Sexta-feira, 1º de abril de 2016 ef ┆┆┆ a CiênCia vai venCer a luta COntra O Produção Aline Prado Fórum O Futuro do Combate ao Câncer Foto Leo Eloy/Estúdio Garagem semináriosfolha ab câncer? Tubos de ensaio vistos de cima a cada dia, milhares de pessoas no mundo recebem o diagnóstico de câncer. se no passado isso era uma sentença de morte, no futuro espera-se que a doença seja crônica e controlável, como a aids. fórum promovido pela folha sobre o tema mostrou um misto de otimismo e realismo. enquanto as pesquisas avançam, os custos do tratamento dificultam sua universalização. o câncer desafia a ciência há mais de um século. nenhuma outra doença foi tão estudada. por dia, são publicados em média 280 artigos científicos sobre o tema. o caminho para o futuro se divide em três possibilidades: imunoterapia, terapia-alvo e manipulação de dna. nada disso elimina a prevenção e o diagnóstico precoce. enquanto a guerra não é vencida, pacientes comemoram o sucesso em cada batalha. c acesse em folha.com/combateaocancer 2 Nós temos um sistema de avaliação de medicamentos velho e burocratizado Fotos Eduardo Knapp/Folhapress semináriosfolha Fórum O Futuro do Combate ao Câncer Sexta-feira, 1º de abril de 2016 ef ┆┆┆ Paulo hoff presidente do Icesp A discussão do custo não pode ser o valor da vida porque isso não tem limite; tem que ser o benefício do tratamento O rico paga quanto for preciso por sua saúde, mas o pobre morre sem tratamento drauZio Varella oncologista e colunista da Folha henrique Prata diretor-geral do Hospital do Câncer de Barretos OncOlOgia evOlui nO país, mas custO limita acessO tratamentos Caros e esCassez de pesquisas ClíniCas no Brasil estÃo entre os prinCipais proBlemas no Lucra-se muito com a verdade; a conspiração do silêncio não beneficia nenhuma parte Vera anita Bifulco coordenadora do serviço de psico-oncologia do Instituto Paulista de Cancerologia Não existe um remédio genérico para câncer; o que é bom para um, pode matar outro Marco antonio Zago reitor da USP Tratamento interdisciplinar facilita ver o paciente não como um órgão comprometido, mas como um todo fernanda caPareli oncologista do Hospital Sírio-Libanês ComBate ao CÂnCer; seminário em sÃopauloreuniuespeCialistas para disCutir os avanços, os entraves e o futuro da luta Contra a doença DE SÃO PAULO cOLAbOrAçÃO PArA A folha De um lado, a medicina oncológica avança, com tratamentos sofisticados como a imunoterapia, que promete transformar tumores agressivos em doenças tratáveis. De outro, os entraves que já são velhos conhecidos no Brasil: a burocracia para a realização das pesquisas clínicas, que atrasa o lançamento de medicamentos, e os altos custos do tratamento, que oneram os cofres dos sistemas de saúde público e suplementar. Enquanto isso, cresce o clamor popular por soluções acessíveis para tratar a doença, ao ponto de a fosfoetanolamina, a “pílula do câncer”, ter sido aprovada pelo Senado antes mesmo de passar por ensaios clínicos (teste em seres humanos). Esses e outros temas foram discutidos no fórum O Futuro do Combate ao Câncer, realizado pela Folha no Tucarena, em São Paulo, na terça (29) e na quarta (30), com patrocínio dos laboratórios MSD e Bristol-Myers Squibb. A cada ano, 15 milhões de pessoas em todo o mundo recebem o diagnóstico de câncer, doença que mata 8 milhões anualmente. “É a segunda causa de morte em nosso país. E, nesta década, se tornará a primeira causa em vários países da Europa e algumas regiões dos Estados Unidos”, disse o oncologista Paulo Hoff, presidente do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira), que abriu o evento. Com os tratamentos disponíveis hoje, segundo Hoff, 60% dos pacientes sobrevivem. Mas muitos ainda sofrem por falta de diagnóstico precoce, o que diminui as chances de cura. Uma questão recorrente durante os dois dias do encontro foram os valores altos dos tratamentos de câncer. “Chegamos a uma situação em que o custo do tratamento oncológico ficou absurdo. Calcular custo é uma equação complexa, e esse cálculo é um buraco negro”, afirmou o oncologista Drauzio Varella, colunista da Folha. Ele lembra que há novos medicamentos que, se fossem comprados, custariam metade de todo o orçamento do Ministério da Saúde. “É preciso identificar quais tratamentos fazem a diferença e quais pacientes seriam mais beneficiados por eles.” Stephen Stefani, oncologista do Instituto do Câncer do Hospital Mãe de Deus, disse que o custo de um tratamento chega a mais de US$ 1 milhão (R$ 3,6 milhões) por ano por paciente. “Está cada vez mais difícil encarar esse custo. Isso aumenta a desigualdade entre os recursos para a saúde pública e os aplicados na privada.” Raquel Lisboa, gerente-geral de regulação da Agência Nacional de Saúde Suplementar, afirmou que, embora haja uma pressão para que os planos de saúde incorporem tecnologias sofisticadas, os recursos são limitados. “Quem financia o sistema é o próprio usuário, por isso usamos tantos critérios.” PÚBLICO E PRIVADO Durante o evento, Henrique Prata, diretor-geral do Hospital do Câncer de Barretos, criticou a isenção fiscal a grandes hospitais privados em um cenário em que os recursos para saúde pública são escassos. Segundo ele, a isenção de R$ 1,6 bilhão ao ano beneficia só seis hospitais em todo o país. “Existe, por debaixo dos panos, favorecimento à medicina privada.” O aumento de custo causado pelo diagnóstico tardio e pela demora no atendimento também foi apontado. No Hospital do Câncer de Barretos, mais de 50% dos tumores de mama chegam em estágio avançado, quando o tratamento custa dez vezes mais do que na fase inicial. Antonio Luiz Frasson, mastologista do Hospital Israelita Albert Einstein, conta que, no sistema privado, tumores de mama têm, em média, 1,5 centímetro, enquanto no SUS a metade das mulheres chega com tumores de 5 centímetros. “Tumores avançados exigem todas as terapias disponíveis, a custo muito alto.” Para ele, o acesso rápido ao tratamento é mais importante do que terapias caras, como exames ultrassensíveis. “Detectamos alterações mínimas, mas, talvez 30% das intervenções feitas hoje não fossem necessárias.” Mesmo com tantos problemas e limitações orçamentárias, Paulo Hoff se diz otimista: “O Brasil está melhor do que há 15 anos e temos ferramentas para progredir mais”. (cláudia collucci, saBine righetti, Walter Porto, andrea Vialli, iara BiderMan e Julio laMas) ab Sexta-Feira, 1° De abril De 2016 HHH semináriosfolha Fórum O Futuro do Combate ao Câncer O pioneirismo da Bristol-Myers Squibb no campo da Imuno-Oncologia mudou a maneira como medicamentos para o câncer são desenvolvidos, pesquisas clínicas são conduzidas e dados clínicos são avaliados e, atualmente, possibilita uma sobrevida a longo prazo e melhor qualidade de vida para os pacientes que convivem com a doença. Esta é uma nova abordagem para o tratamento de diversos tipos de câncer que utiliza a capacidade natural do próprio sistema imunológico para combater as células tumorais. Material destinado ao público leigo. Março/2016 3 Fotos Arquivo pessoal 4 semináriosfolha Há vida além da doença Fiz meu primeiro tratamento há 17 anos, quando tive câncer de mama. Amputei a mama e fiz quimioterapia e radioterapia. Depois tive metástase pulmonar em 2007 e óssea em 2011 e 2015. Estou escrevendo um livro com minha história. Depois do primeiro diagnóstico, me separei depois de 30 anos e então tive alguns namorados. Também dirigi uma escola da Aeronáutica — sou professora de matemática aposentada—, fiz pós em design de interiores e mudei de casa. Fiz ainda diversas viagens, a última à Europa depois de um tratamento de tuberculose. Minha família achou um abuso. Eu, não. Fórum O Futuro do Combate ao Câncer Sexta-feira, 1º de abril de 2016 ef ┆┆┆ Maria Christina Pinheiro, 63 Rio de Janeiro de dentro para fora O QUE É UM CÂNCER CiÊNCiA obtém suCesso Com mediCAmeNto que fortAleCe sistemA imu- Células normais NológiCo pArA que ele CombAtA só o CâNCer, em vez de AtACAr CélulAs tumorAis e sAdiAs Ao mesmo tempo SABINE RIGHETTI COLABORAÇÃO PARA A FOLHA Um novo holofote sobre as pesquisas de câncer parece indicar o rumo dos estudos daqui para frente. Cientistas norte-americanos conseguiram uma sequência de bons resultados contra a doença ao ativarem o próprio sistema imunológico dos doentes. É a chamada “imunoterapia”, bola da vez da ciência oncológica de ponta. O que se chama de câncer, na verdade, é um conjunto de mais de uma centena de doenças. Elas começam com a mutação inicial de um gene, que leva à multiplicação descontrolada das células até formar uma massa tumoral. O momento épromissorpara as pesquisas porque há muita informação científica acumulada, segundo Dirce Carraro, que estuda a identificação de novos genes associados a câncer hereditário no A.C. Camargo Cancer Center. Levantamento feito por Estêvão Gamba, especialista em dados científicos da Unifesp, mostra que de 2012 a 2014 foram publicados 305.858 artigos sobre câncer. Quase 280 estudos por dia. Há décadas, a praxe da medicina é tratar a doença com uma combinação de cirurgia, de fármacos para atacar as células (cancerígenas e saudáveis) e de radiação no tumor. Às vezes, dá certo e o câncer vai embora (se desco- berto no início, a chance de cura é de até 90%). O problema é que a maioria dos tumores avança em silêncio, e o número de diagnósticos não para