Revista Interfaces: Saúde, Humanas e Tecnologia. Ano 1, v. 1, n.3, set, 2013. Artigo Científico Faculdade Leão Sampaio ISSN 2317 – 434X AS BASES BIOLÓGICAS DO MEDO: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA BIOLOGICAL BASES OF FEAR: A SYSTEMATIC REVIEW OF THE LITERATURE *HOLANDA, Vanderlan N; BEZERRA, Aparecida S; TAVARES, Andreza R; LIMA, Cícera I. R; MAMEDE, Larissa T. S; ARAÚJO, Roberta L. Q; MILFONT, Wislayane G; RODRIGUES, Antonio Y. F; LOPES, Cristiane M. U; Faculdade Leão Sampaio RESUMO O presente artigo intitulado, As Bases Biológicas do Medo: Uma Revisão Sistemática da Literatura discute os processos biológicos sistematizados no âmbito do sistema límbico, discutido e analisado pela a Fisiologia Humana tendo em vista a constituição sensitiva da emoção, tal como o medo. Tem-se como objetivo realizar um levantamento bibliográfico sobre as bases biológicas do medo, levando em conta seus aspectos anatômicos, fisiológicos e neurobiológicos. A presente pesquisa aqui caracterizada é do tipo qualitativa, descritiva e exploratória. Os procedimentos utilizados para a realização desta pesquisa, consistiu da análise de artigos publicados nas bases de dados Scientific Eletronic Library Online (SciELO), na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e na The Cochrane Library, bem como em livros, dissertações e teses. A análise dos dados se deu a partir de reflexões críticas sobre o material obtido e elaboração de sínteses correlatas ao tema. Em relação às bases biológicas, o medo é classificado, nesta revisão sistemática, como um estado emocional que pode apresentar vertentes como, ansiedade, apreensão, nervosismo, preocupação, consternação, cautela, escrúpulo, inquietação, pavor, susto e terror e como psicopatologia, se caracteriza ainda como fobia e o pânico. Neste sentido, pode-se concluir que a Psicologia tem ganhado cada vez mais espaço nos estudos sobre as bases biológicas do medo na medida em que busca contribuir com espaços investigativos para o desvendamento da mesma, porém, por motivos de estudos reduzidos na área da Psicologia, ainda nos limitamos ao desenvolvimento da Fisiologia, Neurologia e a crescente evolução dos estudos Psicofisiológicos, para assim discutirmos significativamente na condução de uma etiologia mais específica, possibilidades de intervenções em casos específicos e prevenção de ocorrências. *VANDERLAN NOGUEIRA HOLANDA Faculdade Leão Sampaio – Juazeiro do Norte – Ceará E-mail: [email protected] Rev. Interfaces. Ano 1, v. 1, n.3, set, 2013. Palavras – Chave: Neurobiologia das Emoções, Psicobiologia, Fisiologia do Medo. ABSTRACT This article titled, The Biological Bases of Fear: A Systematic Review of the Literature discusses the biological processes systematized within the limbic system, discussed and analyzed by the Human Physiology in view of the sensitive constitution of emotion, such as fear. Has aimed to survey the literature on the biological basis of fear, taking into account its anatomical, physiological and neurobiological. This study characterized here is a qualitative, descriptive and exploratory. The procedures used for this research consisted of analysis of articles published in the databases of Scientific Electronic Library Online (SciELO), the Virtual Health Library (VHL) and The Cochrane Library, as well as books, dissertations and theses. The analysis of the data was from critical reflections on the material obtained and preparation of summaries related to the theme. Regarding biological bases, fear is classified, this systematic review as an emotional state that may present as strands, anxiety, apprehension, nervousness, concern, consternation, caution, compunction, restlessness, fear, fright and terror and how psychopathology, still characterized as phobia and panic. In this sense, it can be concluded that psychology has gained more ground in studies on the biological bases of fear in that it seeks to contribute to investigative spaces for the unveiling of the same, however, for reasons of reduced studies in psychology also limit ourselves to the development of physiology, neurology and the increasing evolution of Psychophysiological