CIÊNCIA EQUATORIAL Artigo Original ISSN 2179-9563 Volume 3 - Número 1 - 1º Semestre 2013 DESCARTE ADEQUADO DE PERFUROCORTANTES NUM HOSPITAL DE MACAPÁBRASIL: UM IMPORTANTE FATOR DE PREVENÇÃO DE ACIDENTES Romulo Lima de Sousa1; Rubens Alex de Oliveira Menezes,2,3,4; Mauricio Jose Cordeiro Souza2,3; Vencelau Jackson da Costa Pantoja5; Flávio Henrique Ferreira Barbosa6; Maria de Fátima da C. Almeida7 RESUMO O descarte inadequado de materiais perfurocortantes podem ser a causa de ocorrência de acidentes ocupacionais. O gerenciamento adequado dos resíduos e a aplicação das normas de biossegurança podem contribuir para redução de riscos e execução de trabalho com segurança, especialmente para aqueles que manipulam materiais perfurocortantes. No Brasil, a escassez de dados sistematizados e de controle sobre acidentes ocupacionais envolvendo material biológico e, mais especificamente material perfurocortante, impede o conhecimento da magnitude desse problema, dificultando, assim, a implementação e a avaliação de medidas para prevenção de riscos. O objetivo deste estudo foi analisar o descarte de material perfurocortante em alguns setores do Hospital das Clinicas Dr. Alberto Lima, Macapá-AP, Brasil. Os dados foram coletados em vários setores do hospital, durante duas visitas e através da observação dos ambientes e por entrevistas com os profissionais sobre os tipos de coletores. Os resultados mostraram as condições dos coletores usados e foram identificados 48 recipientes, dos quais 38 eram recipientes improvisados, 32 apresentavam paredes rígidas e aspecto resistente à punctura, 40 coletores estavam abaixo da capacidade máxima permitida, 38 coletores não apresentavam sinalização de risco e 26 coletores não possuíam tampa. Isso enfatiza a falha de planejamento na distribuição dos coletores nos diversos setores, sendo que o centro cirúrgico possuía 1/3 de todos os recipientes encontrados, confirmando a deficiência na distribuição. Isso mostrou que as condições para descarte de material perfurocortantes e seus coletores também podem ser melhoradas. Também, é importante realizar cursos, palestras para viabilizar o trabalho com condições de segurança. Palavras-chave: Biossegurança, Hospital, Risco biológico, Risco ocupacional, Resíduos. PROPER DISPOSAL OF HOSPITAL IN SHARPS MACAPÁ-BRAZIL: AN IMPORTANT FACTOR FOR PREVENTION OF ACCIDENTS ABSTRACT The inadequate discarding of the puncture–cutting objects can provoke occupational accidents. The adequate management of the residues and use of biosafety proceedings can contribute significantly for the reduction of risk and the work safe especially whose provoked by sharp instruments. In Brazil, the lack of data systematized and control of the occupational accidents involving biological materials and, more specifically sharp instruments, block the major knowledge of this problem, to turn into difficult the implementation and the evaluation and take measures to risk prevention. The objective of this study was analyse the discarding of the puncture–cutting objects in some places of the Hospital das Clinicas Dr. Alberto Lima, Macapá–AP, Brazil. The dates were collected in several places of the hospital, during two visits. Also it was done through the observation of the enviroments, and to talk with its workers about colletors type. The results had showed the collectors’ conditions and had identified 48 containers, of which 38 receiving were improvised, 32 presented rigid walls and resistant aspect to the puncture, 40 collectors were below of the allowed maximum capacity, 38 collectors did not present any identification or risk’s signalling and 26 collectors did not have covers. This fact emphasize a lack of planning in the collectors’ distribution in the different sectors of the hospital, where the surgical center presented the 1/3 of all found containers. It confirmed the deficiency of their distribution. This showed that there are no adequate conditions for discarding of sharp instruments and there is no evidences of right equipments, neither the use and the control of the sharp instruments colletors. Also, it is important make courses and performed instructions to make possible the work safety. Keywords: Biosafety, Hospital, Biohazard, Risk occupational, Waste. INTRODUÇÃO Com relação aos resíduos dos serviços de saúde, só nos últimos anos iniciou-se uma discussão mais consistente do problema. Algumas prefeituras já implantaram sistemas específicos para a coleta destes