*VANDERLAN NOGUEIRA HOLANDA Faculdade Leão Sampaio

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Revista Interfaces: Saúde, Humanas e Tecnologia. Ano 1, v. 1, n.3, set, 2013.
Artigo Científico
Faculdade Leão Sampaio
ISSN 2317 – 434X
AS BASES BIOLÓGICAS DO MEDO: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA
LITERATURA
BIOLOGICAL BASES OF FEAR: A SYSTEMATIC REVIEW OF THE
LITERATURE
*HOLANDA, Vanderlan N;
BEZERRA, Aparecida S;
TAVARES, Andreza R;
LIMA, Cícera I. R;
MAMEDE, Larissa T. S;
ARAÚJO, Roberta L. Q;
MILFONT, Wislayane G;
RODRIGUES, Antonio Y. F;
LOPES, Cristiane M. U;
Faculdade Leão Sampaio
RESUMO
O presente artigo intitulado, As Bases Biológicas do Medo: Uma Revisão Sistemática da
Literatura discute os processos biológicos sistematizados no âmbito do sistema límbico,
discutido e analisado pela a Fisiologia Humana tendo em vista a constituição sensitiva da
emoção, tal como o medo. Tem-se como objetivo realizar um levantamento bibliográfico
sobre as bases biológicas do medo, levando em conta seus aspectos anatômicos, fisiológicos e
neurobiológicos. A presente pesquisa aqui caracterizada é do tipo qualitativa, descritiva e
exploratória. Os procedimentos utilizados para a realização desta pesquisa, consistiu da
análise de artigos publicados nas bases de dados Scientific Eletronic Library Online
(SciELO), na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e na The Cochrane Library, bem como em
livros, dissertações e teses. A análise dos dados se deu a partir de reflexões críticas sobre o
material obtido e elaboração de sínteses correlatas ao tema. Em relação às bases biológicas, o
medo é classificado, nesta revisão sistemática, como um estado emocional que pode
apresentar vertentes como, ansiedade, apreensão, nervosismo, preocupação, consternação,
cautela, escrúpulo, inquietação, pavor, susto e terror e como psicopatologia, se caracteriza
ainda como fobia e o pânico. Neste sentido, pode-se concluir que a Psicologia tem ganhado
cada vez mais espaço nos estudos sobre as bases biológicas do medo na medida em que busca
contribuir com espaços investigativos para o desvendamento da mesma, porém, por motivos
de estudos reduzidos na área da Psicologia, ainda nos limitamos ao desenvolvimento da
Fisiologia, Neurologia e a crescente evolução dos estudos Psicofisiológicos, para assim
discutirmos significativamente na condução de uma etiologia mais específica, possibilidades
de intervenções em casos específicos e prevenção de ocorrências.
*VANDERLAN NOGUEIRA HOLANDA
Faculdade Leão Sampaio – Juazeiro do Norte – Ceará
E-mail: [email protected]
Rev. Interfaces. Ano 1, v. 1, n.3, set, 2013.
Palavras – Chave: Neurobiologia das Emoções, Psicobiologia, Fisiologia do Medo.
ABSTRACT
This article titled, The Biological Bases of Fear: A Systematic Review of the Literature
discusses the biological processes systematized within the limbic system, discussed and
analyzed by the Human Physiology in view of the sensitive constitution of emotion, such as
fear. Has aimed to survey the literature on the biological basis of fear, taking into account its
anatomical, physiological and neurobiological. This study characterized here is a qualitative,
descriptive and exploratory. The procedures used for this research consisted of analysis of
articles published in the databases of Scientific Electronic Library Online (SciELO), the
Virtual Health Library (VHL) and The Cochrane Library, as well as books, dissertations and
theses. The analysis of the data was from critical reflections on the material obtained and
preparation of summaries related to the theme. Regarding biological bases, fear is classified,
this systematic review as an emotional state that may present as strands, anxiety,
apprehension, nervousness, concern, consternation, caution, compunction, restlessness, fear,
fright and terror and how psychopathology, still characterized as phobia and panic. In this
sense, it can be concluded that psychology has gained more ground in studies on the
biological bases of fear in that it seeks to contribute to investigative spaces for the unveiling
of the same, however, for reasons of reduced studies in psychology also limit ourselves to the
development of physiology, neurology and the increasing evolution of Psychophysiological
studies, thus significantly discuss in conducting a more specific etiology, possibilities for
interventions in specific cases and prevent occurrences.
