123 Anais Semana de Geografia. Volume 1, Número 1. Ponta Grossa: UEPG, 2013. ISSN 2317-9759 REFLEXÕES NOS ARRABALDES DAS PESQUISAS DE ABORDAGENS CULTURAIS NA GEOGRAFIA BRASILEIRA MIRANDA, Everton LIMA, Jardel de NABOZNY, Almir Introdução A problemática do fazer pesquisa em abordagens culturais na Geografia emergem como uma (re) configuração nas abordagens epistemológicas, frente ao instrumental teórico clássico. Consideramos como uma tarefa árdua, pois, as discussões acabam ao final caminhando para a priorização conceitual e para distinção teórica – com poucas apreensões quanto aos métodos de abordagens, ancorado um hiato nas posicionalidades epistêmicas. Essas considerações são oriundas das pesquisas angariadas no projeto de pesquisa: “Abordagens Emergentes na Geografia Brasileira: uma compreensão” foi possível aferir segundo a base bibliográfica de estudo a Revista Espaço e Cultura e as Teses de Geografia do Banco de Dados da Capes (Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior) entre os anos de 1987 a 2011 que, a própria discussão em torno de uma compreensão da cultura, deve ser (re) considerada uma vez, que alguns denotam como um conceito, outros como uma ideologia, como um dado ontológico, mas, em especial problema naqueles que se referenciam a uma discussão cultural sem problematizar a própria dimensão da cultura em seus respectivos estudos. Nisso destacamos a cultura na Geografia com apreço especial a sua conexão com a discussão conceitual da paisagem geográfica. Objetivos O objetivo deste trabalho é discutir de que modo as reflexões sobre as abordagens culturais se configuram no Periódico Espaço e Cultura e nas Teses de Geografia do Banco de dados da Capes. Metodologia O trabalho constitui-se uma busca de teses no banco de dados da Capes e leituras sistemáticas dos artigos da revista Espaço e Cultura. Efetuou-se uma leitura qualitativa dos artigos e dos resumos das teses e, a reflexão sobre cultura apoiou-se na literatura geográfica e em debates conceituais atinentes a cultura nas ciências sociais. Resultados e Discussão Dentre as compreensões que se fundaram em nossos questionamentos destacamos nesse texto as apreensões culturais angariadas na Geografia brasileira. De forma genérica, XX Semana de Geografia; XIV Jornada Científica de Geografia da UEPG; IX Encontro do Saber Escolar e Conhecimento Geográfico; II Semana e Jornada Científica de Geografia do Ensino a Distância da UEPG 124 Anais Semana de Geografia. Volume 1, Número 1. Ponta Grossa: UEPG, 2013. ISSN 2317-9759 vislumbramos a compreensão da cultura como algo produzido socialmente, fundamentando as expressões de sentidos efetuadas pelos sujeitos àquilo que é por si efetuado. Destaque nos estudos geográficos para os espaços relacionais de ocorrência e atribuição dos sentidos, articulados em paisagens, territórios e atrelados a processos de territorialidades, isto é, em apropriações espaciais que dimensionam o próprio domínio em relação a vida de forma abrangente. Destacamos em nossas pesquisas o privilégio efetivado pelos pesquisadores aos arrabaldes da paisagem, ou seja, na adjetivação de paisagem cultural. Tal apreço possui correspondências nas reflexões de Berdoulay (2012), esse nos defronta com a relação ‘culturanatureza-sociedade’ em que aborda a natureza da influência da cultura dos indivíduos em seus territórios e suas respectivas correspondentes refletindo na natureza social e na cultura do sujeito. Não obstante, Berdoulay (2012), remonta a Carl Sauer, o qual modificou a visão geográfica de analisar a paisagem, a “Geografia Cultural sauerana”, verifica a paisagem através – ‘das ações do homem na transformação do espaço através de sua cultura, utilizando de paisagem natural e paisagem cultural’, “Sauer preferiu observar na paisagem as múltiplas e diversas manifestações dos valores, percepções e criatividade humanas” (BERDOULAY, 2012.p.108). Berdoulay (2012), afirma que a paisagem cultural é produzida pela relação entre cultura e espaço num jogo múltiplo. Ainda pensando e refletindo sobre a paisagem cultural Gamalho e Heidrich (2006), expõem que “a paisagem enquanto paisagem cultural enfoca nas relações sociais e nas transformações espaciais contidas no espaço (…). a paisagem cultural compõem uma localidade, que tem sua territorialidade, identidade e temporalidades” (GAMALHO; HEIDRICH, 2006, p.03-04). Neste contexto Guimarães (2012), defende que uma paisagem possui várias territorialidades, e, que para entender a paisagem cultural temos analisar a relação sociedadenatureza a partir da: “paisagens, territorialidades, identidades, memórias, imagens” (GUIMARÃES, 2012, p.47). A partir deste aporte conceitual da paisagem, verificamos que os autores (as) trabalham de forma direta e indiretamente com as práticas dos indivíduos na configuração da “cultura” e como a cultura constituem uma localidade, representando-a através das tradições, memórias, identidades