ESTUDO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA MICROBACIA DO RIO BARÃO DO MELGAÇO-VILHENA – RO – BRASIL Durcelene Aparecida da Silva¹ Willimis Alves Pereira² RESUMO. A pesquisa tem como objetivo, verificar impactos ambientais provocados na bacia do rio Comemoração em Vilhena/RO, pela implantação de PCHs – Pequenas Centrais Hidrelétricas. Foi desenvolvida uma longa pesquisa bibliográfica, análise em campo, e análise documental, para verificar os impactos na bacia num período de 1995-2015. Os resultados revelaram que houve grande transformação na bacia através da implantação das hidrelétricas, pois não só aumentou na quantidade de água na bacia, como também um aumento significativo de solos expostos, o que é causado por processos erosivos e desmatamentos, retirada de mata ciliar o que favoreceu a degradação e consequentemente o aumento dos impactos ambientais. Palavras chaves – Ordenamento – paisagem – ocupação - hidroelétrica _____________________________________ ¹Mestranda em Geografia pela Universidade Federal de Rondônia dulcesilva22@hotmail. ²Mestrando em Geografia pela Universidade Federal de Rondônia [email protected]. – UNIR, Brasil. E-mail: - UNIR, Brasil. E-mail: 2 I-INTRODUÇÃO Nos últimos anos a questão ambiental tem sido o foco da atenção de diversos profissionais de diferentes áreas, na ânsia de ver saciada todas as necessidades e aspirações dos recursos naturais, surgindo à necessidade de se estabelecer um desenvolvimento que possibilite proteger e explorar de forma racional os recursos da natureza, preservando a vida em todas as suas dimensões. Vários estudos têm sido realizados com a temática, inclusive tendo a bacia hidrográfica como recorte espacial de análise, conforme preconiza a Política Nacional de Recursos Hídricos, Lei Nº. 9.433/97, esse recorte espacial oferece elementos para análise da unidade, do ponto de vista hidrológico, geomorfológico e histórico no sentido de ocupação e ordenamento territorial. Devido essas características as bacias hidrográficas são consideradas como unidades básicas, por serem unidades integrativas e com expressividade e importância espacial. Os dados estabelecidos a partir de estudos de bacias hidrográficas serão determinantes para a interpretação da dinâmica do relevo e consequentemente da análise evolutiva da paisagem no espaço temporal, do uso do solo e dos recursos hídricos da área de estudo. Portanto, entender a dinâmica hídrica das bacias hidrográficas e a dinâmica da paisagem envolvem a identificação de diversos atributos que também compõem o ambiente, não apenas os aspectos de ordem física, mas também o componente humano atrelado ao socioeconômico, com o fim de exercerem influência na paisagem ao imprimir mudanças. Desta forma a paisagem do sul/sudeste do estado de Rondônia, onde se encontra a bacia do rio Comemoração, teve seu ambiente natural fortemente impactado a partir da década de 70 do século passado. Essa transformação se deu pelo processo de ocupação desenvolvido pelo Governo Federal através do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA, a partir desta década, deu início à implantação de projetos oficiais de colonização e realizou campanhas com o slogan “Amazônia Integrar para não Entregar”, “Marcha para o Oeste”, “Rondônia um Novo Eldorado” (OLIVEIRA, 2005). Para estudo desse processo de ocupação da área da pesquisa, se faz necessário realizar a delimitação de unidades geoambientais a fim de aplicarem classes de vulnerabilidade para a área de estudo para se determinarem potencialidades e restrições no uso da terra. Estes parâmetros podem revelar indicadores físicos específicos para um determinado local, de forma a qualificarem as alterações ambientais. Destaca-se também sua importância nos estudos sobre vulnerabilidade ambiental em bacias hidrográficas. Através da análise geoambiental da área em estudo, buscar-se-á, a verificação de interconexões entre o meio físico e o homem. Isso possibilitará o desenvolvimento mais preciso da análise espacial dos elementos físicos e sociais, seus processos, suas relações e correlações matéria do sistema sociedade e natureza, ao qual a bacia do rio Comemoração está sujeita, quantificando esses dados do ponto de vista das análises de satélite que darão suporte a pesquisa, embora o recorte temporal