KEYWORDS: Fear, Psychophysiology, Physiology of Fear.
Neste
1 INTRODUÇÃO
sentido,
o
medo
é
classificado como um estado emocional
O presente artigo intitulado, As
podendo apresentar outras vertentes como,
Bases Biológicas do Medo: Uma Revisão
por exemplo, a ansiedade, apreensão,
Sistemática
os
nervosismo, preocupação, consternação,
processos biológicos sistematizados pela a
cautela, escrúpulo, inquietação, pavor,
Fisiologia Humana tendo em vista a
susto e terror. Como psicopatologia, se
constituição sensitiva da emoção, tal como
caracteriza
o medo.
pânico.(NISHIDA, 2011).
da
Literatura
discute
ainda
como
fobia
e
o
Um dos primeiros modelos para
Ratificando o exposto, Batista e
explicar o processo de geração emocional e
Magalhães (2010, p. 568) entendem que, o
seus
por
medo destaca-se como “ponto de partida
cientistas da Universidade de Stanford
para a maioria dos estudos da área da
(GROSS, 1998, 2002). Para estes, as
Psicofisiologia,
emoções teriam seu princípio com a
neurobiologia
avaliação de estímulos de origens distintas,
essencialmente, uma emoção primária,
externas ou internas. Esses estímulos
reativa, e associada a mecanismos de
desencadeariam
defesa e de sobrevivência”.
mecanismos
foi
de
proposto
um
conjunto
de
tendências com respostas fisiológicas,
comportamentais e subjetivas.
Quanto
ao
Neuropsicofisiologia
da
emoção,
por
e
ser,
Neste sentido, o ataque de pânico
passa a ser representado por um período
comportamento
distinto no qual há o início súbito de
emocional, este constituir-se-ia de um
intensa
conjunto de reações frente a uma sensação,
frequentemente
tendo em vista que as emoções, por
sentimentos
vez,seriam classificadas em dois tipos,
Durante os ataques de pânicos, estão
sejam
presentes sintomas tais como falta de ar,
elas,
Tomando-se
primárias
como
e
secundárias.
de
temor
ou
associados
catástrofe
terror,
com
iminente.
a
palpitações, dor ou desconforto torácico,
classificação primária das emoções, o
sensação de sufocamento e medo de
medo
enlouquecer ou de perder o controle
encaixa-se
na
referencia
apreensão,
primeira,
pois
caracteriza-se por ser uma necessidade
imediata e por gerar comportamentos
motivados (NISHIDA, 2011).
(DSM-IV-TR, 2002).
Como consequência dos ataques
de pânico, observa-se o desenvolvimento
do
transtorno
é
do medo, tendo em vista descrever as
caracterizado por ataques inesperados e
etapas psico-neurobiológicas do medo
recorrentes acerca dos quais o indivíduo se
ressaltando
as
sente persistentemente preocupado. Em
emocionais
investigadas
relação a agorafobia, esta pode ser definida
cerebrais subjacentes. O presente estudo
como sendo a ansiedade ou esquiva a
apresenta
locais ou situações das quais poderia ser
desenvolvimento da ciência, bem como das
difícil (ou embaraçoso) escapar ou nas
novas
quais
estar
Neurociência. Nesta perspectiva, analisar e
disponível, num caso de ataque de pânico
discutir os conhecimentos produzidos a
ou sintomas semelhantes. A característica
cerca dos estudos fisiológicos sobre o
essencial de um Ataque de Pânico é um
medo nos fará avançar no âmbito das
período distinto de intenso medo ou
questões até então ainda não respondidas
desconforto acompanhado por pelo menos
quanto à fisiologia das emoções. Ratifico
quatro de treze sintomas somáticos ou
aqui, que em face de um desenvolvimento
cognitivos. (DSM-IV-TR, 2002).
biotecnológico
acelerado,
desenvolvida,
traz
o
auxílio
de
pânico,
poderia
que
não
Vale salientar que, existem três
principais
suma
regulações
nos
importância
pesquisas
em
circuitos
para
Fisiologia,
a
consigo
o
e
temática
novas
tipos característicos de Ataques de pânico,
perspectivas de pesquisa no campo na
a saber, os ataques inesperados (não
neurociência bem como da Psicofisiologia.
evocados), os ataques ligados a situações
Vale salientar que o levantamento
(evocados) e os predispostos por situações.
