Metais pesados no caranguejo Ucides cordatus

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE/PRODEMA
Metais pesados no caranguejo Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) e ecotoxicologia de
sedimentos do estuário dos Rios Jundiaí e Potengi – RN.
PARA A
REJANE BATISTA LOPES
2012
Natal – RN
Brasil
REJANE BATISTA LOPES
Metais pesados no caranguejo Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) e ecotoxicologia de
sedimentos do estuário dos Rios Jundiaí e Potengi – RN.
Dissertação apresentada ao Programa Regional
de Pós-Graduação em Desenvolvimento e
Meio Ambiente, da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN),
como parte dos requisitos necessários para a
obtenção do título de Mestre.
.
Orientadora: Profa. Dra. RAQUEL FRANCO DE SOUZA LIMA
2012
Natal – RN
Brasil
Catalogação da Publicação na Fonte
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Lopes, Rejane Batista.
Metais pesados no caranguejo Ucides cordatus Linnaeus, 1763 e
ecotoxicologia de sedimentos do estuário dos Rios Jundiaí e PotengiRN / Rejane Batista Lopes. - Natal, 2012.
87f: il.
Orientadora: Profa. Dra. Raquel Franco de Souza Lima.
Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. Centro de Biociências. Programa Regional de Pós-Graduação e
Meio Ambiente/PRODEMA.
1. Leptocheirus plumulosus - Dissertação. 2. Metais pesados Dissertação. 3. Sedimentos - Dissertação. I. Lima, Raquel Franco de
Souza. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.
RN/UF/BSE01
CDU 549.25
AGRADECIMENTOS
A Deus, que está sempre ao meu lado, me abençoando a cada dia e dando-me
forças para lutar sempre.
À minha orientadora, professora Dra. Raquel Franco de Souza Lima, por toda
dedicação, ensinamento, paciência e companheirismo.
À minha família, pai, irmãos, irmã, sobrinhos e em especial a minha mãe pelo
apoio incondicional, amor e carinho.
Ao meu esposo Sebastião Dorian pelo amor, carinho, apoio e paciência.
A professora Dra. Maria de Fátima Vitória de Moura grande colaboradora nesse
trabalho, por abrir as portas do seu laboratório e supervisionar as análises de metais no
caranguejo Uçá.
Ao professor Dr. Guilherme Fulgêncio de Medeiros (Seu Guila), grande
colaborador deste trabalho, por ter aberto as portas do seu laboratório para a realização
dos ensaios ecotoxicológicos.
Ao CNPq pela bolsa concedida, que possibilitou minha dedicação total à
pesquisa durante a realização deste estudo.
À minha turma de mestrado – PRODEMA 2010.1, pelos momentos de alegria e
realizações compartilhados, especialmente a Richelly da Costa Dantas, Jane Azevedo de
Araújo, Antonia Vilaneide Lopes e Danuta Werner Gabriel.
À equipe do LAB-ECOTOX, pelo apoio e parceria, especialmente a Jessica
Vitoria Felix Cruz, Sinara Cybelle Turíbio e Silva Nicodemo, Jessica Roberts Fonseca.
Obrigada meninas!
À equipe do LAB-LAQUANAP, pelo apoio, especialmente a Luciane Lira
Teixeira e Pablo Renoir Fernandes de Souza
À equipe do LAB-GEOQUÍMICA, pelo apoio, ensinamentos e pausa para o
cafezinho, Leandro Pereira da Costa, João Batista de Azevedo Filho, Emerson Teles
Souza do Amaral, Magno Carvalho Véras.
Ao núcleo de análises de água, alimentos e efluentes – IFRN, em especial a
Douglisnilson de Moraes Ferreira.
Ao colega de orientação, Josiel de Alencar Guedes, por toda ajuda e
companheirismo durante as coletas de sedimento.
As minhas amigas que me apoiaram desde a época da graduação, Wanessa
Kaline, Priscila Daniele, Daniele Bezerra e Erineide Varela.
E por fim, a todos que direta ou indiretamente contribuíram para realização deste
trabalho.
RESUMO
Metais pesados no caranguejo Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) e ecotoxicologia de
sedimentos do estuário dos Rios Jundiaí e Potengi – RN.
Este estudo é realizado no estuário dos rios Jundiaí e Potengi, um dos mais importantes
do Rio Grande do Norte, que sofre uma forte influência antrópica das cidades vizinhas.
De acordo com a resolução 344/2005 ambientes que apresentam elevadas concentrações
de metais como arsênio, cádmio, chumbo e mercúrio necessitam de testes
ecotoxicológicos. Este trabalho tem por objetivo avaliar a contaminação por metais
pesados no estuário através de análises de sedimento coletados em quatro pontos
distribuídos entre as cidades de Macaíba e Natal e no caranguejo Uçá, Ucides cordatus.
Objetiva ainda avaliar os efeitos da toxicidade do sedimento no organismo teste
Leptocheirus plumulosus. Para obtenção dos dados acerca das concentrações dos metais
pesados no ambiente foram realizadas coletas de sedimentos em janeiro e maio de 2011,
e do caranguejo Uçá no mês de junho de 2011. Por sua vez, o monitoramento
toxicológico foi realizado através de testes com o sedimento coletado nos meses de
julho a outubro de 2011. Durante a amostragem de sedimentos os parâmetros físicoquímicos da água (Oxigênio Dissolvido, pH, cloreto, turbidez, condutividade e
temperatura), foram medidos em campo utilizando Sonda Multi-paramétrica da marca
TROLL, modelo 9500. Foi possível identificar contaminação por metais como chumbo,
cádmio, arsênio e cobre tanto no sedimento, como no caranguejo Uçá o que caracteriza
que o consumo deste crustáceo pode trazer risco à saúde humana. Uma vez identificadas
as concentrações de metais, foram realizados testes toxicológicos, que revelaram efeito
tóxico aos organismos em pelo menos um dos quatro meses estudados. Destaque-se o
ponto 2, próximo à ponte do rio Guarapes, que foi classificado como tóxico em três dos
quatro meses estudados. A contaminação por metais pesados constitui risco ao
ambiente, aos organismos aquáticos e à comunidade que sobrevive dos recursos
extraídos deste ambiente.
Palavras-chave: Sedimentos, metais pesados, Ucides cordatus, Leptocheirus
plumulosus.
ABSTRACT
Heavy metals in crab Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) and the ecotoxicology of
sediments of the estuary of the Rivers Jundiaí and Potengi - RN.
This study is conducted in the estuary of the rivers Jundiaí and Potengi, one of the most
important estuaries of Rio Grande do Norte, which suffers a strong anthropogenic
influence from neighboring cities. According to Resolution 344/2005 environments that
have high concentrations of metals such as arsenic, cadmium, lead and mercury need
ecotoxicological tests. This study aims to evaluate the heavy metals contamination in
the estuary through analysis of sediment collected at four points distributed from
Macaíba to Natal city, and in the crab Uçá, Ucides cordatus. The study aims also to
evaluate the effects of sediment toxicity in the tests organisms Leptocheirus
plumulosus. To obtain data about the concentrations of heavy metals in the
environment, sediments were collected in January and May 2011 and crab Uçá was
collected in June 2011. On the other hand the monitoring was carried out through
toxicological tests with sediment collected from July to October 2011. During the
collection of sediment samples the physico-chemical parameters of water (dissolved
oxygen, pH, chloride, turbidity, conductivity and temperature) were measured by using
multi-parametric probe (TROLL 9500). It was possible to identify contamination by
metals such as lead, cadmium, arsenic and copper both in the sediment and in the Uçá
crab, which characterizes that the consumption of this crustacean may be a risk to
human health. Once the concentrations of metals were identified, toxicology tests were
performed and revealed toxic effect to organisms in at least one of the four months
studied. Point 2 was classified as toxic in three of the four months studied . The heavy
metal contamination is a risk to the environment, to aquatic organisms and to the
community which survives of resources taken from the environment.
Keywords: sediments, Heavy metals, Ucides cordatus, Leptocheirus plumulosus.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Mapa dos pontos de amostragem ..............................................................21
Figura 2 – Pontos de amostragem dos sedimentos .....................................................22
Figura 3 – Utilização da Sonda TROLL 9500 em campo ..........................................23
Figura 4 – Estufa para secagem do sedimento e peneirador automático .................25
Figura 5 – Capela do Laboratório de Geoquímica do Departamento de
Geologia, com materiais utilizados no ataque ácido fraco .........................................26
Figura 6 – Caranguejo uçá, Ucides cordatus; secagem das amostras em
estufa com ventilação ....................................................................................................27
Figura 7 – Pesagens das cápsulas em balança de precisão da Marca
Tecnal; Estufa com ventilação; Amostras dos caranguejos em dessecador .............28
Figura 8 – Trituração da mostra de caranguejo; descarbonização da
amostras dos caranguejos .............................................................................................28
Figura 9 – Mufla para a calcinação e filtragem das amostras...................................29
Figura 10 – Leptocheirus plumulosus ..........................................................................31
Figura 11 – Aquários com o cultivo de Leptocheirus plumulosus no
Laboratório de Ecotoxicologia - UFRN; Recipientes dos testes com
aeração e iluminação constante ....................................................................................31
CAPÍTULO I
Figura 1 - Mapa da localização dos pontos de coleta. ................................................44
Figura 2 – Caranguejo Ucidescordatus do rio Jundiaí ..............................................45
Figura 3 – Parâmetros físico-químicos estabelecidos em água nos pontos
de amostragem. Período seco: losangos; período chuvoso: quadrados ....................47
Figura 4 – Comparativo dos teores de metais em sedimentos na estação
seca (losangos) e chuvosa (quadrados) ........................................................................50
CAPÍTULO II
Figura 1 - Mapa dos pontos de coleta dos sedimentos................................................64
Figura 2 – Parâmetros físico-químicos do ambiente e precipitação no ano
de 2011 ............................................................................................................................67
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Fontes antropogênicas dos metais .............................................................12
Tabela 2 – População residente acerca do estuário ....................................................20
Tabela 3 – Coordenadas dos pontos de coleta dos sedimentos ..................................23
CAPÍTULO I
Tabela 1 – Concentração de metais nos sedimentos ...................................................49
Tabela 2 – Comparativo com estudos realizados nos sedimentos dos rios
que compõem o estuário do Rio Potengi ......................................................................51
Tabela 3 – Metais em sedimentos: comparação com estudos realizados no
Brasil e no mundo ..........................................................................................................52
Tabela 4 – Teor dos metais no caranguejo Uçá Ucides cordatus ...............................54
Tabela 5 – Teor de metais em outros bioindicadores mg de metal/100g da
amostra ...........................................................................................................................55
CAPÍTULO II
Tabela 1 – Parâmetros físico-químicos ........................................................................66
Tabela 2 – Sobrevivência e teste ecotoxicológicos dos sedimentos com
Leptocheirus plumulosus ...............................................................................................66
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS
AAS-CHAMA: Espectrofotometria de Absorção Atômica-CHAMA
ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas
Al: Alumínio
ANVISA: Agencia Nacional de Vigilância Sanitária
As: Arsênio
Cd: Cádmio
CETESB: Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental
CIA: Centro Industrial Avançado
CONAMA: Conselho Nacional de Meio Ambiente
Cr: Cromo
Cu: Cobre
DIN: Distrito Industrial de Natal
ECOTOX/Lab: Laboratório de Ecotoxicologia/RN
Fe: Ferro
HCl: Ácido Clorídrico
IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICP-AES: Espectrometria de emissão atômica - plasma por acoplamento induzido.
ICP-OES: Espectrometria de emissão ótica - plasma por acoplamento induzido.
IDEMA/RN: Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do RN.
IFRN: Instituto Federal do Rio Grande do Norte
IGeo: Índice de Geoacumulação
LAB-GEOQUÍMICA: Laboratório de Geoquímica
LAQUANAP: Laboratório de Química Analítica Aplicada
MO: Matéria Orgânica
MPS: Material Particulado em Suspensão
Ni: Níquel
OD: Oxigênio Dissolvido
Pb: Chumbo
pH: Potencial Hidrogeniônico
UFRN: Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Zn: Zinco
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO GERAL ..........................................................................................12
2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ...................................................19
3. METODOLOGIA GERAL ......................................................................................23
3.1 Parâmetros Físico-Químicos ...................................................................................23
3.2 Preparo das amostras de sedimento......................................................................24
3.2.1 Ataque ácido fraco ...............................................................................................25
3.3 Preparo das amostras do Caranguejo Uçá para análise dos metais ...................26
3.4 Testes ecotoxicológicos ............................................................................................30
3.4.1 Análise estatística..................................................................................................32
4. REFERÊNCIAS ........................................................................................................33
5. CAPITULO I- CONTAMINAÇÃO POR METAIS PESADOS NO SEDIMENTO
E NO CARANGUEJO-UÇÁ, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763), DO ESTUÁRIO
DOS RIOS JUNDIAÍ E POTENGI, RN/BRASIL .........................................................39
1 Introdução ...................................................................................................................40
2 Procedimentos Metodológicos ...................................................................................43
2.1 Amostragem .............................................................................................................43
2.2 Parâmetros Físico-Químicos ...................................................................................44
2.3 Preparo das amostras de sedimentos .....................................................................44
2.4 Preparo das amostras do Caranguejo Uçá ............................................................45
3 Resultados e discussões ..............................................................................................46
3. 1 Parâmetros Físico-Químicos ..................................................................................46
3. 2 Metais em sedimentos.............................................................................................48
3. 3 Metais no Caranguejo ............................................................................................53
3. 4 Metais nos sedimentos e nos Caranguejos ............................................................55
4 Conclusões ...................................................................................................................56
Referências .....................................................................................................................57
6 CAPITULO II - ECOTOXICOLOGIA DE SEDIMENTOS DO
ESTUÁRIO DOS RIOS JUNDIAÍ E POTENGI: ENSAIOS COM O
MICROCRUSTÁCEO Leptocheirus ..........................................................................61
1 Resumo ........................................................................................................................62
1 Introdução ...................................................................................................................63
2 Metodologia .................................................................................................................64
3 Resultados ..................................................................................................................66
4 Discussão .....................................................................................................................68
5 Conclusão ....................................................................................................................70
Referências .....................................................................................................................70
7. Considerações finais ..................................................................................................73
8 Anexos ..........................................................................................................................75
8.1 Anexo I: Autorização para atividades com finalidade científicaSISBIO I .........................................................................................................................75
9 Apêndice .....................................................................................................................77
9.1 Apêndice I: Validade dos testes ecotoxicológicos .................................................77
12
1.
INTRODUÇÃO GERAL
O crescimento acelerado da população no planeta gerou um aumento no consumo de
materiais, o que muitas vezes resultou na má utilização dos recursos naturais empregados na
produção de bens de consumo para uma sociedade cada vez mais capitalista. Esse processo
tem resultado na geração de uma grande quantidade de poluentes, que por muitas vezes estão
acima da capacidade de suporte dos ecossistemas que os recebem.
A partir da revolução industrial, a velocidade de produção de rejeitos da sociedade, o
avanço da urbanização e a força poluidora das atividades industriais superaram em muito a
capacidade regenerativa dos ecossistemas e a reciclagem dos recursos naturais renováveis,
exaurindo os demais recursos naturais e não renováveis (TOYNBEE, 1982). Os rios urbanos
são os que mais sofrem agressões, através do lançamento de esgotos “in natura” ou mesmo
servindo como área de deposição de lixo de naturezas diversas, tais como doméstico,
hospitalar e/ou industrial (TUCCI, 1994).
Áreas altamente urbanizadas são afetadas pela liberação antrópica difusa de
hidrocarbonetos, produtos da combustão e das águas residuais para o meio ambiente. Tais
processos são espelhados em alterações nas concentrações de metais pesados em sedimentos
de rio e mar (SINDERN et al. 2007). Os metais podem ser inseridos no ambiente por
diferentes fontes antrópicas (Tabela 1)
Tabela 1: Fontes Antropogênicas de metais.
METAIS
FONTES ANTROPOGÊNICAS
Alumínio (Al)
Efluentes industriais1.
Arsênio (As)
Mineração, Pesticidas e queima de carvão rico em As2.