e o espaço vivido, dentre outros. Na Revista Espaço e Cultura foram delineados alguns desdobramentos como: a geografia relacionada com a “religião”; uma linha epistemológica com uma discussão robusta; os discursos das representações dos sujeitos; as vocações da linguagem (música, literatura, pinturas, quadros, cinema); um discurso ambiental tímido e trabalhos de “estados da arte”. E nas Teses foi identificado que a questão cultural é analisada a partir do conceito de paisagem e território, usados imbricados para compreender a cultura e suas paisagens culturais através das territorializações vivenciadas e dos espaços de vivências. Um exemplo para está reflexão é a tese “A paisagem como representação espacial: a paisagem vitícola como símbolo das indicações da procedência de vinhos das regiões Vale dos Vinhedos, Pinto Bandeira e Monte Belo do Sul (RS)” (FALCADE, 2011), em que se explora a paisagem dos vinhos relacionada com as questões de identidade do local através da relação espaço-vinho-paisagem. Utilizando-se da noção de paisagem para caracterizar a cultura da região dos vinhos, através da paisagem vitícola como símbolo espacial do local, levando em conta a representação espacial e a imagem da paisagem vitícola como imagem espacial. Está noção de XX Semana de Geografia; XIV Jornada Científica de Geografia da UEPG; IX Encontro do Saber Escolar e Conhecimento Geográfico; II Semana e Jornada Científica de Geografia do Ensino a Distância da UEPG 125 Anais Semana de Geografia. Volume 1, Número 1. Ponta Grossa: UEPG, 2013. ISSN 2317-9759 cultura estará relacionada com a tradição e a modernidade da região atrelada a sua produção de vinhos e seus parreirais. Dos artigos caracterizamos como exemplo “A paisagem como campo de visibilidade e de significação: um estudo de caso” (CABRAL; BUSS, 2002), onde a paisagem é entendida como “campo de visibilidade” que se caracteriza em formas e estruturas visíveis, em que a paisagem é um “campo de significação” onde temos os valores e afetos construídos por relações socioculturais de grupos e indivíduos que se vivenciam em espacialidades. Nesse sentido, surge a indagação de como deve ser a elaboração metodológica para compreender o escopo teórico das abordagens culturais, referendados em suas teorias? Nos trabalhos enfocados, pleiteamos os conceitos chaves, em que além do privilégio da paisagem, observou-se o espaço vivido, as identidades, cultura, lugar, territorialidades, natureza e paisagem (natural e cultural) acoplados em espaços de vivências. As ações dos atores delineadas nos textos focalizam contraditoriamente para a definição de conceitos ou para a tentativa de internalização dos mesmos - com outra roupagem na escala tempo-espaço, uma “Geografia Cultural” em movimento. No entanto, a cultura não muda de uma hora para outra – o que deve estar em foco nas análises são as reconfigurações (mobilidade) culturais, os sentidos, as suas (re) significações. Findamos, com o escopo de um prosseguimento, ou seja, de uma não-conclusão, isto é, como é pensar abordagens culturais na Geografia? Quais são os seus riscos para a discussão de uma ‘Geosofia’ enquanto ao recebimento de críticas. Qual o posicionamento para tal debate e como lidar com as distintas abordagens teóricas que minam o engajamento político e cultural, em relação a espacialidades dos indivíduos e sua relação com a natureza (?). Referências BERDOULAY, Vincent. Espaço e Cultura. In: CASTRO, Iná Elias de; GOMES, Paulo Cesar da Costa; CORRÊA, Roberto Lobato (org.). Olhares Geográficos: modos de ver e viver o espaço. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012, p.101-131. CABRAL, Luiz Otávio; BUSS, Maria Dolores. A paisagem como campo de visibilidade e de significação: um estudo de caso. In: Espaço e Cultura, n.13, p.47-62, jan/jun de 2002. FALCADE, Ivanira. A paisagem como representação espacial: a paisagem vitícola como símbolo das indicações de procedência de vinhos das regiões Vale dos Vinhedos, Pinto Bandeira e Monte Belo (Brasil). Porto Alegre: UFRGS, 2011. 310 fh. (Tese de doutorado em Geografia). GAMALHO, Nola Patrícia; HEIDRICH, Álvaro Luiz. Paisagem híbrida, territorialidades múltiplas e temporalidades diversas: notas para discussão a partir da leitura da paisagem do Vale do Rio Três Forquilhas (RS). In: Anais do I Colóquio Nacional do Núcleo de Estudos em Espaço e Representações. Curitiba: NEER/UFPR, 2006 (CD-ROOM), p.01-11. GUIMARÃES, Solange T. de Lima. Valoração de paisagens: campos de visibilidades e de significâncias. In: COSTA, Everaldo Batista da; BRUSADIN, Leandro Benedini; PIRES, Maria do Carmo (org). Valor Patrimonial e Turismo: limiar entre história, território e poder. São Paulo: Outras Expressões, 2012. p.47-59. XX Semana de Geografia; XIV Jornada Científica de Geografia da UEPG; IX Encontro do Saber Escolar e Conhecimento Geográfico; II Semana e Jornada Científica de Geografia do Ensino a Distância da UEPG