bibliográfico aqui sistematizado não se
No entanto, há distinção entre o ataque do
esgota em si mesmo, nem tão pouco esgota
pânico e o transtorno. Sabe-se que este
as discussões sobre o tema, porém constitui
último apresenta-se como sendo uma
bases teóricas - metodológicas para a
evolução mais abrangente dos quadros
ampliação de novas pesquisas.
psicopatológicos de transtornos ansiosos.A
Neste contexto, as discussões aqui
característica essencial do Transtorno de
apresentadas por meio de uma revisão
Pânico é a presença de ataques de pânico
bibliográfica
recorrentes e inesperados, dependendo de
dinâmica da construção do conhecimento,
serem ou não relacionados a quadros de
bem como reforça o empoderamento
agorafobia.
sistêmico e transformador da sociedade na
nos
fazem
perceber
a
Neste sentido, a presente pesquisa
medida em que o tema medo vem sendo
objetivou revisar obras literárias científicas
explorado no âmbito da literatura. Assim, a
mais relevantes sobre as bases biológicas
presente
revisão
contribui
para
o
fortalecimento da Psicologia, ciência esta
quanto à realidade em questão. A pesquisa
que configura a formação inicial das
descritiva está interessada em desenredar e
pesquisadoras do presente artigo, bem
observar fenômenos, com o intuito de
como reforça a identidades desta para com
descrevê-los, classificá-los e interpretá-los
seus processos de formação.
(RUDIO, 2003, p. 71)
De acordo com Severino (2009, p.
123), “a pesquisa exploratória busca
4 METODOLOGIA
realizar um levantamento de informações
A
presente
aqui
sobre um determinado objeto, delimitando
qualitativa,
dessa forma, um campo de trabalho,
descritiva e exploratória. Oliveira (2010, p.
mapeando as condições de manifestação
59), afirma que “a pesquisa qualitativa
desse objeto”. Esse tipo de pesquisa
pode ser caracterizada como uma tentativa
objetiva dar uma explicação geral sobre
clara de explicar em profundidade o
determinado fato, através de levantamento
significado e as características do resultado
bibliográfico,
das informações obtidas sem a mensuração
documentos. Quanto
quantitativa
sistemático
caracterizada
é
de
do
pesquisa
tipo
características
ou
comportamento”. De acordo com Sílvio
leitura
da
e
análise
de
ao procedimento
revisão
bibliográfica
delineada nesta pesquisa, este se trata de,
Oliveira (1999, p. 117), “as abordagens
qualitativas
facilitam
descrever
a
complexidade de problemas e hipóteses,
bem como analisar a interpretação entre
variáveis,
compreender
e
classificar
determinados processos sociais”.
Sobre pesquisa descritiva, Gaio
(2008, p. 156) infere que o pesquisador
está interessado em conhecer a realidade,
sem num primeiro momento interferir para
modificá-la,
o
que
denota
uma
Uma modalidade de estudo e análise de
documentos de domínio científico tais
como livros, enciclopédias, periódicos,
ensaios críticos, dicionários e artigos
científicos. Pode-se afirmar que grande
parte de estudos exploratórios fazem
parte desse tipo de pesquisa e
apresentam como principal vantagem
um estudo direto em fontes científicas,
sem precisar recorrer diretamente aos
fatos/fenômenos de realidade empírica.
(OLIVEIRA, 2010, p. 69)
Em
metodologia
consonância
descrita
com
acima,
a
os
contribuição indireta, pois esse tipo de
procedimentos utilizados para a realização
pesquisa necessita não mais que os outros,
desta pesquisa, consistiu da análise de
porém de forma consciente e abrangente,
artigos publicados nas bases de dados
de que os dados sejam publicados para
Scientific
conscientização da população pesquisada
(SciELO), na Biblioteca Virtual em Saúde
Eletronic
Library
Online
(BVS) e na The Cochrane Library, bem
condutora para muitas vias nervosas que
como em livros, dissertações e teses. A
vão ou vêm do cérebro.
análise dos dados se deu a partir de
O sistema nervoso periférico é
reflexões críticas sobre o material obtido e
formado
por
uma
rede
de
nervos
elaboração de sínteses correlatas ao tema.
ramificados de grande extensão. Os nervos
periféricos apresentam grande número de
5 REFERENCIAL TEÓRICO: AS
BASES BIOLÓGICAS DO MEDO UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA
LITERATURA
feixes de fibras nervosas, as aferentes e as
eferentes. “Alguns dos nervos periféricos
têm origem diretamente na parte basal do
próprio encéfalo e inervam, em sua maior
5.1 O Sistema Nervoso
parte, a
cabeça;
formam os
nervos
cranianos”. (GUYTON, 1998, p.99).
