ABEPPS Associação Brasileira para o Estudo da Psicologia Psicanalítica do Self OS MÚLTIPLOS SIGNIFICADOS DE INTERSUBJETIVIDADE E SUAS IMPLICAÇÕES PARA A AUTOEXPRESSÃO E A AUTORREVELAÇÃO DO ANALISTA Judith Guss Teicholz Tradução: Pedro Henrique Bernardes Rondon1 É pouco provável que desde que Freud e Ferenczi se afastaram, por causa de seu desacordo a propósito das experiências de Ferenczi com a análise mútua, as questões em torno da intersubjetividade psicanalítica tenham sido tão apaixonadamente discutidas como o estão sendo hoje em dia. A controvérsia relacionada à questão de saber se a psicanálise é mais bem compreendida e praticada como um processo de uma-pessoa ou um processo de duas-pessoas tem sido mantida viva de diversas maneiras, através dos trabalhos escritos de Reich, Sullivan, Balint, Searles, Racker, Fairbairn, Guntrip, Winnicott e outros. Entretanto, por mais interessantes e importantes que essas contribuições mais antigas tenham sido, o debate contemporâneo é tão ricamente variado em seus elementos que eu terei que me abster do prazer de rastrear seus antecedentes históricos, para simplesmente esboçar aquilo que os autores atuais querem dizer com intersubjetividade, e examinar de que modo eles vêm isso como moldando seja o desenvolvimento ou a situação analítica. As atuais tensões centram-se nas recomendações clínicas divergentes atribuídas às múltiplas teorias de intersubjetividade, com os desacordos se concentrando à volta da qualidade e da medida da autoexpressão e da autorrevelação do analista. Por exemplo, conquanto a psicologia do self e a teoria relacional reconheçam a subjetividade do analista, e nenhuma das teorias ignore as implicações de duas-pessoas da situação analítica, cada uma dessas duas escolas do pensamento parece colocar sua ênfase na experiência de um determinado participante no relacionamento: a psicologia do self, na subjetividade do paciente; a teoria relacional, na do analista. Na psicologia do self, a empatia do analista e sua autocontenção – e não a livre expressão da sua subjetividade – é que são compreendidas como 1 Publicado originalmente em GOLDBERG, A. (Ed.) The narcissistic patient revisited. Progress in Self Psychology, v. 17, p. 9-42, 2001. Tradução para uso exclusivo dos Membros da ABEPPS. 2 facilitando a máxima elaboração da subjetividade do paciente, e como possibilitando a este o uso do funcionamento psíquico do analista como experiência selfobjetal necessária; em contraste a teoria relacional estimula a autoexpressão e a autorrevelação mais espontâneas do analista, considerando a exposição a essas manifestações da subjetividade característica do analista como crucial para favorecer o crescimento psíquico do paciente (BENJAMIN, 1988, 1990; RENIK, 1993, 1995; MITCHELL, 1996, 1997). Até aqui, as discussões de um paradigma a outro tenderam a ficar polarizadas. Cada teoria é associada a uma única postura analítica, e pouco esforço tem sido feito no sentido de considerar quando, ou com quais pacientes, as diferentes abordagens terapêuticas poderiam ser proveitosas. Enquanto os proponentes dos diversos pontos de vista concordam que o relacionamento analítico é caracterizado por algum grau de “intersubjetividade”, este termo é empregado de maneiras bastante diferentes de uma teoria para a seguinte. Por essa razão talvez faça sentido rever os múltiplos significados de intersubjetividade como primeiro passo na busca da clarificação de algumas das questões, tanto teóricas quanto clínicas, que ainda não estão resolvidas. Embora uma revisão como essa possa exigir uma tediosa reiteração de conceitos familiares, sigo a tarefa com o objetivo de ligar cada um dos diferentes significados de intersubjetividade a recomendações clínicas específicas, algumas das quais podem realmente correr em sentido contrário às recomendações feitas pelos próprios teóricos da intersubjetividade. Posso também tentar alcançar algum grau de síntese. Definições de termos Os termos subjetividade e intersubjetividade serão apresentados através de todo este artigo assim como são empregados diversamente pelos seguintes autores: Stolorow, Atwood, Brandchaft, e Orange (STOLOROW & ATWOOD, 1979, 1992, 1997; ATWOOD & STOLOROW, 1984; STOLOROW, BRANDCHAFT & ATWOOD, 1987; STOLOROW, 1995; ORANGE & STOLOROW, 1998); Stern (1985; STERN et al., 1998). Ogden (1986. 1992a, 1992b); Beebe e Lachmann (1988a, 1988b; LACHMANN & BEEBE, 1996a, 1996b); e Benjamin (1988, 1990). Em contraste com essa extensa atribuição de significado aos termos subjetividade e intersubjetividade, os termos autoexpressão e autorrevelação tenderam a ser empregados sem definição na literatura psicanalítica. Neste artigo optei por empregá-los como se segue: o termo 3 autoexpressão vai se referir à comunicação afetiva espontânea, aqui-e-agora do analista na situação clínica, seja verbal ou não-verbal; vai incluir qualquer manifestação direta – através de palavras, sons vocais, expressão facial, modificações de postura, ou gestos – de cordialidade, interesse, humor, alegria, surpresa, tristeza, repulsa, raiva, e outros estados afetivos complexos. Uma vez que a sintonia e a ressonância envolvem o afeto do analista tanto quanto o do paciente, essas modalidades de interação serão vistas como formas da autoexpressão do analista, por mais que possam ser temperadas pelo desejo do analista de “combinar” com o paciente (TEICHOLZ, 2000). O termo “autorrevelação” vai se referir à atitude do analista de transmitir informação ao paciente acerca de qualquer aspecto da sua experiência de vida, dentro ou fora do relacionamento de tratamento. Uma vez que pode também incluir um componente afetivo maior ou menor, a autorrevelação pode igualmente ser variadamente autoexpressiva. Tanto a autoexpressão quanto a autorrevelação estão sujeitas à comunicação seja intencional ou desapercebida da parte do analista. Comentário de Kohut acerca da subjetividade do analista Na psicologia do self a experiência subjetiva do paciente é o foco primário da atenção analítica. Kohut, entretanto, com frequência também fazia referência à subjetividade do analista, prenunciando a virada intersubjetiva que a psicanálise viria a fazer no último quartel do século XX (Id, 1999). Neste capítulo as ideias de Kohut serão revistas visando a extrair daí e realçar seu potencial intersubjetivo, enquanto os princípios da prática da psicologia do self vão ser examinados no sentido de sugerir de que maneira se sobrepõem às – ou diferem das – recomendações terapêuticas atribuídas a outras teorias mais explicitamente “intersubjetivas”. Quando definiu empatia pela primeira vez como “introspecção vicária”, Kohut (1959) moveu o analista de sua posição clássica como observador objetivo para uma posição como participante no relacionamento afetivo de tratamento (TEICHOLZ, 2000, op. cit). Na psicologia do self o analista faz referência interna a sua experiência afetiva para o propósito de compreender melhor aquilo que o paciente poderia estar sentindo. Além de sondar seu afeto imediato, o analista também pode tomar em consideração as complexidades da situação atual do paciente fora da análise; a história do desenvolvimento do paciente, especialmente a experiência selfobjetal; e a história do próprio relacionamento analítico. Mas a sondagem empática – sendo um processo que 4 envolve o afeto de duas pessoas – informa e molda todos os outros modos pelos quais o analista poderia abordar o paciente. Além de ver a subjetividade do analista como fonte central de sua empatia e de sua compreensão, Kohut (1984) disse-nos que a subjetividade do analista determina sua escolha de teoria bem como a maneira como ele ouve, prioriza, e reage ao material do paciente. Ele chamou nossa atenção para o impacto que o analista exerce sobre o processo analítico através das sequências de empatia, ruptura e reparação, capazes de construir estrutura (Id., 1971, 1977), processos que via como estando muito intimamente ligados à experiência subjetiva e à participação pessoal do analista. Kohut advertiu quanto às previsíveis respostas contratransferenciais às transferências narcísicas do paciente – respostas que, se não forem contidas e empregadas adequadamente pelo analista, poderiam ter consequências destrutivas para o paciente (Id., 1971, op. cit). Ele escreveu que a “presença humana” do analista exercia influência singular, porém muitas vezes inidentificável, sobre a situação analítica (Id., 1984, op. cit, p. 36). E sugeriu que o analista contribui para – ou mesmo cria – aquilo que pensa estar apenas observando no paciente (Id., ibid., p. 39-41). Estes e outros comentários de Kohut o posicionaram claramente, dentro da psicologia do self, como precursor do ponto de vista intersubjetivo contemporâneo. A intersubjetividade psicanalítica e seus significados Juntamente com diversos colaboradores (Atwood, Brandchaft, Lachmann, Orange e Trop), Stolorow levou adiante as inovações de Kohut através da investigação contínua da subjetividade do analista e sua ubíqua influência no processo e no relacionamento psicanalítico. No emprego que fizeram do termo intersubjetivo, Stolorow e seus colegas se referem à vasta esfera de influência mútua e contextualização na vida psicológica. Os pesquisadores de bebês também têm contribuído de maneira substancial para a visão que temos acerca do relacionamento analítico como intersubjetivo, no sentido de influência e regulação mútuas. Beebe e Lachmann (1988a, 1988b), por exemplo, relataram acerca de estudos de mães e bebês em que gestos, expressões faciais, estado de ânimo, e a extensão do intervalo entre as comunicações pode realmente ser prevista, da iniciativa de um dos participantes até a seguinte, na díade cuidadora. E Stern et al. identificaram “o relacionamento implícito compartilhado” (1998, 5 op. cit, p. 916) que veem como importante portador de aprendizagem afetiva e de procedimentos, particularmente no assentamento de expectativas a propósito das sequências comportamentais/experienciais na díade cuidadora. Todos esses estudos sugerem influência e regulação mútua entre mãe e filho a partir do nascimento, em que os dois parceiros contribuem igualmente para a qualidade do relacionamento diádico e em que cada qual influencia os comportamentos e o afeto subsequentes do outro. Para Beebe e Lachmann (1988a, op. cit, 1988b, op. cit), bem como para Stolorow et al, intersubjetividade se refere a influência mútua, regulação sistêmica, ou contextualização, todas vistas como qualidades de relacionamento ao nascer que ocorrem naturalmente. Em contraste com esse, o emprego que Stern (1985, op. cit; STERN et al. 1998, op. cit), Ogden (1986, op. cit, 1992a, op. cit, 1992b, op. cit) e Benjamin (1988, op. cit, 1990, op. cit) dão a “intersubjetividade” se refere a uma conquista do desenvolvimento da infância mais tardia, a saber, o primeiro reconhecimento que a criança faz de sua própria mente e da do outro como centros separados de experiência e iniciativa. Stern (1985, op. cit) e Ogden (1992a, op. cit, 1992b, op. cit) também incluem em suas noções de intersubjetividade a criação de significado compartilhado entre dois indivíduos, coincidindo com a primeira conquista da linguagem. São esses três significados de intersubjetividade – (1) a influência e a regulação mútua, (2) o reconhecimento mútuo, e (3) a criação de significado compartilhado – que eu vou destacar para elaboração conceitual e para a consideração de suas implicações clínicas, em comparação com a psicologia do self de Kohut. A Intersubjetividade de Stolorow, Brandchaft e Atwood: uma comparação com a Psicologia do Self tradicional e as Teorias Relacionais O foco primário de Stolorow e seus colegas tem sido o contexto inevitável, porém constitutivo, de todo desenvolvimento e de toda experiência psíquica, um ponto no qual eles estão de acordo com Kohut. De fato, Stolorow e seus colegas (ATWOOD & STOLOROW, 1984, op. cit; STOLOROW et al, 1987, op. cit) iniciam sua jornada com a intenção declarada de