Cádmio (Cd)
Baterias,
pigmentos,
ligas,
PVC,
fertilizantes
fosfatados,
combustíveis fósseis3.
Chumbo (Pb)
Efluentes industriais, tintas, baterias, tubulações4.
Cobre (Cu)
Fertilizantes, inseticidas, tinta antiincrustante, desinfetantes5.
Cromo (Cr)
Curtumes, lixo urbano e industrial, galvanoplastia, incineração de
lixo, cimento, lâmpadas, fertilizantes6.
Ferro (Fe)
Fertilizantes e efluentes de esgotos7.
Níquel (Ni)
Queima de combustíveis fósseis, galvanoplastia, mineração e
fundição do metal9.
Zinco (Zn)
Agrotóxicos, combustíveis fósseis, incineração de lixo, resíduos
domésticos, fertilizantes10.
PEREIRA et al. (2007)1; PATACA et al. (2005)2; CARDOSO (2001)3; CETESB (2004)4; PEDROZO (2001)5; SILVA (2001)6; LIMA (2001)7 ;
IDEMA (2011)9; SOUZA (2006)10
13
A poluição aquática por metais pesados é uma das formas mais prejudiciais de
poluição que, por sua vez, resulta em graves problemas ambientais, pois esses elementos não
são degradáveis, são extremamente tóxicos e cumulativos em organismos vivos
(bioacumulação); as conseqüências podem ir desde a intoxicação e envenenamento da biota
até a dizimação de seres vivos (RAMÍREZ et al., 1987).
De um modo geral o termo é aplicado ao grupo dos metais com densidade atômica
maior que 5,0 g/cm3 (LAPEDES, 1974). São geralmente tóxicos aos organismos vivos, sendo,
portanto, considerados poluentes. Dada a baixa concentração em meios ambientais são
conhecidos freqüentemente como metais traço ou elementos traço (BAIRD, 1998 apud
GUEDES et al., 2005).
No que se refere à abundância de elementos químicos em rochas, sedimentos e
minerais, distinguem-se os elementos maiores com aqueles que apresentam concentrações
maiores do que 1,0%, elementos menores com concentrações entre 0,1 e 1,0% e elementos
traços com concentrações menores que 0,1%. Deve-se ressaltar que o mesmo elemento pode
ser elemento maior em um tipo de amostra, mas elemento traço em outra (GILL, 1997).
De acordo com sua toxicidade os metais podem ser classificados em metais não
críticos quando são considerados essenciais à vida como o Fe e o Ca; tóxicos muito insolúveis
quando tem alta toxicidade mas estão geodisponíveis na natureza apenas em pequenas
quantidades como Ru e o Ba; e em metais muito tóxicos e relativamente acessíveis, pois são
altamente tóxicos e são facilmente encontrados na natureza como Cu, Pb, Zn e o Cd (WOOD
apud CARAPETO, 1999).
Cabe salientar que dentre os metais abordados neste estudo o Cu, Ni, Cr e o Zn
também são considerados essenciais a funções fisiológicas e bioquímicas, porém em altas
concentrações passam a ser tóxicos; já o Pb, e o Cd não têm apresentado ação fisiológica
essencial a manutenção da vida mas têm apresentado, mesmo em pequenas quantidades ação
tóxica para os sistemas biológicos incluindo o homem (CAMPBELL, 1998; AMIARD et al.
1987; RAINBOW, 1996; SILVA & PRADO-FILHO, 1998).
De acordo com Tatsch et al. (2010), apesar do alumínio não ser considerado um metal
pesado, recentemente foi constatado atividade tóxica como cólicas e distúrbios gastrintestinais
até fibralgias e cansaço crônico quando este elemento é ingerido em altas concentrações.
O arsênio elementar não é tóxico, mas é rapidamente convertido a produtos tóxicos
pelo organismo humano. A maior parte dos compostos contendo arsênio, sejam eles orgânicos
ou inorgânicos, penta- ou trivalentes, acabam sendo convertidos pelo organismo ao trióxido
14
de arsênio, o qual reage muito rapidamente com os grupos sulfidrilas (-SH) de proteínas,
inibindo a ação enzimática e bloqueando a respiração da célula (TSALEV & ZAPRIANOV,
1985 apud PATACA et al., 2005).
O cádmio causou envenenamento em moradores da região de Toyama, no Japão, em
1947, quando estes utilizaram as águas do rio Jintsu que recebia os despejos e resíduos de
uma fundição de Zn-Pb; os contaminados apresentavam sintomas de fortes dores nas pernas e
costas, e com a evolução do quadro clínico para múltiplas fraturas no esqueleto,
caracterizando assim a osteomalácia (mineralização inadequada da matriz óssea) e a
osteoporose excessiva, porém proporcional, redução do cálcio na matriz óssea (LARINI,
1987; OGA, 1996).
Sais solúveis de ferro são irritantes para a pele e para o trato respiratório quando
inalados na forma de poeiras e misturas; irritação do trato gastrointestinal também ocorre
quando os sais são ingeridos (NIOSH, 1996). De acordo com LIMA (2001), o risco a saúde
decorrente da deficiência de ferro é superior ao decorrente da exposição excessiva.
O chumbo interfere em funções celulares, principalmente através da formação de
complexos com ligantes que contenham os elementos S, P, N e O; o sistema nervoso, a
medula óssea e os rins são considerados críticos para o Pb, devido à desmielinização e à
degeneração dos axônios, prejudicando funções psicomotoras e neuromusculares, tendo como
efeitos: irritabilidade, cefaléia, alucinações; interfere em várias fases da biossíntese do heme,
contribuindo para o aparecimento de anemia sideroblástica (SILVA e MORAES, 1987); altera
os processos genéticos ou cromossômicos, inibindo reparo de DNA e agindo como iniciador e
promotor na formação de câncer (LARINI, 1987; NRIAGU, 1988; OGA, 1996).
O níquel também é um elemento carcinógeno às vias respiratórias Têm sido
demonstrado durante 40 anos que a exposição ocupacional ao Ni predispõe o homem ao
câncer de pulmão, da laringe e nasal (CASARETT e DOULL'S, 1996).
Para o cromo apenas as formas trivalente Cr3+ e hexavalente Cr6+ são consideradas de
importância biológica (WHO, 1998), pois o cromo na forma trivalente é essencial ao
metabolismo humano, onde suas principais funções são: potencializar os efeitos da insulina, e
através desta alterar o metabolismo da glicose, aminoácidos e lipídeos ajudando a controlar a
diabetes; atuar na síntese de serotonina, já sua carência causa doenças como
hipercolesterolemia, insuficiência renal, choque circulatório, diabetes e inflamação e necrose
da pele e vias aéreas superiores; por sua vez a forma hexavalente é tóxica e cancerígena e
pode causar lesão renal e hepática.
15
A toxicidade pelo zinco é rara, ocorre geralmente quando ingerido acima de 100 a 300
mg/dia. Nesta eventualidade poderá causar alterações na absorção do cobre, além de provocar
distúrbios gastrointestinais como náuseas, vômitos, gosto metálico e dores abdominais
(OLIVEIRA, 1999)
A qualidade das águas estuarinas tem sido monitorada para metais pesados através de
análises de metais no sedimento, em biomonitores e no material particulado em suspensão MPS (GARLIPP, 2008). Em qualquer parte do ciclo hidrológico menos de 0,1 % desses
contaminantes estão dissolvidos na água, e mais de 99,9 % são armazenados nos sedimentos e
nos solos (SALOMONS, 1998).
Após a entrada dos metais nas drenagens, estes podem se associar ao material
particulado em suspensão e posteriormente se unir aos sedimentos de fundo dos rios. Por isso,
os sedimentos de fundo do canal de drenagem dos rios desempenham papel importante na
avaliação de sua poluição, pois refletem parte dos fenômenos que ocorrem nos
compartimentos água e material particulado (LIMA et al., 2006).
A Resolução CONAMA 344/04 no artigo 7, inciso III ressalta a necessidade da
avaliação ecotoxicológica dos sedimentos através do seguinte texto: “o material cuja
concentração de mercúrio, cádmio, chumbo ou arsênio, ou PAHs do grupo A, estiver entre os
níveis 1 e 2, ou se a somatória das concentrações de todos os PAHs estiver acima do valor
correspondente a soma de PAHs, deverá ser submetido a ensaios ecotoxicológicos”,
contribuindo com as análises físico-químicas, de metais pesados e microbiológicas.
De acordo com Blaise (1984) a ecotoxicologia é o estudo dos efeitos de uma ou mais
substâncias a uma população ou comunidade de organismos. A ecotoxicologia comporta
aspectos fundamentais de outras disciplinas e também um vaso campo de aplicação. Assim, a
ecotoxicologia permite avaliar os danos ocorridos nos diversos ecossistemas após
contaminação e também prever impactos futuros, quando da comercialização de produtos
químicos e/ou lançamentos de despejos num determinado ambiente. Para tanto, esta ciência
exige uma boa compreensão das noções fundamentais de ecologia, biologia, química,
bioquímica, fisiologia, estatística, oceanografia, limnologia, dentre outras (ZAGATTO, 2008)
Segundo Laitano & Resgalla (2002) os estudos ecotoxicológicos com sedimentos
também têm fornecido subsídios básicos para obras costeiras e análises ambientais no mundo
e no Brasil. Para isso são utilizados diferentes tipos de bioindicadores como amphipodas,
bivalvos, oligochaetas e tanaidaceos. Os testes de toxicidade permitem avaliar efeitos
interativos de misturas complexas presentes no sedimento sobre os organismos aquáticos.
16
Esses testes medem, portanto, os efeitos tóxicos das frações biodisponíveis presentes no
sedimento em condições controladas no laboratório ou através de testes em campo (ARAÚJO
et al., 2008). A fração biodisponível é definida como a fração da concentração total de metais
em cada reservatório abiótico que é ingerida pelos organismos (MASUTTI et al. 2002)
Outra forma importante de monitoramento da qualidade da água é a análise da
contaminação por metais pesados em biomonitores, pois alguns organismos marinhos
possuem a capacidade de concentrar metais pesados podendo atingir concentrações muito
superiores às concentrações encontradas na água, sendo por isso responsáveis por grande
parte da dinâmica destes poluentes no ambiente marinho (BRITO et al., 2008). A presença de
metais pesados em peixes, crustáceos e ostras está associada a riscos em relação à saúde
pública, porque estes contaminantes podem acumular-se nos homens se estes organismos
forem consumidos (JONES et al., 2000).
De acordo com Buratini & Brandelli (2008) a bioacumulação é o termo mais genérico,
que designa o processo em que substâncias químicas provenientes do ambiente são
assimiladas e retidas pelos organismos. Já a bioconcentração ou bioacumulação direta é o
termo mais específico, designando a acumulação de compostos químicos exclusivamente a
partir da fase aquosa, embora seja bastante heterogênea, com possibilidade de o composto
estar associado ao material orgânico dissolvido, coloidal ou particulado. A biomagnificação
ou bioacumulação indireta corresponde ao processo através do qual os contaminantes são
transferidos de um nível trófico a outro, exibindo concentrações crescentes à medida que
passam os níveis mais elevados.
A concentração dos metais acumulados em biomonitores, se bem pesquisada, fornece
uma medida integrada do montante de metais biodisponíveis em um dado habitat ao longo do
tempo. A fração biodisponível é realmente a única parte do metal total presente que é
ecologicamente relevante. Os biomonitores, portanto, fornecem uma medida mais fidedigna
do status de poluentes tóxicos de metal de um habitat aquático, do que as medidas de
concentrações dos metais nas águas ou sedimentos locais (PHILLIPS & ARCO-ÍRIS, 1994;
RAINBOW, 1995 apud SILVA et al.,2003).
A crescente industrialização e as altas densidades demográficas nas regiões ao longo
da costa do Brasil oferecem grande potencial de contaminação destes ecossistemas por metais
traços tóxicos. Os sistemas costeiros de mangue no Estado do Rio Grande do Norte no
nordeste-Brasil, por exemplo, encontram-se neste contexto, e é importante que os dados
gerados auxiliem no desenvolvimento de programas de gestão mais incisivos nesses habitats
17
costeiros produtivos, sendo necessário monitorar e, se necessário, controlar a descarga de
contaminantes marginais (SILVA et al., 2003).
Os estuários são importantes ecossistemas para a reprodução de varias espécies de
crustáceos, peixes e bivalves, além de se constituírem fonte de renda para diversas
comunidades. Para as populações ribeirinhas, mais do que fonte de renda, os estuários fazem
parte de seu modo de vida. Nas áreas urbanas prestam serviço ambiental importante, como
por exemplo, a renovação de estoques pesqueiros e diluição de efluentes.
Diante da importância dos problemas enfrentados pelos estuários do Brasil e em
especial o dos Rios Jundiaí/Potengi, vários trabalhos foram desenvolvidos no intuito de
caracterizar o estado da contaminação por metais pesados nos sedimentos e na água deste
corpo hídrico (GUEDES, 2003; GUEDES et al., 2005; LIMA et al. 2006; SINDERN et al.
2007; LIRA, 2008; OSKIERSKI et al., 2009; DANTAS, 2009; MEDEIROS, 2009). Muitos
destes estudos diagnosticaram níveis de metais pesados acima do permitido pela legislação
vigente. Também foram realizados estudos acerca da bioacumulação dos elementos traços em
diversos bioindicadores como: ostras Crassostrea rhizophorae (MELO, 2004), Crassostrea
rhizophorae, Anomalocardia brasiliana, Rhizophora mangle leaves, Mytella charruana,
Phacoides pectinata, Anadara ovalis (SILVA, 2006); tainha Mugil brasiliensis (VIEIRA,
2007); mexilhão Anomalocardia brasiliana (EMERENCIANO et al., 2008); e no Sururu
Mytella falcata (BRITO et al., 2008). Em alguns casos foram encontrados teores de metais
acima do permitido pela legislação (MELO, 2004; EMERENCIANO et al. 2008; VIEIRA,
2007). Estes dados são preocupantes, uma vez que, segundo LOPES (2010) os pescadores do
Rio Jundiaí consumem de dois a três dias em média por semana peixes, crustáceos e moluscos
coletados no rio.
O caranguejo Uçá (Ucides cordatus) é uma importante espécie para esse ecossistema e
para as populações ribeirinhas que o utilizam como fonte de renda e alimentação, sendo
também muito apreciado no estado do Rio Grande do Norte como um prato da cozinha
regional nordestina. Cabe salientar que os caranguejos Ucides cordatus encontrados no
estuário Jundiaí/Potengi ainda não foram alvo de estudos acerca da contaminação e
bioacumulação dos metais pesados, apesar de no Brasil alguns autores apontarem essa espécie
como um importante bioindicador da contaminação por metais pesados (HARRIS, 2000;
VILHENA et al. 2003).
O caranguejo-uçá, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) é uma espécie de caranguejo
(Decapoda: Brachyura) pertencente à família Ocypodidae e à subfamília Ocypodinae (MELO,
18
1996). É espécie onívora-dentritívora que se alimenta na natureza predominantemente de
restos de vegetais superiores e de detritos (BOND-BUCKUP, 1991). Possui grande porte, e
sua coloração varia do azul-celeste ao marrom-escuro, conforme a época do ano e o tempo
que permanece com o exoesqueleto. Suas patas possuem coloração lilás ou roxa. É um
crustáceo de hábito noturno e onívoro (ARAÚJO & CALADO, 2008).
Durante sua
alimentação estes crustáceos podem ingerir os metais pesados que se encontrem no sedimento
do ambiente em que vivem ou serem contaminados durante o seu ciclo de muda (ecdise).
Frente a esse cenário, este trabalho tem como hipótese que, assim como em outros
bioindicadores, os metais pesados também sofrem bioacumulação nos caranguejos Uçá. A
hipótese secundária é que o exoesqueleto age como depósito para esses contaminantes bem
como mecanismo de eliminação. Para conseguir corroborar essas hipóteses foi realizada a
avaliação da contaminação por metais pesados nos sedimentos, no exoesqueleto e na carne do
caranguejo Ucides cordatus, comparando posteriormente os teores desses metais encontrados
nos sedimentos com os encontrados nas partes componentes do bioindicador.