O Sistema Nervoso é constituído
por três divisões principais: o eixo
sensorial, motor e o integrador. A unidade
básica do Sistema Nervoso é a sinapse,
onde os sinais são transmitidos das fibrilas
terminais de um neurônio para a célula
neural seguinte. O Sistema Nervoso é
dividido anatomicamente em duas partes,
sistema nervoso central e sistema nervoso
periférico.
O
Os nervos periféricos que não
apresentam características de cranianos são
classificados como periféricos onde saem
da medula espinhal por meio do forame
intervertebral.
O tecido nervoso é constituído por
dois tipos de células, os neurônios, células
de maior calibre e massa relativamente
alta. São as principais células do Sistema
Nervoso. Segundo a literatura, existem
encéfalo
é
o
principal
constituinte do sistema nervoso, é o local
onde são guardadas as memórias, onde são
elaborados os pensamentos e emoções.
Para a realização dessas funções, o próprio
encéfalo se subdivide em subáreas no
sistema nervoso central.
Além do encéfalo, o sistema
nervoso central também é constituído pela
medula espinhal. Esta exerce muitas
funções, dentre elas destaca-se a função de
cerca de 100 bilhões de neurônios em todo
o sistema nervoso central.
O outro tipo de célula nervosa são
as células da Glia, que têm função de
conferir a manutenção necessária aos
neurônios. Elas mantêm os neurônios em
suas respectivas posições e evitam que
ocorram falhas quanto à transmissão dos
sinais nervosos.
Dentro
do
Sistema
Nervoso
Central, encontra-se um conjunto de
estruturas específicas que juntas formam o
Sistema Límbico, que é responsável pela
mais especificamente com cada emoção
regulação
existente no perfil de estudo em análise do
das
emoções
e
de
suas
fisiologias.
comportamento.
As manifestações fisiológicas das
5.2 Uma Teoria Biológica das Emoções
emoções podem ser classificadas de duas
maneiras, viscerais, quando são específicas
Os
primeiros
estudos
sobre
para
cada
tipo
de
emoção
e
ansiedade foram notificados em 1892,
condicionamento pessoal. As somáticas
onde um estudioso chamado Goltz observa
são
o comportamento de cachorros, após
involuntárias,
pode
algumas alterações no sistema nervoso
incondicionais
ou
destes.
comportamento emocional, vários aspectos
Alguns
comportamento
outros
estudiosos
relacionam
do
algumas
são
aquelas
comportamentais,
observados:
ser
reflexos
condicionais.
cognição,
que
No
é
a
central
percepção consciente das sensações, afeto,
diretamente com o transtorno de ansiedade.
percepção de si e dos outros, motivação, ou
Assumpção
observar
seja, o desejo de agir e as expressões que
modificações emocionais em animais que
ocorrem a nível de alterações somáticas e
tiveram lesões de hipocampo afirma que:
viscerais.
regiões
do
sistema
Junior,
nervoso
após
As
O giro do cíngulo, como área cortical, é
responsável pela experiência emocional,
podendo ser ativada tanto pelo neocórtex
quanto por estruturas inferiores, como o
hipotálamo. Assim, a atividade mental
gerada pelo neocórtex é transmitida ao
hipocampo e, em seguida, ao
hipotálamo. O corpo mamilar do
hipotálamo ativa os núcleos talâmicos
anteriores, que transmitem a informação
ao giro do cíngulo. Estímulos sensitivos
externos chegam ao hipotálamo através
do tálamo ventral, sem a necessidade de
ser
processado
pelo
neocórtex.
(ASSUNÇÃO JUNIOR, 2008).
Hoje mais que nunca tem-se
comprovado
funcionamento
a
relação
do
direta
Sistema
do
Nervoso
Central com o comportamento humano,
alterações
somáticas
e
viscerais desencadeiam alguns fenômenos
fisiológicos, como, por exemplo, quando o
medo (emoção) é desencadeado a partir do
reconhecimento do perigo (cognição), a
pressão sanguínea aumenta, há o debito
sanguíneo,
pulmonar,
aumento
redução
da
da
ventilação
motilidade
e
secreção intestinal e disponibilização de
energia.
Esta disponibilização de energia
acontece para que haja uma organização da
reação
obtida,
a
disponibilização
de
energia relaciona-se intrinsecamente com a
possibilidade de fuga em situações de
medo.
