por ano é gerada na própria Usiminas. A empresa consome 450 MW e produz apenas 100 MW. No plano de investimentos da empresa, a expectativa é que a diferença seja conseguida com a modernização de equipamentos, tornando-os mais econômicos, e na obtenção de ativos de geração. Entre as possibilidades em estudo está a construção de uma usina termelétrica que aproveite os gases dos alto-fornos da empresa e utilizem algum combustível fóssil para complementar o ciclo. Hoje, a geração de energia própria já é feita por intermédio do reaproveitamento dos gases das unidades da empresa em Cubatão (SP) e Ipatinga (MG). Para a especialista Goret Pereira Paulo, diretora do Núcleo de Energia do FGV in Company, programa da Fundação Getúlio Vargas para empresas, o problema da Usiminas e de outras indústrias poderia ser resolvido não só com investimento em geração, mas também com mudanças em alguns aspectos do mercado brasileiro de energia. Em especial a tributação. "É só fazer a conta", afirma ela. "O principal elemento de custo da energia é a carga tributária (impostos mais encargos), que soma mais de 50% do custo total no Brasil", informa. Ou seja, se esse custo fosse menor, poderia desobrigar uma série de empresas de se preocupar com a questão e concentrar seus esforços no negócio em si. Para a especialista da Fundação Getúlio Vargas, empresas que fazem a gestão da própria energia - casos da CSN, Vale e Ambev, entre outras -, o fazem para ganhar competitividade. Essas companhias acabam investindo fora do país, em locais em que o custo da energia é mais baixo. Uma mudança na carga tributária manteria esses investimentos aqui, elevaria o valor agregado da produção e ainda melhoraria a pauta de exportações do país, argumenta Goret. Para as siderúrgicas, por exemplo, o custo menor de processamento poderia funcionar como um desestímulo à exportação de minério de ferro em bruto, tendência crescente entre as empresas do setor no Brasil. O país poderia apostar a exportação de aço, obter mais divisas e fortalecer a economia local. Segundo ela, as siderúrgicas e outras empresas que dependem do uso intensivo de energia poderiam se tornar muito mais competitivas, em um momento em que a indústria brasileira como um todo dá sinais de retração em relação à de outros países. Tem um peso significativo e diminui a competitividade das indústrias intensivas em energia. (Vale, CSN, Brahma gerenciam sua energia para ganhar competitividade). Muitas acabam investindo fora do país, onde o custo de energia é mais baixo e exporta com baixo valor agregado, no caso do minério de ferro, por exemplo. Se o governo reduzisse os impostos, elevaria a demanda, aumentaria o consumo e a arrecadação seria mantida ou até ficaria maior, atraindo mais investimentos. O país produziria com maior valor agregado, o que também impacta positivamente a arrecadação tributária, e exportaria com mais valor agregado, trazendo mais benefícios e enriquecendo a pauta de exportações. Para a especialista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o sistema de negociação e de regulação do mercado de energia no Brasil é muito avançado, não devendo nada para os demais países. Medidas de desoneração tributária teriam, diz ela, a mesma lógica da redução de IPI para automóveis e outros bens de consumo: estimularia o consumo. E seria um complemento a "boas medidas" que o governo vem tomando em relação à redução de juros e melhoria do câmbio. (EB)