Artigo original Poliarquia – Revista de Estudos Políticos e Sociais do Centro Universitário Unieuro Unieuro, Brasília, v. 2, n. 2 jul./dez. 2010, pp. 74-92. ISSN: Em processo de emissão Recebido em: 2/6/2010 Revisado em: 29/6/2010 Aprovado em: 23/7/2010 Padrão heteronormativo: reconhecimento e cidadania como estratégias de superação GONÇALVES, Jonas Rodrigo1 Resumo: Este artigo discutirá a lógica da subalternidade como estratégia de repressão. A lógica da superiorização e da inferiorização dos grupos sociais se traduz em um conjunto de práticas sociais capaz de inserir pública e socialmente determinadas categorias sociais de formas subalternas em nossas sociedades. Há variadas formas de dominação e de verticalização da sociedade. Pode-se controlar uma sociedade pela moral religiosa ou até mesmo pela dominação proposta pela língua. Palavras-chave: Padrões, subalternidade, homossexualidade. Abstract: This article will argue the logic to control the other as repression strategy. The logic of the social groups if translates a set of practical social capable to insert public socially and definitive social categories of subordinate forms in our societies. It has varied forms of domination of the society. A society for the religious moral or for the domination can be controlled even though proposal for the language. Key-words: Standards, sobordinate, homosexual. 1 Jonas Rodrigo Gonçalves é mestre em Ciência Política pelo Centro Universitário Euroamericano/DF; licenciado em Filosofia, História, Sociologia e Psicologia pela Universidade Católica de Brasília/DF; autor de 34 livros didáticos pelas editoras Vestcon, Processus, Objetivo e EA; professor das faculdades do DF: Processus e IESB; professor do Curso Jurídico de Curitiba/PR; elaborador de recursos para provas discursivas: [email protected]. Artigo original Poliarquia – Revista de Estudos Políticos e Sociais do Centro Universitário Unieuro Unieuro, Brasília, v. 2, n. 2 jul./dez. 2010, pp. 74-92. ISSN: Em processo de emissão Introdução Desde os primórdios da humanidade, há tentativas de se tentar padronizar os comportamentos sociais, inclusive com o uso da figura do transcendente para inibir a homossexualidade. Entendamos um breve histórico. Em especial em Atenas, na Grécia Antiga, o relacionamento sexual entre pessoas do mesmo sexo, também conhecido como pederastia, obteve a atribuição de uma instituição social. Por meio da troca de favores sexuais e intelectuais entre um jovem imberbe e um cidadão adulto ocorria o processo de ensinamento dos preceitos das artes e das ciências da época. Em Esparta e Tebas, conforme pesquisa de Marcos de Araújo2, o homo-erotismo era reforçado nos exércitos, considerando que os soldados enamorados entre si lutariam de forma mais intensa para proteger e ajudar seus companheiros. Em Roma, um cidadão podia usufruir sexualmente de homens e mulheres, escravos ou não, desde que se portasse de maneira ativa mantendo sua postura e status. Na Roma antiga, a conduta passiva era considerada desonrosa e os homens efeminados ou passivos como Calígula, dentre outros imperadores, tornaram-se desvalorizados nas conversas da nobreza romana. Houve influência forte da visão cristã da sexualidade sobre a ciência e a psicologia, uma vez que o poderio da visão católico-cristã foi fortíssimo durante séculos. Araújo3 evidencia isso, abordando a origem do termo homossexualismo como 2 Com a ascensão do Cristianismo, as práticas sexuais entre pessoas do mesmo sexo e outras que fugiam das regras da Igreja Cristã foram colocadas como antinaturais e consideradas pecaminosas. A sodomia, nome dado às condutas eróticas que fugiam da norma de procriação, serviu como base para diversos processos inquisitoriais promovidos pela Igreja. Tanto na Europa quanto nas colônias, a vida dos(as) chamados(as) sodomitas esteve cercada de medo, devido às penalizações da Inquisição que variaram desde penitências até a morte na