1 I Conexão Internacional de Saúde e (Ciber)Cultura: uma experiência na fronteira da Academia com a Sociedade em Rede 2 Nilton Bahlis dos Santos1 , Alessandra dos Santos , Antonio Cordeiro3 , Maria João Spilker4 , Mercia Maria Santos5, Nathielly de Souza Campos6, Rodrigo Vieira Ribeiro7 RESUMO Esse trabalho apresenta uma reflexão sobre a experiência da organização de um Congresso na Internet pelo Núcleo de Experimentação de Tecnologias Interativas (Next) do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (ICICT/Fiocruz). O evento se colocou como objetivo mapear, registrar e discutir atividades culturais, de alguma forma registradas, divulgadas ou armazenadas na Internet, que pudessem contribuir com a promoção da saúde e o bem estar social, e avançar nas pesquisas do Next sobre novas formas de produção de conhecimento e Património Intelectual. Pretendendo se diferenciar dos eventos acadêmicos habituais, a "I Conexão Internacional de Saúde e (Ciber) Cultura" abriu espaço para expressão e debate de diferentes saberes e se propôs a demonstrar e dar voz ao espírito contestador, dinâmico, criativo e reflexivo, presente na cultura da Internet. Este congresso respondeu às necessidades que se colocam atualmente, sejam elas referentes à popularização da Ciência ou ao germinar de novas práticas culturais na área de Saúde. A aprendizagem com esse evento permitiu que fossem compreendidas 1 Pesquisador e Coordenador do Next e Professor do PPGICS ­ [email protected] Pesquisadora do Next e Doutoranda do PPGICS/ICICT/FIOCRUZ ­ [email protected] 3 Pesquisador do Next e Servidor Público Federal da Agência Nacional de Saúde Suplementar ­ ANS ­ [email protected] 4 Pesquisadora do Next e membro do Laboratório de Educação a Distância e Elearning da Universidade Aberta, Portugal ­ [email protected] 5 Pesquisadora do Next e membro do Laboratório de Educação Profissional em Vigilância em Saúde. EPSJV/Fiocruz. Rio de Janeiro, Brasil ­ [email protected] 6 Pesquisadora do Next e Docente no Centro Universitário Augusto Motta, Rio de Janeiro, Brasil ­ [email protected] 7 Mestre em Educação e Pesquisador do Núcleo de Experimentação de Tecnologia Interativa (Next), Icict, Fiocruz, Rio de Janeiro, RJ, Brasil ­ [email protected] 2 2 algumas das diversas oportunidades do uso integrado das redes sociais associados à academia e à população em geral, sendo que houve uma forte percepção de que a validação social pode ajudar a ampliar os campos de ação da pesquisa científica e seus resultados. Palavras chaves: Educação não formal; Cibercultura; Comunidade Virtual, Saúde Abstract This paper presents a reflection on the experience of organizing a congress on the Internet by the Center for Experimentation on Interactive Technologies (Next), Institute of Scientific and Technological Communication and Information in Health, from the Oswaldo Cruz Foundation (ICICT / Fiocruz), Brazil. The event intended to map, trace and discuss cultural ativities which are registred, published or or stored on the Interne, and which could contribute to the promotion of health and social welfare; in addition, to advance on Next's researchs about new forms of knowledge production and Intellectual Heritage. With the intention of beeing differente from the usual academic events, the "I International Connection about Health and (Ciber) Culture" opened space for self expression of the participants and for debate on different knowledge fields and proposed itself to demonstrate and give voice to a contesting, dynamic, creative and reflective spirit, as present in the Internet culture. This Congress pretende to meet the today, whether relating to the popularization of science or the sprout of new cultural practices in the area of Health. The results from this event allowed to understand some of the opportunities resulting from the integrated use of social networks associated to the academia and the general population. There was a strong perception that social validation can be helpful by extending the action fields of scientific research and its results. Introdução Esse trabalho apresenta uma reflexão sobre a experiência do Congresso Virtual “I 3 Conexão Internacional de Saúde e (Ciber) Cultura: uma experiência na fronteira da Academia com a Sociedade em Rede” (I Conexão), realizado na Internet e organizado pelo Núcleo de Experimentação de Tecnologias Interativas (Next) do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (ICICT/Fiocruz), Brasil. A programação deste Congresso Virtual surgiu como proposta por ocasião da organização da Semana Nacional Ciência, Cultura e Saúde, a ser realizada no período de 