Baixar artigo completo

Propaganda
PAISAGEM URBANA DA ARQUITETURA MODERNA: Edifícios de
apartamentos na radial João Pessoa – Porto Alegre
FAGUNDES, ANGELA; LIMA, RAQUEL; OLIVEIRA, MAITÊ
1. PUCRS. Acadêmica da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Av. Ipiranga, 6681 Prédio 9 – Porto Alegre/RS
[email protected]
2. PUCRS. Departamento de Teoria e História da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Av. Ipiranga, 6681 Prédio 9 – Porto Alegre/RS
[email protected]
3. PUCRS. Acadêmica da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Av. Ipiranga, 6681 Prédio 9 – Porto Alegre/RS
[email protected]
RESUMO
A capital gaúcha desenvolveu-se a partir da ponta da península, às margens do lago Guaíba, por
estratégias de natureza militar e organizou-se por meio de uma estrutura em leque, formada por cinco
radiais. Essas geratrizes viárias caracterizam a cidade até os dias de hoje. As grandes radiais são:
Avenida Borges de Medeiros, Avenida João Pessoa, Avenida Osvaldo Aranha, Avenida Independência
e Avenida Voluntária da Pátria. A radial João Pessoa, conhecida no século XVIII como Caminho da
Azenha, nasceu como uma via de ligação entre a antiga vila e a ponte da Azenha que conduzia a
Viamão, através da Estrada do Mato Grosso (atual avenida Bento Gonçalves). A avenida João Pessoa
tem início na avenida Salgado Filho, atravessa o bairro Cidade Baixa e termina na avenida Bento
Gonçalves, no bairro Azenha, compreendendo, quarto bairros: Centro Histórico, Farroupilha, Cidade
Baixa e Azenha. Em todas essas vias estruturais da cidade existem edifícios de apartamentos que
compõem uma paisagem urbana com características próprias de um modo de morar moderno. O
presente artigo apresenta a paisagem da arquitetura moderna por meio de alguns edifícios de
apartamentos projetados para a radial João Pessoa, em Porto Alegre. Fazem parte deste conjunto as
seguintes edificações: Edifício Redenção e Edifício Vitória Régia; Edifício Matos Vanique, Edifício
Jequitibá e Edifício Jovay, entre outras.
Palavras-chave: Paisagem Urbana; Arquitetura Moderna em Porto Alegre; Habitação Coletiva; Modos
Modernos de Morar.
1. Introdução
No município de Porto Alegre, a capital do estado do Rio Grande do Sul, o desenvolvimento
deu-se a partir do crescimento urbano dividido em cinco importantes fases, segundo Célia
Ferraz de Souza. A primeira fase (1680 a 1772), ocupação do território/formação do núcleo;
segunda fase (1772 a 1820), trigo; terceira fase (1820 a 1890), imigração; quarta fase (1890 a
1945), industrialização; quinta fase (1945 até os dias atuais) metropolização.
Razões estratégicas de natureza militar nortearam a ocupação. Em 1773 instalou-se
oficialmente a capital na ponta da península, onde era a esquina do Rio Grande de São Pedro
(XAVIER, 1987). O porto, no lado norte da península, ligava-se aos centros de interesse pelas
grandes radiais. Essas geratrizes viárias criaram uma estrutura em leque, que caracteriza a
cidade até os dias de hoje. As grandes radiais são: avenida Borges de Medeiros, avenida
João Pessoa, avenida Osvaldo Aranha, avenida Independência e avenida Voluntários da
Pátria.
A avenida João Pessoa, é uma das primeiras radiais urbanas que, partindo do centro,
atravessa a cidade baixa e vai confluir na avenida Bento Gonçalves, em área que oficialmente
pertence ao bairro Santana. Nasceu como o caminho de ligação entre a vila primitiva e a ponte
da Azenha que conduzia a Viamão através da estrada do Mato Grosso. Em 1930, por meio do
Decreto Municipal n.206, de 4 de outubro, a avenida passa a chamar-se João Pessoa, em
homenagem ao advogado e político paraibano João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque. A
avenida já havia sido estrada caminho da Azenha, estrada Caminho da Redenção, rua da
Redenção, avenida da Redenção.
