Ministério da Saúde Fundação Osvaldo Cruz Escola Nacional de Saúde Pública Universidade Federal do Pará Mortalidade por Câncer Gástrico e Hábito Alimentar no Estado do Pará 1980-- 1997 Ana Lúcia da Silva Rezende Dissertação apresentada com vistas à obtenção do título de Mestre em Ciências na área de Saúde Pública. Orientadores: Inês E. Mattos Sergio Koifman Belém – 2002 Agradeço Aos meus orientadores, Profª Inês Echenique Mattos e Prof. Sérgio Koifman pela paciência, profissionalismo e pelos seres humanos que são, pois entenderam todas as minhas dificuldades durante a construção do trabalho. A todos os professores que fizeram parte deste curso, especialmente a professora Rosalina Jorge Koifman. A Profª Rosa Dias, amiga e companheira, que me incentivou na minha capacidade de superar os obstáculos. A minha mãe Carmelina Silva Rezende, pois nos momentos difíceis pelos quais passamos, sempre me estimulou. Aos meus familiares e amigos pelo apoio substancial e pelo carinho que me deram sustentação nos piores momentos dessa jornada. ii SUMÁRIO ÍNDICE DE TABELAS iv ÍNDICE DE GRÁFICOS iv ÍNDICE DE QUADROS v RESUMO vi ABSTRACT vii INTRODUÇÃO 1 Dieta e Câncer Gástrico: Aspectos Históricos Associados Ao Padrão De Consumo Alimentar no Estado do Pará - Brasil 17 JUSTIFICATIVA 26 OBJETIVOS 27 MATERIAL E MÉTODOS 28 RESULTADOS 30 DISCUSSÃO 42 CONCLUSÃO 47 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 48 ANEXO 1 54 iii ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1: Distribuição dos óbitos por câncer gástrico segundo variáveis selecionadas das declarações de óbitos – Pará, 1980 – 1997. 31 Tabela 2: Taxas padronizadas de mortalidade por câncer de estômago por 100.000 habitantes segundo sexo e razões homem / mulher no Estado do Pará no período de 1980 1997. 33 Tabela 3: Taxas de mortalidade por câncer gástrico por 100.000 habitantes segundo faixa etária no Estado do Pará, no período de 1980 – 1997. 34 Tabela 4: Percentual médio anual de variação das taxas de mortalidade por câncer gástrico segundo sexo no Estado do Pará no período de 1980 – 1997. 34 Tabela 5: Percentual médio anual de variação das taxas de mortalidade por câncer gástrico segundo faixa etária no Estado do Pará no período de 1980 – 1997. 35 Tabela 6: Taxas padronizadas de mortalidade por câncer gástrico por 100.000 habitantes segundo sexo e razões homem / mulher, em Belém no período de 1980 – 1997. 36 Tabela 7: Taxas de mortalidade por câncer gástrico por 100.000 habitantes segundo faixa etária em Belém, no período de 1980 – 1997. 37 Tabela 8: Percentual médio anual de variação das taxas de mortalidade por câncer gástrico segundo sexo em Belém no período de 1980 – 1997. 37 Tabela 9: Percentual médio anual de variação das taxas de mortalidade por câncer gástrico segundo faixa etária em Belém, no período de 1980 –1997. 38 Tabela 10: Taxas padronizadas de mortalidade por câncer gástrico por 100.000 habitantes em capitais brasileiras selecionadas, no período de 1980 –1997. 39 ÍNDICE DE GRÁFICOS Figura 1: Taxas padronizadas de mortalidade por câncer de estômago por 100.000 habitantes no Estado do Pará, na capital e no interior, no período de 1980 – 1997. 32 Figura 2: Taxas padronizadas de mortalidade por câncer de estômago por 100.000 habitantes no sexo masculino, em Belém e capitais brasileiras selecionadas no período de 1980 – 1997. 40 Figura 3: Taxas padronizadas de mortalidade por câncer de estômago por 100.000 habitantes no sexo feminino, em Belém e capitais brasileiras selecionadas no período de 1980 – 1997. 41 iv ÍNDICE DE QUADROS Quadro 1: Distribuição do volume de produção dos produtos da dieta de maior consumo, Pará, 1956-65. 19 Quadro 2: Produção de frutas no Estado do Pará , 1974-76 20 v RESUMO O câncer gástrico vem apresentando uma diminuição da incidência e da mortalidade em vários países, inclusive no Brasil. Entretanto, ele ainda se constitui em um importante problema de saúde pública, especialmente no Estado do Pará, onde as taxas de mortalidade apresentam valores acima da média brasileira. Alguns dos principais fatores de risco para câncer de estômago evidenciados na literatura estão relacionados à dieta. Esse trabalho teve como objetivo analisar os padrões de distribuição da mortalidade por câncer gástrico no Estado do Pará e em Belém, nas duas últimas décadas. Os dados de mortalidade foram obtidos no Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde e as informações populacionais, a partir dos dados do IBGE. Foram calculadas taxas de mortalidade por câncer gástrico para o conjunto da população e segundo sexo, ajustadas por idade, para cada triênio no período 1980-97, para o Estado do Pará e para Belém, sendo determinada, também, a variação anual média das taxas no período de estudo. As taxas padronizadas de mortalidade por neoplasia de estômago, em Belém, apresentaram magnitudes bastante elevadas (27,16 a 15,84/100.000), comparativamente a outras capitais brasileiras e países. A magnitude das taxas do sexo masculino foi bastante superior do que a das mulheres, sendo que, em Belém, a razão homem/mulher manteve-se próxima a 3,0 em todos os períodos analisados, com exceção do período 1995-97. No Estado do Pará, se observa uma tendência de queda das taxas de mortalidade em ambos os sexos, mais marcante no sexo masculino, no período de estudo. Em Belém, também se configura uma tendência de declínio em todas as faixas etárias, com um percentual médio anual de redução de 2,73%. Apesar do declínio observado, a mortalidade por câncer de estômago em Belém, no final da série (1995-97) era ainda superior às taxas de mortalidade existentes, em 198082, em algumas capitais de Estados da federação. vi ABSTRACT Gastric cancer incidence and mortality have been declining in many countries, including Brazil. Nevertheless, it still constitutes an important public health problem in our country, particularly in the state of Pará where mortality rates present values over the Brazilian rates average. According to the literature, some important risk factors for stomach cancer are related to diet. Although accurate information about the diet patterns of the population of Pará is not available, it is known that various of these food items are consumed with great frequency in the State. The aim of this study was to analyze the patterns of gastric cancer mortality in Pará state and Belém, in the last two decades. Mortality data were obtained through Brazil’s Mortality Information System and population data came from the Brazilian Institute of geography and Statistics (IBGE). Age standardized mortality rates were calculated for the whole population and by sex, for every triennium in the period 1980-97 for Pará state and Belém. The average annual variation of the rates in the study period was also calculated. In comparison with other state Capitals and countries, standardized mortality rates for stomach cancer in Belém were elevated (27,16 a 15,84/100.000) during all the study period. Rates in men were higher than for women with a ratio of 3,0 in Belém, in all study periods, except 1995-97. During the study period, it was observed a decline trend in the mortality rates of both sexes, although more prominent in men, for the state of Pará. In Belém, it was also seen a decline trend, in all age groups, with an average annual percent reduction of 2,73%. In spite of this observed trend, gastric cancer mortality rates in Belém at the last period of the series (1995-97) was still higher than those exhibited by some of the other state Capitals in 198082. vii 1 - INTRODUÇÃO O câncer gástrico, uma das neoplasias mais freqüentes na população mundial, vem apresentando, nos últimos anos, uma diminuição da incidência e da mortalidade em vários países. No Brasil, esta neoplasia ainda se constitui em uma importante causa de morbimortalidade. A taxa de mortalidade por câncer de estômago no Brasil, para 1996, foi de 6,69/100.000 habitantes e, para 1997, de 6,68/100.000 habitantes, com base em dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde. Em Belém, capital do Estado, essas taxas foram, respectivamente, 12,50/100.000 habitantes e 10,95/100.000 habitantes (Ministério da Saúde/SIM, 1999). Entre as neoplasias, o câncer de estômago foi a primeira causa de morte no Estado do Pará em 1996 e 1997, correspondendo, respectivamente, a 16,1% e a 14,2% dos óbitos. No sexo masculino, esse tumor respondeu por 20,3% dos óbitos por neoplasias naquele Estado, em 1996, se constituindo na primeira causa de morte, e por 17,5%, no ano seguinte, ocupando a segunda posição, logo atrás do câncer de pulmão. Entre as mulheres, a neoplasia gástrica foi a segunda causa de morte por câncer, tanto em 1996 como em 1997, sendo responsável, respectivamente, por 11,9% e 10,7% dos óbitos (Ministério da Saúde/SIM, 1999). Os tumores de estômago se desenvolvem a partir de lesões da mucosa gástrica, originadas pela ação de diferentes fatores de risco. O processo de transformação da mucosa gástrica ocorreria a longo prazo, indicando que alguns desses fatores poderiam atuar desde a mais tenra idade e por um período de tempo bastante longo (Abreu,1997). Alguns dos principais fatores de risco para câncer de estômago evidenciados a partir de estudos epidemiológicos, em várias populações do mundo, estão relacionados à dieta. Fatores como o consumo elevado de sal, de nitratos e de nitritos, já estão firmemente estabelecidos, enquanto outros, como o consumo de carboidratos, têm sido mencionados, em alguns estudos, como possíveis agentes participantes do processo de carcinogênese gástrica (Britto,1997). 1 Embora dados precisos sobre o perfil alimentar dos habitantes do estado do Pará não estejam disponíveis, sabe-se, de maneira empírica, que vários alimentos relacionados à carcinogênese gástrica são consumidos, de maneira expressiva, pela sua população. Este trabalho pretende analisar os padrões de mortalidade por câncer gástrico no Estado do Pará, na duas últimas décadas, procurando explorar possíveis interrelações entre o padrão de consumo alimentar e a distribuição da doença. 2 1.2 - REVISÃO DA LITERATURA Cerca de 85% dos tumores gástricos são adenocarcinomas. Os adenocarcinomas podem ser classificados em dois tipos histológicos distintos - intestinal e difuso – segundo a classificação de Lauren (Karpeh et al, 2001). O tipo intestinal, se caracteriza pela presença de lesões ulcerativas, sendo mais comum no antro e na pequena curvatura, apresentando período de latência longo e uma fase pré-clínica prolongada. Esse tipo histológico é mais freqüente em áreas de alto risco para câncer de estômago, sendo mais comum nos homens do que nas mulheres e mais freqüente em populações mais velhas, enquanto o tipo difuso atinge indivíduos mais jovens, é mais freqüente em áreas de baixo risco, tem evolução mais rápida e se caracteriza por infiltrar a parede do estômago, atingindo, inclusive, o cárdia e diminuindo a sua capacidade de distensão (Cotran et al, 2000; Mayer, 2001). Marigo e colaboradores (1997) revisaram os preparados histológicos de 650 casos de câncer de estômago de um hospital geral em São Paulo, cobrindo um período de 30 anos, com o objetivo de verificar qual o tipo histológico mais prevalente segundo a classificação de Lauren. Os resultados mostraram que o tipo intestinal era prevalente desde a década de 50 e apresentou uma freqüência relativa crescente, atingindo 62,6% do total de carcinomas gástricos analisados em 1983/1984. Os autores apontam uma aparente contradição entre esses achados e o decréscimo observado nas taxas de mortalidade por essa neoplasia no estado de São Paulo, no mesmo período, lembrando, entretanto que cerca de 43% dos indivíduos estudados eram oriundos de outros estados, o que poderia modificar a representatividade da amostra no que se refere a possíveis fatores de risco ambientais. Em estudo similar, realizado em uma amostra aleatória de todos os pacientes diagnosticados com neoplasia de estômago em um hospital de referência para câncer no Rio de Janeiro, no período 180-85, Abib e co-autores (1997) observaram um declínio das proporções de câncer gástrico de tipo intestinal em indivíduos de 60 ou mais anos de idade, de ambos os sexos. Em um estudo realizado por Brumun (1982), foi verificado, tanto nos Estados Unidos como em países da Europa, uma elevação estatisticamente significativa da ocorrência de câncer gástrico na região proximal do estômago e na junção esofago-gástrica, 3 enquanto a localização na porção distal (corpo e antro) apresentava um discreto declínio ou não se alterava. Segundo os autores, esses resultados poderiam indicar que os adenocarcinomas da região proximal e da junção esofago-gástrica têm patogênese comum, a qual, provavelmente, é diferente daquela do câncer distal do estômago. Quanto ao aspecto clínico, o câncer gástrico se caracteriza por completa ausência de sintomas em sua fase inicial, quando ainda é cirurgicamente curável. Indivíduos com tumores mais extensos podem apresentar desconforto epigástrico, sensação de plenitude pós-prandial, dor persistente, anorexia, emagrecimento, anemia ferropriva por perda de sangue, náuseas e vômitos ( estes últimos mais comum em tumores pilóricos). Podem ocorrer metástases em órgãos abdominais ou em linfonodos regionais e supraclaviculares. O principal órgão-alvo para a metástase é o fígado, ocasionando icterícia e aumento do tamanho e da consistência do mesmo (Moraes & Souza Filho,1996). O método terapêutico utilizado ainda é o cirúrgico, sendo mais usual a gastrectomia subtotal para os tumores de porção distal. O uso de radioterapia ou de quimioterapia, associado à cirurgia, tem pouco impacto na sobrevida. O prognóstico é dado pelo estadiamento do tumor, isto é, pelo grau de invasão da parede e dos vasos do órgão, pelo envolvimento de órgãos abdominais, de linfonodos