studies, thus significantly discuss in conducting a more specific etiology, possibilities for interventions in specific cases and prevent occurrences. KEYWORDS: Fear, Psychophysiology, Physiology of Fear. Neste 1 INTRODUÇÃO sentido, o medo é classificado como um estado emocional O presente artigo intitulado, As podendo apresentar outras vertentes como, Bases Biológicas do Medo: Uma Revisão por exemplo, a ansiedade, apreensão, Sistemática os nervosismo, preocupação, consternação, processos biológicos sistematizados pela a cautela, escrúpulo, inquietação, pavor, Fisiologia Humana tendo em vista a susto e terror. Como psicopatologia, se constituição sensitiva da emoção, tal como caracteriza o medo. pânico.(NISHIDA, 2011). da Literatura discute ainda como fobia e o Um dos primeiros modelos para Ratificando o exposto, Batista e explicar o processo de geração emocional e Magalhães (2010, p. 568) entendem que, o seus por medo destaca-se como “ponto de partida cientistas da Universidade de Stanford para a maioria dos estudos da área da (GROSS, 1998, 2002). Para estes, as Psicofisiologia, emoções teriam seu princípio com a neurobiologia avaliação de estímulos de origens distintas, essencialmente, uma emoção primária, externas ou internas. Esses estímulos reativa, e associada a mecanismos de desencadeariam defesa e de sobrevivência”. mecanismos foi de proposto um conjunto de tendências com respostas fisiológicas, comportamentais e subjetivas. Quanto ao Neuropsicofisiologia da emoção, por e ser, Neste sentido, o ataque de pânico passa a ser representado por um período comportamento distinto no qual há o início súbito de emocional, este constituir-se-ia de um intensa conjunto de reações frente a uma sensação, frequentemente tendo em vista que as emoções, por sentimentos vez,seriam classificadas em dois tipos, Durante os ataques de pânicos, estão sejam presentes sintomas tais como falta de ar, elas, Tomando-se primárias como e secundárias. de temor ou associados catástrofe terror, com iminente. a palpitações, dor ou desconforto torácico, classificação primária das emoções, o sensação de sufocamento e medo de medo enlouquecer ou de perder o controle encaixa-se na referencia apreensão, primeira, pois caracteriza-se por ser uma necessidade imediata e por gerar comportamentos motivados (NISHIDA, 2011). (DSM-IV-TR, 2002). Como consequência dos ataques de pânico, observa-se o desenvolvimento do transtorno é do medo, tendo em vista descrever as caracterizado por ataques inesperados e etapas psico-neurobiológicas do medo recorrentes acerca dos quais o indivíduo se ressaltando as sente persistentemente preocupado. Em emocionais investigadas relação a agorafobia, esta pode ser definida cerebrais subjacentes. O presente estudo como sendo a ansiedade ou esquiva a apresenta locais ou situações das quais poderia ser desenvolvimento da ciência, bem como das difícil (ou embaraçoso) escapar ou nas novas quais estar Neurociência. Nesta perspectiva, analisar e disponível, num caso de ataque de pânico discutir os conhecimentos produzidos a ou sintomas semelhantes. A característica cerca dos estudos fisiológicos sobre o essencial de um Ataque de Pânico é um medo nos fará avançar no âmbito das período distinto de intenso medo ou questões até então ainda não respondidas desconforto acompanhado por pelo menos quanto à fisiologia das emoções. Ratifico quatro de treze sintomas somáticos ou aqui, que em face de um desenvolvimento cognitivos. (DSM-IV-TR, 2002). biotecnológico acelerado, desenvolvida, traz o auxílio de pânico, poderia que não Vale salientar que, existem três principais suma regulações nos importância pesquisas em circuitos para Fisiologia, a consigo o e temática novas tipos característicos de Ataques de pânico, perspectivas de pesquisa no campo na a saber, os ataques inesperados (não neurociência bem como da Psicofisiologia. evocados), os ataques ligados a situações Vale salientar que o levantamento (evocados) e os predispostos por situações. bibliográfico aqui sistematizado não se No entanto, há distinção entre o ataque do esgota em si mesmo, nem tão pouco esgota pânico e o transtorno. Sabe-se que este as