UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE/PRODEMA Metais pesados no caranguejo Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) e ecotoxicologia de sedimentos do estuário dos Rios Jundiaí e Potengi – RN. PARA A REJANE BATISTA LOPES 2012 Natal – RN Brasil REJANE BATISTA LOPES Metais pesados no caranguejo Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) e ecotoxicologia de sedimentos do estuário dos Rios Jundiaí e Potengi – RN. Dissertação apresentada ao Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN), como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre. . Orientadora: Profa. Dra. RAQUEL FRANCO DE SOUZA LIMA 2012 Natal – RN Brasil Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Lopes, Rejane Batista. Metais pesados no caranguejo Ucides cordatus Linnaeus, 1763 e ecotoxicologia de sedimentos do estuário dos Rios Jundiaí e PotengiRN / Rejane Batista Lopes. - Natal, 2012. 87f: il. Orientadora: Profa. Dra. Raquel Franco de Souza Lima. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Biociências. Programa Regional de Pós-Graduação e Meio Ambiente/PRODEMA. 1. Leptocheirus plumulosus - Dissertação. 2. Metais pesados Dissertação. 3. Sedimentos - Dissertação. I. Lima, Raquel Franco de Souza. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/UF/BSE01 CDU 549.25 AGRADECIMENTOS A Deus, que está sempre ao meu lado, me abençoando a cada dia e dando-me forças para lutar sempre. À minha orientadora, professora Dra. Raquel Franco de Souza Lima, por toda dedicação, ensinamento, paciência e companheirismo. À minha família, pai, irmãos, irmã, sobrinhos e em especial a minha mãe pelo apoio incondicional, amor e carinho. Ao meu esposo Sebastião Dorian pelo amor, carinho, apoio e paciência. A professora Dra. Maria de Fátima Vitória de Moura grande colaboradora nesse trabalho, por abrir as portas do seu laboratório e supervisionar as análises de metais no caranguejo Uçá. Ao professor Dr. Guilherme Fulgêncio de Medeiros (Seu Guila), grande colaborador deste trabalho, por ter aberto as portas do seu laboratório para a realização dos ensaios ecotoxicológicos. Ao CNPq pela bolsa concedida, que possibilitou minha dedicação total à pesquisa durante a realização deste estudo. À minha turma de mestrado – PRODEMA 2010.1, pelos momentos de alegria e realizações compartilhados, especialmente a Richelly da Costa Dantas, Jane Azevedo de Araújo, Antonia Vilaneide Lopes e Danuta Werner Gabriel. À equipe do LAB-ECOTOX, pelo apoio e parceria, especialmente a Jessica Vitoria Felix Cruz, Sinara Cybelle Turíbio e Silva Nicodemo, Jessica Roberts Fonseca. Obrigada meninas! À equipe do LAB-LAQUANAP, pelo apoio, especialmente a Luciane Lira Teixeira e Pablo Renoir Fernandes de Souza À equipe do LAB-GEOQUÍMICA, pelo apoio, ensinamentos e pausa para o cafezinho, Leandro Pereira da Costa, João Batista de Azevedo Filho, Emerson Teles Souza do Amaral, Magno Carvalho Véras. Ao núcleo de análises de água, alimentos e efluentes – IFRN, em especial a Douglisnilson de Moraes Ferreira. Ao colega de orientação, Josiel de Alencar Guedes, por toda ajuda e companheirismo durante as coletas de sedimento. As minhas amigas que me apoiaram desde a época da graduação, Wanessa Kaline, Priscila Daniele, Daniele Bezerra e Erineide Varela. E por fim, a todos que direta ou indiretamente contribuíram para realização deste trabalho. RESUMO Metais pesados no caranguejo Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) e ecotoxicologia de sedimentos do estuário dos Rios Jundiaí e Potengi – RN. Este estudo é realizado no estuário dos rios Jundiaí e Potengi, um dos mais importantes do Rio Grande do Norte, que sofre uma forte influência antrópica das cidades vizinhas. De acordo com a resolução 344/2005 ambientes que apresentam elevadas concentrações de metais como arsênio, cádmio, chumbo e mercúrio necessitam de testes ecotoxicológicos. Este trabalho tem por objetivo avaliar a contaminação por metais pesados no estuário através de análises de sedimento coletados em quatro pontos distribuídos entre as cidades de Macaíba e Natal e no caranguejo Uçá, Ucides cordatus. Objetiva ainda avaliar os efeitos da toxicidade do sedimento no organismo teste Leptocheirus plumulosus. Para obtenção dos dados acerca das concentrações dos metais pesados no ambiente foram realizadas coletas de sedimentos em janeiro e maio de 2011, e do caranguejo Uçá no mês de junho de 2011. Por sua vez, o monitoramento toxicológico foi realizado através de testes com o sedimento coletado nos meses de julho a outubro de 2011. Durante a amostragem de sedimentos os parâmetros físicoquímicos da água (Oxigênio Dissolvido, pH, cloreto, turbidez, condutividade e temperatura), foram medidos em campo utilizando Sonda Multi-paramétrica da marca TROLL, modelo 9500. Foi possível identificar contaminação por metais como chumbo, cádmio, arsênio e cobre tanto no sedimento, como no caranguejo Uçá o que caracteriza que o consumo deste crustáceo pode trazer risco à saúde humana. Uma vez identificadas as concentrações de metais, foram realizados testes toxicológicos, que revelaram efeito tóxico aos organismos em pelo menos um dos quatro meses estudados. Destaque-se o ponto 2, próximo à ponte do rio Guarapes, que foi classificado como tóxico em três dos quatro meses estudados. A contaminação por metais pesados constitui risco ao ambiente, aos organismos aquáticos e à comunidade que sobrevive dos recursos extraídos deste ambiente. Palavras-chave: Sedimentos, metais pesados, Ucides cordatus, Leptocheirus plumulosus. ABSTRACT Heavy metals in crab Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) and the ecotoxicology of sediments of the estuary of the Rivers Jundiaí and Potengi - RN. This study is conducted in the estuary of the rivers Jundiaí and Potengi, one of the most important estuaries of Rio Grande do Norte, which suffers a strong anthropogenic influence from neighboring cities. According to Resolution 344/2005 environments that have high concentrations of metals such as arsenic, cadmium, lead and mercury need ecotoxicological tests. This study aims to evaluate the heavy metals contamination in the estuary through analysis of sediment collected at four points distributed from Macaíba to Natal city, and in the crab Uçá, Ucides cordatus. The study aims also to evaluate the effects of sediment toxicity in the tests organisms Leptocheirus plumulosus. To obtain data about the concentrations of heavy metals in the environment, sediments were collected in January and May 2011 and crab Uçá was collected in June 2011. On the other hand the monitoring was carried out through toxicological tests with sediment collected from July to October 2011. During the collection of sediment samples the physico-chemical parameters of water (dissolved oxygen, pH, chloride, turbidity, conductivity and temperature) were measured by using multi-parametric probe (TROLL 9500). It was possible to identify contamination by metals such as lead, cadmium, arsenic and copper both in the sediment and in the Uçá crab, which characterizes that the consumption of this crustacean may be a risk to human health. Once the concentrations of metals were identified, toxicology tests were performed and revealed toxic effect to organisms in at least one of the four months studied. Point 2 was classified as toxic in three of the four months studied . The heavy metal contamination is a risk to the environment, to aquatic organisms and to the community which survives of resources taken from the environment. Keywords: sediments, Heavy metals, Ucides cordatus, Leptocheirus plumulosus. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Mapa dos pontos de amostragem ..............................................................21 Figura 2 – Pontos de amostragem dos sedimentos .....................................................22 Figura 3 – Utilização da Sonda TROLL 9500 em campo ..........................................23 Figura 4 – Estufa para secagem do sedimento e peneirador automático .................25 Figura 5 – Capela do Laboratório de Geoquímica do Departamento de Geologia, com materiais utilizados no ataque ácido fraco .........................................26 Figura 6 – Caranguejo uçá, Ucides cordatus; secagem das amostras em estufa com ventilação ....................................................................................................27 Figura 7 – Pesagens das cápsulas em balança de precisão da Marca Tecnal; Estufa com ventilação; Amostras dos caranguejos em dessecador .............28 Figura 8 – Trituração da mostra de caranguejo; descarbonização da amostras dos caranguejos .............................................................................................28 Figura 9 – Mufla para a calcinação e filtragem das amostras...................................29 Figura 10 – Leptocheirus plumulosus ..........................................................................31 Figura 11 – Aquários com o cultivo de Leptocheirus plumulosus no Laboratório de Ecotoxicologia - UFRN; Recipientes dos testes com aeração e iluminação constante ....................................................................................31 CAPÍTULO I Figura 1 - Mapa da localização dos pontos de coleta. ................................................44 Figura 2 – Caranguejo Ucidescordatus do rio Jundiaí ..............................................45 Figura 3 – Parâmetros físico-químicos estabelecidos em água nos pontos de amostragem. Período seco: losangos; período chuvoso: quadrados ....................47 Figura 4 – Comparativo dos teores de metais em sedimentos na estação seca (losangos) e chuvosa (quadrados) ........................................................................50 CAPÍTULO II Figura 1 - Mapa dos pontos de coleta dos sedimentos................................................64 Figura 2 – Parâmetros físico-químicos do ambiente e precipitação no ano de 2011 ............................................................................................................................67 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Fontes antropogênicas dos metais .............................................................12 Tabela 2 – População residente acerca do estuário ....................................................20 Tabela 3 – Coordenadas dos pontos de coleta dos sedimentos ..................................23 CAPÍTULO I Tabela 1 – Concentração de metais nos sedimentos ...................................................49 Tabela 2 – Comparativo com estudos realizados nos sedimentos dos rios que compõem o estuário do Rio Potengi ......................................................................51 Tabela 3 – Metais em sedimentos: comparação com estudos realizados no Brasil e no mundo ..........................................................................................................52 Tabela 4 – Teor dos metais no caranguejo Uçá Ucides cordatus ...............................54 Tabela 5 – Teor de metais em outros bioindicadores mg de metal/100g da amostra ...........................................................................................................................55 CAPÍTULO II Tabela 1 – Parâmetros físico-químicos ........................................................................66 Tabela 2 – Sobrevivência e teste ecotoxicológicos dos sedimentos com Leptocheirus plumulosus ...............................................................................................66 LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS AAS-CHAMA: Espectrofotometria de Absorção Atômica-CHAMA ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas Al: Alumínio ANVISA: Agencia Nacional de Vigilância Sanitária As: Arsênio Cd: Cádmio CETESB: Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental CIA: Centro Industrial Avançado CONAMA: Conselho Nacional de Meio Ambiente Cr: Cromo Cu: Cobre DIN: Distrito Industrial de Natal ECOTOX/Lab: Laboratório de Ecotoxicologia/RN Fe: Ferro HCl: Ácido Clorídrico IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICP-AES: Espectrometria de emissão atômica - plasma por acoplamento induzido. ICP-OES: Espectrometria de emissão ótica - plasma por acoplamento induzido. IDEMA/RN: Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do RN. IFRN: Instituto Federal do Rio Grande do Norte IGeo: Índice de Geoacumulação LAB-GEOQUÍMICA: Laboratório de Geoquímica LAQUANAP: Laboratório de Química Analítica Aplicada MO: Matéria Orgânica MPS: Material Particulado em Suspensão Ni: Níquel OD: Oxigênio Dissolvido Pb: Chumbo pH: Potencial Hidrogeniônico UFRN: Universidade Federal do Rio Grande do Norte Zn: Zinco SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO GERAL ..........................................................................................12 2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ...................................................19 3. METODOLOGIA GERAL ......................................................................................23 3.1 Parâmetros Físico-Químicos ...................................................................................23 3.2 Preparo das amostras de sedimento......................................................................24 3.2.1 Ataque ácido fraco ...............................................................................................25 3.3 Preparo das amostras do Caranguejo Uçá para análise dos metais ...................26 3.4 Testes ecotoxicológicos ............................................................................................30 3.4.1 Análise estatística..................................................................................................32 4. REFERÊNCIAS ........................................................................................................33 5. CAPITULO I- CONTAMINAÇÃO POR METAIS PESADOS NO SEDIMENTO E NO CARANGUEJO-UÇÁ, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763), DO ESTUÁRIO DOS RIOS JUNDIAÍ E POTENGI, RN/BRASIL .........................................................39 1 Introdução ...................................................................................................................40 2 Procedimentos Metodológicos ...................................................................................43 2.1 Amostragem .............................................................................................................43 2.2 Parâmetros Físico-Químicos ...................................................................................44 2.3 Preparo das amostras de sedimentos .....................................................................44 2.4 Preparo das amostras do Caranguejo Uçá ............................................................45 3 Resultados e discussões ..............................................................................................46 3. 