promover as ideias de Kohut. Ao fazer isso, entretanto, eles desviaram a terminologia de Kohut de “self” e “selfobjeto” para uma nova linguagem psicanalítica de “subjetividade” e “intersubjetividade”. Essa transformação linguística foi empreendida, em parte, para evitar a reificação teórica de importantes conceitos de Kohut (STOLOROW et al., 1987, op. cit) – uma reificação contra a qual o próprio Kohut 6 (1984, op. cit) tinha lutado. Stolorow et al, porém, também viam o termo subjetividade como conotando maior abertura e fluidez de experiência do que o termo self. Como Kohut, eles desejavam enfatizar os aspectos contextuais da “condição de self” [“selfhood”], porém acreditavam que poderiam fazer isso melhor com o termo filosoficamente derivado intersubjetividade do que com o termo kohutiano selfobjeto. Este talvez fosse mais expressivo e inovador, porém era algo desconcertante para muita gente fora da psicologia do self. Atwood e Stolorow (1984, op. cit) definiram “subjetividade” como sendo os padrões conscientes e inconscientes de organização da experiência do indivíduo. Stolorow et al sugeriram que, porque esses padrões sempre podem ser operados semelhantemente no paciente e no analista, os analistas devem “continuamente esforçar-se para expandir sua apercepção reflexiva de seus próprios princípios organizadores inconscientes [...] a fim de que seu impacto sobre o processo analítico possa ser reconhecido e tornar-se, ele próprio, o foco da investigação psicanalítica” (STOLOROW et al., 1987, op. cit, p. 6). Em sua focalização explícita da subjetividade do analista, Stolorow et al, estavam assentando os fundamentos da psicanálise relacional contemporânea enquanto continuavam a pensar de maneira compatível, em larga medida, com os pontos de vista de Kohut (1971, op. cit, 1977, op. cit, 1984, op. cit): compatível, por exemplo, com as recomendações de Kohut de que os analistas fossem coerentes no monitoramento de suas próprias vulnerabilidades narcísicas, ou de que regularmente encorajassem seus pacientes a articular aspectos do comportamento do analista que tivessem contribuído para as flutuações na experiência do paciente quanto à troca analítica. Para Kohut a preocupação do analista para com sua própria contribuição ao processo analítico tornou-se especialmente importante no rastro das rupturas do vínculo analítico – no seu modo de ver, sempre desencadeadas pelas falhas da empatia do analista. Entretanto, ao passo que na psicologia do self e em seus aperfeiçoamentos contemporâneos a noção de intersubjetividade conduz a uma atitude de observação expectante mais intensificada por parte do analista a propósito do impacto que sua própria subjetividade e a expressão inadvertida desta tenham sobre a experiência e o comportamento do paciente, na teoria relacional o conceito de intersubjetividade leva mais além dessa atenção, chegando a recomendar que o analista tenha uma atitude mais aberta de autoexpressão e autorrevelação (ARON, 1991, 1996; HOFFMAN, 1992, 1994, 1998; MITCHELL, 1993, 1996, op. cit; RENIK, 1993, op. cit, 1995, op. cit, 1998). 7 Essa associação íntima, na teoria relacional, entre as noções de intersubjetividade, por um lado, e a autoexpressão e autorrevelação do analista, por outro, em parte se baseia na argumentação de que uma vez que, seja como for, há duas subjetividades exercendo impacto sobre o relacionamento analítico, é muito melhor abrir as percepções mútuas a propósito das duas subjetividades para serem examinadas analiticamente, do que permitir que as percepções do paciente acerca da experiência do analista passem sem ser analisadas. Os analistas relacionais e os psicólogos do self buscam meios de ajudar o paciente a articular a contribuição que o analista inadvertidamente traz ao processo. Entretanto, enquanto um psicólogo do self poderia perguntar ao paciente o que o analista teria acabado de dizer ou de fazer para desencadear um aparente desvio no afeto do paciente, os analistas relacionais perguntam aos seus pacientes o que eles imaginam que os analistas estão pensando e sentindo, ou que coisas observaram acerca do analista (ARON, 1991, op. cit, 1996, op. cit). Estas são perguntas que constituem um convite de caráter mais geral a que o paciente faça comentários a propósito da subjetividade do analista, e é no contexto do exame dessas respostas que algumas vezes devem ser tomadas decisões difíceis sobre a autorrevelação do analista. Não obstante, a maioria dos teóricos relacionais e construtivistas pensa que o potencial para o ganho terapêutico faz com que valha a pena correr esses riscos (ARON, 1996, op. cit; HOFFMAN, 1998, op. cit; RENIK, 1998, op. cit). Um outro raciocínio, oferecido na literatura relacional para a autoexpressão e a autorrevelação do analista, é que a participação mais aberta e mais pessoal do analista no relacionamento terapêutico pode proporcionar um modelo para a autoexpressão e a autorrevelação similares por parte do paciente (RENIK, 1995, op. cit). Conquanto esta seja uma premissa bem plausível, uma explicação de caráter excessivamente genérico desse tipo desperta a preocupação de que alguns pacientes possam se sentir deixados de lado ou mesmo superestimulados de tal modo que isso interferiria com a articulação de suas próprias subjetividades. Para Kohut, assim como para Stolorow et al., o reconhecimento, por parte do analista, de sua própria subjetividade, não leva automaticamente à articulação mais livre de sua experiência subjetiva consciente no encontro analítico. Kohut desejou deixar o mais amplo espaço para o pleno desdobramento da experiência do paciente e para o “florescimento” de suas transferências selfobjetais. Com essa finalidade, tanto ele como Stolorow et al. (1987, op. cit) enfatizaram a elucidação das conseqüências 8 não-intencionais da subjetividade do analista, de preferência à promoção de sua expressão deliberada. Na visão de ambos, aquilo que tradicionalmente tinha sido compreendido em termos de organização intrapsíquica do paciente tinha que ser reconfigurado para incluir a influência que a subjetividade do analista tem sobre a experiência e o comportamento do paciente, incluídas as manifestações da transferência. Em contraposição à focalização de Kohut e Stolorow et al. na influência mútua dentro da díade analítica, diversos autores relacionais focalizam, em vez disso, o reconhecimento interpessoal (BROMBERG, 1980, 1996; EHRENBERG, 1992; MITCHELL, 1996, op. cit). Eles defendem que o analista transmita informação ao paciente acerca do impacto que este exerce sobre os outros, quase como se o analista não tivesse tido influência sobre a experiência e o comportamento do paciente no relacionamento terapêutico. Esse feedback interpessoal contém uma objetividade implícita que corre na direção contrária à própria insistência dos teóricos relacionais acerca da subjetividade irredutível do analista (ARON, 1991, op. cit, 1992, op. cit; RENIK, 1993, op. cit). É claro que os autores relacionais nunca empregam o termo objetivo a este propósito. Porém, de seus trabalhos escritos presume-se que a experiência que o analista tem do paciente será similar à experiência engendrada pelo paciente em outras pessoas em sua vida fora do tratamento (MITCHELL, 1992, op. cit, 1997, op. cit). Essa referência implícita aos outros de fora, quanto a dar o feedback interpessoal, pareceria estar sendo usada para dar peso objetivo à mensagem do analista, apresentada, por outro lado, como singularmente pessoal e subjetiva. Em freqüentes manifestações acerca dos limites da objetividade (científica), Kohut discutiu o impacto contínuo da subjetividade do analista sobre a situação do tratamento (KOHUT, 1977, op. cit, p. 63-69; 1982, p. 400; 1984, op. cit, p. 34-46). Mas esse reconhecimento da “presença” pessoal do analista não o levou a recomendar que o analista oferecesse feedback interpessoal ao paciente. Para Kohut, tanto quanto para Stolorow et al., o ato de oferecer um feedback desse tipo tendia a ser atrapalhado pelo desejo do analista de criar um clima em que o paciente pudesse fazer uso inconsciente da função psíquica do analista como experiência selfobjetal necessária. Ou podia ser atrapalhado pela luta contínua do analista no sentido de intensificar sua própria apercepção quanto ao impacto que poderia estar exercendo sobre a experiência e o funcionamento do paciente dentro do esforço psicanalítico. 9 Mais recentemente Stolorow e Atwood (1992, op. cit) definiram subjetividade como sendo qualquer organização da experiência, independentemente de quão primitiva seja. Eles veem o infante e o cuidador primário como constituindo uma díade intersubjetiva desde o início, porque mesmo o recém-nascido possui algum grau de organização que lhe permite participar no dar e receber da influência mútua. A subjetividade nascente do infante está constantemente sendo moldada por seu contexto intersubjetivo, enquanto o próprio contexto está sendo cocriado pelas interações mãe/bebê. Deste vantajoso ponto de vista a intersubjetividade absolutamente não é uma realização do desenvolvimento, mas sim um princípio fundamental e contínuo do relacionamento humano desde o nascimento. Este aspecto do pensamento de Stolorow et al. chega muito perto do conceito kohutiano de selfobjeto, e para Kohut como para Stolorow et al. o self só é uma entidade viável dentro do ambiente humano em que se constitui. Quando escreveram que a “responsividade do analista pode ser experienciada subjetivamente [pelo paciente] como um componente vital, funcional, da sua auto-organização” Stolorow et al. (1987, op. cit, p. 17), apreenderam eloqüentemente a essência tanto do conceito de selfobjeto de Kohut quanto de sua própria noção de intersubjetividade. Entretanto, embora continuando a ver o conceito kohutiano de selfobjeto como alinhado muito de perto com sua própria noção de intersubjetividade, Orange e Stolorow (1998, op. cit) vieram a questionar a própria ideia de um self ligado ou “isolado”. Talvez não tenham se dado conta do quanto o próprio Kohut os tinha precedido nesse questionamento por meio de seu conceito de selfobjeto. Ao elucidar sua teoria da intersubjetividade, Stolorow e Atwood (1992, op. cit, 1997, op. cit) contrastaram-no com o “self” de Kohut, que associavam ao mito de uma mente isolada. Penso, porém, que é provável que eles achassem um contraste melhor para sua noção de intersubjetividade no conceito winnicottiano (1963/1965) de um self privativo que não se comunica e não se esforça para alcançar os outros nem deixa entrar nada do mundo exterior, do que em qualquer das ideias de Kohut. Kohut distinguiu nitidamente seu conceito de “self” daquele de Winnicott quando fez uma ligação metafórica entre o funcionamento do self em seu ambiente self-selfobjetal e o funcionamento de partículas quânticas: afirmou que observador e observado são tão “indivisíveis” na situação psicanalítica quanto o são na física moderna (KOHUT, 1984, op. cit, p. 39). O conceito kohutiano de selfobjeto representou cada partícula do “self” como sendo não-fixada, não-amarrada, contextualizada e aberta a influência mútua – e cada partícula como 10 incapaz de alcançar autonomia psíquica – como o é o “sujeito” na teoria da intersubjetividade de Stolorow e seus colegas (KOHUT, 1984, op. cit, p. 47, 52, 61,63; ver também TEICHOLZ, 1999, op. cit, 2000, op. cit). Há, entretanto, outros conceitos, a cuja volta Stolorow et al. (1987) mais claramente avançaram além da psicologia do self de Kohut, mesmo quando construíam a partir das ideias dele. Por exemplo, eles sugerem que nem toda interação entre paciente e analista se desenvolve a partir da necessidade de organização de self do paciente. Portanto, o analista deve prestar atenção às orientações relacionais do paciente que vão além da necessidade selfobjetal, movimentando-se para diante e para trás entre interações sintonizadas às necessidades de organização e coesão de self do paciente e outras em que a organização de self do