Junto a avenida João Pessoa está situado um dos parques mais importantes da cidade: o
Parque Farroupilha, popularmente conhecido como parque da Redenção é um dos maiores e
mais antigos parques da capital gaúcha. Em 1935 aconteceu a Exposição do Centenário da
Farroupilha, e nessa ocasião, uma parte do do campo foi drenada, nivelada e urbanizada,
seguindo um projeto do urbanista francês Alfred Agache. Neste ano sua denominação foi
alterada para Parque Farroupilha, que se mantém até hoje, e o parque perdeu nova fração
com a construção do Instituto de Educação General Flores da Cunha junto à avenida Oswaldo
Aranha. No interior do parque está o auditório Araújo Vianna, projeto de Moacir Moojen
Marques e Carlos Maximiliano Fayet. O parque é composto por 37 hectares.
Ainda, junto a avenida estão situados alguns prédios da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, o Templo Positivista de Porto Alegre, o Colégio Júlio de Castilhos, a Escola
Profissional Darcy Vargas, o Shopping João Pessoa, o Laboratório de Perícias e o
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO
Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
Departamento de Identificação do Instituto Geral de Perícias e a sede do Jornal do Comércio.
Esses edifícios compõem a paisagem de uma avenida moderna, com equipamentos de
prestação de serviços, que ocupam diferentes lotes tradicionais da cidade, mas que
representam temporalidades diversas: arquitetura historicista, arquitetura protoracionalista e
arquitetura moderna.
Avenida João Pessoa (2016), Foto de Tarcisio Carneiro.
2. Os modos modernos de morar em apartamento
O modo de morar em apartamento foi conquistado passo a passo através modificações e
adequações às moradias tradicionais. A tipologia denominada ‘casa porto-alegrense’, iniciou
a vivência da sociedade em pequenas habitações. Segundo Bittencourt, as casas eram
baixas e atarracadas remontando às origens açorianas, e ocupando toda a largura do lote do
período colonial, com uma ou duas janelas e construídas no alinhamento em grupos de duas
até onze unidades. A disposição dos cômodos seguia uma ordem, privilegiando o espaço
mais público, a sala, e protegendo os mais privados, quartos, varanda e cozinha. A mesma
sequência que foi utilizada nas casas térreas, foi também nos sobrados, nas casas de porão
alto e nos palacetes dos anos dez, com adaptações. Os ambientes denominados gabinete e
corredor também foram incorporados à sequência inicial dos cômodos. Nas casas com porão
alto, por exemplo, o serviço poderia ficar no porão e os dormitórios no pavimento superior.
Lúcia Géa analisa os espaços internos da casa das elites porto-alegrense dos anos 10 através
de um mapa simbólico: (...) a sala fazia a transição entre a rua e a casa e era o local de
recepção e representação, completado pelo gabinete. No extremo oposto, estavam os
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO
Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
invioláveis dormitórios. A varanda era o centro da vida doméstica e o espaço mediador e
conciliador das relações familiares, servindo também para receber os convidados mais
íntimos. (...) As dimensões dos lotes eram determinantes na ocupação pelas residências e,
por consequência, por sua distribuição interna. No século XX as exigências com relação à
higiene e a salubridade dos espaços indicaram mudanças nesta ocupação. O recuo lateral é
uma destas mudanças, possibilitando as aberturas dos dormitórios para a fachada lateral; a
taxa de área verde que deveria ser deixada livre no terreno é outra destas alterações que
visavam a melhoria dos espaços da habitação. Havia também as casas para aluguel, na
década de 30. ‘Casas de Renda’, era a denominação de época para casas geminadas, como
cita Günter Weimer, no projeto aprovado para a Rua Dona Sofia, no bairro Menino Deus.
Projeto do arquiteto Fernando Corona de 1935 e construção da Empresa Azevedo Moura &
Gertum, estas unidades serviram, a meu ver, como o início da convivência necessária para
moradia em edifícios de habitação coletiva. Mas, segundo Nara Machado, Porto Alegre já
conhecia os edifícios de apartamentos nos anos 20. Eram pequenas edificações, de dois a
três pavimentos, para aluguel, e utilizando o térreo para fins comerciais. Cita que o primeiro
edifício de apartamentos teria sido destinado às instalações da Cia. de Seguros de Vida
Previdência do Sul, de 1911, no térreo e sobreloja, com dois apartamentos por andar nos
demais pavimentos.