fogueira. (ARAÚJO, Marcos de. Multiculturalismo ou discriminação na polícia militar do Distrito Federal? Brasília: Unieuro, 2008. p. 105) 3 Foi, em meados do século XIX, que se criou o termo ‘homossexualismo’. Os(as) homossexuais seriam aqueles(as) pertencentes a uma sexualidade peculiar e anômala, oposta à norma heterossexual burguesa. Essa categorização das práticas sexuais foi reforçada por dispositivos jurídicos e científicos. Assim, a partir do trabalho de classificação, Chartier (2000) coloca que são relevantes as práticas que fazem reforçar essas delimitações do social. Através de argumentos científicos, religiosos e jurídicos no Artigo original Poliarquia – Revista de Estudos Políticos e Sociais do Centro Universitário Unieuro Unieuro, Brasília, v. 2, n. 2 jul./dez. 2010, pp. 74-92. ISSN: Em processo de emissão especificador dos que possuíam uma sexualidade peculiar e anômala, oposta à norma heterossexual burguesa. Nesse sentido é muito importante que entendamos o conceito de subjetividade e individualidade. Segundo Touraine, o sujeito não se confunde com o indivíduo. Ele sugere que pessoas diferentes só conseguirão viver juntas, caso haja identidade cultural. Para Touraine (1990, p. 214), só será possível que se conviva com as diferenças combinando ação instrumental e identidade cultural, ou seja, cada pessoa se construindo como sujeito, dando à sociedade leis, instituições e formas de organização social cujo objetivo principal seja proteger a nossa exigência de viver como Sujeitos da nossa própria existência. Uma vez entendido o processo de compreensão da construção dos sujeitos e seus papéis sociais, é essencial estudar agora a lógica da subalternidade como estratégia de repressão, discutida no próximo subcapítulo. 1 A lógica da Subalternidade como estratégia de repressão Touraine4 enfatiza não existir qualquer descontinuidade entre a idéia de Sujeito e a idéia de sociedade multicultural, e mais precisamente de comunicação intercultural, dado que só podemos viver juntos com as nossas diferenças se nos reconhecermos mutuamente como sujeitos. Já para Prado e Machado5, a lógica da superiorização e da inferiorização dos grupos sociais se traduz em um conjunto de práticas sociais capaz de inserir pública e socialmente determinadas categorias sociais de formas subalternas em nossas início do século XX criou-se uma subjetividade homossexual, fomentada tanto nos discursos dos(as) heterossexuais como também dos(as) homossexuais. A partir dos anos 60, a reivindicação por direitos iguais para gays e lésbicas toma força mundial, bem como a defesa da identidade passa a ser palavra de ordem. (Ibidem) 4 TOURAINE, Alain. Iguais e diferentes: poderemos viver juntos? São Paulo: Instituto Piaget, 1990. p. 214. 5 PRADO, Marco Aurélio Máximo, MACHADO, Frederico Viana. Preconceito contra homossexualidades: a hierarquia da invisibilidade. São Paulo: Cortez, 2008. p. 11. Artigo original Poliarquia – Revista de Estudos Políticos e Sociais do Centro Universitário Unieuro Unieuro, Brasília, v. 2, n. 2 jul./dez. 2010, pp. 74-92. ISSN: Em processo de emissão sociedades. Para eles, a não-heterossexualidade foi gravemente condenada pelo discurso hegemônico, que, influenciado pelo discurso religioso e médico-científico, legitimou instituições e práticas sociais baseadas em um conjunto de valores heteronormativos. Estes valores levaram à discriminação negativa e à punição de diversos comportamentos sexuais, sob a acusação de crime, pecado ou doença6. Tal reflexão de Prado e Machado encontra eco na posição adotada por Touraine (1990, P. 218) que acredita que a imposição de um modelo supostamente progressista e científico não conduziu apenas à destruição de grupos étnicos, mas sim mergulhou as diversas minorias na marginalidade. Touraine7 afirma que hoje este modelo da sociedade nacional está enfraquecendo. O seu declínio advém simultaneamente de, por vezes, se ter transformado em nacionalismo