paciente pode ser mais tomada como certa, com a expectativa de que “conflitos a propósito de amor, ódio, desejo e competição” venham para o primeiro plano (STOLOROW et al., 1987, op. cit, p. 41). Stolorow et al. dão o rótulo de “edipiano” a esta última qualidade de experiência e funcionamento, e presumivelmente o paciente edipiano é mais capaz de tolerar a exposição a aspectos disjuntivos da subjetividade do analista do que o paciente em estado de necessidade selfobjetal aumentada. De fato, embora a teoria de Stolorow et al. esteja mais centrada na influência mútua do que no reconhecimento, eles parecem estar fazendo uma distinção aqui entre um estado menos coesivo, em que o paciente precisa usar o analista primariamente como selfobjeto arcaico – onde a subjetividade distinta do analista não é explicitamente reconhecida – e um estado mais altamente organizado, onde a maior coesão do self permite que o paciente reconheça a subjetividade distinta do analista e faça uso dela conforme pode ser transmitida por meio da observação interpessoal, da interpretação ou do envolvimento autêntico. Combinando os termos de Stolorow et al. e os de Kohut, poderíamos dizer que o paciente edipiano (STOLOROW et al., 1987, op. cit), ou o paciente com mais organização e coesão de self, foi capaz de avançar do relacionamento selfobjetal “arcaico” para o relacionamento selfobjetal mais “maduro” (KOHUT, 1984, op. cit). Kohut fez as seguintes distinções entre relacionabilidade selfobjetal arcaica e madura: (1) o relacionamento arcaico tende a envolver primariamente um movimento unidirecional da função psíquica do genitor para o infante ou do analista para o paciente, enquanto o relacionamento maduro envolve um movimento mútuo ou bidirecional em troca simultânea ou alternada. (2) Opondo-se à experiência selfobjetal 11 madura, o modo arcaico de relacionar-se envolve o fato de que o paciente não se dá conta de que necessita de função selfobjetal que está faltando. Uma vez que não se dá conta de que algo é necessário, o indivíduo sob a influência dos modos arcaicos de experienciar também não vai se dar conta de que alguma função selfobjetal está sendo posta à disposição por um outro de fora. De fato, quando a apercepção da provisão “selfobjetal” é relacionabilidade prematuramente arcaica, a empurrada experiência no indivíduo provavelmente num vai estado de precipitar um descarrilamento do desenvolvimento e uma ruptura do vínculo relacional (KOHUT, 1971, op. cit, 1977, op. cit). Em contraste, no modo selfobjetal maduro de relacionar-se o reconhecimento está mais ao alcance: neste estado o “outro de fora” pode ser visto igualmente como aquele que proporciona a necessária função psíquica e como um centro separado de experiência e iniciativa. Se aceitarmos as distinções que Kohut (1984, op. cit) fez entre modo arcaico e maduro de relacionar-se, poderíamos esperar que o paciente que estivesse num modo arcaico de experienciar exigisse que o analista reagisse de maneira a minimizar a separação e a diferença. Em resposta a essa necessidade do paciente, o analista vai tentar limitar sua participação à imersão empática na experiência do paciente, ou à comunicação de sintonia afetiva e compreensão visando a proteger o paciente contra a prematura confrontação com a subjetividade singular do analista. Em contraste, um paciente que foi capaz de usar seu tratamento para avançar de um modo selfselfobjetal arcaico de relacionar-se para outro mais maduro, ou que conseguiu a maior coesão de self do paciente edipiano de Stolorow et al., pode concebivelmente empenhar-se numa troca mútua com o analista, bem como fazer uso mais construtivo das suas interpretações diferenciadoras, da sua capacidade de autoexpressão e autorrevelação. Ao argumentar que existia um espectro de experiência selfobjetal que vai da mais arcaica à mais madura, Kohut falava da “unidade indivisível self-selfobjeto ... como sendo a essência da vida psicológica desde o nascimento até a morte” (KOHUT, 1984, op. cit, p. 213). Ele estava dizendo que serão necessários diferentes modos de interação por parte do analista, dependendo do ponto deste espectro em que estão situados os modos de experienciar e funcionar do paciente. O fato de que uma das maiores preocupações de Kohut era a falha da responsividade do analista é, no meu modo de ver, um tributo à importância que a influência mútua e o contexto tinham em seu pensamento. Ele era bastante explícito, por exemplo, em sua sugestão de que as falhas do analista poderiam contribuir para a 12 natureza e a medida da psicopatologia do paciente, à medida que esta encontrava expressão no relacionamento terapêutico. Essas ideias o tornaram um “intersubjetivista” no sentido que Stolorow et al. dão ao termo. De conformidade tanto com Stolorow et al. quanto com os teóricos mais “puramente” relacionais. Kohut (1984, op. cit) reconheceu duas subjetividades no espaço do tratamento e enfatizou a elucidação da contribuição do analista para o relacionamento terapêutico. E no entanto, diferentemente dos autores relacionais, tanto Kohut quanto Stolorow mantêm seu foco clínico na vida interior do paciente, nas necessidades do paciente, e na experiência que o paciente tenha da subjetividade do analista. Dentro do arcabouço tanto de Kohut quanto de Stolorow et al., qualquer exame da subjetividade do analista ou qualquer autoexpressão ou autorrevelação da parte do analista permanecem estreitamente ligadas à compreensão empática que o analista tenha das necessidades específicas, dos afetos, dos estados de self e das capacidades funcionais do paciente no momento, enquanto a compreensão que o analista tenha da história do desenvolvimento do paciente e da história do relacionamento psicanalítico enriquece sua empatia aqui-eagora, e vice-versa. As discussões de casos de Trop e Stolorow (1992, op. cit), de Lachmann e Beebe (1996b, op. cit), de Stolorow e Atwood (1997, op. cit) e de Orange e Stolorow (1998, op. cit) oferecem ilustração de uma abordagem clínica que é igualmente compatível com uma intersubjetividade de influência mútua, regulação mútua e contextualização (STOLOROW et al. 1987, op. cit; STOLOROW & ATWOOD, 1992, op. cit; STOLOROW, ATWOOD & BRANDCHAFT, 1994) e com uma postura kohutiana. Numa vinheta clínica de Orange e Stolorow, por exemplo, as criteriosas autoexposições “experimentais” do analista (1998, op. cit, p. 535) para a paciente Erica a propósito das atividades comuns de fim-de-semana do analista foram experienciadas pela paciente como confirmando que ela era digna de confiança e respeito. As revelações parecem ter tido o efeito adicional de proporcionar “tranqüilização” (Id., ibid., p. 536) ou contenção das ansiedades da paciente, especialmente no que se referia a que o analista nada tinha sofrido e podia ser idealizado em seguida às rupturas de fimde-semana. Então, no mínimo fica implícito que Erica foi capaz de usar as autorrevelações (bastante limitadas e cuidadosamente pensadas) do analista como função selfobjetal, no sentido de espelhamento (confirmação de seu valor), idealização (apontando que o analista nada tinha sofrido) e fusão onipotente (segurança e tranqüilização). 13 Pensou-se que Erica precisava da segurança porque durante sua infância estivera cronicamente exposta a assustadoras explosões emocionais da parte de seus pais. Uma vez que as autorrevelações do analista visavam a ser “corretivas” em relação a essas experiências anteriores, podemos observar que Kohut defendia uma aceitação da “experiência emocional corretiva” contanto que fosse concebida como “um único aspecto do multifacetado corpo de uma cura psicanalítica” (KOHUT, 1984, op. cit, p. 78). Para torná-la curativa e não regressiva, Kohut também pensava que a experiência corretiva tinha que ter lugar no contexto de um tratamento de longo prazo, e que incluir processos de interpretação e elaboração (Id., ibid., p. 107-108): estes critérios pareceram ter sido atendidos no trabalho relatado por Orange e Stolorow (1998, op. cit). No material do caso de Orange e Stolorow as autorrevelações do analista envolveram apenas atividades rotineiras simples e agradáveis, escolhidas não para chamar atenção para a experiência do analista em si mesma, mas para atender necessidades psíquicas mais antigas da paciente, redespertadas pelo próprio relacionamento analítico. Da perspectiva de Kohut esse redespertar era essencial para o resultado terapêutico de qualquer análise (KOHUT, 1971, op. cit, 1977, op. cit; KOHUT & SEITZ, 1963/1978). Até que o analista iniciasse a “experiência” com a autorrevelação, o desmentido de Erica quanto a sua necessidade tinha estado bloqueando o tratamento. Entretanto, seguindo bem de perto a introdução das revelações da parte do analista, Erica se tornou mais aberta, cheia de vivacidade, e empenhada. Essa seqüência de acontecimentos sugere que o que é crítico para o potencial curativo de qualquer intervenção não é o fato de isso envolver a reserva ou a autoexpressão do analista, mas sim o fato de o paciente ser ou não capaz de fazer uso disso como uma experiência selfobjetal de que necessitava. A intersubjetividade de Stern: sua ressonância dentro das ideias de Kohut, e de Stolorow et al. Enquanto a intersubjetividade de Stolorow et al. se refere à influência mútua e à contextualização que se iniciam no nascimento, a de Stern diz respeito ao reconhecimento da mente em si mesmo e no outro, visto como conquista de desenvolvimento mais tardio. A descoberta por parte do bebê de que ele e sua mãe têm vidas psicológicas separadas exige extenso desenvolvimento preparatório ao longo 14 de caminhos cognitivos, linguísticos, afetivos e relacionais. De acordo com essa complexidade, Stern sugere que a intersubjetividade só emerge por volta do final do primeiro ano de vida, num “salto gigantesco” que finalmente reúne os esforços de diversos processos que estão em movimento nos primeiros meses, e levam a um sentido subjetivo de self e de relacionabilidade intersubjetiva (STERN, 1985, p. 124). A demora nessa realização sugere que seu estabelecimento bem-sucedido também poderia depender de determinadas qualidades mantidas da experiência de autorregulações e de regulações mútuas anteriores, entre o bebê e os cuidadores primários. Stern postula um sentido de self “nuclear” ou físico (STERN, 1985, op. cit, p. 125) estabelecido inicialmente vários meses antes que o bebê tenha desenvolvido o sentido “subjetivo” de self, e muito antes que seja capaz de reconhecer sua própria mente ou a mente de qualquer outro. Em estágios anteriores o bebê pode fazer distinções concretas entre ações que se originam em seu próprio corpo e aquelas que se originam no corpo separado do outro, mas ainda não reconhece sua própria intencionalidade nem a do outro, ou mesmo que ele ou alguém mais tem uma “mente” da qual possam brotar intenções. A fim de alcançar a capacidade mais tardia de reconhecimento-da-mente, as experiências do bebê com os cuidadores primários devem ter sido suficientemente bem reguladas ao longo do tempo, para produzir algum sentido de previsibilidade quanto àquilo que pudesse emanar do self e o que pudesse provir dos outros. As seqüências relacionais suficientemente previsíveis no início da vida dão ao bebê a capacidade de desenvolver “Representações de Interações que se Generalizaram” (Id., ibid., p. 97), contribuindo para uma coesão da experiência que culmina no estabelecimento de um sentido subjetivo ou psicológico de self entre as idades de 7 e 9 meses. O self subjetivo não substitui o self nuclear, mas sim se constrói a partir deste. E seu primeiro estabelecimento está inextricavelmente ligado ao reconhecimento simultâneo, por parte do infante, de que “o outro” tem igualmente uma vida interior semelhante, porém separada e singular. É a este último reconhecimento da vida separada do outro que Stern atribui os termos intercambiáveis intersubjetividade ou relacionabilidade intersubjetiva. As conquistas do reconhecimento podem ser estimulantes, mas são também aterrorizantes porque a descoberta da mente separada do outro exige uma aceitação de que necessidades, desejos e interesses entre mãe e bebê podem se chocar, e que a mãe pode optar por ir embora. 