ESTUDO MORFOLÓGICO E DETECÇÃO DE CLONES, ATRAVÉS DE MARCADORES MOLECULARES ISSR, EM POPULAÇÕES DA PLANTA AQUÁTICA Pistia stratiotes L. NO NORTE DO ESTADO DO PIAUÍ Jaiany Oliveira Silva (bolsista do PIBIC/UFPI), Ivanilza Moreira de Andrade (Orientadora, Depto. de Ciências Biológicas – UFPI/CMRV) Pistia stratiotes L., conhecida popularmente como alface-d´água, é uma macrófita aquática flutuante da família Araceae, com propagação vegetativa vigorosa em ambientes aquaticos eutrofizados. Objetivou-se com este estudo avaliar o polimorfismo apresentado por marcadores ISSR em populações naturais de Pistia stratiotes. Foram amostrados 25 indivíduos de duas populações provenientes de estado do Piauí (Barragem do Itararé, Luzilândia e Lagoa do Bebedouro, Parnaíba) e uma do Ceará (Lagoa do Porangabussu, Fortaleza), no total de 75 indivíduos, e 25 clones de quatro indivíduos, totalizando 100 clones. Foram utilizados oito primers de ISSR (UBC 807, UBC 811, UBC 813, UBC 814, UBC 847, UBC 853, UBC MAO e UBC TERRY). Os oito iniciadores ISSR permitiram a obtenção de 1.156 (58,3%) e 1.331 (37,1%) fragmentos polimórficos nas três populações e nos clones, respectivamente. Dentre os oito marcadores moleculares o UBC 814 destacou-se com 100% de polimorfismo. Foi observado que a população de LU obteve o maior número de fragmentos polimórficos, 510 marcas, o que confere 74,4% de polimorfismo. Já a população de FO apresentou uma menor frequência polimórfica, 45%, em 307 de 682 fragmentos. A população de LUZ, em todas as análises, mostrou mais diversidade genética. Estes resultados podem estar associados a pouca interferência antropológica que há nesta população. A população de FOR apresentou baixos resultados de diversidade genética em relação as populações de PHB e LUZ, o que pode ser devido a distância geográfica de Fortaleza para as populações do Piauí. Com relação aos clones obtidos dos indivíduos da população de PHB, parece haver, pelo menos, três genótipos. Estes resultados merecem estudos mais aprofundados para verificar as diversidades apresentadas entre os agrupamentos. O baixo polimorfismo pode ser associado a alta capacidade de se propagar vegetativamente, permitindo a produção de numerosos clones em um curto espaço de tempo. Palavras-chave: Alface-d´água, Marcador molecular, Polimorfismo. INTRODUÇÃO Pistia stratiotes L. é a única espécie de seu gênero, pertencente à família Araceae Juss (Pistia in Flora do Brasil 2020 em construção.). É uma erva aquática flutuante, amplamente distribuída por todo o mundo, cuja origem ainda não foi totalmente definida, sendo atribuída a África ou América do Sul (LORENZI, 2000; CARDOSO et al, 2005). Devido à beleza do rearranjo de suas folhas, em forma de roseta, elas são utilizadas para fins ornamentais, embora possa causar grandes prejuízos quando o meio é favorável para sua propagação vegetativa. Devido ao rápido crescimento, a alface d’água geralmente é responsável pela formação de densos tapetes de plantas sobre a superfície aquática (COELHO et al., 2009). A multiplicação vegetativa vigorosa de P. stratiotes, naturalmente leva à suposição de que as populações observadas no habitat são provavelmente clones. No entanto, flores desta planta em abundância produzem numerosas sementes férteis e por isso parece possível que em uma determinada área onde ocorrem, vários clones distintos podem estar presentes. Marcadores moleculares são ferramentas eficazes no estudo dos genomas, pois detectam polimorfismos diretamente no DNA, não sofrem influência ambiental e são independentes do estádio de desenvolvimento da planta (FERREIRA; GRATTAPAGLIA 2008). O marcador molecular ISSR tem se mostrado uma poderosa ferramenta para análise da diversidade genética (CHARTERS, WILKINSON, 2000; ISSHIKI et al., 2008). O ISSR é uma técnica de baixo custo, de fácil uso e de grande reprodutibilidade (MATTHEWS et al. 1999). Tendo em vista a escassez de estudo molecular em população clonal de Araceae, e a importância de Pistia stratiotes como fitorremediadora, objetivou-se com estudo verificar a diversidade genética em populações e indivíduos clonais de Pistia stratiotes utilizando marcadores moleculares ISSR (Inter Simple Sequence Repeats). METODOLOGIA Foram utilizados 25 indivíduos de três populações de P. stratiotes (Fortaleza-CE, LuzilândiaPI e Parnaíba-PI) e 25 clones de quadro indivíduos da população de Parnaíba-PI, totalizando 100 clones. Posteriormente foi feita a extração do material genômico das folhas jovens em CTAB 2% utilizando o protocolo de Doyle e Doyle (1987) com modificações. Para a amplificação das amostras foi realizada uma seleção de dezesseis iniciadores ISSR e destes foram selecionados os oito melhores (UBC 807, UBC 811, UBC 813, UBC 814, UBC 847, UBC 853, UBC MAO, UBC TERRY). Os géis resultantes foram fotografados e posteriormente foi feita uma matriz binária de ausência de presença de fragmentos. Foi realizada análise UPGMA com o coeficiente de Jaccard e fenograma, e Análise de coordenadas principais (PCoA) utilizando o programa PAST 2.17. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os oito iniciadores ISSR permitiram a obtenção de 1156 (58,3%) e 1331 (37,1%) fragmentos polimórficos nas três populações e nos clones, respectivamente. Dentre esses marcadores, o UBC 814 destacou-se com 100% de polimorfismo. Foi observado que a população de LUZ obteve o maior número de fragmentos polimórficos, 510 marcas, o que confere 74,4% de polimorfismo. Já a população de FOR apresentou menor frequência polimórfica, 45%, em 307 de 682 fragmentos. A partir da população de Parnaíba foi realizado o estudo intrapopulacional utilizando 100 indivíduos divididos em quatro agrupamentos de 25, obtendo-se um total de 3581 marcas das quais 1331 (37,1%) foram polimórficas. O número total de fragmentos variou de 356 (UBC 807) a 562 (UBC 853). Mesmo tendo o menor total de fragmentos, o primer UBC 807 obteve o maior número de fragmentos polimórficos entre os primers utilizados, ao todo foram 206 (57,8%) marcas polimórficas. O estudo intrapopulacional também apresentou um maior número de fragmentos únicos (21) e estáveis (38). O fenograma obtidos pelo método de agrupamento UPGMA, utilizando coeficiente de similaridade de Jaccard para as populações, revelaram que PHB e LUZ mostraram-se mais similares entre si do que a população de FOR (Figura 1). A diversidade genética das três populações evidenciou Heterozigosidade esperada (He) e índice de Shannon (I) de 0,091 e 0,139, respectivamente. As taxas do índice de Shannon de 0 a 1, quanto mais próximo de 0, serão mais baixas as diversidades genéticas (ROCHA, 2013). Essa baixa diversidade genética provavelmente está associada a alta propagada vegetativa da alface d’água. A população de LUZ obteve a maior diversidade, enquanto a de FOR deteve a menor diversidade entre as três populações. A maior diversidade em LUZ deve estar associada a pouca intervenção antropológica no local. A população de LUZ obteve a maior diversidade (41,67%), enquanto a de FOR deteve a menor diversidade (20,83%) entre as três populações. A maior distância observada foi de 0,696 entre as populações de FOR e PHB e menor foi entre LUZ e PHB com 0,427. Figura 9: Árvore de análise UPGMA, utilizando Jaccard com as três populações de Pistia stratiotes L. gerada pelo Programa Past. Fort: Fortaleza, Luz: Luzilândia e Phb: Parnaíba. Na PCoA das três populações, usando PC1 e PC2 as populações mostram-se separadas, formando três agrupamentos. Entretanto, a população de FOR mostra-se mais isolada. Além disso, na população de LUZ existe um maior afastamento entre seus indivíduos do que nas outras duas populações. No PC2 e PC3, a população de LUZ está separada das populações de FOR e PHB, que formam um único agrupamento. Os clones mostraram se geneticamente próximos, embora a população D, constituída por clones de indivíduo mais distantes dos indivíduos que deram origem as populações A, B e C, apresentou-se mais diversa. Os resultados das análises de PCoA evidenciaram pelo menos três genótipos. CONCLUSÃO A população de LUZ, em todas as análises, mostrou maior diversidade genética. Estes resultados podem estar associados a pouca interferência antropológica que há nesta população. A população de FOR apresentou baixos resultados de diversidade genética em relação as populações de PHB e LUZ, o que pode está associado a distância geográfica de Fortaleza para as populações do Piauí. Com relação aos clones obtidos dos indivíduos da população de PHB, parece haver, pelo menos, três genótipos. Estes resultados merecem estudos mais aprofundados para verificar as diversidades apresentadas entre os agrupamentos. APOIO: (EDITAL Nº. 001/2014 – Edital MAC-Doubles Fernandes do Nascimento de apoio à ciência, tecnologia e inovação). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: Araceae in Flora do Brasil 2020 em construção. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB51>. Acesso em: 28 Ago. 2016. CARDOSO, L. R; MARTINS, D; MORI, E. S; TERRA, M. A. Variabilidade genética entre populações de Pistia stratiotes. Planta Daninha, Viçosa, MG, v. 23, 2005. p. 181-185. CHARTERS. Y. M; WILKINSON, M. J. The use of self-pollinated progenies as “in-groups” for the genetic characterization of cocoa germplasm. Theoretical and Applied Genetics, v.100, 2000. p.160-166. COELHO, M. A. N.; WAECHTER, J. L.; MAYO, S. J. Rodriguésia, 2009, 60, 799. 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