No que se refere às analises ecotoxicológicas, Silva-Nicodemo (2010) avaliou a
toxicidade dos efluentes lançados no estuário do Rio Potengi através de ensaios
ecotoxicológicos com organismos teste, Mysidopsis juniae, concluindo que a maioria dos
efluentes se mostraram tóxicos quanto à sobrevivência e fecundidade do organismo teste,
sendo os mais tóxicos o efluente da ETE Lagoa Aerada, ETE Quintas, Hospital Giselda
Trigueiro, CLAN e COTEMINAS. Com relação às amostras de corpos receptores de efluentes
(Canal do Baldo, Riacho das Lavadeiras e Macaíba), em todas elas a mortalidade foi total
após 24 horas do início dos testes, tendo sido todas, portanto, consideradas “Tóxicas”.
Embora a pesquisa de Silva-Nicodemo (2010) tenha investigado a toxicidade dos
efluentes lançados no estuário, a autora não avaliou a toxicidade do ambiente em si; por esta
razão, o presente trabalho apresenta resultados de testes ecotoxicológicos com o crustáceo
Leptocheirus plumulosus (Amphipoda, Corophiidae), realizados com o objetivo de avaliar a
toxicidade dos sedimentos aos organismos aquáticos. Os anfípodos são excelentes para uso
como organismo-teste, sendo normalmente recomendados e utilizados em testes de toxicidade
total aguda de amostras de sedimento de ambientes marinhos e estuarinos (ASTM, 1997;
GOMÉZ & PÁEZ, 1987 apud CESAR et al., 2002).
19
2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
O estuário do Potengi estende-se por cerca de 25 km com uma largura que varia entre
400 e 600 m, e é formado pelas águas dos Rios Potengi, Jundiaí e Doce (SILVA et al.,
2006).
A bacia do Rio Potengi ocupa uma superfície de 4.093 Km2 correspondendo a cerca de
8 % do território estadual, desaguando na cidade de Natal. O Rio Potengi forma uma planície
flúvio-marinha, transformando-se em planície fluvial à montante. Possui uma vazão média de
2,6 m3/s, apresenta 14,4 Km2 de área de manguezal (SERHID, 1998). Tem suas nascentes na
Serra de Santana no município de Cerro Corá e outras serras distribuídas nos municípios de
Currais Novos, Campo Redondo e São Tomé na localidade denominada de São Boa Ventura.
Seus afluentes mais importantes da margem esquerda são constituídos pelos rios Pedra Preta,
Pedra Branca, Guajirú e Jaguaribe. Na margem direita temos o Rio Jundiaí, Guarapes e o
Riacho do Salgado (NUNES, 2006).
O Rio Jundiaí tem uma influência independente, com menor descarga e é mais
influenciado pelas marés, cujos efeitos são observados até a cidade de Macaíba, a 30 km da
boca do estuário (SILVA et al., 2006).
A bacia do Rio Doce ocupa uma superfície de 387,8 Km2, corresponde a 0,7 % do
território estadual. Esta pequena bacia apresenta relevo de dunas móveis e fixas pertencentes à
unidade geomorfológica da Faixa Litorânea. O relevo é tabular dos Tabuleiros costeiros na
parte da bacia central, e do Planalto da Borborema no seu extremo oeste (SERHID, 1998). A
bacia é composta por dois rios que são responsáveis pelo abastecimento da Lagoa de
Extremoz. O Rio Guajirú que tem suas nascentes, nos municípios de Ielmo Marinho e São
Gonçalo do Amarante desaguando na lagoa de Extremoz. O Rio Mudo tem suas nascentes nos
municípios de Taipú e Ielmo Marinho, drenando suas águas no município de Ceará-Mirim,
que também deságua na lagoa do Município de Extremoz. A partir da desembocadura da
Lagoa de Extremoz, surge o Rio Doce que no seu curso divide os territórios de Extremoz e
Natal, indo desaguar no estuário do Rio Potengi (NUNES, 2006). O Rio Doce é a menor
entrada de água doce para o estuário do Potengi com uma descarga de aproximadamente
2m3/s. A temperatura da água varia 26,5-29,0ºC ao longo do ano (SILVA et al., 2006).
A predominância do regime de enchente e vazante, que faz com que o estuário fique
sempre dominado pelas águas oceânicas, promove um aumento na salinidade das águas do
estuário Jundiaí-Potengi. Esta influência é mais pronunciada, principalmente, nos pontos mais
próximos da foz do Rio Potengi (IDEMA, 2009). Devido a essa salinidade as águas do
20
estuário Jundiaí/Potengi não são utilizadas para abastecimento humano; porém, são de grande
importância para a preservação de espécies, carcinicultura e diluição de efluentes.
O estuário dos Rios Potengi e Jundiaí, apesar de sua grande importância, sofre
diariamente por ser um ambiente de transição entre o continente e o oceano, e por apresentar,
nas suas proximidades, uma intensa densidade humana. Por isso, as conseqüências ambientais
de impactos antropogênicos costumam ser mais graves nestes, que em outros ambientes
aquáticos (IDEMA, 2009).
De acordo com Guedes et al. (2005) os problemas ambientais oriundos da ocupação e
crescimento de forma horizontal agravam-se com o lançamento in natura de esgotos
domésticos e da indústria têxtil, além de lixo urbano e matadouros clandestinos. Esse
ecossistema ainda recebe forte influência antrópica de aproximadamente um milhão de
pessoas (IBGE, 2010) que residem nos municípios de Natal, Macaíba, Extremoz e São
Gonçalo do Amarante (Tabela 2).
Tabela 2: População residente acerca do estuário.
MUNICÍPIO
POPULAÇÃO
NATAL
785.722
MACAÍBA
66.808
SÃO GONÇALO DO AMARANTE
86.151
EXTREMOZ
23.931
TOTAL
962, 612
FONTE: IBGE (2010).
As influências antrópicas citadas afetam a dinâmica do ecossistema inclusive a
quantidade de metais no ambiente. Com base no exposto, o presente trabalho realizou a
avaliação da contaminação por metais pesados no sedimento e em caranguejos coletados em
uma área com cerca de 500 m no manguezal do Rio Jundiaí próximo a BR 226, próximo da
Rua São Raimundo. Avaliou também a ecotoxicologia do sedimento coletado nos mesmos
quatro pontos amostrados para a análise de metais pesados (Tabela 3), nas estações seca e
chuvosa. Os pontos são distribuídos ao longo do Rio Jundiaí e do estuário do Rio Potengi
(Figura 1,2 e 3).
21
Tabela 3: Coordenadas dos pontos de coleta dos sedimentos.
Pontos
Latitude
Longitude
Ponto 1 (Macaíba)
9352127, 87 m, S
240221, 88 m, O
Ponto 2 (Macaíba)
9354442, 63 m, S
247485, 79 m, O
Ponto 3 (Natal)
9360140, 45 m, S
251191, 25 m, O
Ponto 4 (Natal)
9361880, 83 m, S
255893, 00 m, O
Figura 1: Mapa dos pontos de amostragem.
22
A
B
C
D
Figura 2: (A) P1 - Rua José Baltazar na Cidade de Macaíba; (B) P2 -Próximo a ponte do Rio Guarapes, na estrada de Mangabeira; (C) P3 - Próximo a
ponte de Igapó; (D) P4 - Próximo ao Canto do Mangue, Natal.
23
3. METODOLOGIA GERAL
Para e realização deste estudo foram feitas coletas de sedimentos para a determinação
da concentração dos metais bem como para os ensaios ecotoxicológicos; durante essas coletas
também foi feita a medição dos parâmetros físico-químicos da água nos mesmos pontos; para
a concentração do teor de metais no caranguejo Uçá, 50 crustáceos foram coletados numa área
do manguezal do rio Jundiaí. Os procedimentos metodológicos encontram-se descritos a
seguir.
3.1 Parâmetros Físico-Químicos da coluna d’água
Os parâmetros físico-químicos da água (oxigênio dissolvido - OD, pH, cloreto,
turbidez, condutividade e temperatura) foram determinados em campo utilizando Sonda
Multiparâmetro TROLL 9500 (Figura 4), nos meses de janeiro (estação seca) e maio (estação
chuvosa). As medidas foram realizadas durante a coleta do sedimento para a determinação
dos metais. Foram feitas 7 leituras a cada 1 minuto, descartando a primeira e a última leituras.
O resultado apresentado é a média das cinco leituras restantes; estes resultados foram
comparados com os padrões estabelecidos para águas salobras classe I pela Resolução 357/05
- CONAMA.
A
B
Figura 3: (A) Utilização da Sonda em Campo (Ponto 4 Canto do Mangue); (B) Destaque para a Sonda TROLL 9500.
24
3.2 Preparo das amostras de sedimento
Fluxograma do preparo das amostras de sedimento
COLETA DOS SEDIMENTOS
SECAGEM
PENEIRAMENTO
ATAQUE ÁCIDO (HCl 0,5
mol/L; ou água régia)
LEITURA DAS AMOSTRAS:
AAS-CHAMA; ICP-OES; ICP-MS
A descontaminação dos recipientes de vidro com capacidade de três litros, com tampas
de plásticos rosqueadas, foi realizada no laboratório de Geoquímica do Departamento de
Geologia da UFRN, antecedendo a amostragem. Utensílios de plástico foram utilizados na
coleta para evitar a adição de metais. As amostras foram coletadas na margem direita, sempre
na maré baixa, sendo em seguida levadas ao laboratório. No laboratório os sedimentos foram
acondicionados em travessas de vidro e secos em estufa (Marca - TECNAL Modelo: TE393/2) a 60° C até a remoção de toda a umidade (Figura 5). As amostras foram desagregadas
em
almofariz
de
porcelana,
sendo
posteriormente
quarteadas
e
separadas
25
granulometricamente em peneiras de aço inoxidável de 1 mm (16 TYLER/MESH); 0,150 mm
(100 TYLER/MESH); 0,063 mm silte e argila (250 TYLER/MESH).
A
B
Figura 4: Instrumentos utilizados no preparo das amostras; (A) Estufa para secagem do
sedimento; (B) Peneirador automático.
3.2.1 Ataque ácido HCl.
A fração passante das amostras em peneira com abertura de <0,063 mm foi colocada
em Beckers de 50 ml e seca em estufa a 100° C por uma hora; após o resfriamento em
dessecador até a temperatura ambiente, 1g de cada amostra foi pesado em Becker de 50 mL.
Após a pesagem adicionou-se 5 mL de HCl 0,5 mol/L, agitando-se por 150 minutos. A parte
sobrenadante foi transferida para um funil com papel filtro e escoada para provetas de 20 mL,
completando-se o volume com HCl 0,5 mol/L. Os filtrados foram posteriormente transferidos
para frascos de polietileno de 100 ml e mantendo-se sob refrigeração até ao momento da
leitura (Figura 6). Para a leitura dos elementos Cd, Cu, Cr, Pb, Ni e Zn utilizou-se um
espectrofotômetro de absorção atômica- com Chama, marca Varian, modelo 50B, do
Laboratório do Núcleo de Análises de Águas, Alimentos e Efluentes do Instituto Federal de
Educação Tecnológica do Rio Grande do Norte - IFRN, obedecendo a metodologia
estabelecida pela APHA et al. (2005). Foram utilizados padrões QUIMILAB (rastreáveis) e
Dinâmica. Os padrões secundários foram determinados de acordo com cada elemento (Cd 0,020 mg/L; Cu – 0,030 mg/L; Pb – 0,010 mg/L; Cr – 0,060 mg/L; Ni – 0,100 mg/L; Zn –
0,010 mg/L). Após a análise os resultados foram comparados com outros trabalhos.
26
A
B
Figura 5: (A) Capela do Laboratório de Geoquímica do Departamento de Geologia, com os suportes de filtro,
filtros, provetas e béqueres utilizados no ataque ácido (HCl 0,5 mol/L) ; (B) Procedimento de filtragem da
amostra. O sobrenadante é transferido para o filtro com o auxílio de um bastão de vidro.
3.3. Preparo das amostras do caranguejo Uçá para análise dos metais.
Fluxograma do preparo das amostras do caranguejo uçá
COLETA
DETERMINAÇÃO DO PESO ÚMIDO E
SECAGEM DAS AMOSTRAS
LEITURA POR AASCHAMA
TRITURAÇÃO E CALCINAÇÃO
DAS AMOSTRAS
ATAQUE ÁCIDO (HCl 10%)
Cinquenta exemplares de Caranguejo uçá, Ucides cordatus, todos machos com 7 cm
de carapaça, foram capturados em uma área localizada no manguezal do Rio Jundiaí, pelo
método de braceamento, por um catador contratado por intermédio da colônia de pescadores
Z-45 de Macaíba, com autorização do SISBIO Nº 29499-1 (Anexo 1). Em seguida os animais
foram lavados com água do próprio rio, acondicionados em isopor com gelo para uma melhor
27
conservação e transportados ao laboratório de Geoquímica do Departamento de Geologia da
UFRN.
No laboratório as amostras foram lavadas com água abundante para remoção dos
resíduos de sedimentos do mangue; em seguida a carne do exoesqueleto foi extraída com
auxílio de martelo e colheres de plástico. A carne e o exoesqueleto dos caranguejos foram
acondicionados em travessas de vidro separadas (previamente esterilizadas) e transportados
ao Laboratório de Química Analítica Aplicada do Instituto de Química (LAQUANAPUFRN). Após a separação do material para a determinação do peso úmido, as amostras foram
secas em estufa com ventilação (Marca: Químis, Modelo: Q-314M243) com temperatura
constante a 105° C até a secagem total verificada pela obtenção do peso constante (Figura 7).
B
A
Figura 6: (A) Caranguejo uçá, Ucides cordatus; (B) Secagem das amostras em estufa com ventilação.
Para a determinação do peso úmido, 10 g de cada amostra foram colocadas em
triplicata em cápsulas de porcelana (Marca: F. Maia Nº 4), esterilizadas e com peso
previamente determinado em balança de precisão (Marca: TECNAL Modelo: MARK 210A).
As amostras foram colocadas para a secagem em estufa com ventilação a 105º C (Marca:
Químis, Modelo: Q-314M243); após 4 horas foram removidas, resfriadas em dessecador e
pesadas, sendo novamente colocadas na estufa por mais 1 hora; este procedimento foi
repetido até se obter peso constante. Ao final foi calculada a perda de umidade das amostras
(Figura 8).
28
C
B
A
Figura 7: (A) Pesagens das capsulas em balança de precisão da Marca Tecnal, Modelo MARK210A; (B) Estufa com ventilação Marca: Químis,
Modelo: Q-314M243 para secagem das amostras dos caranguejos; (C) Amostra dos caranguejos em dessecador.
Em seguida, as amostras secas foram trituradas em almofariz de porcelana com pistilo.
Para utilização na calcinação, seis cadinhos de porcelana foram limpos com ácido nítrico e
água destilada, posteriormente calcinados à temperatura e 550° C por 30 minutos. Após
resfriamento, 10 g de cada amostra foram adicionadas aos cadinhos. O procedimento foi
realizado em triplicata. A seguir as amostras foram carbonizadas por quatro horas (até a
diminuição da liberação de fumaça) (Figura 9), sendo posteriormente calcinadas em Mufla
(Marca:FDG Modelo:3P-S) por quatro horas, a temperatura de 550° C, resfriadas em
dessecador e
pesadas (Figura 10 (A)). O procedimento de calcinação, resfriamento em
dessecador e pesagem foi repetido até as cinzas atingirem peso constante (totalizando 9
repetições).
A
B
Figuras 8: (A) Trituração da amostra de caranguejo Uçá utilizando almofariz e gral de porcelana; (B)
Descarbonização da amostra de caranguejo em cadinhos de porcelana.
Para a abertura das amostras foi realizado o ataque ácido com HCl a 10%. Em cada
cadinho com cinzas foi adicionado 10 mL de HCl a 10%. Após 20 minutos as amostras foram
29
filtradas com funil e papel filtro (descontaminado) para um balão de 100 mL; o resíduo
contido no cadinho sofreu novo ataque ácido e filtragem; este procedimento repetiu-se até
atingir-se a marca dos balões (Figura 10 (B)). As amostras foram transferidos para frascos de
polietileno de 100 mL e refrigeradas até ao momento da leitura por AAS. A média dos
resultados obtidos para os metais estudados foi comparada com os limites máximos
permitidos pela legislação vigente (Portaria nº 685 da ANVISA e decreto nº 55.871 da
ANVISA), e com os teores encontrados em outros bioindicadores estudados nesse mesmo
estuário.