O hipotálamo juntamente com o
giro do cíngulo, neocórtex, giro do cíngulo,
tronco encefálico recebe os estímulos
hipocampo, hipotálamo e então se expressa
advindos do ambiente, por meio dos nervos
à emoção de maneira visceral.
sensitivos. Após a interpretação destes dois
Tal circuito foi desenvolvido pelo
componentes do Sistema Nervoso Central,
médico psiquiatra, Christofredo Jakob, um
ocorre a manifestação do comportamento
dos principais pesquisadores da Escola
de sobrevivência. Uma pessoa, ao avistar
Neurobiológica
uma serpente sente medo, esta emoção foi
circuito, chamado “Circuito de Papez”
desencadeada
informação
destaca um conjunto de estruturas nervosas
(serpente) foi levada ao Sistema Nervoso
situadas na região encefálica que juntas
Central
formam o Sistema Límbico, responsável
porque
pelos
a
nervos
sensitivos,
o
hipotálamo juntamente com o tronco
pelos
encefálico interpreta a informação e a
emoções.
Argentina-Alemã.
mecanismos
fisiológicos
O
das
relaciona ao estado de perigo. Logo, os
O medo nada mais é do que uma
nervos motores devolvem a reação que se
emoção causada por uma causa direta e
manifestará
objetiva. Esta causa é conhecida, como por
de
maneira
somática
e
visceral.
exemplo, o medo da morte. De tal forma, o
Os
sistemas
motivacionais
medo
encaixa-se
nos
parâmetros
da
conferem aos organismos uma eficácia
ansiedade, mas de maneira subjetiva, uma
quanto a situações de urgência. Esse
vez que esta é uma emoção decorrente
sistema fisiológico do medo, no entanto,
onde o sujeito não conhece o motivo real
não acontecia do mesmo modo nos
do seu medo. Por exemplo, o medo de
ancestrais do ser humano, uma vez que o
morrer apesar de não saber quando.
nível
de
racionalização
destes
se
O medo então é uma interferência
apresentava de maneira bem inferior,
no bem estar, na integridade física e
quanto comparado ao homem moderno
mental. Quando há ameaças ao organismo,
(NISHIDA, 2011).
este desencadeia reações comportamentais,
O primeiro Circuito Neural das
Emoções foi desenvolvido levando em
neurovegetativas,
associadas a sentimento de medo.
conta as regiões corticais e subcorticais do
Os
Sistema Nervoso. O estímulo sensorial
causadores
trazido
classificados
pelos
nervos
sensitivos
é
neuroendócrinas
estímulos
do
medo
de
ambientais
podem
duas
quando
não
ser
formas:
interpretado pelo hipotálamo iniciando
incondicionados,
há
a
assim, o ciclo: hipotálamo, tálamo anterior,
pretensão de causar medo, são na maioria
das vezes naturais, sons intensos, altura,
escuridão,
são
alguns
deles.
O hipocampo é uma estrutura
Outros
localizada nos lobos temporais do cérebro
estímulos como ir ao dentista ou ao
humano, ressaltado por muitos autores
médico, medo de cachorro, gato barata,
como a principal sede da memória. O
etc. são classificados como condicionais,
nome hipocampo quer dizer “cavalo-
pois são capazes de serem evitados.
marinho” por conta de sua aparência
anatômica. (GUYTON, 1998).
Do
5.3 A Neurobiologia do Medo
hipocampo,
o
estimulo
aversivo consciente segue finalmente para
Um dos primeiros mecanismos do
a amigdala, mais especificamente para
Sistema Nervoso a atuar no sistema
região do núcleo lateral. Do núcleo lateral,
biológico do medo é a Amigdala. Esta
este estímulo aversivo subdivide-se em
pequena porção do cérebro está envolvida
três, onde serão captados por outras três
na percepção do medo, como um alerta ao
regiões distintas da amigdala: núcleo baso
organismo. Relaciona-se também a estados
lateral, núcleo acessório basal e núcleo
críticos de ansiedades.
central.