agressivo, para se defender contra a globalização da economia, e do fato que as identidades particulares resistiram melhor à globalização que ele próprio, que procurava conservar o controle da modernização econômica e das identidades coletivas. (...) O apego que temos à liberdade de opinião e a tolerância cultural não dão resposta suficiente aos problemas decorrentes do enfraquecimento deste modelo da sociedade nacional. Prado e Machado (2008, p.12) dialogam com este posicionamento na medida em que refletem que, a partir do século XIX, o corpo e a sexualidade passaram a ser objeto privilegiado das políticas de controle e de moralização da vida social. Evidenciam que, articulados com um projeto de sociedade verticalizada e hierárquica, o corpo e o prazer se tornaram campos de luta e de debate político, revelando formas ideológicas de circunscrição de identidades sexuadas e de reconhecimento social. Segundo Touraine (1990, p. 221), há variadas formas de dominação e de verticalização da sociedade. Pode-se controlar uma sociedade pela moral religiosa ou 6 7 PRADO, MACHADO, 2008. p. 12. Ibidem, p. 219. Artigo original Poliarquia – Revista de Estudos Políticos e Sociais do Centro Universitário Unieuro Unieuro, Brasília, v. 2, n. 2 jul./dez. 2010, pp. 74-92. ISSN: Em processo de emissão até mesmo pela dominação proposta pela língua, dando eco ao pensamento foucaultiano acerca da gramática e seus enunciados, já abordado anteriormente neste trabalho. Para Touraine (1990, p. 221), por toda a parte em que se procurou constituir culturas homogêneas, cuja pureza seria garantida por um controle político estrito e pela eliminação das minorias consideradas como errantes, o sangue correu, desde o extermínio das raças julgadas inferiores pelos nazis até à purificação étnica empreendida pelos serviços depois da explosão da antiga Juoguslávia. Para ele, “(...) Um povo tem o direito de lutar pela sua independência nacional e esta luta é mais forte quando se apóia numa identidade cultural, lingüística e histórica.” Já segundo Hall, “As sociedades multiculturais não são algo novo. Bem antes da expansão européia (a partir do século quinze) – e com crescente intensidade desde então – a migração e os deslocamentos dos povos têm constituído mais a regra que a exceção, produzindo sociedades étnica ou culturalmente “mistas”. (...) Desde a II Guerra Mundial, o multiculturalismo não só tem se alterado, mas também se intensificado. Tornou-se mais evidente e ocupa um lugar central no campo da contestação política.” A sexualidade se constitui como um poderoso combustível que impulsionou essa máquina modernizadora, sendo concomitantemente regulada por ela. Prado e Machado fazem um apanhado histórico sobre a questão da dominação a partir da história da humanidade. Barret8 esclarece que “a melhor maneira de entender a hegemonia é como a organização do consentimento: os processos pelos quais se constroem formas subordinadas de consciência, sem recurso à violência ou à coerção”. 8 BARRET, M. Ideologia, política e hegemonia: de Gramsci a Laclau e Mouffe. In: ZIZEK, S. Um mapa da ideologia. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996. p. 238. Artigo original Poliarquia – Revista de Estudos Políticos e Sociais do Centro Universitário Unieuro Unieuro, Brasília, v. 2, n. 2 jul./dez. 2010, pp. 74-92. ISSN: Em processo de emissão Pior é observar que tais mecanismos de subalternização refletem diretamente sobre o que sentem os membros do grupo GLBT. A violência não deixa só marcas no físico do agredido, mas do psicológico. VPNJ, entrevistado9 diz: “Isso causou em mim traumas profundos que até hoje reverberam no meu modo de ser, na baixa auto-estima que trato a base de apoio psicoterápico. Só Deus sabe como não me suicidei – idéia companheira da minha adolescência, juventude e maturidade.