situa-se a partir da perspectiva do espaço-temporal entre 1995 e 2015 O reconhecimento dessas unidades da paisagem, bem como sua dinâmica, fornece subsídios para o planejamento e a ocupação dessas áreas e permite o estabelecimento de metas estratégicas de ação visando um desenvolvimento adequado colaborado assim, 3 para exploração correta dos recursos existentes, com a manutenção da qualidade dos ambientes naturais ao mesmo tempo atrelados ao desenvolvimento socioeconômico. Os estudos integrados da paisagem inserem as dinâmicas humanas ou socioeconômicas sobre um plano dos atributos e elementos físicos que, por sua vez, são dotados de funcionalidade própria no tempo e no espaço (MANOSSO, 2005). No meio físico sujeito aos fluxos de energia e diversos outros processos resultantes da ação do homem ou não, promovem a remodelação da paisagem. Isso pode ser determinado por meio de metodologias aplicadas aos estudos das compartimentações das unidades territoriais como forma de diagnosticar alterações ambientais (PAIVA, 2010). 2- BACIA HIDROGRÁFICA: NUMA PERSPECTIVA DE GESTÃO AMBIENTAL E TERRITORIAL No decorrer do século XX, as ciências foram sendo construídas de uma maneira que favorece a divisão das áreas de conhecimento em subáreas. Dessa forma muitos ramos de análise e pesquisa dos recursos naturais surgiram. De acordo com Canali (2002), a geografia humana se aproximou das ciências sociais, e desta forma distanciou-se das bases naturalistas, às quais são representadas pela geografia física, enquanto esta se utilizava cada vez mais do método de análise das ciências naturais e assim tende a verticalização em distintas áreas de especialização. Desta forma, houve uma transformação na ciência geográfica, que foi dividida. A fragmentação do conhecimento para poder resultar em um obstáculo para o entendimento e a resolução de problemas sócioambientais complexos, que “se a ciência, na busca da unidade e objetividade, terminou fraturando e fracionando o conhecimento, as ciências ambientais, guiadas por um método interdisciplinar, estavam evocadas à missão de alcançar uma retotalização do conhecimento”. (LEFF, 2004, p. 32). Dentro dessa realidade, e na tentativa de integrar esse conhecimento, alguns geógrafos utilizam como alternativa uma abordagem sistêmica, a qual está baseada na Teoria Geral dos Sistemas, uma proposta de análise desenvolvida pelo estadunidense Defay em 1929, que foi difundida mais precisamente na década de 1960, pelos estudos de Sotchava e Bertalanffy. Já no Brasil, essa mesma teoria foi utilizada e divulgada pelo geógrafo Christofoletti (1999, p.02), que enfatiza a necessidade da utilização da ideia de totalidade para compreender como as entidades ambientais físicas expressam-se em unidades complexas, englobando a estruturação, a organização, o funcionamento e a dinâmica dos elementos físicos, biogeográficos, sociais e econômicos. Nessa perspectiva, considerando que os grupos humanos devem compreender as características e o funcionamento dos sistemas do meio ambiente e evitar reproduzir ações que provoquem rupturas no equilíbrio, ocasionando os impactos que ultrapassam a estabilidade existente. Conforme Vicente e Perez Filho (2003) o homem tem interferido de forma variada, rápida e agressiva na dinâmica natural da terra, fornecendo elementos para uma nova realidade ambiental, na qual as derivações antrópicas representam-se cada vez mais influentes e contundentes. Nesse contexto, inserem-se novas nuances a possibilidades de intervenção 4 sobre o complexo ambiental voltado para o planejamento e gestão, por meio da evolução de seus componentes, priorizando suas relações muito mais do que suas particularidades. Capra (2004) salienta que o pensamento sistêmico está vinculado a termos como conexidade, de relação, de contexto. Sendo assim, as propriedades essenciais de um organismo, ou sistema vivo, são propriedades de todo, que nenhuma parte possui. Quando o sistema é dissecado em elementos isolados essas propriedades tendem a serem destruída. Isso evidencia o caráter holístico da abordagem, a qual se contrapõe a visão reducionista. Já Odum (1988) também afirma que a bacia hidrográfica se comporta como um sistema aberto e acrescenta que o funcionamento e a estabilidade relativa refletem as taxas de influxo e os ciclos de