O
A lesão bilateral da amigdala é
núcleo
central
recebe
a
responsável por mudanças emocionais, tais
interpretação advinda do b. lateral e do n.
como o simples fato de ignorar expressões
acessório basal. O núcleo central responde
de medo e de ira nas outras pessoas. Esta
o estímulo aversivo de três maneiras:
resposta advinda do Sistema Nervoso
comportamento emocional (expressão de
Central parte diretamente da bilateralidade
medo), resposta automática (geralmente
da amigdala.
comportamento de defesa) e resposta
A amigdala recebe aferências de
todo o neocórtex, do giro do cíngulo e do
endócrina (um exemplo claro é a descarga
de adrenalina).
o
Quando o estímulo aversivo chega
estimulo ambiental captado pelos nervos
ao hipotálamo, este libera CRH (hormônio
sensitivos, chega ao tálamo, desta parte da
libertador
percepção se direciona a amigdala, esta é
hormônio atua diretamente no córtex
denominada de estímulo subconsciente. A
adrenal,
outra parte, percepção consciente
se
Anatomicamente as glândulas suprarrenais
direciona ao córtex sensorial e segue para o
apresentam uma camada mais superficial
hipocampo.
mais periférica, chamada de cortisol. O
hipocampo.
Seguindo
um
roteiro,
da
corticotrofina).
(glândulas
Este
suprarrenais).
cortisol contribui para na disponibilização
de energia.
No contexto da Neurobiologia,
afirmam Batista e Magalhães (2010, p.570)
Esse processo hormonal acontece
que,
a nível de Sistema Nervoso Autônomo
Simpático. Após passar pelo cortisol, o
CRH atua na medula adrenal, região mais
interiorana das glândulas adrenais onde
haverá a liberação de catecolaminas.
As catecolaminas são compostos
químicos que circulam no sangue, ligadas
às
proteínas
catecolaminas
plasmáticas.
sustentam
a
Estes
atividade
simpática no Sistema Nervoso. Dessa
forma, há a expressão de medo.
Nesse sentido a Neurobiologia
associa o medo a objetos ou situações
específicas. Sendo assim, o medo pode ser,
numa perspectiva fisiológica, a preparação
do organismo a agir rapidamente a uma
situação de perigo, ativado como um
O medo é uma emoção associada ao
perigo, em que a consciência está
centrada na ameaça. A intensidade do
medo depende se a ameaça é imediata
ou está pendente. Tem como função a
defesa, pois obriga a uma reação do
indivíduo aos perigos. Observam-se
reações fisiológicas despoletadas pela
segregação da adrenalina, como
aceleração cardíaca, dilatação das
pupilas e aumento de produção de
açúcar no sangue. Uma das respostas ao
medo é a cólera associada ao objeto que
ameaça daí poder alternar-se o
sentimento medo com o sentimento
cólera. A emoção medo pode identificarse através de alguns movimentos faciais:
a elevação da pálpebra superior; o
queixo descaído; a abertura da boca de
um modo horizontal; a elevação e
junção
das
sobrancelhas.
A
agressividade e o medo estão em relação
direta com o sistema límbico e
correspondem a respostas primitivas de
sobrevivência, mesmo que sejam
modificadas pelo contexto cultural.
mecanismo de sobrevivência, podendo
estar associado a outras emoções como a
Assim, as diferenças poderão ser
angústia, a ansiedade, evoluindo para
observadas
situações de terror, pavor e fobias (Dias,
associadas à situação real de medo, ou à
2007; Ekman, 2004; Freitas-Magalhães,
ausência das mesmas, numa vivência
2007).
cognitiva de medo. O medo poderá, por
Assim, a
nas
respostas
fisiológicas
reação ao medo é
vezes, estar relacionado com uma distorção
geralmente acompanhada pelos indicadores
do processo cognitivo da informação
fisiológicos citados acima, sendo que estes
(KINDT et al., 1997). Para Batista &
se manifestaram de acordo com o seu grau
Magalhães (2010, p.570), “o medo é uma
de intensidade e resultará na tomada de
consciência real ou imaginária de uma
ameaça.(BATISTA
2010).
&
MAGALHÃES,
das emoções mais estudadas, por ser uma
emoção cognitivo-reativa, associada a
mecanismos de sobrevivência”.
reconhecer objetos ou animais que antes
lhe
causavam
medo,
e
tendência
hipersexual.