resíduos, sem, entretanto, enfatizar o ponto mais delicado da questão: a manipulação correta dos resíduos dentro das unidades de saúde, de forma que se possa fazer a separação de acordo com o real potencial de contaminação, daqueles que podem ser considerado resíduos comuns. Dessa forma, entende-se que o manuseio de tais resíduos deve ser efetuado com destreza e segurança, objetivando, dentre outros aspectos, a prevenção de acidentes e a qualidade de vida dos funcionários envolvidos nessa atividade (ARMOND; AMARAL, 2001). A importância de se mensurar os resíduos gerados reside na necessidade de dimensionar o sistema de manejo que deve estar preparado para funcionar com um determinado volume de resíduos, fato que viabiliza o gerenciamento dos mesmos (ARMOND; AMARAL, 2001). Em tempos anteriores o armazenamento dos resíduos dos serviços de saúde eram acondicionados de qualquer maneira, em geral em sacos impermeáveis, mas também em outros invólucros e o local de armazenamento temporário era a céu aberto. O material perfurocortante não sofria nenhum tipo de separação; eram muito comuns acidentes, principalmente com o pessoal do serviço de limpeza. (DIAS, 2004). Historicamente, os trabalhadores da área da saúde não eram considerados como categoria profissional de alto risco para acidentes do trabalho. A preocupação com os riscos biológicos surgiu somente a partir da epidemia da AIDS (SÊCCO; LEROUX; SANTOS, 2002). Os perfurocortantes, agulhas, seringas e outros objetos capazes de provocar cortes ou perfurações adquirem uma enorme importância nesse contexto, exigindo medidas cuidadosas para seu descarte (DIAS, 2004). O lixo proveniente dos serviços de saúde, por conta de sua composição, deve Ciência Equatorial, Volume 3 - Número 1 - 1º Semestre 2013 receber cuidados especiais na separação, no acondicionamento, na coleta, no tratamento e no destino final. (FERRER et al., 2004). O manejo inadequado dos resíduos de serviços de saúde traz consequências negativas diretas à saúde pública e ao meio ambiente. Com relação à saúde pública, os riscos envolvem diretamente quem manipula esse tipo de resíduo, seja no estabelecimento gerador, seja o pessoal ligado a assistência médica, seja o pessoal ligado ao setor de limpeza ou até mesmo o usuário do serviço (COFFY FILHO; RAMPAZZO, 2003). A consequência da exposição ocupacional aos patógenos pelo sangue não está somente relacionada à infecção, uma vez que, a cada ano, milhares de trabalhadores de saúde são afetados por trauma psicológico, ocasionado pela espera do resultado de uma possível soroconversão. Além disso, muitos sofrem alterações nas práticas sexuais, efeitos das drogas profiláticas, no relacionamento social e familiar e até a perda de emprego (SÊCCO; LEROUX; SANTOS, 2002). Os acidentes com materiais perfurocortantes são considerados problema para os profissionais da área de saúde, pela possibilidade de transmissão ocupacional de patógenos veiculados pelo sangue (AMARAL et al., 2005). Estudos têm mostrado que a ocorrência de acidentes com material biológico contaminado, em profissionais de saúde durante o exercício de suas atividades, pode acarretar o desenvolvimento de doenças infecciosas como Hepatite B (transmitida pelo vírus HBV), Hepatite C (transmitida pelo vírus HCV) e a AIDS (transmitida pelo Vírus da Imunodeficiência Adquirida – HIV). O risco de transmissão de infecção por uma agulha contaminada é de um em três para Hepatite B, um em trinta para Hepatite C e um em trezentos para HIV. Ressalta-se que os acidentes ocasionados por picada de agulhas são responsáveis por 80 a 90% das transmissões de doenças infecciosas entre os trabalhadores de saúde (SÊCCO; LEROUX; SANTOS, 2002). Em contextos hospitalares os acidentes com instrumentos perfurocortantes são eventos que ocorrem de forma intensa entre os profissionais de saúde, principalmente médicos, enfermeiros e Página 70 auxiliares de enfermagem. (ACOSTA; ECHTERNACHT, 2006). Dentre as situações favoráveis à ocorrência de acidentes ocupacionais dos profissionais de saúde, destacam-se: realizando procedimentos, descartando material em local impróprio, descarte de material perfurocortante, auxiliando os procedimentos, recapando agulhas, entre outros. (AMARAL et al., 2005). O descarte do material perfurocortante em local inadequado pode contribuir para a ocorrência de acidentes. A prática inadequada de descarte foi considerada como responsável por 14,9 e 26,7% dos acidentes em estudos com trabalhadores de enfermagem (OLIVEIRA; GONÇALVES; PAULA, 2008). Evidenciou-se ainda, que práticas seguras de biossegurança podem evitar acidentes ao constatar que profissionais que relataram descartar material perfurocortante em local inapropriado apresentaram 3,4 (1,29,3) vezes mais chance de se acidentar quando comparados àqueles que disseram descartar adequadamente. E, para os profissionais que realizaram o reencape de agulhas tiveram 5,9 (1,5–22,6) vezes mais chance de se acidentar (OLIVEIRA; GONÇALVES; PAULA, 2008). Conforme, estudo realizado em Nova York, 50% dos acidentes com instrumentos perfurocortantes aconteceram pelo fato destes objetos estarem em local impróprio de descarte, sem condições de segurança (SARQUIS; FELLI 2002). Em São Paulo, segundo Boletim Epidemiológico: CRDST/AIDS/CVE, outubro, 2002, o descarte inadequado é a segunda maior causa de acidente, 16% entre os profissionais de enfermagem (SÃO PAULO, 2007). De acordo com pesquisa realizada por Sarquis e Felli (2002), o objeto perfurocortante predomina como causa de acidente entre os profissionais de enfermagem (53,70%). As exposições associadas aos coletores de materiais perfurocortantes são frequentes, podendo ocorrer durante a tentativa de descarte de material perfurocortante, o acondicionamento ou a manipulação dos coletores (RAPPARINI, 2005). Ciência Equatorial, Volume 3 - Número 1 - 1º Semestre 2013 O desconhecimento dos profissionais em relação à necessidade de descarte de qualquer material perfurocortante, independentemente de estar ou não contaminado, como por exemplo, agulhas, vidros, frascos e ampolas, lâminas de bisturi, em coletores resistentes e específicos para essa finalidade é responsável por acidentes de trabalho na equipe de limpeza pela manipulação de lixo comum (RAPPARINI, 2005). Dentre as causas mais frequentes de acidentes com material perfurocortante está à pressa, que tira a atenção e leva os profissionais a cometerem erros graves como o descarte inadequado; o esquecimento de perfurocortantes em locais impróprios como macas ou balcões; utilização errada dos coletores, reencape de agulhas, derrubada de agulhas no chão, quebra de ampolas sem proteção para as mãos, etc. Existem ainda outros fatores como a falta de equipamentos adequados, iluminação deficiente nos ambientes de trabalho, pacientes agressivos ou descontrolados, falta de funcionários causando sobrecarga de serviço (LIMA, 2006). Spagnuolo, Baldo e Guerrini (2008) confirmam a alta incidência de acidentes ocorridos com perfurações 92,5% em Londrina-PR, o que reforça a necessidade urgente de permanente vigilância e treinamentos contínuos quanto aos cuidados na manipulação desses objetos. Brevidelli e Cianciarullo (2002) colaboram ao discutir que o descarte de objetos perfurocortantes em local inadequado foi a principal fonte de risco para causar perfurações, atingindo proporções expressivas entre profissionais de enfermagem (66,7%) e entre as demais categorias profissionais (81,2%) que trabalham no hospital universitário da cidade de São Paulo. Esses dados sugerem que o descarte inadequado de objetos perfurocortantes é uma importante fonte de risco para acidentes ocupacionais, até mesmo para grupos de profissionais que não estão em contato direto com o paciente, tais como, o pessoal da limpeza, incluído nas demais categorias profissionais. O gerenciamento adequado dos resíduos pode contribuir significativamente para a redução da ocorrência de acidentes de trabalho, especialmente aqueles provocados Página 71 por perfurocortantes (GARCIA; ZANETTIRAMOS, 2004). No Brasil, a escassez de dados sistematizados sobre acidentes ocupacionais envolvendo material biológico e, mais especificamente, material perfurocortante, não nos permite conhecer a magnitude desse problema, dificultando, assim, a implementação e a avaliação das medidas preventivas. (SANTOS et al., 2006). Este trabalho teve como objetivo analisar o descarte de material perfurocortante em alguns setores do Hospital das Clinicas Dr. Alberto Lima, Macapá-AP, Brasil. Os dados foram coletados em vários setores do hospital, durante duas visitas e através da observação dos ambientes e por entrevistas com os profissionais sobre os tipos de coletores. METODOLOGIA Estudo analítico-descritivo, utilizando como estratégia metodológica o levantamento bibliográfico e documental em obras de maior relevância sobre o tema abordado, e a partir do mesmo, foi feita uma análise descritiva, com observação direta e entrevistas como forma de alcançar os