de crescer: o Inca (Instituto Nacional de Câncer) estima 596 mil casos novos até 2017 no Brasil. A imunoterapia, no lugar de atacar o organismo como a quimioterapia e a radioterapia, fortalece o corpo para que ele combata a doença. O objetivo é o mesmo: atingir a massa tumoral. A área tem sido estudada há mais de uma década, com foco em melanoma, tipo agressivo de câncer de pele (que responde a 1,6% dos cânceres no mundo). A Bristol-Myers Squibb aprovou, em 2013, nos EUA, o primeiro imunoterápico do mercado. O Yervoy, contra melanoma, consegue “desbloquear” os freios do sistema imunológico que o próprio câncer provoca. “Não se trata de matar o câncer, mas de ajudar o corpo a matá-lo”, diz Roger Miyake, diretor médico da Bristol no Brasil. A empresa e a MSD também aprovaram mais dois imunoterápicos nos EUA, no ano passado. Um deles, o Opdivo, para melanoma e câncer de pulmão, deve chegar ao Brasil neste ano. O outro, Keytruda, da MSD, foi usado com sucesso no tratamento do melanoma do expresidente norte-americano Jimmy Carter, 91. Conseguiu driblar a doença, já em me- As células do nosso corpo são programadas para se reproduzirem de forma organizada e controlada Essa reprodução é responsável pela formação, crescimento e regeneração dos tecidos Células tumorais Célula tumoral circulante Quando um grupo de células se multiplica de modo desordenado, chamamos isso de tumor Ele é chamado de maligno quando tem comportamento invasivo, capaz de invadir tecidos e gerar metástases COMO UM CÂNCER SE ESPALHA PELO ORGANISMO Células normais Células do tumor Metástase Célula tumoral circulante Algumas células do tumor podem se desprender do tecido e viajar dentro da corrente sanguínea Algumas dessas células param em outra parte do organismo e se reproduzem no órgão invadido CARACTERÍSTICAS DE ALGUNS TIPOS DA DOENÇA Pulmão Mama Próstata Pele comum (não-melanoma) Características Mais comum dentre os tumores malignos, o câncer de pulmão é o que mais mata no mundo: um em cada cinco mortos por câncer tiveram a doença no pulmão Tipo de câncer mais comum entre as mulheres no Brasil e no mundo, depois de pele não-melanoma Câncer da terceira idade: 75% dos casos a partir dos 65 anos; no Brasil, é o segundo mais comum entre os homens (atrás de pele não-melanoma) Câncer mais frequente no Brasil, corresponde a 25% de todos os tumores malignos registrados no país Fatores de risco O consumo de derivados do tabaco está na origem de 90% dos casos dese tipo de tumor maligno Fatores vão desde estímulo do hormônio estrogênio, obesidade e até a presença de mutações em genes transmitidos na família, como BRCA1 e BRCA2 A idade é um fator de risco importante. Já está comprovado que uma dieta rica em frutas, verduras, legumes, e com menos gordura, ajuda a diminuir o risco desse câncer Exposição aos raios ultravioletas do sol. Esse câncer é mais comum em adultos, mas a média de idade dos pacientes tem diminuido recentemente Tosse e o sangramento pelas vias respiratórias; nos fumantes, há crise de tosse em horários incomuns para o paciente A principal manifestação da doença é um nódulo nas mamas, fixo e geralmente indolor, em cerca de 90% dos casos Muitos pacientes não têm sintoma ou, se apresentam, são semelhantes aos do crescimento da próstata (como dificuldade de urinar) Feridas na pele com cicatrização demorada (mais de quatro semanas), manchas na pele que coçam, ardem, descamam ou sangram Sintomas Fonte: Inca tástase no cérebro. Hoje, o câncer de Carter está em processo de remissão. O problema é que a evolução dessas drogas é bem mais lenta que o aparecimento das doenças em uma população que está envelhecendo e, por isso, tende a ter mais câncer. A expectativa é que a aprovação de novos medicamentos ainda demore cerca de cinco anos, diz Luciana Fanti, diretora médica de oncologia do laboratório MSD. Ela participou na última quarta (30) de uma mesa sobre imunoterapia durante o fórum O Futuro do Combate ao Câncer, promovido pela Folha. O desenvolvimento de remédios como o Yervoy pode levar de dez a 15 anos e o custo fica de US$ 1 bilhão a US$ 1,5 bilhão (R$ 3,7 bilhões a R$ 5,5 bilhões), diz Miyake. A cada 10 mil moléculas testadas, apenas uma vira um remédio no mercado. Todo o resto fica pelo caminho. “O acesso é o maior desafio e o preço do medicamento, uma das variáveis desse desafio”, diz Fanti. Hoje, há uma espécie de corrida atrás de novos tratamentos. “Toda empresa está buscando a imunologia”, diz Eurico Correia, diretor médico da Pfizer Brasil. “Faz muito mais sentido usar o sistema imune do que combatêlo.”A Novartis também anunciou que está investindo “significativamente” em imunooncologia, com foco em melanoma, hematologia, pulmão, mama e rins. COMBINAÇÕES A imunoterapia, no entanto, não deve enterrar a quimioterapia. Se hoje os tratamentos combinam químio e rádio, o futuro deve casar imunoterapia com uma das duas. “Combinar terapias é o que funciona melhor”, diz Martin Bonamino, biomédico e pesquisador do Inca. No futuro, acreditam cientistas, cada câncer será tratado pela mutação que o causou e não pelo órgão no qual foi localizado. Conhecer qual gene se alterou será mais importante do que saber se o problema está nos rins ou no fígado. A matemática do câncer é complexa. “Excesso de sol causa câncer de pele, mas a sua ausência causa deficiência de vitamina D, ligada ao câncer de mama”, diz Dirce Carraro, do A.C. Camargo. ESTIMATIVA DE NOVOS CASOS, EM 2016 175.760 Pele comum 61.200 Próstata 57.960 Mama 34.280 Colorretal 28.220 Pulmão 20.520 Estômago 16.340 Colo do útero Leucemia 10.070 Bexiga 9.670 Ovário 6.150 Pele melanoma 5.670 MORTES EM 2013 Pulmão Colorretal Mama Estômago Próstata Leucemia Colo do útero Bexiga Ovário Pele comum Pele melanoma 6.316 5.430 3.642 3.283 1.769 1.547 15.415 14.388 14.182 13.772 24.490 HHH semináriosfolha Fórum O Futuro do Combate ao Câncer ONCO-1172032-0001 Sexta-Feira, 1° De abril De 2016 CIÊNCIA VISIONÁRIA NA IMUNO-ONCOLOGIA: TRANSFORMANDO IDEIAS EM RESULTADOS A imuno-oncologia é uma das área mais fascinantes da atual pesquisa sobre o câncer. Gursel Aktan, Médica, PhD Vice-Presidente Adjunta, Pesquisas Clínicas de Oncologia da MSD CORP-1160902-0002 ab DE UM JEITO NOVO A CADA DIA Há 125 anos ajudando o mundo a ficar bem. 5 arquivo Pessoal 6 Sentir a morte iminente é assustador semináriosfolha A notícia de ter um carcinoma cai como uma bomba. Sentir a morte iminente é assustador. Olhei para o céu é pedi a Deus uma chance. A sensação de queda livre, em um buraco negro sem fim, é o sentimento mais marcante que já tive. Cirurgia, quimioterapia, radioterapia, ficar careca, nada se compara à hora do diagnóstico. Hoje digo com clareza que o câncer é mais uma doença que, se não descoberta e tratada precocemente, pode não ter um resultado bom. Continuo o tratamento e ainda tenho oito anos pela frente para receber alta, mas não me sinto doente. Vivo feliz e me sinto amada e linda. Fórum O Futuro do Combate ao Câncer Sexta-feira, 1º de abril de 2016 ef ┆┆┆ Marilene Meneguzzo Schnornberger Pato Branco (PR) COMBATE AO CÂNCER Entenda as diferenças entre a quimioterapia convencional e a terapia alvo-direcionada atinge células cancerígenas… TIPOS DE TERAPIA-ALVO TERAPIA-ALVO Atua sobre molécula-alvo associada ao crescimento do tumor QUIMIOTERAPIA Ataca células com alta taxa de divisão, sejam malignas ou saudáveis …e atinge também células normais células normais são preservadas bloqueia a proliferação de células cancerígenas Inibidores da angiogênese O surgimento de novos vasos sanguíneos (angiogênese) na região do tumor garante o seu crescimento. Inibidores de angiogênese interferem, assim, no crescimento do tumor Ação citostática: bloqueia Ação citotóxica: mata células do tumor a proliferação do tumor Limitação: fortes efeitos colaterais, como Limitação: células cancerígenas podem se tornar resistentes às drogas náuseas, perda de cabelo, anemia, fadiga Fonte: National Cancer Institute (EUA) NAÍLA BARBOSA DA COSTA colaboração Para a FOLHA, DE bElo HorIZoNTE Rosalina Lopes, 64, já teve de encarar três vezes um diagnóstico positivo de câncer: a primeira em 2001, quando detectou tumor na mama, depois em 2005, com câncer no mediastino (região torácica), e em 2014, no cérebro. Professora aposentada, Rosalina passou por cirurgia para retirada dos tumores, além de sessões de químio e radioterapia, que provocaram diversos efeitos colaterais como enjoos e queda de cabelo. Ao mesmo tempo, tentou uma nova técnica, chamada terapia-alvo, para controlar a doença. A terapia-alvo age diretamente nas células malignas e poupa as saudáveis, com resultados mais específicos e efeitos colaterais menos drásticos que a quimioterapia. Ela aponta o caminho para uma medicina cada vez mais personalizada, que atenda às necessidades do paciente após avaliação de como a doença se desenvolve em cada corpo. A técnica já existe há pelo menos duas décadas, mas o progresso nos últimos anos faz dela uma boa aposta no tratamentocontraocâncerem seus mais diversos tipos. Medicamentos mais efetivos e menos tóxicos compõem seu arsenal terapêutico, atuando diretamente na causa molecular do desenvolvimento e multiplicação do tumor. “O câncer não é uma doença só, mas um conjunto de doenças caracterizadas pela proliferação celular desordenada. A quimioterapia foi desenvolvida para atacar de forma