15 O ponto de vista de Stern acerca de subjetividade e intersubjetividade como realizações do desenvolvimento dependendo em larga medida, para se estabelecer, de determinadas qualidades das interações anteriores com o ambiente humano, ressoa com a noção kohutiana do desenvolvimento do self no ambiente self-selfobjetal. E também com a visão de Kohut de que o sentido mais inicial de “eu” avança para a coesão durante o segundo ano de vida. As diferenças entre as perspectivas de Stern e Kohut têm muito a ver com as diferentes linguagens que eles escolheram para escrever a propósito de suas ideias e, é claro, com o fato de que o ponto de partida de Kohut foi a imersão empática na experiência de pacientes adultos que se submetiam a tratamento psicanalítico. Foi sobre a base dessa experiência que ele desenvolveu hipóteses retrospectivas acerca das necessidades e da experiência infantil, enquanto o ponto de partida de Stern foi a observação direta de bebês com suas mães. Os pontos de vista de Stern também se sobrepõem parcialmente aos de Stolorow e seus colegas, ao ponto de que todos esses autores veem as influências mútuas e a regulação mútua como se iniciando no nascimento, e o contexto humano como contribuindo para a estruturação da experiência individual. Embora Stolorow e Atwood (1992, op. cit) façam uma distinção entre sua própria teoria e aquelas que consideram como sendo “do desenvolvimento”, eu diria que pelo menos algumas das diferenças entre as teorias deles e as de outros refletem mais as diferenças de empregos linguísticos do que dissonâncias conceituais fundamentais. Por exemplo, quando Stolorow e Atwood rejeitam uma visão “de desenvolvimento” da intersubjetividade, eles estão se referindo não a reconhecimento-da-mente, mas sim a contextualização, um fenômeno sobre o qual todos os teóricos da intersubjetividade, em suas discussões clínicas, concordam quanto a que é universalmente operável do nascimento até a morte. E embora Stolorow et al. (1987, op. cit) não incluam “reconhecimento da mente” em sua definição de intersubjetividade, em suas discussões clínicas (como observei anteriormente) eles levam em consideração o reconhecimento como uma conquista do estágio edipiano, com o qual contrastam estádios anteriores de necessidade selfobjetal aumentada. Ao apontar as áreas de confluência entre os pontos de vista de Stern, Kohut e Stolorow meu objetivo não é desvalorizar a singularidade da contribuição de cada um desses autores, mas sim enfatizar sua concordância implícita quanto a um único ponto crucial: a saber, que há um estagio normal de desenvolvimento em que a criança não reconhece nem pode reconhecer a vida psicológica separada do outro. Para ir desse 16 estado mais inicial de não-reconhecimento para o reconhecimento – ou para avançar do sentido físico para o sentido subjetivo do self com sua relacionabilidade intersubjetiva (na significação que Stern dá a esse termo) – o bebê deve primeiro desfrutar de um ambiente apropriadamente facilitador, sem traumas indevidos. Na teoria de Stern só depois que o self subjetivo se estruturou adequadamente é que o infante é capaz de reconhecer a condição de separação da mente em si mesmo e no outro. E Stern vê isso como uma complexa realização psíquica com ampla oportunidade para que as coisas corram mal ao longo de algum de seus caminhos anteriores de desenvolvimento. Por causa dessa fragilidade do estabelecimento inicial da subjetividade e da relacionabilidade intersubjetiva, a teoria de Stern sugere que os pacientes entram em tratamento trazendo variados graus e qualidades de sucesso quanto à conquista de tais capacidades. Onde tenha havido falha ou comprometimento nessas realizações do início da vida, o paciente pode manifestar acentuada intolerância em relação a qualquer comportamento por parte do analista que chame atenção para a subjetividade diferenciada deste e pode precisar de um período durante o qual possa usar o funcionamento psíquico do analista primariamente visando ao atendimento da necessidade selfobjetal básica. Os esforços analíticos podem ir em direção à melhora do sentido do paciente quanto a ser compreendido e aceito, ou em direção à intensificação de seu sentido de estar em ressonância afetiva com uma figura parental idealizada (KOHUT, 1971, op. cit), e outras formas de autoexpressão da parte do analista podem ter que ser restringidas. Podemos ver aqui como a obra de Stern (1985, op. cit) apoia as recomendações clínicas de Kohut. Benjamin, Stern, Kohut: pontos de concordância e de desacordo A noção de reconhecimento intersubjetivo de Stern (1985, op. cit) foi empregada por Benjamin (1988, op. cit) na elucidação que fez do problema das relações mãe/criança e das relações de gênero. Neste capítulo vou examinar apenas o relacionamento mãe/criança. Benjamin vê as mães na nossa cultura como sacrificando suas subjetividades por causa de seus filhos e contribuindo dessa maneira, através das identificações maternas de suas filhas, para a perpetuação das falhas de subjetividade e de relacionabilidade intersubjetiva nas mulheres. Diferentemente de Stern ou de Ogden, Benjamin acredita que o estabelecimento inicial da subjetividade e da relacionabilidade intersubjetiva exige a exposição prévia à alteridade expressada pela 17 mãe. É por essa razão que ela estimula as mães a expressar mais abertamente suas subjetividades singulares no relacionamento com seus filhos. Presumivelmente Benjamin favoreceria uma autoexpressividade equivalente da parte dos analistas com seus pacientes. Entretanto, o encorajamento geral de Benjamin à autoexpressão da mãe pareceria correr ao contrário de determinadas descobertas do próprio Stern (1985, op. cit). Em especial, a obra de Stern sugere que, antes da realização inicial de um self subjetivo, com seu reconhecimento da mente por volta do final de primeiro ano de vida, o bebê não consegue fazer uso significativo de informação acerca da subjetividade separada da mãe. Quaisquer que sejam eles, os aspectos da subjetividade separada da mãe que possam ser transmitidos por meio de seus modos de regulação afetiva, sintonia e por sua atitude lúdica ao exercer seu papel de cuidadora certamente são necessários. São desfrutados pelo bebê que reage a eles e os internaliza muito antes que a relacionabilidade intersubjetiva “propriamente dita” seja atingida, por volta dos 8 meses de idade (STERN et al., 1998, op. cit). Mas até esse momento decisivo o bebê só concede à mãe reconhecimento implícito, e só a reconhece como fonte de experiências afetivas vitais nas consoladoras e divertidas trocas com os cuidadores (STERN, 1985, op. cit). Eu sugeriria que esse reconhecimento implícito contrasta acentuadamente com o reconhecimento do “outro” como entidade psicológica distinta com sua própria iniciativa. Stern et al. (1998, op. cit) argumentam que o bebê manifesta uma capacidade de reconhecimento mais inicial do que aquilo que tinha sido relatado anteriormente pelo próprio Stern (1985, op. cit). Mas mesmo assim, seu Grupo de Estudos de Processo atribui ao conhecimento inicial de processo o rótulo de “relacionamento compartilhado implícito” (STERN et al., 1998, op. cit, p. 916), aparentemente optando por essa terminologia exatamente para distinguir as formas de reconhecimento mais iniciais e mais implícitas, das outras mais tardias e mais explícitas. Eu argumentaria que beneficiar-se implicitamente da subjetividade separada da mãe, e reconhecê-la explicitamente como tal, absolutamente não são um mesmo fenômeno. E é problemático que na teoria de Benjamin e em outras teorias relacionais, essas experiências tendam a ficar confundidas. Eu faria a distinção entre o fato da subjetividade separada da mãe, inclusive os múltiplos usos implícitos e silenciosos que mesmo os bebês mais novinhos conseguem fazer dela, e o reconhecimento explícito da subjetividade separada da mãe fora de seu papel de cuidadora direta. Este último é 18 uma forma de reconhecimento que o bebê só pode alcançar por volta do final do primeiro ano. Kohut, Stern e Ogden semelhantemente vêem esse reconhecimento como exigindo desenvolvimento prévio através de um impressionante cortejo de realizações psíquicas e como exigindo determinadas qualidades de interações regulatórias anteriores entre os pais e a criança (KOHUT, 1971, op. cit, 1977, op. cit, 1984, op. cit; STERN, 1985, op. cit; OGDEN, 1986, op. cit, 1992a, op. cit; 1992b, op. cit; EMDE, 1990, op. cit). Stern sugere que, mesmo quando essas condições tenham sido bem atendidas, uma das primeiras coisas que acontecem depois que o bebê se apercebe da existência separada de sua mente e da de sua mãe, é que ele se torna muito interessado em descobrir similaridades, experiências que possam ser compartilhadas, e “pontes de empatia” (STERN, 1985, p. 126) entre si mesmo e sua mãe. Em outras palavras, o bebê que recentemente se apossou do conhecimento da condição de separação e diferença psicológica faz árduas tentativas de fechar a experiência direta que tem dessa lacuna. Esta observação da parte de Stern oferece apoio adicional à focalização clínica de Kohut na empatia e na ressonância afetiva do analista, particularmente com pacientes cujo sentido de self é frágil. Sugere também que, mesmo depois que nossos pacientes atinjam a capacidade de reconhecimento intersubjetivo, pode haver ocasiões em que o analista faria melhor conter a expressão de sua subjetividade distinta em proveito de criar pontes de empatia. Kohut apontava especialmente a fragilidade das estruturas e das funções recentemente estabelecidas e, portanto, indicava a necessidade de um período de consolidação depois que qualquer desenvolvimento desse tipo tivesse ocorrido (KOHUT, 1971, op. cit, 1977, op. cit; KOHUT & SEITZ, 1963/1978, op. cit). Enquanto com suas “pontes de empatia” Stern se inclina em direção às noções kohutianas de imersão e ressonância empática, ele pareceria avançar mais para perto do ponto de vista de Benjamin quando fala do “desejo de conhecer e ser conhecida” recentemente emergente na criança pequena (STERN, 1985, op. cit, p. 126). Ele sugere que, uma vez que o self subjetivo se consolidou, a criança pode empenhar-se em formas mais explícitas e mútuas de exploração e reconhecimento relacional. Extrapolando disso para a situação de tratamento, podemos esperar que os pacientes avencem das formas implícitas de reconhecimento para outras mais explícitas, à medida que o tratamento progride e que, com esse desvio, eles podem desenvolver maior interesse pela autoexpressão diferenciada do analista. Em sua obra de 1985, 19 então, Stern pareceria apoiar os pontos de vista ou de Kohut ou de Benjamin, conforme a qualidade e o grau de consolidação do sentido de self do paciente, bem como a qualidade da relacionabilidade do paciente. Já a sintonia a essas distinções pareceria ser um aspecto da obra de Kohut, enquanto pareceria ter pouco ou nenhum lugar na de Benjamin. Mais recentemente, Stern et al. parecem afastar-se de Kohut e aproximar-se da posição de Benjamin, com uma sugestão de que o reconhecimento-do-outro poderia ser possível e desejável para todas as crianças todo o tempo. Stern et al. identificam aquilo que chamam de “momentos agora” tanto na díade mãe/criança quanto na situação analítica. Eles dizem que na clínica, nos “momentos de encontro, o analista deve corresponder com algo ... experienciado como específico do relacionamento com o paciente e ... expressivo da própria experiência e da pessoalidade [do analista]” (STERN et al., 1998, op. cit, p. 917). Eles enfatizam que esses momentos “são construídos em conjunto, exigindo a provisão de alguma coisa singular das duas partes” (Id., ibid., p. 908). Estas observações podem ser vistas como oferecendo apoio para a recomendação de Benjamin de que o genitor (ou o analista) se empenhe em autoexpressão e autorrevelação mais livres em todos os aspectos. Entretanto, embora de fato sugira que o bebê precisa da presença e das capacidades funcionais de uma mãe possuidora de uma mente singular, a obra de Stern et al. não proporciona nenhuma evidência de que o bebê tenha a capacidade de reconhecer tais qualidades de diferença psíquica num outro percebido como separado. O que os autores descreveram aqui tem mais a ver com a provisão relacional de interesse adequado à fase, estimulação e surpresa por parte da mãe suficientemente boa, dentro de um contexto de familiaridade reconfortante, do que com o reconhecimento de uma mente em si mesmo e no outro. As observações de Stern et al., para mim, ilustram não o reconhecimento inicial, por parte do bebê, de uma entidade psíquica separada num outro, mas sim a influência distintiva da mãe sobre o bebê e a influência mais inicial do bebê sobre a mãe. Inicialmente essas experiências contribuem primariamente para a autorregulação e para a regulação mútua. Só mais tarde – quando tudo correu suficientemente bem durante um tempo suficientemente longo – é que de fato as contribuições das mães, e o registro que o infante tem dessas contribuições à medida que o tempo passa, vêm a aglutinar-se para formar o reconhecimento explícito, por parte do bebê mais velho, da mente separada e diferenciada do outro. 