objetivos propostos. Desse modo, observa-se a necessidade de uma ampla divulgação, bem como discussão sobre as questões que norteiam a gestão dos resíduos de serviço de saúde visando à minimização dos impactos deles decorrentes. O estudo foi realizado no Hospital das Clínicas Dr. Alberto Lima, localizado no Estado do Amapá. Esta unidade de saúde é referência por prestar assistência nas diferentes especialidades médicas para população da capital Macapá. A coleta dos dados foi realizada durante duas visitas no mês de novembro de 2008, uma no início e outra no final do mês. A coleta de dados compreendeu a visita aos diversos setores do hospital, conversando com alguns profissionais verificando as condições dos coletores utilizados para descarte do material perfurocortante, registrando com fotos. Todos os procedimentos foram realizados com a autorização do diretor do hospital. Para a coleta dos dados foi utilizado uma planilha, elaborada com base nos requisitos exigidos pela NBR 13853/97, trata Ciência Equatorial, Volume 3 - Número 1 - 1º Semestre 2013 de coletores para resíduos de serviço de saúde perfurantes e cortantes. A coleta de dados realizou-se sob a forma de entrevistas previamente agendadas utilizando duas fontes de informações: uma primária, composta por dados de entrevistas parcialmente estruturadas e fontes secundárias, constituídas por observações diretas a etapa correspondente à destinação final dos perfurocortantes. De maneira genérica, a investigação pode ser dividida em cinco etapas: Etapa 1 – Estudos iniciais: compreende a busca por literatura especializada referente aos RSS, como legislações, normas, teses, dissertações, artigos e livros, e à definição dos estabelecimentos de saúde a serem estudados; Etapa 2 – Caracterização do hospital: envolve o levantamento de dados obtidos por meio de entrevistas e pesquisa documental. Nesta fase determinaram-se características relacionadas ao descarte dos perfurocortante, tipo de coletores usados para material perfurocortantes, distribuição dos coletores para material perfurocortante no Hospital, as características físicas dos coletores, capacidade máxima dos coletores de materiais perfurocortantes, sinalização de risco e presença de tampa nos recipientes; Etapa 3 – Análise critica das informações geradas: com as informações conseguidas nos estabelecimentos estudados do Hospital Dr. Alberto lima que inclui as Clinicas: CMM – Clínica medica masculina, CMF- Clínica medica feminina, CC – Centro cirúrgico, CDM – Cínica de distúrbios mentais, C. C. Clínica cirúrgica, NEFRO – Nefrologia, CDT – Centro de doenças transmissíveis, LAB – Laboratório, CTI – Centro de tratamento intensivo, CO – Clínica Ortopédica, fez-se uma análise do descarte de material perfurocortante, infectante gerados nas clinicas do hospital da cidade. Para facilitar a visualização comparativa da tipologia de coletores de perfurocortantes distribuídos por setores, no Hospital Dr. Alberto Lima, os dados foram tabulados em porcentagem e apresentados de forma gráfica por meio do Excel; Página 72 Etapa 4 – Análise do sistema de gerenciamento adotado pelo hospital: neste item efetuou-se uma avaliação do sistema de gerenciamento dos resíduos gerados pelo hospital à luz da atual legislação brasileira referente aos perfurocortantes. A averiguação do sistema de gerenciamento foi realizada por intermédio de um diagnóstico intra-hospitalar, no qual foram observados itens como segregação, acondicionamento e identificação dos resíduos, procedimentos de coleta, transporte interno, armazenamento externo e destinação final. Com essa análise são expostos os pontos positivos e os negativos encontrados na gestão dos resíduos adotada pelo hospital investigado; Etapa 5 – Discussão dos resultados sobre o estudo: para esta última etapa procedeu-se à discussão dos resultados obtidos em relação à realidade na pratica do hospital Dr. Alberto lima e suas respectivas clinicas com o confronto dos dados obtidos quanto à realidade regional encontrada. RESULTADOS E DISCUSSÃO - Tipo de coletores usados para material perfurocortantes Durante a visita a todos os setores do Hospital Dr. Alberto Lima foram identificados 48 recipientes, que eram usados para desprezar os objetos perfurocortantes. Basicamente, podemos dividir os coletores encontrados em dois tipos: os industrializados (10), que apresentam na sua estrutura as especificações de risco, limite máximo para enchimento e simbologia de risco biológico (Figura 01) e os