generalizada células em fase de multiplicação, com o objetivo de atingir o tumor, ao passo que a proposta da terapia-alvo é atuar em vias celulares exclusivas do tipo de câncer apresentado pelo paciente”, afirma Roberto Fonseca, oncologista e presidente do conselho superior da SBC (Sociedade Brasileira de Cancerologia). No caso de Rosalina, ela usa a droga-alvo Herceptin (Transtuzumabe), específica para pacientes com um tipo de tumor de mama agressivo, em que há alta expressão de um gene promotor do crescimento celular, o HER2. O medicamento usado pela professora é injetável, di- DIRETO AO PONTO Moduladores da expressão gênica Os tumores resultam da expressão de um gene alterado por mutação. O crescimento desses tumores pode ser controlado ao bloquear proteínas terapia-alvo age diretamente nas células cancerígenas e preserva as saudáveis ao redor; apresenta menos efeitos colaterais, mas tem custo elevado e tumor muitas vezes desenvolve resistência ferentemente de outras drogas-alvo, de administração oral, e composto por anticorpos que bloqueiam o estímulo ao crescimento tumoral. O presidente do conselho superior da SBC enxerga a terapia-alvo como complementar à quimioterapia —ela é usada isoladamente apenas em alguns casos. “Não podemos informar à população que a cura está no tratamen- to-alvo, mas ele é hoje um processo que pode ser associado aos tradicionais.” A professora aprendeu a lidar com a doença e afirma que, diferentemente da quimioterapia, que lhe causou enjoos, ou da radioterapia que, por ter sido na região da cabeça, provocou queda de cabelo, o tratamento-alvo é tranquilo e ela não sente efeitos colaterais. alexandre rezende/Folhapress Rosalina Lopes enfrentou três tipos de câncer e hoje usa terapia-alvo Marcos Portella, oncologista do Instituto Mário Penna, afirma que as drogas-alvo agem contra o tumor em um sistema semelhante ao modo como uma chave combina com sua fechadura. “O medicamento-alvo é a chave que reconhece como fechadura um receptor da célula tumoral”, diz. Apesar das vantagens, Portella afirma que é ilusório pensar que as medicações-alvo não são tóxicas. Luiz Lodi, oncologista clínico da Oncomed BH, concorda. “Elas apresentam outros tipos de efeitos colaterais. Podem ocorrer problemas na pele, por exemplo, mas não os mesmos efeitos da quimioterapia, como queda de cabelo, enjoos, anemia e demais alterações no sangue.” A terapia-alvo possui limitações. “Na maioria das vezes, infelizmente, a célula cancerosa desenvolve resistência, e o tratamento deve ser mudado, sendo associado à quimioterapia ou administrado mais de um tipo de medicamento-alvo”, afirma Fonseca, da SBC. Além disso, as drogas têm custo de desenvolvimento elevado e esse valor se reflete no preço pago pelo paciente, já que nem sempre elas são oferecidas pelo SUS ou mesmo pelo sistema privado. Portella alerta que o SUS enfrenta um conflito entre o individual e o coletivo. Sendo os medicamentos muito caros e restritos a um grupo específico de pessoas com a alteração genética usada como alvo, destinar recursos a eles, ainda que sejam mais eficientes, nem sempre é uma estratégia viável aos sistemas de saúde. Hormonioterapia Alguns tumores crescem a partir do estímulo de hormônios. A hormonioterapia impede a produção ou atuação desses hormônios e é usada no tratamento de alguns tumores Inibidores de sinais celulares Algumas células tumorais possuem receptor para fatores de crescimento. Drogas que interferem nesse processo bloqueiam o aumento do câncer Indutores de morte celular Células cancerosas possuem estratégias para evitar um processo do corpo para se livrar de células defeituosas. Algumas drogas contornam essas estratégias e matam as células Linfócito-alvo Por meio da imunoterapia é possível agir diretamente no sistema de defesa e “desbloqueá-lo”para que ele combata as células cancerígenas ab Sexta-Feira, 1° De abril De 2016 HHH semináriosfolha Fórum O Futuro do Combate ao Câncer ONCOTYPEDX éparaoseubem. ® O OncotypeDX® é indicado para pacientes com diagnóstico de determinados tipos de câncer de mama, próstata e cólon. Este exame auxilia o seu médico na escolha do melhor tratamento para esses tipos de câncer. O teste é realizado pelo Fleury em parceria com a Genomic Health Inc., única responsável pelo serviço no mundo. Assim é o Fleury: medicina, saúde e você. Para saber mais, acesse fleury.com.br. 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Fórum O Futuro do Combate ao Câncer Sexta-feira, 1º de abril de 2016 ef ┆┆┆ MAyte M.GArciA São Paulo promessa GenÉTica O MÉTODO CRISPR Técnica pode revolucionar o uso terapêutico da engenharia genética Vírus DNA do vírus invasor Técnica de manipulação dos genes é visTa como promissora pa- Nos últimos anos, a sigla inglesa CRISPR (pronunciase “crísper”) se transformou na grande vedete das principais publicações científicas do planeta. O termo designa um tipo de manipulação genética simples de fazer e relativamente preciso, com potencial para tratar vários tipos de doenças —inclusive o câncer, que invariavelmente surge a partir de mutações no genoma. Será que a CRISPR pode mesmo “desarmar” o DNA dos tumores? É cedo para dizer, embora as coisas nessa área caminhem numa velocidade acima da média do que se vê na pesquisa básica. No curto prazo, a tecnologia vai ser útil para entender detalhes da transformação de uma célula normal numa “vilã” tumoral e tentar achar possíveis calcanhares de aquiles do câncer. Mais desafiadora é a tarefa de transformá-la em arma terapêutica capaz de atacar tumores mais comuns, que muitas vezes surgem a partir de uma miríade de alterações no DNA, nada fáceis de rastrear. “É inegável que existe muito ‘hype’ em relação à CRISPR, em grande parte porque se trata de uma técnica de edição do genoma muito mais fácil de ser aplicada em qualquer laboratório do que as demais”, diz o bioquímico Guilherme Baldo, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que tenta aplicar a tecnologia ao tratamento de doenças genéticas raras. Esse sistema de edição de DNA envolve três componentes (veja quadro). O primeiro é uma espécie de tesoura molecular, cuja especialidade é cortar DNA. O segundo é um pequeno trecho de RNA (molécula “prima” do DNA) que serve como guia: ele identifica uma sequência similar de “letras” químicas no genoma que se deseja editar. Finalmente, pode-se inserir a sequência “certa” de DNA, suficiente para corrigir um problema genético. Se der certo, o RNA ajuda a “tesoura” a picotar a mutação indesejável, enquanto a própria câncer ao aposTar no ‘desarme’ do dna de Tumores; ainda são necessários ajusTes para eviTar efeiTos indesejados e aumenTar eficácia nos casos mais comuns da doença célula se encarrega de substituí-la com o DNA correto. Embora a técnica seja muito mais precisa que os métodos tradicionais de manipulação do genoma, não dá para descartar os efeitos “off target”, ou seja, quando o pesquisador mira a região X do genoma mas altera também a região Y, o que pode ser péssimo para a saúde do corpo cujo DNA está sendo editado. Isso acontece porque o RNA que serve de guia é curto, o que significa que a mesma sequência de “letras” pode estar presente em mais de uma área do genoma (o qual tem cerca de 3 bilhões de letras no caso do ser humano). Pequenas modificações na tesoura molecular poderiam minimizar esse risco. “Outra possibilidade é usar softwares de análise do genoma que vão predizer a chance de pegar uma região errada por engano. A partir daí, você pode refinar o seu RNA-guia para evitar isso”, explica Baldo. Uma primeira aplicação da técnica, na qual não seria necessário nem usar o DNA “corretor”, é o desligamento sistemático de diversos genes para entender o papel deles, separados ou em conjunto, na gênese dos tumores. Só isso já traria avanço para o estudo da biologia do câncer porque, antes do advento da CRISPR, alterações genéticas equivalentes eram muito caras e trabalhosas de obter. polÊmica principal As primeiras aplicações terapêuticas da tecnologia talvez aconteçam no caso de tumores mais raros, causados por mutações em um único gene que são transmitidas de pai para filho. “No caso dessas síndromes de causa bem conhecida, você poderia corrigir diretamente aquele gene”, explica Martin Roffe, bioquímico argentino que trabalha no hospital A.C. Camargo, em São Paulo. “Outra possibilidade é que casais portadores dessas síndromes modifiquem seus embriões para que seus filhos não herdem o problema.” Essa, aliás, é uma das principais polêmicas em torno do uso da CRISPR em humanos. A questão, porém, é que a maioria dos cânceres surge a partir de uma grande variedade de mutações, as quais não costumam ser passadas de pai para filho. “Nesse caso, vai ser importante unir a técnica aos avanços da genômica de alto desempenho e da medicina personalizada, porque o ideal será saber o perfil genético completo de cada paciente”, diz o pesquisador argentino. Antes disso, porém, também é necessário achar maneiras mais eficazes de “entregar” o CRISPR às células tumorais. Uma abordagem comum é usar vírus como carregador, mas a desvantagem é que ele não consegue transportar muitos genes ao mesmo tempo, além de poder causar alterações indesejáveis no DNA do paciente. Já métodos não virais poderiam modificar uma grande quantidade de genes ao mesmo tempo, o que é ideal para o