O sobrado multifamiliar era uma antecipação dos prédios de apartamentos que surgiram
posteriormente com o advento dos edifícios mais altos. Segundo Mattar, eram provavelmente
destinados para aluguel, sendo os pavimentos superiores ocupados por apartamentos,
enquanto no térreo sua utilização era para armazéns, lojas e depósitos. Os exemplos citados
por Mattar, entre outros, encontram-se situados na rua Voluntários da Pátria, construídos na
década de 20, de autoria do arquiteto Theo Wiedersphan e da construtora Azevedo Moura e
Gertum. Eram os projetos do proprietário Manoel Pereira e de Eduardo Secco,
respectivamente. A sequência na disposição dos cômodos das casas para as elites se
mantém nos edifícios de apartamentos de pequeno porte. Sala, quarto, varanda e cozinha.
Essa era a disposição usual desde os casarões da Avenida Independência dos anos dez do
século XX. No bairro Cidade Baixa, por exemplo, o processo de mudança na imagem das
edificações, especialmente nos conjuntos de casas, teve início na década de 30. Menegotto
analisa vários exemplares através dos quais pode-se identificar a busca de outro tipo de
linguagem, uma linguagem associada à modernidade. Até então, elementos arquitetônicos
oriundos do classicismo eram predominantes nas edificações. As formas de vida sofreram
alterações graduais, mantendo os espaços e as ligações internas das casas muito
semelhantes à configuração das pequenas casas implantadas em lotes estreitos dos
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO
Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
oitocentos. Contudo, nos edifícios de apartamentos, a situação dos dormitórios era priorizada,
dispondo suas aberturas para as fachadas de frente. A grande novidade na organização dos
espaços do apartamento da década de trinta se dá na localização da área de serviço. (...) na
distribuição do espaço, uma interessante inversão começa a tomar corpo com frequência,
qual seja a colocação da zona de serviço próxima à entrada do apartamento e não mais nos
fundos do mesmo. Grande descoberta, possibilita uma ocupação mais eficiente do espaço.
Decorrente de uma nova acepção da zona de serviço ao nível simbólico, é natural que esta
acabasse se traduzindo também ao nível espacial. Não há mais a necessidade de isolar esse
ambiente no fundo da casa. Muitos exemplos são deste período, destacando-se os edifícios
São Gabriel, Santa Rosa, Guaspari, Piccardo, Alcaraz, para citar alguns dos mais
importantes94. Importante destacar a busca da funcionalidade e privacidade aliada a uma
continuidade espacial. Segundo Machado, essa continuidade espacial entre diversos
elementos seria um indício identificador de modernidade. Modernidade que segue um
processo de desenvolvimento ao longo dos anos 40 e 50. No centro de Porto Alegre
marcaram os anos 40 o Edifício Santa Helena, do arquiteto Fernando Corona e o Edifício
Sulacap, do arquiteto Arnaldo Gladosch, para citar alguns exemplos importantes.
A avenida João Pessoa é uma das importantes radiais de Porto Alegre que apresenta em sua
paisagem importantes exemplares da arquitetura moderna: edifícios de apartamentos. Dentre
esses, destacam-se dois grupos de edifícios de apartamentos: as torres, edifícios cuja ênfase
à verticalidade caracteriza os modos de morar nas alturas, abrilhantando a modernidade
urbana; os conjuntos de edifícios modernos, edifícios que constituem uma paisagem urbana
harmônica, cultivando a ideia de criar cidade com gabarito semelhante e expressivo quanto à
modernidade de Porto Alegre.
3. Paisagem urbana moderna: torres da avenida João Pessoa
A verticalidade é um dos princípios de composição presentes nos edifícios de apartamentos
da avenida João Pessoa. Muitas vezes isolados em lotes, outras ocupando as divisas dos
terrenos, as torres da avenida João Pessoa são importantes exemplares da arquitetura
moderna que retratam os modos modernos de morar nas alturas. Os Edifícios Mattos
Vanique, Jequitibá, Monte Tabor e Jovay são alguns dos grandes personagens da
modernidade da radial João Pessoa de Porto Alegre.