discussões sobre o tema, porém constitui último apresenta-se como sendo uma bases teóricas - metodológicas para a evolução mais abrangente dos quadros ampliação de novas pesquisas. psicopatológicos de transtornos ansiosos.A Neste contexto, as discussões aqui característica essencial do Transtorno de apresentadas por meio de uma revisão Pânico é a presença de ataques de pânico bibliográfica recorrentes e inesperados, dependendo de dinâmica da construção do conhecimento, serem ou não relacionados a quadros de bem como reforça o empoderamento agorafobia. sistêmico e transformador da sociedade na nos fazem perceber a Neste sentido, a presente pesquisa medida em que o tema medo vem sendo objetivou revisar obras literárias científicas explorado no âmbito da literatura. Assim, a mais relevantes sobre as bases biológicas presente revisão contribui para o fortalecimento da Psicologia, ciência esta quanto à realidade em questão. A pesquisa que configura a formação inicial das descritiva está interessada em desenredar e pesquisadoras do presente artigo, bem observar fenômenos, com o intuito de como reforça a identidades desta para com descrevê-los, classificá-los e interpretá-los seus processos de formação. (RUDIO, 2003, p. 71) De acordo com Severino (2009, p. 123), “a pesquisa exploratória busca 4 METODOLOGIA realizar um levantamento de informações A presente aqui sobre um determinado objeto, delimitando qualitativa, dessa forma, um campo de trabalho, descritiva e exploratória. Oliveira (2010, p. mapeando as condições de manifestação 59), afirma que “a pesquisa qualitativa desse objeto”. Esse tipo de pesquisa pode ser caracterizada como uma tentativa objetiva dar uma explicação geral sobre clara de explicar em profundidade o determinado fato, através de levantamento significado e as características do resultado bibliográfico, das informações obtidas sem a mensuração documentos. Quanto quantitativa sistemático caracterizada é de do pesquisa tipo características ou comportamento”. De acordo com Sílvio leitura da e análise de ao procedimento revisão bibliográfica delineada nesta pesquisa, este se trata de, Oliveira (1999, p. 117), “as abordagens qualitativas facilitam descrever a complexidade de problemas e hipóteses, bem como analisar a interpretação entre variáveis, compreender e classificar determinados processos sociais”. Sobre pesquisa descritiva, Gaio (2008, p. 156) infere que o pesquisador está interessado em conhecer a realidade, sem num primeiro momento interferir para modificá-la, o que denota uma Uma modalidade de estudo e análise de documentos de domínio científico tais como livros, enciclopédias, periódicos, ensaios críticos, dicionários e artigos científicos. Pode-se afirmar que grande parte de estudos exploratórios fazem parte desse tipo de pesquisa e apresentam como principal vantagem um estudo direto em fontes científicas, sem precisar recorrer diretamente aos fatos/fenômenos de realidade empírica. (OLIVEIRA, 2010, p. 69) Em metodologia consonância descrita com acima, a os contribuição indireta, pois esse tipo de procedimentos utilizados para a realização pesquisa necessita não mais que os outros, desta pesquisa, consistiu da análise de porém de forma consciente e abrangente, artigos publicados nas bases de dados de que os dados sejam publicados para Scientific conscientização da população pesquisada (SciELO), na Biblioteca Virtual em Saúde Eletronic Library Online (BVS) e na The Cochrane Library, bem condutora para muitas vias nervosas que como em livros, dissertações e teses. A vão ou vêm do cérebro. análise dos dados se deu a partir de O sistema nervoso periférico é reflexões críticas sobre o material obtido e formado por uma rede de nervos elaboração de sínteses correlatas ao tema. ramificados de grande extensão. Os nervos periféricos apresentam grande número de 5 REFERENCIAL TEÓRICO: AS BASES BIOLÓGICAS DO MEDO UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA feixes de fibras nervosas, as aferentes e as eferentes. “Alguns dos nervos periféricos têm origem diretamente na parte basal do próprio encéfalo e inervam, em sua maior 5.1 O Sistema Nervoso parte, a cabeça; formam os nervos