“ Isso se evidencia no pensamento de Prado e Machado (2008, p.13) quando dizem que as práticas sociais baseadas na heteronormatividade constituíram-se, ao longo da história ocidental, em processos capazes da construção de subordinação de outras práticas sexuais e sociais. Para eles, essa situação não significa a exclusão das homossexualidades do cenário social, mas sim a subalternidade no interior dos processos hegemônicos. Para Derrida10, Différance caracteriza um sistema em que “cada conceito (ou significado) está escrito em uma cadeia ou em um sistema, dentro do qual ele se refere ao outro e aos outros conceitos (significados), através de um jogo sistemático de diferenças.” Acerca das tensões da modernidade ocidental, Santos (2003, p.430) diz que a primeira ocorre entre regulação social e emancipação social, a segunda entre o Estado e a sociedade civil, e a terceira entre o Estado-nação e a globalização. Para Santos, “(...) a globalização é o processo pelo qual determinada condição ou entidade local estende a sua influência a todo o globo e, ao fazê-lo, desenvolve a capacidade de considerar como sendo local outra condição social ou entidade rival.” Isto é, globalizar é impor, estender sua influência sobre o globo colonizado, é a lógica do engolimento, quer dizer, o estrangulamento dos subalternos. 9 10 Anexo VI. DERRIDA, J. Positions. Chicago: Chicago University Press, 1972. Artigo original Poliarquia – Revista de Estudos Políticos e Sociais do Centro Universitário Unieuro Unieuro, Brasília, v. 2, n. 2 jul./dez. 2010, pp. 74-92. ISSN: Em processo de emissão Segundo Santos11, a primeira forma de globalização é o localismo globalizado, isto é, o processo pelo qual determinado fenômeno local é globalizado com sucesso. Santos12 afirma que o cosmopolitismo é a solidariedade transnacional entre grupos explorados, oprimidos ou excluídos pela globalização hegemônica. (...) Ele defende o cosmopolitismo13 do subalterno em luta contra a sua subalternização. Conforme Santos14, “A marca ocidental, ou melhor, ocidental liberal do discurso dominante dos direitos humanos pode ser facilmente identificada em muitos outros exemplos: na Declaração Universal de 1948, elaborada sem a participação da maioria dos povos do mundo; no reconhecimento exclusivo de direitos individuais, com a única exceção do direito coletivo à autodeterminação, o qual, no entanto, foi restringido aos povos subjugados pelo colonialismo europeu; na prioridade concedida aos direitos cívicos e políticos sobre os direitos econômicos, sociais e culturais; e no reconhecimento do direito de propriedade como o primeiro e, durante muitos anos, o único direito econômico.” Prado e Machado15 afirmam que a homossexualidade se constitui em uma experiência identitária contemporânea construída na tensão entre valores da esfera privada e da esfera pública, problematizando os tênues limites desta divisão moderna. Especificamente para pensarmos em refletir o padrão heteronormativo, é importante ressaltar que a norma de gênero repete que somos o que nossas genitálias informam, segundo Deis Siqueira16, esse sistema, fundamentado na diferença sexual, faz-nos acreditar que deve haver uma concordância entre gênero, sexualidade e corpo. 11 Ibidem, p. 435. Ibidem, p. 437. 13 O cosmopolitismo que defendo é o cosmopolitismo do subalterno em luta contra a sua subalternização. (...) Os conflitos, as resistências, as lutas e as coligações em torno do cosmopolitismo e do patrimônio comum da humanidade demonstram que aquilo a que chamamos globalização é na verdade um conjunto de arenas de interação transnacional. 14 Ibidem, p. 439. 