TERMOS GRAMATICAIS (compilação de alguns dos termos tratados no blog) • ACTANTE Em termos gerais, designa-se como actante o(s) elemento(s) que tomam parte num processo. Em termos gramaticais, emprega-se o termo actante para designar todos os grupos nominais que são pedidos por um verbo. Ou seja, cada verbo exige um número mínimo de complementos para se criar uma frase com sentido. Os actantes são todos esses elementos pedidos pelo verbo. • ACTOS DE FALA O uso da linguagem assenta em comportamentos verbais, regidos por regras e transmissores de uma intenção específica. A estes actos linguísticos dá-se o nome de actos de fala. Uma ordem, directa ou indirecta (ex. Lava as mãos./ Não tens as mãos sujas?), um pedido (ex. Podia chegar-me esse livro, p.f.), uma opinião (ex. Aceito que as pessoas tenham competências diferentes), a manifestação de um compromisso (ex. Venho ver-te mais logo) são exemplos de actos de fala que encerram intencionalidades comunicativas diferentes, mas que qualquer falante consegue captar e distinguir. Em função dessa intencionalidade e do contexto em que são produzidos, podemos distinguir cinco tipos de actos de fala: assertivos, directivos, compromissivos, expressivos e directivos. • AFÉRESE Aférese é um processo fonético pelo qual os sons do início de uma palavra são suprimidos. Este foi um processo muito recorrente na evolução do latim para o português, em que várias palavras perderam sons iniciais (por exemplo: appromissore = promissor). No entanto, também é usado na poesia para reduzir o número de sílabas, e assim cumprir a regularidade métrica, e até mesmo na linguagem quotidiana, na produção de diminutivos (José = Zé). • ARCAÍSMO As palavras ou expressões que, devido à sua origem remota, à própria evolução da língua, ou a outros fenómenos, muito raramente utilizamos, ou que já nem sequer usamos, são chamadas arcaísmos. Alguns arcaísmos resultam do emprego de termos antigos (ex. asinha em vez de depressa), outros da recuperação de um sentido obsoleto de um termo (ex. físico com o sentido de médico) e outros do uso de construções entretanto ultrapassadas. Em qualquer um destes casos, o arcaísmo, poderá ter, se ocorrer num texto literário, um efeito estilístico (por exemplo para dar cor local). • BORDÃO LINGUÍSTICO Palavra ou expressão usada com muita frequência na oralidade e que, devido ao seu uso repetitivo no discurso de um falante ou grupo de falantes, se transforma num estereótipo. Estas palavras e/ou expressões servem, no fundo, de apoio ao falante, permitindo-lhe dosear o tempo de fala num acto conversacional, preencher as pausas, mas também marcar o ritmo ou a mudança de assunto. 1 Os bordões linguísticos podem estar mais associados ao falante e ao seu interlocutor (ex. “Como correu a viagem? Ó pá, correu bem. Só foi pena, pá, o tempo.”) ou ao próprio discurso (ex. “Qual é a sua opinião sobre o comportamento daquele aluno? Bem, eu acho que o aluno… quer dizer, a escola deve ter em atenção situações destas, portanto, quer dizer, o comportamento do aluno é reprovável, mas…”). • CLÍTICO O clítico é uma forma semelhante a uma palavra mas que no texto ou discurso surge sempre dependente de outra palavra, em termos de significado ou de acentuação. Os clíticos podem ser : - proclíticos - quando surgem antes da palavra de que dependem (lhe dar); - mesoclíticos - quando surgem dentro da palavra de que dependem (dar-lhe-ia); - enclíticos - quando surgem após a palavra de que dependem (dar-lhe). Os clíticos mais frequentes são os pronomes pessoais complemento directo da 1.ª e 2.ª pessoas (me, te), o pronome pessoal complemento indirecto da 3.ª pessoa (lhe) e o pronome reflexo (se). • COORDENAÇÃO Processo sintáctico através do qual duas ou mais unidades autónomas e independentes, mas pertencendo à mesma categoria sintáctica e/ou desempenhando a mesma função sintáctica, se juntam, tendo em vista um enriquecimento de sentido do que se pretende transmitir. A junção pode ser feita por meio de conjunções coordenativas (ex.: e, mas, nem, ou) ou locuções conjuncionais (ex.: por isso). Os elementos coordenados podem ser frases (ex.: “Podia ter ido ao cinema, mas estava a chover muito”.), ou grupos de diferente natureza, como nominais (ex.: “Gosto de comer bolachas e bolos”), verbais (ex.: “Tendo visto a exposição e comprado o catálogo…”); adjectivais (ex.: “Os trabalhos são satisfatórios ou maus”). • DEÍCTICOS Deíctico é um termo abrangente que designa todas as palavras cujo significado só pode ser totalmente compreendido tendo em conta o locutor (quem fala), o interlocutor (a quem se fala) e o contexto da comunicação (onde, quando, como). São considerados deícticos os determinantes e pronomes demonstrativos, os pronomes pessoais e possessivos, os artigos, os advérbios de tempo e de lugar porque o seu significado depende do contexto em que são empregues. Por exemplo, numa frase como “Amanhã, tenho uma reunião com aquele senhor da agência”, o tempo manifesta-se através do advérbio “amanhã” que só pode ser claramente entendido em função de um contexto específico (qual o dia de hoje). Da mesma forma, a referência a “aquele senhor” pressupõe que ele já é conhecido do locutor e do interlocutor e por isso mesmo pode ser simplesmente identificado pelo demonstrativo “aquele”. 