20 Stern e Benjamin parecem divergir de Kohut a propósito de que tipos de experiências mais provavelmente vão facilitar a mais inicial consolidação de um self subjetivo. Os autores também diferem quanto à qualidade do afeto envolvido no primeiro estabelecimento de um reconhecimento intersubjetivo. Kohut (1971, op. cit, 1977, op. cit, 1982, op. cit, 1984, op. cit), por exemplo, vê alegria para os dois parceiros no reconhecimento mútuo, enquanto a ênfase de Benjamin (1988, op. cit, 1990, op. cit) é muito mais na relutância envolvida. Ela aponta aquilo temos que abandonar de nossa própria onipotência e de nossa condição de self para podermos fazer um doloroso desvio que exige a luta de uma vida inteira para conservar. Porém, o reconhecimento cheio de ressentimento de Benjamin e o reconhecimento cheio de alegria de Kohut não são tão discordantes quanto poderia parecer, porque Kohut (1977, op. cit, 1984, op. cit) também advertiu quanto a que o reconhecimento mútuo é difícil de atingir, e sugeriu um resultado trágico para os fracassos quanto a isso. É claro que na visão dele o movimento da criança, do abençoado desconhecimento da realidade psíquica separada do outro para a aceitação do outro como um centro independente de experiência e iniciativa, exige a confirmação alegre e adequada à fase, por parte dos pais, da grandiosidade da criança. Entretanto, é igualmente importante que esse brilho inicial nos olhos do genitor seja seguido pela oportuna introdução de um feedback mais nítido a propósito das reais habilidades e talentos da criança, à medida que se desenvolvem. Para Benjamin, como para Kohut, o objetivo é o reconhecimento, por parte da criança, das fraquezas, das limitações e das subjetividades separadas, tanto em si mesma quanto no outro. O foco de Kohut na empatia e na experiência selfobjetal não o impediu de antecipar ulteriores interesses de Benjamin (1988, op. cit), antevistos em sua afirmação de que os relacionamentos self-selfobjeto maduros podem atender necessidades da vida inteira de ser reconhecido por outros importantes, bem como de reconhecer esses outros (KOHUT, 1984, op. cit). Para Kohut, como para Benjamin, esse reconhecimento se baseava não na sintonia perfeita, mas na aceitação, tão difícil de conquistar, da frustração e do desapontamento em relação à disponibilidade e à responsividade dos outros. A psicologia do self tem sido criticada por sua sugestão de que o analista deixe “entre parênteses” ou “deixe de lado” sua subjetividade em favor do paciente (RENIK, 1995, op. cit; MITCHELL, 1996, op. cit). Mas os conceitos kohutianos interrelacionados de “falha da empatia” e de “frustração ótima” [optimal] enfatizam que tal façanha é igualmente impossível e indesejável. Trabalhando mais acerca das inevitáveis 21 imperfeições e falhas dos nossos selfobjetos “através de toda a extensão de nossas vidas”, Kohut sugeriu que tais experiências fazem parte da “essência da vida” (KOHUT, 1984, op. cit, p. 27). Ele chegou a afirmar que a frustração poderia resultar em benefícios psíquicos, sugerindo que, dentro de determinados limites, o desapontamento poderia estimular “internalizações transmutadoras e mudança criativa”, consequentemente ajudando as crianças expostas a isso a “sair-se melhor na vida” (Id., ibid., p. 214). Embora Kohut, muito mais do que Benjamin, enfatizasse que as crianças devem crescer tendo sua individualidade emergente reconhecida e correspondida pelos outros importantes, ambos estão de acordo quanto a que, uma vez que a mutualidade tenha sido conseguida, os relacionamentos envolvem um contínuo dar e receber de reconhecimento. Os dois autores também concordam que o reconhecimento inevitavelmente leva consigo intrusões indesejadas da subjetividade do outro. Esses pontos de concordância entre Kohut e Benjamin podem ficar perdidos porque, enquanto Benjamin destaca a expressão da subjetividade distinta dos pais como ingrediente crítico para a ulterior realização, por parte da criança, de sua própria subjetividade e do reconhecimento do outro. Kohut vê a infância inicial como um período em que são abundantes as vulnerabilidades do desenvolvimento. Conseqüentemente, ele enfatiza a importância do reconhecimento, da confirmação ou da resposta especular dos pais a qualquer que seja o aspecto da experiência subjetiva da criança que esteja espontaneamente começando a emergir. Mesmo assim, Kohut compartilha com Benjamin a convicção de que a responsividade perfeita da parte do ambiente não é possível nem desejável. Para resumir suas diferenças, Benjamin se preocupa acima de tudo com as mães que muito prontamente deixam de lado suas subjetividades em favor de seus filhos, enquanto Kohut se preocupa acima de tudo por causa das mães que não são capazes de deixar de lado sua própria experiência o bastante para corresponder adequadamente ás necessidades psíquicas de seus filhos. Filhos de pais que funcionam seja num ou no outro desses dois polos podem algum dia terminar num tratamento psicanalítico, e uma vez em tratamento, podem encontrar inadequações similares no funcionamento de seus analistas: seja confirmação demais ou de menos da experiência do paciente. Em sua concepção da frustração ótima [optimal] Kohut tinha a esperança de estar nos ajudando a evitar experiências traumáticas de excesso ou de escassez nas nossas interações com os pacientes e as crianças. 22 Benjamin (1995, op. cit) realmente expressou apreço pela insistência de Kohut na sintonia e na empatia. Mas ela também se preocupa quanto a que os aspectos da “alteridade” que promovem o crescimento possam ficar perdidos se uma confiança exclusiva na empatia impedir outros modos de interação da parte de pais ou de analistas. Eu sugeriria que empreguemos a empatia como uma orientação em relação a fazer juízos amplos quanto a como interagir com cada paciente (KOHUT, 1982, op. cit). E entre esses juízos estariam incluídos aqueles que se referem a saber se é provável que uma determinada autoexpressão ou autorrevelação leve a ganho terapêutico para o paciente ou se é mais provável que desencadeie uma ruptura no vínculo entre paciente e analista. Kohut lembrava-nos que a empatia é apenas uma orientação: nossas ações, dizia ele, escolhidas à base da empatia, é que fazem com que um intercâmbio promova ou não o crescimento (Id., ibid., p. 397). Dessa maneira ele parece ter deixado bem aberta a questão da participação do analista, contanto que a ressonância afetiva do analista, suas interpretações, sua expressividade emocional ou suas autorrevelações sejam encenadas à base da imersão empática na experiência do paciente. A Intersubjetividade de Ogden e o self-selfobjeto de Kohut Além das ricamente elaboradas contribuições de Benjamin, Stern e Stolorow et al., Ogden levou adiante o discurso sobre a subjetividade e a intersubjetividade. As ideias de Ogden se desenvolveram a partir de seu trabalho com adultos, mas ressoam notavelmente com as descobertas de Stern na observação de bebês. Esses dois autores viam a intersubjetividade em termos de conquistas do desenvolvimento ao longo de caminhos cognitivos/linguísticos e afetivos/relacionais. A visão de Ogden (1992a, op. cit, 1992b, op. cit), entretanto, é altamente idiossincrásica: ele credita a Freud, por exemplo, a noção de uma subjetividade que consistia de movimentos dialéticos entre experiência consciente e experiência inconsciente, e credita a Klein ter identificado um movimento dialético entre dois modos de organizar a experiência, ou duas “posições” psíquicas (1992b, op. cit). Para Ogden a subjetividade é, assim, um movimento para diante e para trás ao longo de duas dimensões multifacetadas: consciência/inconsciência e modos de experienciar self e outro. Às posições esquizo-paranóide e depressiva de Klein, Ogden (Ibid.) acrescentou um terceiro modo de experienciar que ele chama de posição “autista/contígua”. As três 23 posições emergem sequencialmente ao longo de um caminho inicial de desenvolvimento. A posição autista/contígua se estabelece primeiro, e concerne primariamente a experiências sensoriais fugazes. A posição esquizo-paranóide se segue e é caracterizada pela fragmentação e por relacionamentos de “self parcial/objeto parcial”. A posição depressiva vem em terceiro lugar, referindo-se a um sentido coesivo de self e ao reconhecimento de objetos totais compreendidos como tendo vidas psicológicas distintas. Eu sugeriria que no esquema de Ogden a posição depressiva corresponde muito de perto à noção kohutiana de um self coesivo capaz de relacionamentos selfselfobjeto ”maduros” (TEICHOLZ, 1999, op. cit). Buscando outras ligações entre as teorias, observo que Stern e Ogden vêem a “intersubjetividade” como uma realização do desenvolvimento que envolve o reconhecimento de si mesmo e do outro como centros distintos de experiência e iniciativa – e a linguagem deles dois nitidamente ecoa a de Kohut (1971, op. cit) em sua descrição do self. Entretanto, apesar dessas áreas de sobreposição entre Ogden e Kohut, Ogden leva sua noção de “subjetividade” a um fenômeno mais fluido, mais aberto a discussão e modificações [open-ended], mais inefável do que aquilo que ele entende que Kohut quis dizer com “self”, e expressa preocupação quanto a que este possa se tornar uma rigidez prejudicial ou estática. Certamente Kohut nunca adotou as “posições” relacionais objetais de Klein ou de Ogden, com seus movimentos trialéticos, mas também não pretendeu que seu “self” se referisse a uma entidade fixa ou rígida. Ele queria que o termo se referisse apenas à coleção aberta de “experiências interiores introspectivamente [...] percebidas, a que mais tarde nos referimos como „eu‟” (Id., 1977, op. cit, p. 310), descrição que parece ressoar bem com as qualidades de fluidez e de inefável que Ogden valoriza. Continuando a identificar áreas de sobreposição entre as ideias de Ogden e as de Kohut, eu sugeriria que a noção kohutiana de relacionamento selfobjetal maduro (Id., 1984, op. cit) nitidamente envolve “reconhecimento do outro”. Na visão de Kohut acerca dos relacionamentos maduros há um predomínio de mutualidade nas trocas de empatia e função selfobjeto, enquanto o reconhecimento às ambições, aos objetivos e ideais distintos de cada parceiro é proporcionado pelo outro. O objetivo principal da psicanálise, do ponto de vista de Kohut (Ibid.) é abrir caminhos mútuos de empatia entre o self e o outro, e é inegável que a empatia envolve o reconhecimento daquele em cuja direção ela flui. 24 Entretanto, no esquema de Ogden só a posição depressiva envolve o reconhecimento da mente