A
B
Figura 9: (A) Mufla para calcinação das amostras de caranguejo; (B) Filtragem para balão de 100 ml da cinza das
amostras de caranguejo submetidas ao ataque ácido.
30
3.4 Testes ecotoxicológicos.
Fluxograma dos testes ecotoxicológicos
COLETA DAS AMOSTRAS DE SEDIMENTOS
DETERMINAÇÃO DA MATÉRIA ORGÂNICA
PREPARO DAS AMOSTRAS DOS TESTES DE
TOXICIDADE AGUDA (10 DIAS)
CONTAGEM DO TESTE
ANÁLISES ESTATÍSTICAS
Os testes de toxicidade aguda dos sedimentos estuarinos foram realizados seguindo a
Norma ABNT NBR 15638/2008 no Laboratório de Ecotoxicologia - ECOTOX do
Departamento de Oceanografia e Limnologia da UFRN. Para isto foi utilizado o organismo
teste Leptocheirus plumulosus (Figura 11). As coletas do sedimento para os testes foram
realizadas durantes quatro meses (Julho, agosto, setembro e outubro). Para a determinação do
teor de matéria orgânica, as amostras dos meses de julho e outubro foram secas em
liofilizador; em seguida, 10 g de cada amostra foram colocadas em cadinhos e aquecidas em
mufla por 6 horas a 400ºC, tendo sido ao final calculada a perda de matéria orgânica.
Para os testes ecotoxicológicos foram utilizados anfípodos que ficaram retidos em
peneira com malha de 0,5 mm após passarem por peneira de 0,7mm. O ensaio foi executado
em recipientes de 1 L com cerca de 175 g de sedimento do estuário do rio Jundiaí/Potengi
(frações maiores que 1 cm foram removidas manualmente). A espessura do sedimento no
31
recipiente deve ser de pelo menos dois centímetros. Adicionou-se 725 mL de água do mar
filtrada, aerada e com salinidade corrigida para 20 %. Os recipientes receberam durante os
ensaios iluminação uniforme e contínua (500 lux a 1000 lux) e aeração constante (Figura 12
(B)). Em cada recipiente foram adicionados, com auxílio de pipetas, 20 organismos
escolhidos de forma aleatória. Para cada ponto foram feitas quatro réplicas dos testes e cinco
réplicas do teste com o sedimento controle (o sedimento utilizado para o cultivo).
Diariamente durante os testes em cada recipiente-teste foram verificados o fluxo de ar,
a temperatura, a salinidade, o oxigênio dissolvido e o pH. Depois de dez dias o conteúdo de
cada recipiente foi peneirado através de uma tela de 0,5 mm, para remover os organismos
teste e verificar a taxa de mortalidade.
A
B
Figura 10: Leptocheirus plumulosus (A) macho e (B) fêmea.
A
B
Figura 11: (A) Aquários com o cultivo de Leptocheirus plumulosus no Laboratório de Ecotoxicologia - UFRN; (B)
Recipientes dos testes com aeração e iluminação constante.
32
3.4.1 Análise estatística
De acordo com a ABNT NBR 15638/2008 a validade dos testes pode ser medida pela
sobrevivência média do teste controle, onde a aceitabilidade de sobrevivência média deve ser
superior a 85%, e de cada replica ser superior a 80% (Apêndice I).
Antes das análises estatísticas verificou-se a homocedasticidade (homogeneidade de
variâncias) dos dados através do teste de Levene. Para os dados que não apresentaram
homocedasticidade foi aplicada a transformação da raiz quadrada do arcoseno para que se
tornassem homocedásticos (ABNT NBR 15638, 2008). As transformações foram realizadas
através do software Microsoft Excel 2007. Os resultados foram tratados utilizando-se o teste
“t” por bioequivalência e constante de bioequivalência (B=0,80). Os testes estatísticos foram
realizados com o programa TOXSTAT, Versão 3.5 (1995). Após a análise estatística, as
amostras foram classificadas como “tóxicas” ou “não tóxicas” em relação ao controle.
33
3. REFERÊNCIAS
AMIARD, J. R.; AMIARD-TRIQUET, C.; BERTHET, C.; METAYER, C. Comparative
study of the patterns of bioaccumulation of essential (Cu, Zn) and non-essential (Cd, Pb) trace
metal in various estuarine and coastal organisms. Journal of experimental marine biology
and ecology, Amsterdam, v. 106, p.73-89, 1987.
APHA, AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATIONS, Standard methods for the
examination of water and wastewater. 21th. Washington D. C. 2005.
ARAÚJO, M. S. L. C.; CALADO, T. C. S. Bioecologia do Caranguejo-Uçá Ucides cordatus
(Linnaeus) no Complexo Estuarino Lagunar Mundáu/Manguaba (CELMM), Alagoas, Brasil.
Revista da Gestão Costeira Integrada, Santa Catarina, v. 8(2), p.169-181, 2008.
ARAÚJO, R. P. A.; SHIMIZU, G. Y.; BOHRER, M. B. C.; JARDIN, W., Avaliação da
qualidade de sedimentos, In: Zagatto, P. A.; Bertoletti, E.,(ORG.). Ecotoxicologia aquática:
Princípios e Aplicações. São Carlos. RiMa, Cap. 13, p. 293-326, 2008.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS- ABNT. Qualidade da água determinação da toxicidade aguda de sedimentos marinhos ou estuarino com anfípodos.
NBR 15638. São Paulo, 2008.
BOND - BUCKUP, G.; FONTOURA, N.F.; MARRONI, N.A P E KUCHARSKI, L.C. O
Caranguejo: Manual para o Ensino Prático em Zoologia. Editora da Universidade - UFRGS,
Porto Alegre, p.71, 1991.
BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância Sanitária. Portaria nº 685, de 27 de
agosto de 1998. Regulamento Técnico: "Princípios Gerais para o Estabelecimento de Níveis
Máximos de Contaminantes Químicos em Alimentos" e seu Anexo: "Limites máximos de
tolerância para contaminantes inorgânicos". D.O.U. - Diário Oficial da União, Poder
Executivo, Brasília, DF 28 ago. 1998, p.1-4.
BRASIL. Leis, decretos, etc. CONAMA - CONSELHO NACIONAL DO MEIO
AMBIENTE, Resolução nº 344, de 25/03/2004. Estabelece as diretrizes gerais e os
procedimentos mínimos para a avaliação do material a ser dragado em águas jurisdicionais
brasileiras, e dá outras providências. Retificado o último segmento da tabela III nos D.O.U. Diário Oficial da União, nos 94, de 18/05/2004, pág. 74, 98, de 24/05/2004, pág. 56, e 102,
de 28/05/2004, pág. 142. Disponível em http://www.mma.gov.br/conama. Acesso em:
05/05/2011
BRASIL. Leis, decretos, etc. CONAMA - CONSELHO NACIONAL DO MEIO
AMBIENTE, Resolução nº 357, de 17/03/2005. Dispõe sobre a classificação dos corpos de
água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e
padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências. Diário Oficial da União, nº 53,
de 18 de março de 2005. Brasília, 2005, 58-63.
Disponível em
http://www.mma.gov.br/conama. Acesso em: 07/03/2011
34
BRASIL. Leis. Decretos etc. Decreto nº 55.871 de 26 de março de 1965. Modifica o decreto
nº 500.40, de 24/01/1961. Referente a normas reguladoras do emprego de aditivos para
alimentos, alterado pelo decreto nº 691 de 13/03/1962. D.O.U. - Diário Oficial da União,
Poder Executivo, Brasília, DF, 1965. p.1-9.
BRITO, G. Q.; MOURA, M. F. V.; CRUZ, A. M. F.; ARAÚJO, E. G.; VIEIRA, M. F. P.
Avaliação de risco à saúde humana por exposição ao cobre, chumbo, cromo, zinco e cádmio
presentes no sururu (Mytella falcata) coletados no estuário do Rio Potengi, Natal/RN.
Química no Brasil. Campinas, v.2, n.2, p.57-62, 2008.
BURATINI, S. V. & BRANDELLI, A. Bioacumulação. In: Zagatto, P. A.; Bertoletti, E.,
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39
5. Capitulo I
CONTAMINAÇÃO POR METAIS PESADOS NO SEDIMENTO E NO
CARANGUEJO-UÇÁ, Ucidescordatus (Linnaeus, 1763),DO ESTUÁRIO DOS RIOS
JUNDIAÍ E POTENGI, RN/BRASIL
Este artigo foi publicado no livro Meio Ambiente e Saúde Humana: Práticas, Vivências e
Saberes. Natal: EDUFRN, 2013. Cap. 8. p. 167-190.
40
CONTAMINAÇÃO POR METAIS PESADOS NO SEDIMENTO E NO
CARANGUEJO-UÇÁ, Ucidescordatus (Linnaeus, 1763),DO ESTUÁRIO DOS RIOS
JUNDIAÍ E POTENGI, RN/BRASIL
Rejane Batista Lopes
1 INTRODUÇÃO
No que se refere à abundância de elementos químicos em rochas, sedimentos e
minerais, distingue-se os elementos maiores comoaqueles que apresentam concentrações
maiores do que 1,0%, elementos menores com concentrações entre 0,1 e 1,0% e elementos
traços com concentrações menores que 0,1%. Deve-se ressaltar que o mesmo elemento pode
ser elemento maior em um tipo de amostra, mas elemento traço em outra (GILL, 1997).
Metais pesados são aqueles que apresentam uma densidade igual ou superior a 5,0 g/cm3.
Incluem-se, neste grupo, o Pb, Cd, Cr, Cu, Ni, Zn, dentre outros. Nas rochas da crosta
terrestre, os metais pesados são encontrados em quantidades inferiores a 0,1% (RUDNICK;
GAO, 2003), apresentando,consequentemente, baixa concentração nos sedimentos derivados
daquelas. Por essa razão, os termos “elementos traços”e “metais pesados”são usualmente
utilizados de forma indistinta. Pelo fato de os metais pesados estudados no presente trabalho
(Pb, Cd, Cr, Cu, Ni, e Zn) serem elementos traços nas rochas da crosta terrestre, serão usados
ao longo do texto como mesmo significado.
Na costa brasileira, há relatos de contaminação por metais pesados em algumas
regiões, como resultado das elevadas taxas de emissão por atividades industriais e urbanas
concentradas nas bacias de drenagens e na região costeira desde a década de 1980 (MARINS
et al, 2004). Uma vez inseridos no ambiente, os elementos traços são uma das principais
fontes de poluição, visto que esses metais pesados têm efeito significativo na qualidade
ecológica (SASTRE et al, 2002). Os sedimentos têm sido considerados como um
compartimento de acumulação de espécies poluentes a partir da coluna d’água, devido às altas
capacidades de sorção e acumulação associadas –em que as concentrações tornam-se várias
ordens de grandeza maiores do que nas águas correspondentes –, possibilitando seu uso como
um bom indicador de poluição ambiental (JESUS et al, 2004). Outra importante ferramenta de
monitoramento da poluição ambiental é a avaliação da contaminação por metais pesados em
bioindicadores, principalmente quando esses servem de importante fonte de alimento e renda
para a população local. A avaliação dos níveis de metais pesados em alimentos consumidos
localmente é o primeiro passo para a avaliação de riscos à população humana devido à
contaminação ambiental por esses metais (NIENCHESKIet al, 2001).
41
De acordo com Plumleee Ziegler (2003),não existem efeitos à saúde associados à
deficiência de cádmio, porém o excesso leva ao sofrimento do trato gastrointestinal,
gastroenterite, lesões no fígado e rins, cardiomiopatia, acidose metabólica, irritação do trato
nasofaríngeo, pneumonite, bronquite, lesões renais, osteoporose, osteomalacia. O cromo III é
essencial, e a sua deficiência resulta em metabolismo da glucose, hiperlipidemia e opacidade
da córnea; por sua vez, o excesso causa irritação e lesões na pele, trato respiratório e mucosa
gástrica e intestinal, edema pulmonar, câncer,em exposição a longo prazo, e falência aguda
dos rins; para o chumbo, não há efeito conhecido acerca de sua deficiência, porém o excesso
causa encefalopatia crônica, insuficiência renal, hipertensão,anemia, doença renal e prejudica
o desenvolvimento motor em crianças.Como efeitos na saúde associados à deficiência de
cobre,são citados anemia e síndrome de Menkes; o excesso causa irritação e geração de lesões
no corpo, no trato respiratório, gástrico e na mucosa intestinal, dermatites de contato, edema
pulmonar, insuficiência renal aguda, ea longo prazo o risco de câncer de pulmão. O níquel
também não apresenta efeitos associados à sua deficiência e o seu excesso leva à redução da
capacidade pulmonar, bronquite crônica, enfisema, câncer de pulmão e cavidades nasais,
náuseas, cólicas, diarreia, vômito, efeitos sobre o sangue, rins, fígado e neurológicos. A
deficiência de zinco provoca anorexia, nanismo, anemia, hipogonadismo, hiperqueratose,
acrodermatiteenteropática e resposta imune deprimida, enquanto que seu excesso leva à
anemia hipercrônica e febre de fumo metálico.
O estuário dos rios Jundiaí e Potengi recebe, além da influência do mar, as águas dos
rios Jundiaí, Potengi e Doce. Esse estuário é berçário para diversas espécies de peixes,
crustáceos e moluscos. Para a sociedade, é um meio de sobrevivência de muitas comunidades
pesqueiras, servindo também para navegação, carcinicultura e recreação. Porém, apesar de sua
importância, esse estuário sofre uma forte pressão antrópica de quase um milhão de habitantes
(IBGE, 2010) dos municípios de São Gonçalo do Amarante, Extremoz, Macaíba e Natal. O
desenvolvimento das cidades circunvizinhas ao estuário ocorre sem um planejamento
adequado por parte do poder público, e essa falta de estrutura afeta não apenas a população,
como também o meio ambiente. Cabe salientar que uma porção elevada dos efluentes
produzidos por essas cidades é descartada sem prévio tratamento, ou com tratamento
ineficiente, devido à carga de matéria orgânica descartada ser superior ao dimensionamento
das estações de tratamento (ARAUJO; DUARTE, 2001; DUARTE; PEREIRA; CEBALLOS,
2000).
De acordo com Lopes (2010), a comunidade de pescadores do rio Jundiaí consome
peixes, crustáceos e moluscos coletados nesse rio de dois a três dias por semana, em média. O
aporte de resíduos de fontes diversas para o ambiente estuarino e o consumo de alimentos
42
obtidos através da pesca artesanal podem comprometer a saúde, principalmente das
comunidades ribeirinhas, uma vez que uma das formas de contaminação direta se dá através
da ingestão de peixes e outros animais pescados para consumo humano.
Vários trabalhosque envolvem a determinação de metais pesados em sedimentos
foram desenvolvidos nos riosque são os principais contribuintes hídricos desse estuário
(GUEDES, 2003; SINDERN et al, 2007; SOARES, 2006). Também foram realizados estudos
investigando metais pesados embioindicadores, citando-se a ostra Crassostrearhizophorae
(SILVA
et
al,
2001),Crassostrearhizophorae,
Anomalocardia
brasiliana,
Rhizophoramangleleaves, Mytellacharruana, Phacoidespectinata, Anadaraovalis(SILVA;
SMITH; RAINBOW, 2006), a tainha Mugilbrasiliensis(VIEIRA, 2007), o mexilhão
Anomalocardia brasiliana(EMERENCIANOet al, 2008) e o sururu Mytellafalcata(BRITO et
al, 2008).