11 de novembro a 5 de dezembro de 2012 pela “Rede Saúde e Cultura”, projeto do Ministério da Cultura (Minc), Brasil, em parceria com a Fiocruz. A Rede Saúde e Cultura tem como um dos seus principais objetivos promover a qualidade de vida através da ampliação de ações integradas entre saúde e cultura. O evento teve como proposta principal promover o diálogo entre diferentes atores das áreas da saúde, cultura, educação, meio ambiente, desenvolvimento científico, tecnológico e social, bem como entre ativistas dos movimentos sociais ligados à saúde e cultura. A ideia inicial era criar um site para divulgação de um evento físico, no qual fosse possível administrar as inscrições no Congresso. Uma vez que se visionaram objetivos mais arrojados, pretendeu­se então organizar o evento de forma a permitir uma experiência via Internet. Para isso eram necessários ampliar o espectro de atividades do evento físico e o alargamento do desenvolvimento da “Rede (Social) Saúde e Cultura”, projeto desenvolvido pelo Next, indo ao encontro das demandas da própria rede social. Dessa iniciativa resultou a “I Conexão Internacional de Saúde e (Ciber) Cultura”. Enquanto a “Semana Nacional Ciência, Cultura e Saúde”, foi organizada em modo presencial, no período de 3 a 5 dezembro de 2012, as atividades na Internet ocorreram no período de 8 de novembro a 21 de dezembro de 2012. No âmbito das atividades desenvolvidas online, foi organizado uma mesa redonda, ou e­Mesa, que foi filmada através de uma sessão do Google Hangout, e transmitida via Youtube. Participaram desta e­Mesa, de título “práticas e ações culturais nas redes”, pesquisadores da Espanha, Portugal e do Brasil. 4 Descrição do Evento Durante a “Semana Nacional Ciência, Cultura e Saúde” foi estabelecida uma abordagem de captação de trabalhos diferente da que normalmente é feita nos eventos de foro académico­científico tradicionais. Assim, a Semana foi organizada nas modalidades presenciais e online, tendo a “I Conexão Internacional de Saúde e (Ciber) Cultura" um espaço privilegiado na Internet, com uma relativa autonomia das atividades presenciais. O caráter internacional foi conferido pela participação de pesquisadores da Espanha, Portugal e Brasil em palestras e, em particular, por uma Mesa Redonda Internacional via Internet, denominada de e­Mesa Redonda, de título “Práticas e Ações Culturais nas Redes: Um bom caminho informal para a Educação ou o Fim dos Tempos?”. A e­Mesa Redonda (link para a gravação: http://www.youtube.com/watch?v=Lyjai3wx2Ks&feature=share), de duração de 1:17’:33”, teve a visita de um total de 258 internautas, oriundos de vários países, sendo detectados internautas de línguas portuguesa, espanhola, francesa e inglesa. Como anteriormente referido, a e­Mesa teve lugar numa sessão de Google Hangout, e foi transmitida via Youtube e Hangout. Contou com a participação de especialistas nas áreas de tecnologias digitais, educação e redes sociais na internet. Que problema a I Conexão procurou responder Uma das linhas do Grupo de Pesquisa "Tecnologias, Culturas, Práticas Interativas e Inovação em Saúde" do Next está relacionada com as novas formas de produção de conhecimento, de inovações e de patrimônio intelectual. O grupo aponta que a maneira de pensar estas questões, atualmente, está vinculada a processos históricos concretos que estão sofrendo modificações através das tecnologias e práticas interativas, e das oportunidades criadas pela Internet. As formas de produção acadêmicas e a própria forma de fazer ciência tem uma profunda relação com o que chamamos de Ordem do Livro (Santos, 2006), marcada pela 5 carência e baixa capacidade de processamento da Informação, o que conduzia e conduz à construção de sistemas de informação fechados e especializados. Uma das expressões desta situação foi a criação de uma ciência produzida por especialistas, o que viabiliza uma concentração de recursos e se afirma em função da sua competência para resolver problemas determinados, aqueles escolhidos como mais importantes em função das prioridades estabelecidas pelos setores hegemônicos na sociedade, isto é, aqueles problemas relacionados ao desenvolvimento econômico e a manutenção e funcionamento da ordem política estabelecida. A consolidação deste tipo de sistema marginalizou e desconsiderou como conhecimento tudo aquilo que não se volta para resolver as questões centrais que se coloca esta ciência, desconsiderando outras linguagens, metodologias e processos de conhecimento não alinhados com os seus objetivos e lógicas. Este processo não se deu sem resistência e, em praticamente todas as áreas de conhecimento, surgiram