15 (2008. p. 19) 16 Esse sistema, fundamentado na diferença sexual, nos faz acreditar que deve haver uma concordância entre gênero, sexualidade e corpo. Vagina-mulher-emoção-maternidade-procriação12 Artigo original Poliarquia – Revista de Estudos Políticos e Sociais do Centro Universitário Unieuro Unieuro, Brasília, v. 2, n. 2 jul./dez. 2010, pp. 74-92. ISSN: Em processo de emissão Tal relação questionada por Deis Siqueira, no prefácio da obra de Berenice Bento17, encontra eco entre os teóricos das ciências sociais que questionam exatamente essa verticalização do poder. Aqui cabe também a retomada do conceito foucaultiano sobre o poder como forma de repressão. Mais importante ainda é entender que tal verticalização, aqui entendida como forma de se padronizar comportamentos de cima para baixo, não encontra eco nas diversas formas de manifestação da sexualidade. Como complementa Deis Siqueira18, “os deslocamentos existem. Apresentam-se.” Para se ter uma idéia, Berenice Bento estuda as várias transexualidades. Ela prefere falar de posições identitárias, apegos identitários temporários, identidades rizomáticas, diversidade dos gêneros. Transexuais lésbicas, transexuais gays, transexuais que querem casar e reproduzir o modelo de mulher subalterna ou de homem viril, mulheres transexuais feministas, mulheres transexuais despolitizadas, transexuais que acreditam que a cirurgia os conduzirá a uma humanidade negada, transexuais que não querem a cirurgia e a denunciam como um engodo, transexuais que reivindicam exclusivamente a mudança do nome e do sexo nos documentos. Deis Siqueira19, nesse sentido, retoma que as cirurgias de transgenitalização nada revelam sobre a orientação sexual do sujeito. Os transexuais, em sua maioria, reivindicam o reconhecimento como membro do gênero com o qual se identifica, o qual estaria em discordância com suas genitálias. heterossexualidade; pênis-homem-racionalidade-paternidade-procriação-heterossexualidade. As instituições estão aí, normatizando, policiando, vigiando os possíveis deslizes, os deslocamentos. BENTO, Berenice. A reinvenção do corpo: sexualidade e gênero na experiência transexual. Rio de Janeiro: Garamond, 2006. 17 Ibidem. 18 Ibidem 19 As cirurgias de transgenitalização e as outras mudanças que acompanham o processo transexualizador nada revelam sobre a orientação sexual do sujeito. A reivindicação dos/as transexuais é, sobretudo, o reconhecimento como membro do gênero com o qual se identifica, o qual estaria em discordância com suas genitálias. (Ibidem) Artigo original Poliarquia – Revista de Estudos Políticos e Sociais do Centro Universitário Unieuro Unieuro, Brasília, v. 2, n. 2 jul./dez. 2010, pp. 74-92. ISSN: Em processo de emissão Assim, a teoria da performance, de Judith Butler, articulada, criativamente, com a teoria praxiológica de Pierre Bourdieu, com as reflexões de Foucault sobre sexualidade e biopoder, a radicalidade do pensamento de Beatriz Preciado, além de um intenso debate com as formulações de outras teóricas feministas como Simone de Beauvoir e Scott, resultam em um denso rigor interpretativo e criativo em interlocução, conforme Deis Siqueira, que afirma que o livro de Berenice Bento: “(...)extrapola a especificidade temática, na medida em que põe em debate os próprios limites de um sistema classificatório hegemônico, o qual estabelece que a humanidade deve ser classificada em torno do que são homens e mulheres, tomando como dado primeiro, para processar tal taxonomia, a diferença sexual/genitália.” Ainda sob essa ótica, há um saber específico, segundo Berenice Bento20, que define, classifica, normatiza, formula etiologias e nosologias e tem poder de decisão sobre as demandas dos/as transexuais que desejam realizar intervenções em seus corpos. E isso pode ser entendido como um “dispositivo”. Vale ressaltar os estudos queer, cuja perspectiva teórica argumentará que a dicotomia natureza (corpo) versus cultura (gênero) não tem sentido, pois não existe um corpo anterior à cultura; ao contrário, ele é fabricado por tecnologias precisas. É nesse contexto que a radicalização da desnaturalização das identidades, iniciada pelos estudos e políticas feministas, apontará que a identidade de gênero, as sexualidades, as subjetividades só apresentam uma correspondência com o corpo quando é a heteronormatividade que orienta o olhar, segundo Berenice Bento21. “Se a sociedade divide-se em corpos-homens e corpos-mulheres, aqueles que não apresentam essa correspondência fundante tendem a estar fora da categoria do humano.” 