Faça o dowload aqui - Revista Mineira de Educação Física

Propaganda
ARTIGO
ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO EM PACIENTES COM
DEPRESSÃO APÓS DIAGNÓSTICO DE CÂNCER BUCAL
Luciene Teixeira dos Santos1
Keila Jeanny Ferreira de Souza2
Mariza Alves Barbosa Teles3
Henrique Andrade Barbosa4
Cristiane Karine Cordeiro Santos5
RESUMO
O câncer é uma doença, muitas vezes limitante, que afeta a vida
do paciente, seja no aspecto biológico ou social sendo visto, de modo
geral, como uma enfermidade sinônimo de sofrimento e morte. Objetivo:
Compreender como os pacientes com neoplasias bucais sentem-se
em diferentes momentos da terapia, como no diagnóstico e nos
períodos pré e pós-tratamento. Material e métodos: Caracteriza-se
como um estudo quantitativo, fundamentado na investigação da
depressão em pacientes atendidos no Hospital Dílson Godinho que
receberam o diagnóstico e foram encaminhados ao tratamento de
câncer bucal e verificação dos níveis de depressão e estratégias de
enfrentamento. Utilizou-se como instrumento para análise dos dados
o Inventário de Depressão de Beck (BDI) na versão brasileira e a Escala
de Modos de Enfrentamento de Problemas (EMEP). Autorizada pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da FUNORTE, de acordo com a
Resolução CNS 196/96, parecer 0193/09. Resultados: Foram
pesquisados dez participantes, que apresentaram idade entre 24 e 78
anos. Escore de Depressão BDI: de 0 a 11 - depressão mínima:
1
Acadêmica de Enfermagem do 7° período da Faculdade Santo Agostinho.
Especialização em Docência do Ensino Superior e docente do Curso de Graduação em
Enfermagem das Faculdades Unidas do Norte de Minas- FUNORTE- e da Faculdade Santo
Agostinho, MG.
3
Enfermeira especialista em Geriatria e Gerontologia e docente do Curso de Graduação em
Enfermagem da Funorte e da Faculdade Santo Agostinho.
4
Enfermeiro. Especialista em Terapia Intensiva Neonatal e Pediátrica. Docente de Enfermagem
das Faculdades Unidas do Norte de Minas- FUNORTE, Faculdades de Saúde Ibituruna e
Faculdade Santo Agostinho, MG.
5
Enfermeira Assistencial da Oncologia do Hospital Dílson Godinho.
2
R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 5, p. 275-282, 2010
275
nenhum paciente; de 12 a 19 - depressão leve: 60%; de 20 a 35 depressão moderada: 20%; e de 36 a 63 - depressão grave: 20%. Como
estratégias de enfrentamento, verificou-se que 40% focalizavam no
problema, 30% em práticas religiosas e 30% na busca de suporte social.
Conclusão: a presente pesquisa contribuiu efetivamente para o avanço
do conhecimento em câncer bucal, pois constatou a importância da
investigação de variáveis como enfrentamento, rede e apoio social de
pessoas com câncer, especialmente para as que foram aqui avaliadas.
Palavras-chave: depressão; neoplasias bucais; terapia.
INTRODUÇÃO
O câncer é de uma doença; muitas vezes limitante, que afeta
a vida do paciente, seja no aspecto biológico ou social, sendo visto, de
modo geral, como uma enfermidade sinônimo de sofrimento e morte.
No âmbito biológico, o paciente se depara com o diagnóstico de uma
doença que tem uma evolução geralmente agressiva, com sintomas
debilitantes, como dor, perda ponderal, nodulações (comuns nos
cânceres de cabeça e pescoço) e um tratamento prolongado associado
a efeitos colaterais desagradáveis de radioterapia e quimioterapia e/
ou mutilações em decorrência de cirurgias invasivas (BARBOSA; et
al. apud SANTANA et al., 2008).
O câncer de boca inclui os lábios e cavidade oral (mucosa
bucal, gengivas, palato duro, língua e assoalho da boca). O câncer de
lábio é mais frequente em pessoas brancas e registra maior ocorrência
no lábio inferior em relação ao superior; é mais comum em homens,
com razão homem/mulher de 3/1, na maioria dos países (INCA, 2003).