1 Parâmetros Físico-Químicos ..................................................................................46 3. 2 Metais em sedimentos.............................................................................................48 3. 3 Metais no Caranguejo ............................................................................................53 3. 4 Metais nos sedimentos e nos Caranguejos ............................................................55 4 Conclusões ...................................................................................................................56 Referências .....................................................................................................................57 6 CAPITULO II - ECOTOXICOLOGIA DE SEDIMENTOS DO ESTUÁRIO DOS RIOS JUNDIAÍ E POTENGI: ENSAIOS COM O MICROCRUSTÁCEO Leptocheirus ..........................................................................61 1 Resumo ........................................................................................................................62 1 Introdução ...................................................................................................................63 2 Metodologia .................................................................................................................64 3 Resultados ..................................................................................................................66 4 Discussão .....................................................................................................................68 5 Conclusão ....................................................................................................................70 Referências .....................................................................................................................70 7. Considerações finais ..................................................................................................73 8 Anexos ..........................................................................................................................75 8.1 Anexo I: Autorização para atividades com finalidade científicaSISBIO I .........................................................................................................................75 9 Apêndice .....................................................................................................................77 9.1 Apêndice I: Validade dos testes ecotoxicológicos .................................................77 12 1. INTRODUÇÃO GERAL O crescimento acelerado da população no planeta gerou um aumento no consumo de materiais, o que muitas vezes resultou na má utilização dos recursos naturais empregados na produção de bens de consumo para uma sociedade cada vez mais capitalista. Esse processo tem resultado na geração de uma grande quantidade de poluentes, que por muitas vezes estão acima da capacidade de suporte dos ecossistemas que os recebem. A partir da revolução industrial, a velocidade de produção de rejeitos da sociedade, o avanço da urbanização e a força poluidora das atividades industriais superaram em muito a capacidade regenerativa dos ecossistemas e a reciclagem dos recursos naturais renováveis, exaurindo os demais recursos naturais e não renováveis (TOYNBEE, 1982). Os rios urbanos são os que mais sofrem agressões, através do lançamento de esgotos “in natura” ou mesmo servindo como área de deposição de lixo de naturezas diversas, tais como doméstico, hospitalar e/ou industrial (TUCCI, 1994). Áreas altamente urbanizadas são afetadas pela liberação antrópica difusa de hidrocarbonetos, produtos da combustão e das águas residuais para o meio ambiente. Tais processos são espelhados em alterações nas concentrações de metais pesados em sedimentos de rio e mar (SINDERN et al. 2007). Os metais podem ser inseridos no ambiente por diferentes fontes antrópicas (Tabela 1) Tabela 1: Fontes Antropogênicas de metais. METAIS FONTES ANTROPOGÊNICAS Alumínio (Al) Efluentes industriais1. Arsênio (As) Mineração, Pesticidas e queima de carvão rico em As2. Cádmio (Cd) Baterias, pigmentos, ligas, PVC, fertilizantes fosfatados, combustíveis fósseis3. Chumbo (Pb) Efluentes industriais, tintas, baterias, tubulações4. Cobre (Cu) Fertilizantes, inseticidas, tinta antiincrustante, desinfetantes5. Cromo (Cr) Curtumes, lixo urbano e industrial, galvanoplastia, incineração de lixo, cimento, lâmpadas, fertilizantes6. Ferro (Fe) Fertilizantes e efluentes de esgotos7. Níquel (Ni) Queima de combustíveis fósseis, galvanoplastia, mineração e fundição do metal9. Zinco (Zn) Agrotóxicos, combustíveis fósseis, incineração de lixo, resíduos domésticos, fertilizantes10. PEREIRA et al. (2007)1; PATACA et al. (2005)2; CARDOSO (2001)3; CETESB (2004)4; PEDROZO (2001)5; SILVA (2001)6; LIMA (2001)7 ; IDEMA (2011)9; SOUZA (2006)10 13 A poluição aquática por metais pesados é uma das formas mais prejudiciais de poluição que, por sua vez, resulta em graves problemas ambientais, pois esses elementos não são degradáveis, são extremamente tóxicos e cumulativos em organismos vivos (bioacumulação); as conseqüências podem ir desde a intoxicação e envenenamento da biota até a dizimação de seres vivos (RAMÍREZ et al., 1987). De um modo geral o termo é aplicado ao grupo dos metais com densidade atômica maior que 5,0 g/cm3 (LAPEDES, 1974). São geralmente tóxicos aos organismos vivos, sendo, portanto, considerados poluentes. Dada a baixa concentração em meios ambientais são conhecidos freqüentemente como metais traço ou elementos traço (BAIRD, 1998 apud GUEDES et al., 2005). No que se refere à abundância de elementos químicos em rochas, sedimentos e minerais, distinguem-se os elementos maiores com aqueles que apresentam concentrações maiores do que 1,0%, elementos menores com concentrações entre 0,1 e 1,0% e elementos traços com concentrações menores que 0,1%. Deve-se ressaltar que o mesmo elemento pode ser elemento maior em um tipo de amostra, mas elemento traço em outra (GILL, 1997). De acordo com sua toxicidade os metais podem ser classificados em metais não críticos quando são considerados essenciais à vida como o Fe e o Ca; tóxicos muito insolúveis quando tem alta toxicidade mas estão geodisponíveis na natureza apenas em pequenas quantidades como Ru e o Ba; e em metais muito tóxicos e relativamente acessíveis, pois são altamente tóxicos e são facilmente encontrados na natureza como Cu, Pb, Zn e o Cd (WOOD apud CARAPETO, 1999). Cabe salientar que dentre os metais abordados neste estudo o Cu, Ni, Cr e o Zn também são considerados essenciais a funções fisiológicas e bioquímicas, porém em altas concentrações passam a ser tóxicos; já o Pb, e o Cd não têm apresentado ação fisiológica essencial a manutenção da vida mas têm apresentado, mesmo em pequenas quantidades ação tóxica para os sistemas biológicos incluindo o homem (CAMPBELL, 1998; AMIARD et al. 1987; RAINBOW, 1996; SILVA & PRADO-FILHO, 1998). De acordo com Tatsch et al. (2010), apesar do alumínio não ser considerado um metal pesado, recentemente foi constatado atividade tóxica como cólicas e distúrbios gastrintestinais até fibralgias e cansaço crônico quando este elemento é ingerido em altas concentrações. O arsênio elementar não é tóxico, mas é rapidamente convertido a produtos tóxicos pelo organismo humano. A maior parte dos compostos contendo arsênio, sejam eles orgânicos ou inorgânicos, penta- ou trivalentes, acabam sendo convertidos pelo organismo ao trióxido 14 de arsênio, o qual reage muito rapidamente com os grupos sulfidrilas (-SH) de proteínas, inibindo a ação enzimática e bloqueando a respiração da célula (TSALEV & ZAPRIANOV, 1985 apud PATACA et al., 2005). O cádmio causou envenenamento em moradores da região de Toyama, no Japão, em 1947, quando estes utilizaram as águas do rio Jintsu que recebia os despejos e resíduos de uma fundição de Zn-Pb; os contaminados apresentavam sintomas de fortes dores nas pernas e costas, e com a evolução do quadro clínico para múltiplas fraturas no esqueleto, caracterizando assim a osteomalácia (mineralização inadequada da matriz óssea) e a osteoporose excessiva, porém proporcional, redução do cálcio na matriz óssea (LARINI, 1987; OGA, 1996). Sais solúveis de ferro são irritantes para a pele e para o trato respiratório quando inalados na forma de poeiras e misturas; irritação do trato gastrointestinal também ocorre quando os sais são ingeridos (NIOSH, 1996). De acordo com LIMA (2001), o risco a saúde decorrente da deficiência de ferro é superior ao decorrente da exposição excessiva. O chumbo interfere em funções celulares, principalmente através da formação de complexos com ligantes que contenham os elementos S, P, N e O; o sistema nervoso, a medula óssea e os rins são considerados críticos para o Pb, devido à desmielinização e à degeneração dos axônios, prejudicando funções psicomotoras e neuromusculares, tendo como efeitos: irritabilidade, cefaléia, alucinações; interfere em várias fases da biossíntese do heme, contribuindo para o aparecimento de anemia sideroblástica (SILVA e MORAES, 1987); altera os processos genéticos ou cromossômicos, inibindo reparo de DNA e agindo como iniciador e promotor na formação de câncer (LARINI, 1987; NRIAGU, 1988; OGA, 1996). O níquel também é um elemento carcinógeno às vias respiratórias Têm sido demonstrado durante 40 anos que a exposição ocupacional ao Ni predispõe o homem ao câncer de pulmão, da laringe e nasal (CASARETT e DOULL'S, 1996). Para o cromo apenas as formas trivalente Cr3+ e hexavalente Cr6+ são consideradas de importância biológica (WHO, 1998), pois o cromo na forma trivalente é essencial ao metabolismo humano, onde suas principais funções são: potencializar os efeitos da insulina, e através desta alterar o metabolismo da glicose, aminoácidos e lipídeos ajudando a controlar a diabetes; atuar na síntese de serotonina, já sua carência causa doenças como hipercolesterolemia, insuficiência renal, choque circulatório, diabetes e inflamação e necrose da pele e vias aéreas superiores; por sua vez a forma hexavalente é tóxica e cancerígena e pode causar lesão renal e hepática. 15 A toxicidade pelo zinco é rara, ocorre geralmente quando ingerido acima de 100 a 300 mg/dia. Nesta eventualidade poderá causar alterações na absorção do cobre, além de provocar distúrbios gastrointestinais como náuseas, vômitos, gosto metálico e dores abdominais (OLIVEIRA, 1999) A qualidade das águas estuarinas tem sido monitorada para metais pesados através de análises de metais no sedimento, em biomonitores e no material particulado em suspensão MPS (GARLIPP, 2008). Em qualquer parte do ciclo hidrológico menos de 0,1 % desses contaminantes estão dissolvidos na água, e mais de 99,9 % são armazenados nos sedimentos e nos solos (SALOMONS, 1998). Após a entrada dos metais nas drenagens, estes podem se associar ao material particulado em suspensão e posteriormente se unir aos sedimentos de fundo dos rios. Por isso, os sedimentos de fundo do canal de drenagem dos rios desempenham papel importante na avaliação de sua poluição, pois refletem parte dos fenômenos que ocorrem nos compartimentos água e material particulado (LIMA et al., 2006). A Resolução CONAMA 344/04 no artigo 7, inciso III ressalta a necessidade da avaliação ecotoxicológica dos sedimentos através do seguinte texto: “o material cuja concentração de mercúrio, cádmio, chumbo ou arsênio, ou PAHs do grupo A, estiver entre os níveis 1 e 2, ou se a somatória das concentrações de todos os PAHs estiver acima do valor correspondente a soma de PAHs, deverá ser submetido a ensaios ecotoxicológicos”, contribuindo com as análises físico-químicas, de metais pesados e microbiológicas. De acordo com Blaise (1984) a ecotoxicologia é o estudo dos efeitos de uma ou mais substâncias a uma população ou comunidade de organismos. A ecotoxicologia comporta aspectos fundamentais de outras disciplinas e também um vaso campo de aplicação. Assim, a ecotoxicologia permite avaliar os danos ocorridos nos diversos ecossistemas após contaminação e também prever impactos futuros, quando da comercialização de produtos químicos e/ou lançamentos de despejos num determinado ambiente. Para tanto, esta ciência exige uma boa compreensão das noções fundamentais de ecologia, biologia, química, bioquímica, fisiologia, estatística, oceanografia, limnologia, dentre outras (ZAGATTO, 2008) Segundo Laitano & Resgalla (2002) os estudos ecotoxicológicos com sedimentos também têm fornecido subsídios básicos para obras costeiras e análises ambientais no mundo e no Brasil. Para isso são utilizados diferentes tipos de bioindicadores como amphipodas, bivalvos, oligochaetas e tanaidaceos. Os testes de toxicidade permitem avaliar efeitos interativos de misturas complexas presentes no sedimento sobre os organismos aquáticos. 