regionais e pelas características do tumor, sendo que, apenas 15% dos pacientes com invasão de parede e de linfonodos regionais têm sobrevida de 5 anos (Moraes & Souza Filho, 1996). EPIDEMIOLOGIA DO CÂNCER GÁSTRICO O câncer de estômago ainda permanece o tumor mais freqüente no mundo, respondendo por cerca de 10,2% de todas as neoplasias e as taxas do sexo masculino são aproximadamente duas vezes maiores do que as das mulheres, tanto em países de alto como de baixo risco. Essa razão não é constante nos diferentes grupos de idade, sendo próxima da unidade abaixo dos 30 anos e aumentando para cerca de 2,2 ao redor dos 60 anos (Parkin et al, 1993). Taxas de incidência muito altas foram registradas para os homens no Japão (taxas em torno de 85/100.000), porém taxas comparáveis têm sido descritas em alguns países que formavam a antiga União Soviética. Nos países da Europa ocidental as taxas de 4 incidência se situam entre 20 e 30/100.000. Taxas razoavelmente altas tem sido relatadas para alguns localidades da América Latina (Cali, Colombia 36,3/100.000 e Porto Alegre, Brasil, 33,8/100.000) (Muir & Nectoux, 1996). Coleman e colaboradores (1993) analisaram a incidência e a mortalidade por câncer de estômago em diferentes países do mundo, no período 1965-1985. Na Europa, ao compararem as taxas de mortalidade, na faixa de 35 a 64 anos, nos países membros da Comunidade Européia CE) e de outros países do continente, os autores evidenciaram que os primeiros apresentavam taxas com magnitudes mais baixas do que as daqueles que não eram membros da CE. Em 1965, as taxas de mortalidade por câncer de estômago para o sexo masculino situavam-se entre 44,7 na Noruega e 85,7/100.000 na Polônia e, para as mulheres, nos mesmos países, esses valores correspondiam a 20,0 e 49,8/100.000, respectivamente. Nesse mesmo ano, na CE , a magnitude das taxas de mortalidade, para o sexo masculino, encontrava-se entre 28,4/100.000 na Grécia e 37,3 na França. Para o sexo feminino, estes valores correspondiam a 16,0 (França) e 17,1/100.000 (Dinamarca e Grécia). Os autores verificaram, para a série estudada, a ocorrência de um declínio da mortalidade em praticamente todos os países analisados, porém com padrões de decréscimo diferentes. A Iugoslávia, por exemplo, apresentou no último período analisado taxas similares às de outros países do leste europeu, enquanto, no início da série, apresentava valores duas vezes maiores. A Grécia apresentou um declínio mais lento da mortalidade, cedendo a posição de país com a menor taxa de mortalidade da Europa para a França e a Dinamarca, onde essa queda ocorreu de forma mais acentuada. Portugal apresentou um dos declínios mais lentos da Europa, sendo observadas, no período final da série, taxas de mortalidade quase duas vezes maiores do que as de qualquer outro país da CE, sendo similares às observadas na Polônia e na Hungria, assim como em outros países do leste europeu. Na antiga União Soviética, a mortalidade por câncer gástrico apresentou um declínio substancial no período dos anos 70, sendo esse padrão evidenciado para ambos os sexos e nos diferentes grupos de idade. Entretanto, em 1990, o câncer gástrico ainda era a segunda causa de morte por neoplasias, apresentando taxas de mortalidade que variavam entre 36,5/100.000 para homens e 15,9/100.000 para mulheres (La Vecchia et al, 1994a). 5 Aragones e co-autores (1997) analisaram a tendência da mortalidade por câncer de estômago na União Européia, no período 1968-1992, observando um declínio em todos os países estudados. A razão homem/mulher manteve-se próxima de 2,0, mas mostrou uma ligeira elevação ao longo do período. As maiores taxas ajustadas de mortalidade foram observadas em Portugal, tanto para homens como para mulheres (45,63 e 23,31 por 100.000, respectivamente). A razão das taxas nos dois países com valores mais extremos (Portugal e Dinamarca) excedeu 3,0. Os autores observaram importantes diferenças quantitativas nas tendências de declínio apresentadas pelos diferentes países. Os japoneses de ambos os sexos apresentavam as mais altas taxas de incidência de todas as populações estudadas, com magnitudes variando entre 135,9 e 72,1/100.000 para o sexo masculino e entre 69,5 e 33,6/100.000 no sexo feminino. Entretanto, com relação à mortalidade, o declínio observado no Japão é similar ao registrado nos países europeus, situando-se em torno de 20% a cada 5 anos (Coleman et al, 1993). Nos Estados Unidos, as taxas de mortalidade por câncer de estômago, padronizadas por idade, segundo a população americana de 1950, correspondiam, no sexo masculino, a 13,6/100.000 no período 1959-1961 e a 7,8, em 1973-1974; para o sexo feminino, estes valores eram, respectivamente, 6,9 e 3,7/100.000, mostrando um declínio significativo da mortalidade em ambos os sexos (Schottenfeld, 1981). Já no período 1987-1991, as seguintes taxas de mortalidade por câncer de estômago, padronizadas pela população americana de 1970, foram observadas nos Estados Unidos: 4,3/100.000 (taxa global); 6,5 (sexo masculino) e 2,8 (sexo feminino), evidenciando a continuidade desse declínio. A neoplasia de estômago foi duas vezes mais freqüente entre os homens do que entre mulheres (11,6 e 5,0/100.000, respectivamente). (Ries et al, 1996). Em relatório da American Cancer Society, sobre a incidência e mortalidade por câncer nos Estados Unidos, no período 1990-1995, as taxas de mortalidade por neoplasia de estômago foram de 3,9/100.000 em indivíduos da raça branca, 8,5 na raça negra e 6,0 em hispânicos, sendo 8,6 em asiáticos e moradores das ilhas do Pacífico (Wingo et al, 1998). Segundo Coleman e co-autores (1993), a incidência e mortalidade por câncer gástrico nos países da América submetidos à análise está estável ou em declínio. Na América do Norte, a mortalidade é um pouco mais alta no Canadá do que nos Estados Unidos, variando entre 30,1 e 8,4/100.000 no sexo masculino e entre 14,2 e 4,5/100.00 nas 6 mulheres, mas está apresentando redução, em todas as idades e em ambos os sexos, de cerca de 16% a 11% para um período de 5 anos. Os autores destacam que o declínio na mortalidade observado nesses dois países é muito mais rápido do que o verificado para a incidência, o que poderia estar refletindo uma atividade diagnóstica mais intensa, com mais amplo acesso à endoscopia e à biópsia de lesões menos agressivas ou , possivelmente, alguma melhora na sobrevida ou uma combinação de ambos. A incidência mais alta de câncer de estômago registrada por Coleman e colaboradores (1993) na América do Sul foi em Cali, na Colômbia (80/100.000 em homens e 40/100.000 em mulheres). A mortalidade por câncer gástrico no Chile e na Costa Rica era muito alta na década de 60, apresentando valores de cerca de 140/100.000 em homens e de 80/100.000 em mulheres, níveis similares aos observados no Japão, para o mesmo período. O declínio da mortalidade por câncer gástrico na América do Sul também foi similar ao observado em outras partes do mundo e as taxas se reduziram a cerca da metade até 1985, nos dois países mencionados. Os declínios observados na Venezuela e no Uruguai foram bastante similares. Em estudo sobre a mortalidade por neoplasias no estado de São Paulo, Pastorelo e Gotlieb (1978) observaram, para o período 1970-1972, taxas padronizadas de mortalidade para câncer de estômago que variaram, no sexo masculino, entre 21,56 e 15,40/100.000, respectivamente em Marília e São José do Rio Preto; para as mulheres, a taxa de mortalidade mais alta foi registrada também em Marília (11,11/100.000) e a menor, em Bauru (7,91/100.000). Na região metropolitana de São Paulo foram observadas, no mesmo período, taxas de 20,42/100.000 para os homens e de 9,54/100.000 para o sexo feminino. Para o Estado de São Paulo, esses valores corresponderam a 19,96 e 9,60/100.000, respectivamente para homens e mulheres. Os autores observaram razões homem/mulher em torno de 2,0. No Rio Grande do Sul, em 1979, o câncer de estômago registrava a segunda maior taxa padronizada de mortalidade por neoplasias no sexo masculino (20,63/100.000) e no sexo feminino (8,13/100.000). Em relação à incidência, essa localização anatômica apresentava, no mesmo ano, taxas de 28,37 e 13,83/100.000, respectivamente em homens e mulheres (Barcelos & Peccin, 1983). 7 Boschi Pinto e Coleman (1990) , estudando a mortalidade por câncer no Rio de Janeiro, destacam a importância da neoplasia de estômago como causa de óbito no estado, que, entre todas as localizações anatômicas, registrava, para ambos os sexos, a taxa de mortalidade padronizada mais elevada (13,4/100.000), situando-se na segunda posição, na análise isolada segundo sexo, com taxas de 24,0 (homens) e 13,4/100.000 (mulheres). Em uma análise dos diferenciais regionais de mortalidade por câncer no estado do Rio de Janeiro, Boschi Pinto e colaboradores (1991), observaram, para o período 19791981, taxas padronizadas de mortalidade por câncer de estômago de 22, 6 (capital), 23,2 (cinturão metropolitano) e 26,6/100.000 (interior) no sexo masculino e taxas de 10,5 (capital), 11,1 (cinturão metropolitano) e 11,0 (interior) no sexo feminino. Mendonça (1997), analisando a evolução da mortalidade por câncer de estômago no período 1979 a 1986, também no estado do Rio de Janeiro, observou, na região metropolitana, a ocorrência de um declínio 30,2% no sexo masculino e de 42,6% no sexo feminino; no interior, foram observadas reduções da ordem de 19,5% a 32,0%, respectivamente. Uma análise da mortalidade por câncer de estômago no Brasil, no período 19781989, realizada por Latorre (1997), evidenciou uma tendência de declínio da mortalidade nas capitais brasileiras, mais marcante nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste. Na região Norte, a cidade de Belém apresentava, em 1978, uma taxa de 27,8/100.000 e, em 1989, esse coeficiente era de 10,1/100.000, com uma tendência decrescente constante da mortalidade. Entre as capitais da região Nordeste, destacou-se Fortaleza, que apresentou taxas estáveis, no último período. Esse mesmo comportamento, foi observado para Brasília e Goiânia na região Centro-Oeste. Nas capitais das regiões Sudeste e Sul, a magnitude das taxas de mortalidade, no último ano da série, era similar, variando entre 8,5 e 4,2/100.000. Em estudo realizado em São Paulo, Reis (2001) observou que o câncer de estômago ocupava, em 1997, o segundo lugar na mortalidade por neoplasias na população daquele município, ficando na segunda posição para o sexo masculino e na quarta para o sexo feminino. 8 FATORES DE RISCO E DE PROTEÇÃO PARA O CÂNCER GÁSTRICO O uso de refrigeração, a partir do início deste século, permitiu que fossem consumidos alimentos melhor conservados e frescos, reduzindo a necessidade da utilização do salgamento como método de preservação dos alimentos. Essa mudança possivelmente contribuiu para o declínio da incidência do câncer gástrico, favorecendo o consumo de frutas e vegetais frescos (ricos em vitamina C e beta caroteno), que têm um efeito protetor para essa neoplasia (Abreu,1997). Fonseca (1995), ao descrever o declínio de 43% na mortalidade de câncer de estômago no estado de São Paulo, ocorrido entre as décadas de 70 e 90, assinala que a proporção de domicílios com geladeira, na década de 60, era de 11%, chegando a 70% em 1989. Esta hipótese é sugerida também por Howson e co-autores (1986) que, em amplo estudo de revisão, creditam o declínio progressivo das taxas de incidência desta neoplasia à mudança dos métodos de conservação de alimentos, especificamente a substituição do sal pela refrigeração. O estudo ecológico desenvolvido por Koifman e Koifman (1997), analisando as taxas de incidência de câncer de estômago em 5 cidades brasileiras, dá, também, suporte a essa constatação. Os autores, utilizando a análise por conglomerados, observaram que as taxas de incidência de Porto Alegre e Goiânia se aproximavam mais das de Fortaleza e Belém, do que das de Campinas, sugerindo que isso possa ser atribuído a maior disponibilidade de geladeiras entre a população pobre desta última cidade (em Campinas, a disponibilidade era duas vezes maior do que em Porto Alegre e Goiânia e três vezes maior do que em Fortaleza e Belém). Na Venezuela, em um estudo caso-controle realizado para avaliar fatores de risco para câncer de estômago, Munoz e co-autores (2001) observaram uma associação inversa entre uso de refrigerador nas duas primeiras décadas de vida e câncer gástrico. O câncer de estômago é uma doença bastante freqüente em grupos com baixo nível sócio-econômico (Parkin et al, 1993). Muir e Nectoux (1996), na Inglaterra e Gales, observam-se marcadas variações entre os valores observados para os grupos sócioeconômicos mais alto e mais baixo. 