metodologias que procuravam recuperar, manter e reconhecer outras formas de conhecimento, com seus problemas e lógicas, em particular daqueles gerados pelo “fazer” e pela experiência, aquilo que tem sido chamado de sabedoria popular ou sabedoria da prática. Não apenas outras formas de conhecimento são desprezadas, e inclusive estigmatizadas como o curanderismo, o misticismo e a ignorância. Ocorre que quando a Internet criou sistemas abertos, acessíveis para todos e com grande capacidade de processamento, a ciência se viu, por um lado, submersa por outros processos de conhecimento e práticas e, por outro, começou a ficar claro que esta ciência é datada, que sua eficiência só existe de maneira localizada em determinados âmbitos e por tempo determinado e que, além disso, as suas metodologias e lógicas podem não ser mais adequadas ao confronto de problemas trazidos por novas dinâmicas sociais e culturais. Este tipo de crítica já habitava diversas áreas como é o caso das ciências e estudos da informação, comunicação e educação, questionando a lógica de transmissão (broadcasting) ou a educação bancária. Na área de saúde, no questionamento da lógica biomédica, e na busca de valorização e reconhecimento da sabedoria popular trazida 6 pela Reforma Sanitária. Mas o prevalecimento da Ordem do Livro, através de suas metodologias, inviabilizava que estas preocupações ganhassem força. Afinal, era preciso buscar uma maneira de organizar, controlar e administrar o volume de informação em um mundo cheio de documentos (Santos, 2006). Com a Internet e a consequente explosão da quantidade de Informações, provocada pela interligação, em escala internacional, de um sem número de redes, se criaram novas condições: 1) De acesso de todo tipo de informações, a todas as formas de conhecimento e estudos, relativisando a importância da estrutura de produção de conhecimentos oficial e ampliando as possibilidades de crítica a seus resultados; 2) Criando novas formas de produção de conhecimento, através de processos coletivos e de colaboração online, exigindo outras metodologias e práticas; 3) Ao evidenciar o caracter coletivo da produção de conhecimento, colocando em cheque a organização da cultura vigente e de controle do patrimônio intelectual; e 4) Oferecendo uma alternativa a avaliação dos pares (de sábios) com a possibilidade de múltiplos processos de validação social. O Next tem desenvolvido uma série de pesquisas e atividades procurando enfrentar estas questões. O envolvimento com o processo de experimentações tem conduzido a observação de um problema concreto sobre como permitir que se comuniquem as lógicas e práticas acadêmicas e com as da Ciência, como esta está constituída e com a sua linguagem específica, com as lógicas e práticas da população e sua sabedoria, a sabedoria da experiência e da prática cotidiana. Diversos congressos em diferentes áreas reconhecem a necessidade de trazer para dentro deles outros conhecimentos, em particular os da experiência, que permitam a participação de não­acadêmicos, de técnicos e ativistas de diversas áreas. Mas como as regras de eventos académico­científicos obedecem a regras próprias e a uma dinâmica e lógica tradicional, a oportunidade de participação se restringe na prática. Foi pensando nisto que a I.a Conexão se propôs a organizar um evento que: 7 1) permitisse qualquer forma de produção de conhecimento, em qualquer formato ou linguagem; 2) fomentasse a experimentação de formas de validação e participação social as mais diversas. Alicerces teóricos Congressos e conferências realizados online são hoje uma realidade. Autores como L. Anderson & T. Anderson (2010) referem que conferências online constituem­se, em comparação com eventos tradicionais, como uma alternativa eficaz a nível económico e amiga do ambiente. Na perspectiva de autores como Kelly, Tonkin e Shabajee (2005) as tecnologias de informação e comunicação e sobretudo as ferramentas e serviços da Web 2.0 possibilitam que um vasto público participe de um evento, presencial ou virtual, e que este seja amplificado em diferentes vertentes (Kelly, 2011). Ho, Kimura e Boulay (2011), no âmbito de um estudo levado a cabo durante 5 anos, defendem que, quando realizadas de forma pensada, conferências virtuais podem ser tão eficazes quanto uma conferência face­a­face e confirmam que a qualidade da interação pode até ser melhor do que a encontrada em eventos presenciais. Por outras palavras, podemos hoje assistir a eventos académico­científicos (ou de outro foro) via Internet, ultrapassando assim distâncias físicas. Tornou­se também usual encontrar na Web