16 Esses testes medem, portanto, os efeitos tóxicos das frações biodisponíveis presentes no sedimento em condições controladas no laboratório ou através de testes em campo (ARAÚJO et al., 2008). A fração biodisponível é definida como a fração da concentração total de metais em cada reservatório abiótico que é ingerida pelos organismos (MASUTTI et al. 2002) Outra forma importante de monitoramento da qualidade da água é a análise da contaminação por metais pesados em biomonitores, pois alguns organismos marinhos possuem a capacidade de concentrar metais pesados podendo atingir concentrações muito superiores às concentrações encontradas na água, sendo por isso responsáveis por grande parte da dinâmica destes poluentes no ambiente marinho (BRITO et al., 2008). A presença de metais pesados em peixes, crustáceos e ostras está associada a riscos em relação à saúde pública, porque estes contaminantes podem acumular-se nos homens se estes organismos forem consumidos (JONES et al., 2000). De acordo com Buratini & Brandelli (2008) a bioacumulação é o termo mais genérico, que designa o processo em que substâncias químicas provenientes do ambiente são assimiladas e retidas pelos organismos. Já a bioconcentração ou bioacumulação direta é o termo mais específico, designando a acumulação de compostos químicos exclusivamente a partir da fase aquosa, embora seja bastante heterogênea, com possibilidade de o composto estar associado ao material orgânico dissolvido, coloidal ou particulado. A biomagnificação ou bioacumulação indireta corresponde ao processo através do qual os contaminantes são transferidos de um nível trófico a outro, exibindo concentrações crescentes à medida que passam os níveis mais elevados. A concentração dos metais acumulados em biomonitores, se bem pesquisada, fornece uma medida integrada do montante de metais biodisponíveis em um dado habitat ao longo do tempo. A fração biodisponível é realmente a única parte do metal total presente que é ecologicamente relevante. Os biomonitores, portanto, fornecem uma medida mais fidedigna do status de poluentes tóxicos de metal de um habitat aquático, do que as medidas de concentrações dos metais nas águas ou sedimentos locais (PHILLIPS & ARCO-ÍRIS, 1994; RAINBOW, 1995 apud SILVA et al.,2003). A crescente industrialização e as altas densidades demográficas nas regiões ao longo da costa do Brasil oferecem grande potencial de contaminação destes ecossistemas por metais traços tóxicos. Os sistemas costeiros de mangue no Estado do Rio Grande do Norte no nordeste-Brasil, por exemplo, encontram-se neste contexto, e é importante que os dados gerados auxiliem no desenvolvimento de programas de gestão mais incisivos nesses habitats 17 costeiros produtivos, sendo necessário monitorar e, se necessário, controlar a descarga de contaminantes marginais (SILVA et al., 2003). Os estuários são importantes ecossistemas para a reprodução de varias espécies de crustáceos, peixes e bivalves, além de se constituírem fonte de renda para diversas comunidades. Para as populações ribeirinhas, mais do que fonte de renda, os estuários fazem parte de seu modo de vida. Nas áreas urbanas prestam serviço ambiental importante, como por exemplo, a renovação de estoques pesqueiros e diluição de efluentes. Diante da importância dos problemas enfrentados pelos estuários do Brasil e em especial o dos Rios Jundiaí/Potengi, vários trabalhos foram desenvolvidos no intuito de caracterizar o estado da contaminação por metais pesados nos sedimentos e na água deste corpo hídrico (GUEDES, 2003; GUEDES et al., 2005; LIMA et al. 2006; SINDERN et al. 2007; LIRA, 2008; OSKIERSKI et al., 2009; DANTAS, 2009; MEDEIROS, 2009). Muitos destes estudos diagnosticaram níveis de metais pesados acima do permitido pela legislação vigente. Também foram realizados estudos acerca da bioacumulação dos elementos traços em diversos bioindicadores como: ostras Crassostrea rhizophorae (MELO, 2004), Crassostrea rhizophorae, Anomalocardia brasiliana, Rhizophora mangle leaves, Mytella charruana, Phacoides pectinata, Anadara ovalis (SILVA, 2006); tainha Mugil brasiliensis (VIEIRA, 2007); mexilhão Anomalocardia brasiliana (EMERENCIANO et al., 2008); e no Sururu Mytella falcata (BRITO et al., 2008). Em alguns casos foram encontrados teores de metais acima do permitido pela legislação (MELO, 2004; EMERENCIANO et al. 2008; VIEIRA, 2007). Estes dados são preocupantes, uma vez que, segundo LOPES (2010) os pescadores do Rio Jundiaí consumem de dois a três dias em média por semana peixes, crustáceos e moluscos coletados no rio. O caranguejo Uçá (Ucides cordatus) é uma importante espécie para esse ecossistema e para as populações ribeirinhas que o utilizam como fonte de renda e alimentação, sendo também muito apreciado no estado do Rio Grande do Norte como um prato da cozinha regional nordestina. Cabe salientar que os caranguejos Ucides cordatus encontrados no estuário Jundiaí/Potengi ainda não foram alvo de estudos acerca da contaminação e bioacumulação dos metais pesados, apesar de no Brasil alguns autores apontarem essa espécie como um importante bioindicador da contaminação por metais pesados (HARRIS, 2000; VILHENA et al. 2003). O caranguejo-uçá, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) é uma espécie de caranguejo (Decapoda: Brachyura) pertencente à família Ocypodidae e à subfamília Ocypodinae (MELO, 18 1996). É espécie onívora-dentritívora que se alimenta na natureza predominantemente de restos de vegetais superiores e de detritos (BOND-BUCKUP, 1991). Possui grande porte, e sua coloração varia do azul-celeste ao marrom-escuro, conforme a época do ano e o tempo que permanece com o exoesqueleto. Suas patas possuem coloração lilás ou roxa. É um crustáceo de hábito noturno e onívoro (ARAÚJO & CALADO, 2008). Durante sua alimentação estes crustáceos podem ingerir os metais pesados que se encontrem no sedimento do ambiente em que vivem ou serem contaminados durante o seu ciclo de muda (ecdise). Frente a esse cenário, este trabalho tem como hipótese que, assim como em outros bioindicadores, os metais pesados também sofrem bioacumulação nos caranguejos Uçá. A hipótese secundária é que o exoesqueleto age como depósito para esses contaminantes bem como mecanismo de eliminação. Para conseguir corroborar essas hipóteses foi realizada a avaliação da contaminação por metais pesados nos sedimentos, no exoesqueleto e na carne do caranguejo Ucides cordatus, comparando posteriormente os teores desses metais encontrados nos sedimentos com os encontrados nas partes componentes do bioindicador. No que se refere às analises ecotoxicológicas, Silva-Nicodemo (2010) avaliou a toxicidade dos efluentes lançados no estuário do Rio Potengi através de ensaios ecotoxicológicos com organismos teste, Mysidopsis juniae, concluindo que a maioria dos efluentes se mostraram tóxicos quanto à sobrevivência e fecundidade do organismo teste, sendo os mais tóxicos o efluente da ETE Lagoa Aerada, ETE Quintas, Hospital Giselda Trigueiro, CLAN e COTEMINAS. Com relação às amostras de corpos receptores de efluentes (Canal do Baldo, Riacho das Lavadeiras e Macaíba), em todas elas a mortalidade foi total após 24 horas do início dos testes, tendo sido todas, portanto, consideradas “Tóxicas”. Embora a pesquisa de Silva-Nicodemo (2010) tenha investigado a toxicidade dos efluentes lançados no estuário, a autora não avaliou a toxicidade do ambiente em si; por esta razão, o presente trabalho apresenta resultados de testes ecotoxicológicos com o crustáceo Leptocheirus plumulosus (Amphipoda, Corophiidae), realizados com o objetivo de avaliar a toxicidade dos sedimentos aos organismos aquáticos. Os anfípodos são excelentes para uso como organismo-teste, sendo normalmente recomendados e utilizados em testes de toxicidade total aguda de amostras de sedimento de ambientes marinhos e estuarinos (ASTM, 1997; GOMÉZ & PÁEZ, 1987 apud CESAR et al., 2002). 19 2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO O estuário do Potengi estende-se por cerca de 25 km com uma largura que varia entre 400 e 600 m, e é formado pelas águas dos Rios Potengi, Jundiaí e Doce (SILVA et al., 2006). A bacia do Rio Potengi ocupa uma superfície de 4.093 Km2 correspondendo a cerca de 8 % do território estadual, desaguando na cidade de Natal. O Rio Potengi forma uma planície flúvio-marinha, transformando-se em planície fluvial à montante. Possui uma vazão média de 2,6 m3/s, apresenta 14,4 Km2 de área de manguezal (SERHID, 1998). Tem suas nascentes na Serra de Santana no município de Cerro Corá e outras serras distribuídas nos municípios de Currais Novos, Campo Redondo e São Tomé na localidade denominada de São Boa Ventura. Seus afluentes mais importantes da margem esquerda são constituídos pelos rios Pedra Preta, Pedra Branca, Guajirú e Jaguaribe. Na margem direita temos o Rio Jundiaí, Guarapes e o Riacho do Salgado (NUNES, 2006). O Rio Jundiaí tem uma influência independente, com menor descarga e é mais influenciado pelas marés, cujos efeitos são observados até a cidade de Macaíba, a 30 km da boca do estuário (SILVA et al., 2006). A bacia do Rio Doce ocupa uma superfície de 387,8 Km2, corresponde a 0,7 % do território estadual. Esta pequena bacia apresenta relevo de dunas móveis e fixas pertencentes à unidade geomorfológica da Faixa Litorânea. O relevo é tabular dos Tabuleiros costeiros na parte da bacia central, e do Planalto da Borborema no seu extremo oeste (SERHID, 1998). A bacia é composta por dois rios que são responsáveis pelo abastecimento da Lagoa de Extremoz. O Rio Guajirú que tem suas nascentes, nos municípios de Ielmo Marinho e São Gonçalo do Amarante desaguando na lagoa de Extremoz. O Rio Mudo tem suas nascentes nos municípios de Taipú e Ielmo Marinho, drenando suas águas no município de Ceará-Mirim, que também deságua na lagoa do Município de Extremoz. A partir da desembocadura da Lagoa de Extremoz, surge o Rio Doce que no seu curso divide os territórios de Extremoz e Natal, indo desaguar no estuário do Rio Potengi (NUNES, 2006). O Rio Doce é a menor entrada de água doce para o estuário do Potengi com uma descarga de aproximadamente 2m3/s. A temperatura da água varia 26,5-29,0ºC ao longo do ano (SILVA et al., 2006). A predominância do regime de enchente e vazante, que faz com que o estuário fique sempre dominado pelas águas oceânicas, promove um aumento na salinidade das águas do estuário Jundiaí-Potengi. Esta influência é mais pronunciada, principalmente, nos pontos mais próximos da foz do Rio Potengi (IDEMA, 2009). Devido a essa salinidade as águas do 20 estuário Jundiaí/Potengi não são utilizadas para abastecimento humano; porém, são de grande importância para a preservação de espécies, carcinicultura e diluição de efluentes. O estuário dos Rios Potengi e Jundiaí, apesar de sua grande importância, sofre diariamente por ser um ambiente de transição entre o continente e o oceano, e por apresentar, nas suas proximidades, uma intensa densidade humana. Por isso, as conseqüências ambientais de impactos antropogênicos costumam ser mais graves nestes, que em outros ambientes aquáticos (IDEMA, 2009). De acordo com Guedes et al. (2005) os problemas ambientais oriundos da ocupação e crescimento de forma horizontal agravam-se com o lançamento in natura de esgotos domésticos e da indústria têxtil, além de lixo urbano e matadouros clandestinos. Esse ecossistema ainda recebe forte influência antrópica de aproximadamente um milhão de pessoas (IBGE, 2010) que residem nos municípios de Natal, Macaíba, Extremoz e São Gonçalo do Amarante (Tabela 2). Tabela 2: População residente acerca do estuário. MUNICÍPIO POPULAÇÃO NATAL 785.722 MACAÍBA 66.808 SÃO GONÇALO DO AMARANTE 86.151 EXTREMOZ 23.931 TOTAL 962, 612 FONTE: IBGE (2010). As influências antrópicas citadas afetam a dinâmica do ecossistema inclusive a quantidade de metais no ambiente. Com base no exposto, o presente trabalho realizou a avaliação da contaminação por metais pesados no sedimento e em caranguejos coletados em uma área com cerca de 500 m no manguezal do Rio Jundiaí próximo a BR 226, próximo da Rua São Raimundo. Avaliou também a ecotoxicologia do sedimento coletado nos mesmos quatro pontos amostrados para a análise de metais pesados (Tabela 3), nas estações seca e chuvosa. Os pontos são distribuídos ao longo do Rio Jundiaí e do estuário do Rio Potengi (Figura 1,2 e 3). 21 Tabela 3: Coordenadas dos pontos de coleta dos sedimentos. Pontos Latitude Longitude Ponto 1 (Macaíba) 9352127, 87 m, S 240221, 88 m, O Ponto 2 (Macaíba) 9354442, 63 m, S 247485, 79 m, O Ponto 3 (Natal) 9360140, 45 m, S 251191, 25 m, O Ponto 4 (Natal) 9361880, 83 m, S 255893, 00 m, O Figura 1: Mapa dos pontos de amostragem. 22 A B C D Figura 2: (A) P1 - Rua José Baltazar na Cidade de Macaíba; (B) P2 -Próximo a ponte do Rio Guarapes, na estrada de Mangabeira; (C) P3 - Próximo a ponte de Igapó; (D) P4 - Próximo ao Canto do Mangue, Natal. 23 3. METODOLOGIA GERAL Para e realização deste estudo foram feitas coletas de sedimentos para a determinação da concentração dos metais bem como para os ensaios ecotoxicológicos; durante essas coletas também foi feita a medição dos parâmetros físico-químicos da água nos mesmos pontos; para a concentração do teor de metais no caranguejo Uçá, 50 crustáceos foram coletados numa área do manguezal do rio Jundiaí. Os procedimentos metodológicos encontram-se descritos a seguir. 3.1 Parâmetros Físico-Químicos da coluna d’água Os parâmetros físico-químicos da água (oxigênio dissolvido - OD, pH, cloreto, turbidez, condutividade e temperatura) foram determinados em campo utilizando Sonda Multiparâmetro TROLL 9500 (Figura 4), nos meses de janeiro (estação seca) e maio (estação chuvosa). As medidas foram realizadas durante a coleta do sedimento para a determinação dos metais. Foram feitas 7 leituras a cada 1 minuto, descartando a primeira e a última leituras. O resultado apresentado é a média das cinco leituras restantes; estes resultados foram comparados com os padrões estabelecidos para águas salobras classe I pela Resolução 357/05 - CONAMA. A B Figura 3: (A) Utilização da Sonda em Campo (Ponto 4 Canto do Mangue); (B) Destaque para a Sonda TROLL 9500. 24 3.2 Preparo das amostras de sedimento Fluxograma do preparo das amostras de sedimento COLETA DOS SEDIMENTOS SECAGEM PENEIRAMENTO ATAQUE ÁCIDO (HCl 0,5 mol/L; ou água régia) LEITURA DAS AMOSTRAS: AAS-CHAMA; ICP-OES; ICP-MS A descontaminação dos recipientes de vidro com capacidade de três litros, com tampas de plásticos rosqueadas, foi realizada no laboratório de Geoquímica do Departamento de Geologia da UFRN, antecedendo a amostragem. Utensílios de plástico foram utilizados na coleta para evitar a adição de metais. As amostras foram coletadas na margem direita, sempre na maré baixa, sendo em seguida levadas ao laboratório. No laboratório os sedimentos foram acondicionados em travessas de vidro e secos em estufa (Marca - TECNAL Modelo: TE393/2) a 60° C até a remoção de toda a umidade (Figura 5). As amostras foram desagregadas em almofariz de porcelana, sendo posteriormente quarteadas e separadas 25 granulometricamente em peneiras de aço inoxidável de 1 mm (16 TYLER/MESH); 0,150 mm (100 TYLER/MESH); 0,063 mm silte e argila (250 TYLER/MESH). A B Figura 4: Instrumentos utilizados no preparo das amostras; (A) Estufa para secagem do sedimento; (B) Peneirador automático. 3.2.1 Ataque ácido HCl. A fração passante das amostras em peneira com abertura de <0,063 mm foi colocada em Beckers de 50 ml e seca em estufa a 100° C por uma hora; após o resfriamento em dessecador até a temperatura ambiente, 1g de cada amostra foi pesado em Becker de 50 mL. Após a pesagem adicionou-se 5 mL de HCl 0,5 mol/L, agitando-se por 150 minutos. A parte sobrenadante foi transferida para um funil com papel filtro e escoada para provetas de 20 mL, completando-se o volume com HCl 0,5 mol/L. Os filtrados foram posteriormente transferidos para frascos de polietileno de 100 ml e mantendo-se sob refrigeração até ao momento da leitura (Figura 6). Para a leitura dos elementos Cd, Cu, Cr, Pb, Ni e Zn utilizou-se um espectrofotômetro de absorção atômica- com Chama, marca Varian, modelo 50B, do Laboratório do Núcleo de Análises de Águas, Alimentos e Efluentes do Instituto Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do Norte - IFRN, obedecendo a metodologia estabelecida pela APHA et al. (2005). Foram utilizados padrões QUIMILAB (rastreáveis) e Dinâmica. Os padrões secundários foram determinados de acordo com cada elemento (Cd 0,020 mg/L; Cu – 0,030 mg/L; Pb – 0,010 mg/L; Cr – 0,060 mg/L; Ni – 0,100 mg/L; Zn – 0,010 mg/L). Após a análise os resultados foram comparados com outros trabalhos. 