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO
Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
Edifício Mattos Vanique
O edifício Mattos Vanique, de autoria de Nilton Beduschi (CREA 7399), do ano de
1956, situado na avenida João Pessoa 1784, esquina com Praça Piratini, possui a
tipologia de torre e apresenta diversas características típicas do modernismo. São 15
pavimentos residenciais, distribuídos acima de um térreo, marcado por pilares de
base circular, com função de comércio, que apresentam múltiplas tipologias, desde
apenas 1 dormitório até unidades habitacionais de 3 dormitórios; as cozinhas já
aparecem com as áreas diminuídas, as áreas de serviço são compostas de
fechamentos com cobogós, e, diferente dos apartamentos contemporâneos, com
apenas 1 banheiro, mesmo nas unidades com 3 dormitórios, portanto não dispondo de
nenhuma suíte.
Edifíco Mattos Vanique (2016), foto de Tarcisio Carneiro
Edifício Jequitibá
O edifício Jequitibá, de autoria da Imobiliária Bageense, do ano 1955, situado na Rua
Desembargador André da Rocha 20, esquina com a Avenida João Pessoa, possui a
tipologia de torre, característica recorrente nas esquinas da avenida joão Pessoa.
Apresenta diversas tipologias na unidades habitacionais, dispondo de apartamentos
com 3 dormitórios, ao longo dos quinze pavimentos distribuídos sobre o térreo
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO
Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
comercial e um subsolo de garagens. A partir do décimo primeiro pavimento, surge um
terraço, oriundo de uma subtração no volume da edificação, até o ultimo pavimento,
onde também ocorre um terraço. A unidades habitacionais desse edifício são
organizadas por meio de apartamentos tipo, com cozinhas com dimensões
características do modernismo, visto que são conforme as células mínimas de
habitação de Le Corbusier, as áreas de serviço dispõe de fechamentos com cobogós.
Cada unidade dispõe de apenas um banheiro.
Edifício Jequitibá (2016), foto de Tarcisio Carneiro
Edifício Monte Tabor
O edifício Monte Tabor, de autoria da Construtora Imobiliária Himalaia S.A., do ano de
1960, com responsabilidade técnica de Eugênio Carlos Knorr (CREA 8510), situado
na Rua Olavo Bilac 418, esquina com a avenida João Pessoa, possui a tipologia de
torre. São doze pavimentos tipo, dispostos sobre um pavimento térreo comercial. As
unidades habitacionais são compostas de 2 ou 3 dormitórios, cozinhas pequenas,
área de serviço com sanitário auxiliar.
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO
Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
Edifício Monte Tabor (2016), foto de Tarcisio Carneiro
Edifício Jovay
O edifício Jovay, de autoria do engenheiro Rubens Xavier (CREA 7025) , do ano de
1967, situado na Rua Avaí 15, esquina com a avenida João Pessoa, possui tipologia
de torre. É composto por quartorze pavimentos tipo, distribuídos sobre um pavimento
térreo comercial. As unidades habitacionais são de tipologias multiplas, variando de 1
dormitório até 3. Este é um caso que apresenta suites, dispondo, portanto, de mais de
um dormitório por unidade. As cozinhas são compactas e as áreas de serviço com
fechamentos em cobogós.
Edifício Jovay(2016), foto de Tarcisio Carneiro
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO
Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
4. Paisagem Urbana e Conjunto de edifícios modernos: Redenção,
Presidente e Vitória Régia
O conjunto é composto por três edifícios: Edifício Redenção, Edifício Presidente João Pessoa
e Edifício Vitória Régia. Os edifícios Redenção e Vitória Régia compõem as extremidades do
conjunto e possuem o mesmo número de pavimentos, 9, já o Edifício Presidente João Pessoa
localiza-se no interior do conjunto e possui 11 pavimentos. O conjunto compõe a paisagem da
radial João Pessoa, a frente do mais antigo Parque de Porto Alegre, o Parque Farroupilha,
conhecido como Parque da Redenção.