cranianos”. (GUYTON, 1998, p.99). O Sistema Nervoso é constituído por três divisões principais: o eixo sensorial, motor e o integrador. A unidade básica do Sistema Nervoso é a sinapse, onde os sinais são transmitidos das fibrilas terminais de um neurônio para a célula neural seguinte. O Sistema Nervoso é dividido anatomicamente em duas partes, sistema nervoso central e sistema nervoso periférico. O Os nervos periféricos que não apresentam características de cranianos são classificados como periféricos onde saem da medula espinhal por meio do forame intervertebral. O tecido nervoso é constituído por dois tipos de células, os neurônios, células de maior calibre e massa relativamente alta. São as principais células do Sistema Nervoso. Segundo a literatura, existem encéfalo é o principal constituinte do sistema nervoso, é o local onde são guardadas as memórias, onde são elaborados os pensamentos e emoções. Para a realização dessas funções, o próprio encéfalo se subdivide em subáreas no sistema nervoso central. Além do encéfalo, o sistema nervoso central também é constituído pela medula espinhal. Esta exerce muitas funções, dentre elas destaca-se a função de cerca de 100 bilhões de neurônios em todo o sistema nervoso central. O outro tipo de célula nervosa são as células da Glia, que têm função de conferir a manutenção necessária aos neurônios. Elas mantêm os neurônios em suas respectivas posições e evitam que ocorram falhas quanto à transmissão dos sinais nervosos. Dentro do Sistema Nervoso Central, encontra-se um conjunto de estruturas específicas que juntas formam o Sistema Límbico, que é responsável pela mais especificamente com cada emoção regulação existente no perfil de estudo em análise do das emoções e de suas fisiologias. comportamento. As manifestações fisiológicas das 5.2 Uma Teoria Biológica das Emoções emoções podem ser classificadas de duas maneiras, viscerais, quando são específicas Os primeiros estudos sobre para cada tipo de emoção e ansiedade foram notificados em 1892, condicionamento pessoal. As somáticas onde um estudioso chamado Goltz observa são o comportamento de cachorros, após involuntárias, pode algumas alterações no sistema nervoso incondicionais ou destes. comportamento emocional, vários aspectos Alguns comportamento outros estudiosos relacionam do algumas são aquelas comportamentais, observados: ser reflexos condicionais. cognição, que No é a central percepção consciente das sensações, afeto, diretamente com o transtorno de ansiedade. percepção de si e dos outros, motivação, ou Assumpção observar seja, o desejo de agir e as expressões que modificações emocionais em animais que ocorrem a nível de alterações somáticas e tiveram lesões de hipocampo afirma que: viscerais. regiões do sistema Junior, nervoso após As O giro do cíngulo, como área cortical, é responsável pela experiência emocional, podendo ser ativada tanto pelo neocórtex quanto por estruturas inferiores, como o hipotálamo. Assim, a atividade mental gerada pelo neocórtex é transmitida ao hipocampo e, em seguida, ao hipotálamo. O corpo mamilar do hipotálamo ativa os núcleos talâmicos anteriores, que transmitem a informação ao giro do cíngulo. Estímulos sensitivos externos chegam ao hipotálamo através do tálamo ventral, sem a necessidade de ser processado pelo neocórtex. (ASSUNÇÃO JUNIOR, 2008). Hoje mais que nunca tem-se comprovado funcionamento a relação do direta Sistema do Nervoso Central com o comportamento humano, alterações somáticas e viscerais desencadeiam alguns fenômenos fisiológicos, como, por exemplo, quando o medo (emoção) é desencadeado a partir do reconhecimento do perigo (cognição), a pressão sanguínea aumenta, há o debito sanguíneo, pulmonar, aumento redução da da ventilação motilidade e secreção intestinal e disponibilização de energia. Esta disponibilização de energia acontece para que haja uma organização da reação obtida, a disponibilização de energia relaciona-se intrinsecamente com a possibilidade de fuga em situações de medo. O hipotálamo juntamente com o giro do cíngulo, neocórtex, giro do cíngulo, tronco encefálico recebe os estímulos hipocampo, hipotálamo e então se expressa