energia, de água e de materiais ao longo do tempo. Dessa forma, a degradação da água é consequência, muitas vezes, do gerenciamento incorreto da bacia hidrográfica, cuja solução não é encontrada observando-se apenas o interior da água e sim toda bacia de drenagem enquanto unidade de planejamento. Em função da possibilidade de uma visão conjunta do comportamento das condições naturais, das atividades humanas, da relação estabelecida entre as mesmas, a partir da perspectiva sistêmica, se utiliza como uma das possibilidades de recorte espacial a bacia hidrográfica. O emprego deste recorte, de modo geral, ocorre em função da crescente necessidade de preservar, discutir e atuar em defesa do equilíbrio do meio ambiente, devendo, portanto, ser compreendida como uma unidade de análise. Segundo Botelho (1999) a bacia hidrográficas, uma vez que é delimitada considerando-se critérios geomorfológicos, leva vantagem sobre as demais unidades de planejamento definidas por outros atributos, os quais apresentam limites imprecisos, como os baseados nos tipos de vegetação ou em características climáticas. Anterior a 1980 era comum à utilização de unidades político-administrativas ou quadrículas definidas por coordenadas cartográficas como unidades de pesquisa. Esse planejamento que poderia evitar o desequilíbrio da bacia, mesmo estando previsto em Lei, como no caso da Lei 9.433/97, muitas vezes não é realizado, e quando feito, com frequência não são seguidos ou executados. Os homens precisam buscar compreender e entender as características e funcionamento dos sistemas ambientais e evitar reproduzir ações que provoquem rupturas no equilíbrio, ocasionando impactos que ultrapassem a estabilidade existente. Torna-se então, indispensável o conhecimento das potencialidades do meio ambiente, somente então, propor alternativas e programar propostas,acerca da sua utilização coerente. Para tanto, é necessário compreender que os sistemas ambientais interagem a partir de uma perspectiva dinâmica e de inter-relação entre elementos constituintes, possibilitando adotar uma visão abrangente e uma postura coerente diante dos objetos investigados e dos problemas ambientais contemporâneos. Segundo Ross (1995) a pesquisa ambiental na abordagem geográfica é indispensável para a elaboração de diagnósticos coerentes a partir dos quais é possível formular proposições, tendo como objetivo compreender as relações das sociedades humanas com a natureza, diante de uma perspectiva dinâmica que envolve os aspectos culturais, sociais, econômicos e naturais, fornecendo suporte técnico para as políticas de planejamento. 5 Ross (2006, p 56-57) ressalta que: Tanto os elementos que determinam as especificidades dos componentes naturais, como as relações econômico-sociais não determinam no contexto do espaço territorial de um lugar, pois as estruturas geológicas, o relevo, o solo, a vegetação, a fauna e o clima, por serem regidos por uma complexidade de mecanismos naturais, definem espaços territoriais próprios. Igualmente as relações sociais e econômicas das populações humanas, assentadas em um determinado lugar, têm vínculo naturais e econômicos que, invariavelmente extrapolam os limites do lugar onde vivem, pois seus vínculos e interações são estabelecidos, pelos mecanismos econômicos, culturais e sociais que não são globais. Desta forma, quando se objetiva avaliar as condições ambientais de uma porção da superfície terrestre, é necessário articular a realidade natural e a realidade social e como estas interagem e se manifestam. Todas essas análises de pesquisadores acerca do tema, é em busca pelo entendimento do equilíbrio desses sistemas, as sociedades crescem, se dividem, se unem, sempre numa relação intima com recursos da natureza. No Brasil muito se tem feito em termos de leis, objetivando o uso racional desses recursos, para que a sociedade possa desfrutar por muito mais tempo de uma convivência equilibrada com o meio natural, no entanto a fiscalização dessas leis é frágil. As bacias hidrográficas, por serem consideradas sistemas, precisam ser bem gerenciadas, pois o desequilíbrio de um único elemento desse sistema pode provocar danos ao todo. Dentro desta perspectiva de gestão dos recursos hídricos, e consequentemente de bacias hidrográficas, o Brasil tem buscado regulamentar