caso de câncer, mas é mais difícil fazer com que “entreguem” a CRISPR ao tumor como um todo. Defesa de bactéria O método CRISPR se baseia numa das defesas de certas bactérias contra vírus invasores. Ao entrar nas células bacterianas, esses vírus injetam seu DNA lá dentro RNA da bactéria Produção de RNA A bactéria, porém, reage produzindo trechos específicos de RNA (molécula “prima” do DNA), um dos quais possui uma sequência de “letras” químicas capaz de se encaixar com precisão no DNA viral Proteína Cas9 Corte no DNA O RNA, então, une-se à proteína Cas9, uma molécula especializada na tarefa de cortar DNA. Juntas, elas se dirigem ao DNA do vírus e o cortam, derrotando o invasor la âncer mc co Trecho do gene corrigido Cé lu REINALDO JOSÉ LOPES COLABORAÇÃO PARA A FOLHA dida inva ria cté Ba ra TraTamenTo de Tipos raros de ciência só saberá como usar os resuLTaDos Do mapeamenTo Do Dna Daqui a 30 anos COLABORAÇÃO PARA A FOLHA O mapeamento genético pode detectar alterações nos genes relacionadas a algum tipo de câncer que ainda não se manifestou, mas a medicina ainda não sabe o que fazer com essa informação. Atualmente, não há como atuar para neutralizar essas alterações. “Talvez daqui a 30 anos saibamos”, disse Mar- co Antonio Zago, reitor da USP e professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, durante o seminário O Futuro do Combate ao Câncer, realizado pela Folha nos dias 29 e 30 de março. Embora ainda não consiga garantir se a pessoa desenvolverá ou não a doença, a pesquisa genética tem servido para importantes avanços. “A identificação da altera- ção genética ligada à leucemia mieloide crônica possibilitou a criação da terapiaalvo para a doença”, exemplificou Nelson Hamerschlak, hematologista do hospital Albert Einstein, durante a mesa que debateu os novos meios de prevenção e detecção, realizada na terça (29), primeiro dia do seminário. Para uso individual, entretanto, o mapa genético está longe de ser algo definitivo. “Genética não é destino. Há uma área que estuda como estilo de vida e hábitos como a meditação podem causar alterações químicas no DNA, modificando a carga genética”, disse José Claudio Casali da Rocha, criador do primeiro serviço de aconselhamento genético para pacientes de câncer do hospital A.C. Camargo. (iArA biderMAn) Inserir DNA Essa técnica pode ser usada para substituir um gene indesejado pela versão “correta”. Pode-se inserir esse trecho de DNA junto com o RNA e a Cas9. O sistema natural de reconstrução do DNA da célula vai incorporar a versão “corrigida” do gene a ela Fonte: National Cancer Institute (EUA) Tinha apenas 31 anos quando fui diagnosticada com câncer de mama. Fiz a quadrantectomia, que remove o câncer mas deixa a maior parte da mama. Depois, com as sessões de químio e rádio, fiquei careca, inchada e engordei 14 Kg. Um ano depois, nova surpresa. Descobri que estava grávida. Os médicos me aconselharam a interromper a gestação, porque representava risco para a minha saúde e para o bebê. Insisti, e a gravidez correu bem, mas levou apenas um ano para que eu descobrisse que a doença tinha voltado. Tive que retirar toda a mama. Foi muito mais difícil porque fiquei com o braço imobilizado, não podia pegar meu filho no colo e ele me rejeitou. Ricardo Borges/Folhapress Não podia pegar meu filho no colo 9 semináriosfolha Fórum O Futuro do Combate ao Câncer Sexta-feira, 1º de abril de 2016 ef ┆┆┆ ELiAnE CAnEgAL, 43 Rio de Janeiro escola é omissa na prevenção RELAÇÃO ENTRE A dOENÇA E O TAbAgismO Ou A ALimENTAÇÃO dECOLABORAÇÃO PARA A FOLHA A relação entre alimentação, hábitos e doenças como o câncer deveria estar nos livros didáticos, mas ainda segue longe da escola. A observação é do oncologista e diretor científico do Instituto Oncoguia, Rafael Kaliks. “Aprender a fazer escolhas certas para preservar a saúde me parece mais importante do que ser bom em matemática”, diz. Kaliks participou da mesa sobre “Novidades em tratamento” no fórum promovido pela Folha. Entre as “escolhas” mencionadas por Kaliks estão, por exemplo, o cigarro e a alimentação. VERiA sER ExpLicAdA TAmbÉm NA sALA dE AuLA, dEfENdEm mÉdicOs Estima-se que o fumo esteja ligado à incidência de 30% dos casos de câncer. A obesidade também é considerada fator de risco. Hoje, temas ligados à saúde aparecem na escola em disciplinas como a biologia. O problema, afirma Luis Felipe Ribeiro Pinto, coordenador de ensino do Inca (Instituto Nacional do Câncer), é que o ensino de biologia —ou “ciências naturais”— segue com foco em outras doenças, caso das parasitárias. “Isso é importante, claro, mas precisamos ensinar que existeumarelaçãoentreoshábitoseoaparecimentodeuma doença —o câncer— que vai atingir mais meio milhão de brasileiros até 2017”, afirma . MarcoAntonioZago,hematologista e reitor da USP, que também participou do fórum, concorda. “Há vacinas que podem prevenir a doença [caso do câncer de colo de útero causado pelo vírus HPV]. Precisamos falar disso na escola”, diz. (SAbinE RigHEtti) paÍs ensina ‘oncoloGia’ em DeZ GraDuações; na pós, há só seis cursos COLABORAÇÃO PARA A FOLHA Dá para contar nos dedos: o Brasil tem seis programas de pós-graduação acadêmicos especificamente em oncologia. Só um deles funciona fora do Sudeste, no Pará. Na graduação, a situação também preocupa. De acordo com Ademar Lopes, cirurgião oncológico e vice-presidente do hospital A.C.Camargo, cerca de “dez faculdades de medicina têm oncologia como disciplina obrigatória.” O problema é que o primeiro diagnóstico de câncer, em geral, é feito por um médico que não é oncologista. São gastros, neuros, pediatras. “Já peguei paciente com sangramento que foi diagnosticado com hemorroida, mas tinha um tumor colorretal”, diz Fernanda Capareli, do hospital Sírio Libanês. Ambos participaram do fórum da Folha sobre o futuro do combate ao câncer. Na pós, o número de programas acadêmicos em onco- logia —que formam mestres e doutores— representa menos de 1% do total do país. “Não estamos formando gente suficiente para pesquisar câncer”, diz Luis Felipe Ribeiro Pinto, coordenador de ensino do Inca (Instituto Nacional do Câncer)—uma das instituições que têm a pós. A USP de São Paulo e de Ribeirão Preto, a UFPA (Universidade Federal do Pará) e os hospitais A.C. Camargo e de Barretos também têm pós acadêmica em oncologia. Para Carlos Cezar Fritscher, coordenador-adjunto de uma das áreas de medicina da Capes, órgão que regula a pós no país, o número de cursos em oncologia é pequeno porque os programas tendem a ser mais genéricos. É possível estudar câncer em uma pós genérica em medicina, por exemplo. Há, no entanto, outros programas bem específicos mais numerosos do que em oncologia. Caso de biologia molecular (30 programas). (SR) Arquivo pessoal 10 Confiar na equipe médica ajudou semináriosfolha Derrotar o câncer não é uma vitória, são muitas. É preciso vencer medos, angústias, incertezas, dores e dificuldades para realizar tarefas que deixaram de ser automáticas por causa dos efeitos da químio. O que tornou tudo isso mais fácil foi parar de perguntar ‘por que comigo?’ e questionar ‘por que não comigo?’. Passei a acreditar que seria capaz de vencer essa, que ainda tenho muito a fazer. Confiar na equipe médica e deixar para eles preocupações que não eram minhas também ajudou. Agradeço pela nova chance, para aproveitar a companhia das pessoas que amo e ver meus filhos crescerem e se tornarem adultos. Fórum O Futuro do Combate ao Câncer Sexta-feira, 1º de abril de 2016 ef ┆┆┆ Carolina Bessa Lorena (SP) A CADA OITO MORTES NO MUNDO, UMA É CAUSADA POR CÂNCER 25% O câncer de mama é o mais incidente em mulheres brasileiras* dos casos de câncer no Brasil são de pele 90% dos casos de câncer de pulmão são causados por cigarro DE FORA PARA DENTRO Câncer de colo de útero é o que tem mais chance de prevenção e cura População do Brasil 206 milhões de habitantes nem genética nem acaso: um estudo americano aponta que estilo de vida e Fatores amBientais, como polui- 1/3 dos casos de câncer podem ser evitados COMO EVITAR O CÂNCER ção, podem ser responsáveis por 300.800 mulheres 90% de todos os tipos de câncer DÉBORA MACHADO ANDRADE COLABORAÇÃO PARA A FolHa, DE OXFORD Estudo publicado na revista científica “Nature” colocou lenha na fogueira do debate sobre as causas do câncer ao concluir que até 90% de todos os tumores têm sua origem em fatores externos, ou seja, não são produto de um DNA desfavorável ou simplesmente do azar. “É importante que a população saiba disso”, disse à Folha Song Wu, professor da Universidade de Stony Brook, nos Estados Unidos, um dos líderes do estudo. Segundo ele, como a pesquisa mostra a força dos fatores externos para o aumento do risco, mais esforços devem ser empenhados na prevenção da doença, e não apenas na cura. Na avaliação desse pesquisador, a população deve pressionar os governos para que protejam o meio ambiente do excesso de poluentes e produtos químicos. estatística x azar O paradigma até então mais aceito pelos cientistas era que a causa da maior parte dos cânceres era, literalmente, azar. Quanto mais ve- lhos ficamos, mais vezes nossas células se dividem, e cada uma dessas divisões tem uma pequena probabilidade de apresentar mutações. O câncer é uma consequência dessas mutações e, por isso, o risco de sua ocorrência aumenta com a idade. Mas o estudo liderado por Song Wu