advindos do ambiente, por meio dos nervos à emoção de maneira visceral. sensitivos. Após a interpretação destes dois Tal circuito foi desenvolvido pelo componentes do Sistema Nervoso Central, médico psiquiatra, Christofredo Jakob, um ocorre a manifestação do comportamento dos principais pesquisadores da Escola de sobrevivência. Uma pessoa, ao avistar Neurobiológica uma serpente sente medo, esta emoção foi circuito, chamado “Circuito de Papez” desencadeada informação destaca um conjunto de estruturas nervosas (serpente) foi levada ao Sistema Nervoso situadas na região encefálica que juntas Central formam o Sistema Límbico, responsável porque pelos a nervos sensitivos, o hipotálamo juntamente com o tronco pelos encefálico interpreta a informação e a emoções. Argentina-Alemã. mecanismos fisiológicos O das relaciona ao estado de perigo. Logo, os O medo nada mais é do que uma nervos motores devolvem a reação que se emoção causada por uma causa direta e manifestará objetiva. Esta causa é conhecida, como por de maneira somática e visceral. exemplo, o medo da morte. De tal forma, o Os sistemas motivacionais medo encaixa-se nos parâmetros da conferem aos organismos uma eficácia ansiedade, mas de maneira subjetiva, uma quanto a situações de urgência. Esse vez que esta é uma emoção decorrente sistema fisiológico do medo, no entanto, onde o sujeito não conhece o motivo real não acontecia do mesmo modo nos do seu medo. Por exemplo, o medo de ancestrais do ser humano, uma vez que o morrer apesar de não saber quando. nível de racionalização destes se O medo então é uma interferência apresentava de maneira bem inferior, no bem estar, na integridade física e quanto comparado ao homem moderno mental. Quando há ameaças ao organismo, (NISHIDA, 2011). este desencadeia reações comportamentais, O primeiro Circuito Neural das Emoções foi desenvolvido levando em neurovegetativas, associadas a sentimento de medo. conta as regiões corticais e subcorticais do Os Sistema Nervoso. O estímulo sensorial causadores trazido classificados pelos nervos sensitivos é neuroendócrinas estímulos do medo de ambientais podem duas quando não ser formas: interpretado pelo hipotálamo iniciando incondicionados, há a assim, o ciclo: hipotálamo, tálamo anterior, pretensão de causar medo, são na maioria das vezes naturais, sons intensos, altura, escuridão, são alguns deles. O hipocampo é uma estrutura Outros localizada nos lobos temporais do cérebro estímulos como ir ao dentista ou ao humano, ressaltado por muitos autores médico, medo de cachorro, gato barata, como a principal sede da memória. O etc. são classificados como condicionais, nome hipocampo quer dizer “cavalo- pois são capazes de serem evitados. marinho” por conta de sua aparência anatômica. (GUYTON, 1998). Do 5.3 A Neurobiologia do Medo hipocampo, o estimulo aversivo consciente segue finalmente para Um dos primeiros mecanismos do a amigdala, mais especificamente para Sistema Nervoso a atuar no sistema região do núcleo lateral. Do núcleo lateral, biológico do medo é a Amigdala. Esta este estímulo aversivo subdivide-se em pequena porção do cérebro está envolvida três, onde serão captados por outras três na percepção do medo, como um alerta ao regiões distintas da amigdala: núcleo baso organismo. Relaciona-se também a estados lateral, núcleo acessório basal e núcleo críticos de ansiedades. central. O A lesão bilateral da amigdala é núcleo central recebe a responsável por mudanças emocionais, tais interpretação advinda do b. lateral e do n. como o simples fato de ignorar expressões acessório basal. O núcleo central responde de medo e de ira nas outras pessoas. Esta o estímulo aversivo de três maneiras: resposta advinda do Sistema Nervoso comportamento emocional (expressão de Central parte diretamente da bilateralidade medo), resposta automática (geralmente da amigdala. comportamento de defesa) e resposta A amigdala recebe aferências de todo o neocórtex, do giro do cíngulo e do endócrina (um exemplo claro é a descarga de adrenalina). o Quando o estímulo aversivo chega estimulo ambiental captado pelos nervos ao hipotálamo, este libera CRH (hormônio sensitivos, chega ao tálamo, desta parte