9 A condição sócio-econômica e sua possível relação com câncer gástrico foram analisados por van Loon e colaboradores (1998) em um estudo de coorte realizado na Holanda, utilizando a escolaridade como indicador. Após ajustamento por idade, o menor risco foi observado para os indivíduos com o mais alto grau de escolaridade (risco relativo (RR) 0,54; IC 95% 0,33-0,89); entretanto, essa associação se tornou mais fraca após ajustamento por tabagismo, ingestão de vitamina C e beta-caroteno, álcool e café, história familiar de câncer de estômago e história de doença gástrica. Reis (2001), analisando diferenças na mortalidade por neoplasias malignas em áreas do município de São Paulo, observou que as taxas de mortalidade por câncer gástrico são maiores nas áreas posicionadas em níveis mais baixos da escala sócio-econômica. Alguns autores sugerem que a relação entre fatores sócio- econômicos e desenvolvimento de câncer gástrico poderia estar representando a prevalência mais elevada de infecção por Helicobacter pylori nos grupos populacionais menos favorecidos. Hwang e co-autores (1994), analisando a prevalência desta infecção em diferentes países, evidenciaram que, enquanto nos Estados Unidos, somente cerca de 50% da população acima de 50 anos de idade apresenta-se infectada por H. pylori, nos países em desenvolvimento, virtualmente todos os indivíduos adultos estão infectados. Segundo Corrêa (1992), a infecção por H. pylori na infância poderia estar relacionada à maior prevalência de câncer gástrico. Nightingale e Gruber (1994) destacam que diversos estudos epidemiológicos têm, consistentemente, demonstrado uma associação entre a bactéria e o câncer gástrico. Entretanto, como a neoplasia só se desenvolve em um percentual relativamente pequeno de indivíduos em relação ao total de infectados, haveria necessidade de exposição a outros fatores de risco para o desenvolvimento da carcinogênese gástrica (Hwang et al 1994). O papel da H. pylori nesse processo ainda não está claramente definido, mas o estimulo à multiplicação celular e a atração de polimorfonucleares representam hipóteses em investigação (Barker et al., 1990; Patel et al., 1994). A grande ocorrência desse agente infeccioso, a falta de imunidade natural à reinfecção e a eficácia limitada da antibioticoterapia são importantes fatores que contribuem para sua importância como fator de risco, em populações com alta prevalência de câncer gástrico (Corrêa et al., 1992). 10 Um estudo ecológico analisou as relações entre prevalência de infecção por H. pylori e taxas de incidência e mortalidade por câncer gástrico em 17 populações de 13 países, escolhidas para refletir a variação global da incidência da neoplasia. Os autores observaram uma correlação estatisticamente significativa entre soroprevalência de H. pylori e as taxas de incidência e mortalidade daquele tumor em todas as populações investigadas (EUROGAST Study Group, 1993). Alguns fatores relacionados ao estilo de vida, como consumo de álcool e tabagismo têm sido também associados à carcinogênese gástrica. Gajalakshmi e Shanta (1996) conduziram um estudo caso-controle de base hospitalar , em uma cidade da Índia, para analisar as relações entre estilo de vida e câncer gástrico. Os indivíduos fumantes apresentaram odds ratio (OR) de 2,0 (IC 95% 1,25-3,78) em relação aos não fumantes; em relação ao consumo de bebidas alcoólicas não foi observado aumento de risco. Em estudo caso-controle de base hospitalar, realizado na Rússia, com 448 casos incidentes de câncer de estômago confirmados por histologia e 610 controles, foi observado que o tabagismo aumentava o risco de desenvolver esse tumor em indivíduos do sexo masculino. O consumo de álcool, em especial o de vodka, aumentou o risco de câncer gástrico, tanto para homens (OR 3,4; IC 95% 1,2-10,2), quanto para as mulheres (OR 1,5; IC 95% 1,0-2,3) (Zaridze et al, 2000). Mizoue e colaboradores (2000), em um estudo de coorte realizado no Japão também observaram risco duas vezes maior de câncer gástrico para indivíduos fumantes, em comparação com não fumantes (risco relativo (RR) 2,2 ; IC 95% 0,8-5,7), ajustado por idade, local de residência e consumo de álcool). Os autores concluem que o tabagismo possivelmente é um fator de risco para essa neoplasia na população de estudo. La Vecchia e co-autores (1994b), considerando os diferenciais de incidência e mortalidade por câncer gástrico entre homens e mulheres, analisaram possíveis associações entre fatores relacionados ao ciclo menstrual e à reprodução e essa neoplasia, em um estudo caso-controle de base hospitalar, realizado na Itália. Após ajustamento por idade, escolaridade, história familiar de câncer e consumo de alimentos implicados na carcinogênese gástrica, foi observada uma redução da estimativa de risco em mulheres com menopausa tardia (a partir de 53 anos) e maior duração da vida fértil (39 anos ou mais). 11 Mulheres multíparas, em comparação com aquelas que não haviam tido filhos, apresentaram um maior risco de câncer gástrico. Segundo os autores, esses resultados são compatíveis com a hipótese de que os hormônios femininos desempenham algum papel no processo de carcinogênese gástrica. DIETA E CÂNCER DE ESTÔMAGO Segundo Sgabieri e co-autores (1992), uma série de substâncias carcinogênicas se formam nos alimentos como conseqüência da estocagem, processamento e preparo para o consumo a nível doméstico, destacando, entre elas, as nitrosaminas, os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos e as aminas aromáticas heterocíclicas. Embora esses e outros fatores ambientais possam estar presentes nos alimentos, como resíduos do processo de industrialização, é importante também analisar o papel dos diferentes componentes da dieta no desenvolvimento de neoplasias (Godim et al., 1994). Embora esse papel seja reconhecido desde a década de 30, os mecanismos básicos pelos quais os compostos da dieta interferem na formação do câncer, ainda não estão totalmente elucidados e uma parcela importante das inúmeras hipóteses existentes, decorrentes de estudos experimentais e epidemiológicos, não foi ainda comprovada. (Izel et al., 1998). Em relação ao câncer gástrico, embora suas causas ainda não estejam bem estabelecidas, numerosos estudos têm demonstrado que a dieta é o fator de risco exógeno mais relevante (González, et al, 1994). Estudos epidemiológicos têm evidenciado uma associação clara entre o consumo excessivo de cloreto de sódio, através de alimentos conservados em sal, tais como peixes, vegetais, salsicha, presunto e charque, e risco de câncer gástrico, sendo, entretanto, possível que outros fatores causais, como compostos N-nitrosos, que coexistem nestes alimentos, possam também atuar no processo de carcinogênese gástrica (Gomes-Carneiro et al., 1997). As nitrosaminas constituem, atualmente, um dos mais importantes carcinógenos relacionados à alimentação, se constituindo em um dos grandes problemas no campo da prevenção do câncer. As nitrosaminas são substâncias que se formam no processamento 12 dos alimentos e também no trato gastrointestinal, particularmente no estômago, como produto da reação entre aminas e anidrido nitroso, derivado de nitrito/nitrato e têm sido encontradas em diversos alimentos como carnes curadas, produtos lácteos, peixes, patês, cerveja e malte, destacando-se, entre as de maior ocorrência, a N-nitrosopirrolidina, a Nnitrosodimetilamina e a N- nitrosomorfolina (Lederer, 1990; Sgabieri et al., 1992). Os compostos N-nitroso têm sido apontados na literatura como possíveis participantes do processo de carcinogênese gástrica (González, et al, 1994). Segundo Hwang e colaboradores (1994), a dieta parece estar envolvida nos estágios mais precoces da transformação das células normais em células cancerosas. Os estágios iniciais de gastrite crônica e atrofia parecem ser promovidos pela ingestão excessiva de sal, estando os estágios intermediários associados à ingestão de nitratos, nitritos e outros fatores que favoreçam a produção intra-gástrica de nitrosaminas. Por outro lado, os agentes antioxidantes, como o ácido ascórbico e a vitamina E, presentes em frutas e vegetais, podem inibir essa produção, atuando como fatores de proteção contra a carcinogênese gástrica. González e co-autores (1994) realizaram um estudo caso-controle em quatro regiões da Espanha, no período 1988-1989, com 354 casos de adenocarcinoma gástrico confirmado por histologia e 354 controles pareados por idade, sexo e área de residência, com o objetivo de analisar as relações entre fatores nutricionais e o desenvolvimento de câncer nessa localização anatômica. A dieta usual foi estimada através de um questionário de história alimentar, aplicado durante entrevista. Os autores observaram um aumento do risco de câncer gástrico associado ao consumo de nitrosaminas exógenas (odds ratio (OR) 2,1). Corella e colaboradores (1996) encontraram diferenças regionais na mortalidade por câncer gástrico na Espanha, sendo a variabilidade das taxas de mortalidade explicada, na sua maior parte (76%) por fatores dietéticos; as maiores correlações foram observadas com vegetais, frutas e óleos vegetais, considerados como fatores de proteção. Ao acrescentar fatores sócio-econômicos (renda e densidade populacional) ao modelo multivariado, os autores conseguiram melhorá-lo, o que sugere que, no contexto daquele estudo, estes fatores também contribuem, embora em menor medida, para a predição da mortalidade por câncer gástrico. Um estudo ecológico realizado no Brasil, comparou os hábitos alimentares e as taxas de mortalidade por câncer de estômago em diversas capitais, reiterando o papel 13 protetor de frutas e vegetais e das vitaminas A e C no câncer gástrico (Sichieri et al., 1996). Contudo, os autores chamam a atenção para a limitação destes achados, uma vez que existe uma forte correlação entre hábitos alimentares e situação sócio econômica, bem como diferenças étnicas entre as populações das cidades estudadas, o que poderia ocasionar um viés no estudo. O estudo de uma coorte de 11.907 japoneses residentes no Havaí analisou as associações entre ingestão de comidas e bebidas selecionadas, avaliadas através de um questionário de freqüência alimentar, e incidência de câncer gástrico, com um período médio de seguimento de 14,8 anos. O consumo de frutas frescas sete ou mais vezes por semana mostrou-se associado a uma redução do risco de câncer gástrico, em comparação com baixos níveis de consumo (RR 0,6 (IC 95% 0,4-1,0), assim como a ingestão combinada de frutas frescas e vegetais crus. Os autores não observaram relações entre ingestão de picles, peixe seco ou salgado ou carnes processadas e risco de desenvolvimento da neoplasia, assim como para tabagismo e consumo de álcool (Galanis et al, 1998). O consumo de frutas e vegetais como fator de proteção para câncer de estômago foi analisado em uma coorte holandesa, constituída por 120.852 indivíduos, com idades entre 55-69 anos. As razões de risco para câncer de estômago, ajustadas por idade e sexo, em quartis crescentes de ingestão combinada de frutas e verduras foram 1,00, 0,70, 0,65, 0,76 e 0,64 (p = 0,04), não sendo observada uma associação clara com câncer de estômago. Segundo os autores, esses resultados são similares aos observados em outros estudos de coorte e não sustentam as associações verificadas em diversos estudos caso-controle (Botterweck et al, 1998). Um estudo caso-controle de base populacional foi realizado em Shangai, China, para analisar as relações entre dieta alimentar e câncer de estômago. A população de estudo era formada por 1.124 casos incidentes de câncer de estômago, com idades entre 20 e 69 anos, e 1.451 controles. Os hábitos dietéticos foram levantados através de um questionário de freqüência alimentar. O risco de câncer de estômago se mostrou inversamente associado com o alto consumo de vegetais frescos, frutas, ovos e óleos vegetais e com o consumo de alguns nutrientes como proteínas, gorduras, fibras e vitaminas 14 anti-oxidantes. Riscos elevados para neoplasia gástrica foram observados para o consumo freqüente de alimentos em conserva, salgados e fritos (Ji et al, 1998). Ward e Lopez-Carrillo (1999) realizaram um estudo caso-controle com o objetivo de analisar as relações entre fatores da dieta e câncer gástrico no México. Utilizando um questionário de freqüência alimentar semi-quantitativo, com 70 ítens, os autores investigaram 220 indivíduos com câncer gástrico confirmado por histologia e uma amostra aleatória estratificada por idade de residentes da área metroplitana da cidade do México. Todos os resultados foram ajustados por idade, sexo, calorias consumidas, adição de sal à comida, ingestão de pimenta e chili, tabagismo, condição sócio-econômica e história de úlcera péptica. Para os indivíduos situados no mais alto quartil de ingestão de carnes (fresca e processada) foi observada OR de 3,1, em relação ao grupo de menor consumo. Foi verificada também uma associação com consumo freqüente de laticínios (OR 2,7) e de peixes (OR 2,2) . Os autores observaram um gradiente decrescente de risco com o aumento da freqüência de consumo de vegetais e uma associação inversa menos importante com o consumo de frutas cítricas. Indivíduos que consumiam biscoitinhos salgados mais de duas vezes por mês apresentaram um risco 80% maior de câncer gástrico. Os autores destacam que seus resultados são consistentes com aqueles observados em outros estudos, indicando um papel importante do sal, das carnes processadas e do consumo de vegetais na carcinogênese gástrica. Corrêa (1992), revisando a carcinogênese gástrica em estudos experimentais e clínicos, já reforçava a idéia de que o sal poderia ser um potente carcinógeno, devido a sua capacidade de estimular a replicação celular, facilitando a ação de outros carcinógenos e o desenvolvimento de mutações, além de causar atrofia na mucosa gástrica em seres humanos e animais. O mesmo autor sugeria que, apesar de não estarem bem estabelecidos os mecanismos fisiopatológicos, o ácido ascórbico e os carotenóides poderiam desempenhar um papel protetor da mucosa gástrica. Gomes-Carneiro e co-autores (1997) relatam que outros estudos epidemiológicos também evidenciaram uma associação clara entre o risco de câncer gástrico e o uso excessivo de cloreto de sódio, em alimentos conservados em sal, como peixes, vegetais, salsichas, presunto e charque. 15 Embora sem uma definição precisa e sem uma quantificação adequada, tem sido sugerido na literatura que uma dieta variada poderia proteger contra câncer gástrico. La Vecchia e colaboradores (1997) analisaram as relações entre diversidade na dieta (definida como variedade da ingestão de alimentos) e risco de câncer gástrico, utilizando dados de um estudo caso-controle realizado no norte da Itália, entre 1985 e 1993, com 746 casos e 2053 controles. Foi observada uma associação inversa entre diferentes medidas de variabilidade da ingestão e neoplasia de estômago, tendo, os indivíduos situados no quartil mais alto de diversidade apresentado OR de 0,9, em relação aos situados no quartil mais baixo. Essa associação foi também observada quando foi considerada somente a variabilidade de ingestão de frutas e vegetais. Os autores ressaltam que esses achados reforçam o conceito de que uma dieta mais diversificada é um fator relevante a ser considerado, ao se examinar a tendência de declínio das taxas de incidência de câncer gástrico. 