Poemas para Timor Uma bandeira de Azul e Fogo Para o sub-comandante Aluk Deskartes António Topa* Foram longos densos e intensos Os Dias as noites e os anos na floresta Mas nunca miguámos de esperança Foram longas tensas densas As noites de alerta contra o frio e o medo Mas sempre sobraram estrelas Foi longa tensa e dura a espera Mas valeu a pena a tenaz confiança Porque soou a hora da liberdade Comandante Kayrala Xanana mandou Ide arrasar de paz alegria e sonho As praias e as gentes de Timor Da ponte de Leste Caminharemos até Díli Porque Kayrala Xanana mandou Pelos caminhos íngremes de Timor Distribuiremos salvas de sorrisos e flores Milhares de bandeiras de azul e fogo Quando chegarmos a Díli a formosa Ao lado do padrão plantaremos Estrelas e bandeiras de alegria e sonho As estrelas que ainda nos sobrarem Mais a reserva que traremos nos bolsos Vamos colocá-las no altar da liberdade Mas a estrela mais linda a da liberdade A que sobrou nos olhos dos meninos Brilhará para sempre no coração do povo maubere Obrigado e até sempre Kayrala Xanana Paris, 7 de Julho de 1999 * Este poeta da Lusofonia, a residir na região de Paris, acaba de editar a sua segunda recolha de poemas: Sur les lèvres du silence, bilingue, éditions Lusophone, Paris, 2000, 85 pages. 56 LATITUDES n° 8 - mai 2000 O Espírito de um Combatente F. R. Saky* Vim com um corpo pobre, Pele seca a cobrir os ossos. Não sou herói nem pretendo outra coisa, Que libertar Pátria timorense. Não trago cama nem esteira, Nem “tais mane”, nem manta. Chegou a hora de não dormir. A Pátria está ameaçada, Devo partir ... para libertá-la. Nada me diverte ao pensar No sofrimento do meu povo; Nas matas e nas vilas ocupadas Por assassinos e violadores Da gente e da Pátria Querida. O meu povo está algemado, Colonizado e oprimido Roubado e explorado, Torturado e em vias de exterminação. Sou tão infeliz perante estes factos! Ninguém ouviu o grito do sol nascente! O grito pela liberdade e independência! Embora seja pobre e indefeso, Não trairei a minha consciência, Sendo homem dignamente. A victória é a minha convicção. Com a força do meu espírito, Destruirei paredes de opressões, Quebrarei as algemas das injustiças. Libertemos a nossa Pátria Querida! * F. R. Saky é o nome de combatente de Carlos da Silva Lopes. Este timorense, depois de se refugiar na Embaixada dos U.S.A. em Jacarta, esteve em Portugal tendo comunicada esta poesia a Laureans que a incluiu no seu livro: Simples Mente Contra Dito R. LATITUDES n° 8 - mai 2000 57 Dois poemas de Laureans* Mar de Timor Ó Ilha que ao mar deu seu nome, outrora, Por onde audazes lusos navegaram, E a outra ilha - Flores denominaram: Em ambas, descendência inda mora! Timorenses! Cá pela Europa, nós - vossos irmãos, Agimos por Timor e vizinhança Mantendo vossa flama de esperança, Limpamos da memória actos vãos. Quão atroz o militar indonésio, Impondo o terror para destruir-Vos! E nós sunambulando e dirigidos Por “droga” americana de amnésia . E assim em vez de grinaldas de luz, Vindas de estrelas do Oriente da Terra, Chega-Vos a crueldade tão cega, Desmascarada ao mundo em Sta. Cruz; Aquando em oração no cemitério O Povo seus mortos homenageava, O maléfico Marte transformava Em trágico, aquele necrotério. Entre gritos e tortura de pânico, Nossos irmãos de fé iam caindo Com lágrimas e sangue - cobrindo Do invasor, o sarcasmo satânico Viana 1997 * Sob este psedónimo, acha-se um militante da Causa Timorense no Minho, que na ocasião fez dom à mesma duma parte da edição do seu livro Simples Mente Contra Dito R, (Viana do Castelo, 1998, edição do autor, donde extraímos estas composições. 58 LATITUDES n° 8 - mai 2000