20 Quando se problematiza a relação dicotômica e determinista entre corpo e gênero, outros níveis constitutivos da identidade se liberam para compor arranjos múltiplos fora do referente binário dos corpos. (Ibidem) 21 Ibidem, p. 22. Artigo original Poliarquia – Revista de Estudos Políticos e Sociais do Centro Universitário Unieuro Unieuro, Brasília, v. 2, n. 2 jul./dez. 2010, pp. 74-92. ISSN: Em processo de emissão Aqui cabe a ponte com o pensamento de Foucault22 e o poder como forma de repressão. Para ele, dispositivos “são formados por um conjunto heterogêneo de práticas discursivas e não discursivas que possuem uma função estratégica de dominação. O poder disciplinar obtém sua eficácia da associação entre os discursos teóricos e as práticas reguladoras.” Somada a toda essa questão está o modelo do sexo único. Costa, a partir do pensamento de Laqueur, demonstra como, até o início do século XIX, a medicina não tinha recursos simbólicos suficientes para representar a sexualidade humana dividida binariamente entre masculina e feminina. Veyne23, em estudo sobre a homossexualidade na Roma Antiga, afirma que naquele contexto “não se classificavam as condutas de acordo com o sexo, amor pelas mulheres ou pelos homens, e sim em atividade e passividade: ser ativo é ser másculo, seja qual for o sexo do parceiro chamado passivo”. Segundo Prado e Machado, apesar de a hierarquização e a inferiorização se constituírem por processos distintos, são absolutamente complementares, e esta complementaridade tem sido utilizada, do ponto de vista histórico, na manutenção de desigualdades e no acirramento de processos de exclusão social, os quais podem ocorrer de formas muito variadas, passando desde o aniquilamento humano e a violência social até formas de inclusão subalternizadas, evidenciando, assim, o quão grave podem ser estes processos que afligem uma sociedade como um todo, e não apenas determinados grupos sociais. Além de se configurar como um mecanismo fundamental da inferiorização social, segundo Prado e Machado24, o preconceito também sustenta e 22 FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 1993. p. 244. 23 VEYNE, PAUL. Como se escreve a história. Trad. A. J. da S. Moreira. Lisboa: Edições 70, 1987. (Col. Lugar da História, vol.20) p. 43 24 Ibidem, p. 68. Artigo original Poliarquia – Revista de Estudos Políticos e Sociais do Centro Universitário Unieuro Unieuro, Brasília, v. 2, n. 2 jul./dez. 2010, pp. 74-92. ISSN: Em processo de emissão produz certas concepções ideológicas e cognitivas sobre a legitimidade ou a ilegitimidade da gama de direitos sociais já conquistados e até a legalidade ou não das formas de interpelação do mundo público, cenário principal das lutas por direitos. Após o entendimento de tais estratégias de repressão a partir da lógica da subalternidade, deve-se compreender, então, a diversidade sexual e o discurso dos direitos humanos frente a situações de violência. 2. A Diversidade Sexual e os Direitos Humanos: frente a situações de violência Os Direitos Humanos possuem relação direta com a diversidade sexual, pois se trata de um grupo considerado “minoria”, ou seja, conceitualmente necessitante de direitos humanos específicos. Como a legislação ainda possui brechas para o grupo das sexualidades plurais – ressalte-se que hoje as jurisprudências para causas que envolvem esta população têm por base a lei do racismo – há que se garantir direitos por meio de legislações específicas ou por vias de políticas públicas. O governo Lula criou um projeto chamado BRASIL SEM HOMOFOBIA. Nele há intenção do governo federal em minimizar os problemas hoje enfrentados. Cabe ainda à sociedade em geral endossar esta legítima luta por direitos e garantias, já que as pessoas que possuem sexualidades plurais