leis, em âmbito Federal, Estadual e Municipal. Neste contexto podemos citar algumas como a Constituição federal de 1967, que não alterou o domínio hídrico pertencente à União e aos Estados. Mas, ao tratar da defesa contra os efeitos nocivos da água avançou, instituindo como competência da União “organizar a defesa permanente contra as calamidades públicas, especialmente a seca e as inundações" além de “estabelecer e executar planos regionais de desenvolvimento". Com a preocupação em elaborar planos de gestão dos recursos naturais foi criado, a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), e para legitima essa política foi criada a Lei 6.938 que posteriormente foi alterada pela Lei 7.804 de 1989. Com a modernização do país, após a década de 70, outros usos de água, principalmente a irrigação, passaram a competir com o uso energético, gerando inúmeros conflitos. Programa Nacional de Irrigação, através da Lei 6.662/79, que serviu de base para o Programa Nacional de Irrigação e para o Programa de Irrigação do Nordeste. Estes programas tinham por objetivo controlar a utilização da água usada na irrigação, eliminar os conflitos existentes e também estimular o desenvolvimento econômico daquela região. A PNMA objetiva compatibilizar o desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente; estabelecer critérios e padrões da qualidade ambiental; e ainda, definir normas relativas ao uso e manejo sustentável dos recursos ambientais. A PNMA resgatou do Código de Águas os princípios “usuário-pagador" e “poluidorpagador”. Criou novas áreas ambientalmente protegidas, ou seja, as reservas ecológicas e 6 as áreas de relevante interesse ecológico. Especificamente em relação ao setor hídrico, delegou ao CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) “estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao controle e à manutenção da qualidade do meio ambiente com vistas ao uso racional dos recursos ambientais, principalmente os hídricos”. O estado de Rondônia possui ha décadas em seus planos e projetos de ordenamento e desenvolvimento territorial a preocupação com o uso sustentável dos recursos naturais, sendo que em março de 1992, foi aprovado o PLANAFLORO - Plano Agropecuário e Florestal de Rondônia, com o objetivo geral de “implantar uma abordagem mais aperfeiçoada para o manejo, a conservação e o desenvolvimento dos recursos naturais do Estado”, em acordo com o Zoneamento Sócio-Econômico e Ecológico, tratado no Decreto Estadual no 3.782, de 14 de junho de 1988. Zoneamento este que é reelaborado com o objetivo de corrigir ações e colaborar com o desenvolvimento social e preservação ambiental do estado. Além ZSEE-RO, o estado de Rondônia possui outros projetos de planejamento de base territorial, como é o caso do Plano de Desenvolvimento Integrado de Fronteira de Rondônia e o Programa de Ordenamento Territorial e Desenvolvimento Regional e o Desenvolvimento Regional do Estado de Rondônia – Proposta Estratégica de Desenvolvimento. O ZSEE-RO tem por objetivo orientar a implantação de medidas e promover a elevação do padrão socioeconômico das populações por meio de ações que levem em conta as potencialidades, as restrições de uso e a proteção dos recursos naturais, permitindo que se realize o pleno desenvolvimento das funções sociais e do bem-estar de todos, de forma sustentável (artigo 3º da Lei Complementar Nº 233/2000). Numa perspectiva de planejamento, poderíamos pensar que tudo estaria resolvido, que toda ação e transformação na bacia hidrográfica do rio Comemoração seriam feitas, sem provocar nenhum dano ambiental. Infelizmente, o zoneamento ter sido feito, não é sinônimo de manutenção do aspecto físico da área. Embora sejam feitos projetos de desenvolvimento sustentável, eles não são seguidos na íntegra, muitas vezes por falta de fiscalização. Ainda quando esses projetos são feitos dentro do planejamento, existem riscos de algo dar errado. Muitas transformações, como desmatamento de áreas protegidas, em solos suscetíveis a erosão, são feitas, sem levar em consideração esses planejamentos. Temos também o exemplo da implantação da PCH do Apertadinho, que foi planejada, foi autorizada e que mesmo assim causou com sua implantação e o rompimento da sua barragem, grandes impactos ambientais, como desmatamento da mata ciliar, mortandade de peixes, assoreamento do rio, entre outros. Desta forma, por essas e outras razões é que essas áreas se tornam objeto de muitas pesquisas. As bacias hidrográficas são sistemas naturais integrados, e no Brasil, são consideradas como unidade básica para o planejamento em recursos hídricos (Lei 9433/97), e é de extrema importância para o desenvolvimento sustentável, que o presente estudo busca verificar algumas das transformações ocorridas na bacia do rio Comemoração. 