em si mesmo e no outro. Conseqüentemente, para ele, como para Kohut, há um período antes que o reconhecimento se torne operativo: tanto na posição esquizo-paranóide quanto na autista-contígua o reconhecimento ainda não está a postos. Se aceitarmos o ponto de vista de Ogden de que a experiência adulta normalmente se alterna entre todas essas três posições, então poderemos esperar que não apenas os nossos pacientes mais frágeis, mas também os mais saudáveis irão ocasionalmente perder seu sentido de coesão do self; perderão sua capacidade de relacionar-se com objetos totais; e perderão seu reconhecimento da condição de separação psíquica do outro. Como analistas devemos estar alerta para essas repentinas perdas de capacidade nos nossos pacientes, e ainda prestar atenção quanto a que eles podem ficar agudamente incapazes de tolerar nossos comportamentos que sinalizem sua condição de separação e diferença. Embora o analista nem sempre possa evitar sinalizar sua condição de separação, ao menos ele deverá permanecer sintônico e tentar transmitir sua compreensão do distúrbio do paciente em reação a esses sinais: para alguns pacientes estes incluiriam as falhas da empatia do analista, as rupturas de fim-de-semana e as férias. Muitos pacientes vão entrar em tratamento em primeiro lugar nunca tendo confiavelmente alcançado a “posição depressiva” com seu self coesivo e com a capacidade de reconhecer o self e o outro como centros separados de experiência e iniciativa. Nas fases iniciais desses tratamentos, o analista pode ter que limitar sua autoexpressão e sua autorrevelação disjuntiva. Estas são algumas das implicações clínicas que extraio da teoria de Ogden, e elas parecem ter notável semelhança com aquelas minuciosamente explicadas por Kohut no tratamento pela psicologia do self. Na visão de Ogden (1986, op. cit, 1992b, op. cit) a conquista da linguagem, e especialmente a separação entre símbolo e simbolizado, é crucial para o estabelecimento da subjetividade, com seu reconhecimento da mente separada em si mesmo e no outro. Uma vez que o bebê compreende que a palavra e a “coisa” não são idênticas, abre-se um espaço potencial entre símbolo e simbolizado, levando em conta a interpretação singular do bebê para sua experiência. Em concordância com o novo espaço entre símbolo e simbolizado, um espaço paralelo toma forma no território psíquico entre a mãe e a criança, e isso também leva em conta a criação de algo novo no “terceiro intersubjetivo” do relacionamento (Id., 1994, op. cit). 25 Então, para Ogden como para Stern, as realizações da intersubjetividade são notáveis em sua complexidade multifacetada. Na visão desses dois autores, muitas coisas podem sair tortas entre a criança e seu ambiente nesse caminho em direção a tais objetivos fundamentais. Por causa desse potencial para armadilhas, ambos compreendem que muitos pacientes chegarão ao tratamento analítico tendo sofrido reveses anteriores ao longo de algumas das múltiplas linhas de desenvolvimento que levam à primeira conquista de um self subjetivo e à intersubjetividade do reconhecimento. Os dois sugerem também que as influências iniciais, especialmente as primeiras qualidades da autorregulação e da regulação mútua entre genitor e criança, são capazes de fazer ou de romper o ulterior sucesso da criança quanto a estabelecer as estruturas e funções mais altamente desenvolvidas. Outras descobertas da pesquisa com bebês Beebe e Lachmann (1987, op. cit, 1988, op. cit; LACHMANN & BEEBE, 1992, op. cit, 1996a, op. cit, 1996b, op. cit) escreveram extensamente sobre as questões da influência e da regulação mútuas, integrando suas descobertas da pesquisa com infantes à compreensão obtida por meio do tratamento psicanalítico de adultos. Sua obra também se destaca pela forma como equilibra interesses intrapsíquicos e interpessoais. Beebe, Lachmann e Jaffe (1997) descrevem pesquisa em que encontraram sintonia mútua de “rastreamento de afeto” incomum ou intensificada em díades de cuidados em que os infantes estavam inseguramente apegados aos seus cuidadores. Em contraste, bebês apegados com segurança mostravam padrões mais moderados de rastreamento e sintonia. Modos de apego – seja seguro ou inseguro – são vistos como aspectos emergentes do contexto intersubjetivo, cocriados por mãe e bebê. Extrapolando da situação de mãe/bebê para a situação clínica, poderíamos esperar que na díade analítica igualmente a modalidade de apego seja cocriada pelos dois parceiros do relacionamento. E ainda pacientes cujas experiências iniciais e formativas tenham levado a apegos inseguros provavelmente vão fazer desde o início maiores exigências de sintonia de “rastreamento elevado” na díade analítica. Os analistas diferem quanto a suas capacidades de responder aos seus pacientes inseguramente apegados ou com “rastreamento elevado”. Porém, nossa compreensão dos processos autorregulatórios e de regulação mútua (BEEBE & LACHMANN, 1987, op. cit, 1988, op. cit) levam-nos a esperar que quanto menos 26 sintônico seja o analista, tanto mais inseguros esses pacientes vão se tornar. Se, por outro lado, o analista conseguir destacar primariamente os aspectos de sua experiência que são mais convergentes com os do próprio paciente, enquanto evita os aspectos divergentes, a qualidade do apego do paciente poderá avançar em direção a maior segurança. Inversamente, esperaríamos que, com pacientes mais seguramente apegados, a sintonia do analista será menos problema. Desde o início estes pacientes podem ser capazes de tolerar autoexpressão e autorrevelação mais completas por parte do analista, ou de explorar suas próprias percepções da subjetividade separada do analista (STOLOROW ET. AL., 1987, op. cit; ARON, 1996, op. cit; HOFFMAN, 1998, op. cit). O alcance da atividade do analista, de maneira geral, pode ser muito mais amplo com estes pacientes, e pode haver espaço para expressão e revelação mesmo de aspectos disjuntivos da experiência do analista. Diferentemente do paciente com história de apegos inseguros, o paciente que começa o tratamento com um padrão mais seguro de apego pode não exigir qualquer período inicial em que a participação do analista seja primariamente buscada por causa de sua provisão selfobjetal arcaica (KOHUT, 1971, op. cit, 1977, op. cit, 1984, op. cit; STOLOROW et al., 1987, op. cit; TROP & STOLOROW, 1992, op. cit) ou por sua função de holding (SLOCHOWER, 1996). As descobertas de Beebe, Lachmann e Jaffe – especialmente à medida que as combinamos com as ideias de Stern, Ogden, Kohut e Stolorow et al. – nos levariam a empregar os múltiplos significados de intersubjetividade para ficarmos sintonizados mais de perto com as diferentes qualidades da experiência subjetiva de nossos pacientes e sintonizados às diferentes qualidades de suas capacidades relacionais e de seus padrões de apego. Esta abordagem integrativa contrasta com aquilo que foi proposto na teoria relacional, em que o conceito de intersubjetividade, no sentido seja de influência mútua ou de reconhecimento, leva quase exclusivamente a uma defesa de mais expressividade e mais revelação por parte do analista. O que as nossas múltiplas teorias têm em comum Tomando todas essas teorias e recomendações clínicas em conjunto, o analista precisa ter um vasto repertório e atitude flexível em relação à forma, à qualidade e ao conteúdo de seu funcionamento analítico. Talvez nem a empatia por si só nem a 27 autoexpressão e a autorrevelação do analista possam fazer isso. Mas fora da psicologia do self hoje em dia mesmo o papel de apoio da empatia é rejeitado como sendo uma prescrição, ou como carente de autenticidade (HOFFMAN, 1983, 1996, 1998, op. cit; SLAVIN & KRIEGMAN, 1992; MITCHELL, 1996, op. cit, 1997, op. cit). Mitchell (ibid.) corretamente nos diz que apenas podemos esperar ter “melhores estimativas” na tentativa de fazer o que seja certo para nossos pacientes, mas ele desvaloriza a empatia e não diz em que outra base poderíamos presumir se um determinado paciente vai mais provavelmente fazer uso de uma confrontação com aspectos disjuntivos do mundo do analista, ou se vai se sentir arrasado. Para Kohut a empatia do analista não era uma “prescrição” baseada numa norma, mas sim um empreendimento aqui-e-agora. Ele nunca sugeriu que alguma coisa pudesse ser decidida por antecipação, nem no que se refere ao estado do paciente nem quanto à qualidade da reação do analista a esse estado. O que orientava o analista era a qualidade imediata da sondagem empática, e não alguma noção formada por antecipação quanto ao que os pacientes pudessem precisar. Na visão de Kohut mesmo aquilo que o analista coleta por meio da empatia acerca de um estado extremo de fragilidade num determinado paciente não conduz automaticamente a uma única espécie de interação (isto é, em direção à reserva e à autocontenção). Penso que a obra de Kohut era bem compatível com a noção de que poderia haver ocasiões em que modalidades novas de participação da parte do analista, intensidades incomuns na expressão de seu afeto, ou o compartilhamento de algum conteúdo proveniente de uma área estritamente pessoal de sua vida, poderiam ser usados seletiva e criativamente para elevar o sentido de um paciente determinado de estar se sentindo compreendido e confirmado, ou para restaurar o sentido de self de um paciente após uma ruptura particularmente dolorosa do vínculo analítico. A discussão que fiz anteriormente do material clínico de Orange e Stolorow (1998, op. cit) oferece pelo menos algum apoio a este ponto de vista, e a literatura oferece mais ainda (por exemplo, Lachmann & Beebe, 1996b, op. cit). É um problema que os teóricos relacionais e construtivistas pareçam não fazer nenhuma concessão a modalidades diferentes de funcionamento ou de relacionabilidade psicológica em seus pacientes. Embora algumas vezes citem as obras de Stern e de Ogden, eles não integraram em seus trabalhos escritos o conceito de uma continuidade de desenvolvimento em direção à capacidade de reconhecimento. Entretanto, eu sugeriria que a apercepção dessa continuidade poderia ajudar qualquer 28 analista a fazer melhores julgamentos acerca de quando e como empregar seu self pessoal em seu trabalho. Eu também sugeriria que combinemos essas inovações teóricas de Stern e Ogden com as noções kohutianas de adequação ao estado ou ao estágio, e com seus conceitos de imersão empática e ressonância afetiva. Sem algum desses diversos componentes, acho que ficaríamos com um conjunto muito incompleto de princípios clínicos. Embora as terminologias favoritas sejam diferentes, pareceria haver elementos comuns ao longo da obra de nossos vários teóricos, com cada conjunto de autores indicando um grupo de realizações de desenvolvimento que formam um divisor de águas: (1) na obra de Kohut (1984, op. cit) é a noção do self robusto em seu ambiente de relacionamento selfobjetal maduro, caracterizado por trocas empáticas e função selfobjetal e contribuindo de maneira contínua para a regulação do afeto tanto quanto para o reconhecimento; (2) na obra de Stern (1985, op. cit) é a noção de self subjetivo e de relacionabilidade intersubjetiva, envolvendo reconhecimento da mente em si mesmo e no outro, e a criação de significado compartilhado; (3) na obra de Stolorow et al. (1987, op. cit) são as modalidades “edipianas” de experiência, envolvendo maior organização e coesão de self, bem como a tolerância por relacionamentos triádicos em que a singularidade do outro pode ser reconhecida e aceita; e (4) na obra de Ogden, é a posição depressiva, envolvendo também um self coesivo e trazendo com ele novas capacidades, a saber, o reconhecimento da mente diferenciada em si mesmo e no outro, a separação de símbolo e simbolizado, a capacidade de fazer interpretações singulares da experiência, e a conquista do modo de relacionar-se de “objeto total”. (Omiti as ideias de Benjamin nesta seção porque aqui estou tratando daquilo que é comum entre eles e, diferentemente dos outros teóricos da