26 A B Figura 5: (A) Capela do Laboratório de Geoquímica do Departamento de Geologia, com os suportes de filtro, filtros, provetas e béqueres utilizados no ataque ácido (HCl 0,5 mol/L) ; (B) Procedimento de filtragem da amostra. O sobrenadante é transferido para o filtro com o auxílio de um bastão de vidro. 3.3. Preparo das amostras do caranguejo Uçá para análise dos metais. Fluxograma do preparo das amostras do caranguejo uçá COLETA DETERMINAÇÃO DO PESO ÚMIDO E SECAGEM DAS AMOSTRAS LEITURA POR AASCHAMA TRITURAÇÃO E CALCINAÇÃO DAS AMOSTRAS ATAQUE ÁCIDO (HCl 10%) Cinquenta exemplares de Caranguejo uçá, Ucides cordatus, todos machos com 7 cm de carapaça, foram capturados em uma área localizada no manguezal do Rio Jundiaí, pelo método de braceamento, por um catador contratado por intermédio da colônia de pescadores Z-45 de Macaíba, com autorização do SISBIO Nº 29499-1 (Anexo 1). Em seguida os animais foram lavados com água do próprio rio, acondicionados em isopor com gelo para uma melhor 27 conservação e transportados ao laboratório de Geoquímica do Departamento de Geologia da UFRN. No laboratório as amostras foram lavadas com água abundante para remoção dos resíduos de sedimentos do mangue; em seguida a carne do exoesqueleto foi extraída com auxílio de martelo e colheres de plástico. A carne e o exoesqueleto dos caranguejos foram acondicionados em travessas de vidro separadas (previamente esterilizadas) e transportados ao Laboratório de Química Analítica Aplicada do Instituto de Química (LAQUANAPUFRN). Após a separação do material para a determinação do peso úmido, as amostras foram secas em estufa com ventilação (Marca: Químis, Modelo: Q-314M243) com temperatura constante a 105° C até a secagem total verificada pela obtenção do peso constante (Figura 7). B A Figura 6: (A) Caranguejo uçá, Ucides cordatus; (B) Secagem das amostras em estufa com ventilação. Para a determinação do peso úmido, 10 g de cada amostra foram colocadas em triplicata em cápsulas de porcelana (Marca: F. Maia Nº 4), esterilizadas e com peso previamente determinado em balança de precisão (Marca: TECNAL Modelo: MARK 210A). As amostras foram colocadas para a secagem em estufa com ventilação a 105º C (Marca: Químis, Modelo: Q-314M243); após 4 horas foram removidas, resfriadas em dessecador e pesadas, sendo novamente colocadas na estufa por mais 1 hora; este procedimento foi repetido até se obter peso constante. Ao final foi calculada a perda de umidade das amostras (Figura 8). 28 C B A Figura 7: (A) Pesagens das capsulas em balança de precisão da Marca Tecnal, Modelo MARK210A; (B) Estufa com ventilação Marca: Químis, Modelo: Q-314M243 para secagem das amostras dos caranguejos; (C) Amostra dos caranguejos em dessecador. Em seguida, as amostras secas foram trituradas em almofariz de porcelana com pistilo. Para utilização na calcinação, seis cadinhos de porcelana foram limpos com ácido nítrico e água destilada, posteriormente calcinados à temperatura e 550° C por 30 minutos. Após resfriamento, 10 g de cada amostra foram adicionadas aos cadinhos. O procedimento foi realizado em triplicata. A seguir as amostras foram carbonizadas por quatro horas (até a diminuição da liberação de fumaça) (Figura 9), sendo posteriormente calcinadas em Mufla (Marca:FDG Modelo:3P-S) por quatro horas, a temperatura de 550° C, resfriadas em dessecador e pesadas (Figura 10 (A)). O procedimento de calcinação, resfriamento em dessecador e pesagem foi repetido até as cinzas atingirem peso constante (totalizando 9 repetições). A B Figuras 8: (A) Trituração da amostra de caranguejo Uçá utilizando almofariz e gral de porcelana; (B) Descarbonização da amostra de caranguejo em cadinhos de porcelana. Para a abertura das amostras foi realizado o ataque ácido com HCl a 10%. Em cada cadinho com cinzas foi adicionado 10 mL de HCl a 10%. Após 20 minutos as amostras foram 29 filtradas com funil e papel filtro (descontaminado) para um balão de 100 mL; o resíduo contido no cadinho sofreu novo ataque ácido e filtragem; este procedimento repetiu-se até atingir-se a marca dos balões (Figura 10 (B)). As amostras foram transferidos para frascos de polietileno de 100 mL e refrigeradas até ao momento da leitura por AAS. A média dos resultados obtidos para os metais estudados foi comparada com os limites máximos permitidos pela legislação vigente (Portaria nº 685 da ANVISA e decreto nº 55.871 da ANVISA), e com os teores encontrados em outros bioindicadores estudados nesse mesmo estuário. A B Figura 9: (A) Mufla para calcinação das amostras de caranguejo; (B) Filtragem para balão de 100 ml da cinza das amostras de caranguejo submetidas ao ataque ácido. 30 3.4 Testes ecotoxicológicos. Fluxograma dos testes ecotoxicológicos COLETA DAS AMOSTRAS DE SEDIMENTOS DETERMINAÇÃO DA MATÉRIA ORGÂNICA PREPARO DAS AMOSTRAS DOS TESTES DE TOXICIDADE AGUDA (10 DIAS) CONTAGEM DO TESTE ANÁLISES ESTATÍSTICAS Os testes de toxicidade aguda dos sedimentos estuarinos foram realizados seguindo a Norma ABNT NBR 15638/2008 no Laboratório de Ecotoxicologia - ECOTOX do Departamento de Oceanografia e Limnologia da UFRN. Para isto foi utilizado o organismo teste Leptocheirus plumulosus (Figura 11). As coletas do sedimento para os testes foram realizadas durantes quatro meses (Julho, agosto, setembro e outubro). Para a determinação do teor de matéria orgânica, as amostras dos meses de julho e outubro foram secas em liofilizador; em seguida, 10 g de cada amostra foram colocadas em cadinhos e aquecidas em mufla por 6 horas a 400ºC, tendo sido ao final calculada a perda de matéria orgânica. Para os testes ecotoxicológicos foram utilizados anfípodos que ficaram retidos em peneira com malha de 0,5 mm após passarem por peneira de 0,7mm. O ensaio foi executado em recipientes de 1 L com cerca de 175 g de sedimento do estuário do rio Jundiaí/Potengi (frações maiores que 1 cm foram removidas manualmente). A espessura do sedimento no 31 recipiente deve ser de pelo menos dois centímetros. Adicionou-se 725 mL de água do mar filtrada, aerada e com salinidade corrigida para 20 %. Os recipientes receberam durante os ensaios iluminação uniforme e contínua (500 lux a 1000 lux) e aeração constante (Figura 12 (B)). Em cada recipiente foram adicionados, com auxílio de pipetas, 20 organismos escolhidos de forma aleatória. Para cada ponto foram feitas quatro réplicas dos testes e cinco réplicas do teste com o sedimento controle (o sedimento utilizado para o cultivo). Diariamente durante os testes em cada recipiente-teste foram verificados o fluxo de ar, a temperatura, a salinidade, o oxigênio dissolvido e o pH. Depois de dez dias o conteúdo de cada recipiente foi peneirado através de uma tela de 0,5 mm, para remover os organismos teste e verificar a taxa de mortalidade. A B Figura 10: Leptocheirus plumulosus (A) macho e (B) fêmea. A B Figura 11: (A) Aquários com o cultivo de Leptocheirus plumulosus no Laboratório de Ecotoxicologia - UFRN; (B) Recipientes dos testes com aeração e iluminação constante. 32 3.4.1 Análise estatística De acordo com a ABNT NBR 15638/2008 a validade dos testes pode ser medida pela sobrevivência média do teste controle, onde a aceitabilidade de sobrevivência média deve ser superior a 85%, e de cada replica ser superior a 80% (Apêndice I). Antes das análises estatísticas verificou-se a homocedasticidade (homogeneidade de variâncias) dos dados através do teste de Levene. Para os dados que não apresentaram homocedasticidade foi aplicada a transformação da raiz quadrada do arcoseno para que se tornassem homocedásticos (ABNT NBR 15638, 2008). As transformações foram realizadas através do software Microsoft Excel 2007. Os resultados foram tratados utilizando-se o teste “t” por bioequivalência e constante de bioequivalência (B=0,80). Os testes estatísticos foram realizados com o programa TOXSTAT, Versão 3.5 (1995). Após a análise estatística, as amostras foram classificadas como “tóxicas” ou “não tóxicas” em relação ao controle. 33 3. REFERÊNCIAS AMIARD, J. R.; AMIARD-TRIQUET, C.; BERTHET, C.; METAYER, C. Comparative study of the patterns of bioaccumulation of essential (Cu, Zn) and non-essential (Cd, Pb) trace metal in various estuarine and coastal organisms. Journal of experimental marine biology and ecology, Amsterdam, v. 106, p.73-89, 1987. APHA, AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATIONS, Standard methods for the examination of water and wastewater. 21th. 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Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências. Diário Oficial da União, nº 53, de 18 de março de 2005. Brasília, 2005, 58-63. Disponível em http://www.mma.gov.br/conama. Acesso em: 07/03/2011 34 BRASIL. Leis. Decretos etc. Decreto nº 55.871 de 26 de março de 1965. Modifica o decreto nº 500.40, de 24/01/1961. Referente a normas reguladoras do emprego de aditivos para alimentos, alterado pelo decreto nº 691 de 13/03/1962. D.O.U. - Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 1965. p.1-9. BRITO, G. Q.; MOURA, M. F. V.; CRUZ, A. M. F.; ARAÚJO, E. G.; VIEIRA, M. F. P. Avaliação de risco à saúde humana por exposição ao cobre, chumbo, cromo, zinco e cádmio presentes no sururu (Mytella falcata) coletados no estuário do Rio Potengi, Natal/RN. Química no Brasil. Campinas, v.2, n.2, p.57-62, 2008. BURATINI, S. V. & BRANDELLI, A. 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Cap. 8. p. 167-190. 40 CONTAMINAÇÃO POR METAIS PESADOS NO SEDIMENTO E NO CARANGUEJO-UÇÁ, Ucidescordatus (Linnaeus, 1763),DO ESTUÁRIO DOS RIOS JUNDIAÍ E POTENGI, RN/BRASIL Rejane Batista Lopes 1 INTRODUÇÃO No que se refere à abundância de elementos químicos em rochas, sedimentos e minerais, distingue-se os elementos maiores comoaqueles que apresentam concentrações maiores do que 1,0%, elementos menores com concentrações entre 0,1 e 1,0% e elementos traços com concentrações menores que 0,1%. Deve-se ressaltar que o mesmo elemento pode ser elemento maior em um tipo de amostra, mas elemento traço em outra (GILL, 1997). Metais pesados são aqueles que apresentam uma densidade igual ou superior a 5,0 g/cm3. Incluem-se, neste grupo, o Pb, Cd, Cr, Cu, Ni, Zn, dentre outros. Nas rochas da crosta terrestre, os metais pesados são encontrados em quantidades inferiores a 0,1% (RUDNICK; GAO, 2003), apresentando,consequentemente, baixa concentração nos sedimentos derivados daquelas. Por essa razão, os termos “elementos traços”e “metais pesados”são usualmente utilizados de forma indistinta. Pelo fato de os metais pesados estudados no presente trabalho (Pb, Cd, Cr, Cu, Ni, e Zn) serem elementos traços nas rochas da crosta terrestre, serão usados ao longo do texto como mesmo significado. Na costa brasileira, há relatos de contaminação por metais pesados em algumas regiões, como resultado das elevadas taxas de emissão por atividades industriais e urbanas concentradas nas bacias de drenagens e na região costeira desde a década de 1980 (MARINS et al, 2004). Uma vez inseridos no ambiente, os elementos traços são uma das principais fontes de poluição, visto que esses metais pesados têm efeito significativo na qualidade ecológica (SASTRE et al, 2002). Os sedimentos têm sido considerados como um compartimento de acumulação de espécies poluentes a partir da coluna d’água, devido às altas capacidades de sorção e acumulação associadas –em que as concentrações tornam-se várias ordens de grandeza maiores do que nas águas correspondentes –, possibilitando seu uso como um bom indicador de poluição ambiental (JESUS et al, 2004). Outra importante ferramenta de monitoramento da poluição ambiental é a avaliação da contaminação por metais pesados em bioindicadores, principalmente quando esses servem de importante fonte de alimento e renda para a população local. A avaliação dos níveis de metais pesados em alimentos consumidos localmente é o primeiro passo para a avaliação de riscos à população humana devido à contaminação ambiental por esses metais (NIENCHESKIet al, 2001). 41 De acordo com Plumleee Ziegler (2003),não existem efeitos à saúde associados à deficiência de cádmio, porém o excesso leva ao sofrimento do trato gastrointestinal, gastroenterite, lesões no fígado e rins, cardiomiopatia, acidose metabólica, irritação do trato nasofaríngeo, pneumonite, bronquite, lesões renais, osteoporose, osteomalacia. O cromo III é essencial, e a sua deficiência resulta em metabolismo da glucose, hiperlipidemia e opacidade da córnea; por sua vez, o excesso causa irritação e lesões na pele, trato respiratório e mucosa gástrica e intestinal, edema pulmonar, câncer,em exposição a longo prazo, e falência aguda dos rins; para o chumbo, não há efeito conhecido acerca de sua deficiência, porém o excesso causa encefalopatia crônica, insuficiência renal, hipertensão,anemia, doença renal e prejudica o desenvolvimento motor em crianças.Como efeitos na saúde associados à deficiência de cobre,são citados anemia e síndrome de Menkes; o excesso causa irritação e geração de lesões no corpo, no trato respiratório, gástrico e na mucosa intestinal, dermatites de contato, edema pulmonar, insuficiência renal aguda, ea longo prazo o risco de câncer de pulmão. O níquel também não apresenta efeitos associados à sua deficiência e o seu excesso leva à redução da capacidade pulmonar, bronquite crônica, enfisema, câncer de pulmão e cavidades nasais, náuseas, cólicas, diarreia, vômito, efeitos sobre o sangue, rins, fígado e neurológicos. A deficiência de zinco provoca anorexia, nanismo, anemia, hipogonadismo, hiperqueratose, acrodermatiteenteropática e resposta imune deprimida, enquanto que seu excesso leva à anemia hipercrônica e febre de fumo metálico. O estuário dos rios Jundiaí e Potengi recebe, além da influência do mar, as águas dos rios Jundiaí, Potengi e Doce. Esse estuário é berçário para diversas espécies de peixes, crustáceos e moluscos. Para a sociedade, é um meio de sobrevivência de muitas comunidades pesqueiras, servindo também para navegação, carcinicultura e recreação. Porém, apesar de sua importância, esse estuário sofre uma forte pressão antrópica de quase um milhão de habitantes (IBGE, 2010) dos municípios de São Gonçalo do Amarante, Extremoz, Macaíba e Natal. O desenvolvimento das cidades circunvizinhas ao estuário ocorre sem um planejamento adequado por parte do poder público, e essa falta de estrutura afeta não apenas a população, como também o meio ambiente. Cabe salientar que uma porção elevada dos efluentes produzidos por essas cidades é descartada sem prévio tratamento, ou com tratamento ineficiente, devido