concluiu que isso é apenas uma pequena parte da história. Se a aleatoriedade sempre respondesse pelo aparecimento de tumores, células que ao longo da vida acumulam o mesmo número de divisões teriam probabilidade semelhante de originar um câncer, independentemente do órgão que formassem (e, consequentemente, a que substâncias fossem expostas). Mas a análise estatística feita pelo grupo norte-americano mostrou o contrário. Além disso, o pesquisador observa, é notável a diferença de incidência de diversos tipos de câncer em diferentes regiões do planeta. Dados populacionais mostram que ao mudar de país, a incidência de um determinado tumor na população migrante muda rapidamente, refletindo, assim, o novo estilo de vida adotado. Imagens reprodução Mantenha-se longe do cigarro Coma de modo saudável com variedade de frutas e verduras Proteja a pele da exposição prolongada ao sol Faça atividade física regularmente Faça testes regularmente Limite a quantidade de álcool ingerida Conheça seu histórico familiar EXAMES QUE DEVEM SER FEITOS ANUALMENTE Mulheres Homens • Mamografia a partir • Sangue especifico para dos 40 anos câncer de próstata (PSA) a partir dos 50 anos • Papanicolau entre 25 e 59 anos • Toque retal a partir dos 50 anos • Exame de fezes para identificar sangue oculto a partir dos 50 anos 90% é a chance de sucesso no tratamento se o câncer for descoberto no início *Excluindo-se o câncer de pele comum (não melanoma), que tem alta curabilidade e, por isso, costuma ficar de fora das estatísticas de incidência e mortes por câncer 295.200 homens Por outro lado, os fatores de risco conhecidos até hoje, quando considerados de forma isolada, só respondem por um terço de todos os tipos da doença. “Pode ser que haja fatores de risco que ainda não conhecemos. Há exemplos disso: o câncer de estômago, que está bastante associado à infecção pela bactéria H. pylore. Há pouco mais de 30 anos, essa bactéria não tinha nem sido identificada”, afirma Jane Green, que é professora da Universidade de Oxford, no Reino Unido. O problema que os cientistas têm em quantificar os fatores de risco é a dificuldade em isolá-los. O cigarro é uma exceção. Por ser tão extraordinariamente danoso para a saúde, seus efeitos são bem óbvios em todos os estudos. “Fumar apenas cinco cigarros por dia já dobra sua chance de morrer nos próximos 15 anos”, afirma Valerie Beral, professora da Universidade de Oxford. Além do câncer de pulmão, o tabagismo aumenta as chances de desenvolver pelo menos 14 tipos diferentes da doença, como o de estômago, garganta, bexiga e rim. *Excluindo-se o câncer de pele comum (não melanoma), que tem alta curabilidade e, por isso, costuma ficar de fora das estatísticas de incidência e mortes por câncer A LUTA CONTRA O CÂNCER NO BRASIL 1900 O médico Arnaldo Vieira de Carvalho, da Santa Casa de São Paulo, consegue a extirpação total de um estômago atacado por câncer. Teria sido a quinta cirurgia desse tipo no mundo Novos casos de câncer 596 mil (até 2017) 1904 Azevedo Sodré publica “Frequência do Câncer no Brasil”, considerado o primeiro trabalho acadêmico científico feito sobre a doença no país 1933 Após estudos na Europa, o médico Antonio Prudente publica uma série de artigos sobre o câncer. Defende que a doença “é uma moléstia de perfeita curabilidade, quando tratada a tempo" 1910 O médico paulista Olympio Portugal publica no periódico “O Brasil Médico” um novo estudo que refuta as conclusões de Sodré. Ele acreditava que a doença era transmissível 1934 Fundada a Associação Paulista de Combate ao Câncer, organização que daria base ao Hospital do Câncer 1938 Inauguração do Centro de Cancerologia, embrião do Inca 1941 Criado o Serviço Nacional de Câncer, primeiro órgão público especializado em políticas sobre a doença 1946 Jornalista Jornalista Carmen Prudente cria a Rede Feminina de Combate ao Câncer, voltada à mobilização e ao recolhimento recolhimento de de doações doações Em julho de 2014, quando tinha 25 anos, descobri um tumor no intestino. Consultei especialistas, fiz cirurgia e descobri indício de metástase hepática. Fiz 12 sessões de quimioterapia. Desde então, há quase um ano, realizo as revisões periódicas, que só apontam resultados positivos, com remissão total da doença. Não parei de trabalhar, sair, viajar e fazer projetos durante o tratamento. Encarei todo o câncer como uma imensa oportunidade de aprendizado e com enorme tranquilidade. Hoje encaro a vida com muito mais leveza e com a certeza de que sou um privilegiado, que vive o agora e que tem uma história bonita pra contar. Arquivo pessoal Sou privilegiado, vivo o agora 11 semináriosfolha Fórum O Futuro do Combate ao Câncer Sexta-feira, 1º de abril de 2016 ef ┆┆┆ Murilo Chaves, 27 Goiânia Bruno Santos/Folhapress FERNANDA ATHAS DE SÃO PAULO Jarbas Barbosa (Anvisa), Sérgio Queiroz (Unicamp), o consultor de pesquisa Eduardo Motti e a mediadora Sabine Righetti no fórum em São Paulo a BUROCRaCIa E a VIDa a lentidão do GoVeRno na apRoVação de peSQUiSaS ClÍniCaS É UM doS FatoReS QUe pReJUdiCaM o deSenVolViMento de noVoS MediCaMentoS paRa tRataMento do CÂnCeR, SeGUndo a QUeiXa doS eSpeCialiStaS cisa ser descentralizada. “Há no Brasil a ideia de que a ética é apenas preservada pela atuação da comissão. Os pesquisadores, alunos e professores não são éticos?”, questiona Antonio Brito, presidente da Interfarma (associação da indústria farmacêutica em pesquisa). Barbosa, da Anvisa, fez coro à ideia no fórum da Folha. “A articulação com a universidade ainda não ocorre como deveria. Se não descentralizarmos o processo de avaliação ética, sempre teremos essa barreira”, diz. Todo esse imbróglio pode 03.out.1988 - Lula Marques/Folhapress As pesquisas clínicas para novos medicamentos no Brasil são raras porque há muita burocracia e lentidão dos órgãos federais para aproválas ou porque os pedidos de autorização desses estudos têm falhas? A resposta vai depender do interlocutor. Para pesquisadores como Fábio Franke, coordenador do Centro de Alta Complexidade em Oncologia do Hospital de Caridade de Ijuí (RS), o problema é a lentidão. O tempo de aprovação dos protocolos, de até 18 meses, prejudica pacientes.“As pessoas vão para o exterior participar de pesquisas que podemos fazer aqui”, diz. Em Ijuí, ele conduz pesquisas clínicas até com imunoterápicos —fronteira atual da medicina contra o câncer. No seminário da Folha, contou que acabou de participar de testes de imunoterapia para câncer de pulmão. “Já perdi pesquisas por lentidão da burocracia local.” Já Jarbas Barbosa, diretorpresidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que também participou do seminário da Folha, diz que o problema, na verdade, está na outra ponta. Barbosa afirma que o país poderia ter um número maior de pesquisas se os pedidos não chegassem com falhas. “Isso faz com que projetos tramitem ao menos duas vezes pelo mesmo órgão.” Atualmente, a aprovação dos testes clínicos no Brasil é feita em três fases. Primeiro, em um Comitê de Ética em Pesquisa local, depois pela Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa) e pela Anvisa, que verifica a qualidade técnica do protocolo da pesquisa. Um dos grandes gargalos, diz Marcos Moreira, diretor de assuntos regulatórios para a América Latina da farmacêutica MSD, está na imprevisibilidade das respostas. “Apesar de a Anvisa ser uma agência reconhecida por seu rigor técnico, uma resposta pode demorar 90 dias ou dois anos”, afirma. Em países que avaliam testes em uma única fase, como EUA e Coreia do Sul, os estudos são aprovados, em média, em quatro meses. No Brasil, leva um ano, em média. Cientistas defendem que a aprovação ética, que garante os direitos dos pacientes voluntários, deva permanecer rígida no país, mas que pre- 1953 Antônio Prudente e a mulher, Carmen Prudente, fundam o Hospital do Câncer, hoje A.C.Camargo Cancer Center, em homenagem ao médico Antonio Cândido de Camargo, pioneiro na luta contra a doença 1984 Primeiro transplante de medula óssea realizado no Brasil, no Inca, RJ 1988 Constituição reconhece ao Inca responsabilidade sobre políticas de câncer mudar. Há um projeto de lei em tramitação no Senado, o PL 200/2015, com a proposta de descentralizar e reduzir o tempo o processo de aprovação e das pesquisas clínicas. A proposta passou por comissões na casa, mas aguarda novas apreciações. “A fosfo foi aprovada rapidamente [no Senado] por causa do clamor popular”, diz Franke. “Precisamos de apoio da sociedade para que mais pacientes tenham acesso a pesquisas clínicas.” Colaboraram ANDREA VIALLI, JULIO LAMAS e SABINE RIGHETTI 1996 Lei federal proíbe o fumo em recintos coletivos e limita a propaganda de cigarros, de bebidas e de remédios 1999 Início do Projeto Genoma Humano do Câncer, renomado internacionalmente 2005 Inaugurado o primeiro Banco Nacional de Tumores e DNA do Brasil; Ministério da Saúde reconhece o câncer como problema de saúde pública arquivo pessoal 12 Horror começa no dia seguinte à químio semináriosfolha Sou uma sobrevivente. Fiz uma cirurgia de vesícula e, quando acabou o tratamento, o médico me disse: ‘Volte para a sua vida e vá ser feliz’. Seis meses depois, recebi o diagnóstico do câncer. Na primeira sessão de químio, meu filho foi junto. Eu estava apavorada, vi minha irmã falecer por causa de um câncer. Sai da sessão e não aconteceu nada. O horror