palestras transmitidas e gravadas, que em muitos casos, ficam depois disponíveis, permitindo assim ultrapassar as distâncias temporais de um evento. Diversas iniciativas procuram explorar a possibilidade, ainda que recente, de organizar video­conferências com uma dezena de pessoas, tendo como único recurso necessário, um browser e uma videocam. No entanto, na maioria das vezes, estas iniciativas são organizadas no mesmo formato das atividades presenciais e dos congressos em geral, assumindo a dinâmica acadêmica, com moderadores, submissões avaliadas por pares, a página do Congresso se limitando à gestão, organização das submissões e avaliações, e sua publicação, além de buscar orientar e preparar as 8 atividades físicas, sem possibilidade de interação. Em regra, nesses casos, há uma comissão científica que analisa previamente os trabalhos que serão submetidos ao Congresso; possuem um regulamento fechado e pré­definido; e muitas vezes um número limitado de submissões, em muitos casos sendo permitida apenas uma apresentação por pessoa. Segundo afirmam Ravn & Elsborg (2011), este é o modelo aplicado a eventos como sendo de “transferência de conhecimentos”, como conhecemos de uma sala de aula tradicional (Ravn e Elsborg, 2011). A inovação que o grupo de pesquisa do Next visionou para a “I Conexão de Cibercultura” consistiu em propor um outro formato, não formal, procurando criar a possibilidade de participação de um público não acadêmico, na linha do conceito de Web Participatória, como defendida por autores como Costa (2013). Assim, é de sublinhar que foi atribuída uma maior importância às discussões geradas em rede, de forma colaborativa, do que ao formato acadêmico e à condição de ineditismo das apresentações. Foi também dado valor às atividades de pesquisa e experiências apresentadas independentemente de formatos pré­definidos, oferecendo espaço e criando condições para um número ilimitado de participantes e participação virtuais. Dessa forma, o objetivo principal da “I Conexão” foi atingir e mobilizar uma base de participantes heterogênea, composta tanto por acadêmicos e pesquisadores, quanto por estudantes interessados na temática e por participantes externos à academia e suas práticas, na expectativa de romper as barreiras que separam a academia e a população em geral. A proposta foi criar um evento estruturado e realizado na web, construído a partir da colaboração e intervenção dos participantes. A Internet possibilita a criação de ambientes onde podem conviver agrupamentos heterogêneos e diferentes culturas, com origem em práticas diferenciadas e de áreas de conhecimento distintas, que englobam diferentes saberes e especialidades, e que necessitam ser vistos através de um outro olhar para não serem excluídos pela lógica da validação por pares da academia, pressupondo uma avaliação tendo por base outros critérios, como é o caso de processos de validação social. 9 A validação social é o grande diferencial da nova Web no tempos atuais. Por validação social entendemos o processo de validação massivo, feito diretamente pelos participantes de um determinado serviço, processado automaticamente a partir de critérios definidos. Todos os grandes processos e produtos da Web 2.0 partem da premissa de que o seu conteúdo é passível de avaliação pelos usuários, confiando­se na sua participação massiva para definição da relevância do que é apresentado (Santos e Brito, 2008,p.11). Santos e Brito (2008) afirmam ainda que a rede permite que se trabalhe e distribua uma comunicação em tempos e espaços não formais e abertos, seguindo um modelo de atividade de pesquisa e educação diferente do que tradicionalmente previsto. Um ambiente de aprendizagem online e em rede permite que cada indivíduo construa e compartilhe os seus conhecimentos através da interação com os outros participantes. O processo de comunicação em rede acontece através de um processo descentralizado, de troca de experiências entre diferentes agentes e na incorporação de novas tecnologias de comunicação a partir da construção de práticas colaborativas e da criação de mecanismos de produção de inteligência coletiva, como referidos por Lévy (1994). Por fim, o evento também se baseou no conceito de educação ubiqua (Santaella, 2010) que pressupõe que a educação e a produção de conhecimento, não deve mais se restringir a uma sala de aula, entre paredes, nem sequer ao serviço de um servidor ou ação dentro de uma plataforma determinada, e sim explorar todas as possibilidades e espaços possíveis para seu desenvolvimento. Objetivos do evento A "I Conexão Internacional de Saúde e (Ciber) Cultura", teve