recipientes improvisados (38), normalmente embalagens vazias de plástico ou papelão que foram reaproveitadas para essa finalidade, não apresentavam aviso de risco biológico ou inscrição de perfurocortante (Figura 02). Figura 01 - Coletores improvisados Fonte: Instrumento de coleta de dados da pesquisa. Ciência Equatorial, Volume 3 - Número 1 - 1º Semestre 2013 Página 73 Figura 02 - Coletor industrializado Fonte: Instrumento de coleta de dados da pesquisa. A legislação brasileira não define um coletor especifico, apenas menciona um conjunto de características comuns que estes devem possuir para serem usados como recipientes para descarte de perfurocortante. Existem no mercado, variados tipos de coletores, de plástico, de papelão, com diferentes valores que podem facilmente se enquadrar nos padrões exigidos. Em um hospital público, como o Dr. Alberto Lima com recursos financeiros limitados, o reaproveitamento de recipientes acaba representando uma economia nos custos da instituição, isso explica o acentuado número de coletores improvisados nas dependências do hospital. Contudo, essa prática de reaproveitar embalagens vazias acaba por causar um problema ainda maior, pois sem identificação de seu conteúdo, sem limite máximo de enchimento, elas acabam representando um enorme risco de acidentes associado aos demais profissionais que irão manipulá-lo até seu destino final. Com relação aos setores investigados do hospital Dr. Alberto lima, basicamente todos os setores apresentaram valores superiores de coletores de perfurocortantes improvisados, sendo que para determinados setores como Centro cirúrgico, Nefrologia, Centro de doenças transmissíveis, laboratório e clinica ortopédica os coletores improvisados eram a única alternativa de descarte (Figura 03). Figura 03 - Dados correspondem a tipos de coletores de perfurocortante distribuídos por setores, no Hospital Dr. Alberto Lima, 2008. Fonte: Instrumento de coleta de dados da pesquisa. *Setores do Hospital Alberto Lima: CMM – Clínica medica masculina, CMF- Clínica medica feminina, CC – Centro cirúrgico, CDM – Cínica de distúrbios mentais, CLÍ. C. - Clínica cirúrgica, NEFRO – Nefrologia, CDT – Centro de doenças transmissíveis, LAB – Laboratório, CTI – Centro de tratamento intensivo, ORT. – Ortopedia. Ciência Equatorial, Volume 3 - Número 1 - 1º Semestre 2013 Página 74 Como medida preventiva com intuito de minimizar os riscos de acidentes, seria adequado padronizar as embalagens utilizadas no hospital com a simbologia de risco, reforçar as embalagens de papelão para evitar punctura e limitar o enchimento dos coletores. Como afirma Brevidelli e Cianciarullo (2002) o descarte inadequado de objetos perfurocortantes foi responsável por proporções alarmantes de acidentes. Por outro lado, a introdução de recipientes padronizados para descarte de objetos perfurocortantes parece ter incentivado o descarte apropriado de agulhas, pois foi observada queda na ocorrência desse tipo de acidente que coincide com essa medida. - Distribuição dos coletores para material perfurocortante no Hospital Foram encontrados recipientes em todos os 10 setores pesquisados. Entretanto, foi constatado uma distribuição desigual desses recipientes pelos diferentes setores desta unidade de saúde como podemos analisar na Figura 04. Figura 04 - Distribuição dos recipientes perfurocortante por setor - HCAL- (AP), 2008. Fonte: Instrumento de coleta de dados da pesquisa. O centro cirúrgico sozinho possui 1/3 de todos os recipientes encontrados, enquanto outros ambientes, como por exemplo: a clínica masculina e a clínica cirúrgica que possuem uma demanda semelhante tanto de profissionais, quanto pacientes ao do Centro Cirúrgico apresentaram apenas 2 recipientes. Vale salientar que, nesses ambientes o coletor estava no posto de enfermagem distante das enfermarias, o que obriga os profissionais a descolarem-se das enfermarias ao posto para desprezar o material perfurocortante. Tendo que transportar agulhas e seringas pelas enfermarias, tendo que se desviar de obstáculos como leitos, pacientes, outros colegas de serviço além de familiares dos pacientes. Fato comum associado a esse Ciência Equatorial, Volume 3 - Número 1 - 1º Semestre 2013 transporte é a recapagem com o pretexto de se evitar acidentes durante esse percurso até chegar ao coletor (Figura 05). Ao analisar detalhadamente as fontes de risco de acidentes com agulhas e outros objetos perfurocortantes, percebemos que a manutenção de práticas de risco é