CIRCUITOS COM DIODOS: RETIFICADORES J.R. Kaschny INTRODUÇÃO Recordando: O diodo é um dispositivo que permite a passagem de corrente elétrica em uma única direção, idealmente comportando-se como um curto circuito ou um circuito em aberto. Polarização Direta Polarização Reversa Ideal Vb Id = R Is = 0 Real ( Vb − Vd ) = Is > 0 Id R Os diodos podem ser baseados em: notação a. Efeito termoiônico: válvulas eletrônicas. (atualmente pouco comum) b. Semicondutores: diodo de estado solido. (uso geral e bem difundido) Estes dispositivos podem se apresentar com diversos aspectos, tais como: associação de diodos em ponte A curva I × V típica destes dispositivos é: Zona I > Imax Características: • Vd = 0.7 V (Si); 0.3 V (Ge) Zona P > Pmax • Vd’ = 0.6 V (Si); 0.25 V (Ge) • Is ≈ 10 nA (Si); 1 µA (Ge) Especificações: Imax e Vmax • Pico • Pico repetitivo • Oper. continua Ponto quiescente Q → (VQ, IQ) PQ = IQ.VQ Todos parâmetros são influenciados pela temperatura. Pol. Rev. Zona V > Vmax Pol. Dir. Modelo Linear Reta de carga RETIFICADOR DE MEIA-ONDA Vamos analisar a operação de um diodo em regime alternado, formando um circuito tipicamente chamado de retificador de meia-onda. Nesta primeira analise consideremos um carga puramente resistiva, R1, ou seja: onde com V1 = Vm sen(ωt ) ω = 2π.f e θ = ω.t ⇒ V1 = Vm sen(θ ) placas de metálicas Ppico = Vd × (Vm − Vd)/R onde Imax e Vmax são os valores de operação con tinua (ver tabela). Adicionalmente: • tensão reversa máxima: Vmax = 1.2 × Vm • corrente direta máxima: Imax = 1.2 × (Vm − Vd)/R Adotando 20% como margem de segurança, escolhemos um diodo com: • tensão reversa máxima: Vmax > Vm • corrente direta máxima: Imax > (Vm − Vd)/R Nesta aplicação o diodo deve suportar: FATOR DE ONDULAÇÃO (RIPPLE) De uma maneira geral, o fator de ondulação, r, usualmente chamado “ripple”, é definido pela razão: r= Vr(RMS) VAV = Valor RMS da componente CA Valor médio do sinal Usualmente, podemos decompor o sinal, V, em um termo médio (CC), VCC, e um termo periódico (CA), VCA, ou seja: V = VCC + VCA onde: VCC 1 = 2π ⇒ VCA = V − VCC 2π ∫ Vdθ = V AV = Valor médio do sinal 0 Vr(RMS) ⎡ 1 2π ⎤ 2 =⎢ VCA dθ⎥ ⎢ 2π 0 ⎥ ⎣ ⎦ ∫ 1/2 Nestas integrais, o fator 1/2π corresponde a integração sobre um ciclo de período T=1/f. Isto pode ser feito pois temos VCA periódico! com θ = ωt e ω = 2πf. Aqui excluímos regimes ruidosos, onde VCA deixa de ser periódico. RIPPLE NO RETIFICADOR DE MEIA-ONDA Neste caso teremos: Vm' senθ V= ⇒ VCC = 1 2π 2 ⇒ Vr(RMS) = 0 2π ∫ 0 para − Vm' = Vm − Vd π < θ < 2π π ∫ 0 2π 1 2π 1 2π 0≤θ≤π Vm − Vd Vm' Vm' = Vdθ = senθdθ = 2π π π ∫ 2 VCA dθ = 0 pois 2 Vr(RMS) = para Aqui ignoramos Vd! Para compensar