também são cidadãos. Em contrapartida ao discurso dos direitos humanos, situações de violência continuam acontecendo todos os dias com os membros do grupo GLBT. Diante da pergunta “Você já sofreu algum tipo de violência física, devido à sua orientação sexual?”, VPNJ disse que sofreu uma violência horrível, e atribuiu tal violência ao fato de a sociedade execrar o diferente (pejorativamente considerado como não-normal). Entende como mais traumatizante ainda o fato de isso ter acontecido na Artigo original Poliarquia – Revista de Estudos Políticos e Sociais do Centro Universitário Unieuro Unieuro, Brasília, v. 2, n. 2 jul./dez. 2010, pp. 74-92. ISSN: Em processo de emissão presença de um professor que, além de nada fazer, demonstrou se comprazer com o ocorrido. Há levantamentos de Luiz Mott, do GGB (Grupo Gay da Bahia) que endossam a fala de VPNJ25, mostrando ocorrerem diariamente situações de violência física, além de levantamentos muito preocupantes sobre crimes de racismo e homofobia. Tânia Navarro-Swain26 estabelece a fundamentação da violência a partir de sua raiz histórica, desde a Inquisição, também usada para julgar mulheres acusadas de práticas homossexuais. Naquela época, as mulheres homossexuais não tinham direito a um nome, logo, inexistiam. “Chegou. Quando partiu pra violência foi que eu sai de casa aos 19 anos.” – afirma Simone, uma das entrevistadas desta pesquisa ao responder a pergunta: “Chegou a gerar algum tipo de violência?”. Esta realidade é muito chocante, o fato de haver agressões físicas, além da violência moral a que praticamente estão submetidos quase todos os membros do grupo GLBT. Na tentativa de minimizar estas e outras situações de violência, o governo federal, na gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, instituiu o programa Brasil sem Homofobia. No próximo capítulo, haverá o detalhamento do que propõe este Programa e como ele vem sendo visto pelo grupo GLBT. Segundo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em seu discurso para a Parada do Orgulho GLBT de São Paulo, em junho de 2006, educar em direitos humanos é estimular processos de educação formal e não-formal de modo a contribuir para a construção da cidadania, para o conhecimento daqueles direitos e para o conseqüente 25 “(...) passei por inúmeras e infelizes experiências. No caso da violência ser moral/verbal, isso acontecia diariamente. Isso causou em mim traumas profundos que até hoje reverberam no meu modo de ser, na baixa auto-estima que trato a base de apoio psicoterápico. Só Deus sabe como não me suicidei – idéia companheira da minha adolescência, juventude e maturidade.” 26 (2000. p. 19) Artigo original Poliarquia – Revista de Estudos Políticos e Sociais do Centro Universitário Unieuro Unieuro, Brasília, v. 2, n. 2 jul./dez. 2010, pp. 74-92. ISSN: Em processo de emissão respeito à pluralidade e à diversidade, não só sexual, mas étnica, racial, cultural, esportiva e de crenças religiosas. Ressalve-se que na I Conferência Nacional GLBT foram definidos 73 objetivos relacionados aos direitos humanos do grupo. Dentre eles, os três primeiros evidenciam a idéia central dos demais: 1. fomentar, apoiar e garantir a produção de conhecimento em orientação sexual e identidade de gênero, com recorte de raça-etnia em pesquisas municipais, estaduais e federais, a ser realizada por instâncias governamentais da administração pública direta e indireta, núcleos LGBT das universidades e terceiro setor, mediante edital público e para a sociedade civil organizada, a partir de convênio com o Programa Brasil sem Homofobia; 2. implantar e implementar o Programa Brasil sem Homofobia nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, nas três esferas de governo (Federal, Estadual e Municipal) garantindo que se torne uma Política de Estado, ampliando sua divulgação no âmbito internacional; 3 garantir a implementação de programas de educação e sensibilização para promover e