intersubjetividade, Benjamin não reconhece a necessidade de modalidades diferentes de participação dos pais ou do analista com base em diferentes estados de reconhecimento ou de nãoreconhecimento na criança). Vemos que todos os quatro grupos de teóricos identificaram realizações altamente complexas e multifacetadas, que eles distinguem de organizações psíquicas mais iniciais e menos complexas. Em cada teoria as organizações menos complexas são caracterizadas por capacidades funcionais e modalidades de experiência que não levam em conta o reconhecimento da mente separada em si mesmo e no outro. As recomendações clínicas que se seguem dessas distinções, em todas as teorias, envolvem diferentes graus e qualidades da autocontenção e da autoexpressão do 29 analista com base na percepção que este tem do estado do paciente: estado de self, subjetividade, relacionabilidade selfobjetal, relacionabilidade intersubjetiva ou modalidades edipianas de função e experiência. Eu não incluí a noção de “apego seguro” na minha lista de realizações psíquica porque, conquanto os diversos modos de apego de fato denotem diferentes qualidades de relacionabilidade, eles não representam marcos do desenvolvimento. Não obstante, nossa compreensão das várias qualidades de apego nos leva a recomendações clínicas que são bastante semelhantes àquelas identificadas em relação aos marcos importantes do desenvolvimento. Por exemplo, tal como os indivíduos em estados de não-reconhecimento, aqueles que têm padrões inseguros de apego ficam ansiosos por causa das interações que apontam para a condição de separados e para a diferença. Em contraste, aqueles que são apegados de maneira mais segura, juntamente com aqueles cujas capacidades de reconhecimento estão intactas, tendem a receber com interesse e prazer os mesmos sinais de alteridade que lançam em estado de fúria ou de pânico os indivíduos menos seguramente apegados, e os que não sejam capazes de reconhecimento. Tensões teóricas que persistem Algumas tensões teóricas persistem entre a intersubjetividade de influência mútua, em que o compartilhamento e a mistura de subjetividades são enfatizados, e a intersubjetividade de reconhecimento mútuo, em que a ênfase é na separação, na diferenciação e na expressão das distintas subjetividades. Renik (1993, op. cit, 1995, op. cit, 1998, op. cit), por exemplo conquanto admitindo teoricamente a influência mútua, em discussões clínicas parece ignorar tanto o impacto que o paciente tem sobre o analista, quanto o impacto que este tem sobre o paciente. Em particular ele falha quanto a levar em conta a possibilidade de que a chamada subjetividade distinta do analista possa não ser tão distinta, à medida que as inevitáveis trocas transferenciais/contratransferenciais se põem em marcha. De maneira similar, Mitchell falha quanto a admitir a probabilidade de que o comportamento encrenqueiro ou os “estratagemas” do paciente (MITCHELL, 1992, op. cit, p. 447) – quanto aos quais o analista é estimulado a dar um feedback interpessoal – terão sido criados, ao menos parcialmente, pelo próprio analista. De fato, a defesa relacional do feedback interpessoal (EHRENBERG, 1992, op. cit; RENIK, 1993, op. cit, 1995, op. cit, 1998, op. 30 cit; MITCHELL, 1996, op. cit, 1997, op. cit) pareceria sugerir que o analista tem pouca ou nenhuma responsabilidade pelos sentimentos ou pelo comportamento do paciente no relacionamento terapêutico, uma sugestão que evapora ante a ênfase que os próprios teóricos põem na intersubjetividade. Também na literatura relacional há alguma insistência quanto a que o paciente reconheça a subjetividade do analista. Isso parece não levar em consideração os contextos intersubjetivos anteriores do paciente que possam ter sido caracterizados pela deficiência de reconhecimento. Deficiências de reconhecimento no início da vida podem ter deixado no paciente um impacto que vai exigir correção no tratamento analítico, algumas vezes alcançada somente por meio de umas “férias” da exigência de reconhecer os outros. Embora os teóricos relacionais claramente valorizem o reconhecimento mútuo, a ênfase que se vê em seus trabalhos escritos é em que o paciente reconheça a subjetividade do analista, e não vice-versa. A focalização deles em que o paciente reconheça a subjetividade do analista serve para solapar a crítica que fazem à psicologia do self, em que problematizam a abordagem kohutiana de “uma-pessoa”. Eles também pareceriam ser igualmente “uma-pessoa", só que na direção contrária. Há também tensões conceituais na obra de Stern et al. que, mais do que os outros pesquisadores de bebês ou que os teóricos relacionais, parecem lutar diretamente com os múltiplos significados de intersubjetividade. Mas essa luta até aqui não resultou na clarificação das confusões que persistem. Por exemplo, Stern et al. empregam o termo intersubjetividade para referir-se à realização psíquica do reconhecimento mútuo, mas então prosseguem até identificar dois objetivos de regulação mútua. O primeiro objetivo de regulação é o fisiológico, que na visão deles é “atingido por meio de ações que produzem um ajustamento comportamental entre os dois parceiros” (STERN, et al., 1998, op. cit, p. 908). Eu concordo com a importância que eles dão ao ajustamento comportamental, porém acrescentaria igualmente um componente de ajustamento afetivo, ou combinação na regulação. O segundo objetivo, ou “objetivo paralelo” de regulação que eles propõem é mais problemático: trata-se da “experiência de um reconhecimento mútuo das motivações e dos desejos um do outro” (loc. cit.). Ao designar o reconhecimento mútuo como “objetivo intersubjetivo” de regulação mútua, Stern et al. parecem ter feito desmoronar num só os dois conceitos, de regulação e reconhecimento, borrando todas as distinções entre eles feitas anteriormente. 31 Stern et al. ilustram sua noção de “reconhecimento na regulação” com o exemplo de sintonia de afeto, sugerindo que a sintonia exige o reconhecimento mútuo entre os dois parceiros. Mas quanto será essencial o reconhecimento para os processos de influência e regulação? Eu diria que a regulação fisiológica ou afetiva é possível na díade dos cuidados mais iniciais exatamente porque a influência mútua está em marcha exatamente desde o início, independentemente do reconhecimento. Em contraste com esse lançamento imediato da intersubjetividade de reconhecimento mútuo e contextualização no nascimento, a capacidade do recém-nascido para reconhecer uma entidade psicológica distinta, seja em si mesmo ou no outro, só existe em forma muito incipiente, se é que existe. Assim, eu faria uma distinção entre processos universais e processos ubíquos de influência mútua que inquestionavelmente se iniciam no nascimento, e graus e qualidades de reconhecimento da mente em si mesmo e no outro, que só evoluem com o crescimento e o desenvolvimento psíquico. Ademais, eu diria que somente se o peso das primeiras influências regulatórias tiver se inclinado em direção ao positivo e ao construtivo é que a capacidade para o pleno reconhecimento, no sentido psíquico, vai emergir. (Lembrem-se que aqui não estamos falando do reconhecimento de corpos separados, mas do reconhecimento de mentes separadas e de vida interior de si mesmo e dos outros). Stern et al. (1998, op. cit) citam a obra anterior de Stern (1985, op. cit) em que ele apontava o reconhecimento mútuo como sendo a suprema conquista do desenvolvimento psíquico na infância mais tardia. Mas o atual Grupo de Estudo de Processo (1998, op. cit) de Stern não aborda a questão de saber se o reconhecimento implícito, a ser encontrado mesmo nas primeiras experiências de sintonia mútua, é qualitativamente diferente do reconhecimento explícito da mente envolvido na conquista plena da relacionabilidade intersubjetiva, que anteriormente Stern (1985, op. cit) afirmava que era a realização especial da última quarta parte do primeiro ano. Se Stern et al. (1998, op. cit) agora estão argumentando que não há diferença entre aquela forma mais inicial e esta ulterior de reconhecimento, então estarão borrando uma distinção muito importante feita por Stern (1985, op. cit) entre o sentido físico ou “nuclear” de self e o self intersubjetivo mais tardio. Na obra mais inicial de Stern isso representava duas modalidades de experiência claramente diferentes, estabelecidas em seqüência, porém continuando relacionadas entre si através de toda a extensão da vida. 32 Proponho que a sintonia mútua na díade mãe/bebê mais inicial – embora claramente envolva reconhecimento implícito e responsividade mútua à experiência subjetiva do outro – não exige que a mãe expresse, nem que o bebê reconheça explicitamente, a subjetividade distinta da mãe com seu espectro total de interesses e desejos fora de seu envolvimento direto na díade dos cuidados. E eu sugeriria que, na situação analítica como na díade mãe/bebê, a subjetividade separada do analista freqüentemente permanece implícita, mais do que explícita, durante importantes fases do tratamento. A proteção que o analista ofereça ao paciente contra a exposição a aspectos divergentes da experiência na díade pode mesmo ser necessária para que alguns tratamentos progridam, conforme foi sugerido tanto por Kohut (1971, op. cit, 1977, op. cit, 1984, op. cit) quanto pelo autor relacional Slochower (1996, op. cit). Poderíamos esperar que quando um paciente está num estado de capacidade de relacionar-se que é mais primitivo ou arcaico do ponto de vista do desenvolvimento – um estado em que o analista é apenas implicitamente reconhecido como entidade psíquica separada – o melhor de tudo é que o analista possa restringir-se aos esforços de compreender, no sentido kohutiano (KOHUT, 1984, op. cit). Em contraste, quando o paciente funciona de conformidade com a modalidade intersubjetiva ou mais madura do ponto de vista do desenvolvimento e é capaz de ver o analista como entidade psíquica separada, então este pode iniciar uma fase kohutiana (loc. cit.) de “explicação” e interpretação, ou pode participar num envolvimento relacional mais autêntico que inclui expressividade afetiva e autorrevelações, mesmo que de natureza disjuntiva (RENIK, 1995, op. cit, 1998, op. cit; HIOFFMAN, 1996, op. cit, 1998, op. cit; MITCHELL, 1996, op. cit, 1997, op. cit). A maioria dos analistas leva em conta uma mistura e um entrelaçamento de interações interpretativas e “relacionais”, mas qualquer forma de participação por parte do analista é mais bem informada por seus esforços contínuos no sentido da imersão empática, ou por um movimento para diante e para trás entre o ponto de vista do paciente e o do analista (FOSSHAGE, 1995). Recentemente Stern et al. (1998, op. cit) parecem estar trabalhando em direção a uma intersubjetividade que inclui tanto a regulação quanto o reconhecimento. Eu, porém, sugeriria que Kohut (1977, op. cit, 1984, op. cit) já abordou alguns dos mesmos desafios teóricos por meio de seu conceito de selfobjeto que, em si mesmo, diz respeito a necessidades de regulação e reconhecimento psíquico da vida inteira. Todas as três funções do selfobjeto de Kohut – espelhamento, gemelaridade e idealização – 33 envolvem igualmente influência e reconhecimento seja numa troca de mão única ou numa troca mútua. É provável que seja óbvia a conexão entre regulação do afeto e provisão selfobjetal: a tranqüilização envolvida em fantasias onipotentes de fusão (KOHUT, 1984, op. cit) ou na silenciosa elevação do estado de ânimo e intensificação da autoestima nas experiências ótimas de espelhamento e idealização. É também fácil de apreender a associação entre reconhecimento e espelhamento. Na gemelaridade o indivíduo se reconhece como ser humano entre outros seres humanos, ou como potencialmente similar a outros quanto a sentimentos, interesses e atividades (Id., ibid.). Mas não basta ao indivíduo, por si próprio, perceber similaridades entre si mesmo e outros importantes: é preciso que ele se sinta reciprocamente reconhecido e mesmo bem recebido nessas percepções. Experiências ótimas de idealização envolvem igualmente sentir-se reconhecido por aquele que é idealizado. A criança espera um dia ser capaz de atingir tudo aquilo que admira na imago parental idealizada, mas essa esperança deve encontrar o brilho do reconhecimento nos olhos da figura admirada. Eu trabalhei com muitos analisandos que atravessaram fases de transferência em que me idealizavam, porém ficavam em conflito ou mesmo desesperados quanto a suas idealizações até que eram capazes de perceber que eu reconhecia e recebia bem seus desejos de se tornar semelhantes a mim (mesmo que em silêncio eu lutasse para conter minhas dúvidas a propósito da exatidão de suas percepções ou da sabedoria de tais anseios). Proposta de uma teoria integrada da Intersubjetividade Baseando-me em seus diversos significados, eu proporia duas formas de intersubjetividade psicanalítica, estabelecidas inicialmente em seqüência de desenvolvimento, porém depois coexistindo em experiência psíquica através de todo o ciclo da vida. A intersubjetividade que se desenvolve em primeiro lugar envolve influência mútua ou autorregulação e regulação mútua, conforme está descrita na obra de Stolorow e seus colegas e nos trabalhos escritos de Lachmann e Beebe. Refere-se à contextualização da experiência e da estrutura intrapsíquica. A segunda forma de intersubjetividade envolve o reconhecimento da mente em si mesmo e no outro, uma conquista que coincide com o emprego da linguagem e a capacidade de distinguir entre símbolo e simbolizado. Esta segunda forma é a intersubjetividade de Stern e Ogden. 