5.4 A teoria de funcionalidade do
5.5 As Conexões do Sistema Límbico e
Sistema Límbico
suas interfaces com as emoções
Dentre as principais funções do
Os
componentes
do
Sistema
Sistema Límbico, destaca-se a regulação
Límbico realizam entre si inúmeros tipos
dos processos emocionais. Essa função
de
relaciona-se
a
complexidade, sendo a mais destacada o
regulação do Sistema Nervos Autônomo e
circuito de papez. Este circuito consiste
com os processos motivacionais essenciais
num importante mecanismo das emoções,
à sobrevivência da espécie e do indivíduo
sendo suas ligações denominadas de
como a sensação de fome, sede, sexo e etc.
conexões intrínsecas.
fisiologicamente
Alguns
componentes
com
comunicações,
de
mais
alta
límbicos
Já conexões que permeiam todo o
também atuam no mecanismo da memória,
Sistema Nervoso e depois penetram o
bem como na regulação do Sistema
Sistema Límbico são denominadas de
Endócrino. Segundo Trevisol - Bittencourt
conexões extrínsecas aferentes. Neste tipo
e Troiano (2000), alterações significativas
de conexão é possível observar estruturas
nos componentes do Sistema Límbico
sensoriais visuais, auditivas, olfatórias ou
podem afetar diretamente nas emoções de
somestésicas transfixando-se diretamente
indivíduos como no caso da identificação
no Sistema Límbico.
da Síndrome de Kluver e Bucy.
O
Um experimento que consistiu na
componente
periférico
e
expressivo dos processos emocionais é
realização de uma ablação bilateral na
regulado
parte anterior dos lobos temporais em
eferentes, ou seja, são conexões que se
macacos Rhesus, lesionando estruturas do
fazem através de fibras como o feixe
Sistema Límbico como hipocampo, gira
prosencefálico medial, fascículo, mamilo-
para-hipocampal
tegumentar e estria medular.
resultou
na
e
corpo
amigdaloide
apresentação
por
conexões
extrínsecas
de
comportamentos atípicos desses animais,
5.6
como
perspectiva do Sistema Límbico
domesticação
completa,
que
usualmente eram selvagens, agnosia visual,
ou seja, apresentaram incapacidade de
Contextualizando
o
medo
na
As reações emocionais de medo
Outro
componente
é
o
giro
para-
podem ser condicionadas por conta da alta
hipocampal, que se situa na face inferior
capacidade da amigdala de respondê-las
do lobo temporal. O hipocampo também é
através de um processo de aprendizagem
um
efetiva. A amigdala regula a expressão do
Límbico.
componente
medo diante de estímulos ambientais.
cortical
do
Sistema
Os componentes subcorticais são:
Um estímulo qualquer captado
corpo amigdabóide, que é um dos núcleos
pelo córtex aditivo, chega uma região
da base da amígdala. Está localizado
chamada córtex cerebral (amígdala) onde
próximo ao úncus. A área septal situa-se
há o “registro” da experiência emocional.
abaixo do corpo caloso, anteriormente a
Todos os estímulos de medo relaciona-se
lamina terminal e à comissura anterior. A
intrinsecamente com o Sistema Límbico,
área septal tem conexões extremamente
uma parte do Sistema Nervoso Central
amplas e complexas, apresentando ainda
responsável
projeções para a região do hipotálamo e da
diretamente
pelas
coordenações das emoções no ser humano.
formação reticular.
O Sistema Límbico tem a função
psíquica
de
avaliar
afetivamente
os
Ainda
componentes
classificam-se
subcorticais
os
como
núcleos
momentos da vida, realizando a integração
mamilares (hipotálamo), núcleos anteriores
dos
do
sistemas
nervoso,
endócrino
e
tálamo
(tálamo),
e
os
núcleos
imunológico. É importante destacar que a
habenulares. Estes últimos mantêm contato
qualidade da avaliação efetiva depende da
direto com o mesencéfalo.
experiência vivida e das normas culturais.
Apresentando a forma de um anel
cortical, o sistema límbico contorna as
5.7 Transtornos de ansiedade: o medo
como elemento desafiador às emoções
formações inter hemisféricas. Localiza-se
na face medial do hemisfério cerebral,
A perspectiva afetiva na vida
contornando o corpo caloso. É composto,
psíquica é o principal fator influente em
de uma maneira mais abrangente por dois
todos os processos vitais, contribuindo de
componentes: corticais e subcorticais.
forma
considerada
nos
mecanismos
Os componentes corticais são:
referentes à formação da conduta, assim
giro do cíngulo, contornando o corpo
como nas reações individuais. O ser
caloso e realizando íntima ligação ao giro
humano é de natureza um ser social
para-hipocampal,
altamente sujeito ao inter-relacionamento,
por
uma
região
denominada íntimo do giro do cíngulo.
onde é possível encontrar correlações da
O Medo também é bastante
vida psíquica em todos os processos
característico de estados de ansiedade.
ligados à afetividade.