Avaliar as estratégias de enfrentamento contribui para conhecer
melhor o paciente oncológico, para planejar uma investigação mais
específica, considerando, concomitantemente, o aspecto de depressão
identificado. Espera-se que este estudo possa impulsionar a busca
em melhorar o estado emocional do paciente e o tratamento proposto,
visto que variáveis comportamentais são apresentadas sob novas
contingências impostas ao paciente. Objetiva-se, com este estudo,
identificar as estratégias de enfrentamento da depressão em pacientes
oncológicos, avaliando os quadros psicológicos apresentados e verificar
em qual período do tratamento a depressão se instala no cliente.
276
R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 5, p. 275-282, 2010
Aspectos Psicológicos
O termo câncer é traduzido, por uma parcela significativa da
população brasileira, como sinônimo de uma sentença de morte, uma
vez que há aproximadamente duas décadas poucas eram as
alternativas de tratamento. Com o aumento da taxa de sobrevida dos
pacientes, aumentaram-se as esperanças e estímulos da população,
devido à taxa crescente na expectativa de vida após o diagnóstico e
instituição do tratamento (REID et al., 2001). Assim, tem-se percebido
um ajustamento psicológico, que se refere ao equilíbrio entre afetos
negativos e positivos mencionados por um indivíduo diante de uma
dada situação, sendo, portanto, um relato de natureza emocional e
subjetiva (KOHLSDORF; COSTA JÚNIOR, 2008).
Apesar dos avanços no seu tratamento, o câncer ainda
apresenta estreita relação com a morte. Os fatores relacionados com
a depressão estão presentes em estudos que avaliaram a qualidade
de vida de pacientes com câncer de cabeça e pescoço, assim como
em outros estudos que abordaram aspectos psicológicos do paciente
com câncer, entretanto foram notadamente pouco explorados. O risco
de um paciente apresentar depressão frente a um quadro de saúde
alterada acarreta ainda um potencial de suicídio em pessoas que
recebem diagnóstico de doença grave (ARRUDA; ZANNON, 2002).
Estratégias de Enfrentamento
Diversos fatores exercem interferências no modo como os
indivíduos lidam com os diferentes eventos ambientais a que são
expostos. Crises vitais e acidentais são, respectivamente, previstas
entre estágios do desenvolvimento, em termos biológicos, psicológicos
e sociais, e a outros, envolvem eventos adversos, não previstos no
processo de desenvolvimento humano, como as patologias
oncológicas, que demandam alternativas para enfrentamento. Apesar
da sobrecarga emocional a que são expostos os familiares e pacientes
em tratamento de câncer, a maior parte da literatura nacional ainda
focaliza, com grande ênfase, as implicações psicossociais do
tratamento oncológico sobre o próprio paciente. Pouco se conhece,
sistematicamente, sobre os processos psicológicos a que os
cuidadores, durante o tratamento de seus familiares, se expõem e
R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 5, p. 275-282, 2010
277
como enfrentam demandas e exigências da terapia (ARRUDA, 2002
apud KOHLSDORF; COSTA JÚNIOR, 2008).
MATERIAL E MÉTODOS
Este estudo caracteriza-se por ser prospectivo, transversal e
descritivo. Foi realizado com indivíduos adultos a partir de 16 anos,
com diagnóstico de câncer bucal, foram incluídos pacientes de ambos
os sexos, sem restrição de escolaridade, nível socioeconômico, raça,
religião e estado civil. Como critérios de exclusão, utilizaram-se a
verificação de déficit cognitivos moderados ou graves que
prejudicassem o julgamento e indivíduos na etapa da investigação da
doença.
A amostra foi composta por dez pacientes. O campo utilizado
para esta pesquisa foi o Ambulatório de Cabeça e Pescoço do Hospital
Dílson Godinho, localizado no município de Montes Claros – MG. O
projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
das Faculdades Unidas do Norte de Minas com parecer n° 0193/09.
Foi solicitada, aos participantes, a assinatura no Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido.
A coleta de dados contou com os instrumentos: prontuário
clínico, disponibilizado pelo serviço, para verificação dos dados
sociodemográficos dos pacientes, questionário de hábitos de vida
(situação ocupacional, tipo de moradia, tabagismo e etilismo), ficha de
dados clínicos (localização anatômica do câncer), BDI – Inventário de
Depressão de Beck, na versão brasileira (CUNHA, 2005), e a Escala
de Modos de Enfrentamento de Problemas (EMEP), na versão adaptada
para a população brasileira (GIMENES; QUEIROZ, 1997). As respostas
abertas foram categorizadas e na análise estatística foi utilizado o
programa SPSS, em sua 17ª versão.