responsável por parte significativa dos mesmos. Em diversos estudos a prática de reencapar agulhas foi responsável por 15 a 35% dos acidentes com objetos perfurocortantes, enquanto o descarte de agulhas em local inadequado (saco de lixo comum, cama e mesa de cabeceira do paciente, campos cirúrgicos, bandejas) ocasionou de 10 a 20% dos acidentes com profissionais de saúde (GIR; COSTA; SILVA,1998). Página 75 Figura 05 - Exemplo de procedimentos perigos Fonte: Rapparini (2005). O correto para prevenir possíveis acidentes, seria que houvesse um coletor em cada enfermaria, permitindo descartar o perfurocortante no local de sua geração, imediatamente após o uso, evitando assim a recapagem, deslocamento e o possível risco de acontecer acidentes. Rapparini (2005) contribui ao discutir que a falta de coletores próximos aos leitos ou às áreas de realização de procedimentos tem sido um motivo para recapeamento de agulhas. A colocação de um coletor apropriado próximo ao paciente tem demonstrado ser uma medida eficaz de prevenção. - Características físicas dos coletores Quanto as características físicas, apesar da grande maioria dos coletores serem improvisados, 32 apresentavam paredes rígidas e aspecto resistente a punctura, com exceção de algumas caixas de papelão que apresentaram descontinuidade em suas paredes, podendo devido ao enchimento excessivo, uma agulha romper e furar a mão do profissional na hora da remoção das caixas. Para resolver essa não conformidade, seria sensato reforça essas caixas com outra em seu interior e durante a remoção utilizar carrinhos destinados para essa finalidade, devidamente identificado proporcionado Ciência Equatorial, Volume 3 - Número 1 - 1º Semestre 2013 assim maior segurança a todos profissionais envolvidos nesta tarefa. os - Capacidade máxima dos coletores de materiais perfuro cortantes Dos 48 coletores, 40 estavam abaixo do limite, de acordo com o que recomenda a lei e 8 estavam acima da capacidade máxima permitida (Gráfico 06). O fato de tantos coletores estarem de acordo com a legislação, a primeira vista, poderia representar ponto positivo para os representantes da biossegurança do hospital. Todavia, examinando o contexto ao qual essa realidade está inserida e conversando com funcionários descobrimos se tratar de recipientes colocados recentemente nesses locais, e ainda não levados ao extremo da capacidade, suposição esta comprovada com a presença de 8 coletores cheios acima do limite permitido. Segundo Acosta e Echternacht (2006) fato este comum em hospitais públicos os coletores de agulhas quase sempre estão cheios, além de seu limite de segurança, deixando as pontas expostas para o lado de fora da caixa, tornando-se uma fonte de grande perigo, principalmente para a equipe que transita por esse local e principalmente a equipe de limpeza e higiene. Página 76 Figura 06 - Coletores cheios com descarte inadequado Fonte: Instrumento de coleta de dados da pesquisa. O problema com os recipientes cheios pode ser resolvido com medidas educativas junto ao pessoal da área técnica, da importância de respeitar o limite máximo das caixas, para a sua saúde e de seus colegas. Pois, coletores cheios representam perigo no momento do descarte devido a outros perfurocortantes projetados para fora do coletor. Para o correto gerenciamento dos resíduos e a minimização de possíveis efeitos danosos ao meio ambiente, os funcionários envolvidos no gerenciamento dos resíduos, deverão ser devidamente capacitados. É manter um registro dos treinamentos, indicando o conteúdo programático, relação dos funcionários participantes e suas respectivas áreas e data do treinamento (ALMEIDA, 2009a). - Sinalização de risco e presença de tampa nos recipientes Os pontos negativos dos coletores estavam relacionados à falta de sinalização de risco, onde 38 coletores não apresentavam Ciência Equatorial, Volume 3 - Número 1 - 1º Semestre 2013 aviso, nem sinalização sobre o conteúdo das embalagens, o que expõe os profissionais que vão manipular posteriormente ao risco de acidentes (Figura 07). Como reconhece Garcia e Zanetti-Ramos (2004) além dos trabalhadores dos serviços de saúde, também os das firmas terceirizadas de limpeza e os trabalhadores das companhias municipais de limpeza manuseiam os resíduos de serviços de saúde e estão expostos aos riscos inerentes quando esses resíduos são mal gerenciados. O que infelizmente, devido a falta de notificação não é possível mensurar os casos. Assim como, 26 coletores não