2 • DESINÊNCIA A desinência é um afixo ou partícula que se junta ao radical de uma palavra para indicar uma flexão ou variação no seu sentido. Em português temos a desinências de género (masculino e feminino) e número (singular e plural) para os substantivos e adjectivos, e de pessoa, modo e tempo para o verbo. • DITONGO O ditongo é uma sequência silábica composta por uma vogal e uma semivogal, ou por uma semivogal e uma vogal, que constitui uma única sílaba. Se a vogal estiver em primeiro lugar na sílaba, o ditongo é dito decrescente, se estiver em segundo lugar, é dito crescente. As semivogais são os fonemas /i/ e /u/ quando associados a vogais. Exemplos de ditongos são caixa, bois, pai, vário, etc. • FRASE CLIVADA Uma frase clivada é uma frase em que um grupo nominal é colocado no início da frase, normalmente sob a estrutura de “É… que”, “Foi… que”, “será… que”, a fim de dar destaque a esse elemento. Exemplos: “Foi José Saramago que ganhou o Nobel.” “É Lobo Antunes que vai lançar um novo livro.” • GÉNERO Categoria morfossintáctica que permite a distinção entre masculino e feminino. Esta categoria aplica-se aos nomes (à excepção de algumas situações específicas), aos adjectivos (salvo os que são uniformes) e ainda a alguns pronomes e determinantes. No caso de se tratar de um animal ou de uma pessoa, a distinção de género pode coincidir com a distinção de sexo. • HIATO Sequência de duas vogais, pertencendo a sílabas distintas, e que por isso mesmo não origina um ditongo (ver aqui definição de ditongo). O encontro entre essas vogais pode ocorrer numa mesma palavra, por exemplo quando, no processo de evolução do vocábulo, houve queda de sons que se encontravam no meio das vogais (ex. lege > lee > lei; salute > saúde). HOLÓNIMO Holónimo é a designação atribuída a um termo que representa o todo, a totalidade de um objecto referenciado. Merónimo é a designação atribuída a um termo que é a parte desse todo. Por exemplo, “casa” é o holónimo do merónimo “quarto”. 3 • INTERJEIÇÃO Palavra invariável, do ponto de vista morfológico e sintáctico, que integra uma classe aberta e que tem uma função emotiva. Podemos dizer que a interjeição mais não é do que uma forma de traduzir na grafia uma reacção emocional do enunciador. O valor de cada interjeição depende do contexto e da atitude do interlocutor. Daí que elas possam ter várias interpretações: de aflição (Socorro!), alegria (Ah!; Oh!), aplauso (Bravo!; Viva!), desagrado (Uh!), dor (Ai!; Ui!), entusiasmo (Oh!), espanto (Ah!; Chi!), impaciência (Hum!; Irra!), invocação (Ó!; Psiu!), terror (Ui!; Uh!). Como se pode ver, uma mesma interjeição pode ser usada com sentidos diferentes, assim como uma determinada reacção emotiva pode ser expressa por mais do que uma interjeição. Normalmente, as interjeições são acompanhadas por um ponto de exclamação que assim reforça o seu valor. As interjeições têm ainda a particularidade de não estabelecerem relações sintácticas com outras palavras. • MESÓCLISE Os pronomes pessoais, ou melhor, as suas formas não acentuadas (ou seja, átonas), que são me, te, o, a, lhe, nos, vos, os, as, lhes, podem surgir em diferentes posições na frase. A mais comum é a seguir ao verbo (Ex. “Pedi-lhe um favor”). No entanto, quando são usadas com o futuro do indicativo simples ou o condicional simples, essas mesmas formas têm de estar, obrigatoriamente, numa posição interna, ou seja, no interior da forma verbal (Ex. “Pedir-lhe-ei um favor” / “Pedir-lhe-ia um favor”). A esta posição interna chama-se mesóclise e aos pronomes aí colocados pronomes mesoclíticos. A posição destes pronomes tem na realidade que ver com a antiga formação do futuro e do condicional a partir da justaposição do verbo principal no infinitivo e do verbo haver, conjugado respectivamente ou no presente ou no imperfeito. Os pronomes colocavam-se então depois do infinitivo, posição que ainda hoje mantêm. • PALAVRA-MALA Tradução do termo inglês “portmanteau word”, usado por Lewis Carrol no livro Through the looking-glass (1871), com o título português de Alice do outro lado do Espelho, para designar novas palavras criadas a partir da junção de partes de outras palavras, associando o sentido dessas mesmas palavras. Palavra-mala designa então uma forma de composição em que a nova palavra é o resultado da união das formas abreviadas de duas ou mais palavras. O escritor Mia Couto, por exemplo, recorre com frequência a este processo: pensatempos (pensamentos + tempos). Podemos também encontrar exemplos na linguagem técnica: bit (binary + digit). 