começou no dia seguinte. Comecei ver que não precisava de ninguém na químio e sim nos dias posteriores. Ia de ônibus, de táxi. Eu sobrevivi ao câncer mas penei muito. Senti dor, medo, estou com cicatrizes, mas eu encaro e vou. Já tive altos e baixos, mas o gosto pela vida não perdi. Fórum O Futuro do Combate ao Câncer Sexta-feira, 1º de abril de 2016 ef ┆┆┆ sOLAnge brAun Florianópolis (SC) DÉBORA MACHADO ANDRADE Colaboração Para a FOLHA, de oxford A existência de uma pílula milagrosa, capaz de curar todos os tipos de câncer, é vista com muita desconfiança pela comunidade científica internacional. A razão é que existem quase 200 tipos de câncer, cada um com diferentes mecanismos. É por isso que existe tanto ceticismo com relação à “fosfo”, como é conhecida a “pílula do câncer” desenvolvida por pesquisadores da USP de São Carlos, interior de SP. “Se essa droga supostamente funciona em todos os cânceres, como cientista eu diria: pode me explicar como?”, diz Steve Jackson, professor da Universidade de Cambridge, no Reino Unido. Ele é inventor da droga anticâncer olaparibe (comercializada em 15 países sob o nome LynparzaTM e que aguarda aprovação no Brasil). “A triste verdade é que é improvável que [a fosfoetanolamina] seja milagrosa”, escreveram os editores da revista científica “Nature”. Fato: os primeiros testes de caracterização e síntese da “pílula do câncer”, divulgados no dia 21 de março, mostram baixo grau de pureza e pouco ou nenhum efeito sobre células tumorais. Os resultados foram divulgados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. A Câmara dos Deputados e o Senado já aprovaram um projeto de lei que permite que todos os pacientes de câncer tenham acesso à substância. A droga ainda passará por estudos clínicos conduzidos com a participação do Icesp (Instituto de Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira). “Espero ter algumas respostas nos próximos seis meses”, diz Paulo Hoff, diretor do instituto. Mesmo antes da aprovação, alguns médicos prescreviam a “fosfo” informalmente em várias partes do Brasil. A educadora infantil Débora Freitas, de Uberlândia (MG), conta que foi a médica de seu pai que a encorajou a buscar a droga, usada por ele nas últimas semanas de sua luta contra o câncer. “A médica falava que se prescrevesse a fosfo numa receita, corria o risco de perder o registro profissional. Mas que, se a gente tivesse condição de ir atrás da pílula, que era para ir.” Débora conseguiu as cápsulas com um vendedor que, segundo ela, foi preso em dezembro. O Canadá também vive o fenômeno de uma “pílula do câncer”. Chama-se dicloroacetato de sódio (DCA) e surgiu a partir de pesquisa na Universidade de Alberta. O DCA é usado há anos para tratar doenças metabólicas raras. A equipe canadense descobriu, em 2007, que ele teria potencial antitumoral em vasta gama de cânceres. O oncologista Akbar Khan, de Toronto, disse à Folha que um de seus pacientes, com câncer em estágio avançado, propôs o DCA como alternativa. Khan revisou o estudo do grupo de Alberta e decidiu dar a droga a seus pacientes. Após processo judicial, ficou definido que médicos poderiam prescrever o DCA desde que o doente tivesse esgotado as possibilidades de terapia convencional. “Houve melhora em dois terços dos pacientes”, diz Khan. A adoção de droga ainda a PÍLULa Da POLÊMICa Cientistas são CétiCos em relação a um mediCamento Capaz de Curar todos os tipos de CânCer; testada clinicamente por pacientes que esgotaram outras possibilidades é chamada de uso compassivo. “A Anvisa e o Ministério da Saúde deveriam facilitar o acesso ao uso compassivo de produtos que já têm algum tipo de embasamento clínico”, diz Hoff, diretor do Icesp. Embora ressalte que a legislação brasileira está “exageradamente burocrática”, ele ressalva que não se pode enquadrar a “fosfo” no uso compassivo por ela não ter embasamento clínico provado. Hoff lembra, também, que nos EUA cerca de 85% dos pacientes oncológicos fazem uso de algum tipo de terapia alternativa por conta própria. “É uma realidade do mundo inteiro. É preciso que o médico tenha uma cabeça aberta para discutir isso”, diz. No Canadá, segundo Khan, muitos médicos além dele prescrevem o DCA. Preferem não assumi-lo publicamente por medo de processos judiciais e julgamento de colegas. “O juramento de Hipócrates, ‘acima de tudo, não causar mal’, foi substituído por ‘acima de tudo, não ser processado’”, afirma Martin Winer, jornalista de Toronto e ativista do uso compassivo. Ele organiza uma petição pedindo a desburocratização do uso do DCA, que conta com milhares de assinaturas. Para os doentes, a chance de sucesso de uma droga experimental, mesmo pequena, representa uma esperança. O ex-motorista de caminhão João Vianei Lopes, de Biguaçu, no interior catarinense, fundador da Associação dos Amigos e Pacientes de Câncer de Santa Catarina, desabafa: “Queremos ter acesso à esperança, paciente de câncer vive de esperança”. Vianei, diagnosticado há seis anos com linfoma nãoHodgkin, organiza petição com milhares de assinaturas pela liberação da “fosfo”. O debate sobre o uso compassivo não é trivial. Para Adrian Harris, professor da Universidade de Oxford, há mais danos que benefícios. “Mesmo que você já tenha tentado cinco quimioterapias diferentes, ainda terá uma chance maior com uma droga que está no mercado e já se mostrou eficaz do que com uma que não foi testada. Apoio que todos tenham acesso a drogas aprovadas.” Jackson, de Cambridge, discorda: “Se você é paciente de câncer e só tem alguns meses de vida, a situação é diferente. Eu jamais poderia dizer a essas pessoas se elas devem ou não tentar algo”. Pesquisadores ouvidos são unânimes em defender mais apoio para estudos clínicos capazes de acelerar a pesquisa do câncer. “Tentamos colocar o paciente em estudos clínicos o mais cedo possível”, diz Harris. No Reino Unido, 10% dos pacientes com câncer participam de algum estudo clínico. Nos EUA, a meta é ter 5% dos pacientes. O Brasil tem cerca de 1%, lamenta Hoff. mas há Quem defenda drogas ainda não testadas para o uso de doentes Que esgotaram as possibilidades da mediCina ConvenCional O que nós queremos é ter acesso à esperança, o paciente de câncer vive de esperança JOãO ViAnei LOpes, que LutA peLA LiberAçãO dA FOsFOetAnOLAminA Caio Cezar/folhapress João Vianei Lopes, diagnosticado com linfoma não-Hodgkin, na igreja de Biguaçu, em Santa Catarina MOvIMentO a favOr Da nOva DrOga Chega a COLOCar MéDICOs e PaCIentes COMO aDversárIOs de são Paulo Ativistas pró-fosfoetanolamina alimentam a versão de que médicos e imprensa têm uma conspiração com a indústria farmacêutica para barrar a droga, afirmou Helano Freitas, coordenador de pesquisa clínica do A.C. Camargo. A afirmação do médico foi feita no fórum O Futuro do Combate ao Câncer, realizado nos dias 29 e 30, no Tucarena, em São Paulo. Freitas rechaçou a teoria conspiratória na mesa do fórum dedicada à pílula, da qual participaram também Gilberto Lopes, diretor-científico do Grupo Oncoclínicas e professor associado da Faculdade Johns Hopkins, nos EUA, e Mauricio Tuffani, editor-chefe da revista “Scientific American Brasil” e blogueiro da Folha. Ainda de acordo com Freitas, essa visão chega a opor pacientes e médicos. “Parece que viramos adversários. Eu quero ter certe- za sobre o que estou dando ao paciente”, disse ele. Freitas lembrou que a melhora propagada não é corroborada pelos exames. “E eles dizem que nós é que não estamos enxergando.” Já o oncologista Gilberto Lopes criticou o Congresso, classificando a aprovação da pílula como medida “populista”. “É mais fácil aprovar logo a droga que acelerar o processo de pesquisa.” O oncologista sugeriu que se mudasse o foco da mobilização popular. Em vez de defenderaliberaçãodeumadroga não testada, disse Lopes, é melhor canalizar a energia para cobrar mais rapidez do sistema público de saúde em diagnosticar e tratar câncer e em incorporar novas drogas. Tuffani afirmou ser papel da imprensa fazer a mediação entre a ciência e a parcela da sociedade favorável a liberar as pílulas, sendo cética com ambos os lados. Ojornalistaacrescentouque issotambémépapeldosrepresentantes no Congresso, que “não está lá só para representar o povo, mas também para mediar. Essa é a diferença entre democracia e demagogia.” Ele lembra também que, antes de tudo, o Poder Judiciário interferiu de forma indevida ao forçar a USP a distribuir a droga, atividade que, segundo ele, não devia ser responsabilidade da universidade. suplemento Na terça-feira (30), o Ministério da Ciência e Tecnologia divulgou que irá sugerir ao Congresso e à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) a liberação da fosfoetanolamina como suplemento alimentar. O projeto permitiria a produção e distribuição da pílula em farmácias sem o status de medicamento e antes do término das pesquisas préclínicas, em animais, e clínicas, em humanos. Segundo o ministério, a decisão se baseia nos primeiros estudos, que mostram que a substância não é tóxica aos seres humanos. de são paulo Há 13 anos, a esteticista Rosângela Bittencourt, 53, recebeu um diagnóstico que lhe tirou o chão: tinha um tumor de mama e precisaria se submeter à retirada dos seios. Após dois anos e muitas reuniões da equipe médica, nada de a cirurgia ser marcada. Rosângela se aproximou das práticas da medicina tradicional