De acordo com Melo (1996),o caranguejo-uçá, Ucidescordatus(Linnaeus, 1763), é
uma espécie de caranguejo(Decapoda: Brachyura) pertencente à família Ocypodidae e à
subfamília Ocypodinae. Possui carapaça transversalmentesubelíptica, pouco mais larga do que
longa,quelípodos desiguais em ambos os sexos, patas ambulatórias 2-4 com longas franjas de
pelos sedosos; as fêmeas apresentam pelos reduzidos ou ausentes. Sua distribuição geográfica
ocorre do Atlântico Ocidental da Flórida (EUA) até Santa Catarina (Brasil), onde habita
ambientes pantanosos, entre raízes das árvores do mangue, em áreas de água salobra, e
constrói galerias largas,sendo que, às vezes, ocupa galerias de outras espécies, como as do
gênero Cardisoma, Uca e Goniopsis. Araújo e Calado (2008) acrescentam que esse
caranguejo possui coloração que varia do azul-celeste ao marrom-escuro, conforme a época
do ano e o tempo que permanece com o exoesqueleto. Suas patas possuem coloração lilás ou
roxa.
Diante deste contexto, o objetivo do presente trabalho é realizar a avaliação da
concentração dos elementos Cd, Cu, Cr, Pb, Ni e Zn nos sedimentos coletados no estuário dos
rios Jundiaí e Potengi, em duas estações do ano distintas, a seca e a chuvosa, investigando a
concentração
desses
mesmos
elementos
químicos
na
carne
do
caranguejo-uçá
(Ucidescordatus), uma espéciede hábito noturno, onívora e que vive enterrada nos
sedimentos. O caranguejo-uçá, além de ser uma importante fonte de renda para diversas
comunidades pesqueiras da região, é um alimento muito apreciado e consumido pela
população. Tem-se conhecimento de apenas um estudo que apresenta resultados para metais
pesados nesse caranguejo no Brasil, no Litoral do estado de São Paulo (HARRIS; SANTOS,
2000). Discute-se a diferença entre as concentrações de metais encontradas na carne do
43
crustáceo nesse estudo com outras espécies estudadas do mesmo estuário e no Brasil, além da
relação entre os resultados para sedimentos e caranguejo.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O estuário do rio Potengi é formado pelas águas dos rios Potengi, Jundiaí e Doce.A
bacia do rio Potengi ocupa uma superfície de 4.093 Km2,o que corresponde a cerca de 8% do
território estadual, desaguando na cidade de Natal. Possui uma vazão média de 2,6 m3/s e
apresenta 14,4 Km2 de área de manguezal (SERHID, 1998). O rio Jundiaí, componente da
bacia hidrográfica do rio Potengi, é influenciado pelas marés,cujos efeitos são observados até
a cidade de Macaíba, a qual dista cerca de 30 km da saída do estuário (Figura 1). A bacia
hidrográfica do rio Doce ocupa uma área de 387,8 Km2,correspondendo a 0,7 % do território
estadual (SERHID, 1998). Compreende a Lagoa de Extremoz e as sub-bacias dos rios do
Mudo e Guajiru. O rio Doce recebe esse nome a partir de sua desembocadura da Lagoa de
Extremoz e localiza-se aproximadamente no limite entre os municípios de Extremoz e Natal,
desaguando no estuário do rio Potengi. A descarga de água do rio Doce para o estuário do
Potengi é de, aproximadamente,4,7m3/s (SERHID, 1998). Devido à salinidade, as águas do
estuário do rio Potengi não são utilizadas para o abastecimento humano; porém, esse estuário
é importante para atividades como a pesca, carcinicultura e diluição de efluentes, além de sua
importância ecológica para a preservação de várias espécies.
2.1 AMOSTRAGEM
Para a realização deste estudo, os sedimentos foram coletados com utensílios de
plástico em quatro pontos distribuídos ao longo do rio Jundiaí e do estuário do Potengi
durante a estação seca (janeiro) e chuvosa (maio) do ano de 2011, sempre durante as marés de
quadratura.
O
armazenamento
foi
feito
em
recipientes
de
vidro
previamente
descontaminados.A coleta dos caranguejos foi realizada em uma área de manguezal do rio
Jundiaí, no mês de junho (chuvoso), pelo método do braceamento (coleta manual, quando o
catador insere o braço na toca do caranguejo). A coleta dos sedimentos ocorreu em quatro
pontos distribuídos pelo estuário: ponto 1 (P1) – próximo ao centro da cidade de Macaíba;
ponto 2 (P2)– ponte próxima ao encontro do rio Jundiaí com o rio Guarapes; ponto 3 (P3) –
ao lado da ponte de Igapó, em Natal; ponto 4 (P4) – Canto do Mangue, em Natal (Figura 1).
44
2.2 PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS
Durante as coletas do sedimento, os parâmetros físico-químicos da água, como
oxigênio dissolvido (OD), pH, cloreto, turbidez, condutividade e temperatura foram
determinados em campo, utilizando Sonda Multiparâmetro TROLL 9500. Os resultados
obtidos foram comparados com a RESOLUÇÃO CONAMA 357/05.
2.3 PREPARO DAS AMOSTRAS DE SEDIMENTOS
No laboratório, as amostras de sedimentos foram acondicionadas em travessas de
vidro e secas em estufa a 60° C; em seguida, foram desagregadas em almofariz de porcelana,
quarteadas e separadas granulometricamente em peneiras de aço inoxidável de 1 mm; 0,150
mm; 0,063 mm. Da fração passante em 0,063 mm, as amostras foram colocadas em Beckers
de 50 mL e levadas à estufa a 100° C por uma hora; após o resfriamento em dessecador, 1 g
de cada amostra foi pesado em um Becker de 50 mL, com balança analítica marca AND,
modelo HR-202. Em seguida, adicionou-se 5mL de HCl 0,5 mol/L, agitando-se por 150
minutos. A parte sobrenadante foi transferida para um funil com papel filtro e escoada para
provetas de 20 mL, completando-se o volume com HCl 0,5 mol/L. Os filtrados foram,
posteriormente, transferidos para frascos de polietileno de 100 mL e refrigerados até ao
momento da leitura. Para tal, foi utilizado um espectrofotômetro de absorção atômica –
CHAMA, marca Varian, modelo 50B, obedecendo à metodologia estabelecida pela APHA
(2005).
Figura 1 – Mapa da localização dos pontos de coleta.
45
2.4 PREPARO DAS AMOSTRAS DO CARANGUEJO-UÇÁ
Cinquenta exemplares de caranguejo-uçá,Ucidescordatus,todos machos, com 7 cm
delargura de carapaça (Figura 2), foram capturados em uma área localizada no manguezal do
rio Jundiaí, com autorização do SISBIO (Nº 29499-1). Em seguida, os animais foram lavados
com água do próprio rio, acondicionados em isopor com gelo, para uma melhor conservação,
e transportados ao laboratório.
Figura 2 – Caranguejo Ucidescordatus do rio Jundiaí
No laboratório, as amostras foram lavadas com água abundante, para a remoção dos
resíduos de sedimentos do mangue; em seguida, a carne foi removida do exoesqueleto com o
auxílio de martelo e colheres de plástico.Para o presente estudo, foi utilizada a carne do
músculo das patas do caranguejo, por ser usualmente mais apreciada e consumida pela
população local. Para a determinação do peso úmido 10 g de cada amostra, foram colocadas
em triplicatas em cápsulas de porcelana e postas para a secagem em estufa com ventilação, a
105ºC, esfriadas em dessecador e pesadas, até se obter peso constante.
Após a secagem, 10 g de cada amostra em triplicata foram adicionadas aos cadinhos,
sendo realizadas carbonização e calcinação em mufla. Para a abertura das amostras, foi
realizado o ataque ácido com HCl 10 %; em cada cadinho com cinzas, foram adicionados 10
mL de HCl 10 %; após 20 minutos, as amostras foram filtradas em funil com papel-filtro para
um balão de 100 mL, repetindo-se o procedimento até se completar o volume final dos balões.
46
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os resultados dos parâmetros físico-químicosem águaem pontos de amostragem
localizados entre Macaíba e Natal, e dos elementos Cd, Cu, Pb, Cr, Ni e Zn adsorvidos na
fração fina dos sedimentos (períodos seco e chuvoso) nos mesmos pontos, são apresentados,
comparados e discutidos em 3.1e3.2,respectivamente. Os elementos químicos Cd, Cu, Pb, Cr,
Ni e Zn dosados na carne da pata do caranguejo-uçá (em peso úmido) são mostrados noitem
3.3, avaliados à luz da legislação vigente, e comparados com dados obtidos na literatura para
outros organismos (tainha, siri, sururu e mexilhão) neste mesmo estuário e para siris do rio
Cubatão. As informações obtidas para metais adsorvidos na fração fina dos sedimentos na
presente pesquisa, e em trabalhos anteriores na mesma área, permitem afirmar, dentre os
metais estudados, quaisos estão associados a atividades humanas no entorno do estuário e
evidenciar uma provável relação entre estes dados e os dos metais dosados no caranguejo-uçá
(item 3.4).
3.1 PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS
A média dos valores dos parâmetros físico-químicos em água obtidos em campo com
a sonda Multiparamétricaé apresentadana Figura 3. Os valores de oxigênio dissolvido (Figura
3A) diminuem entre Macaíba e a ponte do Igapó, local que apresentou os mais baixos valores
de OD nas estações seca e chuvosa, ficando abaixo do limite mínimo estabelecido pela
resolução CONAMA, que é de 5mg/L para água salobra Classe 1. Vale salientar que esse
ponto se encontra em um local muito populoso, sofrendo influência das atividades das áreas
circunvizinhas e do aporte das águas dos rios Golandim e Potengi. Entre a ponte de Igapó e o
Canto do Mangue, há um aumento nos valores de OD.
47
A
B
C
D
E
F
Figura 3 – Parâmetros físico-químicos estabelecidos em água nos pontos de amostragem.
Período seco: losangos; período chuvoso: quadrados
Observou-se aumento de pH, temperatura, cloreto e condutividade (Figura 3B, C, D e
E) entre a cidade de Macaíba e a desembocadura do estuário, com exceção dos parâmetros
cloreto e condutividade no período chuvoso, que são menores na ponte do Igapó. Para o pH,
todos os pontos se apresentam dentro dos padrões estabelecidos para água salobras , Classe 1,
da Resolução 357/05 (6,5-8,5), tanto na estação seca quanto na chuvosa. A turbidez é elevada
48
na ponte do Igapó (Figura 3F) quando comparada com os resultados encontrados para esse
parâmetro na ponte dos Guarapes e no Canto do Mangue.
Comparando-se as estações seca e chuvosa, verifica-se que o cloreto apresenta valores
mais elevados no período de maior precipitação, enquanto que OD e temperatura são menores
para o mesmo período.
3.2 METAIS EM SEDIMENTOS
Após as leituras por AAS-CHAMA, os valores dos metais encontrados no sedimento
encontram-se expressos na Tabela 1.
Os teores dos metais pesados lixiviados a partir da fração fina dos sedimentos de
fundo coletados na estação seca (de menor precipitação) foram iguais (Cd) ou maiores (Cu,
Pb, Cr, Ni e Zn) que os teores dos sedimentos coletados nos mesmos pontos na estação
chuvosa (Tabela 1). Observa-se que o ponto P4, na estação chuvosa, apresentou maior
concentração de cádmio (1,2 mg/Kg).Cabe salientar que esse ponto de amostragem fica
próximo ao porto da cidade de Natal, em uma área com muita influência antrópica, o que
pode estar relacionado à presença de tal elemento no ambiente.
Nos pontos P1 e P4, as concentrações do chumbo na estação seca apresentaram-se
elevadas, destacando-se P1, em Macaíba, com um teor de 182 mg/Kg. As prováveis fontes de
chumbo são as atividades antrópicas desenvolvidas na região, uma vez que as maiores
concentrações foram encontradas nos pontos com alta densidade demográfica (P1 e P4) e
intensa movimentação de embarcações (P4). Para o cobre, o ponto de amostragem da cidade
de Macaíba (P1), na estação seca, apresentou o maior teor, seguido do teor do ponto 4. No que
se refere ao zinco, destacam-se os pontos 4 (118 mg/Kg) e o ponto 1 (86 mg/Kg). Também foi
possível observar que, para quase todos os elementos, as maiores concentrações foram
encontradas nos pontos de amostragem mais próximos da zona urbana das cidades de
Macaíba (P1) e Natal (P4).
49
Tabela 1 – Concentração de metais nos sedimentos (estação seca/estação chuvosa) do rio Jundiaí,
estuário do rio Potengi, no ano de 2011
Sedimentos (mg/Kg)
Metais
Estação seca/estação chuvosa
Ponto 1
Macaíba
Ponto 2 Guarapes
Cádmio
0,4 / 0,2
0,6 / 0,6
0,6 / 0,6
1,0 / 1,2
Cobre
36,8 / 9,0
8,8 / 7,2
5,2 / 5,2
20,6 / 8,8
Chumbo
182 / 28
26 / 30
28 / 24
52 / 44
Cromo
22,4 / 7,8
24 / 18,4
20,4 / 10,6
20,6 / 7,0
Níquel
10 / 8,0
12 / 6,0
12 / 6,0
16 / 8,0
Zinco
86 / 27,2
48 / 21,8
38 / 15
118 / 34
Ponto 3
Igapó
Ponto 4
C. Mangue
A Figura 4 mostra a comparação entre as concentrações dos metais analisados nos
sedimentos nos períodos seco e chuvoso. Verifica-se, de maneira geral, que o teor dos metais
analisados apresentou redução nas concentrações durante o período chuvoso (Figura4), exceto
para o cádmio, cujo teor nos sedimentos se manteve constante em quase todos os pontos,
apresentando um discreto aumento no Canto do Mangue. O chumbo,no Guarapes, apresentou
aumento na estação chuvosa, que pode ter ocorrido pela entrada dos metais escoados com a
chuva provenientes do P1 (mais a montante da cidade de Macaíba).
Os resultados das concentrações dos metais nos sedimentos encontrados nesse estudo
foram comparados com outros estudos realizados nos rios que compõem o estuário do rio
Potengi (Tabela 2) e em outros rios e estuários do Brasil e do mundo (Tabela 3).
As informações encontradas no rodapé da Tabela 2 permitem a comparação dos
resultados obtidos no presente estudo com dados de pesquisas desenvolvidas por quase uma
década nas principais drenagens da área do estuário (GUEDES, 2003; SINDERN et al,
2007;SOARES, 2006). Nos estudos anteriores, foram analisados sedimentos finos,
submetidos à lixiviação por água régia (digestão ácida forte), enquanto que, neste trabalho,
utilizou-se HCl 0,5M (digestão ácida fraca) para a remoção dos metais adsorvidos nas
partículas da fração < 0,063 mm.
50
Figura 4 – Comparativo dos teores de metais em sedimentos na estação seca (losangos) e
chuvosa (quadrados)
Em uma comparação entre períodos de precipitações distintas, os teores máximos para
Cu, Pb, Cr, Ni e Zn foram observados na estação seca. Isso pode estar relacionado às menores
vazões nas drenagens que compõem o estuário em época de chuvas mais escassas. Teores
máximos na estação seca para os elementos Pb, Cr, e Ni foram observados por Guedes (2003)
no rio Jundiaí, nas adjacências da cidade de Macaíba (Tabela 2, linhas 1 e 2).
51
Tabela 2–Comparativo com estudos realizados nos sedimentos dos rios que compõem o estuário do
Rio Potengi
Cd
Cu
Pb
Cr
Ni
Zn
Min/Max
Min/Max
Min/Max
Min/Max
Min/Max
Min/Max
Rio Jundiaía
<LD/0,5
12/52
16/91
37/85
24/113
24/141
Rio Jundiaíb
<LD/<LD
13/61
14/48
46/82
23/49
20/143
Rio Potengic
0,01/0,10
1,6/28,4
1,67/19,7
7,2/30,0
3,8/15,4
6,7/76
Rio Doce d
<LD/2,5
5,1/14,4
26,1/76,4
6,3/47,7
22,5/100,4
16,8/41,1
Este estudoe
0,4/1,0
5,2/36,8
26/182
20,4/24
10/16
38/118
Este estudof
0,2/1,2
5,0/9,0
24/44
7,0/18,4
6,0/8,0
15/34
Concentração dos metais em mg/Kg; <LD – Abaixo do limite de detecção; Min – valor mínimo encontrado; Max
– valor máximo encontrado; (a) Rio Jundiaí (GUEDES, 2003), fração < 0,063 mm, água régia, ICP – Plasma
Indutivamente Acoplado, período seco; (b) Rio Jundiaí (GUEDES, 2003), fração < 0,063 mm, água régia, ICP,
período chuvoso; (c) Rio Potengi (SINDERN et al, 2007), sedimentos finos, água régia, AAS e ICP(Ni, Cr); (d)
Rio Doce(SOARES, 2006), fração < 0,063 mm, água régia, AAS;(e) Fração < 0,063 mm, HCl 0.5M, AAS –
Espectrometria de absorção atômica, período seco; (f) Fração < 0,063 mm, HCl 0.5M, AAS – Espectrometria de
absorção atômica, período chuvoso.