34 Nessa conceituação de intersubjetividade em duas camadas, suas formas mais iniciais e mais universalmente operáveis, que dizem respeito a influência mútua e a processos de regulação que se iniciam no nascimento, contribuem consideravelmente para a conquista de suas formas ulteriores, mais complexas, tendo a ver com reconhecimento mútuo da mente e a criação de significado compartilhado. Kohut (1977, op. cit), Stern (1985, op. cit) e Ogden (1992b, op. cit), todos vêem a conquista gradativa, à medida que o tempo passa, da capacidade de reconhecer o self e o outro como centros separados de experiência e iniciativa, capacidade que é mediada pelo ambiente e, portanto, que se espera que oscile em qualidade mesmo depois de ter sido inicialmente estabelecida. Uma vez que as qualidades de influência e regulação mútuas durante os primeiros meses de fato contribuem para o sucesso ou o fracasso da conquista ulterior do reconhecimento e para a criação de significado, pais e analistas semelhantemente devem ser capazes de fazer, a cada momento, avaliações dos estados subjetivos e da relacionabilidade intersubjetiva de seus filhos ou de seus pacientes. E devem se dar conta, a todo o tempo, de que sua própria participação pode estar afetando as qualidades da experiência ou modalidades de funcionamento que estão tentando “observar”. Aí onde essas avaliações parentais ou analíticas falhem, a criança ou o paciente podem experienciar trauma ou retraumatização (KOHUT, 1977, op. cit; KOHUT & SEITZ, 1963/1978, op. cit). Abordando a situação clínica, Kohut disse que essas avaliações só podem ser feitas por meio da imersão empática do analista na experiência do paciente, e estimulando o paciente a falar das percepções que tenha quanto à contribuição do analista para tal experiência. Nossos juízos acerca das capacidades de nossos pacientes para fazer uso terapêutico do processo de interpretação/reconstrução ou para fazer uso de nossa autoexpressão ou autorrevelação devem, portanto, estar conectados ao sentido, colhido por meio da empatia, que tenhamos sobre o self subjetivo e a relacionabilidade intersubjetiva do indivíduo. Estes, em conjunto, determinam sua capacidade de ver o analista como um outro separado e diferenciado. Quando esta habilidade do paciente pareça estar declinando, o analista deve interagir melhor de modos que mais provavelmente minimizem o sentido de separação do paciente, de preferência a fazê-lo de maneiras que realcem a alteridade do analista. Embora nossas múltiplas teorias da intersubjetividade nos digam que os dois tipos de interações serão necessários, à medida que o tempo passa, para favorecer o 35 desenvolvimento ótimo, em algum momento dado um tipo poderia ser essencial para o bem-estar imediato do paciente e para os objetivos analíticos de longo prazo, enquanto o outro poderia revelar-se traumático. Cada uma das teorias que estamos discutindo neste capítulo leva em conta um período de desenvolvimento durante o qual a criança pequena ainda não reconhece a experiência psicológica distinta e singular de self e outro. Segue-se daí que alguns pacientes vão iniciar seu tratamento incapazes de usar a autoexpressão e a autorrevelação mais livres do analista, porque estas serão experienciadas como assustadoramente disjuntivas. Quando este é o caso, pode ser necessário escolher cuidadosamente ou conter inteiramente qualquer autoexpressão, autorrevelação, interpretação ou mesmo observação da parte do analista, visando a ajudar o paciente a se sentir espelhado, ou fundido, capaz de se sentir como gêmeo ou de experienciar o analista em termos de uma imago parental que pode ser idealizada. Um exemplo que me vem à mente são as interações inicialmente espontâneas e depois deliberadamente “sossegadas e sem alarde” de Lachmann (LACHMANN & BEEBE, 1996b, op. cit) em resposta a uma paciente cuja expressividade severamente cerceada era facilmente esmagada por qualquer modalidade de resposta que não combinasse muito de perto com a dela em tonalidade e intensidade. Para o paciente que nunca estabeleceu um sentido coesivo de self (KOHUT, 1977, op. cit, 1984, op. cit), para o outro que não atingiu a “posição depressiva” (OGDEN, 1992b, op. cit), ou para aquele que nunca conquistou a capacidade de relacionabilidade intersubjetiva (STERN, 1985, op. cit) – e para todos os pacientes que transitoriamente perderam seu sentido anterior dessas conquistas – o analista provavelmente vai fazer o possível para manter uma atitude empática, esforçando-se ao máximo em busca da imersão, da ressonância empática ou da “combinação” com a experiência afetiva do paciente. Em contraste, quando trabalha com pacientes para quem essas realizações são relativamente mais seguras e robustas – ou cujo afastamento dessas capacidades psíquicas tende a ser mais breve e menos devastador – o analista não precisa se esforçar tanto para prender-se ao ponto de vista do paciente, e é provável que possa introduzir mais livremente tipos diferenciadores de autoexpressão e autorrevelação. Embora os teóricos relacionais tendam a empregar o conceito de intersubjetividade mais geralmente como argumento lógico para a autoexpressão e a autorrevelação do analista, eu argumentaria que os diversos conceitos de intersubjetividade realmente nos proporcionam uma maneira de pensar muito mais finamente sintônica acerca do 36 alcance total de responsividade, intervenção ou envolvimento, provavelmente mais útil para pacientes individuais e para díades. O conceito de selfobjeto de Kohut parece equilibrar a preocupação com regulação e reconhecimento, mas a maioria dos outros teóricos focaliza ou a influência/regulação ou o reconhecimento da mente como o principal impulso de desenvolvimento. Não obstante, nas teorias que têm como alvo a influência ou a regulação mútua, há pelo menos uma preocupação latente com o reconhecimento da mente em si mesmo e no outro, enquanto nas teorias que têm como alvo o reconhecimento, é atribuído pelo menos um papel subsidiário à influência e à regulação mútua. Mesmo aqueles autores que insistem no reconhecimento interpessoal e que conseqüentemente estimulam uma atitude mais aberta em relação à autoexpressão e à autorrevelação do analista emitem advertências quanto a perder de vista a experiência subjetiva do paciente, ou suas necessidades e seus objetivos psíquicos (BOLLAS, 1989; MITCHELL, 1991, 1997, op. cit; ARON, 1996, op. cit; HOFFMAN, 1998, op. cit). Mas não se associam a Kohut em sua sugestão de que só se fizermos da tentativa de imersão empática o nosso primeiro passo em cada encontro clínico é que estaremos fazendo uso da única orientação disponível até aqui na luta para chegar a um grau, a uma intensidade e a um conteúdo ótimos de autoexpressão e autorrevelação no nosso trabalho. É importante lembrar, entretanto, que só podemos confiar na empatia com um paciente de cada vez, um momento de cada vez. E mesmo então ela pode orientar-nos seja para o silêncio seja para a franqueza vocal, ou para falar nossos próprios pensamentos e sentimentos ou para dizer aquilo que imaginamos que sejam os pensamentos e sentimentos do paciente. Hoffman (Ibid.) adverte que há riscos envolvidos cada vez que optamos por não dizer alguma coisa, tanto quanto cada vez que realmente damos voz a pensamentos e sentimentos que parecem subjetivamente mais arriscados. Mas apesar daquilo que pareceria ser a tendência de Hoffman para a autoexpressão do analista, os teóricos relacionais e construtivistas cada vez mais falam de equilíbrio, de tensão dialética, entre autoexpressão e reserva (MITCHELL, 1997, op. cit; HOFFMAN, 1998, op. cit). Portanto, eles poderiam concordar, pelo menos com pouco entusiasmo, se não com todo o entusiasmo, com uma frase que tomo emprestada de Emily Dickinson, sugerindo que, se oferecermos mensagens aos nossos pacientes acerca deles mesmos ou de nós mesmos, devemos “causar deslumbramento pouco a pouco, caso contrário todo mundo vai ficar cego”. 37 Eu equiparo, aqui, “deslumbrar” à personalidade e ao carisma singular do analista, à sua subjetividade em seus aspectos mais disjuntivos, ou à sua própria grandiosidade ou onipotência. Deslumbramento demais por parte do analista pode ser superestimulador, pode infantilizar ou de outras maneiras ser disruptivo para o paciente, em vez de facilitar seu crescimento psíquico. Um deslumbramento mais lento, mais sossegado, se ajusta melhor ao lembrete de Kohut de que mesmo no melhor dos mundos possíveis sempre vamos esbarrar com desapontamentos a propósito da nossa grandiosidade, e com frustração em relação à onipotência de nossos pais. Desapontamentos e frustrações manejáveis podem ser transitoriamente dolorosos, mas sem nenhum desapontamento e nenhuma frustração permaneceríamos cegos à singularidade separada dos outros; com desapontamentos devastadores ou impossíveis de manejar, terminaremos cegos, seja às nossas próprias forças e talentos ou a nossas falhas humanas inevitáveis (KOHUT, 1971, op. cit, 1977, op. cit, 1984, op. cit). Todas essas formas de cegueira psíquica podem contribuir para os problemas característicos do viver, originalmente identificados por Kohut como distúrbios narcísicos da personalidade, ora chamados de distúrbios do self. Para Kohut, ver os inevitáveis fracassos tanto de nós mesmos quanto dos outros era o marco da saúde mental. Na psicologia do self esse reconhecimento definiu mesmo a maturidade e a sabedoria. Finalmente aceitamos as falhas e idiossincrasias dos outros porque sabemos que nós mesmos não somos capazes de fazer melhor. Essa aceitação se ajusta bem com uma intersubjetividade tanto de regulação quanto de reconhecimento: lutamos para aceitar a condição de separação, alteridade e imperfeição tanto em nós mesmos quanto nos outros, e se pudermos conservar esse “reconhecimento”, isso pode ajudar-nos a que nos sintamos menos “desregulados” pelos reveses previsíveis e imprevisíveis da vida. Assim, embora do ponto de vista do desenvolvimento a autorregulação e a regulação mútua devem preceder o reconhecimento da mente em si mesmo e no outro, uma vez que as duas coisas estejam estabelecidas, a regulação e o reconhecimento vão servir de apoio um ao outro através de toda a extensão das nossas vidas. Referências ARON, I. (1991) “The patient‟s experience of the analyst‟s subjectivity”. Psychoanal. 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