isto adotamos: 2π ∫ V 2 dθ − 1 2π 0 π Vm'2 senθdθ + 2 π 0 ∫ 1 2π 2π 2 ( ) V V ∫ CC dθ = 0.385 ⋅ (Vm − Vd ) 0 2π ∫ 2V ⋅ VCCdθ + 0 1 2π 2π ∫ 0 2 VCC dθ = '2 π Vm 2π ∫ sen 2 θdθ − 0 Vm'2 Vm'2 π Vm'2 Vm'2 1 ⎞ '2 ⎛ 1 2π = − 2 2 + 2 = Vm ⎜ − 2 ⎟ 3 2π 2 2π π π ⎝4 π ⎠ Portanto obtemos: r = Vr(RMS) / VCC = 1.209 ou seja, um ripple de 120.9% (122%). RETIFICADOR DE ONDA COMPLETA (PONTE) (todos diodos idênticos) ou Assumindo uma margem de confiabilidade de 20%, o diodo deve ser tal que: Imax = 1.2 × [(Vm − 2 × Vd)/R] Vmax = 1.2 × Vm RETIFICADOR DE ONDA COMPLETA (BIFÁSICO) (diodos idênticos) onde V1 = Vm sen(ωt ) = − V2 Assumindo uma margem de confiabilidade de 20%, o diodo deve ser tal que: Imax = 1.2 × [(Vm − 2 × Vd)/R] Vmax = 1.2 × (2 × Vm) RIPPLE NO RETIFICADOR DE ONDA COMPLETA Neste caso teremos: V= ⇒ VCC Vm' senθ 0 π 2 ⇒ Vr(RMS) + ∫ 0 para 0≤θ≤π π < θ < 2π para Vm' = 2π Aqui ignoramos Vd! Para compensar ... Vm' senθdθ 2π 2π ∫ π Vm' = Vm − Vd' , 4Vm'2 2π 3 2π ∫ ∫ dθ = 0 ⎧⎪2 ⋅ Vd ponte =⎨ ⎪⎩ Vd bifásico 2Vm' senθdθ = π 2π ⎫⎪ 2V '2 ⎧⎪ π 2 2 m = ⎨ sen θdθ + sen θdθ + ⎬ − 2 2π ⎪ ⎪⎭ π π ⎩0 Vm'2 Vd' ∫ '2 ⎛ 1 Vm ⎜ 4 ⎞ − 2 ⎟ = 0.308 ⋅ Vm'2 ⎝2 π ⎠ Portanto obtemos: r = Vr(RMS) / VCC = 0.484 ou seja, um ripple de 48.4% (49%). 2π ⎫⎪ ⎧⎪ π ⎨ senθdθ − senθdθ⎬ ⎪⎩ 0 ⎪⎭ π ∫ ∫ RETIFICADOR DE MEIA-ONDA COM CARGA RC Neste caso, devemos escolher um diodo tal que: Vmax > Vm + V’ ou, lembrando os 20% .... Vmax = 1.2×(2×Vm) Como podemos observar, na ilustração ao lado, a tensão sobre o resistor de carga possuirá um ripple bem menor quando comparado com o circuito sem o capacitor C1. Sob este ponto de vista, a tensão sobre R1 se aproxima muito mais de uma tensão continua. Dizemos que C1 é um “capacitor de filtro” (na realidade temos um filtro Passa-Baixas). Portanto, imaginando as aplicações disto, vamos determinar o valor deste capacitor como função do ripple desejado sobre a carga e do valor de R1. Vamos assumir as seguintes simplificações: • Desprezamos Vd, ao considerarmos o meio ciclo positivo “completo”. • Compensamos isto, parcialmente, considerando uma tensão de pico igual a Vm-Vd. • Aproximamos a curva correspondente a carga e descarga de C1 por segmentos de retas. • A tensão de carga máxima de C1 corresponde a tensão de pico, Vm-Vd. Observando a ilustração mostrada acima, obtemos: ∆V = Vk − V1 = (Vm − Vd ) − (Vm − Vd ) ⋅ senθ1 pois Vk = Vm − Vd ⎛ ∆V ⎞ π ⎟ como θ k = ⇒ θ1 = arcsen⎜⎜ 1 − ⎟ V V 2 − m d ⎠ ⎝ ⎛ ⎛ 3π ∆V π ∆V ⎞ ⎟ e ∆θ' = ⎜1 − arcsen + ⇒ ∆θ = − arcsen⎜⎜ 1 − ⎟ ⎜ 2 V V 2 Vm − Vd − m d ⎠ ⎝ ⎝ ⎞ ⎟ ⎟ ⎠ θ = ω.t ω = 2π.f ⎧ ∆V ⎪ − ∆θ' (θ − θ1 ) + V1 ⎪⎪ ∆V (θ − θ1 ) + V1 ⇒V=⎨+ ⎪ ∆θ ⎪− ∆V (θ − π 2 ) + V k ⎪⎩ ∆θ' ⇒ VCC = 1 2π 2π ∫ Vdθ = Vk − 0 ⇒r= ∆V 2 Vr(RMS) VCC para 0 ≤ θ ≤ θ1 para θ1 ≤ θ ≤ π 2 para π 2 ≤ θ ≤ 2π ⇒ Vr(RMS) = 1 ⎡1 =⎢ ⎢ 2π ⎣ ⎤ 2 VCA dθ⎥ ⎥ 0 ⎦ 2π ∫ ∆V 3 (2Vk − ∆V ) 1 2 = ∆V 2 3 A partir destas expressões, podemos deduzir que: V − Vd Vk = m = 1 + 3 ⋅r VCC VCC e Vr(RMS) Vk = Vr(RMS) Vm − Vd = r 1 + 3 ⋅r A corrente em C1 durante a descarga será, aproximadamente, dada por: ∆Q Id = ∆t' onde ∆Q = C1 ∆V e ∆t' = ∆θ' = tempo de descarga 2π ⋅ f Assumindo que o tempo de carga, ∆t = ∆θ/2π.f, é muito menor que o tempo de descarga, ou seja, ∆θ << ∆θ’, teremos que ∆t’ ≈ 1/f. Portanto, na media obteremos: VCC I d = C1 ⋅ f ⋅ ∆V ≈ R1 que em termos do ripple fornece: C1 = 1 2 3 ⋅ R1 ⋅ f ⋅ r Para finalizar, vamos determinar a corrente que circula através do diodo, ou seja: I D = I R + IC = [(Vm − Vd )sen(ωt )] + C d [(V R1 [ (Vm − Vd )sen(ωt )] = + C ⋅ ω ⋅ (V dt m R1 m − Vd )sen(ωt )] − Vd )cos(ωt ) Determinando a respectiva corrente máxima, temos: dI D ⇒ = 0 quando t max dt ⎡ ⎤ 1 arctan ⎢ ⎥ ( ) C ω V V ⋅ ⋅ − m d ⎦ ⎣ = ω que facilmente podemos comprovar que é realmente um máximo, pois (d2ID/dt2) < 0, e ainda que: I max D (Vm − Vd ) 1 C1 ⋅ ω ⋅ (Vm − Vd ) ψ = 1 + onde = 2 + 2 2 2 ⋅ ⋅ R C ω 1 1 ψ R 1 ⋅ C1 ⋅ ω ⋅ ψ e portanto, levando em consideração os 20% de confiabilidade, devemos escolher um diodo tal que: I max = 1.2 × I max .... no “mínimo” !!! D COMENTÁRIOS • Em geral os valores obtidos para C1 são bastante elevados - da ordem de milhares de µF’s. Tendo em mente que as imperfeições dos capacitores ficam bem mais evidentes em para capacitancias elevadas - em particular a indutancia serie,é recomendável associar em paralelo ao C1 um capacitor menor com capacitancia da ordem de 0.1 µF. • Para aplicações que necessitem alta confiabilidade, não poupe no dimensionamento dos componentes .... Se possível !!!!! • Em geral adota-se, no calculo de C1, r’s (ripple) inferiores a 5%. • Na prática adota-se como valor de C1, o dobro do valor calculado teoricamente !!!! EXERCÍCIOS 1. Com base na presente abordagem, efetuar o calculo de C1, Vmax e Imax para o caso de um retificador onda completa com carga RC. 2. Como ficaria a situação se acrescentássemos um indutor L em serie com o RC ? Referencias bibliográficas • Dispositivos Eletrônicos e Teoria de Circuitos, Robert L. Boylestad e Louis Nashelsky, editora Prentice-Hall do Brasil (2000). • Teoria e Desenvolvimento de Projetos de Circuitos Eletrônicos, Antonio M.V. Cipelli e Waldir J. Sandrini, Editora Erica Ltda. (1982). • Microelectronic Circuits, Adel S. Sedra, Oxford Series in Electrical Engineering, Oxford University Press; 4th edition (1997). • Electronic Devices and Circuits, J. Millman, McGraw Hill (1967).