No presente estudo,foi encontrado, para o cádmio,um máximo de 1,2 mg/Kg no Canto
do Mangue, valor superior aos resultados obtidos anteriormente, à exceção do trabalho de
Soares (2006), que registrou um valor de Cd de 2,5 mg/Kg nos sedimentos de fundo do rio
Doce. O Canto do Mangue fica próximo ao local no qual o rio Doce deságua no estuário.
Destacam-se, entre fontes antropogênicas de cádmio, as descargas de efluentes industriais,
principalmente as galvanoplastias, e produção de pigmentos, inseticidas, soldas de
equipamentos eletrônicos, lubrificantes e fertilizantes fosfatados utilizados em áreas agrícolas.
Quanto ao chumbo, o valor máximo de 182 mg/Kg obtido com ataque de ácido
fracoevidencia um aumento nas concentrações desse elemento em relação às pesquisas
anteriores na mesma área.Ressalte-se que o ponto de amostragem com teor mais elevado
localiza-se na cidade de Macaíba, onde Guedes (2003) também identificou teor mais elevado
de chumbo nos sedimentos.
O cromo e o níquel são derivados de fontes geogênicas, dentre as quais os minerais
máficos das rochas cristalinas expostas na bacia dos rios Jundiaí e Potengi são as fontes mais
prováveis (SINDERN et al, 2007).
52
Tabela 3 –Metais em sedimentos: comparação com estudos realizados no Brasil e no mundo
Cd
Cu
Pb
Cr
Ni
Zn
Min/Max
Min/Max
Min/Max
Min/Max
Min/Max
Min/Max
I. Vitoriaa
NA/NA
5/660
5/292
35/280
6/245
27/812
Rio Bariguib
ND/0.6
NA/NA
46/26
6,2/35,2
2,2/16,2
16/226
Rio Formosoc
0,01/1,2
0,05/12,8
0,08/25,99
0,15/64
0,05/12,02
0,21/13,0
E. Santosd
ND/0,73
28/91
18/104
38/127
17/36
80/440
Rio Tecatee
ND/5,24
NA/NA
ND/28
1,62/12,71
ND/16,65
NA/NA
E. Tamakif
0,04/0,5
14/113
35/80
NA/NA
NA/NA
91/336
Macedôniag
1,1/3,3
19,5/27,6
6,5/20,5
NA/NA
35,4/232
42,5/95
Este estudo*
0,4/1,0
5,2/36,8
26/182
20,4/24
10/16
38/118
Este estudo**
0,2/1,2
5,0/9,0
24/44
7,0/18,4
6,0/8,0
15/34
Concentração dos metais em mg/Kg; NA – não analisado; ND – não detectado; Min – valor mínimo encontrado;
Max – valor máximo encontrado; AAS – Espectrometria de absorção atômica; ICP – Plasma Indutivamente
Acoplado; (a) estuário da Ilha de Vitória (JESUS et al, 2004), fração < 0,063 mm, HNO3+H2O2+HCl, AAS; (b)
Rio Barigui (FROEHNER; MARTINS,2008), HNO3+H2O2, AAS; (c)Rio Formoso (BAGGIO; HORN,2010),
fração < 0,063 mm, água régia; ICP; (d) Estuário Santos-Cubatão (LUIZ-SILVA, 2006), fração < 0,063 mm,
HNO3+H2O2, ICP-AES; (e) Rio Tecate (WAKIDA et al, 2008), fração < 0,063 mm, água régia, AAS; (f)
Estuário de Tamaki (ABRAHIM et al, 2007), fração < 0,063 mm, HNO3, AAS; (g) Water systems
Macedônia(SAWIDIS et al, 1995), HNO3+HClO4, AAS.
Quando comparado com outros estudos realizados no Brasil,o presente trabalho
registrou valores de metais pesados em sedimentos bem inferiores em relação ao sistema
estuarino da Ilha de Vitória, no Espírito Santo. Considerando a comparação com os valores de
metais encontrado no Rio Barigui, na região metropolitana de Curitiba, os teores de chumbo e
cádmio encontrados no estuário Jundiaí e Potengi foram superiores ao do rio paranaense. Em
comparação com os valores encontrados no Rio Formoso-MG, que pertence à bacia do São
Francisco, os maiores teores de Pb, Ni, Cu e Zn no estuário dos Rios Jundiaí e Potengi foram
superiores ao do rio mineiro. Em comparação com estuário de Santos-Cubatão, em São Paulo,
os teores de cádmio e chumbo encontrados neste estudo foram novamente superiores,
enquanto as concentrações dos demais metais se apresentaram bem inferiores ao estuário
paulista.
No que se refere a investigações conduzidas em outras partes do mundo, a
concentração de Pb e Cr no presente trabalho apresentou valor superior à concentração
máxima encontrada no rio Tecate, no México. Quando comparado aos teores de metais do
53
estuário de Tamaki, na Nova Zelândia, o teor de cádmio e, mais uma vez, o chumbo
encontrado no estuário dos rios Jundiaí e Potengi foram ambos superiores. Em relação ao
estudo realizado no sistema aquático da Macedônia, os teores de Cu, Pb e Zn encontrados no
estuário Jundiaí e Potengi foram superiores.
Embora os níveis de zinco e cobre sejam inferiores a alguns dos estudos citados, suas
concentrações já merecem atenção.Cabe destacar que as concentrações de cádmio e chumbo
foram superiores até mesmo a ambientes mais impactados do Brasil e do mundo.
3.3 METAIS NO CARANGUEJO
As concentrações encontradas na carne do caranguejo-uçá foram comparadas com os
limites permitidos pela legislação (Tabela 4).Após as análises das triplicatas da carne do
caranguejo por AAS-CHAMA, calculou-se as médias dos valores para cada metal na amostra
in natura, bem como o desvio padrão das medidas para cada metal. Ou seja, os valores
encontrados na Tabela 4 foram recalculados a partir do peso seco para o peso úmido da
amostra (amostra in natura), com o objetivo de comparar esses valores com os da legislação
para alimentos. O teor de umidade determinado para a carne do caranguejo foi de 76,3 % ±
0,16. Observa-se que os elementos que apresentaram maiores concentrações na carne do
caranguejo foram o zinco (Zn), cobre (Cu) e o chumbo (Pb), enquanto que as menores
concentrações identificadas foram do cádmio (Cd), cromo (Cr) e níquel (Ni).
Para critério de comparação com as legislações brasileiras (Tabela 4), utilizou-se o
Decreto 55.872/65, referente a normas reguladoras do emprego de aditivos para alimentos, e a
Portaria 685/98, que trata dos “Princípios Gerais para o Estabelecimento de Níveis Máximos
de Contaminantes Químicos em Alimentos", além do seu Anexo, "Limites Máximos de
Tolerância para Contaminantes Inorgânicos”.
Em comparação com a legislação, verifica-se que as concentrações dos metais
chumbo, cromo e zinco encontradas neste estudo excederam o limite máximo permitido por
ambas as legislações. Esses resultados apontam para uma provável relação entre os metais que
são encontrados nos sedimentos (derivados de atividades antrópicas) e os metais encontrados
no caranguejo.
54
Tabela 4 – Teor dos metais (média e desvio padrão) na carne da pata do caranguejo-uçá, Ucides
cordatus,no rio Jundiaí, em peso úmido. Teor de umidade =76,3 % ± 0,16
Teor (mg/Kg)
Decreto Nº
55.871/65
(mg/Kg)
Portaria
Nº685/98(mg/Kg)
Cd
Cu
Pb
Cr
Ni
1,18 ±
0,00
(1,181,18)
Zn
0,13± 0,01
(0,12-0,14)
10,65 ± 0,01
(10,6410,66)
3,87 ± 0,29
(3,55-4,27)
0,36 ±
0,01 (0,350,37)
1,00
30,0
2,00
0,10
5,00
50,00
1,00
NE
2,00
NE
NE
NE
68,72 ±2,71
(65,4072,04)
NE – não estabelecido; em negrito, as concentrações que excederam os limites permitidos pelas
legislações.
A presença de metais pesados em peixes, crustáceos e ostras está associada a riscos em
relação à saúde pública, porque tais contaminantes podem se acumular nos homens,caso esses
organismos sejam consumidos (JONES; MERCURIO; OLIVIER, 2000). Embora se façam
necessários estudos adicionais no que se refere à contribuição do consumo da carne de
caranguejo na ingestão diária de metais pesados pela população, fica clara a importância para
a saúde pública dos achados do presente estudo.
Os resultados obtidos para a carne do caranguejo-uçá,Ucidescordatus,também foram
comparados com valores obtidos para outros organismos estudados (Tabela 5) nesse mesmo
estuário e no Brasil.Para o mesmo estuário, observa-se teor de Cd superior aos demais, uma
vez que, nos outros organismos, esse metal não foi encontrado; cabe salientar que o sedimento
do estuário apresentou concentrações elevadas de cádmio. Para o Pb, o valor encontrado
também foi superior aos demais estudos. Em relação ao Cr, o teor encontrado no caranguejouçá foi inferior ao do sururu Mytellafalcata e da tainha Mugil brasiliensis coletada na praia da
Redinha. O teor de Ni e Cu no crustáceo também apresentou valor superior em relação aos
demais bioindicadores, com exceção da tainha M. brasiliensis coletada na praia da Redinha.
As concentrações de zinco foram muito superiores aos demais bioindicadores estudados nesse
estuário. De acordo com Rainbow (1996),os crustáceos decápodes têm a capacidade de
regular a concentração interna de elementos essenciais, como Zn e Cu,apartir de quantidades
crescentes no ambiente, empregando processos de desintoxicação fisiológica e bioquímica,
como a formação de depósitos granulares e de proteínas ligadas aos metais. Tal fato pode
justificar a o elevado teor de Zn na carne do caranguejo.Também foi possível observar que as
concentrações de Zn e Pb no caranguejoU. cordatus foram superiores às encontradas no siris
do gênero Callinectessp e nos siris Callinectessapidus estudados no estuário do Rio Cubatão.
55
Tabela 5 –Teores de metais em espécies de peixe(tainha), crustáceos (siri) e moluscos (sururu e
mexilhão) no estuário dos rios Jundiaí e Potengi e em outros estuários do Brasil, comparados com os
do presente trabalho. Concentrações dos metais dados em mg de metal/kg da amostra, em peso úmido
Espécies
Cd
Cu
Pb
Cr
Ni
Zn
M. brasiliensis (EP/R)a
ND
12,1
0,05
2,14
2,07
7,74
M. brasiliensis (EP/I)b
ND
2,58
1,32
0,08
0,20
12,15
M. falcatac
ND
0,5
1,1
3,5
NA
7,0
M. falcatad
ND
0,5
1,1
3,8
NA
7,4
A. brasilianae
ND
1,7
1,0
0,5
0,7
14,1
Callinectessp.f
0,50
44,12
2,59
1,42
NA
34,0
Callinectessapidusg
0,22
18
1,06
0,82
NA
20
U. cordatus (este estudo)
0, 13
10,65
3,87
0,36
1,18
68,72
ND – não detectado; NA – não analisado; (a) Mugil brasiliensis (tainha)coletado na Redinha(VIEIRA, 2007) –
peso úmido; (b) Mugil brasiliensis (tainha)coletado em Igapó(VIEIRA, 2007) – peso úmido; (c)
MytellaFalcata(sururu)com tamanho inferior a 37 mm, estuário do rio Potengi (BRITO et al, 2008)– peso
úmido; (d) Mytella. Falcata(sururu)com tamanho superior a 42 mm, estuário do rio Potengi (BRITO et al, 2008)
– peso úmido; (e)Anomalocardia brasiliana(mexilhão),estuário do rio Potengi/Jundiaí (EMERENCIANO et al,
2008) – peso úmido; (f) Callinectes sp.(siri),rio Cubatão(VIRGA, 2007)– peso úmido; (g) Callinectessapidus
(siri),rio Cubatão(VIRGA 2008) – peso úmido.
Em um estudo realizado no Litoral do estado de São Paulo, em tecido de U.
cordatusde mangue “contaminado” e “não contaminado”, na mesma área geográfica
(HARRIS e SANTOS, 2000), verificou-se diferenças nas concentrações de metais pesados na
carne dos caranguejos, com níveis significativamente mais elevados de Cu, Cd e Zn em
populações “poluídas”, comparadas a caranguejos “não poluídos” vivendo em mangue não
contaminado. Os seguintes valores (peso seco) são relatados: Cd (1,4 – 1,2 mg/Kg); Cu (40 –
40 mg/Kg); Zn (225 – 205 mg/Kg); comparando esses valores de HARRIS e SANTOS (2000)
com os do presente estudo no rio Jundiaí (Cd – 0,53 mg/Kg; Cu – 44,97 mg/Kg; Zn – 289,97
mg/Kg; resultados para peso seco), verifica-se que os teores encontrados na carne do
caranguejo do estuário dos rios Jundiaí e Potengi são menores para Cd e maiores para Cu e
Zn.
3.4 METAIS NOS SEDIMENTOS E NOS CARANGUEJOS
No que se refere aos sedimentos, os resultados do presente trabalho corroboram os
dados obtidos em trabalhos anteriores (GUEDES, 2003; SINDERN et al, 2007; SOARES,
56
2006), evidenciando que o aporte de metais pesados para o estuário é contínuo e não tem
sofrido alterações significativas. Sindernet al (2007) observaram uma assinatura
antropogênica dos metais pesados Zn, Pb, Cu e Cd, em relação aos elementos de referência Al
e Fe, próximo a pontos de descarga de efluentes na área de Natal. Isso significa que Zn, Pb,
Cu e Cdestão associados a atividades humanas no entorno do estuário.
Os caranguejos foram coletados em uma área localizada entre o P1 (Macaíba) e o P2
(Guarapes). O P1 fica em uma área bastante urbanizada do município de Macaíba, que
apresentou, durante o período chuvoso, o teor de oxigênio dissolvido abaixo da Resolução
357/2005, do CONAMA, e o mais baixo pH dentre os pontos estudados, além de apresentar
teores elevados de cobre, chumbo e zinco.O P2 (Guarapes) fica próximo a uma importante
rodovia (BR-226), entre os municípios de Macaíba e Natal, recebendo, também, o aporte das
águas do rio Guarapes. Apesar do fluxo das águas do Guarapes, essa área apresentou, no
período chuvoso, o oxigênio dissolvido abaixo do permitido pela legislação e a maior
concentração de cromo dentre os pontos estudados. Os metais pesados com teores mais
elevados nos sedimentos do ponto de amostragem em Macaíba (Cu, Pb e Zn) configuram-se
também como os mais abundantes na carne da pata do caranguejo (Tabela 1). O cromo, que é
o quarto metal pesado mais abundante no sedimento de P1, apresentou, na carne do
caranguejo, um teor acima do limite máximo permitido pela legislação referente a normas
reguladoras do emprego de aditivos para alimentos (Tabela 4).