16 DIETA E CÂNCER GÁSTRICO: ASPECTOS HISTÓRICOS ASSOCIADOS AO PADRÃO DE CONSUMO ALIMENTAR NO ESTADO DO PARÁ, BRASIL Antecedentes: Consumo alimentar no Estado do Pará no início do século XX Na primeira metade do século XX, a fauna e a flora constituíam as principais fontes de alimentação da população que vivia dispersa no interior da floresta ou na margem dos rios no Estado do Pará. Segundo relatos na literatura, a base alimentar tinha origem no extrativismo, incluindo o consumo de frutas, caça e peixes em abundância, e na agricultura de subsistência, a partir de pequenas lavouras de mandioca, com a qual se preparava farinha, base de carboidratos na dieta das populações na Amazônia (Libonati et al, 1978). Em relação aos grupos residentes em cidades e regiões com densidade populacional relativamente mais elevada, constituídas em sua grande maioria por assalariados ou agricultores com baixo poder aquisitivo, a ingestão protéica na dieta alimentar era, tradicionalmente, complementada com peixe seco salgado, carne salgada (charque) ou em conserva. O consumo de proteína animal calculado com base no abate do gado nos matadouros poderia, portanto, induzir a falsas conclusões, pois a carne bovina in natura era rara ou inexistente no interior do Estado. Naquele período, essa população experimentava, também, o efeito periódico da escassez de alimentos, uma vez que necessitava adquirir a maioria dos produtos alimentícios (Libonati et al, 1978). O conjunto desses fatos gera dificuldades para que se tenha, atualmente, uma avaliação precisa do consumo médio de alimentos per capita na primeira metade do século passado (EMBRAPA, 1992). Contudo, considerando a Região Amazônica no seu conjunto, salvo raras exceções, a diversidade regional do padrão alimentar era mais importante do que a sua uniformidade, sendo aquela determinada por uma série de fatores que levavam à variação dos hábitos de alimentação em função do ambiente (Libonati et al, 1978). Assim, na orla marítima e nas margens dos rios prevalecia a alimentação com base no consumo de peixe, enquanto, no interior, predominava a dieta a base do consumo de carne de caça e, na região das ilhas do delta do Amazonas, proliferavam as plantações de açaí, fruto de palmeira regional com elevado teor de ferro, vitaminas e lipídios, suprindo estas populações por seu valor energético (Libonati et al, 1978). 17 Evolução Histórica do Consumo Alimentar no Estado do Pará na segunda metade do século XX Embora o solo do Estado do Pará seja considerado de baixa fertilidade, suas terras são preferencialmente agricultáveis. Em 1965, segundo o Anuário Estatístico do Brasil (IBGE, 1966), da superfície de 1.248.042km2, o que corresponde a 14,66% da área do Brasil, somente 2.242km2 (224.200 ha) foram cultivados com cultura de subsistência alimentar, ou seja, 0,18% da área do Estado. Os principais alimentos de origem vegetal produzidos pelo Estado nos anos 60 eram arroz, milho, feijão, mandioca e castanha da Amazônia; quanto aos alimentos de origem animal, destacavam-se (Wisniewski & Libonati, a carne bovina, leite, peixes e mariscos, ovos e aves 1967). Dentre os produtos de origem vegetal, os mais consumidos, entre 1956 e 1965, encontram-se especificados no Quadro 1, onde se pode observar um importante aumento na produção de mandioca (119%) e arroz (110%). 18 Quadro 1 Distribuição do volume de produção dos produtos da dieta de maior consumo, Pará. 1956-65 PRODUÇÃO (t) % DE KG/ANO % DE CRESCIMENTO PER CAPITA ACRÉSCIMO CULTURA 1956 1965 1956 1965 MANDIOCA 440.042 964.514 119 69 * 107* 55 ARROZ 32.313 67.955 110 21 38 81 MILHO 22.091 37.043 68 17 21 24 FEIJÃO 5.323 7.276 37 44 4 -10 FONTE : (IBGE, 1966) A produção elevada de mandioca era destinada, principalmente, ao preparo de farinha, através de processo artesanal de beneficiamento. Em 1976, a produção de farinha atingiu 1.004.322 toneladas, um acréscimo de 21%, considerando como referência o ano de 1970 (Wetterberg et al, 1976). A farinha de mandioca representava um dos principais componentes da dieta alimentar da população da região Norte, sendo consumida na média de 176g/pessoa/dia, naquele período. O consumo de hortaliças e legumes, tradicionalmente reduzido em função de características culturais, veio decrescendo ao longo do tempo, em grande parte, devido ao fato de que a produção local era insignificante e esses alimentos, quase todos importados, apareciam no mercado em pequena quantidade e com preço elevado (Wetterberg et al, 1976). Em 1965, por exemplo, ocorreu a importação por via aérea de 56 toneladas de legumes e hortaliças diversas, principalmente, tomate, beterraba e couve-flor (Melo, 1982). O consumo médio de hortaliças e legumes era da ordem de 30g /dia per capita, considerado muito reduzido, observando-se um consumo per capita de apenas 2g/dia de folhosos. Entre os legumes, o maior consumo verificado era o de abóbora, que alcançava 17g/dia em média. Já o consumo de frutas era um dos mais elevados da região Amazônica, em torno de 162g /dia, devido, principalmente, ao açaí. 19 A escassez de dados sobre o consumo de frutas, e até mesmo sobre sua produção em períodos anteriores, permitiu apenas a apresentação das informações que constam do Quadro 2, referentes ao período 1975-76. Os dados siponíveis rerferem-se, entretanto, a apenas dez espécies, não tendo sido encontrados registros referentes à produção de algumas frutas regionais, como açaí, pupunha, bacuri e cupuaçu, que têm um alto consumo pela população paraense. Quadro 2 Produção de frutas (t) no Estado do Pará. 1974-76 ESPECIFICAÇÃO BANANA ABACAXI COCO SECO MANGA MAMÃO MELANCIA MARACUJA LARANJA ABACATE LIMÃO TOTAL PRODUÇÃO EM TONELADAS 1974 1975 1976 TOTAL 5.644 8.583 9.446 23.673 1.797 1.070 445 3.362 994 1.103 1.026 3.123 1.197 528 930 2.655 631 919 953 2.503 664 615 1.122 2.401 368 552 1.250 2.170 240 339 294 873 63 109 53 225 ... 53 19 72 11.598 13.871 15.588 41.057 % * 57,6 8,2 7.6 8.5 6,1 5.8 5.3 2.1 0.6 0.2 100,0 1974 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 ÍNDICE 1975 152 60 111 44 146 93 150 141 173 100 119 1976 167 30 103 77 151 169 340 122 84 36 134 • - percentual sobre a produção total de frutas no período 1975-76 FONTE : GCEA, CEASA –PA, CEPA –PA. NOTA : No cálculo dos índices foi tomado 1974 para ano base, exceção feita para o limão (1975). O consumo per capita de proteínas de origem animal, no Estado do Pará, apresentava um índice elevado na segunda metade do século XX; entretanto, como grande parte da carne consumida era proveniente de outros estados, havia um acesso restrito a seu consumo (Wisniewski & Libonati, 1967). Deve-se destacar, por exemplo, que a proporção de geladeiras disponíveis em Belém, entre as famílias com renda situada no percentil 40 desta distribuição, era de apenas 14% naquele período (IBGE, 1978). O consumo elevado de proteínas de origem animal apresentado pela população paraense não deve, portanto, ser atribuído a uma suposta abundância de produção de carne vermelha no Estado, e sim, a um 20 suprimento irregular de outras fontes de proteína animal, como ovos e leite (Libonati et al, 1978) . No matadouro de Belém, o maior centro consumidor do Estado do Pará, cerca de 30% do gado abatido na década de sessento era procedente do Estado de Goiás, sendo que cerca de 3.441 toneladas de carne (2.500 toneladas ou 80%, na forma de charque) eram importadas anualmente (Wisniewski & Libonati,1967). De toda forma, destacava-se o consumo de carne de vaca com uma média de 79g /dia/pessoa e de peixe, que era consumido em grande freqüência pela população. No final dos anos 60, a pecuária apareceu como nova riqueza, revelando-se uma alternativa para a ocupação de imensos vazios demográficos. Nessa mesma época, a pesca, continental e marítima, se encontrava em pleno desenvolvimento, assumindo especial dimensão, devido à extensão e a variedade dos recursos hídricos (Comissão Estadual de Planejamento Agrícola, 1978). Naquele período, coexistia no setor pesqueiro estadual uma atividade essencialmente artesanal, que respondia pela maior parcela da produção de pescado, e um setor verdadeiramente empresarial, que se organizou naquela década, sob o estímulo dos incentivos fiscais (EMBRAPA, 1992). Quanto ao consumo de carne de caça, Bastos e Ferreira (1977) listaram as principais espécies de animais silvestres preferidos como alimentos no Estado do Pará, destacando a paca, o veado, o porco-do-mato, a tartaruga, a anta e a cutia, entre outros. Na verdade, a carne de caça se destacava, principalmente, como estratégia de sobrevivência de colonos e caboclos, ao longo da rodovia Transamazônica, construída na década de 70. Segundo Moran (1977), antes da construção da rodovia, os animais de caça eram muito mais comuns, mas a destruição da floresta para a agricultura afastou-os para áreas distantes, ainda não penetradas por grupamentos humanos. Ayres (1991) menciona que a chegada daquela rodovia, com a conseqüente integração que originou, trouxe modificações na composição da dieta dos habitantes da região, destacando o importante papel dos fatores econômicos e culturais nessas alterações. 21 Padrão de dieta regional no Estado do Pará As bases históricas de ocupação de espaço na Amazônia, bem como as relações econômico-sociais estabelecidas ao longo deste processo, marcaram, sobremaneira, o padrão alimentar da população no Estado do Pará. A partir das informações disponíveis na literatura, é possível reconstruir algumas das principais características do padrão alimentar desta população, ao longo do século passado, especialmente, a partir dos anos 60, caracterizado por um elevado consumo da farinha de mandioca, presente no cotidiano diário das refeições regionais. A farinha de mandioca, produzida com o beneficiamento do tubérculo, freqüentemente é acrescida de diferentes corantes a base de anilina, o que lhe confere tonalidades diversas. Sendo este um item presente na alimentação diária das populações amazônicas de todas as faixas etárias – o consumo médio anual per capita em Belém, em 1995/96, foi da ordem de 33, 9 kg, sendo de 18,0 kg em Salvador, 0, 6 kg em Goiânia e 1, 2 kg em Porto Alegre (IBGE, 1998) – seu consumo pode também implicar em exposição química contínua, decorrente da ingestão de quantidades variáveis de anilina. Um importante item na dieta regional, derivado da mandioca, é o tucupi, molho ácido presente em diversos pratos no cotidiano da cozinha paraense e de outras áreas da Amazônia (consumo per capita anual de 0, 35 kg em Belém) (IBGE, 1991). Em relação ao hábitos alimentares regionais presentes no passado recente, vale a pena mencionar, também, o consumo diário de tacacá, uma refeição vespertina, servida com um caldo fervente, acompanhado de goma de mandioca, tucupi e camarões salgados, ingerido em temperatura elevada. O consumo de carne vermelha e peixe, dadas as dificuldades de conservação de alimentos perecíveis, na ausência de refrigeradores, era garantido graças a sua preservação mediante a adição de sal. Desta forma, o charque, mas também os frutos do mar salgados, sobretudo peixe e camarão, foram incorporados ao padrão alimentar paraense, constituindo itens importantes na alimentação. Comparativamente com outras regiões do país, o consumo médio populacional de peixe e camarão salgado na década de 80 era de 1, 05 kg/ano em Belém, ou seja, dez a quinze vezes superior ao observado em Salvador (0,12 kg/ ano) e em Goiânia (0,07 kg/ano), (IBGE, 1991). Em relação a ingestão de carnes 22 preservadas (carne de sol, carne em conserva, carne seca e carne salgada), o consumo per capita em Belém, no mesmo período, foi de 2 9 kg/ano, sendo de 0,5 kg/ano em Porto Alegre e de 0,1 kg/ ano em Goiânia (IBGE, 1991). Deve-se ainda mencionar o consumo de carnes curadas (presunto, mortadela, salsicha, lingüiça, toucinho), da ordem, respectivamente, de 1,1 kg/ano em Belém na década de 90 (IBGE, 1998). O consumo regional de frutas poderia ser considerado como regular e, o de legumes, como reduzido. O consumo médio per capita de banana, em Belém, foi da ordem de 8,1 kg na década de 90 versus 1,7 kg em Porto Alegre e 2,0 kg em Goiânia; para laranja, foi, respectivamente, de 8,3 kg, 7,9 kg e 5,7 kg; para outras frutas, como manga, tangerina, maracujá e maçã, foi observado um consumo médio per capita de, respectivamente, 5,2 kg, 12, 9 kg e 8,2 kg (IBGE, 1998). Por outro lado, deve-se acrescentar, a essas estimativas, o consumo da polpa da fruta açaí , da ordem de 11,9 kg per capita/ ano em Belém, no mesmo período, e de consumo ínfimo nas demais capitais, bem como o de outras frutas regionais (cupuaçu, bacuri, acerola, entre outras). Em relação à ingestão de hortaliças, foi observado um consumo estável em Belém, entre as décadas de 80 e 90 (2,1 kg/ per capita/ano), mas bem menor do que aqueles observados em Goiânia (4,7 kg) e em Porto Alegre (3,1 kg). O consumo populacional médio de legumes selecionados, ao longo das mesmas décadas, foi igualmente mais reduzido em Belém (1,5 kg/ano) versus 2,9kg/ano em Porto Alegre e 6,0 kg/ ano em Goiânia (IBGE, 1998). Dieta e câncer gástrico no Estado do Pará Considerando o conjunto de características do padrão alimentar apresentado, podese concluir que a alimentação básica da população paraense, em passado recente, incluía um consumo elevado de sal, utilizado na conservação de carnes e frutos do mar, um consumo relativamente