Medo por exemplo de que o paciente ou
O sentimento de felicidade, por
algum parente morrerá brevemente, sofrer
exemplo, não consiste em um simples
ou adoecer ou medo que acontece algo
aspecto
inesperado consigo são frequentemente
da
ansiedade,
mas
“numa
constante insistência de que falta algo
expressados,
paralelamente a se constituir em algo
diversidade de outras preocupações e
inerente
pressentimentos.
ao
próprio
existir
humano”
(FREUD, 1973).
Os
O
transtornos
ansiosos
descrito
acompanhados
quadro
com
mais
clínico
de
uma
ansioso
pontualidade
é
por
encontram-se ligados a mecanismos de
Bernick (1997), que inclui manifestações
sobrevivência, defesa territorial, seleção de
cognitivas, somáticas, comportamentais e
companheiro e até mesmo mecanismos de
emocionais. As manifestações cognitivas
ataque-defesa. A ansiedade se caracteriza
relacionam-se a fenômenos psíquicos no
na maior parte das vezes como aspectos
estado ansioso onde conferem apreensão e
cotidianos e comuns. Para a Medicina, no
inquietação, o indivíduo afetado pode ser
entanto, a vivência comum apresenta-se
tomado pelo medo de morte, loucura,
fator
vergonha ou de até mesmo de se
determinante
em
processos
diagnósticos desse tipo de psicopatologia
(ASSUMPÇÃO JÚNIOR, 2008).
descontrolar.
As
manifestações
somáticas
O estado de ansiedade é definido
(biológicas) de ansiedade são diversas,
como as manifestações físicas e mentais da
variando desde dificuldade de engolir,
ansiedade que não podem ser atribuídas a
calafrios, boca seca, ou ainda em quadros
um perigo real. De acordo com a
mais específicos taquicardia, taquipnéia,
Classificação de Transtornos Mentais e de
dispneia, sudorese e hiperventilação. As
comportamento
(CID-10,
1993),
os
funções psíquicas a afetividade é a mais
transtornos
ansiedade
apresentam
ligada ao corpo, mas devem-se levar em
variação nos tipos de sintomas, mas que
conta os parâmetros fisiológicos de cada
queixas de sentimentos contínuos de
indivíduo.
de
nervosismos, tensão muscular, tremores,
sensação de cabeça leve, palpitações,
sudorese,
palpitações
desconforto
epigástrico e tonturas são comuns.
Janeiro: Guanabara Koogan S.A. p. 134137. 2008.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A psicologia tem ganhado cada
vez mais espaço nos estudos sobre as bases
biológicas do medo na medida em que
busca
contribuir
com
espaços
investigativos para o desvendamento da
BERNICK, V.Stress: the silent killer.
Revista Eletrônica Cérebro e Mente, n 3,
set./nov.,
1997.
Dísponível
em:
<http://www.epub.org.br/cm/no3/doenças/
stress.htm>. Acesso em: 1 nov. 2012.
CID-10: Classificação de Transtornos
Mentais e de comportamento da CID-10:
Descrições
Clínicas
e
Diretrizes
Diagnósticas – Coord. Organização
Mundial da Saúde; tradução Dorgival
Caetano – Porto Alegre: Artmed, 1993.
mesma, porém, por motivos de estudos
reduzidos,
ainda
nos
limitamos
ao
desenvolvimento da Fisiologia, Neurologia
e a crescente evolução dos estudos
Psicobiológicos, para assim discutirmos
significativamente na condução de uma
DIAS, F.N. O Medo Social e os
Vigilantes da Ordem Social. Instituto
Piaget: Impress4, LDA, 2007.
DSM-IV-TR. Manual diagnóstico e
estatístico de transtornos mentais.
Tradução Cláudia Dornelles. Artmed, 4ª
edição. Porto Alegre-RS, 2002.
etiologia mais específica, possibilidades de
intervenções
em
casos
específicos
e
prevenção de ocorrências.
No entanto buscamos com a ajuda
das ciências citadas anteriormente, delinear
uma prática psicológica mais globalizada e
EKMAN,
P.
Emotions
Revealed.Understanding Faces and
Feelings.Phoenix, London, 2004.
FREITAS-MAGALHÃES,
A.
A
psicologia das emoções: O fascínio do
rosto
humano.
Porto:
Edições
Universidade Fernando Pessoa, 2007.
contextualizada que possa dar conta do
entendimento,
identificação,
reconhecimento
das
emoções
e
dos
circuitos neurológicos adjacentes, para as
intervenções
no
âmbito
das
práticas
psicológicas.
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