4 CONCLUSÕES
Apesar de sua importância, o estuário dos rios Jundiaí e Potengi é afetado diretamente
pelas atividades humanas desenvolvidas no entorno de seus corpos hídricos Essa influência
antrópica exercida pelas cidades circunvizinhas à área do estuárioé refletida diretamente nos
teores de metais pesados encontrados nos sedimentos, principalmente próximo ao núcleo
urbano das cidades de Macaíba e Natal. A comparação com trabalhos anteriores permite
afirmar que o aporte de metais pesados para o estuário é contínuo, não tendo sofrido
alterações significativas em um período de dez anos. Os teores de Cu, Pb, Cr, Ni e Zn nos
sedimentos são mais elevados no período de menor precipitação pluviométrica. Os níveis de
oxigênio dissolvido na água nos pontos Guarapes e em Igapó são menores que os níveis
encontrados em Macaíba e no Canto do Mangue, tanto no período de chuvas quanto na
estação seca. Os elementos Cu, Cr, Pb e Zn, com teores mais elevados nos sedimentos do
ponto de amostragem em Macaíba, são também os mais abundantes na carne da pata do
caranguejo. Dentre eles, Pb, Zn e Cr apresentam, na carne do caranguejo, teores acima do
57
limite máximo permitido pela legislação referente a normas reguladoras do emprego de
aditivos para alimentos.
São necessárias investigações adicionais no que se refere à contribuição do consumo
da carne de caranguejo na ingestão diária de metais pesados pela população, bem como sobre
os sedimentos das tocas dos caranguejos neste e em outros estuários não urbanizados no
estado, para elucidar a relação entre os metais pesados encontrados nos caranguejos e nos
sedimentos.
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61
6. Capitulo II
ECOTOXICOLOGIA DE SEDIMENTOS DO ESTUÁRIO DOS RIOS JUNDIAÍ E
POTENGI: ENSAIOS COM O MICROCRUSTÁCEO Leptocheirus plumulosus
Este artigo foi submetido ao Jornal Ecotoxicology and Environmental Contamination
62
Ecotoxicologia de sedimentos do estuário dos Rios Jundiaí e Potengi: ensaios com o
microcrustáceo Leptocheirus plumulosus
R. B. LOPES
RESUMO
O estuário dos Rios Jundiaí e Potengi no estado do Rio Grande do Norte-Brasil apresenta
registros de contaminação por metais pesados. Contudo ainda são poucos os estudos dos
efeitos toxicológicos da contaminação sobre os organismos aquáticos deste corpo hídrico. O
objetivo deste trabalho é avaliar os efeitos toxicológicos dos sedimentos do estuário dos Rios
Jundiaí e Potengi utilizando o organismo teste Leptocheirus plumulosus, durante quatro meses
de monitoramento no ano de 2011. Após as analises dos dados foi possível observar que os
pontos localizados nas áreas mais habitadas de Macaíba e Natal (P1 e P3) apresentaram
toxicidade ao organismo teste. O ponto 4 não apresentou toxicidade em nenhum dos meses
estudados mesmo estando em uma área urbanizada e próxima ao porto de Natal. Esse fato
pode estar relacionado ao baixo teor de matéria orgânica e à maior influência das marés, que
afetam a diluição dos contaminantes neste ponto, podendo contribuir de forma positiva para a
redução dos efeitos da toxicidade dos sedimentos. Não se observou nenhuma relação entre
precipitação pluviométrica e a toxicidade do ambiente.
Palavras - Chaves: Ecotoxicologia, Estuário, Leptocheirus plumulosus, Metais pesados.
63
INTRODUÇÃO
O estuário dos rios Jundiaí/Potengi é um dos principais do estado do Rio Grande do
Norte, estendendo-se por cerca de 25 km com uma largura que varia entre 400 e 600 m. É
formado pelas águas dos Rios Potengi, Jundiaí e Doce. Diversas atividades antrópicas
desenvolvidas no entorno do estuário têm contribuído para o aporte de metais pesados no
corpo hídrico, com registros de níveis acima do permitido para cádmio, cobre, chumbo,
cromo, níquel e zinco em sedimentos (GUEDES, 2003; SINDERN et al., 2007) e em
bioindicadores (SILVA et al., 2006; EMERENCIANO, 2008; BRITO et al., 2008; LOPES et
al., 2013). Uma vez que esse ambiente apresenta elevadas concentrações de metais pesados é
pertinente a realização de estudos ecotoxicológicos para avaliar os possíveis efeitos destes
contaminantes aos organismos aquáticos.
A Resolução CONAMA 344/04 no artigo 7, inciso III, indica testes ecotoxicológicos
nos sedimentos cuja concentração de mercúrio, cádmio, chumbo ou arsênio, ou PAHs
(hidrocarbonetos poliaromáticos) do grupo A esteja entre os níveis 1 e 2. Os testes de
toxicidade permitem avaliar efeitos interativos de misturas complexas presentes no sedimento
sobre os organismos aquáticos. Esses testes medem, portanto, os efeitos tóxicos das frações
biodisponíveis presentes no sedimento em condições controladas no laboratório ou através de
testes em campo (ARAÚJO et al., 2008).
SILVA-NICODEMO (2010) avaliou a toxicidade dos efluentes lançados no estuário
do rio Potengi utilizando o Mysidopsis juniae (Mysidacea-Crustacea), concluindo que a
maioria dos efluentes se mostraram tóxicos quanto à sobrevivência e fecundidade do
organismo. Com relação às amostras de corpos receptores de efluentes (Canal do Baldo,
Riacho das Lavadeiras e Macaíba), a mortalidade foi total após 24 horas do início dos testes.
Contudo não há registros de análises de toxicidade com amostras de sedimentos coletados ao
longo do ambiente estuarino do rio Potengi.
Os anfípodos são excelentes como organismo-teste, sendo normalmente recomendados
e utilizados em testes de toxicidade aguda de amostras de sedimento de ambientes marinhos e
estuarinos (ASTM, 1997; GOMÉZ & PÁEZ, 1987 apud CESAR et al., 2002). O L.
plumulosus vem sendo utilizado em estudos de toxicidade de sedimentos por diversos
contaminantes como metais, DDT e esgotos (MCGEE et al., 1998; MCGEE et al., 1999;
LOTUFO et al., 2001; ZULKOSKY et al. 2002; YU & FLEEGER, 2006; WILLIAMS et al.,
2010, MANYIN E ROWE, 2006; MCGEE et al., 2004). O objetivo deste trabalho foi avaliar
64
a toxicidade dos sedimentos, através de testes ecotoxicológicos com o organismo
Leptocheirus plumulosus (Amphipoda-Crustacea), durante quatro meses de monitoramento no
ano de 2011. Cabe ressaltar que não há estudos de toxicidade com este organismo utilizando
amostras ambientais neste estuário.
METODOLOGIA
Amostragem
Em 2011 coletas de sedimento para determinação da toxicidade e matéria orgânica,
foram realizadas de julho a outubro, em quatro estações. Duas delas (P1 em Macaíba; P2
próximo ao Rio Guarapes), localizadas à montante no estuário do rio Jundiaí e duas outras (P3
próximo a ponte de Igapó; P4 próximo ao Canto do Mangue), à jusante, situadas no estuário
do rio Potengi (figura 1), sempre durante as marés de quadratura.
Para as análises de toxicidade as amostras foram transportadas para o laboratório de
Ecotoxicologia da UFRN e refrigeradas até o momento dos testes de acordo com a ABNT
NBR 15638/2008.
Figura 1: Localização do pontos de coleta dos sedimentos.
65
Parâmetros físico-químicos
Durante as coletas do sedimento os parâmetros físico-químicos oxigênio dissolvido OD, pH, Salinidade e temperatura foram determinados em campo, utilizando um refratômetro,
oxímetro e pH-metro portáteis. Os resultados obtidos então foram comparados com a
RESOLUÇÃO CONAMA 357/05.
Determinação do teor de matéria orgânica
Para a determinação do teor de matéria orgânica as amostras foram secas em
liofilizador; em seguida 10 g de cada amostra foram colocadas em cadinhos e aquecidas em
mufla por 6 horas a 400ºC, tendo sido ao final calculada a diferença entre o peso inicial e o
peso final.
Testes ecotoxicológicos
Os testes de toxicidade aguda dos sedimentos estuarinos foram realizados baseados na
Norma ABNT NBR 15638/2008 no Laboratório de Ecotoxicologia - ECOTOX do
Departamento de Oceanografia e Limnologia da UFRN.
Como organismo teste foram utilizados anfípodos juvenis de Leptocheirus plumulosus
(Amphipoda-Crustacea), medindo entre 500 e 700 µm. As amostras receberam durante os
ensaios iluminação uniforme e contínua e aeração constante. Em cada amostra foram
adicionados, com auxílio de pipetas, 20 organismos. Antes do início do teste as partículas
maiores que 1,0 cm foram retiradas. As amostras de cada estação foram testadas em
quadruplicata, inclusive o controle. O teste durou 10 dias e o efeito analisado foi a
sobrevivência.
Diariamente em cada recipiente - teste foram verificados o fluxo de ar, a temperatura,
a salinidade, o oxigênio dissolvido e o pH. Os sobreviventes foram visualizados e
contabilizados após peneiramento do sedimento, ao final do teste.
Análise estatística
Os resultados foram tratados utilizando-se o teste “t” por bioequivaência e constante
de bioequivalência (B=0,80). Os testes estatísticos foram realizados com o programa
TOXSTAT, Versão 3.5 (1995). Após a análise estatística, as amostras foram classificadas
como “tóxicas” ou “não tóxicas” em relação ao controle.
66
RESULTADOS
Os valores dos parâmetros físico-químicos da água do estuário e da matéria orgânica
no sedimento são expressos na Tabela 1. Estes dados, acrescidos das informações sobre
temperatura ambiente e precipitação são visualizados na Figura 2.
Tabela 1: Parâmetros físico-químicos em água (medidas in situ) e teor de matéria orgânica
nos sedimentos do estuário do rio Potengi.
Parâmetros físico-químicos da água e matéria orgânica dos sedimentos
PONTO 1
Parâmetros
Temp.
(ºC)
Salinidade
pH
Jul
5
5
6,88 7,62 7,3
OD (mg/L) 4,1
MO (%)
Ago Set Out
26,6 26,8 27
4
PONTO 2
3,8
4,5
27
5
Jul
PONTO 3
Ago Set
Out
28,1 28,2 28,8
29
18
25
20
7,1
6,73 7,24 7,2
4,0
4,9
4,5
3,44 NA NA 7,78 10,43 NA
21
Jul
Ago Set
PONTO 4
Out
Jul
Ago Set Out
27,1 28,2 28,5 28,8 28,7 28,9 29 29,1
29
30
7,09 7,28 7,18 7,2 7,14 7,63 7,52 7,7
7,9
5,0
5,8
5,5
22
3,7
30
26
25
26
4,7
35
4,8
6,0
3,5
4,5
4,8
NA 10,02 4,12 NA
NA
8,7 2,52 NA NA 0,32
Temperatura (Temp.); Oxigênio dissolvido (OD); Matéria orgânica (MO); NA: Não analisado; em negrito os
valores que se apresentaram abaixo da resolução CONAMA 357/05;
Tabela 2: Sobrevivência e Testes ecotoxicológicos dos sedimentos com Leptocheirus
plumulosus.
Dados expressos em porcentagem / Análise de toxicidade; Todos os dados são normais
e homocedásticos, após transformação do arcoseno. Bioequivalência, R=0,80.
Amostras
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Ponto 1
53,75 / Tóxica
97,5 / N. tóxica
93,75 / N. Tóxica
88,75 / N. Tóxica
Ponto 2
82,5 / N. Tóxica
88,75 / N. Tóxica
91,25 / N. Tóxica
97,5 / N. Tóxica
Ponto 3
71,25 / N. Tóxica
86,25 / N. Tóxica
80 / N. Tóxica
71,25 / Tóxica
Ponto 4
93,75 / N. Tóxica
87,5 / N. Tóxica
90 / N. Tóxica
97,5 / N. Tóxica
67
Para o pH, todos os pontos se apresentam dentro dos padrões estabelecidos para água
salobras classe I da Resolução CONAMA 357/2005, que e de 6,5-8,5. Quanto à temperatura
foi possível observar um aumento em direção à foz do Estuário (Figura 2).
Com relação as analises toxicológicas (Tabela 2) pode-se observar que em julho, com
exceção do ponto 1 que apresentou toxicidade, todas as demais amostras estudadas não foram
classificadas como tóxicas ao L. plumulosus. Por sua vez, em agosto e setembro, nenhuma das
amostras apresentou toxicidade. E em outubro apenas a amostra coletada no Ponto 3 (Igapó)
foi classificada como tóxica.
Figura 2: Parâmetros físico-químicos do ambiente e precipitação no ano de 2011 (Fonte dos dados de precipitação: EMPARN)
68
DISCUSSÃO
O Ponto 1, localizado próximo ao núcleo urbano da cidade de Macaíba, possui uma
considerável ocupação humana, sendo o local de amostragem com menor influência da maré,
uma vez que sua salinidade foi a mais baixa dentre os pontos estudados. Os valores de
oxigênio dissolvido são baixos, sendo inferiores ao limite mínimo estabelecido pela resolução
para água salobras classe I da Resolução CONAMA 357/2005, que é de 5 mg/L; isto pode
estar relacionado com as descargas antrópicas de esgotos observadas nas proximidades, ou
com a ausência de precipitação, devido ao índice pluviométrico da cidade de Macaíba nos
meses de amostragem ter sido 0 mm. Quanto à ecotoxicologia (Tabela 2), julho e outubro
apresentaram sobrevivência nos testes abaixo de 90% sendo o mês de Julho estatisticamente
tóxico.
O Ponto 2 (Guarapes) distingue-se como o local de menor ocupação humana, que
possui a maior área de manguezal preservada em relação aos pontos de amostragem. A
influência da maré ocasiona aumento considerável da salinidade do ambiente (Tabela 1 e
Figura 2). O aumento no teor de oxigênio dissolvido também pode resultar desta influência de
maré, bem como da contribuição das águas do Rio Guarapes; ainda assim, duas das
concentrações de OD estão abaixo da resolução 357/05. No que se refere à pluviometria, não
choveu na cidade de Macaíba nos 4 meses, enquanto que em Natal a precipitação foi
decrescente, variando
de 170,3 mm em julho a 20,8 mm em outubro.
Nos testes
ecotoxicológicos, 2 meses (julho e agosto) tiveram sobrevivência nos testes abaixo de 90%
(Tabela 2). Contudo a análise estatística não apontou toxicidade em relação ao teste controle.
O Ponto 3 (Igapó) está situado em uma área de ocupação humana consideravelmente
elevada, estando próximo a áreas populosas da cidade de Natal como Quintas, bairro
Nordeste, Bom pastor, Km6, na mesma margem da amostragem, e Igapó, na margem oposta;
localiza-se ainda próximo à confluência dos rios Golandim e Potengi com o rio Jundiaí; a
pressão antrópica pode contribuir com a descarga difusa de esgotos provenientes destas
localidades e que também chegam ao estuário através de muitos córregos canalizados e não
canalizados na área de mangue adjacente. A precipitação foi decrescente no período. Este
ponto caracterizou-se por possuir salinidade maior (entre 22 e 30%) em relação aos Pontos 1 e
2, localizados à montante; além disso, o oxigênio dissolvido em todos os meses estudados
ficou abaixo do limite da resolução 357/05, com média de 4,1 mg/L O2, o que reforça a
hipótese da influência antrópica na área. Quanto à toxicidade todos os quatro meses tiveram
69
sobrevivência nos testes abaixo de 90% (Tabela 2), enquanto que a análise estatística apontou
toxicidade no mês de outubro.
O Ponto 4 (canto do Mangue) é o local mais populoso, próximo ao porto de Natal,
com fluxo constante de embarcações, próximo aos bairros Santos Reis, Rocas e Ribeira.
Também apresenta problemas relacionados a descargas de esgotos que chegam ao rio através
de córregos canalizados e não canalizados. Nos meses de julho e agosto o oxigênio dissolvido
ficou abaixo do limite mínimo estabelecido pela resolução que é de 5 mg/L; porém, teve a
maior média de OD dos quatro pontos (5,3 mg/L O2) o que provavelmente está relacionado à
maior proximidade do mar. Este fato é corroborado pelos resultados da salinidade, que foram
as mais elevadas dentre os pontos amostrados (entre 26 e 35%), apesar de as medidas terem
sido realizadas na maré baixa. Nos testes ecotoxicológicos, apenas o mês de agosto teve
sobrevivência abaixo de 90% (Tabela 2), porém não apresentando toxicidade nos meses
amostrados, de acordo com a análise estatística.