O local onde se encontra o Parque Farroupilha foi doado à cidade pelo governador Paulo José
da Silva Gama em 1807, inicialmente conhecido como Potreiro da Várzea, passou a
chamar-se Campos do Bom Fim em 1870, em 1884 passou a ser Campos da Redenção em
homenagem a libertação dos escravos e em 1935 passou a ser Parque Farroupilha por este
ter abrigado a exposição do Centenário da Revolução Farroupilha. O Parque situa-se entre a
Av. João Pessoa, Av. José do Bonifácio, Av. Osvaldo Aranha, Av. Paulo Gama e Rua Eng.
Luiz Englert, estando tombados seus passeios, caminhos, vegetação, ajardinamentos,
edificações, abrigos, chafarizes, fontes, estatuária, lagos, espelhos d’água e recantos,
incluindo o recanto Solar, o recanto Oriental, o recanto Europeu, o recanto Alpino, o
orquidário, o roseiral, o zoológico, o estádio Ramiro Souto, o Auditório Araújo Vianna, o
Espaço Cívico e o Monumento ao Expedicionário, o Mercado do Bom Fim e o Instituto General
Flores da Cunha.
Edifício Redenção – Emil Bered – 1954
Localizado na Rua da República, 21, esquina com Avenida João Pessoa, no bairro Cidade
Baixa, possui 09 pavimentos mais o térreo e subsolo com garagem. O edifício é composto por
apartamentos-tipo, acomodando três apartamentos por pavimento, de três dormitórios cada.
Contém duas fachadas voltadas para a via pública, a fachada da Rua da República e a
fachada da Avenida João Pessoa. A composição desse edifício é organizada em um bloco
compacto em forma de “L”, com uma área interna aberta.
No térreo, a introdução de uma mureta de pedra que contorna parte do edifício, as esquadrias
que dão fechamento ao hall, o painel de cerâmica, os pilotis que possibilitam o térreo elevado
se abrindo para o parque e uma loja na divisa do lote, dão fechamento ao conjunto. No corpo
do edifício, um pequeno balanço voltado para a Rua da República enfatiza o acesso principal;
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO
Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
nas fachadas, para quebrar a volumetria plana, é acomodada uma grelha, com partes
preenchidas com cor, de forma alternada, marcando a divisão interna dos cômodos e as lajes
entrepiso. Ambas as fachadas guardando elementos moduladores, formando um jogo de
saliências, cores e texturas no reboco. As esquadrias são semelhantes, todas com
venezianas.
Edifício Redenção (2016). Foto de Tarcísio Carneiro.
Edifício Presidente João Pessoa – Geraldo da Silva – 1961
Localizado na Avenida João Pessoa, 453, possui 11 pavimentos acrescidos de térreo,
subsolo com garagem e terraço. O edifício compõe o interior do conjunto e desenvolve-se em
bloco compacto, com três apartamentos-tipo por andar, dois para a Avenida João Pessoa e
um para os fundos, todos de três dormitórios. Os apartamentos voltados para a Avenida João
Pessoa possuem dormitório com sacada para a via pública, podendo contemplar o Parque
Farroupilha.
É o edifício mais alto do conjunto, tem sua fachada marcada por linhas horizontais contínuas
em bordô que abrigam as sacadas. O térreo possui duas salas destinadas a comércio.
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO
Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
Edifício Presidente João Pessoa (2016). Foto de Tarcísio Carneiro.
Edifício Vitória Régia, Jaime Schneider – 1967
Localizado na Avenida João Pessoa, 437, possui 09 pavimentos, acrescido de térreo
comercial e subsolo com garagem. O edifício é composto por dois blocos separados pela
circulação vertical, formando um “H” virado. Ambos os blocos possuem três apartamentos, os
das extremidades com três dormitórios e os do centro, de um dormitório, todos com
dependência de empregada. O prédio contém apenas uma fachada para a via pública.
O térreo possui duas entradas para o subsolo, duas lojas e o hall de acesso ao edifício; o
corpo do edifício é composto por sacadas, separadas por um cobogó que esconde a área de
serviço dos apartamentos de um dormitório. Voltados para a Avenida João Pessoa, nas
sacadas, ficam os dormitórios e a sala de estar/jantar. A fachada é marcada verticalmente
pelo cobogó e horizontalmente por faixas nas lajes entrepiso.
Edifício Vitória Régia (2016). Foto de Tarcísio Carneiro.