da libertador percepção se direciona a amigdala, esta é hormônio atua diretamente no córtex denominada de estímulo subconsciente. A adrenal, outra parte, percepção consciente se Anatomicamente as glândulas suprarrenais direciona ao córtex sensorial e segue para o apresentam uma camada mais superficial hipocampo. mais periférica, chamada de cortisol. O hipocampo. Seguindo um roteiro, da corticotrofina). (glândulas Este suprarrenais). cortisol contribui para na disponibilização de energia. No contexto da Neurobiologia, afirmam Batista e Magalhães (2010, p.570) Esse processo hormonal acontece que, a nível de Sistema Nervoso Autônomo Simpático. Após passar pelo cortisol, o CRH atua na medula adrenal, região mais interiorana das glândulas adrenais onde haverá a liberação de catecolaminas. As catecolaminas são compostos químicos que circulam no sangue, ligadas às proteínas catecolaminas plasmáticas. sustentam a Estes atividade simpática no Sistema Nervoso. Dessa forma, há a expressão de medo. Nesse sentido a Neurobiologia associa o medo a objetos ou situações específicas. Sendo assim, o medo pode ser, numa perspectiva fisiológica, a preparação do organismo a agir rapidamente a uma situação de perigo, ativado como um O medo é uma emoção associada ao perigo, em que a consciência está centrada na ameaça. A intensidade do medo depende se a ameaça é imediata ou está pendente. Tem como função a defesa, pois obriga a uma reação do indivíduo aos perigos. Observam-se reações fisiológicas despoletadas pela segregação da adrenalina, como aceleração cardíaca, dilatação das pupilas e aumento de produção de açúcar no sangue. Uma das respostas ao medo é a cólera associada ao objeto que ameaça daí poder alternar-se o sentimento medo com o sentimento cólera. A emoção medo pode identificarse através de alguns movimentos faciais: a elevação da pálpebra superior; o queixo descaído; a abertura da boca de um modo horizontal; a elevação e junção das sobrancelhas. A agressividade e o medo estão em relação direta com o sistema límbico e correspondem a respostas primitivas de sobrevivência, mesmo que sejam modificadas pelo contexto cultural. mecanismo de sobrevivência, podendo estar associado a outras emoções como a Assim, as diferenças poderão ser angústia, a ansiedade, evoluindo para observadas situações de terror, pavor e fobias (Dias, associadas à situação real de medo, ou à 2007; Ekman, 2004; Freitas-Magalhães, ausência das mesmas, numa vivência 2007). cognitiva de medo. O medo poderá, por Assim, a nas respostas fisiológicas reação ao medo é vezes, estar relacionado com uma distorção geralmente acompanhada pelos indicadores do processo cognitivo da informação fisiológicos citados acima, sendo que estes (KINDT et al., 1997). Para Batista & se manifestaram de acordo com o seu grau Magalhães (2010, p.570), “o medo é uma de intensidade e resultará na tomada de consciência real ou imaginária de uma ameaça.(BATISTA 2010). & MAGALHÃES, das emoções mais estudadas, por ser uma emoção cognitivo-reativa, associada a mecanismos de sobrevivência”. reconhecer objetos ou animais que antes lhe causavam medo, e tendência hipersexual. 5.4 A teoria de funcionalidade do 5.5 As Conexões do Sistema Límbico e Sistema Límbico suas interfaces com as emoções Dentre as principais funções do Os componentes do Sistema Sistema Límbico, destaca-se a regulação Límbico realizam entre si inúmeros tipos dos processos emocionais. Essa função de relaciona-se a complexidade, sendo a mais destacada o regulação do Sistema Nervos Autônomo e circuito de papez. Este circuito consiste com os processos motivacionais essenciais num importante mecanismo das emoções, à sobrevivência da espécie e do indivíduo sendo suas ligações denominadas de como a sensação de fome, sede, sexo e etc. conexões intrínsecas. fisiologicamente Alguns componentes com comunicações, de mais alta límbicos Já conexões que permeiam todo o também atuam no mecanismo da memória, Sistema Nervoso e depois penetram o bem como na regulação do Sistema Sistema Límbico são denominadas de Endócrino. Segundo Trevisol - Bittencourt conexões extrínsecas aferentes. Neste tipo e Troiano (2000), alterações