7 CARECTERIZAÇÃO E LOCALIZAÇÃODA ÁREA DE ESTUDO A área de estudo é a bacia hidrográfica do rio Comemoração, que tem sua principal nascente inserida no perímetro urbano do município de Vilhena, ao sul do estado de Rondônia. A bacia em análise possui uma área de43 mil km² e um perímetro de 441 km e se encontra entre as latitudes de 12° 00’00”S/12°40’00” e as longitudes 60°00’00”/60°50’00” W. O município possui uma extensão territorial de 11.367,00 Km², cerca de 93.745 mil habitantes, conformando uma densidade demográfica de 6,62 hab./km², de acordo com o IBGE (2016) e encontra-se a uma altitude de aproximadamente 600m, do nível do mar. A bacia se estende em direção ao norte onde se encontra com o rio Pimenta Bueno, já no município de Pimenta Bueno-RO. O município de Pimenta Bueno possui uma extensão territorial de 6.233,60 km², com cerca de 37.786 habitantes, e uma densidade de 5,42 hab./km²,de acordo com o IBGE (2016). Figura 1- mapa de localização da bacia do rio Comemoração. A bacia hidrográfica em estudo recebe dois nomes, seu rio principal é denominado de “Rio Barão do Melgaço ou Rio Comemoração”, essa bacia, pertence à grande bacia do rio Machado, que recebe esse nome após a confluência dos rios Barão de Melgaço ou Comemoração e o Rio Pimenta Bueno ou Apediá, essa confluência ocorre próximo à cidade de Pimenta Bueno. Os principais afluentes do rio Comemoração são os Igarapés Piracolina, Ana Maria, Bom Jesus, Corgão, Diamantino, Estivia, Franco Ferreira, Santa Clara, São Sebastião, Tabocal, Tenente Melo, Quilômetro Oitenta, Córrego do Lobo, Rio Francisco Bueno e Rio Ávila. 8 A drenagem da bacia depende do clima regional que envolve temperatura e pluviosidade, da topografia, da cobertura vegetal, da litologia, do tipo de relevo, do tipo de solo e para sua manutenção, dependem as formas de uso do solo. A região da bacia, diferentemente da maioria de outras no estado de Rondônia, que possuem clima equatorial quente e úmido, a área de estudo que fica ao sul do estado possui clima segundo os parâmetros de Köppen, do tipo Aw – Clima Tropical Chuvoso, onde há uma estação úmida durante o verão e outra seca no inverno. Na porção correspondente ao município de Vilhena, onde se encontra a área de mananciais da bacia em análise, a precipitação média atinge 2.081 mm anuais. A distribuição da precipitação ao longo do ano é bastante irregular, isto se deve ao período de seca (julho, agosto e setembro) a precipitação e umidade relativa do ar atinge valores reduzidos, ao contrário do regime pluvial o térmico é bem definido a temperatura média anual resulta de 24ºC em Vilhena. Essas características climáticas, vão da área de nascente do rio Comemoração até sua foz com o rio Pimenta, já no município de Pimenta Bueno. Em relação à formação geológica, a bacia do Rio Comemoração é formada por rochas relativamente jovens quando comparadas ao Estado de Rondônia cujas unidades litoestratigráficas datam do Proterozóico (que se iniciou há 2.500 milhões de anos (M.A) atrás se estendendo a 570 M.A). Em relação à descrição geológica da área podemos verificar na região várias unidades litoestratigráficas o que traz uma variedade de formações. A descrição a seguir se faz da mais antiga para a mais recente: Formação Pimenta Bueno (Sdpb):A unidade e constituída de folhelhos, siltitos,arenitos finos e micaceos. Essa Formação (CarbonÌfero), contém fanglomerados, arenitos arcosianos, folhelhos, diamictitos e uma unidade dropstone, cuja área de ocorrência posiciona-se no interland dos rios Comemoração e Roosevelt. Formação Arenito Parecis(Kps): formado principalmente por arenitos arcoseanos proximais, arenitos fluviais com horizontes estreitos e locais de conglomerado e arenitos eólicos com mega estratificação cruzada; conglomerados e estruturas de escorregamento com brechas