278
R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 5, p. 275-282, 2010
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Quadro 1 - Dados sociodemográficos
Estratégia de
Nível de
enfrentamento
depressão
mais utilizada
apresentado
F1
Grave
Pacientes
Sexo
Idade
Estado civil
Escolaridade
Ocupação
1
M
74
Casado
Analfabeto
Aposentado
2
M
65
Viúvo
Ensino Fundamental incompleto
Aposentado
F3
Leve
3
F
65
Casado
Ensino Fundamental incompleto
Aposentado
F4
Moderada
4
M
64
Casado
Ensino Fundamental incompleto
Aposentado
F1
Leve
5
M
72
Desquitado
Ensino Fundamental incompleto
Aposentado
F3
Leve
6
M
78
Casado
Ensino Fundamental incompleto
Fazendeiro
F1
Grave
F1= estratégia de enfrentamento focalizada no problema; F3= EE focalizada em
práticas religiosas/pensamento fantasioso; F4= EE focalizada na busca de suporte
social.
Constatou-se , que todos os pacientes cotém depressão grave
apresentam a estratégia de enfrentamento F1. E todos os pacientes
que têm depressão leve apresentam a estratégia F3.
De acordo com os escores do BDI obtidos na pesquisa,
constatou-se que nenhum paciente obteve a pontuação de 0-11 que
caracteriza depressão mínima, 60% dos pacientes obtiveram a
pontuação de 12-19, que caracteriza depressão leve; 20% dos pacientes
obtiveram a pontuação de 20-35, que significa que apresentaram
depressão moderada; e outros 20% obtiveram a pontuação de 36-63,
que caracterizam depressão grave.
Considerando que boa parte da amostra é dependente de álcool
ou ex-etilista, levanta-se a hipótese de que esses pacientes recorrem
menos ao suporte social para enfrentamento da doença, em virtude do
padrão comportamental geralmente desempenhado por pacientes
etilistas, de extrema independência, autonomia e agressividade elementos que se contrapõem ao comportamento de solicitar ajuda.
Além disso, o etilismo traz consequências para o ambiente familiar,
como geração de conflito e agressões, situações que impedem o
fornecimento adequado de suporte social (FIGLIE et al., LARANJEIRA,
2004).
Dessa forma, o paciente pode ter rede e apoio social disponíveis,
mas não possuir habilidades para recorrer a esse ambiente social.
Outra hipótese aborda o fato de que o pouco uso da estratégia ocorre
R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 5, p. 275-282, 2010
279
porque os pacientes se afastam das pessoas devido à aparência física
alterada pelo tratamento do câncer (mutilações cirúrgicas,
emagrecimento), o que corrobora estudos sobre pacientes com câncer
de cabeça e pescoço (BARBOSA et al., 2004).
Entre as situações estressoras que um paciente com câncer
bucal vivencia, cita-se como exemplo a expectativa quanto ao
diagnóstico e ao prognóstico. Assim, na amostra do presente estudo,
seis pacientes (60%) foram diagnosticados na consulta frente ao
resultado da biópsia e quatro (40%), na recidiva. Por isso, é necessario
adequar a resposta emocional ao problema, pois a situação
possivelmente será avaliada da forma pela qual pouco pode ser feito
para modificar as condições de dano e terminalidade.
CONCLUSÃO
A presente pesquisa contribuiu efetivamente para o avanço do
conhecimento em câncer bucal, pois constatou a importância da
investigação de variáveis como enfrentamento, rede e apoio social de
pessoas com câncer, especialmente para as que foram aqui avaliadas.
Com os dados levantados, os profissionais da saúde podem planejar
práticas voltadas para a melhoria da qualidade de vida desses pacientes
que sofrem neoplasias de câncer bucal. Esses resultados implicam a
necessidade de os formuladores de políticas públicas brasileiras
relativas à saúde, especificamente quanto ao câncer bucal,
considerarem a importância de atuação de uma equipe interdisciplinar,
garantindo qualidade de vida a esses pacientes, condenados pela
sociedade à depressão, à solidão e até mesmo à morte.