4 • PALÍNDROMO Um palíndromo é uma palavra, uma frase ou um texto que pode ser lido tanto da esquerda para a direita como da direita para a esquerda, mantendo o mesmo sentido semântico. Há várias palavras palíndromo conhecidas, como amor-roma ou lena-anel, mas também é possível criar frases ou mesmo textos inteiros que podem ser lidos em ambas as direcções. Alguns exemplos portugueses são: A mala nada na lama, de Millôr Fernandes, ou Até Reagan sibarita tira bisnaga ereta, de Chico Buarque. Um dos maiores e mais conhecidos palíndromos do mundo, com 1247 palavras, é da autoria do escritor Georges Perec. • PARASSÍNTESE A parassíntese é um processo de formação de palavras, no qual o termo é composto pela aplicação simultânea de um prefixo (que é um constituinte morfológico colocado antes da forma de base) e de um sufixo (que é um constituinte morfológico colocado depois da forma de base) à raiz da palavra. A parassíntese distingue-se de outros processos de formação de palavras pelo uso simultâneo de prefixo e sufixo. Exemplos: enraivecer; aterrar. • PARTÍCIPIO O particípio é um dos modos impessoais do verbo. Traduz-se na adjectivização do verbo, ou seja, permite que este funcione como adjectivo em relação ao nome (Irado, Rui foi-se embora). O particípio pode ter a forma de presente, passado e presente composto. As três formas também podem ser usadas como verbo da oração quando são acompanhadas por um sujeito explícito, sendo normalmente empregues para indicar uma acção terminada: Acabado o trabalho,… O particípio tem uma forma regular, recorrendo aos auxiliares ter e haver para exprimir a voz activa (Eu já tinha escrito a carta.), e uma forma irregular, empregue com os auxiliares ser e estar para exprimir a voz passiva e predicativa (O trabalho está feito. / Ele já aqui tinha estado.) • PREDICADO Ao contrário do que muitas vezes se diz, o predicado não pode apenas ser identificado com a forma verbal de uma frase. Na verdade, a função sintáctica de predicado é atribuída ao grupo verbal, dele podendo constar, para além do verbo principal ou copulativo, os complementos (directo, indirecto, preposicional, adverbial e/ou predicativos do sujeito, do complemento directo, os quais podem surgir isoladamente ou em conjunto, seguindo diferentes combinações). Assim, na frase - “Os miúdos pediram-lhes um favor.” -, o predicado é constituído pela forma verbal “pediram”, acompanhada pelo complemento indirecto “lhes” e pelo complemento directo “um favor”. “Pediram-lhes um favor” é então o predicado da frase. 5 • PREPOSIÇÃO Uma preposição é uma palavra invariável que serve para estabelecer relações ou ligações entre dois processos. Na frase, a preposição pode servir para introduzir o grupo preposicional, que por sua vez pode introduzir um complemento da própria frase. “O João entrou no prédio.” As preposições podem ser simples, como: a, de, diante, em, entre, para, por, sem, sobre; ou constituírem uma locução prepositiva, em que se juntam a nomes, preposições e advérbios. Podem também contrair-se com os artigos, dando origem a formas como: à, da, do, na, no. • SIGLA Uma sigla é um conjunto de iniciais de duas ou mais palavras que é usada para designar entidades, organismos, partidos políticos, associações e outros. Em termos gramaticais é considerada como sendo um nome próprio. As siglas podem ser pronunciadas letra a letra (UE) ou por sílabas (UNICEF). • VERBO COPULATIVO À semelhança de outros itens gramaticais, também os verbos podem ser agrupados em diferentes categorias. De entre elas, destacamos a dos verbos copulativos. São em número reduzido mas frequentemente usados, como é o caso dos verbos ser, estar, ficar, parecer ou continuar. Estes estabelecem uma ligação (uma cópula) entre o sujeito e aquilo que o caracteriza (designado predicativo do sujeito), como transparece no exemplo seguinte: “A Ana é uma pessoa calma”. Ao sujeito (A Ana) é atribuído um predicado, isto é, uma qualidade, uma característica (pessoa calma), através do verbo ser. • VERBO IMPESSOAL Em português existem alguns verbos que apenas se empregam no infinitivo ou na 3.ª pessoa do singular. É o caso de verbos que exprimem fenómenos da natureza, como chover, nevar, trovejar; do verbo haver, quando significa “existir”; de verbos que indicam passagem do tempo (ex. fazer; haver); ou de certos verbos, quando são usados para manifestar conveniência (ex. bastar; chegar). Esses verbos classificam-se como impessoais, uma vez que não aceitam a flexão em todas as pessoas, tempos e modos. 6