significativas de conexão é possível observar estruturas nos componentes do Sistema Límbico sensoriais visuais, auditivas, olfatórias ou podem afetar diretamente nas emoções de somestésicas transfixando-se diretamente indivíduos como no caso da identificação no Sistema Límbico. da Síndrome de Kluver e Bucy. O Um experimento que consistiu na componente periférico e expressivo dos processos emocionais é realização de uma ablação bilateral na regulado parte anterior dos lobos temporais em eferentes, ou seja, são conexões que se macacos Rhesus, lesionando estruturas do fazem através de fibras como o feixe Sistema Límbico como hipocampo, gira prosencefálico medial, fascículo, mamilo- para-hipocampal tegumentar e estria medular. resultou na e corpo amigdaloide apresentação por conexões extrínsecas de comportamentos atípicos desses animais, 5.6 como perspectiva do Sistema Límbico domesticação completa, que usualmente eram selvagens, agnosia visual, ou seja, apresentaram incapacidade de Contextualizando o medo na As reações emocionais de medo Outro componente é o giro para- podem ser condicionadas por conta da alta hipocampal, que se situa na face inferior capacidade da amigdala de respondê-las do lobo temporal. O hipocampo também é através de um processo de aprendizagem um efetiva. A amigdala regula a expressão do Límbico. componente medo diante de estímulos ambientais. cortical do Sistema Os componentes subcorticais são: Um estímulo qualquer captado corpo amigdabóide, que é um dos núcleos pelo córtex aditivo, chega uma região da base da amígdala. Está localizado chamada córtex cerebral (amígdala) onde próximo ao úncus. A área septal situa-se há o “registro” da experiência emocional. abaixo do corpo caloso, anteriormente a Todos os estímulos de medo relaciona-se lamina terminal e à comissura anterior. A intrinsecamente com o Sistema Límbico, área septal tem conexões extremamente uma parte do Sistema Nervoso Central amplas e complexas, apresentando ainda responsável projeções para a região do hipotálamo e da diretamente pelas coordenações das emoções no ser humano. formação reticular. O Sistema Límbico tem a função psíquica de avaliar afetivamente os Ainda componentes classificam-se subcorticais os como núcleos momentos da vida, realizando a integração mamilares (hipotálamo), núcleos anteriores dos do sistemas nervoso, endócrino e tálamo (tálamo), e os núcleos imunológico. É importante destacar que a habenulares. Estes últimos mantêm contato qualidade da avaliação efetiva depende da direto com o mesencéfalo. experiência vivida e das normas culturais. Apresentando a forma de um anel cortical, o sistema límbico contorna as 5.7 Transtornos de ansiedade: o medo como elemento desafiador às emoções formações inter hemisféricas. Localiza-se na face medial do hemisfério cerebral, A perspectiva afetiva na vida contornando o corpo caloso. É composto, psíquica é o principal fator influente em de uma maneira mais abrangente por dois todos os processos vitais, contribuindo de componentes: corticais e subcorticais. forma considerada nos mecanismos Os componentes corticais são: referentes à formação da conduta, assim giro do cíngulo, contornando o corpo como nas reações individuais. O ser caloso e realizando íntima ligação ao giro humano é de natureza um ser social para-hipocampal, altamente sujeito ao inter-relacionamento, por uma região denominada íntimo do giro do cíngulo. onde é possível encontrar correlações da O Medo também é bastante vida psíquica em todos os processos característico de estados de ansiedade. ligados à afetividade. Medo por exemplo de que o paciente ou O sentimento de felicidade, por algum parente morrerá brevemente, sofrer exemplo, não consiste em um simples ou adoecer ou medo que acontece algo aspecto inesperado consigo são frequentemente da ansiedade, mas “numa constante insistência de que falta algo expressados, paralelamente a se constituir em algo diversidade de outras preocupações e inerente pressentimentos. ao próprio existir humano” (FREUD, 1973). Os O transtornos ansiosos descrito acompanhados quadro com mais clínico de uma ansioso pontualidade é por encontram-se ligados a