sedimentares ocorrem localmente. A Formação Parecis, associada a um ambiente desértico composto por fácies fluviais, eólicos e lacustres. Depósitos Aluvionares (Qha): ocorre em ambiente fluvial, no caso da bacia na jusante mais precisamente na sua foz. É constituído por depósitos arenosos, siltosos e argilosos, com níveis de cascalho, com depósitos aluvionares em canais fluviais e planícies de inundação dos sistemas de drenagens atuais. A área que corresponde a bacia do rio Comemoração está localizada o Domínio geomorfológico do Planalto Brasileiro, Mais especificamente no Planalto dos Parecis e na Depressão Pimenta Bueno (RADAMBRASIL, 1978) em áreas cujas altitudes variam entre 600 m e 300 m do nível do mar. 9 Figura 2 - Imagem SRTM da bacia do rio Comemoração Como pode ser verificado no mapa acima, a área de manancial da bacia, possui relevo elevado, com aproximadamente 600 m de altitude. Esse fator favorece o processo erosivo, principalmente com o desmatamento da área, e ainda a implantação de pequenas centrais hidrelétricas na área. O embasamento litológico nesta área corresponde majoritariamente ao Grupo Parecis. Na área de estudo foram detectada as seguintes Unidades geomorfológicas: A bacia apresenta diversidade geomorfológica, sendo a maior parte composta por relevos de origem denudacional com ou sem controle estrutural. As unidades denudacionais compreendem as formas de relevo elaboradas a partir dos processos erosivos responsáveis pelo rebaixamento do relevo, mas também ocorre deposição por ação de processos gravitacionais como no caso de footslopesde dissecação baixa a alta (TECNOSOLO/DHV, 1998). GERAÇÃO DE ENERGIA E SUAS TRANSFORMAÇÕES NA BACIA De acordo com o Relatório do PDES-RO, a maior parte dos solos da bacia possui indicação para uso de “restrito a desfavorável e desaconselhável” em maior parte da área. Dentro dessas Regiões de Planejamento, muitos projetos são aprovados, desde projetos simples como agricultura de subsistência, até projetos mais tecnicistas e tecnológicos, como os projetos de construção de PCH- Pequenas Centrais Hidrelétricas. Nesta perspectiva de desenvolvimento, é que foi autorizada a implantação de dois projetos de Pequenas Centrais Hidrelétricas na bacia. Os projetos foram as Centrais Rondon II e a Apertadinho. A PCH Rondon II teve sua autorização para a exploração do seu potencial energético em 1993, através do Contrato de Concessão Nº 006/93, entre a 10 União e a empresa Eletrogóes S.A., a PCH com potencial energético de 74 mil kW/h, possui uma área inundada de 84 km, e apesar das transformações espaciais e ambientais provocadas pelo barramento, tudo ocorreu dentro do planejado. Já a implantação da PCH Apertadinho, não ocorreu com a mesma normalidade. A mesma teve sua autorização dada pela ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), em 2002, com concessão à empresa, Centrais Elétricas Belém S/A. (Cebel)², que venceu a uma disputa pela concessão com a empresa Mecanização Controle e Administração Geral Ltda., (Mecanal), que também apresentou projeto para a PCH. Apertadinho teria potência instalada de 30 MW. Diferentemente da PCH Rondon II, que foi instalada no rio Comemoração no município de pimenta Bueno, a PCH Apertadinho, foi instalada no mesmo rio, no entanto mais a montante, no município de Vilhena, à cerca de 30 km da área urbana desse município. A superfície do reservatório de 287 hectares, extensão da barragem de 448 metros, volume do reservatório de 31.740.000 m³, profundidade média do reservatório de 11 metros, altura máxima da barragem de 40 metros e capacidade do verte douro de 347 m3 por segundo. O rompimento da barragem da PCH Apertadinho ocorreu em janeiro 2008. Após o acontecimento muitas precauções, análises e estudos foram feitos a cerca do fato. De acordo com o jornal A Folha de São Paulo que noticiou o rompimento, “disse que o acidente teria colocado em risco, moradores das cidades de Pimenta Bueno e Cacoal, cortadas pelo rio Comemoração (ou Melgaço), onde fica a usina”. Mas tarde foi desenvolvido EIA RIMA, para pareceres técnicos, com o intuito de responsabilizar a Empresa responsável pela obra e também de desenvolver a recuperação das áreas afetadas. A imagem abaixo mostra as transformações ocorridas na área após o rompimento da barragem, muitas