como objetivo mapear, registrar e discutir atividades culturais, de alguma forma registradas, divulgadas ou armazenadas na Internet, que pudessem contribuir com a Promoção da Saúde e Bem Estar Social no Brasil e no Mundo. Ao abrir espaço para expressão e debate de diferentes saberes e ao se propor a 10 dar voz ao espírito contestador, dinâmico, criativo e reflexivo presente na cultura da Internet, fortaleceram­se os diversos tipos de produções possibilitados e disponibilizados pela e na WEB 2.0. Mais do que um evento acadêmico, a "I Conexão Internacional de Saúde e (Ciber) Cultura" foi um evento de experimentação, de mudanças de paradigmas, um evento para o internauta ligado na Cultura e na Saúde, e para pessoas que atuam nessas áreas. A intenção foi fazer uma discussão pública dos trabalhos. O diferencial deste evento foi, consequentemente, a possibilidade de estabelecer interações diretas entre os participantes, o que, na perspectiva dos iniciadores, contribuiu para a necessária criação de novos parâmetros de debate científico e de interação entre a população e a academia, colocando, em um mesmo ambiente de discussão e exposição, artistas, profissionais de diversas áreas de conhecimento, técnicos, professores e pesquisadores das diversas áreas relacionadas à Cultura e à Saúde. Sendo assim, os principais objetivos desse evento consistiram em promover e construir pontes entre diferentes linguagens, discutir trabalhos e atividades, interagir com os participantes, contribuir para uma criação de novos parâmetros para o debate científico e gerar interação entre a sociedade e a academia. Público Alvo e Submissões do evento O evento foi destinado para quem cria, pesquisa, divulga, ensina, aprende, se expressa, está conectado, e se interessa na criação de atividades culturais na Internet relacionadas à Saúde e ao bem estar social. Foram viabilizadas participações e submissões de produções de ciberativistas, artistas, designers, pesquisadores, curadores, curiosos, profissionais de saúde, gestores, e de todos aqueles que colaboram ou pretendem colaborar com novas práticas culturais na Saúde. Foram aceitas produções próprias, artigos, publicações eletrônicas, áudios, vídeos, animações, fotografias ou desenhos digitais, posts de blogs, sites, resumindo, o que pudesse ser expressão de "Práticas e ações culturais nas Redes". Foram também aceitas indicações de produções de terceiros, quando citadas corretamente a fonte e a 11 autoria, a título de “curadoria de material cibercultural”. Os trabalhos submetidos e a gravação da mesa redonda foram organizados de modo a viabilizar a sua discussão através de comentários no site do congresso. Salientamos que textos, vídeos, imagens e gravação da eMesa Redonda podem ainda ser acessados através da página do Next (link do evento no Next: http://www.next.icict.fiocruz.br/sec/1ciscc/). Como anteriormente referido, o evento pretendeu ser uma primeira experiência de organização e realização de um congresso online e em rede, radicalmente distinto de eventos académico­científicos tradicionais. Todo o debate surgido das interações dos integrantes do grupo do evento ainda pode ser acessado no Facebook (a página no Facebook pode ser acessada em https://www.facebook.com/events/392679777468324). Alicerces resultantes da Experimentação A montagem do Colóquio teve como embasamento a experiência prática de educação a distância e uso de redes sociais interativas no âmbito das atividades desenvolvidas pelo Núcleo de Experimentação de Tecnologias Interativas. Primeiro organizando cursos de educação a distância formais, utilizando AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem) como o Moodle, e posteriormente passando para um tipo de educação informal, como foi o caso da realização de um curso de atualização em ferramentas de comunicação, informação e colaboração na Internet, usando a web 2.0 e a chamada “nuvem”. Este foi o caso do curso de nome “Andando nas Nuvens”8 que aconteceu em 2011 e teve como intenção criar um ambiente virtual ubiquo que se realizasse diretamente apoiado nas redes, fora dos muros e das plataformas, utilizando diferentes instrumentos de comunicação e informação aplicados à educação e que pudessem vir a ser explorados pelos pesquisadores da rede Internet e Saúde. Tal experiência serviu para criar condições e desenvolver competências para outras iniciativas relacionadas ao uso da Internet e outras tecnologias, como foi o caso da “I Conexão Internacional Saúde e (Ciber) Cultura”. 