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO
Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
5. Considerações Finais
Nas vias estruturais de Porto Alegre apresentam-se edifícios de apartamentos que compõem
uma paisagem urbana com características próprias de um modo de morar moderno. As
radiais Avenida Borges de Medeiros, Avenida João Pessoa, Avenida Osvaldo Aranha,
Avenida Independência e Avenida Voluntária da Pátria expressam a modernidade vivenciada
pela sociedade gaúcha dos anos de 1950, entre outros aspectos, por meio de seus edifícios
de apartamentos. A radial João Pessoa, conhecida no século XVIII como Caminho da Azenha,
nasceu como uma via de ligação entre a antiga vila e a ponte da Azenha que conduzia a
Viamão, através da Estrada do Mato Grosso (atual avenida Bento Gonçalves). A avenida João
Pessoa tem início na avenida Salgado Filho, atravessa o bairro Cidade Baixa e termina na
avenida Bento Gonçalves, no bairro Azenha, compreendendo, quarto bairros: Centro
Histórico, Farroupilha, Cidade Baixa e Azenha.
Os modos de morar em apartamento foram conquistados passo a passo por meio de
alterações às moradias tradicionais. Processos como socialização e modernização foram
fundamentais para o desenvolvimento da cidade de Porto Alegre. A paisagem da arquitetura
moderna configurada por alguns edifícios de apartamentos projetados para a radial João
Pessoa, em Porto Alegre. Fazem parte deste conjunto as seguintes edificações: Edifício
Redenção e Edifício Vitória Régia; Edifício Matos Vanique, Edifício Jequitibá e Edifício Jovay.
Paisagem urbana moderna, composta por conjuntos de edifícios ou por edifícios torres
isolados na radial João Pessoa.
REFERÊNCIAS
AXT, Gunter; SCLIAR, Moacir. Parque Farroupilha “Redenção”. Porto Alegre:
Editora Paiol, 2011.
FRANCO, Sérgio da Costa. Porto Alegre: Guia Histórico. 3a ed. Porto Alegre: Editora
da Universidade/ UFRGS, 1998.
GEA. Lúcia Segala. O espaço da casa: arquitetura residencial da elite
portoalegrense (1893 – 1929). Dissertação de Mestrado em História do Brasil. Porto
Alegre: IFCH, PUC/RS, 1995.
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO
Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
MACEDO, Francisco Riopardense de. Porto Alegre: história e vida da cidade. Porto
Alegre: Editora da Universidade/ UFRGS, 1973.
MACHADO, Nara Helena Naumann. Modernidade, arquitetura e urbanismo: O
centro de Porto Alegre (1928 - 1945). Porto Alegre: PUC-RS, 1998. Tese de
Doutorado em História - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas/Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 1998.
MENEGOTTO, Renato. Cidade Baixa: pela manutenção dos cenários de um
bairro tradicional em Porto Alegre. Dissertação de Mestrado em História do
Brasil. Porto Alegre, IFCH, PUC/RS, 2001.
MATTAR, Leila Nesralla. Porto Alegre: Voluntários da Pátria e a experiência da
rua plurifuncional (1900-1930). Dissertação de Mestrado em História do Brasil.
Porto Alegre, IFCH, PUC/RS, 2001.
SOUZA, Célia Ferraz de; MULLER, Dóris Maria. Porto Alegre e sua evolução
urbana. Porto Alegre: Editora da Universidade/ UFRGS, 1997.
XAVIER, Alberto; MIZOGUCHI, Ivan. Arquitetura Moderna em Porto Alegre. São
Paulo: Editora Pini.
WEIMER, Guinter. Levantamento de projetos arquitetônicos – Porto Alegre –
1892 a 1957. Pesquisa realizada nos microfilmes do Arquivo Municipal da Prefeitura
de Porto Alegre. Porto Alegre: Procempra, 1998.
Agradecimentos
Agradecemos o apoio à pesquisa em desenvolvimento que originou o presente artigo: ao CNPq –
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico por meio da bolsa PIBIC/CNPq e à
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul que, por meio da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo apoia o Grupo de Pesquisa Arquitetura e Cultura por meio de sua infraestrutura.
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO
Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
Download