chinesa, adotou alimentação saudável e exercícios, reduziu o ritmo de trabalho. “Entendi que, se meu corpo desenvolveu o tumor, ele poderia se livrar dele.” Foi quando tomou uma atitude radical: à revelia dos médicos, decidiu não fazer o tratamento proposto —cirurgia e hormonoterapia, bloqueio de hormônios que estimulam o crescimento tumoral. “Diziam que eu era maluca.” Ela afirma que a última mamografia, há três anos, já não apontava sinais de câncer. Grande parte dos oncologistas considera a atitude de Rosângela, no mínimo, imprudente. Mas ela encontra respaldo em estudos segundo os quais para certos perfis de tumor e de pacientes o melhor tratamento pode ser não fazer nada. O tumor da esteticista, chamado carcinoma ductal in situ, é não invasivo na maioria das vezes. As células anormais estão confinadas nos canais que drenam o leite. “O problema é que não sabemos quais desses tumores vão ou não progredir. Para uma mulher jovem, não fazer nada pode ser temeroso”, afirma o mastologista José Luiz Bevilacqua, do hospital A.C. Camargo. Segundo ele, faltam mais dados sobre as características do tumor e das pacientes para as quais “não tratar” seria uma opção segura. Essa postura “mais liberal”, diz ele, pode ser aplicada a mulheres mais idosas, com tumores pequenos e de 13 Marcus leoni/Folhapress cláudia collucci semináriosfolha Fórum O Futuro do Combate ao Câncer Sexta-feira, 1º de abril de 2016 ef ┆┆┆ a esteticista Rosângela Bittencourt, 53, em São Paulo VIGILÂNCIA ATIVA para certos perfis de pacientes e de tumores, a melhor terapia pode ser não fazer nada e esperar a doença regredir, estacionar ou desaparecer; mas esse caminho, que exige acompanhamento constante, é dificultado pela falta de exames precisos baixo grau de malignidade. “Você pode dar um [remédio] anti-hormônio e é provável que a pessoa vai morrer de outra coisa. Às vezes, a lesão até desaparece.” Com a mamografia, o diagnóstico do carcinoma ductal in situ aumentou de 3% para 25% em três décadas. Mas o índice de mortalidade permaneceu inalterado, independentemente do tratamento. “Com o diagnóstico precoce, temos identificado muitas alterações que não se tornariam um problema. Opera- mos e tratamos muito, mas a mortalidade não caiu na mesma proporção”, diz o mastologista Antonio Frasson, do Hospital Albert Einstein. Estudos dos últimos anos mostram que só 30% dos carcinomas in situ evoluíram para tumor agressivo. O resto teve crescimento lento e sem malignidade. Alguns regrediram ou desapareceram. “Como não sabemos identificar esse paciente de baixo risco ou o ‘defeito’ que pode evoluir para carcinoma invasor, tratamos todo mundo igual.” A questão é que não há exames capazes de prever quais células se tornarão malignas, nem quando e como. Hoje, cinco centros da Universidade da Califórnia acompanham mulheres com carcinoma in situ que não serão submetidas a terapias, para que seja avaliado o tipo de célula que pode evoluir ou não. A proposta de só acompanhar tumores de baixa malignidade é chamada de vigilância ativa, e adotada desde os anos 1990 para a próstata. Gustavo Guimarães, chefe de urologia do A.C. Camargo, diz que há vários critérios de seleção a serem adotados, como o paciente não ter nódulos visíveis e apresentar exame de PSA abaixo de 10. Entre os mais jovens, a opção é controversa porque há riscos associados às biopsias frequentes feitas para acompanhar a evolução do tumor. “Podem ocorrer sangramentos, inflamações e fibrose. Se no futuro o paciente tiver que ser operado, pode ser complicado”, diz Guimarães. No câncer de tireoide, a vigilância é adotada com grávidas, desde que o tumor seja pequeno. “Acompanhamos a gravidez e a amamentação e operamos depois, sem prejuízo”, diz o cirurgião Luiz Paulo Kowalski. semináriosfolha Fórum O Futuro do Combate ao Câncer Leonardo Wen/Folhapress 14 Ana Maria Braga, na frente da casa do “Mais Você”, no Projac (Rio) SextA-feirA, 1º de ABril de 2016 ef ┆┆┆ Tomava muita morfina quando eu podia. Nas outras horas, eu trabalhava. Continuei trabalhando porque era um grande motivo para levantar todo dia c o MédIco SUZANA SINGER editora de “treinamento” Oncologista defende direito a segunda opinião “Não dá para tomar garrafada da Amazônia e fazer quimioterapiaaomesmotempo.” A frase não surpreenderia se viesse de um oncologista famoso ou de um pesquisador cético, mas o conselho é da apresentadora Ana Maria Braga, que fez todo o tratamento contra o câncer sob a proteção de Nossa Senhora de Fátima e foi a Portugal agradecer a cura com um percurso de joelhos. “Fé sim, mas sem abandonar o racional”, aconselha Ana Maria, que enfrentou três vezes a doença e que completa 67 anos nesta sexta (1º). Em 1991, era um câncer de pele que se resolveu com cirurgia. Dez anos depois, um carcinoma do canal anal, que exigiu doloroso tratamento radioterápico. “Tinha hora em que eu ligava o chuveiro, deitava embaixo e chorava muito.” Em dezembro do ano passado, a apresentadora surpreendeu a todos anunciando no “Mais Você” que tinha sido operada de um câncer pulmonar. Levou sua equipe médica ao programa e começou uma campanha para que as pessoas parem de fumar. Ana Maria assumiu a doença. “Nunca dá certo tentar esconder. A verdade é voadora, soberana”. As três ocorrências de câncer de Ana Maria Braga não têm ligação entre si, explica o oncologista Antonio Carlos Buzaid, médico da apresentadora. Ele afirma que o câncer de pulmão, diagnosticado na fase inicial (tumor com menos de 6 mm), foi o mais fácil de tratar. A chance de cura do melanoma de pele é de 90%, a do carcinoma do canal anal é de 50% e a do pulmão, detectado cedo, chega a 95%. Para uma pessoa ser considerada curada de câncer, o parâmetro que se usa é de cinco anos após o término do tratamento. No fórum promovido pela Folha, Buzaid defendeu o direitodopacienteaumasegunda opinião. “Se o seu médico ficar chateado com isso é porque ele é inseguro”, afirmou o médico, que chefia o Centro de Oncologia Antonio Ermírio de Moraes e atende no Hospital Albert Einstein. Buzaidcontouocasodeum paciente, com muito dinheiro, que importou um especialista. “O oncologista veio de Boston, chegou num sábado, examinou na segunda-feira e fez a avaliação.” Na decisão sobre qual tratamento seguir, o médico diz ser imprescindível ouvir o paciente “sem a pressão da família”. “Se a pessoa diz que não quer ser operada, por exemplo, não adianta nem o papa Francisco me ligar.” ★ Folha - Você teve câncer três vezes: em 1991, em 2001 e em 2015. Como foi receber cada diagnóstico? Foi bem assustador. Da primeira vez, era um câncer de pele, tratado com uma cirurgia profunda no braço. Ficou uma grande marca, mas a gente sempre sai com cicatriz, onde for, depois de uma doença séria. Na segunda vez, foi tão assustador quanto na primeira, até mais pela violência do câncer. Tinha medo de falar ‘câncer’? A palavra começou a fazer parte da minha vida. Optei por falar com todas as letras, c-â-n-c-e-r, para combater o estigma, o medo de que, se repetir a palavra ou usá-la inteira, você morrerá disso. Inimigo, a gente encara, olha de frente. Você enfrentou a doença como se fosse uma guerra? Sim, eram células inimigas que não queriam que eu continuasse por aqui. Em guerra, vocênãopodeficaremestado de desânimo. Precisa manter a cabeça alerta porque todo o resto dói. Como conviveu com a dor? Eu sou uma sortuda por ter acesso ao que há de melhor na medicina. Hoje, é possível fazer um tratamento grave e ainda viver relativamente bem, manter suas atividades. Mesmo assim, tive sequelas horríveis, que às vezes me impediam de andar. EntrEvista AnA mAriA BrAgA não dá para fazer químio e tomar garrafada ApresentAdorA contA como enfrentou os três tipos de tumor que teve desde 1991, diz que usA A pAlAvrA a uma ofensa, a uma contrariedade. A pessoa se entrega, por exemplo, após um abandono. Outros conseguem sublimar, manejar, tocam a vida e choram em casa. Tem gente que é mais sensível ao que a vida reservou a ela, aos ‘nãos’ que todos recebem. Você acredita que o pensamento positivo ajudou nos tratamentos? Foi arrasadora. Eu tenho um limiar alto de dor e mesmo assim sofri. Tomava muita morfina quando eu podia. Nas outras horas, eu trabalhava.Continueitrabalhando porque era um grande motivo para levantar todo dia. Gosto muito do que faço. Em casos de problemas físicos, não só no câncer, você depende muito da sua cabeça, da qualidade do seu pensamento. Mas não pode ser da boca para fora. É preciso ter, o tempo inteiro, um nível de alerta com você mesmo. Precisa ajudar o seu corpo a combater, com a rádio e a quimioterapia, aquelas células inimigas. Alguns pacientes não conseguem reagir tão bem, sofrem de depressão, por exemplo. Batia desespero, autopiedade, vontade de ficar largada na cama? No segundo caso, o do câncer no canal anal, a radioterapia foi muito difícil? Tem gente que é mais sensível, não só à dor física, mas Sim. Tinha hora em que eu ligava o chuveiro,deitava em- ‘câncer’ pArA AjudAr A quebrAr o estigmA e fAlA AindA dA necessidAde de mAnter A mente AlertA ‘porque todo o resto dói’ baixo e chorava muito. É natural que isso aconteça. Mas você tem que acreditar de verdade. Eu dizia‘vou aguentar’. Nunca imaginei que a doença pudesse ser maior do que eu. Diferentemente de outras pessoas públicas, você revelou a doença, tanto em 2001 quanto agora. Por quê? Nunca dá certo tentar esconder. A verdade é voadora, soberana. O que eu já vi de gente tentando fazer coisas escondidas dos mais variados tipos, problemas financeiros, de saúde, mas sempre dá errado. Duas pessoas sabendo de alguma coisa já são uma multidão. Mesmo falando, há espaço para especulações. Eu contei: foi assim, assado, estou assim… Se escondesse, a bolha seria enorme. A verdade é o caminho mais curto. Dá menos trabalho. Mas desta última vez, você só contou ao público após retirar o tumor. Eu já tinha planejado uma semana de férias, ia viajar, então aproveitei para ser operada. Trabalhei até sexta, depois me internei e fiz a cirurgia. No quinto dia, fui para casa. Voltei ao trabalho, mas tive falta de volume de ar. Frases longas, por exemplo, eram difíceis. Deixei passar o período crítico e aí contei ao público. Você se perguntou ‘por que eu de novo?’