8 Saiba mais aqui: http://wiki.next.icict.fiocruz.br/index.php/Curso_Andando_nas_Nuvens_­_EAD 12 A I Conexão em números O evento contou com a participação de 4049 visitantes (correspondendo a endereços de IP, Internet Protocol, diferentes) na Internet. Entre os visitantes, 1378 pessoas acessaram o site mais de uma vez; o tempo médio de duração de cada visita foi de 10 a 20 minutos; e, em média, foram acessadas 5 páginas. O maior movimento médio aconteceu entre os dias 12/11 (data do início da divulgação das inscrições) e 11/12/2012, tendo o pico de visitas sido registado no dia 26/11 com 196 acessos. Apesar da divulgação da “I Conexão” ter começado apenas 30 dias antes do evento, contabilizaram­se 464 inscritos, foram apresentados 54 trabalhos de 76 autores, gerando 64 comentários. Todos os inscritos, optaram por participar de outras atividades da Rede Saúde e Cultura. A experiência ofereceu um material empírico que será ainda objeto de um estudo mais aprofundado, sendo previsto um estudo comparativo e/ou evolutivo com a inclusão de novas edições do evento. O estudo de tal projeto está sendo processado e os resultados das experiências do Next está servindo a novas reflexões. Limitações da experiência A dificuldade da experiência se deu pelo curto prazo de organização do evento. Apesar de já existir uma reflexão sobre a temática, o Next ainda não havia se debruçado de forma prática sobre a realização de um congresso deste tipo. No entanto, ao avaliar a situação, julgou que deveria aproveitar a oportunidade de ensaio e experimentar o que seria possível naquelas condições. Verificou também a importância em se aplicar um questionário, antes e depois do evento, aos participantes ativos ou observadores no sentido de apurar as expectativas referentes ao evento por parte dos participantes, bem como qual o grau de importância atribuído por eles à modalidade do evento. 13 Alicerces para futuras investigações O estudo desta experiência deverá continuar e a intenção deste artigo é o primeiro passo para ampliar discussões, outras pesquisas, novas experiências e produções teóricas que já estão sendo desenvolvidas. Também está em desenvolvimento pelo Next, um projeto de pesquisa e experimentação de uma revista para­acadêmica, que abra espaço para múltiplas formas de produção de conhecimento, com formatos, abordagens e validações diversas, mas que também contemple e observe critérios aceitos pela academia. Reflexões Finais A “I Conexão Internacional de Saúde e (Ciber) Cultura” foi a primeira experiência de organização de um Congresso Virtual do Next, realizado online e em rede, de forma diferente das atividades acadêmicas tradicionais. Gerou discussões e debates com a finalidade de elaborar metodologias para realização de Congressos em Rede. Este congresso respondeu às necessidades que se colocam, atualmente, para a popularização da Ciência e para gerar novas práticas nas atividades culturais e na área de Saúde. O evento rompeu barreiras que separam a academia e a população em geral, barreiras que, a nosso ver, a Internet tende a minar através da criação de ambientes e agrupamentos heterogêneos, nos quais podem conviver diferentes culturas, que não podem ser regidos pela lógica da validação por pares como as que são realizadas pela academia, e que exigem o estabelecimento de processos de validação social. Mais centrado na ação e na experiência prática, este congresso permitiu e exigiu as mais variadas formas de expressão em um ambiente de arquitetura distribuída, no qual a importância das atividades não foi dada pela autoridade acadêmica ou profissional dos “Expositores”, mas pelo processo de debate e sinergia entre todos os participantes. A aprendizagem com esse evento conduziu a que fossem compreendidas algumas das diversas possibilidades do uso integrado das redes sociais associados à academia que facultam a divulgação e a popularização da Ciência e a percepção de que a validação 14 social de um trabalho acadêmico pode ajudar a ampliar os campos de ação da pesquisa científica e seus resultados. Referências Anderson, L., & Anderson, T. (2010). Online professional development conferences: An effective, economical and eco­friendly option. Canadian Journal of Learning and Technology, 35(2). Retrieved from.Disponível em: http://www.cjlt.ca/index.php/cjlt/article/viewArticle/521/254 Costa, C. I. M. da. (2013). The Participatory Web in the Context of Academic Research: Landscapes of Change and Conflicts. University of Salford, Salford, UK. Ho, C., Kimura, B., & Boulay, R. (2011). Retrospective Analysis of a Virtual Worldwide Conference for eLearning. International Journal for Educational Media and Technology, 5(1), 107–117. 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