mecanismos de Bernick (1997), que inclui manifestações sobrevivência, defesa territorial, seleção de cognitivas, somáticas, comportamentais e companheiro e até mesmo mecanismos de emocionais. As manifestações cognitivas ataque-defesa. A ansiedade se caracteriza relacionam-se a fenômenos psíquicos no na maior parte das vezes como aspectos estado ansioso onde conferem apreensão e cotidianos e comuns. Para a Medicina, no inquietação, o indivíduo afetado pode ser entanto, a vivência comum apresenta-se tomado pelo medo de morte, loucura, fator vergonha ou de até mesmo de se determinante em processos diagnósticos desse tipo de psicopatologia (ASSUMPÇÃO JÚNIOR, 2008). descontrolar. As manifestações somáticas O estado de ansiedade é definido (biológicas) de ansiedade são diversas, como as manifestações físicas e mentais da variando desde dificuldade de engolir, ansiedade que não podem ser atribuídas a calafrios, boca seca, ou ainda em quadros um perigo real. De acordo com a mais específicos taquicardia, taquipnéia, Classificação de Transtornos Mentais e de dispneia, sudorese e hiperventilação. As comportamento (CID-10, 1993), os funções psíquicas a afetividade é a mais transtornos ansiedade apresentam ligada ao corpo, mas devem-se levar em variação nos tipos de sintomas, mas que conta os parâmetros fisiológicos de cada queixas de sentimentos contínuos de indivíduo. de nervosismos, tensão muscular, tremores, sensação de cabeça leve, palpitações, sudorese, palpitações desconforto epigástrico e tonturas são comuns. Janeiro: Guanabara Koogan S.A. p. 134137. 2008. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A psicologia tem ganhado cada vez mais espaço nos estudos sobre as bases biológicas do medo na medida em que busca contribuir com espaços investigativos para o desvendamento da BERNICK, V.Stress: the silent killer. Revista Eletrônica Cérebro e Mente, n 3, set./nov., 1997. Dísponível em: <http://www.epub.org.br/cm/no3/doenças/ stress.htm>. Acesso em: 1 nov. 2012. CID-10: Classificação de Transtornos Mentais e de comportamento da CID-10: Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas – Coord. Organização Mundial da Saúde; tradução Dorgival Caetano – Porto Alegre: Artmed, 1993. mesma, porém, por motivos de estudos reduzidos, ainda nos limitamos ao desenvolvimento da Fisiologia, Neurologia e a crescente evolução dos estudos Psicobiológicos, para assim discutirmos significativamente na condução de uma DIAS, F.N. O Medo Social e os Vigilantes da Ordem Social. Instituto Piaget: Impress4, LDA, 2007. DSM-IV-TR. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Tradução Cláudia Dornelles. Artmed, 4ª edição. Porto Alegre-RS, 2002. etiologia mais específica, possibilidades de intervenções em casos específicos e prevenção de ocorrências. No entanto buscamos com a ajuda das ciências citadas anteriormente, delinear uma prática psicológica mais globalizada e EKMAN, P. Emotions Revealed.Understanding Faces and Feelings.Phoenix, London, 2004. FREITAS-MAGALHÃES, A. A psicologia das emoções: O fascínio do rosto humano. Porto: Edições Universidade Fernando Pessoa, 2007. contextualizada que possa dar conta do entendimento, identificação, reconhecimento das emoções e dos circuitos neurológicos adjacentes, para as intervenções no âmbito das práticas psicológicas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSUNPÇÃO JÚNIOR. Transtornos de Ansiedade. In: Psicopatologia. Rio de FREUD, S. Tratamiento Psíquico. v. 1. Buenos Aires: Amorrortu, p. 113-132, 1973. GAIO, R. Metodologia de Pesquisa e Produção de Conhecimento. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. GROSS, J.J., & THOMPSON. Handbook of Emotion Regulation. New York: Guilford Press., R.A. (in press). Emotionregulation: Conceptual foundations. GUYTON, A.C. Fisiologia Humana. 6ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. 226-237. Disponível em<www.scielo.br/pdf/rbp/v28n3/16.pdf> Acessado em 7 de maio de 2012. Manual Clínico dos transtornos psicológicos: tratamento passo a passo/ [organização de] David H. Borlow; Aoram T. Beck [etal.]. Tradução: Roberto Catoldo Costa. – 4 edição. 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