? Eu fumei por tanto tempo, era previsível. Foi minha culpa. Quer dizer, não é questão de culpa, é vício. Sou viciada em nicotina, como um drogado é em drogas ou um alcoólatra em bebida. Você é formada em biologia e é muito religiosa. Tentou algum tratamento alternativo? Eu não acredito que se possa servir a dois senhores, usar dois chapéus. Quando eu tive o segundo câncer, o mais pesado, chegavam ideias, tratamentos milagrosos de todos os lados. Se eu dividisse minha força, eu enfraqueceria o tratamento, porque bagunçaria a minha cabeça e o meu organismo. Você precisa acreditar em uma coisa e segui-la. Não dá para tomar garrafada da Amazônia e fazer quimioterapia ao mesmo tempo. Você procurou informações na internet, tentou saber de novas opções de drogas no exterior? Não adianta ler todas as bulas nem ficar vasculhando a internet, onde existe muita porcaria. Você tem que se entregar, de corpo e alma, a quem o está tratando. Que balanço você faz desse sofrimento todo? Depois do câncer, eu só melhorei. Sou muito exigente com as coisas, passei a ser mais condescendente. Você valoriza mais a vida. Falar sobre isso faz com que eu me lembre de que eu só tenho hoje. A gente se esquece disso, de que é preciso ser feliz agora, porque amanhã ninguém sabe. 15 Fotos Eduardo Knapp/Folhapress semináriosfolha Fórum O Futuro do Combate ao Câncer Não precisa ter pena de mim, porque eu não tenho. Estou doente e aproveitando a vida mais do que nunca Sexta-feira, 1º de abril de 2016 ef ┆┆┆ verónica hughes todo natal falo para os meus fIlhos que VaI ser o últImo, mas eu não morro oScar ScHMiDt, 58, ex-jogador de basquete, que tem tumores no cérebro DE SÃO PAULO Bruno Santos/ Folhapress pensamento (Im)posItIVo pacientes reclamam de quem os trata como A consciência de que a vida vai ser curta leva o paciente de câncer a acelerar tudo vítimas, falam com bom humor sobre a doença, mas se queixam da cobrança frequente para que eles enfrentem tudo com otimismo WALTER PORTO DE SÃO PAULO Pacientes de câncer se ressentem da “pressão do pensamento positivo”, a ideia de que o doente tem de estar bem e feliz para se curar. Podem até fazer graça com a doença —como os participantes da mesa dedicada à opinião do paciente, nesta quarta (30), segundo dia do Fórum O Futuro do Combate ao Câncer—, mas não gostam de ser tratados como vítimas. “Eu estou vivendo, e muito bem. Não é um tumorzinho que vai me derrubar”, disse o ex-jogador de basquete Oscar Schmidt, um dos participantes do encontro. Oscar contou que, após um desmaio, há cinco anos, descobriu um tumor de oito centímetros de diâmetro na superfície do cérebro. Segundo ele, “uma bola de softball”. Três anos depois, descobriu outro, num grau mais avançado. “Agora estou esperando o de grau quatro” disse, referindo-se ao último estágio da doença. O atleta comentou que a vida “até melhorou” depois da descoberta do tumor, porque antes se preocupava mais em economizar dinheiro. “Para que vou ficar guardando, agora que estou na reta final?” A médica Verónica Hughes, 57, que há 12 anos convive com um câncer de pulmão (o mesmo tipo do que, no ano passado, matou seu pai, o escritor uruguaio Eduardo Galeano), entrou no grau quatro há meia década. “Há uma pressão para o paciente estar sempre bem, otimista. Mas às vezes é para ficar triste mesmo”, disse. A jornalista Elaine Bast, 42, outra participante da mesa, disse que receber o diagnós- tico de câncer foi comparável ao 7x1 do jogo entre Brasil e Alemanha: “Inacreditável”. “Teve dia em que eu quis ficar trancada no quarto o dia inteiro, e minha família respeitou,” contou Bast. Ela descobriu um tumor de mama em novembro passado, logo após fazer uma reportagem sobre a importância do diagnóstico precoce. “Passei um tempão estudando sobre câncer, mas quando você ouve do médico que tem, esquece tudo.” O que mais a tranquilizou foi a segurança passada pelo oncologista, que explicou em detalhes o que ela tinha e como seria o tratamento. “O paciente precisa ter um tratamento humanizado, ser olhado como um todo. E isso inclui também a estética.” Merula Steagall, 49, presidente da Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia) e da Abrasta (Associação Brasileira de Talassemia) aponta que uma doença grave muda o olhar em relação à vida. Ainda criança, Steagall descobriu a talassemia, doença hereditária. “A consciência de que a vida vai ser curta te leva a acelerar tudo.” Cita como exemplos o estudo de idiomas —ela fala oito. As associações que Steagall preside trabalham com acolhimento e educação de pacientes e com defesa de políticas públicas. Ela conta que quando começou, em 2000, o Brasil estava “uns 20 anos atrasado em relação à Europa” na questão de drogas e tratamentos, mas melhorou. “A maioria não tem oportunidade de se tratar como estou me tratando”, afirmou Oscar, que contou ter tentado de tudo. “Os médicos tendem a não acreditar muito em alternativas. A não ser quando acontece com eles.” Merula Steagall, 49, presidente das associações Abrale, de linfoma e leucemia, e Abrasta, de talassemia, doença sanguínea sem cura com que foi diagnosticada ainda criança Filha do escritor uruguaio Eduardo Galeano, Verónica Hughes tem uma história que parece ter sido, ela própria, romanceada. Diagnosticada em 2004 com câncer de pulmão —um dos mais agressivos—, Verónica se mantém plenamente ativa até hoje, aos 56 anos. O quadro fica mais impressionante quando se leva em conta que seu tumor está no estágio quatro, considerado terminal, desde 2010. “Eu sou persistente,” diz ela à Folha, com o forte sotaque de quem nasceu no Uruguai e viveu mais de 20 anos em Barcelona. “Todo Natal falo para os meus filhos que vai ser o último, mas eu não morro. Estou perdendo a credibilidade,” brinca. Ela diz acreditar que só está viva hoje porque pôde recorrer, devido a sua condição financeira, aos melhores médicos, cirurgias e tratamentos. “Tive acesso a uma medicina mais, digamos, injusta. Sou um produto da desigualdade brasileira.” Verónica não se furta a olhar para o futuro: “Tenho muita esperança nas imunoterapias. Tenho certeza de que, assim que tiver condição clínica, entro num estudo.” Médica com especialização em epidemiologia pela Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA), foi afastada do trabalho após a primeira metástase no cérebro, que, como ela mesma concorda, tornaria o trabalho inseguro. Dedica-se hoje ao combate ao tabagismo. Seu pai, que morreu em abril do ano passado da mesma doença que a acomete, era fumante inveterado. Verónica acompanhou o hábito dos 14 aos 30 anos —parou 15 anos antes de o câncer aparecer. Galeano nunca falava com a filha sobre câncer nem sobre cigarro. Ela diz que os dois discordavam ferrenhamente em relação ao fumo —o pai o enxergava como opção individual. “Não é uma escolha. Depois da primeira semana, você já não é livre,” diz, exaltada. “A nicotina é pior do que a cocaína. Só que ninguém te trata como drogado.” (Walter Porto) O paciente precisa ser humanizado, ser olhado como um todo. E isso inclui a estética elaine baSt, 42, jornalista que teve câncer de mama semináriosfolha Fórum O Futuro do Combate ao Câncer HHH ab Sexta-Feira, 1° De abril De 2016 Equipe competente e tecnologia de ponta aliadas ao atendimento humanizado. Cada detalhe pensado de modo a proporcionar aos pacientes oncológicos uma experiência diferenciada para que eles se sintam revigorados. ► Equipes multidisciplinares ► Apoio psicológico ao ► Imunoterapia, ► Resolução de casos complexos por meio da troca de conhecimento entre médicos de diversas instituições nacionais e internacionais ► Novo bloco totalmente dedicado à Oncologia, inclusive com Pronto Atendimento, centro de cuidados paliativos e medicina integrativa com diversas abordagens terapêuticas com um corpo clínico experiente e de renome internacional paciente oncológico e seus familiares Quimioterapia, Radioterapia, Radiocirurgia, Medicina Bucal, Oncogenética e Transplante de medula ► Tecnologia de ponta para um diagnóstico preciso e uma crença de que conforto e bem-estar têm função terapêutica Bene�cência Portuguesa de São Paulo: uma trajetória dedicada a promover o que temos de mais valioso, a vida. Hospital Bene�cência Portuguesa de São Paulo - (11) 3505-1000 | R. Maestro Cardim, 769 - Bela Vista | São Paulo Hospital São José - (11) 3505-6000 | R. Martiniano de Carvalho, 965 - Bela Vista | São Paulo Responsável Técnico: Dr. Luiz Eduardo Loureiro Bettarello - CRM SP-23706 16