reduzido e irregular de legumes e verduras e uma importante ingestão de glicídios, a partir da farinha de mandioca, muitas vezes adicionada de corantes artificiais com anilina. Neste sentido, o padrão de dieta retratado da população paraense, mas provavelmente comum a outras regiões da Amazônia, poderia se caracterizar como 23 potencialmente favorecedor de certas condições associadas ao processo de desenvolvimento de câncer gástrico. Por outro lado, as precárias condições de saneamento ambiental existentes naquele período, acrescidas da existência de aglomerações intra-domiciliares, podem ter se traduzido em uma ampla distribuição da infecção por Helicobacter pylori na população, desde a primeira infância (Patel et al, 1994; Hwang et al, 1994; Goodman, 1995). Assim, as agressões contínuas à mucosa gástrica, decorrentes da ação irritativa do consumo de sal, e/ou da ingestão de alimentos em temperatura elevada, poderiam Ter atuado como facilitadores no processo de sua invasão por Helicobacter pylori e patógenos relacionados, tal como sugerido na literatura. Da mesma forma, o consumo de anilina, presente em vários tipos de farinha de mandioca e fonte de radicais NH2 e NO2, poderia ter atuado como substrato para a formação endógena de nitrosaminas, importantes carcinógenos associados à patogênese do câncer gástrico, particularmente na situação de carência relativa de anti-oxidantes (em função de um consumo reduzido de legumes e vegetais, embora elevado de frutas). Além disso, pode-se afirmar que os carboidratos são consumidos de forma importante na dieta típica das populações amazônicas em geral, através da farinah de mandioca, embora o papel do consumo elevado dessas substâncias como fator de risco para o câncer de estômago seja, ainda, motivo de controvérsias (Howson et al, 1986; Kono & Hirohata, 1996). O intervalo de tempo decorrido entre as exposições associadas à dieta regional, aqui delineadas, e a observação mais recente dos elevados níveis de câncer gástrico no Pará, asseguraria um período de latência razoavelmente extenso, para que se possa supor sua possível contribuição para a distribuição epidemiológica atual da doença. Desta maneira, é possível supor que vários componentes da dieta historicamente presente nestas populações (alto consumo de sal e carboidratos, ingestão contínua de anilina, reduzido consumo de legumes e verduras, entre outros), conjuntamente com a infecção potencialmente precoce pelo H. pylori, possam ter gerado condições compatíveis com o conhecimento na literatura científica quanto às bases desencadeadoras do processo de carcinogênese gástrica. Neste sentido, o padrão de dieta destas populações mereceria exploração futura, como um substrato importante para ampliar a compreensão sobre a primazia assumida pelo 24 câncer de estômago, como uma das localizações tumorais de maior incidência na população paraense, bem como naquelas de outras regiões da Amazônia. Conclusões O padrão alimentar predominante na população paraense no século passado reunia algumas características potencialmente favorecedoras, enquanto co-fatores, do processo de carcinogênese gástrica. Entre estas, pode-se destacar o consumo elevado de alimentos salgados e de carboidratos, o consumo reduzido de frutas e legumes, bem como a ingestão cotidiana de compostos aromáticos (anilina), adicionados a farinha de mandioca. 25 2- JUSTIFICATIVA O câncer de estômago é uma das localizações tumorais mais freqüentes na Região Norte, particularmente no estado do Pará. Estudos epidemiológicos têm apontado o padrão dietético baseado no consumo elevado de alimentos defumados, carne curada, peixe seco e outros alimentos conservados em sal, como importante fator de risco para o desenvolvimento dessa neoplasia. Embora não se disponha de dados precisos referentes à alimentação do paraense, é conhecido, empiricamente, que os alimentos mencionados fazem parte, de maneira expressiva, da dieta da população do Estado do Pará. Além destes alimentos, chama a atenção também o alto consumo da farinha de mandioca, que é uma das principais fontes de calorias, sobretudo para a população de baixa renda. A farinha de mandioca apresenta um alto teor de carboidratos e de corantes. Alguns corantes têm sido apontados como cancerígenos na literatura (Lederer, 1990). O Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde se constitui em importante fonte de dados para a realização de estudos epidemiológicos no Brasil, sendo especialmente útil para a investigação do padrão de distribuição de doenças nas diferentes regiões do país. A falta de estudos que analisem os padrões de mortalidade por câncer gástrico no Estado do Pará torna relevante a realização deste trabalho, que poderá trazer uma contribuição para o conhecimento da distribuição desta neoplasia em distintos estratos da população. 26 3 - OBJETIVOS 3.1 - OBJETIVO GERAL Descrever o padrão de mortalidade por câncer gástrico no Estado do Pará no período 1980-1997. 3.2 - OBJETIVOS ESPECÍFICOS 1. Realizar uma análise descritiva da distribuição da mortalidade por câncer gástrico no Estado do Pará, segundo sexo e faixa etária. 2. Descrever a distribuição da mortalidade por câncer gástrico em Belém, segundo sexo e faixa etária. 3. Comparar a distribuição da mortalidade por câncer gástrico em Belém com aquela de capitais brasileiras selecionadas. 27 4 - Material e Métodos Foi realizado um estudo epidemiológico descritivo, visando determinar as tendências da mortalidade por câncer de estômago no Pará e em Belém, no período de 1980 a 1997. Os dados de mortalidade foram obtidos a partir de levantamento no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, com o objetivo de selecionar os óbitos por neoplasia de estômago, ocorridos em residentes do Estado do Pará e do Município de Belém, no período de estudo. Considerou-se óbito por câncer de estômago todos aqueles codificados pela Classificação Internacional de Doenças 9ª revisão (CID 9), com os códigos 151.0 a 151.9, no período de 1980 – 1995, e pela CID 10, com os códigos C16.0 a C16.9, no período de 1996 a 1997. As informações sobre a população residente do Pará e de Belém foram obtidas a partir dos Censos Demográficos dos anos de 1980 e 1991, Recontagem Populacional de 1996 e, para os anos intercensitários, foram utilizadas as estimativas populacionais disponibilizadas nos Anuários Estatísticos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foram calculadas taxas de mortalidade por neoplasia de estômago por faixa etária para o Estado do Pará e para o Município de Belém, segundo períodos de três anos (19801982; 1983-1985; 1986-1988; 1989-1991; 1992-1994 e 1995-1997), visando minimizar possíveis variações temporais. Foram utilizados os seguintes grupamentos etários: menores de 20 anos; 20-29 anos; 30-39 anos; 40-49 anos; 50-59 anos; 60 –69 anos e 70 anos ou mais. Para as mesmas localidades, obedecendo aos períodos de tempo já referidos, foram calculadas as taxas de mortalidade global e por sexo, padronizadas por idade, para câncer de estômago, utilizando como padrão a população mundial (Seigi, 1960). Através do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM/MS), foi obtido o número de óbitos por câncer de estômago, segundo sexo e faixa etária, dos residentes de Porto Alegre, São Paulo, Goiânia e Fortaleza, ocorridos no período 1980-1997. Os dados relativos às populações destas cidades foram obtidos nos Censos Demográficos de 1980 e 28 1991 e através das estimativas populacionais do IBGE. Para as cidades selecionadas, foram calculadas taxas de mortalidade específicas por faixa etária, mantendo os mesmo grupos de idade e, obedecendo aos mesmos períodos de tempo. Foram também calculadas as taxas de mortalidade padronizadas por idade, utilizando a população mundial como padrão (Seigi, 1960). Na primeira etapa da análise, foram avaliadas as taxas padronizadas de mortalidade do Estado do Pará e do Município de Belém e do interior do Estado, no período de estudo. Procedeu-se a seguir uma análise das taxas de mortalidade específicas por sexo e por faixa etária, tanto do Estado do Pará, quanto do Município de Belém. Para determinar a variação anual das taxas padronizadas de mortalidade no Estado do Pará e no Município de Belém, no período 1980-1997, supondo-se uma variação linear, foi utilizada a expressão: [ (T2/T1) 1/y2 – y1 – 1] x 100, onde: T2 = taxa de mortalidade por câncer de estômago no período final da série T1 = taxa de mortalidade por câncer de estômago no período inicial da série Y2 = ano no final da série Y1 = ano no início da série Foi efetuada uma comparação entre as taxas padronizadas de mortalidade por câncer de estômago de Belém e aquelas de capitais brasileiras selecionadas no período de 19801997. 29 5 - RESULTADOS Na análise do conjunto de óbitos por câncer de estômago ocorridos no período 1980-1997 no Pará, observamos um percentual de óbitos quase duas vezes maior no sexo masculino e um predomínio da ocorrência de mortes no grupo de idade de 50 anos ou mais. Apesar de um grande número de óbitos não fornecer a informação sobre escolaridade, comparando-se os percentuais de óbito em cada nível, observa-se que cerca de 90% dos casos com essa informação preenchida ocorreram em indivíduos com baixa ou nenhuma escolaridade. A análise por grupos de ocupações ficou prejudicada, pois a maior parte dos casos foi classificada em ocupações indeterminadas ou não teve essa informação preenchida na declaração de óbito (Tabela 1). 30 Tabela 1 Distribuição dos óbitos por câncer gástrico segundo variáveis selecionadas das declarações de óbitos - Pará, 1980-89 / 1990-97 Variáveis Sexo Masculino Feminino Freqüência 2.390 1.232 % 65,99 34,01 Grupo Etário >20 anos 20-29 anos 30-39 anos 40-49 anos 50-59 anos 60-69 anos 70 anos ou mais Ignorado 05 36 193 421 725 925 1283 30 0,14 0,99 5,33 11,62 20,02 25,65 35,42 0,83 Estado civil Solteiro Casado Viúvo Separado Outros Ignorado 742 1.704 563 28 02 583 20,48 47,04 15,54 0,77 0,05 16,10 Escolaridade Analfabeto 1o. Grau 2o. Grau Superior Ignorado 432 1.606 118 34 1.432 11,93 44,34 3,26 0,94 39,53 69 1,91 112 3,09 80 366 2,21 10,10 80 127 40 2,21 3,51 1,10 1.728 1.100 47,71 30,37 Ocupação Profissional/ Cientista/Técnico/Artista Serviços Públicos/Diretores Trab. Serviços Administrativos Trab. Comércio Trab. Serviços Administr. Trab. Agropecuária/pesca Trab. Industrial Ocupações Indeterminadas Sem Informação 31 As taxas padronizadas de mortalidade por neoplasia de estômago, em Belém, apresentaram magnitudes bastante elevadas (27,16 a 14,97/100.000), correspondendo, em todos os períodos analisados, a mais do que o dobro dos valores registrados no Estado do Pará (10,48 a 7,68/100.000). Observamos uma diminuição da magnitude das taxas de mortalidade em Belém, entre o primeiro e o último triênio da série, padrão que é acompanhado pelo Estado do Pará. No interior, foi observada uma distribuição relativamente estável da mortalidade, ao longo da série analisada, com taxas três a sete vezes menores do que aquelas observadas em Belém (Figura 1). Figura 1 Taxas padronizadas de mortalidade por câncer de estômago no estado do Pará, em Belém e no interior, no período 1980-97 30,00 Taxas padronizadas de mortalidade 25,00 20,00 Pará 15,00 Belém Interior 10,00 5,00 0,00 1980-82 1983-85 1986-88 1989-91 1992-94 1995-97 Período Na tabela 2, observamos que a magnitude das taxas do sexo masculino, no Estado, foi, em todos os triênios, bastante superior a das mulheres. Enquanto para os homens as taxas variaram entre 14,20 e 10,01/100.000, nas mulheres essa variação foi de 6,87 a 5,15/100.000, registrando-se uma razão homem/mulher de cerca de 2,1, exceto no último 32 período, quando se observa uma redução. Em ambos os sexos, verificamos uma diminuição da magnitude das taxas no período analisado; para os homens, a razão entre a maior e a menor taxa foi de 1,4 e para as mulheres de 1,3. Tabela 2 Taxas padronizadas de mortalidade por câncer de estômago por 100.000 habitantes, segundo sexo e razões homem/mulher, no estado do Pará no período 1980-1997 Período Sexo masculino Sexo feminino 1980-82 1983-85 1986-88 1989-91 1992-94 1995-97 14,20 13,75 13,62 10,99 10,82 10,01 6,87 6,13 6,38 5,29 5,15 5,37 Razão homem/mulher 2,1 2,2 2,1 2,1 2,1 1,9 A análise das taxas de mortalidade segundo faixa etária evidenciou que os grupos mais velhos apresentaram taxas com maior magnitude. As taxas mais altas foram verificadas no grupo etário de 70 anos ou mais que, até o triênio 1989-91, registrou valores duas vezes maiores do que aqueles observados para os indivíduos de 60-69 anos; a partir daí, essa diferença foi diminuindo, alcançando o menor valor no último triênio da série. Comparando as taxas das faixas etárias de 60-69 e 50-59 anos, observamos que as taxas daquele grupo de idade correspondiam a cerca do dobro daquelas do grupo de 50-59 nos dois primeiros triênios, ocorrendo um aumento dessa diferença a partir de 1986-1988. Nos indivíduos de 20 a 39 anos observaram-se oscilações das taxas por faixa etária na série analisada, não se configurando uma padrão claro de distribuição (Tabela 3). 33 Tabela 3 Taxas de mortalidade por 100.000 habitantes segundo faixa etária no estado do Pará , no período 1980-1997 Faixa etária < 20 anos 20 a 29 anos 30 a 39 anos 40 a 49 anos 50 a 59 anos 60 a 69 anos 70 anos ou + 1980-82 0,02 0,17 2,66 8,53 24,65 44,98 93,35 1983-85 0,02 0,30 1,59 8,38 19,70 43,18 95,95 Período 1986-88 1989-91 0,00 0,01 0,18 0,25 2,04 2,23 6,45 5,74 23,45 18,46 38,60 35,74 97,45 73,13 1992-94 0,00 0,52 2,55 5,52 15,88 37,62 71,11 1995-97 0,02 0,14 1,41 6,96 14,50 37,22 68,42 Tabela 4 Percentual médio anual de variação das taxas de mortalidade por câncer gástrico segundo sexo no estado do Pará, no período 1980-1997 Sexo Período 1980-89 1990-97 1980-97 Masculino -2,81 -1,32 -2,04 Feminino -2,86 0,21 -1,44 No período 1980-97, se observa uma tendência de queda das taxas de mortalidade em ambos os sexos, mais marcante no sexo masculino. O percentual de declínio das taxas foi similar nos dois sexos, no período 1980-1989. No período seguinte (1990-1997) se observa um incremento médio anual de 0,21% nas taxas femininas, enquanto no sexo masculino, as taxas continuam em declínio, embora com um percentual menor do que o observado no período inicial (Tabela 4). 