possuíam tampa, para fechamento das embalagens. Existe o risco dessas embalagens caírem e espalharem agulhas e outros objetos perfurocortantes pelo chão o que possivelmente provocará transtornos ao pessoal da higiene no momento da coleta e remoção. Já que a tarefa de fechar as caixas neste local, foi delegada indevidamente a essas pessoas, que não possuem conhecimento técnico para realizar essa função. Página 77 Figura 07 - Características físicas dos recipientes perfurocortantes HCAL, 2008. Fonte: Instrumento de coleta de dados da pesquisa. De acordo com Barreto (2007) os materiais perfurocortantes são todos os objetos e instrumentos contendo cantos, bordas, pontos ou protuberâncias rígidas e agudas capazes de cortar e perfurar ao mesmo tempo. Precisam de descarte especial para que não tragam riscos ao ambiente, ao usuário e nem comprometam a biossegurança do experimento. De acordo com a resolução Nº 33 da ANVISA esses resíduos são classificados no Grupo E – Perfurocortante. Enquadram-se neste grupo: lâminas de barbear, bisturis, agulhas, escalpes, ampolas de vidro, lâminas e outros assemelhados provenientes de serviços de saúde (ANVISA, 2003). Os resíduos gerados por estabelecimentos e instituições de saúde humana, os quais possuem potencial de risco, em função da presença de materiais biológicos capazes de causar infecção; objetos perfurantes-cortantes potencial ou efetivamente contaminados requerem cuidados específicos. Esses resíduos pelas suas características deverão sofrer tratamentos diferenciados, desde a sua geração até o seu destino final. Para que se possa ter uma maior segurança no trabalho e minimização de impactos (COELHO, 2001). Os materiais perfurocortantes devem ser descartados separadamente, no local de sua geração, imediatamente após o uso, em recipientes, rígidos, resistentes à punctura, ruptura e vazamento, com tampa, devidamente identificados pela inscrição “Perfurocortante”, baseados nas normas da Ciência Equatorial, Volume 3 - Número 1 - 1º Semestre 2013 ABNT NBR 13853/97 - Coletores para Resíduos do Serviço de Saúde perfurantes e cortantes e NBR 9259/97- Agulhas hipodérmicas estéreis e de uso único, sendo expressamente proibido o esvaziamento desses recipientes para o seu reaproveitamento. As agulhas descartáveis devem ser desprezadas juntamente com as seringas, quando descartáveis, sendo proibido reencapá-las ou proceder a sua retirada manualmente (ANVISA, 2003). Dentre as várias condutas estabelecidas, uma é de grande importância para evitar acidentes com agulhas. Estas têm que ser desprezados respeitando-se nos recipientes sempre os limites de enchimento demarcados. (ACOSTA; ECHTERNACHT, 2006). Para os recipientes destinados a coleta de material perfurocortante, o limite máximo de enchimento deve estar localizado 5 cm abaixo do bocal, deve ser mantido em suporte exclusivo e em altura que permita a visualização da abertura para descarte e seu transporte deve ser realizado de forma que não exista o contato do mesmo com outras partes do corpo, sendo vedado o arrasto (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2007). Contudo, circunstâncias comuns de exposição são: coletores cheios acima do limite permitido; agulhas ou outros materiais perfurocortantes projetados para fora do coletor; dificuldade de descarte do próprio instrumento, como os escalpes, falta de coletores específicos para descarte de agulhas de coleta de sangue a vácuo, montagem Página 78 incorreta dos coletores, localização inadequada, coletores pequenos ou em número insuficiente para um setor e descarte incorreto com desconexão da agulha da seringa (RAPPARINI, 2005). Em função do volume de resíduos gerados, deverão ocorrer alguns procedimentos padronizados como: fluxos bem definidos para o seu transporte, que deverão manter constância de horário, sentido único e fixo, evitando assim cruzamento com outros (como roupas limpas, distribuição de alimento, visitas, administração de medicamentos, etc.). A coleta e transporte deverão ser realizados por equipe própria do serviço, devidamente treinada e paramentada com os Equipamentos de Proteção Individual (EPI) necessários (COELHO, 2001). Com relação aos cuidados na manipulação e descarte de materiais perfurocortantes deverão ser tomados em conjunto com o uso dos EPI (luvas, gorros, óculos, capotes) que têm como objetivo a redução dos riscos de exposição do profissional de saúde a sangue e fluidos corpóreos (LUCENA, 2004). A Norma NR32, estabelece as diretrizes básicas