erosões, desmatamento da mata ciliar, assoreamento do rio, entre outros, como a mortandade de espécies aquáticas. Todas essas alterações também fora apontadas nos relatórios técnicos, desenvolvidos por órgãos responsáveis. Figura 3 - PCH de Apertadinho em 2008 pós o acidente. Fontes: Google Earth e http://www.panoramio.com/photo/7027315 11 Todo o procedimento de processamento digital de imagens foi realizado no Sistema de Processamento de Informações Georeferenciadas (SPRING), versão 5.3, disponibilizada pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE). Também foram analisadas imagens via Google Earth 2008, para algumas considerações da pesquisa. Sendo assim, podemos afirmar que o Ordenamento territorial da Bacia foi seguido, que a áreas de florestas matas ciliares foram e estão preservadas, no entanto pode-se verificar que as PCH - Pequenas Centrais Hidrelétricas, foram responsáveis pelas maiores transformações não só da paisagem como também do espaço físico. A PCH – Rondon II foi implantada com êxito, com impactos reduzidos, sendo responsável por transformações da paisagem, através da implantação de seu reservatório, com o alagamento de uma grande extensão territorial, onde se encontrava mata ciliar, alagando solos considerados, de alta suscetibilidade erosivo com tendência a provocar o assoreamento do leito do rio. Já a PCH – Apertadinho foi a responsável pelas maiores transformações ocorridas no rio Comemoração, embora sua implantação também tenha seguido o Ordenamento Territorial de Rondônia, passou por um acidente grave. Este acidente foi apontado como previsível pelos técnicos em meio ambiente de órgãos públicos do estado. Embora pudesse ser previsto não foi evitado, o rompimento de seu barramento provocou grandes e graves impactos negativos no meio ambiente, assim como, grandes transformações da paisagem. Figura 4- PCH/Apertadinho - 2008 12 Figura 5- PCH/Apertadinho - 2008 Tendo se rompido em janeiro de 2008, quando seu reservatório já estava com seus níveis elevados, a PCH Apertadinho, deixou um rasto de destruição, devastando matas ciliares, provocando grandes processos erosivos, além de transportar uma grande quantidade de sedimentos. Além disso, de acordo com a SEDAM-RO, provocou uma mortandade de peixes e outros animais aquáticos, já que era período de ovulação. CONSIDERAÇÕES FINAIS É importante salientar que o presente trabalho é uma estimativa e que os resultados foram obtidos a partir de interpretação visual imagens de satélites, fotografia do período do acidente, de mapa hipsométrico, e relatos documentais da implantação funcionamento e do rompimento da barragem da PCH - Apertadinho, visto que a relação entre projeto, implantação da obra e o rompimento da barragem foram o suficiente para provocarem na bacia uma grande transformação da paisagem, além de provocar vários impactos ambientais, já relatados ao longo da pesquisa. ___________________ ²Dados retirados do Termo de Ajuste de Conduta - TAC - firmado entre a CEBEL, proprietária do empreendimento e autoridades envolvidas no caso, tal como o Ministério Público do Estado de Rondônia, IBAMA, perito judicial etc. Fonte (junho/2010) BIBLIOGRAFIA ALMEIDA, J. R.; TERTULIANO, M. F. Diagnose dos Sistemas Ambientais: métodos e indicadores. In: CUNHA, S. B.; GUERRA, A. J. T. 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Lei nº 7.804, de 18 de julho de 1989O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º Esta Lei, com fundamento nos incisos VI e VII, do art. 23, e no art. 225 da Constituição Federal, estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, constitui o Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, cria o Conselho Superior do Meio Ambiente - CSMA, e institui o Cadastro de Defesa Ambiental."<a href="http://www.lexml.gov.br/urn/urn:lex:br:federal:lei:1979-06-25;6662">Lei nº 6.662, de 25 de Junho de 1979</a> CANALI, N. E. Geografia Ambiental: desafios epistemológicos. In: MENDONÇA, F.; KOZEL, S. (orgs) Elementos de epistemologia da Geografia Contemporânea. Curitiba: Editora da Universidade Federal do Paraná, 2002. CAPRA, F. A Teia da Vida. Uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. 9 ed. São Paulo: Cultrix, 2004. CHRISTOFOLETTI, A. Modelagem de Sistemas Ambientais. 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