O fato de o Ponto 4 não apresentar toxicidade pode ser explicado pelos teores de
matéria orgânica serem menores (tabela 1) o que pode diminuir a transferência de
contaminantes do sedimento para os organismos. Por outro lado, a proximidade do mar
também permite um fluxo maior de água salgada, o que ajuda a revolver e diluir os
contaminantes do sedimento. O ponto 2 também não apresentou toxicidade aos organismos o
que pode ser explicado por estar localizado em uma área mais preservada de manguezal.
Já os Pontos 1 e 3, cujos sedimentos apresentaram toxicidade em julho e outubro,
respectivamente, estão localizados em áreas urbanizadas das cidades de Macaíba e Natal e
apresentaram baixas concentrações de oxigênio dissolvido (tabela 1); de acordo com Lopes et
al. (2013), o Ponto 1 apresenta elevadas concentrações de chumbo, cobre e zinco de 182, 36.8
e 86 mg/Kg, respectivamente, enquanto que o Ponto 3 tem teores de zinco, chumbo e cromo
de 38, 28 e 20,4 mg/Kg, respectivamente, o que pode estar relacionado com o efeito tóxico
apresentado. MCGEE et al. (1999), na Baia de Chesapeake, Maryland, USA, também
utilizaram o L. plumulosus para avaliar os efeitos tóxicos do sedimento; os autores
identificaram em alguns pontos de amostragem uma relação negativa entre a sobrevivência
dos organismos e metais associados ao sedimento como cádmio e cobre; também foi possível
observar no presente estudo uma relação negativa entre a sobrevivência dos organismos e
pontos com concentrações de metais como cobre, zinco e chumbo.
MANYIN E ROWE (2006) utilizaram estes organismos em testes de exposição mais
longos avaliando o ciclo de vida nos sedimentos contaminados da Baia de Baltimore,
70
identificando uma diminuição no crescimento, no teor de lipídios e uma menor taxa de
reprodução (menor tamanho da ninhada) quando comparados com ao anfípodes de referência.
Ainda segundo os autores o estresse químico conduziu a um desvio dos meios de produção de
energia, pois tanto o sedimento como os tecidos dos anfípodos continham elevadas
concentrações de hidrocarbonetos poliaromáticos (HPAs), bifenilas policloradas (PCBs),
arsênio, cádmio, chumbo e zinco, que sugerem a bioacumulação.
Em ensaios de toxicidade aguda e crônica realizada por dois laboratórios em
Chesapeake Bay-USA (MCGEE et al., 2004) também foram observados efeitos tóxicos com
mortalidade significativa em alguns pontos que apresentaram concentrações consideráveis de
zinco, cobre e PCBs.
CONCLUSÃO
Através deste estudo pode ser observada uma relação entre a toxicidade e os
sedimentos de áreas mais urbanizadas, com baixos níveis de oxigênio dissolvido, e que
apresentaram em estudo anterior concentrações consideráveis de metais. Também foi possível
observar a importância da influência da maré na diminuição dos possíveis efeitos tóxicos,
uma vez que o ponto próximo ao porto da cidade de Natal não apresentou toxicidade mesmo
estando em uma área urbanizada. Contudo são necessárias investigações adicionais acerca da
toxicidade dos sedimentos em outros pontos do estuário, com uma melhor distribuição
espacial, e por um período mais longo, para observar variações temporais e avaliar efeitos de
contaminantes que estejam em baixas concentrações.
REFERÊNCIAS
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73
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Uma das formas mais prejudiciais de contaminação dos corpos hídricos, que vem
provocando um aumento na preocupação dos órgãos de saúde mundiais, é a contaminação por
metais pesados, pois estes elementos são tóxicos e biocumulativos, alcançando assim os
níveis superiores da cadeia trófica. Através de uma abordagem que alia procedimentos
metodológicos utilizados em geologia, biologia e química, os resultados apresentados
confirmam a contaminação por metais pesados no estuário e apresentam um panorama de sua
evolução na última década através da comparação com resultados de trabalhos anteriores;
além disso, são os resultados estão relacionados aos efeitos derivados da contribuição
antrópica, uma vez que as maiores concentrações dos elementos ocorreram próximos a
comunidades ribeirinhas, locais de intenso tráfego de veículos, áreas portuárias e pontos de
descarga de efluentes.
O grau de contaminação avaliado nos sedimentos também foi refletido nas
concentrações dos metais no caranguejo Uçá que excederam todos os limites permitidos pelas
legislações, bem como sendo superior aos teores encontrados em outros bioindicadores
estudados nesse mesmo estuário. Os resultados demonstram que o consumo desses crustáceos
pode representar um risco a saúde humana. Considerando-se que em um estudo realizado com
os pescadores da colônia de pescadores Z-45 do rio Jundiaí, foi diagnosticado que estes
consomem uma elevada quantidade semanal de peixes, moluscos e crustáceos coletados nessa
área, conclui-se que as pessoas mais suscetíveis aos efeitos da contaminação pelos metais, são
as comunidades de pescadores da região, além dos consumidores que adquirem estes produtos
em feiras livres nas cidades de Macaíba e Natal.
A segunda parte deste trabalho avalia do efeito toxicológico que o sedimento provoca
em outros organismos aquáticos como os anfípodos Leptocheirus plumulosus. Verificou-se
que dois dos pontos estudados foram classificados como tóxicos aos organismos em pelo
menos um dos meses do ano.
O crescimento desordenado das cidades circunvizinhas do estuário afetou a dinâmica
desse ecossistema, uma vez que são diversas as prováveis fontes de contaminação por metais
pesados. A contaminação desse ambiente não afeta somente os organismos aquáticos ou as
pessoas que os consomem, mas também as comunidades de pescadores que retiram do
estuário o seu sustento e têm uma relação emocional com o ambiente em que vivem. A longo
prazo, existe a necessidade de um monitoramento dos parâmetros físico-químicos na água e
de avaliação da qualidade dos sedimentos, uma vez que em alguns pontos estes parâmetros
74
não se apresentaram em conformidade com legislação. Recomenda-se também para fins de
monitoramento a continuidade de estudos ecotoxicológicos e de determinação da
contaminação em bioindicadores. A determinação das fontes de poluição também é
importante, bem como medidas preventivas no sentido de controlá-las. É importante que,
paralelamente a estas medidas, estejam associadas atividades informativas e de educação
ambiental.
75
8. ANEXOS
8.1 ANEXO I – Autorização para atividades com finalidade científica- SISBIO
76
77
9. APÊNDICE I
9.1 VALIDADE DOS TESTES ECOTOXICOLÓGICOS (ABNT NBR 15638/2008)
TESTE I: Julho
Sobrevivência média - controle: 95%
Sobrevivência – Replicata 01: 100%
Aceitabilidade: 85%
Aceitabilidade: 80%
Replicata 02: 95%
Replicata 03: 95%
Replicata 04: 90%
TESTE II: Julho
Sobrevivência média - controle: 92,5%
Sobrevivência – Replicata 01: 100%
Aceitabilidade: 85%
Aceitabilidade: 80%
Replicata 02: 90%
Replicata 03: 95%
Replicata 04: 85%
TESTE I: Agosto
Sobrevivência média - controle: 91,25%
Sobrevivência – Replicata 01: 85%
Replicata 02: 100%
Replicata 03: 90%
Replicata 04: 90%
TESTE II: Agosto
Aceitabilidade: 85%
Aceitabilidade: 80%
78
Sobrevivência média - controle: 96,25%
Sobrevivência – Replicata 01: 95%
Aceitabilidade: 85%
Aceitabilidade: 80%
Replicata 02: 95%
Replicata 03: 100%
Replicata 04: 95%
TESTE I: Setembro
Sobrevivência média - controle: 100%
Sobrevivência – Replicata 01: 100%
Aceitabilidade: 85%
Aceitabilidade: 80%
Replicata 02: 100%
Replicata 03: 100%
Replicata 04: 100%
TESTE I: Outubro
Sobrevivência média - controle: 96,25%
Sobrevivência – Replicata 01: 95%
Aceitabilidade: 85%
Aceitabilidade: 80%
Replicata 02: 95%
Replicata 03: 100%
Replicata 04: 95%
TESTE II: Outubro
Sobrevivência média - controle: 100%
Sobrevivência – Replicata 01: 100%
Replicata 02: 100%
Replicata 03: 100%
Replicata 04: 100%
Aceitabilidade: 85%
Aceitabilidade: 80%
79
Sensibilidade dos organismos do cultivo à substância de referência: 1,09 mg/L
Substância de referência: zinco (sulfato de zinco heptahidratado)
Periodicidade dos ensaios com a substância de referência: mensal
Faixa de sensibilidade do organismo (limite inferior e superior): não definida
Data de preparo das amostras, TESTE I: Julho 05/08/2011
Data de preparo das amostras, TESTE II: Julho 02/09/2011
Data de preparo das amostras, TESTE I: Agosto 16/09/2011
Data de preparo das amostras, TESTE II: Agosto 07/10/2011
Data de preparo das amostras, TESTE: Setembro 07/10/2011
Data de preparo das amostras, TESTE I: Outubro 29/10/2011
Data de preparo das amostras, TESTE II: Outubro 07/11/2011
Data de início do TESTE I: Julho 05/08/2011
Data de início do TESTE II: Julho 02/09/2011
Data de início do TESTE I: Agosto 16/09/2011
Data de início do TESTE II: Agosto 07/10/2011
Data de início do TESTE: Setembro 07/10/2011
Data de início do TESTE I: Outubro 29/10/2011
Data de início do TESTE II: Outubro 07/11/2011
Data de término do TESTE I:Julho 15/08/2011
Data de término do TESTE II: Julho 12/09/2011
Data de término do TESTE I: Agosto 26/09/2011
Data de término do TESTE II: Agosto 17/10/2011
Data de término do TESTE: Setembro 17/10/2011
Data de término do TESTE I: Outubro 05/11/2011
80
Data de término do TESTE II: Outubro 17/11/2011
CONDIÇÕES DE TESTE
Tabela 1: Resumo das condições do teste.
Tipo de Teste----------------------------------------------------------------------------------------------------Qualitativo
Método de Teste-------------------------------------------------------------------------------------------------Estático
Temperatura de Incubação-------------------------------------------------------------------------------------25 ± 2ºC
Fotoperíodo-----------------------------------------------------------------------------------------------24 horas claro
Frasco-teste---------------------------------------------------------------------------------------Polietileno de 1000 mL
Volume da solução-teste-----------------------------------175 mL de sedimento; 725 mL de água de diluição
Origem dos organismos----------------------------------------------------------------------------Cultivo ECOTOX
Tamanho dos organismos------------------------------------------------------------------------------------500-700 µm
Nº de organismos / frasco---------------------------------------------------------------------------------------------20
Nº de réplicas / amostra------------------------------------------------------------------------------------------------4
Alimentação-------------------------------------------------------------------------------------------sem alimentação
Água de diluição------------------------------------------------------------------------Água do mar natural filtrada
Salinidade-------------------------------------------------------------------------------------------------------------20 ± 2
Duração do ensaio-------------------------------------------------------------------------------------------------10 dias
Resposta-----------------------------------------------------------------------------------------------------Sobrevivência
81
RESULTADOS
Tabela 2: TESTE I: JULHO (CONTROLE, P1, P2 E P3) - Número de organismos vivos e sobrevivência média
dos anfípodos ao final do teste por réplica e sobrevivência média por tratamento.
Amostras
Número de
anfípodos
vivos
Sobrevivência
(%)
20
100
19
95
Sobrevivência
Média (%)
Desvio
Padrão
OD
pH
mg/L
(dados brutos)
CONTROLE
19
95
18
90
11
55
10
50
12
60
10
50
17
85
15
75
18
90
16
80
13
65
16
8
PONTO 1
PONTO 2
PONTO 3
11
55
17
85
95 %
0,71
7,9
6,0
53,75 %
0,83
7,9
6,2
82,5 %
1,12
8,0
6,0
71,25 %
2,38
7,9
5,9
82
Tabela 3: TESTE II: JULHO (CONTROLE E P4) - Número de organismos vivos e sobrevivência média dos
anfípodos ao final do teste por réplica e sobrevivência média por tratamento.
Amostras
Número de
anfípodos
vivos
Sobrevivência
(%)
20
100
18
90
19
95
17
85
20
100
17
85
19
95
19
95
Sobrevivência
Média (%)
Desvio
Padrão
OD
pH
mg/L
(dados brutos)
CONTROLE
PONTO 4
92,5 %
1,12
8,03
6,5
93,75 %
1,09
7,9
6,0
83
Tabela 4: TESTE I: AGOSTO (CONTROLE, P1, P3 E P4) - Número de organismos vivos e sobrevivência
média dos anfípodos ao final do teste por réplica e sobrevivência média por tratamento.
Amostras
Número de
anfípodos
vivos
Sobrevivência
(%)
17
85
20
100
18
90
18
90
20
100
19
95
CONTROLE
PONTO 1
19
95
20
100
18
90
17
85
17
85
17
85
19
95
13
65
20
100
18
90
PONTO 3
PONTO 4
Sobrevivência
Média (%)
Desvio Padrão
OD
91,25 %
1,09
7,9
6,8
97,5 %
0,50
7,9
6,3
86,25 %
0,43
8,01
6,6
87,5 %
2,69
8,0
6,0
pH
(dados brutos)
mg/L
84
Tabela 5: TESTE II: AGOSTO (CONTROLE E P2) - Número de organismos vivos e sobrevivência média dos
anfípodos ao final do teste por réplica e sobrevivência média por tratamento.
Amostras
Número de
anfípodos
vivos
Sobrevivência Sobrevivência
(%)
Média (%)
19
95
19
95
20
100
19
95
17
85
19
95
CONTROLE
PONTO 2
18
90
17
85
Desvio Padrão
OD
pH
(dados brutos)
mg/L
96,25 %
0,43
7,91
6,8
88,75 %
0,83
8,01
5,9
85
Tabela 6: TESTE SETEMBRO (CONTROLE, P1, P2, P3 E P4) - Número de organismos vivos e sobrevivência
média dos anfípodos ao final do teste por réplica e sobrevivência média por tratamento.
Amostras
Número de
anfípodos
vivos
Sobrevivência
(%)
20
100
20
100
CONTROLE
20
100
20
100
20
100
19
95
18
90
18
90
20
100
17
85
PONTO 1
PONTO 2
18
90
18
90
15
75
17
85
17
85
15
75
17
85
18
90
20
100
17
85
PONTO 3
PONTO 4
Sobrevivência
Média (%)
Desvio Padrão
OD
100 %
0
7,9
6,8
93,75 %
0,83
8,02
6,7
91,25 %
1,09
8,01
6,4
80,0 %
1,0
8,0
6,3
90 %
1,22
7,9
6,2
pH
(dados brutos)
mg/L
86
Tabela 7: TESTE I: OUTUBRO (CONTROLE E P1) - Número de organismos vivos e sobrevivência média dos
anfípodos ao final do teste por réplica e sobrevivência média por tratamento.
Amostras
Número de
anfípodos
vivos
Sobrevivência
(%)
19
95
19
95
20
100
19
95
18
90
18
90
18
90
17
85
Sobrevivência
Média (%)
Desvio
Padrão
OD
pH
mg/L
(dados brutos)
CONTROLE
PONTO 1
96,25 %
0,43
7,98
6,6
88,75 %
0,43
8,02
6,0
87
Tabela 8: TESTE II: OUTUBRO (CONTROLE, P2, P3 E P4)- Número de organismos vivos e sobrevivência
média dos anfípodos ao final do teste por réplica e sobrevivência média por tratamento.
Amostras
Número de
anfípodos
vivos
Sobrevivência
(%)
20
100
20
100
20
100
20
100
20
100
20
100
CONTROLE
PONTO 2
19
95
19
95
15
75
15
75
12
60
15
75
20
100
20
100
20
100
18
90
PONTO 3
PONTO 4
Sobrevivência Desvio Padrão
Média (%)
(dados brutos)
OD
pH
mg/L
100 %
0,0
7,9
6,6
97,5 %
0,50
8,02
6,4
71,25 %
1,30
8,03
5,9
97,5 %
0,87
8,0
6,1
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