ABSTRACT
STRATEGIES FOR COPING WITH DEPRESSION IN PATIENTS
AFTER DIAGNOSIS OF ORAL CANCER
The cancer it is a disease, often limiting, which affects the patient’s life,
whether in the biological and social, since, in general, like a disease,
synonymous with suffering and death. Objectives: to understand how
280
R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 5, p. 275-282, 2010
patients with oral cancer feel at different times of therapy as the diagnosis
and pre and post-treatment. Materials and methods: it is characterized
as a quantitative study, based on research of depression in patients
treated at Hospital Dílson Godinho who received the diagnosis and were
referred to the treatment of oral cancer and check the levels of depression
and coping strategies. Used as a tool for data analysis the Beck
Depression Inventory (BDI) and the Scale in the Brazilian version of
Ways of Coping (EMEP). Authorized by the Ethics in Research
FUNORTE in accordance with Resolution CNS 196/96, 0193/09 opinion.
Results: Researched ten participants who were aged 24 to 78 years.
BDI depression score: 0-11 - Depression minimum: no patients, 12-19
- mild depression: 60% 20-35 - moderate depression, 20% and 36-63 severe depression, 20%. As coping strategies found that 40% focused
on the problem, 30% in religious practices and 30% in seeking social
support. Conclusion: this research has contributed effectively to the
advancement of knowledge in oral cancer, as noted the importance of
research on variables such as coping, social networks and support for
people with cancer, especially for the ones studied here.
Keywords: Depression; Mouth neoplasms; Therapy.
REFERÊNCIAS
ARRUDA, P. M.; ZANNON, C. L. C. (Org). Tecnologia comportamental
em saúde: adesão ao tratamento pediátrico da doença crônica –
evidenciando o desafio enfrentado pelo cuidador. Santo André: Esetec,
2002
BARBOSA, LNF;SANTOS, DA.; AMARAL, M. X.; GONÇALVES, A. J.;
BRUSCATO, W. L. Repercussões psicossociais em pacientes
submetidos a laringectomia total por câncer de laringe: Um estudo
clínico-qualitativo. Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia
Hospitalar, v. 7, n. 1, p. 45-58, 2004.
CUNHA, K. S. G.; MANSO, A. C.; CARDOSO, A. S.; PAIXÃO. J. B. A .;
COELHO, H. S. M.; TORRES, S. R. Prevalência do líquen plano oral
em pacientes brasileiros com infecção pelo HCv. Oral Surg. Oral.
Med. Oral. Pathol. Oral. Radiol. Endod., v. 100, n. 3, p. 330-3, 2005.
R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 5, p. 275-282, 2010
281
FIGLIE, N.; BORDIN, S.; LARANJEIRA, R. Aconselhamento em
dependência química (V. 1). São Paulo: Roca, 2004.
GIMENES, M. G. G.; QUEIROZ, B. As diferentes fases de enfrentamento
durante o primeiro ano após a mastectomia. In: Gimenes, M. G. G.;
Fávero, M. H. (Orgs.) A mulher e o câncer. Campinas, SP: Editorial
Psy, 1997. p. 173-195.
HOROWITZ, A. M.; NOURJAH, H.C.G. US adult knowledge of risk factors
and signs of oral cancers: 1990, JADA, Chicago, USA, v. 126, n.1, p. 39
-45, 1995. Disponível em: < http://www.ada.org/goto/jada >. Acesso em:
19 de março, 2009.
INCA-Instituto Nacional de Câncer. Ministério da Saúde. Câncer no
Brasil: dados dos registros de câncer de base populacional, v. 3. Rio
de Janeiro (Brasil): INCA, 2003. [citado em 25 out 2005]. Disponível
em: http://www.inca.gov.br/regpop/2003
REID, B. C. et al. Comorbidity and survival of elderly head and neck
carcinoma patients. Cancer, v.9, n.8, Oct.15, 2001
SANTANA, J. J. R. A.; ZANIN, C. R.; MANIGLIA, J. V. M. Pacientes com
câncer: enfrentamento, rede social e apoio social. Rev. Paidéia
Ribeirão Preto, v.18, n. 40, 2008.
KOHLSDORF, M.; COSTA JÚNIOR, A. L. Estratégias de enfrentamento
de pais de crianças em tratamento de câncer. Estud. psicol.,
Campinas, v. 25, n. 3, jul./set., 2008.
E-mail: [email protected]
E-mail: [email protected]
E-mail: [email protected]
E-mail: [email protected]
282
R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 5, p. 275-282, 2010
Download