à carga de matéria orgânica descartada ser superior ao dimensionamento das estações de tratamento (ARAUJO; DUARTE, 2001; DUARTE; PEREIRA; CEBALLOS, 2000). De acordo com Lopes (2010), a comunidade de pescadores do rio Jundiaí consome peixes, crustáceos e moluscos coletados nesse rio de dois a três dias por semana, em média. O aporte de resíduos de fontes diversas para o ambiente estuarino e o consumo de alimentos 42 obtidos através da pesca artesanal podem comprometer a saúde, principalmente das comunidades ribeirinhas, uma vez que uma das formas de contaminação direta se dá através da ingestão de peixes e outros animais pescados para consumo humano. Vários trabalhosque envolvem a determinação de metais pesados em sedimentos foram desenvolvidos nos riosque são os principais contribuintes hídricos desse estuário (GUEDES, 2003; SINDERN et al, 2007; SOARES, 2006). Também foram realizados estudos investigando metais pesados embioindicadores, citando-se a ostra Crassostrearhizophorae (SILVA et al, 2001),Crassostrearhizophorae, Anomalocardia brasiliana, Rhizophoramangleleaves, Mytellacharruana, Phacoidespectinata, Anadaraovalis(SILVA; SMITH; RAINBOW, 2006), a tainha Mugilbrasiliensis(VIEIRA, 2007), o mexilhão Anomalocardia brasiliana(EMERENCIANOet al, 2008) e o sururu Mytellafalcata(BRITO et al, 2008). De acordo com Melo (1996),o caranguejo-uçá, Ucidescordatus(Linnaeus, 1763), é uma espécie de caranguejo(Decapoda: Brachyura) pertencente à família Ocypodidae e à subfamília Ocypodinae. Possui carapaça transversalmentesubelíptica, pouco mais larga do que longa,quelípodos desiguais em ambos os sexos, patas ambulatórias 2-4 com longas franjas de pelos sedosos; as fêmeas apresentam pelos reduzidos ou ausentes. Sua distribuição geográfica ocorre do Atlântico Ocidental da Flórida (EUA) até Santa Catarina (Brasil), onde habita ambientes pantanosos, entre raízes das árvores do mangue, em áreas de água salobra, e constrói galerias largas,sendo que, às vezes, ocupa galerias de outras espécies, como as do gênero Cardisoma, Uca e Goniopsis. Araújo e Calado (2008) acrescentam que esse caranguejo possui coloração que varia do azul-celeste ao marrom-escuro, conforme a época do ano e o tempo que permanece com o exoesqueleto. Suas patas possuem coloração lilás ou roxa. Diante deste contexto, o objetivo do presente trabalho é realizar a avaliação da concentração dos elementos Cd, Cu, Cr, Pb, Ni e Zn nos sedimentos coletados no estuário dos rios Jundiaí e Potengi, em duas estações do ano distintas, a seca e a chuvosa, investigando a concentração desses mesmos elementos químicos na carne do caranguejo-uçá (Ucidescordatus), uma espéciede hábito noturno, onívora e que vive enterrada nos sedimentos. O caranguejo-uçá, além de ser uma importante fonte de renda para diversas comunidades pesqueiras da região, é um alimento muito apreciado e consumido pela população. Tem-se conhecimento de apenas um estudo que apresenta resultados para metais pesados nesse caranguejo no Brasil, no Litoral do estado de São Paulo (HARRIS; SANTOS, 2000). Discute-se a diferença entre as concentrações de metais encontradas na carne do 43 crustáceo nesse estudo com outras espécies estudadas do mesmo estuário e no Brasil, além da relação entre os resultados para sedimentos e caranguejo. 2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O estuário do rio Potengi é formado pelas águas dos rios Potengi, Jundiaí e Doce.A bacia do rio Potengi ocupa uma superfície de 4.093 Km2,o que corresponde a cerca de 8% do território estadual, desaguando na cidade de Natal. Possui uma vazão média de 2,6 m3/s e apresenta 14,4 Km2 de área de manguezal (SERHID, 1998). O rio Jundiaí, componente da bacia hidrográfica do rio Potengi, é influenciado pelas marés,cujos efeitos são observados até a cidade de Macaíba, a qual dista cerca de 30 km da saída do estuário (Figura 1). A bacia hidrográfica do rio Doce ocupa uma área de 387,8 Km2,correspondendo a 0,7 % do território estadual (SERHID, 1998). Compreende a Lagoa de Extremoz e as sub-bacias dos rios do Mudo e Guajiru. O rio Doce recebe esse nome a partir de sua desembocadura da Lagoa de Extremoz e localiza-se aproximadamente no limite entre os municípios de Extremoz e Natal, desaguando no estuário do rio Potengi. A descarga de água do rio Doce para o estuário do Potengi é de, aproximadamente,4,7m3/s (SERHID, 1998). Devido à salinidade, as águas do estuário do rio Potengi não são utilizadas para o abastecimento humano; porém, esse estuário é importante para atividades como a pesca, carcinicultura e diluição de efluentes, além de sua importância ecológica para a preservação de várias espécies. 2.1 AMOSTRAGEM Para a realização deste estudo, os sedimentos foram coletados com utensílios de plástico em quatro pontos distribuídos ao longo do rio Jundiaí e do estuário do Potengi durante a estação seca (janeiro) e chuvosa (maio) do ano de 2011, sempre durante as marés de quadratura. O armazenamento foi feito em recipientes de vidro previamente descontaminados.A coleta dos caranguejos foi realizada em uma área de manguezal do rio Jundiaí, no mês de junho (chuvoso), pelo método do braceamento (coleta manual, quando o catador insere o braço na toca do caranguejo). A coleta dos sedimentos ocorreu em quatro pontos distribuídos pelo estuário: ponto 1 (P1) – próximo ao centro da cidade de Macaíba; ponto 2 (P2)– ponte próxima ao encontro do rio Jundiaí com o rio Guarapes; ponto 3 (P3) – ao lado da ponte de Igapó, em Natal; ponto 4 (P4) – Canto do Mangue, em Natal (Figura 1). 44 2.2 PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS Durante as coletas do sedimento, os parâmetros físico-químicos da água, como oxigênio dissolvido (OD), pH, cloreto, turbidez, condutividade e temperatura foram determinados em campo, utilizando Sonda Multiparâmetro TROLL 9500. Os resultados obtidos foram comparados com a RESOLUÇÃO CONAMA 357/05. 2.3 PREPARO DAS AMOSTRAS DE SEDIMENTOS No laboratório, as amostras de sedimentos foram acondicionadas em travessas de vidro e secas em estufa a 60° C; em seguida, foram desagregadas em almofariz de porcelana, quarteadas e separadas granulometricamente em peneiras de aço inoxidável de 1 mm; 0,150 mm; 0,063 mm. Da fração passante em 0,063 mm, as amostras foram colocadas em Beckers de 50 mL e levadas à estufa a 100° C por uma hora; após o resfriamento em dessecador, 1 g de cada amostra foi pesado em um Becker de 50 mL, com balança analítica marca AND, modelo HR-202. Em seguida, adicionou-se 5mL de HCl 0,5 mol/L, agitando-se por 150 minutos. A parte sobrenadante foi transferida para um funil com papel filtro e escoada para provetas de 20 mL, completando-se o volume com HCl 0,5 mol/L. Os filtrados foram, posteriormente, transferidos para frascos de polietileno de 100 mL e refrigerados até ao momento da leitura. Para tal, foi utilizado um espectrofotômetro de absorção atômica – CHAMA, marca Varian, modelo 50B, obedecendo à metodologia estabelecida pela APHA (2005). Figura 1 – Mapa da localização dos pontos de coleta. 45 2.4 PREPARO DAS AMOSTRAS DO CARANGUEJO-UÇÁ Cinquenta exemplares de caranguejo-uçá,Ucidescordatus,todos machos, com 7 cm delargura de carapaça (Figura 2), foram capturados em uma área localizada no manguezal do rio Jundiaí, com autorização do SISBIO (Nº 29499-1). Em seguida, os animais foram lavados com água do próprio rio, acondicionados em isopor com gelo, para uma melhor conservação, e transportados ao laboratório. Figura 2 – Caranguejo Ucidescordatus do rio Jundiaí No laboratório, as amostras foram lavadas com água abundante, para a remoção dos resíduos de sedimentos do mangue; em seguida, a carne foi removida do exoesqueleto com o auxílio de martelo e colheres de plástico.Para o presente estudo, foi utilizada a carne do músculo das patas do caranguejo, por ser usualmente mais apreciada e consumida pela população local. Para a determinação do peso úmido 10 g de cada amostra, foram colocadas em triplicatas em cápsulas de porcelana e postas para a secagem em estufa com ventilação, a 105ºC, esfriadas em dessecador e pesadas, até se obter peso constante. Após a secagem, 10 g de cada amostra em triplicata foram adicionadas aos cadinhos, sendo realizadas carbonização e calcinação em mufla. Para a abertura das amostras, foi realizado o ataque ácido com HCl 10 %; em cada cadinho com cinzas, foram adicionados 10 mL de HCl 10 %; após 20 minutos, as amostras foram filtradas em funil com papel-filtro para um balão de 100 mL, repetindo-se o procedimento até se completar o volume final dos balões. 46 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES Os resultados dos parâmetros físico-químicosem águaem pontos de amostragem localizados entre Macaíba e Natal, e dos elementos Cd, Cu, Pb, Cr, Ni e Zn adsorvidos na fração fina dos sedimentos (períodos seco e chuvoso) nos mesmos pontos, são apresentados, comparados e discutidos em 3.1e3.2,respectivamente. Os elementos químicos Cd, Cu, Pb, Cr, Ni e Zn dosados na carne da pata do caranguejo-uçá (em peso úmido) são mostrados noitem 3.3, avaliados à luz da legislação vigente, e comparados com dados obtidos na literatura para outros organismos (tainha, siri, sururu e mexilhão) neste mesmo estuário e para siris do rio Cubatão. As informações obtidas para metais adsorvidos na fração fina dos sedimentos na presente pesquisa, e em trabalhos anteriores na mesma área, permitem afirmar, dentre os metais estudados, quaisos estão associados a atividades humanas no entorno do estuário e evidenciar uma provável relação entre estes dados e os dos metais dosados no caranguejo-uçá (item 3.4). 3.1 PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS A média dos valores dos parâmetros físico-químicos em água obtidos em campo com a sonda Multiparamétricaé apresentadana Figura 3. Os valores de oxigênio dissolvido (Figura 3A) diminuem entre Macaíba e a ponte do Igapó, local que apresentou os mais baixos valores de OD nas estações seca e chuvosa, ficando abaixo do limite mínimo estabelecido pela resolução CONAMA, que é de 5mg/L para água salobra Classe 1. Vale salientar que esse ponto se encontra em um local muito populoso, sofrendo influência das atividades das áreas circunvizinhas e do aporte das águas dos rios Golandim e Potengi. Entre a ponte de Igapó e o Canto do Mangue, há um aumento nos valores de OD. 47 A B C D E F Figura 3 – Parâmetros físico-químicos estabelecidos em água nos pontos de amostragem. Período seco: losangos; período chuvoso: quadrados Observou-se aumento de pH, temperatura, cloreto e condutividade (Figura 3B, C, D e E) entre a cidade de Macaíba e a desembocadura do estuário, com exceção dos parâmetros cloreto e condutividade no período chuvoso, que são menores na ponte do Igapó. Para o pH, todos os pontos se apresentam dentro dos padrões estabelecidos para água salobras , Classe 1, da Resolução 357/05 (6,5-8,5), tanto na estação seca quanto na chuvosa. A turbidez é elevada 48 na ponte do Igapó (Figura 3F) quando comparada com os resultados encontrados para esse parâmetro na ponte dos Guarapes e no Canto do Mangue. Comparando-se as estações seca e chuvosa, verifica-se que o cloreto apresenta valores mais elevados no período de maior precipitação, enquanto que OD e temperatura são menores para o mesmo período. 3.2 METAIS EM SEDIMENTOS Após as leituras por AAS-CHAMA, os valores dos metais encontrados no sedimento encontram-se expressos na Tabela 1. Os teores dos metais pesados lixiviados a partir da fração fina dos sedimentos de fundo coletados na estação seca (de menor precipitação) foram iguais (Cd) ou maiores (Cu, Pb, Cr, Ni e Zn) que os teores dos sedimentos coletados nos mesmos pontos na estação chuvosa (Tabela 1). Observa-se que o ponto P4, na estação chuvosa, apresentou maior concentração de cádmio (1,2 mg/Kg).Cabe salientar que esse ponto de amostragem fica próximo ao porto da cidade de Natal, em uma área com muita influência antrópica, o que pode estar relacionado à presença de tal elemento no ambiente. Nos pontos P1 e P4, as concentrações do chumbo na estação seca apresentaram-se elevadas, destacando-se P1, em Macaíba, com um teor de 182 mg/Kg. As prováveis fontes de chumbo são as atividades antrópicas desenvolvidas na região, uma vez que as maiores concentrações foram encontradas nos pontos com alta densidade demográfica (P1 e P4) e intensa movimentação de embarcações (P4). Para o cobre, o ponto de amostragem da cidade de Macaíba (P1), na estação seca, apresentou o maior teor, seguido do teor do ponto 4. No que se refere ao zinco, destacam-se os pontos 4 (118 mg/Kg) e o ponto 1 (86 mg/Kg). Também foi possível observar que, para quase todos os elementos, as maiores concentrações foram encontradas nos pontos de amostragem mais próximos da zona urbana das cidades de Macaíba (P1) e Natal (P4). 49 Tabela 1 – Concentração de metais nos sedimentos (estação seca/estação chuvosa) do rio Jundiaí, estuário do rio Potengi, no ano de 2011 Sedimentos (mg/Kg) Metais Estação seca/estação chuvosa Ponto 1 Macaíba Ponto 2 Guarapes Cádmio 0,4 / 0,2 0,6 / 0,6 0,6 / 0,6 1,0 / 1,2 Cobre 36,8 / 9,0 8,8 / 7,2 5,2 / 5,2 20,6 / 8,8 Chumbo 182 / 28 26 / 30 28 / 24 52 / 44 Cromo 22,4 / 7,8 24 / 18,4 20,4 / 10,6 20,6 / 7,0 Níquel 10 / 8,0 12 / 6,0 12 / 6,0 16 / 8,0 Zinco 86 / 27,2 48 / 21,8 38 / 15 118 / 34 Ponto 3 Igapó Ponto 4 C. Mangue A Figura 4 mostra a comparação entre as concentrações dos metais analisados nos sedimentos nos períodos seco e chuvoso. Verifica-se, de maneira geral, que o teor dos metais analisados apresentou redução nas concentrações durante o período chuvoso (Figura4), exceto para o cádmio, cujo teor nos sedimentos se manteve constante em quase todos os pontos, apresentando um discreto aumento no Canto do Mangue. O chumbo,no Guarapes, apresentou aumento na estação chuvosa, que pode ter ocorrido pela entrada dos metais escoados com a chuva provenientes do P1 (mais a montante da cidade de Macaíba). Os resultados das concentrações dos metais nos sedimentos encontrados nesse estudo foram comparados com outros estudos realizados nos rios que compõem o estuário do rio Potengi (Tabela 2) e em outros rios e estuários do Brasil e do mundo (Tabela 3). As informações encontradas no rodapé da Tabela 2 permitem a comparação dos resultados obtidos no presente estudo com dados de pesquisas desenvolvidas por quase uma década nas principais drenagens da área do estuário (GUEDES, 2003; SINDERN et al, 2007;SOARES, 2006). Nos estudos anteriores, foram analisados sedimentos finos, submetidos à lixiviação por água régia (digestão ácida forte), enquanto que, neste trabalho, utilizou-se HCl 0,5M (digestão ácida fraca) para a remoção dos metais adsorvidos nas partículas da fração < 0,063 mm. 50 Figura 4 – Comparativo dos teores de metais em sedimentos na estação seca (losangos) e chuvosa (quadrados) Em uma comparação entre períodos de precipitações distintas, os teores máximos para Cu, Pb, Cr, Ni e Zn foram observados na estação seca. Isso pode estar relacionado às menores vazões nas drenagens que compõem o estuário em época de chuvas mais escassas. Teores máximos na estação seca para os elementos Pb, Cr, e Ni foram observados por Guedes (2003) no rio Jundiaí, nas adjacências da cidade de Macaíba (Tabela 2, linhas 1 e 2). 