garganta inflamada: quando valorizar?

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Dr. Manoel de Nobrega - Otorrinolaringologia
22 SET 2015
A dor deve ser sempre valorizada, principalmente em crianças. A dor de garganta, em crianças, interfere na
alimentação, no sono, no rendimento escolar e na qualidade de vida, causando grandes transtornos no
ambiente familiar e motivo de aflição e consultas de urgência no pronto-socorro. A primeira providência é o
alívio da dor. A utilização de analgésicos nestes casos é fundamental. As drogas indicadas neste caso são:
dipirona, paracetamol ou ibuprofeno. A escolha deve ser baseada naquela droga que a criança aceitar melhor
e que sabe-se que será mais efetiva com ela. Outras formas de analgesia que podem ser utilizadas: gargarejo
com água e sal para manter o pH básico impedindo a proliferação bacteriana e a utilização de lenço amarrado
no pescoço embebido em álcool absoluto e água, em iguais proporções (o álcool em contato com água libera
calor que é um excelente analgésico).
O diagnóstico de tonsilite aguda é clínico e é muito difícil diferenciar a infecção viral da bacteriana. Algumas
tonsilites virais têm o mesmo aspecto clínico das tonsilites bacterianas. A incidência de tonsilite estreptocócica
varia de 10, 15 até 30% nas crianças entre 2 a 15 anos. Em menores de 3 anos, essa incidência é de apenas
2% a 2,5%. Portanto, na criança pequena, muito provavelmente a tonsilite é viral, presumivelmente causada
pelo adenovírus, mesmo com exsudato, hiperemia e adenomegalia. Uma criança mais velha, muito
provavelmente, teria uma tonsilite bacteriana. O quadro clínico sugestivo de infecção viral envolve associação
com tosse, conjuntivite, coriza e diarreia. Dados importantes que apontam para uma infecção bacteriana são
cólica abdominal, vômito e cefaléia.
Quando o quadro é duvidoso, convém tratar a criança sintomaticamente durante dois dias e reavaliá-la. Apenas 1% das faringotonsilites não
tratadas podem levar à ocorrência de febre reumática e também que o adiamento do tratamento de até 8 dias não aumenta o risco dessa grave
complicação. Nas consultas feitas em consultório privado em que o pediatria conhece seu paciente e tem contato regular com a família sugere-se
que a família já saia da consulta com uma prescrição do antibiótico e que a família a utilize após consultar seu médico 24 a 48 horas após esta
consulta inicial baseada na evolução clínica da criança. O médico não precisa necessariamente rever a criança; ele já sabe que ela tem uma
tonsilite aguda. Só precisará decidir se deverá utilizar ou não o antibiótico neste caso.
Os principais objetivos do tratamento com antibióticos é reduzir as chances de complicações associadas ao estreptococo β-hemolítico do grupo A e
reduzir a transmissão dessa bactéria na comunidade. Existem testes que podem auxiliar neste diagnóstico: os testes rápidos e a cultura para
pesquisa do estreptococo na secreção das tonsilas. Embora a cultura da tonsila seja considerada o teste padrão-ouro para o diagnóstico etiológico
definitivo com aproximadamente 95% de acurácia, esse exame não é facilmente disponível e seus resultados são bastante demorados. Deve-se
salientar, entretanto, que nem a cultura de orofaringe nem os testes rápidos para detecção do estreptococo são capazes de diferenciar os doentes
dos portadores do estreptococo β-hemolítico do grupo A. A droga de escolha ainda é a penicilina benzatina que deve ser utilizada em dose única,
intra-muscular. Outros antibióticos utilizados por via oral (penicilina semi-sintética e as cefalosporinas) devem ser usados por 10 dias.
Veja mais detalhes em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4273168 e http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2907808.
Artigos de referência: Klaus Stelter. Tonsillitis and sore throat in children. GMS Curr Top Otorhinolaryngol Head Neck Surg. 2014; 13: Doc07 e
Christos C Georgalas, Neil S Tolley, and Antony Narula. Tonsillitis. Clinical Evidence 2009;10:503.
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