para a implementação de medidas de proteção à segurança e à saúde dos trabalhadores dos serviços de saúde, bem como daqueles que exercem atividades de promoção e assistência à saúde em geral (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2007). Estabelece que é dever do empregador providenciar recipientes e meios de transporte adequados para materiais infectantes, além de fornecer instruções escritas, em linguagem acessível, das medidas de prevenção de acidentes e de doenças relacionadas ao trabalho. Em contrapartida, é obrigação de o empregado utilizar os equipamentos de segurança e comunicar imediatamente todo acidente ou incidente ao serviço de segurança (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2007). Algumas recomendações devem ser seguidas durante a realização de procedimentos que envolvam a manipulação de material perfurocortante. Dentre eles podemos destacar: Máxima atenção durante a realização dos procedimentos, Jamais utilizar os dedos como anteparo durante a realização Ciência Equatorial, Volume 3 - Número 1 - 1º Semestre 2013 de procedimentos que envolvam materiais perfurocortantes, as agulhas não devem ser reencapadas, entortadas, quebradas ou retiradas da seringa com as mãos, não utilizar agulhas para fixar papéis, todo material perfurocortante (agulhas, seringas, scalp, laminas de bisturi, vidrarias, entre outros), mesmo que esterilizados, devem ser desprezados em recipientes resistentes à perfuração e com tampa, os recipientes específicos para descarte de materiais não devem ser preenchidos acima do limite de 2/3 de sua capacidade total e devem ser colocados sempre próximos do local onde é realizado o procedimento (LARANJEIRAS, 2009). As medidas de prevenção visam à melhoria da qualidade do trabalho executado e privilegiam o cuidado com a saúde do profissional da área de saúde. No período de admissão do profissional, a empresa deve promover palestras sobre acidentes de trabalho e cobrar as boas práticas, disponibilizar equipamentos de segurança, assim como materiais de trabalho com dispositivos de segurança para minimizar os riscos e assegurar o descarte adequado (ALMEIDA, 2009). CONSIDERAÇÕES FINAIS No geral os coletores apresentaram aspecto satisfatório. A ideia de reutilizar embalagens vazias de plástico e papelão foi simples é boa em relação ao aspecto de minimizar os custos. Quando o reaproveitamento associou agregar função a embalagens que simplesmente iriam para o lixo, resta apenas padronizar para que se encaixe com as recomendações preconizadas pela legislação brasileira, como sugestão final. Os aspectos negativos observados foram à falta de identificação nos coletores, já que, sem identificação representam perigo a outros profissionais que desconhecem o seu verdadeiro conteúdo. Assim, a falta de organização na distribuição dos coletores pelos setores do hospital, é importante como medida de prevenção que os coletores sejam distribuídos de acordo com a necessidade dos vários ambientes, evitando a concentração em alguns. Página 79 Logo é importante a presença de um profissional capacitado em biossegurança na Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), profissional com a função de desenvolver plano de trabalho, valorizando a participação dos colaboradores na organização das tarefas em que estão inseridos, podendo trabalhar com segurança e encontrando soluções para sua prática diária, com auxilio de (palestras, treinamento, cursos, cartazes, murais). E, que tenha a responsabilidade de transitar pelos setores verificando e identificando as reais condições de trabalho dos profissionais. BARRETO, G. Como descartar material perfurocortante? Informe IOC. 2007. 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SÃO PAULO, Secretaria da Saúde Risco biológico, biossegurança: recomendações gerais/Secretaria da Saúde. Coordenadoria de Atenção Básica. Coordenação de Desenvolvimento de Programas e Políticas de Saúde – CODEPPS. Coordenação de Vigilância em Saúde – COVISA – São Paulo: SMS, 2007. Correspondência: Rubens Alex de Oliveira Menezes – Laboratório Central de Saúde Pública de Macapá – LACEN(AP). Endereço: Avenida Tancredo Neves, 1118. Bairro: São Lázaro, CEP - 68908-530, Setor de Bacteriologia, Tel: 32126175⁄81311306⁄32235534, Macapá – AP, Brasil. E-mail: [email protected] SARQUIS, L. M. M.; FELLI, V. E. A. Acidentes de trabalho com instrumentos perfurocortantes entre os trabalhadores de Ciência Equatorial, Volume 3 - Número 1 - 1º Semestre 2013 Página 81