51 Tabela 2–Comparativo com estudos realizados nos sedimentos dos rios que compõem o estuário do Rio Potengi Cd Cu Pb Cr Ni Zn Min/Max Min/Max Min/Max Min/Max Min/Max Min/Max Rio Jundiaía <LD/0,5 12/52 16/91 37/85 24/113 24/141 Rio Jundiaíb <LD/<LD 13/61 14/48 46/82 23/49 20/143 Rio Potengic 0,01/0,10 1,6/28,4 1,67/19,7 7,2/30,0 3,8/15,4 6,7/76 Rio Doce d <LD/2,5 5,1/14,4 26,1/76,4 6,3/47,7 22,5/100,4 16,8/41,1 Este estudoe 0,4/1,0 5,2/36,8 26/182 20,4/24 10/16 38/118 Este estudof 0,2/1,2 5,0/9,0 24/44 7,0/18,4 6,0/8,0 15/34 Concentração dos metais em mg/Kg; <LD – Abaixo do limite de detecção; Min – valor mínimo encontrado; Max – valor máximo encontrado; (a) Rio Jundiaí (GUEDES, 2003), fração < 0,063 mm, água régia, ICP – Plasma Indutivamente Acoplado, período seco; (b) Rio Jundiaí (GUEDES, 2003), fração < 0,063 mm, água régia, ICP, período chuvoso; (c) Rio Potengi (SINDERN et al, 2007), sedimentos finos, água régia, AAS e ICP(Ni, Cr); (d) Rio Doce(SOARES, 2006), fração < 0,063 mm, água régia, AAS;(e) Fração < 0,063 mm, HCl 0.5M, AAS – Espectrometria de absorção atômica, período seco; (f) Fração < 0,063 mm, HCl 0.5M, AAS – Espectrometria de absorção atômica, período chuvoso. No presente estudo,foi encontrado, para o cádmio,um máximo de 1,2 mg/Kg no Canto do Mangue, valor superior aos resultados obtidos anteriormente, à exceção do trabalho de Soares (2006), que registrou um valor de Cd de 2,5 mg/Kg nos sedimentos de fundo do rio Doce. O Canto do Mangue fica próximo ao local no qual o rio Doce deságua no estuário. Destacam-se, entre fontes antropogênicas de cádmio, as descargas de efluentes industriais, principalmente as galvanoplastias, e produção de pigmentos, inseticidas, soldas de equipamentos eletrônicos, lubrificantes e fertilizantes fosfatados utilizados em áreas agrícolas. Quanto ao chumbo, o valor máximo de 182 mg/Kg obtido com ataque de ácido fracoevidencia um aumento nas concentrações desse elemento em relação às pesquisas anteriores na mesma área.Ressalte-se que o ponto de amostragem com teor mais elevado localiza-se na cidade de Macaíba, onde Guedes (2003) também identificou teor mais elevado de chumbo nos sedimentos. O cromo e o níquel são derivados de fontes geogênicas, dentre as quais os minerais máficos das rochas cristalinas expostas na bacia dos rios Jundiaí e Potengi são as fontes mais prováveis (SINDERN et al, 2007). 52 Tabela 3 –Metais em sedimentos: comparação com estudos realizados no Brasil e no mundo Cd Cu Pb Cr Ni Zn Min/Max Min/Max Min/Max Min/Max Min/Max Min/Max I. Vitoriaa NA/NA 5/660 5/292 35/280 6/245 27/812 Rio Bariguib ND/0.6 NA/NA 46/26 6,2/35,2 2,2/16,2 16/226 Rio Formosoc 0,01/1,2 0,05/12,8 0,08/25,99 0,15/64 0,05/12,02 0,21/13,0 E. Santosd ND/0,73 28/91 18/104 38/127 17/36 80/440 Rio Tecatee ND/5,24 NA/NA ND/28 1,62/12,71 ND/16,65 NA/NA E. Tamakif 0,04/0,5 14/113 35/80 NA/NA NA/NA 91/336 Macedôniag 1,1/3,3 19,5/27,6 6,5/20,5 NA/NA 35,4/232 42,5/95 Este estudo* 0,4/1,0 5,2/36,8 26/182 20,4/24 10/16 38/118 Este estudo** 0,2/1,2 5,0/9,0 24/44 7,0/18,4 6,0/8,0 15/34 Concentração dos metais em mg/Kg; NA – não analisado; ND – não detectado; Min – valor mínimo encontrado; Max – valor máximo encontrado; AAS – Espectrometria de absorção atômica; ICP – Plasma Indutivamente Acoplado; (a) estuário da Ilha de Vitória (JESUS et al, 2004), fração < 0,063 mm, HNO3+H2O2+HCl, AAS; (b) Rio Barigui (FROEHNER; MARTINS,2008), HNO3+H2O2, AAS; (c)Rio Formoso (BAGGIO; HORN,2010), fração < 0,063 mm, água régia; ICP; (d) Estuário Santos-Cubatão (LUIZ-SILVA, 2006), fração < 0,063 mm, HNO3+H2O2, ICP-AES; (e) Rio Tecate (WAKIDA et al, 2008), fração < 0,063 mm, água régia, AAS; (f) Estuário de Tamaki (ABRAHIM et al, 2007), fração < 0,063 mm, HNO3, AAS; (g) Water systems Macedônia(SAWIDIS et al, 1995), HNO3+HClO4, AAS. Quando comparado com outros estudos realizados no Brasil,o presente trabalho registrou valores de metais pesados em sedimentos bem inferiores em relação ao sistema estuarino da Ilha de Vitória, no Espírito Santo. Considerando a comparação com os valores de metais encontrado no Rio Barigui, na região metropolitana de Curitiba, os teores de chumbo e cádmio encontrados no estuário Jundiaí e Potengi foram superiores ao do rio paranaense. Em comparação com os valores encontrados no Rio Formoso-MG, que pertence à bacia do São Francisco, os maiores teores de Pb, Ni, Cu e Zn no estuário dos Rios Jundiaí e Potengi foram superiores ao do rio mineiro. Em comparação com estuário de Santos-Cubatão, em São Paulo, os teores de cádmio e chumbo encontrados neste estudo foram novamente superiores, enquanto as concentrações dos demais metais se apresentaram bem inferiores ao estuário paulista. No que se refere a investigações conduzidas em outras partes do mundo, a concentração de Pb e Cr no presente trabalho apresentou valor superior à concentração máxima encontrada no rio Tecate, no México. Quando comparado aos teores de metais do 53 estuário de Tamaki, na Nova Zelândia, o teor de cádmio e, mais uma vez, o chumbo encontrado no estuário dos rios Jundiaí e Potengi foram ambos superiores. Em relação ao estudo realizado no sistema aquático da Macedônia, os teores de Cu, Pb e Zn encontrados no estuário Jundiaí e Potengi foram superiores. Embora os níveis de zinco e cobre sejam inferiores a alguns dos estudos citados, suas concentrações já merecem atenção.Cabe destacar que as concentrações de cádmio e chumbo foram superiores até mesmo a ambientes mais impactados do Brasil e do mundo. 3.3 METAIS NO CARANGUEJO As concentrações encontradas na carne do caranguejo-uçá foram comparadas com os limites permitidos pela legislação (Tabela 4).Após as análises das triplicatas da carne do caranguejo por AAS-CHAMA, calculou-se as médias dos valores para cada metal na amostra in natura, bem como o desvio padrão das medidas para cada metal. Ou seja, os valores encontrados na Tabela 4 foram recalculados a partir do peso seco para o peso úmido da amostra (amostra in natura), com o objetivo de comparar esses valores com os da legislação para alimentos. O teor de umidade determinado para a carne do caranguejo foi de 76,3 % ± 0,16. Observa-se que os elementos que apresentaram maiores concentrações na carne do caranguejo foram o zinco (Zn), cobre (Cu) e o chumbo (Pb), enquanto que as menores concentrações identificadas foram do cádmio (Cd), cromo (Cr) e níquel (Ni). Para critério de comparação com as legislações brasileiras (Tabela 4), utilizou-se o Decreto 55.872/65, referente a normas reguladoras do emprego de aditivos para alimentos, e a Portaria 685/98, que trata dos “Princípios Gerais para o Estabelecimento de Níveis Máximos de Contaminantes Químicos em Alimentos", além do seu Anexo, "Limites Máximos de Tolerância para Contaminantes Inorgânicos”. Em comparação com a legislação, verifica-se que as concentrações dos metais chumbo, cromo e zinco encontradas neste estudo excederam o limite máximo permitido por ambas as legislações. Esses resultados apontam para uma provável relação entre os metais que são encontrados nos sedimentos (derivados de atividades antrópicas) e os metais encontrados no caranguejo. 54 Tabela 4 – Teor dos metais (média e desvio padrão) na carne da pata do caranguejo-uçá, Ucides cordatus,no rio Jundiaí, em peso úmido. Teor de umidade =76,3 % ± 0,16 Teor (mg/Kg) Decreto Nº 55.871/65 (mg/Kg) Portaria Nº685/98(mg/Kg) Cd Cu Pb Cr Ni 1,18 ± 0,00 (1,181,18) Zn 0,13± 0,01 (0,12-0,14) 10,65 ± 0,01 (10,6410,66) 3,87 ± 0,29 (3,55-4,27) 0,36 ± 0,01 (0,350,37) 1,00 30,0 2,00 0,10 5,00 50,00 1,00 NE 2,00 NE NE NE 68,72 ±2,71 (65,4072,04) NE – não estabelecido; em negrito, as concentrações que excederam os limites permitidos pelas legislações. A presença de metais pesados em peixes, crustáceos e ostras está associada a riscos em relação à saúde pública, porque tais contaminantes podem se acumular nos homens,caso esses organismos sejam consumidos (JONES; MERCURIO; OLIVIER, 2000). Embora se façam necessários estudos adicionais no que se refere à contribuição do consumo da carne de caranguejo na ingestão diária de metais pesados pela população, fica clara a importância para a saúde pública dos achados do presente estudo. Os resultados obtidos para a carne do caranguejo-uçá,Ucidescordatus,também foram comparados com valores obtidos para outros organismos estudados (Tabela 5) nesse mesmo estuário e no Brasil.Para o mesmo estuário, observa-se teor de Cd superior aos demais, uma vez que, nos outros organismos, esse metal não foi encontrado; cabe salientar que o sedimento do estuário apresentou concentrações elevadas de cádmio. Para o Pb, o valor encontrado também foi superior aos demais estudos. Em relação ao Cr, o teor encontrado no caranguejouçá foi inferior ao do sururu Mytellafalcata e da tainha Mugil brasiliensis coletada na praia da Redinha. O teor de Ni e Cu no crustáceo também apresentou valor superior em relação aos demais bioindicadores, com exceção da tainha M. brasiliensis coletada na praia da Redinha. As concentrações de zinco foram muito superiores aos demais bioindicadores estudados nesse estuário. De acordo com Rainbow (1996),os crustáceos decápodes têm a capacidade de regular a concentração interna de elementos essenciais, como Zn e Cu,apartir de quantidades crescentes no ambiente, empregando processos de desintoxicação fisiológica e bioquímica, como a formação de depósitos granulares e de proteínas ligadas aos metais. Tal fato pode justificar a o elevado teor de Zn na carne do caranguejo.Também foi possível observar que as concentrações de Zn e Pb no caranguejoU. cordatus foram superiores às encontradas no siris do gênero Callinectessp e nos siris Callinectessapidus estudados no estuário do Rio Cubatão. 55 Tabela 5 –Teores de metais em espécies de peixe(tainha), crustáceos (siri) e moluscos (sururu e mexilhão) no estuário dos rios Jundiaí e Potengi e em outros estuários do Brasil, comparados com os do presente trabalho. Concentrações dos metais dados em mg de metal/kg da amostra, em peso úmido Espécies Cd Cu Pb Cr Ni Zn M. brasiliensis (EP/R)a ND 12,1 0,05 2,14 2,07 7,74 M. brasiliensis (EP/I)b ND 2,58 1,32 0,08 0,20 12,15 M. falcatac ND 0,5 1,1 3,5 NA 7,0 M. falcatad ND 0,5 1,1 3,8 NA 7,4 A. brasilianae ND 1,7 1,0 0,5 0,7 14,1 Callinectessp.f 0,50 44,12 2,59 1,42 NA 34,0 Callinectessapidusg 0,22 18 1,06 0,82 NA 20 U. cordatus (este estudo) 0, 13 10,65 3,87 0,36 1,18 68,72 ND – não detectado; NA – não analisado; (a) Mugil brasiliensis (tainha)coletado na Redinha(VIEIRA, 2007) – peso úmido; (b) Mugil brasiliensis (tainha)coletado em Igapó(VIEIRA, 2007) – peso úmido; (c) MytellaFalcata(sururu)com tamanho inferior a 37 mm, estuário do rio Potengi (BRITO et al, 2008)– peso úmido; (d) Mytella. Falcata(sururu)com tamanho superior a 42 mm, estuário do rio Potengi (BRITO et al, 2008) – peso úmido; (e)Anomalocardia brasiliana(mexilhão),estuário do rio Potengi/Jundiaí (EMERENCIANO et al, 2008) – peso úmido; (f) Callinectes sp.(siri),rio Cubatão(VIRGA, 2007)– peso úmido; (g) Callinectessapidus (siri),rio Cubatão(VIRGA 2008) – peso úmido. Em um estudo realizado no Litoral do estado de São Paulo, em tecido de U. cordatusde mangue “contaminado” e “não contaminado”, na mesma área geográfica (HARRIS e SANTOS, 2000), verificou-se diferenças nas concentrações de metais pesados na carne dos caranguejos, com níveis significativamente mais elevados de Cu, Cd e Zn em populações “poluídas”, comparadas a caranguejos “não poluídos” vivendo em mangue não contaminado. Os seguintes valores (peso seco) são relatados: Cd (1,4 – 1,2 mg/Kg); Cu (40 – 40 mg/Kg); Zn (225 – 205 mg/Kg); comparando esses valores de HARRIS e SANTOS (2000) com os do presente estudo no rio Jundiaí (Cd – 0,53 mg/Kg; Cu – 44,97 mg/Kg; Zn – 289,97 mg/Kg; resultados para peso seco), verifica-se que os teores encontrados na carne do caranguejo do estuário dos rios Jundiaí e Potengi são menores para Cd e maiores para Cu e Zn. 3.4 METAIS NOS SEDIMENTOS E NOS CARANGUEJOS No que se refere aos sedimentos, os resultados do presente trabalho corroboram os dados obtidos em trabalhos anteriores (GUEDES, 2003; SINDERN et al, 2007; SOARES, 56 2006), evidenciando que o aporte de metais pesados para o estuário é contínuo e não tem sofrido alterações significativas. Sindernet al (2007) observaram uma assinatura antropogênica dos metais pesados Zn, Pb, Cu e Cd, em relação aos elementos de referência Al e Fe, próximo a pontos de descarga de efluentes na área de Natal. Isso significa que Zn, Pb, Cu e Cdestão associados a atividades humanas no entorno do estuário. Os caranguejos foram coletados em uma área localizada entre o P1 (Macaíba) e o P2 (Guarapes). O P1 fica em uma área bastante urbanizada do município de Macaíba, que apresentou, durante o período chuvoso, o teor de oxigênio dissolvido abaixo da Resolução 357/2005, do CONAMA, e o mais baixo pH dentre os pontos estudados, além de apresentar teores elevados de cobre, chumbo e zinco.O P2 (Guarapes) fica próximo a uma importante rodovia (BR-226), entre os municípios de Macaíba e Natal, recebendo, também, o aporte das águas do rio Guarapes. Apesar do fluxo das águas do Guarapes, essa área apresentou, no período chuvoso, o oxigênio dissolvido abaixo do permitido pela legislação e a maior concentração de cromo dentre os pontos estudados. Os metais pesados com teores mais elevados nos sedimentos do ponto de amostragem em Macaíba (Cu, Pb e Zn) configuram-se também como os mais abundantes na carne da pata do caranguejo (Tabela 1). O cromo, que é o quarto metal pesado mais abundante no sedimento de P1, apresentou, na carne do caranguejo, um teor acima do limite máximo permitido pela legislação referente a normas reguladoras do emprego de aditivos para alimentos (Tabela 4). 