34 Tabela 5 Percentual médio anual de variação das taxas de mortalidade por câncer gástrico segundo faixa etária no estado do Pará, no período 1980-1997 Faixa etária Período 1980-89 1990-97 1980-97 <30 anos 30 –39 anos 40-49 anos 50-59 anos 60-69 anos 70 anos e + 3,81 - 4,69 0,00 -1,94 -6,34 -3,66 -4,31 2,79 -1,19 -3,16 -3,39 -3,07 -2,52 0,58 -1,11 -2,75 -0,95 -1,85 Total -2,84 0,74 -1,81 No período 1980-89, observa-se um padrão de declínio da mortalidade nos grupos etários de 30 a 70 anos, em contraste com o período 1990-97, onde pode ser observado um percentual de incremento de 2,79% na faixa etária de 40 a 49 anos e de 0,58% no grupo de 60 a 69 anos, com uma tendência de queda nas demais faixas. A análise global do período evidenciou uma tendência de queda das taxas de mortalidade a partir dos 30 anos (Tabela 5). No período 1980-97, observou-se um declínio das taxas padronizadas por câncer de estômago no Estado do Pará, em ambos os sexos e nas diferentes faixas etárias. Esse declínio foi mais acentuado nos primeiros nove anos da série e no sexo masculino. A magnitude das taxas desse sexo, em toda a série analisada, foi bastante superior a das mulheres, com razões homem/mulher de cerca de 2,0. A análise das taxas de mortalidade segundo faixa etária evidenciou que os grupos mais velhos apresentaram taxas com maior magnitude. 35 Tabela 6 Taxas padronizadas de mortalidade por câncer de estômago por 100.000 habitantes, segundo sexo e razões homem/mulher, em Belém, no período 1980-1997 Período Sexo masculino Sexo feminino 1980-82 1983-85 1986-88 1989-91 1992-94 1995-97 44,38 38,30 34,21 27,50 24,82 25,66 15,40 13,08 12,37 10,69 9,50 10,93 Razão homem/mulher 2,9 2,9 2,8 2,6 2,6 2,4 Na Tabela 6, observa-se que as taxas padronizadas de mortalidade por câncer de estômago do sexo masculino, em Belém, apresentam magnitudes elevadas, sendo muito superiores às observadas no sexo feminino. Entretanto, a razão homem/mulher apresentou uma redução no período analisado; nos três primeiros triênios se encontrava próxima a 3,0 e, em 1995-97, o valor registrado foi de 2,4. A distribuição das taxas de mortalidade segundo faixa etária, em Belém, mostrou um padrão semelhante ao do Estado do Pará, com valores mais elevados nas faixas etárias mais velhas, ressalvando-se a maior magnitude das taxas na capital (Tabela 7). 36 Tabela 7 Taxas de mortalidade por 100.000 habitantes segundo faixa etária em Belém, no período 1980-1997 Faixa etária < 20 anos 20 a 29 anos 30 a 39 anos 40 a 49 anos 50 a 59 anos 60 a 69 anos 70 anos ou + Período 1980-82 0,07 0,36 6,05 20,21 59,54 125,75 243,98 1983-85 0,06 0,49 1,80 20,92 41,30 106,83 233,82 1986-88 0,00 0,30 3,80 15,84 48,77 82,08 217,47 1989-91 0,00 0,69 3,97 9,88 40,73 76,55 166,16 1992-94 0,00 0,80 4,72 9,50 25,69 73,98 162,87 1995-97 0,00 0,27 3,40 12,74 34,21 79,43 205,50 Tabela 8 Percentual médio anual de variação das taxas de mortalidade por câncer gástrico segundo sexo em Belém, no período 1980-1997 Sexo Período 1980-89 1990-97 1980-97 Masculino -5,18 -0,98 -3,17 Feminino -3,97 0,32 -2,00 Na Tabela 8, pode-se observar uma tendência de declínio das taxas de mortalidade no sexo masculino, nos dois períodos analisados, com uma redução média anual de 3,17%. No período 1980-1989, verifica-se uma tendência de queda da mortalidade no sexo feminino, mas no último período essa situação se inverte, sendo observado um incremento médio anual de 0,32%, o que contribuiu para que, ao longo da série, o declínio anual das taxas nesse sexo fosse somente de 2,00% 37 Tabela 9 Percentual médio anual de variação das taxas de mortalidade por câncer gástrico segundo faixa etária em Belém, no período 1980-1997 Faixa etária Período 1980-89 1990-97 1980-97 <30 anos 30 –39 anos 40-49 anos 50-59 anos 60-69 anos 70 anos e + 3,81 -6,62 -0,84 -4,57 -2,23 -3,35 -7,64 3,63 -2,70 -4,13 -2,53 -3,23 -5,37 0,47 -2,69 -4,18 -5,73 -4,58 Total -4,80 -2,20 -3,46 Nos anos iniciais da série, observa-se um declínio das taxas de mortalidade em todas as faixas etárias, com exceção dos menores de 30 anos. Entre 1990-1997, observa-se um incremento das taxas nas faixas etárias de 40-49 e 60-69 anos, enquanto nas demais se verifica uma tendência de queda da mortalidade. No período 1980-97, configura-se uma tendência de declínio em todas as faixas etárias, com um percentual médio anual de redução de 3,46%, variando entre 0,84 4,58% nos diferentes grupos de idade (Tabela 9). A magnitude das taxas padronizadas de mortalidade por câncer de estômago em Belém, em toda a série analisada, foi bastante superior à observada para o Estado do Pará . O sexo masculino apresentou taxas de mortalidade bem maiores do que as do sexo feminino, com razões homem/mulher que variaram entre 2,9 e 2,4. Os grupos mais velhos apresentaram taxas com maior magnitude. No período 1980-97, à semelhança do Estado, observou-se um declínio das taxas padronizadas por câncer de estômago em Belém, em ambos os sexos e nas diferentes faixas etárias, que foi mais acentuado nos primeiros nove anos da série e no sexo masculino. Entretanto, os percentuais médios anuais de declínio observados na capital foram maiores do que os observados para o Estado. 38 Tabela 10 Taxas padronizadas de mortalidade por câncer gástrico por 100.000 habitantes em Belém e capitais brasileiras selecionadas, no período 1980-1997 Capital Belém Fortaleza Goiânia São Paulo Porto Alegre Período 1980-82 27,16 15,47 16,71 16,94 12,41 1983-85 23,38 14,85 9,68 14,72 10,75 1986-88 21,24 13,21 10,21 13,84 10,54 1989-91 17,44 14,35 8,21 12,89 9,67 1992-94 15,84 12,83 8,84 12,60 8,92 1995-97 14,97 11,72 9,00 12,64 8,32 A comparação das taxas padronizadas de mortalidade por câncer de estômago de Belém com aquelas de capitais de outras unidades da federação, no período 1980-1997, revela que essa cidade ocupa sempre a primeira posição, apresentando taxas com magnitude mais do que duas vezes maior do que aquela de Porto Alegre e cerca de 1,5 vezes maior do que as demais capitais, no período inicial da série (Tabela 10). Nas capitais analisadas, inclusive em Belém, verifica-se uma diminuição da magnitude das taxas de mortalidade ao longo do período de estudo. Entretanto, no último período de estudo, esta capital ainda apresenta a mais alta taxa padronizada de mortalidade por câncer de estômago e seu valor, embora já se aproxime mais daqueles observados em algumas das capitais analisadas, ainda é 1,8 e 1,7 vezes maior do que os verificados em Porto Alegre e Goiânia, respectivamente. A análise das taxas de mortalidade do sexo masculino, nas diferentes capitais, evidencia uma diminuição da magnitude das taxas de mortalidade no período 1980-1997. A comparação das taxas de mortalidade do sexo masculino de Belém com aquelas de outras capitais mostra que, mesmo tendo ocorrido uma redução importante da magnitude dessas taxas no período de estudo, aquela cidade ocupou sempre a primeira posição (Figura 2). 39 Figura 2 Taxas padronizadas de mortalidade por câncer gástrico por 100.000 habitantes no sexo masculino em Belém e outras capitais brasileiras selecionadas, no período 1980-1997 1980-82 Período 1983-85 Porto Alegre 1986-88 São Paulo Goiânia Fortaleza 1989-91 Belém 1992-94 1995-97 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 Taxas padronizadas de mortalidade Na figura 3, observamos que, no período 1980-1997, ocorreu uma diminuição da magnitude das taxas padronizadas de mortalidade por câncer de estômago no sexo feminino em todas as capitais analisadas. Em relação ao sexo feminino, Belém também apresentou as taxas mais elevadas entre as capitais estudadas, ao longo de toda a série, com exceção do período 1989-91, quando Fortaleza apresentou um valor um pouco mais elevado. 40 Figura 3 Taxas padronizadas de mortalidade por câncer gástrico no sexo feminino em Belém e outras capitais brasileiras selecionadas, no período 1980-1997 1980-82 1983-85 Porto Alegre Período 1986-88 São Paulo Goiânia Fortaleza 1989-91 Belém 1992-94 1995-97 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 Taxas padronizadas de mortalidade Apesar de ter sido observado um declínio da mortalidade por câncer gástrico em Belém, para ambos os sexos, ao longo das décadas de oitenta e noventa, as taxas de mortalidade por essa neoplasia nessa capital, no final da série (1995-97) eram ainda superiores àquelas existentes em 1980-82 na maior parte das capitais analisadas (Figuras 2 e 3). 41 6 - Discussão Embora diferenças na oferta e utilização de recursos médicos, assim como nos métodos diagnósticos, dificultem uma análise mais aprofundada, estudos epidemiológicos têm evidenciado que a incidência de câncer nas diferentes localizações anatômicas varia muito entre os países e ao longo do tempo, sugerindo a grande importância dos agentes ambientais na carcinogênese (Doll, 1980). Entre as mudanças verificadas ao longo do tempo, destaca-se o declínio da incidência e da mortalidade por câncer gástrico na maioria dos países da Europa, América do Norte e Austrália (Coleman, 1993). Segundo Howson e co-autores (1996), esse declínio acentuado da incidência e mortalidade do câncer gástrico sugere que a etiologia da maioria desses tumores seja ambiental e, especificamente, relacionada à dieta. Os principais fatores da dieta implicados na carcinogênese gástrica são a ingestão de altas concentrações de nitratos/nitritos, presentes em carnes salgadas ou em conserva, o consumo de alimentos que favoreçam a formação de nitrosaminas e a ingestão excessiva de sal e de alimentos mal conservados (Hwang et al, 1994). Estudos epidemiológicos têm indicado que o consumo de sal ou de alimentos salgados está associado a um maior risco de câncer de estômago, corroborando resultados observados em experimentos com animais de laboratório, enquanto uma associação negativa com vegetais e frutas é altamente consistente em numerosos estudos caso-controle em diferentes populações (Kono & Hirohata, 1997). Uma série de estudos têm relacionado os compostos N-nitroso ao câncer gástrico; esses compostos podem ser encontrados em carnes curadas, peixes secos ou salgados, picles e outros alimentos conservados, além de serem formados no estômago a partir da combinação de nitritos com aminas secundárias, provenientes de vários tipos de peixes, de carnes de porco e seus derivados e de cereais (Nomura, 1996). Mayne e colaboradores (2001) observaram uma associação entre alto consumo de amido e desenvolvimento de câncer de estômago, em um estudo caso-controle de base populacional, realizado nos Estados Unidos. O mecanismo de ação provavelmente envolvido nessa relação, seria, segundo os autores, a irritação da mucosa gástrica ou a promoção da nitrosação. 42 Considerando a região Amazônica em conjunto, em uma publicação da EMBRAPA (1992), chama-se a atenção para o fato de que, até a década de sessenta, a diversidade dos padrões de alimentação era notável, devido à variação dos hábitos dietéticos em função do ambiente. Enquanto a dieta da população do interior do estado do Pará consistia de frutos, caças e peixe, complementada pela farinha de mandioca, a população residente em cidades e regiões com maior densidade populacional, constituída, em grande parte, por assalariados e agricultores de baixo poder aquisitivo, tinha ,como fonte de proteínas na dieta, o peixe seco e a carne de charque ou em conserva, complementando sua alimentação também com a farinha de mandioca. Por outro lado, com exceção do consumo de verduras regionais (jambu), a população paraense, em geral, não tinha o hábito de consumir cotidianamente hortaliças e legumes, pois a produção local era pequena e grande parte destes alimentos precisavam ser importados, quase sempre por via aérea, sendo vendidos com preços bastante altos no mercado. Ayres (1991) destaca que, somente a partir dos anos 70, com a chegada das rodovias, e a conseqüente integração que se seguiu, surgiram modificações importantes, na composição da dieta dos habitantes da Amazônia, acarretadas pelo forte fluxo migratório, sobretudo dos Estados do Sul, ocorrendo uma aproximação dos padrões alimentares dos residentes nos grandes centros urbanos. O padrão alimentar predominante na população paraense em grande parte do século passado reunia, segundo a literatura científica, algumas características potencialmente favorecedoras do processo de carcinogênese gástrica, destacando-se o elevado consumo de carboidratos, representado pela farinha de mandioca, e de alimentos salgados e a a ingestão reduzida de legumes e hortaliças. O intervalo de tempo decorrido entre essas exposições e a observação atual de níveis elevados de câncer gástrico no Pará, asseguraria um razoável período de latência para se supor uma possível contribuição da dieta regional para a distribuição epidemiológica desta neoplasia. A tendência de declínio da mortalidade por câncer gástrico, evidenciada na literatura, foi observada tanto no Estado do Pará ( - 1,81%), quanto em Belém (- 3,46%), no período 1980-1997, tendo maior intensidade nos primeiros anos da série. As taxas padronizadas de mortalidade por câncer de estômago apresentaram magnitudes e padrões distintos no Estado do Pará e em sua capital Belém, assim como no 43 interior. Em Belém, durante todo o período do estudo, foram observadas taxas com magnitudes duas vezes maiores do que aquelas registradas no Estado do Pará, enquanto o interior