aprimorar o gozo pleno de todos os direitos humanos por todas as pessoas, considerando a orientação sexual e identidade de gênero, raça e etnia, incluindo esta temática no Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos. Nesse sentido, percebem-se medidas para a garantia dos Direitos Humanos do grupo GLBT. No entanto, ainda há muito por se fazer para que sejam aplicados na prática, no dia-a-dia do homossexual. Em síntese, pode-se concluir que as sexualidades se objetivam por meio das relações sociais e estas não existem sem um contexto histórico e político. Dessa forma, a objetivação das relações sexuais proclama identidades, formas de se apresentar e se reconhecer, e estas exigem não só a construção social de pertenças, mas também a elaboração e a interiorização das atribuições sociais e de direitos. Comportamentos homossexuais se apropriaram de espaços urbanos e midiáticos de forma revolucionária, explicitando a reciprocidade entre o Estado, o Artigo original Poliarquia – Revista de Estudos Políticos e Sociais do Centro Universitário Unieuro Unieuro, Brasília, v. 2, n. 2 jul./dez. 2010, pp. 74-92. ISSN: Em processo de emissão mercado e a cultura através da crescente visibilidade de GLBTs27. Estes personagens vêm tentando conquistar um status social menos marginalizado e ganhar direitos no espaço público. Adelman28 mostra que no século XX surgiu e fortaleceu-se uma representação da sexualidade como fonte de prazer e expressão da individualidade, vinculada à luta pelo reconhecimento das formações identitárias não-hegemônicas (mulheres, jovens e não-heterossexuais) que passaram a contestar as formas “tradicionais” (Igreja, família, comunidade) e “modernas” (o Estado, a Medicina e a psiquiatria) de regulação da sexualidade. Em suma, o Programa Brasil sem Homofobia é um excelente recurso de inclusão, na perspectiva de entendimento do membro GLBT como um cidadão com todos os seus direitos civis e políticos. Há ainda muito por se fazer, mas atitudes como esta aumentam a visibilidade do Grupo e lhe dá garantias de alguns direitos até então inexistentes. Prado e Machado enfatizam a importação da inserção no campo da política dos elementos constituintes do preconceito homossexual para transformar não só a esfera da política, mas também como um trabalho de conscientização do grupo social envolvido. Os novos direitos sociais que emergem advindos do debate público da homossexualidade estão em pauta no Brasil e em vários países, e denotam a capacidade dos movimentos GLBTs de enfrentamento do preconceito como um mecanismo da subalternização civil. Uma das mais relevantes formas de se enfrentar o preconceito que emergiu nos últimos anos é, com certeza, a implementação das questões oriundas desta 27 Prado e Machado, 2008. p. 30. ADELMAN, M. Paradoxos da identidade: a política de orientação sexual no século XX. Revista de Sociologia e Política. Curitiba, n. 14, p. 163-171, jun. 2000. p. 167. 28 Artigo original Poliarquia – Revista de Estudos Políticos e Sociais do Centro Universitário Unieuro Unieuro, Brasília, v. 2, n. 2 jul./dez. 2010, pp. 74-92. ISSN: Em processo de emissão forma de subalternização como políticas de Estado, o que já se pode começar a notar nas áreas da educação, saúde, cultura e da esfera pública. Por fim, cabem ações concretas a todos os seguimentos, dentre as quais destaco: aprimoramento de políticas públicas, bem como a implantação das já existentes, com vistas à diminuição de qualquer tipo de preconceito; conscientização da sociedade, em todos os níveis, para a aceitação da diferença como forma de riqueza social, à luz da diversidade e das identidades plurais; participação ativa dos membros do grupo GLBT, aumentando a visibilidade pública, a partir de ações políticas de engajamento e participação social. REFERÊNCIAS AGOSTINHO. Confissões. 9. ed. (tradução de J. Oliveira Santos e A. Ambrósio de Pina). 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