4 CONCLUSÕES Apesar de sua importância, o estuário dos rios Jundiaí e Potengi é afetado diretamente pelas atividades humanas desenvolvidas no entorno de seus corpos hídricos Essa influência antrópica exercida pelas cidades circunvizinhas à área do estuárioé refletida diretamente nos teores de metais pesados encontrados nos sedimentos, principalmente próximo ao núcleo urbano das cidades de Macaíba e Natal. A comparação com trabalhos anteriores permite afirmar que o aporte de metais pesados para o estuário é contínuo, não tendo sofrido alterações significativas em um período de dez anos. Os teores de Cu, Pb, Cr, Ni e Zn nos sedimentos são mais elevados no período de menor precipitação pluviométrica. Os níveis de oxigênio dissolvido na água nos pontos Guarapes e em Igapó são menores que os níveis encontrados em Macaíba e no Canto do Mangue, tanto no período de chuvas quanto na estação seca. Os elementos Cu, Cr, Pb e Zn, com teores mais elevados nos sedimentos do ponto de amostragem em Macaíba, são também os mais abundantes na carne da pata do caranguejo. Dentre eles, Pb, Zn e Cr apresentam, na carne do caranguejo, teores acima do 57 limite máximo permitido pela legislação referente a normas reguladoras do emprego de aditivos para alimentos. São necessárias investigações adicionais no que se refere à contribuição do consumo da carne de caranguejo na ingestão diária de metais pesados pela população, bem como sobre os sedimentos das tocas dos caranguejos neste e em outros estuários não urbanizados no estado, para elucidar a relação entre os metais pesados encontrados nos caranguejos e nos sedimentos. REFERÊNCIAS ABRAHIM, G. M. S.; PARKER, R. J.; NICHOL, S. L. Distribution and assessment of sediment toxicity in Tamaki Estuary, Auckland - New Zealand. Environmental Geology, Berlin, v. 52, p. 1315-1323, 2007. APHA –.AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATIONStandard methods for the examination of water and wastewater.21th. Washington D. C., 2005. ARAÚJO, A. L. C.; DUARTE, M. A. C. Avaliação preliminar de duas séries de lagoas de estabilização na grande Natal-RN. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, 21., 2001, João Pessoa, Anais... João Pessoa: ABES, 2001. p. 1-7. ARAÚJO, M. S. L. C.; CALADO, T. C. S. 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Capitulo II ECOTOXICOLOGIA DE SEDIMENTOS DO ESTUÁRIO DOS RIOS JUNDIAÍ E POTENGI: ENSAIOS COM O MICROCRUSTÁCEO Leptocheirus plumulosus Este artigo foi submetido ao Jornal Ecotoxicology and Environmental Contamination 62 Ecotoxicologia de sedimentos do estuário dos Rios Jundiaí e Potengi: ensaios com o microcrustáceo Leptocheirus plumulosus R. B. LOPES RESUMO O estuário dos Rios Jundiaí e Potengi no estado do Rio Grande do Norte-Brasil apresenta registros de contaminação por metais pesados. Contudo ainda são poucos os estudos dos efeitos toxicológicos da contaminação sobre os organismos aquáticos deste corpo hídrico. O objetivo deste trabalho é avaliar os efeitos toxicológicos dos sedimentos do estuário dos Rios Jundiaí e Potengi utilizando o organismo teste Leptocheirus plumulosus, durante quatro meses de monitoramento no ano de 2011. Após as analises dos dados foi possível observar que os pontos localizados nas áreas mais habitadas de Macaíba e Natal (P1 e P3) apresentaram toxicidade ao organismo teste. O ponto 4 não apresentou toxicidade em nenhum dos meses estudados mesmo estando em uma área urbanizada e próxima ao porto de Natal. Esse fato pode estar relacionado ao baixo teor de matéria orgânica e à maior influência das marés, que afetam a diluição dos contaminantes neste ponto, podendo contribuir de forma positiva para a redução dos efeitos da toxicidade dos sedimentos. Não se observou nenhuma relação entre precipitação pluviométrica e a toxicidade do ambiente. Palavras - Chaves: Ecotoxicologia, Estuário, Leptocheirus plumulosus, Metais pesados. 63 INTRODUÇÃO O estuário dos rios Jundiaí/Potengi é um dos principais do estado do Rio Grande do Norte, estendendo-se por cerca de 25 km com uma largura que varia entre 400 e 600 m. É formado pelas águas dos Rios Potengi, Jundiaí e Doce. Diversas atividades antrópicas desenvolvidas no entorno do estuário têm contribuído para o aporte de metais pesados no corpo hídrico, com registros de níveis acima do permitido para cádmio, cobre, chumbo, cromo, níquel e zinco em sedimentos (GUEDES, 2003; SINDERN et al., 2007) e em bioindicadores (SILVA et al., 2006; EMERENCIANO, 2008; BRITO et al., 2008; LOPES et al., 2013). Uma vez que esse ambiente apresenta elevadas concentrações de metais pesados é pertinente a realização de estudos ecotoxicológicos para avaliar os possíveis efeitos destes contaminantes aos organismos aquáticos. A Resolução CONAMA 344/04 no artigo 7, inciso III, indica testes ecotoxicológicos nos sedimentos cuja concentração de mercúrio, cádmio, chumbo ou arsênio, ou PAHs (hidrocarbonetos poliaromáticos) do grupo A esteja entre os níveis 1 e 2. Os testes de toxicidade permitem avaliar efeitos interativos de misturas complexas presentes no sedimento sobre os organismos aquáticos. Esses testes medem, portanto, os efeitos tóxicos das frações biodisponíveis presentes no sedimento em condições controladas no laboratório ou através de testes em campo (ARAÚJO et al., 2008). SILVA-NICODEMO (2010) avaliou a toxicidade dos efluentes lançados no estuário do rio Potengi utilizando o Mysidopsis juniae (Mysidacea-Crustacea), concluindo que a maioria dos efluentes se mostraram tóxicos quanto à sobrevivência e fecundidade do organismo. Com relação às amostras de corpos receptores de efluentes (Canal do Baldo, Riacho das Lavadeiras e Macaíba), a mortalidade foi total após 24 horas do início dos testes. Contudo não há registros de análises de toxicidade com amostras de sedimentos coletados ao longo do ambiente estuarino do rio Potengi. Os anfípodos são excelentes como organismo-teste, sendo normalmente recomendados e utilizados em testes de toxicidade aguda de amostras de sedimento de ambientes marinhos e estuarinos (ASTM, 1997; GOMÉZ & PÁEZ, 1987 apud CESAR et al., 2002). O L. plumulosus vem sendo utilizado em estudos de toxicidade de sedimentos por diversos contaminantes como metais, DDT e esgotos (MCGEE et al., 1998; MCGEE et al., 1999; LOTUFO et al., 2001; ZULKOSKY et al. 2002; YU & FLEEGER, 2006; WILLIAMS et al., 2010, MANYIN E ROWE, 2006; MCGEE et al., 2004). O objetivo deste trabalho foi avaliar 64 a toxicidade dos sedimentos, através de testes ecotoxicológicos com o organismo Leptocheirus plumulosus (Amphipoda-Crustacea), durante quatro meses de monitoramento no ano de 2011. Cabe ressaltar que não há estudos de toxicidade com este organismo utilizando amostras ambientais neste estuário. METODOLOGIA Amostragem Em 2011 coletas de sedimento para determinação da toxicidade e matéria orgânica, foram realizadas de julho a outubro, em quatro estações. Duas delas (P1 em Macaíba; P2 próximo ao Rio Guarapes), localizadas à montante no estuário do rio Jundiaí e duas outras (P3 próximo a ponte de Igapó; P4 próximo ao Canto do Mangue), à jusante, situadas no estuário do rio Potengi (figura 1), sempre durante as marés de quadratura. Para as análises de toxicidade as amostras foram transportadas para o laboratório de Ecotoxicologia da UFRN e refrigeradas até o momento dos testes de acordo com a ABNT NBR 15638/2008. Figura 1: Localização do pontos de coleta dos sedimentos. 65 Parâmetros físico-químicos Durante as coletas do sedimento os parâmetros físico-químicos oxigênio dissolvido OD, pH, Salinidade e temperatura foram determinados em campo, utilizando um refratômetro, oxímetro e pH-metro portáteis. Os resultados obtidos então foram comparados com a RESOLUÇÃO CONAMA 357/05. Determinação do teor de matéria orgânica Para a determinação do teor de matéria orgânica as amostras foram secas em liofilizador; em seguida 10 g de cada amostra foram colocadas em cadinhos e aquecidas em mufla por 6 horas a 400ºC, tendo sido ao final calculada a diferença entre o peso inicial e o peso final. Testes ecotoxicológicos Os testes de toxicidade aguda dos sedimentos estuarinos foram realizados baseados na Norma ABNT NBR 15638/2008 no Laboratório de Ecotoxicologia - ECOTOX do Departamento de Oceanografia e Limnologia da UFRN. Como organismo teste foram utilizados anfípodos juvenis de Leptocheirus plumulosus (Amphipoda-Crustacea), medindo entre 500 e 700 µm. As amostras receberam durante os ensaios iluminação uniforme e contínua e aeração constante. Em cada amostra foram adicionados, com auxílio de pipetas, 20 organismos. Antes do início do teste as partículas maiores que 1,0 cm foram retiradas. As amostras de cada estação foram testadas em quadruplicata, inclusive o controle. O teste durou 10 dias e o efeito analisado foi a sobrevivência. Diariamente em cada recipiente - teste foram verificados o fluxo de ar, a temperatura, a salinidade, o oxigênio dissolvido e o pH. Os sobreviventes foram visualizados e contabilizados após peneiramento do sedimento, ao final do teste. Análise estatística Os resultados foram tratados utilizando-se o teste “t” por bioequivaência e constante de bioequivalência (B=0,80). Os testes estatísticos foram realizados com o programa TOXSTAT, Versão 3.5 (1995). Após a análise estatística, as amostras foram classificadas como “tóxicas” ou “não tóxicas” em relação ao controle. 66 RESULTADOS Os valores dos parâmetros físico-químicos da água do estuário e da matéria orgânica no sedimento são expressos na Tabela 1. Estes dados, acrescidos das informações sobre temperatura ambiente e precipitação são visualizados na Figura 2. Tabela 1: Parâmetros físico-químicos em água (medidas in situ) e teor de matéria orgânica nos sedimentos do estuário do rio Potengi. Parâmetros físico-químicos da água e matéria orgânica dos sedimentos PONTO 1 Parâmetros Temp. (ºC) Salinidade pH Jul 5 5 6,88 7,62 7,3 OD (mg/L) 4,1 MO (%) Ago Set Out 26,6 26,8 27 4 PONTO 2 3,8 4,5 27 5 Jul PONTO 3 Ago Set Out 28,1 28,2 28,8 29 18 25 20 7,1 6,73 7,24 7,2 4,0 4,9 4,5 3,44 NA NA 7,78 10,43 NA 21 Jul Ago Set PONTO 4 Out Jul Ago Set Out 27,1 28,2 28,5 28,8 28,7 28,9 29 29,1 29 30 7,09 7,28 7,18 7,2 7,14 7,63 7,52 7,7 7,9 5,0 5,8 5,5 22 3,7 30 26 25 26 4,7 35 4,8 6,0 3,5 4,5 4,8 NA 10,02 4,12 NA NA 8,7 2,52 NA NA 0,32 Temperatura (Temp.); Oxigênio dissolvido (OD); Matéria orgânica (MO); NA: Não analisado; em negrito os valores que se apresentaram abaixo da resolução CONAMA 357/05; Tabela 2: Sobrevivência e Testes ecotoxicológicos dos sedimentos com Leptocheirus plumulosus. Dados expressos em porcentagem / Análise de toxicidade; Todos os dados são normais e homocedásticos, após transformação do arcoseno. Bioequivalência, R=0,80. Amostras Julho Agosto Setembro Outubro Ponto 1 53,75 / Tóxica 97,5 / N. tóxica 93,75 / N. Tóxica 88,75 / N. Tóxica Ponto 2 82,5 / N. Tóxica 88,75 / N. Tóxica 91,25 / N. Tóxica 97,5 / N. Tóxica Ponto 3 71,25 / N. Tóxica 86,25 / N. Tóxica 80 / N. Tóxica 71,25 / Tóxica Ponto 4 93,75 / N. Tóxica 87,5 / N. Tóxica 90 / N. Tóxica 97,5 / N. Tóxica 67 Para o pH, todos os pontos se apresentam dentro dos padrões estabelecidos para água salobras classe I da Resolução CONAMA 357/2005, que e de 6,5-8,5. Quanto à temperatura foi possível observar um aumento em direção à foz do Estuário (Figura 2). Com relação as analises toxicológicas (Tabela 2) pode-se observar que em julho, com exceção do ponto 1 que apresentou toxicidade, todas as demais amostras estudadas não foram classificadas como tóxicas ao L. plumulosus. Por sua vez, em agosto e setembro, nenhuma das amostras apresentou toxicidade. E em outubro apenas a amostra coletada no Ponto 3 (Igapó) foi classificada como tóxica. Figura 2: Parâmetros físico-químicos do ambiente e precipitação no ano de 2011 (Fonte dos dados de precipitação: EMPARN) 68 DISCUSSÃO O Ponto 1, localizado próximo ao núcleo urbano da cidade de Macaíba, possui uma considerável ocupação humana, sendo o local de amostragem com menor influência da maré, uma vez que sua salinidade foi a mais baixa dentre os pontos estudados. Os valores de oxigênio dissolvido são baixos, sendo inferiores ao limite mínimo estabelecido pela resolução para água salobras classe I da Resolução CONAMA 357/2005, que é de 5 mg/L; isto pode estar relacionado com as descargas antrópicas de esgotos observadas nas proximidades, ou com a ausência de precipitação, devido ao índice pluviométrico da cidade de Macaíba nos meses de amostragem ter sido 0 mm. Quanto à ecotoxicologia (Tabela 2), julho e outubro apresentaram sobrevivência nos testes abaixo de 90% sendo o mês de Julho estatisticamente tóxico. O Ponto 2 (Guarapes) distingue-se como o local de menor ocupação humana, que possui a maior área de manguezal preservada em relação aos pontos de amostragem. A influência da maré ocasiona aumento considerável da salinidade do ambiente (Tabela 1 e Figura 2). O aumento no teor de oxigênio dissolvido também pode resultar desta influência de maré, bem como da contribuição das águas do Rio Guarapes; ainda assim, duas das concentrações de OD estão abaixo da resolução 357/05. No que se refere à pluviometria, não choveu na cidade de Macaíba nos 4 meses, enquanto que em Natal a precipitação foi decrescente, variando de 170,3 mm em julho a 20,8 mm em outubro. Nos testes ecotoxicológicos, 2 meses (julho e agosto) tiveram sobrevivência nos testes abaixo de 90% (Tabela 2). Contudo a análise estatística não apontou toxicidade em relação ao teste controle. O Ponto 3 (Igapó) está situado em uma área de ocupação humana consideravelmente elevada, estando próximo a áreas populosas da cidade de Natal como Quintas, bairro Nordeste, Bom pastor, Km6, na mesma margem da amostragem, e Igapó, na margem oposta; localiza-se ainda próximo à confluência dos rios Golandim e Potengi com o rio Jundiaí; a pressão antrópica pode contribuir com a descarga difusa de esgotos provenientes destas localidades e que também chegam ao estuário através de muitos córregos canalizados e não canalizados na área de mangue adjacente. A precipitação foi decrescente no período. Este ponto caracterizou-se por possuir salinidade maior (entre 22 e 30%) em relação aos Pontos 1 e 2, localizados à montante; além disso, o oxigênio dissolvido em todos os meses estudados ficou abaixo do limite da resolução 357/05, com média de 4,1 mg/L O2, o que reforça a hipótese da influência antrópica na área. Quanto à toxicidade todos os quatro meses tiveram 69 sobrevivência nos testes abaixo de 90% (Tabela 2), enquanto que a análise estatística apontou toxicidade no mês de outubro. O Ponto 4 (canto do Mangue) é o local mais populoso, próximo ao porto de Natal, com fluxo constante de embarcações, próximo aos bairros Santos Reis, Rocas e Ribeira. Também apresenta problemas relacionados a descargas de esgotos que chegam ao rio através de córregos canalizados e não canalizados. Nos meses de julho e agosto o oxigênio dissolvido ficou abaixo do limite mínimo estabelecido pela resolução que é de 5 mg/L; porém, teve a maior média de OD dos quatro pontos (5,3 mg/L O2) o que provavelmente está relacionado à maior proximidade do mar. Este fato é corroborado pelos resultados da salinidade, que foram as mais elevadas dentre os pontos amostrados (entre 26 e 35%), apesar de as medidas terem sido realizadas na maré baixa. Nos testes