apresentou sempre os valores mais baixos. Por outro lado, embora tenha sido verificada, entre o primeiro e último períodos da série, uma diminuição da magnitude dessas taxas em Belém, o mesmo não ocorreu no interior do Estado, o que poderia estar refletindo importante subregistro da mortalidade por câncer de estômago nos municípios do interior. Esse fato estaria afetando, também, a distribuição da mortalidade por câncer gástrico no Estado do Pará, ao longo do período em consideração. Analisando diferenciais regionais de mortalidade por câncer de estômago no Estado do Rio de Janeiro, Boschi Pinto e colaboradores (1991) também evidenciaram um gradiente crescente na magnitude das taxas da capital, da região metropolitana e do interior. Embora seja necessário levar em conta possíveis variações da qualidade dos dados de mortalidade, ao se comparar áreas geográficas diferentes, o comportamento observado poderia representar exposições ambientais distintas dessas populações, no passado. A análise das taxas padronizadas de mortalidade por câncer de estômago segundo sexo, evidenciou, à semelhança da literatura, tanto no Estado do Pará como em Belém, um predomínio dos óbitos no sexo masculino e nas faixas etárias mais velhas (Barcelos & Peccin, 1983; Boschi Pinto & Coleman, 1990; Coleman et al, 1993). No Pará, as taxas de mortalidade no sexo masculino apresentavam, no primeiro triênio, valores cerca de duas a três vezes menores do que aqueles observados para esse sexo em outros países como a antiga União Soviética, em 1990 (La Vecchia et al, 1994a) e Portugal, no período 1968-1992 (Aragones et al, 1997) e aproximadamente uma e meia vezes menor do que aqueles de outros estados como o Rio de Janeiro, em 1979-81 (Boschi Pinto & Coleman, 1990) e o Rio Grande do Sul em 1979 (Barcelos & Peccin, 1983), situando-se em patamares similares aos observados para o sexo feminino, nas mesmas localidades. Em Belém, entretanto, as magnitudes das taxas de mortalidade, para ambos os sexos, acompanham os padrões descritos para a antiga União Soviética, encontrando-se bem acima daqueles observados em Portugal e nos dois estados brasileiros mencionados. Nomura (1996) relata que a razão de taxas de incidência, entre os dois sexos se situa, comumente, entre 1,5 e 2,5, observando que as populações de mais alto risco tendem a apresentar maiores razões de sexo em comparação com aquelas de risco mais baixo. As 44 razões de sexo das taxas de mortalidade, no Pará, variaram entre 2,1 e 1,9, sendo similares às observadas por Ries e co-autores ( 1996) nos Estados Unidos e por Pastorelo e Gotlieb (1978) em São Paulo. Em Belém, as diferenças entre os sexos foram bem maiores, chegando a quase 3:1, no início do período de estudo e sendo de cerca de 2:1, no último triênio. Ao contrário do que é relatado na literatura ( Coleman et al, 1991; La Vecchia et al, 1994a), entretanto, foi observada uma tendência mais acentuada de declínio das taxas de mortalidade no sexo masculino ( - 3,17% em Belém e – 2,04% no Pará) do que no feminino ( - 2,00% e – 1,44%, respectivamente). A diminuição da diferença de magnitude das taxas de mortalidade entre as faixas etárias, verificada no período de estudo no Estado do Pará, é referida também por La Vecchia e colaboradores (1994a) na União Soviética. Coleman e co-autores (1993) relatam que, em muitas populações, a tendência de declínio da incidência e da mortalidade do câncer de estômago é maior em indivíduos mais velhos e menor ou até inversa, entre indivíduos mais jovens. A condição sócio-econômica tem sido associada à ocorrência de câncer gástrico (Parkin et al, 1993; Muir & Nectoux, 1996). No Município de São Paulo, Reis (2001) observou que as taxas de mortalidade por câncer de estômago eram mais elevadas nas áreas de pior inserção sócio-econômica. No nosso estudo, embora não se disponha das taxas de mortalidade segundo essa variável, pode-se observar que os indivíduos com baixa ou nenhuma escolaridade, que representam, possivelmente as classes sócio-econômicas mais baixas, foram aqueles que apresentaram os maiores percentuais de óbito por essa neoplasia. Não foi possível analisar a distribuição do conjunto de óbitos por câncer gástrico segundo diferentes grupos de ocupações. Entretanto, embora a condição sócio-econômica possa estar relacionada à ocupação, as evidências disponíveis indicam que as exposições ocupacionais não desempenham papel importante na ocorrência da neoplasia de estômago (Nomura, 1996). O consumo alimentar da população paraense que vivia nas cidades, até a década de 60, configura-se como um padrão dietético de alto risco para neoplasia gástrica (alta ingestão de peixes e carnes secos e salgados e de alimentos conservados, baixo consumo de vegetais e ingestão elevada de farinha). Esse padrão dietético poderia contribuir parcialmente para as altas taxas de mortalidade por câncer gástrico observadas em Belém. 45 Por outro lado, a melhora da conservação e estocagem dos alimentos e uma dieta mais variada e afluente poderiam ter contribuído para o declínio observado nas taxas de mortalidade no período de estudo. A observação de um movimento inverso no interior do Estado, por outro lado, poderia estar representando uma melhor notificação da mortalidade por câncer e, em parte, as modificações do padrão alimentar observadas naquela população, a partir da década de 70. 46 7 - CONCLUSÃO A mortalidade por câncer gástrico observada em Belém decaiu de 27,16/100.000 habitantes, em 1980-82, para 14,97/100.000 habitantes em 1995-97, redução esta mais acentuada no sexo masculino e na faixa etária de maiores de 70 anos, sendo observada tendência similar para a população do Estado do Pará em seu conjunto. No Estado do Pará, a magnitude das taxas padronizadas de mortalidade do sexo masculino, em toda a série analisada, foi bastante superior a das mulheres, com razões homem/mulher de cerca de 2,0. A análise das taxas de mortalidade segundo faixa etária evidenciou que os grupos mais velhos apresentaram taxas com maior magnitude. A magnitude das taxas padronizadas de mortalidade por câncer de estômago em Belém, em toda a série analisada, foi bastante superior à observada para o Estado do Pará . O sexo masculino apresentou taxas de mortalidade bem maiores do que as do sexo feminino, com razões homem/mulher que variaram entre 2,9 e 2,4. Os grupos mais velhos apresentaram taxas com maior magnitude. Apesar de ter sido observado um declínio da mortalidade por câncer gástrico em Belém, para ambos os sexos, ao longo das décadas de oitenta e noventa, as taxas de mortalidade por essa neoplasia nessa capital, no final da série (1995-97) eram ainda superiores àquelas existentes em 1980-82 na maior parte das capitais analisadas. 47 8 – Referências Bibliográficas ABREU, E., 1997. A prevenção primária e a detecção do câncer de estômago. Cadernos de Saúde Pública, 13 (Supl.1):13-17. ABIB, A.R.; OLIVEIRA, I.M. de; KOIFMAN, S.,1997. Histopatologia do câncer de estômago (classificação de Lauren) em amostra de pacientes hospitalares no Rio de Janeiro, 1980-1995. Cadernos de Saúde Pública, 13(Supl.1):99-104. ARAGONES, N.; POLLAN, M.; RODERO, I.; LOPEZ-ABENTE, G., 1997.Gastric cancer in the European Union (1968-1992): mortality trends and cohort effect. Annals of Epidemiology, 7:294-303. AYRES, A., 1991. Alimentação na Amazonia. In: Aspecto Econômico da Alimentação na Amazônia. Instituto de Antropologia e Etnologia do Pará. IV:17-26. BARCELOS, L.B. & PECCIN, D.A., 1983. Incidência e mortalidade por câncer no Rio Grande do Sul, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, 17:367-76. BARKER, D.J.P.; COGGON, C.; OSMOND, C., 1990. Poor housing in childhood and high rates of stomach cancer in England and Wales. British Journal of Cancer, 61:575-578. BASTOS, M. L.; FERREIRA, M.A., 1977. Dificuldades e incerteza da toxicologia perante os constituintes alimentares. Sociedade Brasileira de Ciências e Tecnologia de Alimentos, 23:125 – 140 BOSCHI PINTO, C. & COLEMAN, M. P., 1990. Cancer mortality in Rio de Janeiro. International Journal of Cancer, 46:173-177. BOSCHI PINTO, C.; COLEMAN, M.P.; CASTILHO, E.A., 1991. Diferenciais regionais de mortalidade por câncer no estado do Rio de Janeiro, Brasil, 1979-1981. Revista de Saúde Pública, 25:267-75. BOTTERWECK, A. A.; van der BRANDT, P. A.; GOLDBOHM, R. A., 1998. A prospective cohort study on vegetable and fruit consumption and stomach cancer risk in The Netherlands. American Journal of Epidemiology, 148:842-853. BRITTO, A. V. de., 1997. Câncer de estômago: fatores de risco. Cadernos de Saúde Pública, 13(supl.1):7-13. BRUMUN, E., 1982. Alimento, População e Desenvolvimento. Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos. Anais do XVI Congresso Brasileiro de Ciência e Tecnologia de Alimentos. Rio de Janeiro. 48 COLEMAN, M. P; ESTEVE, J; DAMIECKI, P; ARSLAN, A; RENARD, H., 1993. Trends in cancer incidence and mortality. IARC Scientific Publication, n0 121, Lyon, France. COMISSÃO ESTADUAL DE PLANEJAMENTO AGRÍCOLA, 1978. Diagnóstico do setor agrícola do Pará. O meio físico - características e potencialidades dos recursos naturais. Belém, Pará. CORELLA, D; CORTINA, P.; GUILLEN, M., 1996. Dietary habits and geographic Variation in stomach cancer mortality in Spain. European Journal of Cancer Prevention, 5:249-257. COTRAN, R.S.; KUMAR, V.; COLLINS, T., 2000. O trato gastrintestinal. In: ROBBINS, S. (ed). Patologia estrutural e funcional. Guanabara Koogan. Rio de Janeiro. 6ª edição. DOLL, R..,1980.The epidemiology of cancer. Cancer, 45:2475-2485. EMPRAPA - EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA, 1992. O extrativismo animal na Amazônia: o caso de uma economia ilegal. Centro de Pesquisa Agroflorestal da Amazônia - CPATU. Belém. EUROGAST STUDY GROUP, 1993. An international association between Helicobacter pylori infection and gastric cancer. The Lancet, 341:1359-1362. FONSECA, L.A.M. , 1995. A evolução das doenças neoplásicas. In: MONTEIRO, C.A.(Org). Velhos e novos males da saúde púlica no Brasil: a evolução do país e suas doenças. Hucitec, São Paulo. GALANIS, D.J.; KOLONEL, L.N.; LEE, J.; NOMURA, A.,1998. Intakes of selected foods and beverages and the incidence of gastric cancer among the Japanese residentes of Hawaii: a prospective study. International Journal of Epidemiology, 27:173-180. GODIM, L.C.; DIAS, D.;CAMARGO, J.L.; RODRIGUES, M.A.M., 1994. Dieta e Câncer. Cadernos de Nutrição, 7: 1-11 GOMES-CARNEIRO, M. R. G.; RIBEIRO-PINTO, L.F.; PAUMGARTTEN, F.J.R., 1997. Fatores de risco ambientais para o câncer gástrico: a visão do toxicologista. Cadernos de Saúde Pública, 13 (supl.1):27-38. GONZÁLEZ, C.A.; RIBOLI, E.; BADOSA, J.; BATISTE, E.; CARDONA, T.; PITA, S.; SANZ, J.M.; TORRENT, M.; AGUDO, A., 1994. Nutritional factors and gastric cancer in Spain. American Journal of Epidemiology, 139:466-473. GOODMAN, K.J., 1997. Implications of Helicobacter pylori infection for stomach cancer prevention. Cadernos de Saúde Publica, 13(supl.1):15-25. 49 HWANG, H.; DWYER, J.; RUSSELL, M., 1994.Diet, Helicobacter pylori infection, food preservation and gastric cancer risk: Are there new roles for preventive factors? Nutrition Reviews, 52:75-83. HOWSON, C.P.; HIYAMA, T.; WYNDER, E. L., 1996. The decline in gastric cancer: epidemiology of an unplanned triumph. Epidemiologic Reviews, 8:1-27. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE), 1966. Anuário Estatístico do Brasil. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE), 1978. Anuário Estatístico do Brasil. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE), 1991. Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) 1987/88. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE), 1998. Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) 1995/96. IZEL, A C.U.; TUMA, R.; MONTEIRO, R., 1998. Toxicologia de alimentos. Fundação Universidade da Amazônia. Manaus. JI, B.T.; CHOW, W.H.; YANG, G.; MCLAUGHLIN, J.K.; ZHENG, W.; SHU, X.O.; JIN, F.; GAO, R.N.; GAO, Y.T.; FRAUMENI, J.F. Jr., 1998. Dietary habits and stomach cancer in Shangai, China. International Journal of Cancer, 76:659-664. KARPEH, M; KELSEN, D.P.; TEPPER, J. E., 2001. Cancer of the stomach. In: DEVITA Jr., V.T.; HELMAN, S.; ROSENBERG, S.A. (ed). Cancer Principles & Practice of Oncology. Lippincot, Williams & Wilkins, Philadelfia, USA. 6th edition. KOIFMAN, S.; KOIFMAN, R.J., 1997. Stomach cancer incidence in Brazil: an ecologic study with selected risk factors. Cadernos de Saúde Pública, 13 (supl. 1):85-92. KONO, S. & HIROHATA, T. ,1996. Nutrition and stomach cancer. Cancer Causes and Control, 7:41-55. LATORRE, M.R.D.O., 1997. A mortalidade por câncer de estômago no Brasil: análise do período de 1977 e 1989. Cadernos de Saúde Pública, 13 (supl.1):67-78. LA VECCHIA, C; LEVI, F; LUCCHINI, F; NIGRI, E; BOYLE, P., 1994a. Trends in cancer mortality in the USSR, 1965-1990. International Journal of Cancer, 56:31-39. LA VECCHIA, C.; D`AVANZO, B.; FRANCESCHI, S.; NEGRI, E.; PARAZZINI, F.; DECARLI, A. , 1994b. Menstrual and reproductive factors and gastric cancer risk in women. International Journal of Cancer, 59:761-764. 50 LA VECCHIA, C.; MUNOZ, S. E.; BRAGA, C.; FERNANDEZ, E.; DECARLI, A., 1997. Diet diversity and gastric cancer. International Journal of Cancer, 17:255-257. LEDERER, J., 1990. Alimentação e câncer. 3.ed. Editora Manole. São Paulo. LIBONATI, V. F.; ANDRADE, J. C.; GUERREIRO, P .M. S., 1978. Alguns aspectos da produção de alimentos no Estado do Pará. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE ALIMENTAÇÃO, 5. Maceió. Anais da Faculdade de Ciências Agrarias do Pará. MARIGO, C.; OKUYAMA, M. H.; SANTO, G.C., 1997. Tipos histológicos e mortalidade por câncer gástrico em São Paulo. Cadernos de Saúde Pública, 13(Supl.1):93-97. MAYER, R. J., 2001. Câncer do trato gastrointestinal. In: BRAUNWALD, E.; FAUCI, A.S.; KASPER, D.L.; HANSEN, S.L.; LONGO, D.L.; JAMESON, J.L.(ed). Harrrison - Medicina Interna. M Graw Hill Interamericana do Brasil Ltda. Rio de Janeiro.16ª edição. MAYNE, S.T; RISCH, H.A.; DUBROW, R.; CHOW, W.; GAMMON, M.D.; VAUGHAN, T.L.; FARROW, D.C.; SCHOENBERG, J.B.; STANFORD, J.L.; AHSAN, H.; WEST, A.B.; ROTTERDAM, H.; BLOT, W.J.; FRAUMENI Jr., J.F., 2001. Nutrient intake and risk of esophageal and gastric cancer. Cancer Epidemiology, Biomarkers & Prevention, 10:1055-1062. MELO, F.H., 1982. O problema alimentar no Brasil. Editora Paz e Terra. São Paulo. MENDONÇA, G. A. S., 1997. Evolução da mortalidade por câncer de estômago no estado do Rio de Janeiro: uma comparação entre a região metropolitana e o interior no período de 1979 a 1986. Cadernos de Saúde Pública, 13 (supl.1)79-84. MINISTÉRIO DA SAÚDE/DATASUS/SIM 1979-1998, 1999. (Dados do CD-ROM). MINISTÉRIO DA SAÚDE. DATASUS. 2001. Informações de Saúde. População Residente. Disponível na Internet: http://www.datasus. gov.br/cgi/ibge/popmap.htm. MORAES, M. F., SOUZA FILHO, O., 1996. Câncer gástrico. In: MORAES, M. F (Ed). Princípios de Cirurgia Oncológica. Atheneu. São Paulo. MORAN, J., 1977. O Problema Alimentar no Brasil. A importância do Equilíbrio Tecnológico. Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos, 23, 141-150. MIZOUE, T.; TOKUI, N.; NISHISAKA, K.; NISHISAKA, S.; OGIMOTO, I.; IKEDA, M.; YOSHIMURA, T., 2000. Prospective study on the relation of cigarette smoking with cancer of the liver and stomach in an endemic region. International Journal of Epidemiology, 29:232-237. 51 MUIR, C. S. & NECTOUX, J., 1996. International patterns of cancer. In: SCHOTTENFELD, D. & FRAUMENI Jr., J.F. (ed). Cancer Epidemiology and Prevention, Oxford University Press Inc. New York, USA. MUNOZ, N.; PLUMMER, M.; VIVAS, J.; MORENO, V.; DE SANJOSE, S.; LOPEZ, G.; OLIVER, W. A., 2001. A case-control study of gastric cancer in Venezuela. International Journal of Cancer, 93:417-23. NOMURA, A., 1996. Stomach Cancer. In: SCHOTTENFELD, D. & FRAUMENI Jr., J.F. (ed). Cancer Epidemiology and Prevention, Oxford University Press Inc. New York, USA. NIGHTINGALE T.E & GRUBER, J.,1994. Helicobacter and human cancer. Journal of the National Cancer Institute, 86:1505-1509. PARKIN, D.M.; PISANI, P.; FERLAY, J., 1993. Estimates of the worldwide incidence of eighteen major cancers in 1985. International Journal of Cancer, 54:594-606. PASTORELO, E.F. & GOTLIEB, S.L.D., 1978. Mortalidade por câncer no estado de São Paulo, Brasil. 1970/1972. Revista de Saúde Pública 12:1-15. PATEL, M.; MENDALL, M. A.; KHULUSI, S., 1994. Helicobacter pylori infection in childhood: risk factor and effect on growth. British medical Journal, 309:1119-1123. REIS, D.O., 2001. Diferenças sócio-econômicas na mortalidade por neoplasias malignas no município de São Paulo, 1997. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Saúde Pública- USP. São Paulo. RIES, L.A.G; HANKEY, B. F.; HARRAS, A.; DEVESA, S. S., 1996. Cancer incidence, mortality and patient survival in the United States. In: SCHOTTENFELD, D. & FRAUMENI Jr., J.F. (ed). Cancer Epidemiology and Prevention, Oxford University Press Inc. New York, USA. . SCHIERI, R.; EVERHART, J.E.; MENDONÇA, G.A.S., 1996. Diet and mortality from commmon cancers in Brazil: an ecological study. Cadernos de Saúde Pública, 12:53-59. SCHOTTENFELD, D., 1981. The 47(suppl.1)1095-1108. epidemiology of cancer: an overview. Cancer, SGABIERI, V.; CÂNDIDO, L.M.B.; STEDEFELDT, E. S., 1992. Alimentação e câncer: fatores de indução e/ou promoção da carcinogênese. Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Federal de Campinas. São Paulo. van LOOM, A.J.; GOLDBOHM, R .A.; VAN DEN BRANDT, P .A., 1998. Socioeconomic status and stomach cancer incidence in men: results from The Netherlands Cohort Study. Journal of Epidemiology and Community Health, 52:166-71. 52 WARD, M.H. & LOPEZ-CARRILLO, L., 1999. Dietary factors and the risk of gastric cancer in Mexico City. American Journal of Epidemiology, 149:925-932. WETTERBERG, G.F; FERREIRA, M.; BRITO, W.L.S, 1976. Fauna amazônica preferida como alimento. Projeto de Desenvolvimento e Pesquisa Florestal. PNUD / FAO / IBDF / EMBRAPA. WINGO, P.A.; RIES, L.A.G.; ROSENBERG, H. M.; MILLER, D. S.; EDWARDS, B .K., 1998.Cancer incidence and mortality – a report card for the U.S. Cancer, 82:1197-1207. WISNIEWSKI, A & LIBONATI, V. F., 1967. Alguns aspectos de alimentação na Amazônia. Instituto de Pesquisas e Experimentação Agropecuária do Norte. Belém, Pará. ZARIDZE, D.; BORISOVA, E.; MAXIMOVITCH, D.; CHKHIKVADZE, V., 2000. Alcohol consumption, smoking and risk of gastric cancer: case-control study from Moscow, Russia. Cancer Causes and Control, 11:363-71. 53 ANEXO 1 CONSUMO ALIMENTAR PER CAPITA ANUAL (KG) SEGUNDO PESQUISAS DE ORÇAMENTO FAMILIAR (POFs) 1987/1988 E 1995/1996 1987 /1988 ALIMENTO 1995 / 1996 Belém Fort. Salv. goiania Curitiba P.Alegre Belém Fort .. Salv. Goian. Curitiba P.Ale 1- Alcega - 0.004 0.012 0.072 0.017 0.010 S/I S/I S/I S/I S/I S/I 2-Agrião 0.045 0.008 0.040 0.111 0.051 0.286 0.039 - 0.024 0.071 0.060 0.067 3-Alface 0.235 0.128 0.305 2.498 1.206 1.485 0.193 0.210 1.042 0.597 0.901 4-Brócolis - - 0.014 0.033 0.066 0.015 S/I 0.11 0 S/I S/I S/I S/I S/I 5-Caruru 0.157 - - - - - S/I S/I S/I S/I S/I S/I 6-Cebolinha 0.014 0.164 0.160 0.078 0.002 - S/I S/I S/I S/I S/I S/I 7-Cheiro Verde 8- Couve 0.293 3.236 0.249 0.059 0.034 0.1467 0.153 0.03 0.024 0.022 0.063 0.272 0.011 0.048 0.602 0.075 0.0765 0.421 0.38 5 0.09 0.109 1.569 1.143 1.693 9-CouveFlor 10-Espinafre 0.058 0.034 0.040 0.158 0.796 0.539 - - 0.286 - 0.235 0.001 0.022 0.010 0.070 0.036 0.155 S/I 0.07 5 S/I S/I S/I S/I S/I Alimento 11-Folha de mandioca 12-Hortelã Belém 0.085 Fort. - Salv. - Curitiba S/I P.Alegre S/I 0.002 - 0.101 13Jambuaçú 14-Racula 0.002 - - 15-Repolho Fresco 16-Salsa Hortaliça s/folhosos 1987 /1988 Goian - 1995 / 1996 Goian. S/I Curit - P. Ale - Belém S/I Fortal. S/I Salv. S/I 0.003 0.002 0.000 S/I S/I S/I S/I S/I S/I - - - - S/I S/I S/I S/I S/I S/I 0.001 - 0.014 0.001 0.044 S/I S/I S/I S/I S/I S/I 1.256 0.579 1.422 2.318 1.919 2.904 1.327 0.718 1.548 1.690 1.366 0.677 0.025 0.003 0.070 - 0.005 0.010 S/I S/I S/I S/I S/I S/I 1-Abacate 0.900 0.375 0.297 0.143 0.502 0.427 0.745 0.721 0.183 0.237 0.366 0.262 2-Abacaxi 0.888 2.886 2.448 3.886 2.013 2.253 0.871 0.742 - - - - 3-Bacuri 0.148 - - - - - S/I S/I S/I S/I S/I S/I - 0.029 0.160 0.839 7.738 6.705 S/I S/I S/I S/I S/I S/I FRUTAS 4- Banana d`´agua 5-Banana terra 0.063 0.108 1.397 0.823 0.117 0.087 54 6-Banana prata 7-Beriba 8.640 16.06 4 - 1.907 0.875 0.552 8.111 9.855 4.701 1.965 0.643 1.716 0.015 17.23 6 - - - - S/I S/I S/I S/I S/I S/I 8-Caju 0.001 0.040 0.053 0.002 - - S/I S/I S/I S/I S/I S/I 9-Carambola 0.004 - 0.038 0.001 S/I S/I S/I S/I S/I S/I 10-Cupuaçu 0.432 - - - - S/I S/I S/I S/I S/I S/I 11-Fruta conde 12-fruta pão 0.021 0.041 0.194 - 0.065 S/I S/I S/I S/I S/I S/I - 0.004 0.029 - - - S/I S/I S/I S/I S/I S/I 13-Goiaba 0.040 0.004 0.058 0.030 0.063 0.009 S/I S/I S/I S/I S/I S/I 14-graviola 0.006 0.042 - - - - S/I S/I S/I S/I S/I S/I 15-jambo 0.020 - 0.11 - - - S/I S/I S/I S/I S/I S/I 16-Laranja terra 17-Laranja lima 18-Laranja pera Mamão - 1.070 - - - - S/I S/I S/I S/I S/I S/I 0.135 0.185 0.165 0.070 0.483 0.490 0.080 0.091 0.124 1.102 0.399 0.916 5.803 12.15 9 S/I 11.421 18.505 4.817 2.362 10.08 4 1.805 16.259 S/I 10.68 8 2.444 6.750 S/I 10.;82 3 S/I 8.219 S/I 12.39 3 S/I 3.040 3.705 3.631 Manga S/I S/I S/I S/I S/I S/I 0.364 1.178 0.829 - 0.835 0.605 Maracuja S/I S/I S/I S/I S/I S/I 0.722 1.091 2.096 0.448 1.112 1.801 Tangerina S/I S/I S/I S/I S/I S/I 0.247 0.328 0.449 1.112 1.801 2.317 Maça S/I S/I S/I S/I S/I S/I 1.506 2.014 1.856 3.590 3.;833 4.509 S/I S/I S/I S/I S/I S/I 11,19 1 - - - - - Açaí (emulsão) ALIMENTO - 1987 /1988 1995/1996 Belém Fort.. Salv. Goian. Curitiba P. Aleg Belém Fort. Salv. Goian. Curitiba P.Alegre 1- Abóbora Comum 2-Abobrinha 0.714 0.495 1.938 1.440 0.208 1.224 0.576 0.381 2.096 1.641 0.212 1.436 0.009 0.019 0.015 1.728 0.544 0.115 - 0.026 0.029 0.637 0.566 0.208 3-Berinjela 0.111 0.001 0.016 0.116 0.124 0.039 0.046 0.042 0.171 0.141 0.117 0.087 4-Chuchu 0.467 1.491 1.503 0.951 0.882 0.394 0.618 1.449 2.754 1.607 0.823 0.661 5-Ervilha vagem 6-Jilo - - 0.084 0.949 0.036 - S/I S/I S/I S/I S/I S/I - - 0.084 0.949 0.036 - - - 0.208 0.802 0.064 - 7-Maixe 0.197 0.017 0.091 0.070 0.004- - S/I S/I S/I S/I S/I S/I 8-Pepino Fresco 9- Quiabo 0.255 0.175 0.230 1.176 0.756 0.285 0.278 0.107 0.423 1.299 1.164 0.610 0.094 0.024 0.841 0.545 0.057 0.009 0.127 0.027 1.097 1.060 0.083 0.011 10-Vagem 0.100 0.068 0.094 1.027 0.523 0.348 0.027 0.196 0.138 0.937 0.442 0.510 TUBERCUL O E OUTROS 55 1- Cenoura 0.960 2.608 2.450 5.618 1.906 2.098 1.474 2.329 4.279 3.555 2.008 2.469 2-Beterraba 0.123 0.662 0.600 0.423 1.051 1.432 0.210 0.848 0.489 1.431 1.077 1.416 3-Mandioca 0.373 0.059 0.301 2.527 0.523 3.680 0.258 0.087 0.637 1.859 0.833 2.992 0.008 0.033 - - - - S/I S/I S/I S/I S/I S/I 37.787 9.830 17.989 2.039 0.790 0.808 33.897 7.411 14.387 1.240 0.887 0.559 0.004 - - - - - S/I S/I S/I S/I S/I S/I 0.221 1.178 0.631 0.870 3.896 12.862 0.176 1.503 1.010 1.065 3.024 1.121 - - - - - 0.002 S/I S/I S/I S/I S/I S/I 0.067 0.037 0.032 0.201 0.083 0.036 S/I S/I S/I S/I S/I S/I 0.152 0.068 0.132 0.075 0.197 0.343 S/I S/I S/I S/I S/I S/I - - - - 0.001 - S/I S/I S/I S/I S/I S/I 0.003 - - - - - S/I S/I S/I S/I S/I S/I 0.484 0.003 0.116 - 0.001 - S/I S/I S/I S/I S/I S/I 0.014 - - - - - S/I S/I S/I S/I S/I S/I 0.001 0.019 0.017 - - 0.014 S/I S/I S/I S/I S/I S/I 0.022 - - - 0.003 - S/I S/I S/I S/I S/I S/I 0.231 0.248 0.089 0.162 0.246 0.252 0.168 0.132 0.084 0.073 0.243 0.164 0.033 - - - - - S/I S/I S/I S/I S/I S/I 0.039 - - 0.008 - - S/I S/I S/I S/I S/I S/I 0.015 - - 0.007 - - S/I S/I S/I S/I S/I S/I 0.423 0.007 - - - - S/I S/I S/I S/I S/I S/I 0.118 0.037 0.244 0.278 0.132 0.102 0.481 0.329 0.250 0.449 0.333 0.348 4-FARINHA E FÉCULOS 1-Farinha banana 2-Farinha de mandioca 3- Farinha de peixe 4-Fubá de Milho 1-Repolho em conserva 2-Azeitona em Conserva 3-Ervilha em Conserva 4- Sopa de Leg. em Con 5-Cação salgado 6-Camarão salgado 7-guarujuba salgad0 8-Marluza em file congelado 9-Pescada em conserva 10-Sardinha em conserva 11-Tainha salgada 12-Dourada salgada 13-Piramutaga salg. 14- Pirarucu salg. 15- suco de fruta envas. 1987 /1988 Alimento 1995/1996 Belém Fort.. Salv. Goian. Curitiba P. Aleg Belém Fort. Salv. Goian. Curitiba P.Alegre 16-Amaciante p/ carne 17-Caldo de carne table. 18-Caldo galinha tablete 19-caldo legumes em tablete 20-fermento 0.001 - - 0.001 - - S/I S/I S/I S/I S/I S/I 0.011 0.017 0.038 0.019 0.042 0.016 0.007 0.011 0.036 0.009 0.016 0.009 0.011 0.017 0.038 0.019 0.042 0.061 0.016 0.036 0.035 0.029 0.080 0.061 - - 0.001 0.002 0.000 0.000 S/I S/I S/I S/I S/I S/I 0.012 0.014 0.040 0.082 0.171 0.096 0.015 0.007 0.040 0.073 0.189 0.137 21-Massa tomate 22-Molho de soja 0.090 0.464 0.657 1.028 1.144 1.057 0.060 0.033 0.701 0.604 0.811 0.641 0.007 0.015 0.008 0.002 0.012 0.04 S/I S/I S/I S/I S/I S/I 56 23-Molho de tomate 24-vinagre de alcool 25-Molho tucupi 26-Maionese 0.108 0.079 0.121 0.083 0.180 0.097 0.122 0.149 0.194 0.111 0.444 0.237 0.573 0.436 0.591 0.261 0.926 0.622 0.648 0.299 0.693 - 1.089 0.516 0.352 - - - - - S/I S/I S/I S/I S/I S/I 0.099 0.227 0.174 0.252 0.363 0.300 0.241 0.329 0.298 0.219 0.739 0.619 27-Bacalhau 0.039 0.022 0.116 0.058 0.016 0.073 0.141 0.013 0.313 0.047 0.140 0.006 28-toucinho 0.078 0.429 0.030 - 0.020 0.046 0.033 0.116 0.054 0.157 0.117 0.011 29-Mortadela 0.135 0.098 0.018 0.282 0.289 0.428 0.369 0.480 0.318 0.216 0.673 0.855 30-Presunto 0.010 0.007 0.009 0.028 0.112 0.065 0.233 0.199 0.252 0.547 0.563 0.803 31-Salsicha 0.104 0.102 0.192 0.081 0.478 0.415 0.241 0.276 0.415 0.269 1.485 2.891 32-Linguiça 0.072 0.100 0.172 0.938 1.037 0.731 0.191 0.620 1.416 0.934 2.305 0.919 33-Cafés 2.080 2.115 2.184 2.482 3.092 2.372 0.001 0.074 0.121 0.010 0.601 2.482 34-Chás 0.023 0.023 0.043 0.034 0.230 2.154 0.001 0.074 0.121 0.010 0.601 2.482 35Refrigerante COCA Carne de Sol 8.311 6.373 4.307 7.279 10.367 13.955 9.685 9.910 7.578 5.912 12.847 18.639 0.037 0.112 0.369 0.384 - - S/I S/I S/I S/I S/I S/I Carne em conserva Carne defumada Carne salgada 0.263 0.247 0.108 0.017 0.014 - S/I S/I S/I S/I S/I S/I 0.004 - 0.008 - - 0.003 S/I S/I S/I S/I S/I S/I 0.019 0.008 0.014 - - - S/I S/I S/I S/I S/I S/I Carne seca 2.626 0.193 3.629 0.087 0.097 0.045 3.015 0.305 4.140 0.027 0.205 0.066 12.853 8.658 8.525 9.975 9.374 7.677 16.201 9.744 7.946 9.957 14.176 10.486 20.597 5.667 11.237 6.884 8.774 21.042 20.191 6.377 10.519 7.732 9.055 17.529 4.082 1.601 5.091 0.584 0.217 0.242 3.960 1.649 5.324 0.334 0.550 0.243 Suínas com e sem osso Suínas outras 0.879 2.086 0.969 3.421 2782 1.410 0.385 0.262 0.196 0.236 0.675 0.271 0.739 0.895 2.067 0.874 1.794 2.884 1.246 1.317 2.062 1.259 3.474 5.383 De outros animais Vísceras 0.075 0.555 0.965 1.008 1.135 0.918 0.191 1.005 1.545 0.934 2.328 1.116 2.572 1.579 2.816 0.551 0.580 1.279 2.720 1.129 2.811 0.534 0.722 0.646 Pescados 14.054 4.979 5.224 0.904 1.657 1.511 13.960 4.124 4.608 1.074 1.793 1.455 CARNES Bovina de primeira Bovinas de segunda Bovinas outras SUINOS 36 1987 /1988 Alimento 1995/1996 Belém Fort.. Salv. Goian. Curitiba P. Aleg Belém Fort. Salv. Goian. Curitiba P.alegre Aves 15.007 15.454 13.610 9.461 12.282 16.412 27.842 20.215 20.451 13.846 18.132 19.921 Ovos 4.391 6.307 8.345 5.159 6.070 6.835 4.474 5.156 6.779 1.818 4.073 5.699 Laticínios 10.319 46.040 36.964 73.064 78.598 104.348 12.618 31.695 23.680 55.448 75.218 85.196 Queijo e Requejão Sais 0.656 1.120 0.949 1.140 1.864 1.741 0.868 1.198 1.632 2.567 2.428 2.477 57 Sal grosso 0.456 0.131 0.019 0.180 0.164 0.342 0.021 0.010 - 0.030 0.083 0.336 Sal refinado 2.293 2.960 2.217 3.214 3.057 3.280 2.486 2.542 2.016 2.403 3.709 1.967 58