ecotoxicológicos, apenas o mês de agosto teve sobrevivência abaixo de 90% (Tabela 2), porém não apresentando toxicidade nos meses amostrados, de acordo com a análise estatística. O fato de o Ponto 4 não apresentar toxicidade pode ser explicado pelos teores de matéria orgânica serem menores (tabela 1) o que pode diminuir a transferência de contaminantes do sedimento para os organismos. Por outro lado, a proximidade do mar também permite um fluxo maior de água salgada, o que ajuda a revolver e diluir os contaminantes do sedimento. O ponto 2 também não apresentou toxicidade aos organismos o que pode ser explicado por estar localizado em uma área mais preservada de manguezal. Já os Pontos 1 e 3, cujos sedimentos apresentaram toxicidade em julho e outubro, respectivamente, estão localizados em áreas urbanizadas das cidades de Macaíba e Natal e apresentaram baixas concentrações de oxigênio dissolvido (tabela 1); de acordo com Lopes et al. (2013), o Ponto 1 apresenta elevadas concentrações de chumbo, cobre e zinco de 182, 36.8 e 86 mg/Kg, respectivamente, enquanto que o Ponto 3 tem teores de zinco, chumbo e cromo de 38, 28 e 20,4 mg/Kg, respectivamente, o que pode estar relacionado com o efeito tóxico apresentado. MCGEE et al. (1999), na Baia de Chesapeake, Maryland, USA, também utilizaram o L. plumulosus para avaliar os efeitos tóxicos do sedimento; os autores identificaram em alguns pontos de amostragem uma relação negativa entre a sobrevivência dos organismos e metais associados ao sedimento como cádmio e cobre; também foi possível observar no presente estudo uma relação negativa entre a sobrevivência dos organismos e pontos com concentrações de metais como cobre, zinco e chumbo. MANYIN E ROWE (2006) utilizaram estes organismos em testes de exposição mais longos avaliando o ciclo de vida nos sedimentos contaminados da Baia de Baltimore, 70 identificando uma diminuição no crescimento, no teor de lipídios e uma menor taxa de reprodução (menor tamanho da ninhada) quando comparados com ao anfípodes de referência. Ainda segundo os autores o estresse químico conduziu a um desvio dos meios de produção de energia, pois tanto o sedimento como os tecidos dos anfípodos continham elevadas concentrações de hidrocarbonetos poliaromáticos (HPAs), bifenilas policloradas (PCBs), arsênio, cádmio, chumbo e zinco, que sugerem a bioacumulação. Em ensaios de toxicidade aguda e crônica realizada por dois laboratórios em Chesapeake Bay-USA (MCGEE et al., 2004) também foram observados efeitos tóxicos com mortalidade significativa em alguns pontos que apresentaram concentrações consideráveis de zinco, cobre e PCBs. CONCLUSÃO Através deste estudo pode ser observada uma relação entre a toxicidade e os sedimentos de áreas mais urbanizadas, com baixos níveis de oxigênio dissolvido, e que apresentaram em estudo anterior concentrações consideráveis de metais. Também foi possível observar a importância da influência da maré na diminuição dos possíveis efeitos tóxicos, uma vez que o ponto próximo ao porto da cidade de Natal não apresentou toxicidade mesmo estando em uma área urbanizada. Contudo são necessárias investigações adicionais acerca da toxicidade dos sedimentos em outros pontos do estuário, com uma melhor distribuição espacial, e por um período mais longo, para observar variações temporais e avaliar efeitos de contaminantes que estejam em baixas concentrações. REFERÊNCIAS ARAÚJO, R. P. A., SHIMIZU, G. Y., BOHRER, M. B. C. & JARDIN, W., 2008, Avaliação da qualidade de sedimentos, In: Zagatto, P. A.; Bertoletti, E., (ORG) Ecotoxicologia aquática: Princípios e Aplicações. São Carlos. 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CONSIDERAÇÕES FINAIS: Uma das formas mais prejudiciais de contaminação dos corpos hídricos, que vem provocando um aumento na preocupação dos órgãos de saúde mundiais, é a contaminação por metais pesados, pois estes elementos são tóxicos e biocumulativos, alcançando assim os níveis superiores da cadeia trófica. Através de uma abordagem que alia procedimentos metodológicos utilizados em geologia, biologia e química, os resultados apresentados confirmam a contaminação por metais pesados no estuário e apresentam um panorama de sua evolução na última década através da comparação com resultados de trabalhos anteriores; além disso, são os resultados estão relacionados aos efeitos derivados da contribuição antrópica, uma vez que as maiores concentrações dos elementos ocorreram próximos a comunidades ribeirinhas, locais de intenso tráfego de veículos, áreas portuárias e pontos de descarga de efluentes. O grau de contaminação avaliado nos sedimentos também foi refletido nas concentrações dos metais no caranguejo Uçá que excederam todos os limites permitidos pelas legislações, bem como sendo superior aos teores encontrados em outros bioindicadores estudados nesse mesmo estuário. Os resultados demonstram que o consumo desses crustáceos pode representar um risco a saúde humana. Considerando-se que em um estudo realizado com os pescadores da colônia de pescadores Z-45 do rio Jundiaí, foi diagnosticado que estes consomem uma elevada quantidade semanal de peixes, moluscos e crustáceos coletados nessa área, conclui-se que as pessoas mais suscetíveis aos efeitos da contaminação pelos metais, são as comunidades de pescadores da região, além dos consumidores que adquirem estes produtos em feiras livres nas cidades de Macaíba e Natal. A segunda parte deste trabalho avalia do efeito toxicológico que o sedimento provoca em outros organismos aquáticos como os anfípodos Leptocheirus plumulosus. Verificou-se que dois dos pontos estudados foram classificados como tóxicos aos organismos em pelo menos um dos meses do ano. O crescimento desordenado das cidades circunvizinhas do estuário afetou a dinâmica desse ecossistema, uma vez que são diversas as prováveis fontes de contaminação por metais pesados. A contaminação desse ambiente não afeta somente os organismos aquáticos ou as pessoas que os consomem, mas também as comunidades de pescadores que retiram do estuário o seu sustento e têm uma relação emocional com o ambiente em que vivem. A longo prazo, existe a necessidade de um monitoramento dos parâmetros físico-químicos na água e de avaliação da qualidade dos sedimentos, uma vez que em alguns pontos estes parâmetros 74 não se apresentaram em conformidade com legislação. Recomenda-se também para fins de monitoramento a continuidade de estudos ecotoxicológicos e de determinação da contaminação em bioindicadores. A determinação das fontes de poluição também é importante, bem como medidas preventivas no sentido de controlá-las. É importante que, paralelamente a estas medidas, estejam associadas atividades informativas e de educação ambiental. 75 8. ANEXOS 8.1 ANEXO I – Autorização para atividades com finalidade científica- SISBIO 76 77 9. APÊNDICE I 9.1 VALIDADE DOS TESTES ECOTOXICOLÓGICOS (ABNT NBR 15638/2008) TESTE I: Julho Sobrevivência média - controle: 95% Sobrevivência – Replicata 01: 100% Aceitabilidade: 85% Aceitabilidade: 80% Replicata 02: 95% Replicata 03: 95% Replicata 04: 90% TESTE II: Julho Sobrevivência média - controle: 92,5% Sobrevivência – Replicata 01: 100% Aceitabilidade: 85% Aceitabilidade: 80% Replicata 02: 90% Replicata 03: 95% Replicata 04: 85% TESTE I: Agosto Sobrevivência média - controle: 91,25% Sobrevivência – Replicata 01: 85% Replicata 02: 100% Replicata 03: 90% Replicata 04: 90% TESTE II: Agosto Aceitabilidade: 85% Aceitabilidade: 80% 78 Sobrevivência média - controle: 96,25% Sobrevivência – Replicata 01: 95% Aceitabilidade: 85% Aceitabilidade: 80% Replicata 02: 95% Replicata 03: 100% Replicata 04: 95% TESTE I: Setembro Sobrevivência média - controle: 100% Sobrevivência – Replicata 01: 100% Aceitabilidade: 85% Aceitabilidade: 80% Replicata 02: 100% Replicata 03: 100% Replicata 04: 100% TESTE I: Outubro Sobrevivência média - controle: 96,25% Sobrevivência – Replicata 01: 95% Aceitabilidade: 85% Aceitabilidade: 80% Replicata 02: 95% Replicata 03: 100% Replicata 04: 95% TESTE II: Outubro Sobrevivência média - controle: 100% Sobrevivência – Replicata 01: 100% Replicata 02: 100% Replicata 03: 100% Replicata 04: 100% Aceitabilidade: 85% Aceitabilidade: 80% 79 Sensibilidade dos organismos do cultivo à substância de referência: 1,09 mg/L Substância de referência: zinco (sulfato de zinco heptahidratado) Periodicidade dos ensaios com a substância de referência: mensal Faixa de sensibilidade do organismo (limite inferior e superior): não definida Data de preparo das amostras, TESTE I: Julho 05/08/2011 Data de preparo das amostras, TESTE II: Julho 02/09/2011 Data de preparo das amostras, TESTE I: Agosto 16/09/2011 Data de preparo das amostras, TESTE II: Agosto 07/10/2011 Data de preparo das amostras, TESTE: Setembro 07/10/2011 Data de preparo das amostras, TESTE I: Outubro 29/10/2011 Data de preparo das amostras, TESTE II: Outubro 07/11/2011 Data de início do TESTE I: Julho 05/08/2011 Data de início do TESTE II: Julho 02/09/2011 Data de início do TESTE I: Agosto 16/09/2011 Data de início do TESTE II: Agosto 07/10/2011 Data de início do TESTE: Setembro 07/10/2011 Data de início do TESTE I: Outubro 29/10/2011 Data de início do TESTE II: Outubro 07/11/2011 Data de término do TESTE I:Julho 15/08/2011 Data de término do TESTE II: Julho 12/09/2011 Data de término do TESTE I: Agosto 26/09/2011 Data de término do TESTE II: Agosto 17/10/2011 Data de término do TESTE: Setembro 17/10/2011 Data de término do TESTE I: Outubro 05/11/2011 80 Data de término do TESTE II: Outubro 17/11/2011 CONDIÇÕES DE TESTE Tabela 1: Resumo das condições do teste. Tipo de Teste----------------------------------------------------------------------------------------------------Qualitativo Método de Teste-------------------------------------------------------------------------------------------------Estático Temperatura de Incubação-------------------------------------------------------------------------------------25 ± 2ºC Fotoperíodo-----------------------------------------------------------------------------------------------24 horas claro Frasco-teste---------------------------------------------------------------------------------------Polietileno de 1000 mL Volume da solução-teste-----------------------------------175 mL de sedimento; 725 mL de água de diluição Origem dos organismos----------------------------------------------------------------------------Cultivo ECOTOX Tamanho dos organismos------------------------------------------------------------------------------------500-700 µm Nº de organismos / frasco---------------------------------------------------------------------------------------------20 Nº de réplicas / amostra------------------------------------------------------------------------------------------------4 Alimentação-------------------------------------------------------------------------------------------sem alimentação Água de diluição------------------------------------------------------------------------Água do mar natural filtrada Salinidade-------------------------------------------------------------------------------------------------------------20 ± 2 Duração do ensaio-------------------------------------------------------------------------------------------------10 dias Resposta-----------------------------------------------------------------------------------------------------Sobrevivência 81 RESULTADOS Tabela 2: TESTE I: JULHO (CONTROLE, P1, P2 E P3) - Número de organismos vivos e sobrevivência média dos anfípodos ao final do teste por réplica e sobrevivência média por tratamento. Amostras Número de anfípodos vivos Sobrevivência (%) 20 100 19 95 Sobrevivência Média (%) Desvio Padrão OD pH mg/L (dados brutos) CONTROLE 19 95 18 90 11 55 10 50 12 60 10 50 17 85 15 75 18 90 16 80 13 65 16 8 PONTO 1 PONTO 2 PONTO 3 11 55 17 85 95 % 0,71 7,9 6,0 53,75 % 0,83 7,9 6,2 82,5 % 1,12 8,0 6,0 71,25 % 2,38 7,9 5,9 82 Tabela 3: TESTE II: JULHO (CONTROLE E P4) - Número de organismos vivos e sobrevivência média dos anfípodos ao final do teste por réplica e sobrevivência média por tratamento. Amostras Número de anfípodos vivos Sobrevivência (%) 20 100 18 90 19 95 17 85 20 100 17 85 19 95 19 95 Sobrevivência Média (%) Desvio Padrão OD pH mg/L (dados brutos) CONTROLE PONTO 4 92,5 % 1,12 8,03 6,5 93,75 % 1,09 7,9 6,0 83 Tabela 4: TESTE I: AGOSTO (CONTROLE, P1, P3 E P4) - Número de organismos vivos e sobrevivência média dos anfípodos ao final do teste por réplica e sobrevivência média por tratamento. Amostras Número de anfípodos vivos Sobrevivência (%) 17 85 20 100 18 90 18 90 20 100 19 95 CONTROLE PONTO 1 19 95 20 100 18 90 17 85 17 85 17 85 19 95 13 65 20 100 18 90 PONTO 3 PONTO 4 Sobrevivência Média (%) Desvio Padrão OD 91,25 % 1,09 7,9 6,8 97,5 % 0,50 7,9 6,3 86,25 % 0,43 8,01 6,6 87,5 % 2,69 8,0 6,0 pH (dados brutos) mg/L 84 Tabela 5: TESTE II: AGOSTO (CONTROLE E P2) - Número de organismos vivos e sobrevivência média dos anfípodos ao final do teste por réplica e sobrevivência média por tratamento. Amostras Número de anfípodos vivos Sobrevivência Sobrevivência (%) Média (%) 19 95 19 95 20 100 19 95 17 85 19 95 CONTROLE PONTO 2 18 90 17 85 Desvio Padrão OD pH (dados brutos) mg/L 96,25 % 0,43 7,91 6,8 88,75 % 0,83 8,01 5,9 85 Tabela 6: TESTE SETEMBRO (CONTROLE, P1, P2, P3 E P4) - Número de organismos vivos e sobrevivência média dos anfípodos ao final do teste por réplica e sobrevivência média por tratamento. Amostras Número de anfípodos vivos Sobrevivência (%) 20 100 20 100 CONTROLE 20 100 20 100 20 100 19 95 18 90 18 90 20 100 17 85 PONTO 1 PONTO 2 18 90 18 90 15 75 17 85 17 85 15 75 17 85 18 90 20 100 17 85 PONTO 3 PONTO 4 Sobrevivência Média (%) Desvio Padrão OD 100 % 0 7,9 6,8 93,75 % 0,83 8,02 6,7 91,25 % 1,09 8,01 6,4 80,0 % 1,0 8,0 6,3 90 % 1,22 7,9 6,2 pH (dados brutos) mg/L 86 Tabela 7: TESTE I: OUTUBRO (CONTROLE E P1) - Número de organismos vivos e sobrevivência média dos anfípodos ao final do teste por réplica e sobrevivência média por tratamento. Amostras Número de anfípodos vivos Sobrevivência (%) 19 95 19 95 20 100 19 95 18 90 18 90 18 90 17 85 Sobrevivência Média (%) Desvio Padrão OD pH mg/L (dados brutos) CONTROLE PONTO 1 96,25 % 0,43 7,98 6,6 88,75 % 0,43 8,02 6,0 87 Tabela 8: TESTE II: OUTUBRO (CONTROLE, P2, P3 E P4)- Número de organismos vivos e sobrevivência média dos anfípodos ao final do teste por réplica e sobrevivência média por tratamento. Amostras Número de anfípodos vivos Sobrevivência (%) 20 100 20 100 20 100 20 100 20 100 20 100 CONTROLE PONTO 2 19 95 19 95 15 75 15 75 12 60 15 75 20 100 20 100 20 100 18 90 PONTO 3 PONTO 4 Sobrevivência Desvio Padrão Média (%) (dados brutos) OD pH mg/L 100 % 0,0 7,9 6,6 97,5 % 0,50 8,02 6,4 71,25 % 1,30 8,03 5,9 97,5 % 0,87 8,0 6,1